Revista Latina de Comunicación Social
64 - 2009
Edita: Laboratorio de Tecnologías de la Información y Nuevos Análisis de Comunicación Social
Depósito Legal: TF-135-98 / ISSN: 1138-5820
Año 12º – 3ª época - Director: Dr. José Manuel de Pablos Coello, catedrático de Periodismo
Facultad y Departamento de Ciencias de la Información: Pirámide del Campus de Guajara - Universidad de La Laguna
38071 La Laguna (Tenerife, Canarias; España)
Teléfonos: (34) 922 31 72 31 / 41 - Fax: (34) 922 31 72 54
Investigación – forma de citar – informe revisores – agenda – metadatos – PDF – Creative Commons
DOI: 10.4185/RLCS-64-2009-804-57-64
Dos pesos y dos medidas: la editoria internacional en la óptica
del periódico brasileño Folha de S. Paulo y del periódico español
El País, en las versiones impresa y digital
Two weights and two measures: the
international publishing in the optical
brazilian newspaper Folha de S. Paulo and
the Spanish newspaper El Pais, in printed
and digital versions
Dois pesos e duas medidas: a editoria
internacional na ótica do jornal
brasileiro Folha de S. Paulo e do jornal
espanhol El País, nas versões impressa
e digital
Lic. Denis Porto Renó [ C. V. ] Jornalista, mestre e doutorando em Comunicação Social pela Universidade Metodista de
São Paulo – Umesp. É membro da Red INAV – Rede Ibero-Americana de Narrativas Audiovisuais. denis.reno@terra.com.br
Lic. Ingrid Gomes [ C. V. ] Jornalista, mestre e doutoranda em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São
Paulo – Umesp. ingridgomessp@yahoo.com.br
Resumen: El periodismo tiene vividos
importantes cambios tanto en el campo de
definición de contenido como en la forma
de comunicar el mismo a través de
lenguajes nuevos o recuperados de sus
orígenes. Pero, tales formas
comunicacionales no son homogéneas,
aunque son conceptos difundidos en la
aldea global. Este artículo presenta un
estudio sobre contenido y lenguaje
editorial de las sección de internacional de
los periodicos Folha de S. Paulo y El País,
de Madrid, en sus versiones impresas y
digitales, entre 25 de febrero y el 2 de
marzo de 2008. Se espera con el
resultado de este estudio proporcionar
mayor reflexión sobre el lenguaje y el
contenido actualmente adoptado por
estas publicaciones y ofrecer líneas de
trabajo para futuras investigaciones sobre
el tema.
Abstract: The journalism has
experienced significant changes both in
the field of choice of content and in form
to communicate the same by new
languages or recovered from their origins.
However, such communication forms are
not homogeneous, despite the concepts
of distributed global village. This article
presents a study on content and
language of international publishing of
newspaper Folha de S. Paulo and El
Pais, in their printed versions and online,
published between February 25 and 02
March 2008. It is expected, with the result
of this research, provide greater reflection
on the language and content currently
used by these publications and offer
subsidies for future research on the
subject.
Resumo: O jornalismo tem vivido
importantes mudanças tanto no campo
da escolha do conteúdo como na forma
de comunicar o mesmo através de
linguagens novas ou recuperadas de
suas origens. Porém, tais formas
comunicacionais não são homogêneas,
apesar dos conceitos difundidos de
aldeia global. Este artigo apresenta um
estudo sobre conteúdo e linguagem da
editoria internacional dos jornais Folha
de S. Paulo e El País, em suas versões
impressa e on-line, publicados entre 25
de fevereiro e 02 de março de 2008.
Espera-se, com o resultado desta
pesquisa, proporcionar maior reflexão
sobre a linguagem e o conteúdo
atualmente adotados por estas
publicações e oferecer subsídios para
futuras pesquisas sobre o tema.
Palabras-clave: Comunicación,
Periodismo, Periodismo Internacional,
Periodismo on-line, Prensa, Lenguaj
Keyword: Communication, Journalism,
International Journalism, Online
Journalism, Print journalism, Language
Palavras-chave: Comunicação,
Jornalismo, Jornalismo internacional,
Jornalismo on-line, Jornalismo
impresso, linguagem
Sumario: 1. Introducción. 2. El
periódico Folha de S. Paulo. 3. El
Summary: 1. Introduction. 2. The
newspaper Folha de S. Paulo. 3. The
Sumário: 1. Introdução. 2. O jornal
Folha de S. Paulo. 3. O jornal El País.
periódico El País. 4. Impresiones del
contenido impreso. 5. Sinales del
contenido digital. 6. Impreso versus on-line.
7. Conclusiones. 8. Bibliografía. 9.
Notas.
newspaper El Pais. 4. Impressions of
printed content. 5. Sinal of digital content.
6. Printed versus on-line. 7. Conclusions.
8. Bibliography. 9. Notes.
4. Impressões do conteúdo impresso.
5. Sinais do conteúdo digital. 6.
Impresso versus on-line. 7.
Conclusões. 8. Bibliografia. 9. Notas
1. Introdução
O jornalismo possui, para os países ocidentais, duas correntes fundamentais: a norte-americana e a européia. Isso se reflete com
intensidade nas teorias do jornalismo e na estrutura de linguagem, este com importância para o artigo em questão. O Brasil adota
como fundamentação de linguagem a norte-americana, onde a objetividade surge de forma expressiva com a adoção do lide.
Porém, acredita-se que este panorama possa vir a mudar graças às inúmeras alterações comunicacionais influenciadas pelas
novas tecnologias digitais, cada vez maiores, graças às novas possibilidades de navegabilidade e a ampliação dos recursos
oferecidos pelo meio. E tais mudanças acabam por influenciar as mídias tradicionais pela exigência dos leitores. O mesmo ocorre
com a linguagem utilizada pelos canais, que se adaptam cada vez mais às exigências dos receptores, agora não mais passivos,
mas com status de usuários que escolhem seus próprios caminhos na construção da mensagem.
Um dos campos que apresentam alterações é o do jornalismo na Internet. Inicialmente, o meio adotou como estrutura de
linguagem os textos curtos, devido ao alto custo e às limitações tecnológicas que obrigavam ao usuário uma navegação rápida.
O resultado disso foi a difusão da idéia de que os textos na Internet possuíam superficialidade. Enquanto isso, os jornais
impressos brasileiros seguiam a estrutura norte-americana, com a objetividade possibilitada pelo lide. Porém, com as mudanças
tecnológicas e comportamentais por parte dos leitores, tal retrato pode ter se alterado, tanto no jornalismo impresso como na
versão on-line.
Este artigo apresenta uma análise das construções do conteúdo jornalístico desenvolvido pelas reportagens principais do
caderno referente aos assuntos internacionais abordados nos jornais diários Folha de São Paulo e El País no período de uma
semana, nas versões impressa e on-line. Serão analisadas as edições da Folha de S.Paulo e do El País, publicadas entre os
dias 25 de fevereiro e 2 de março. Na seqüência, será realizada a comparação do conteúdo coletado singularmente em cada
diário em suas duas plataformas midiáticas.
A idéia central desta análise baseia-se no interesse científico dos autores em observar a necessidade de compreender o suporte
midiático como ambiente gerador da cultura e da não discussão reflexiva, principalmente as questões que envolvem assuntos
socioeconômicos mundiais. Ausentar o aprofundamento jornalístico sobre problemáticas cotidianas pode gerar o enraizando na
sociedade de idéias simplistas, e muitas vezes de divisão de mundos (seja de classes sociais, seja de religião, seja de papéis
sociais que se chocam em razão do não aprofundamento informativo sobre os mesmos, entre outros). A forma com que a divisão
informativa é desenvolvida pela mídia, ressaltando-se posicionamentos defendidos por ela, cria-se a mecânica de um mal-estar
social, que opera positivamente sobre algo e, desta maneira, negligencia e violenta a leitura real do informado. Isso corrobora na
omissão da alteridade, pois necessariamente quando o receptor se depara com um dado informativo, que é a priori pelo meio de
comunicação conotado como antagônico, mascara na essência, sua possibilidade de entendimento amplo e muitas vezes é essa
perda de profundidade que legitima o sectarismo social e a miséria intelectual. Além disso, será analisada a construção textual da
notícia em ambas as versões, percebendo, com isso, possíveis diferenças de linguagem entre o impresso e o digital de um
mesmo veículo, inclusive.
Para o estudo, adota-se como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica para a construção de um breve histórico dos
objetos desta pesquisa, assim como sua estrutura atual de distribuição e um olhar político, econômico e social dos países de
origem dos mesmos. Também somam a este trabalho a formatação quantitativa de uma tabela que reflita as características de
conteúdo e de linguagem adotadas pelas matérias apresentadas, em cada periódico.
Em seguida, apresentam-se resultados da análise de linguagem e de conteúdo das edições analisadas, somente na editoria
Internacional, para compreender a linguagem dos mesmos no campo impresso. O jornal impresso possui conteúdo limitado por
motivos de custo e de metragem espacial, além de limitar recursos de leitura. Além disso, o mesmo possui mobilidade acessível
a qualquer pessoa, que pode levar a notícia consigo a qualquer lugar.
Outra análise com relação à linguagem e ao conteúdo foi direcionada às versões on-line dos jornais no mesmo período.
Pretende-se definir tanto a linguagem utilizada pelos veículos como o conteúdo publicado. Vale ressaltar que no jornalismo on-line
não existe a limitação de conteúdo, mas o mesmo ainda enfrenta a questão da mobilidade. Isso, contudo, pode ser
compensado pela diversidade de recursos de leitura e navegabilidade.
Realizou-se, também, uma análise quantitativa do conteúdo investigado, tanto com relação à quantidade de notícias como
também com relação ao espaço ocupado pela editoria Internacional em ambas publicações. Vale ressaltar que o El País
encontra-se na Comunidade Européia, o que amplia os interesses internacionais daquele país.
Por fim, desenvolveu-se uma comparação entre as versões impressa e on-line dos veículos analisados. Por meio da reflexão que
o artigo contempla, é possível vislumbrar como é o posicionamento dos diários sobre questões que envolvem assuntos
mundializados, se os diários dão espaço para as mesmas pautas e a qual a relevância que se enfatizam em seus espaços na
edição, bem como indicadores da pluralidade nesses assuntos.
2. O jornal Folha de S. Paulo
A Folha de São Paulo, impressa, teve início em 1921, [1] quando ainda era veiculada como Folha da Noite, quatro anos depois é
criada a Folha da Manhã, edição matutina da Folha da Noite. E, apenas em 1960 os três títulos da empresa ("Folha da Manhã",
"Folha da Tarde"-1945- “Folha da Noite") se fundem e surge o jornal Folha de S.Paulo. E, dois anos depois Octavio Frias de
Oliveira e Carlos Caldeira Filho assumem o controle da empresa. Hoje a Folha é o jornal mais vendido no país, com média de
299 mil exemplares em dias úteis e 370 mil aos domingos. “O crescimento foi calcado nos princípios editoriais do Projeto Folha:
pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência. Organizado em cadernos temáticos diários e suplementos”. [2]
Ainda no site informativo da empresa titula-se como primeiro veículo de comunicação do Brasil a adotar a figura do ombudsman
e a oferecer conteúdo on-line a seus leitores.
O jornal Folha Online é uma produção eletrônica do impresso. Oferece no ambiente virtual o conteúdo publicado em sua versão
impressa, inclusive editorias com os mesmos nomes da versão papel. Porém, seu conteúdo é mais amplo, pois a atualização é
realizada durante todo o dia, enquanto o impresso só é publicado no dia seguinte. Com isso, a versão papel é menos detalhada
que a digital. Por outro lado, a versão impressa acaba sendo um resumo do que foi apurado durante toda a cobertura na Internet.
O jornal Folha On-line foi criado em 1996, [3] com o lançamento do portal Universo On-line (UOL), empresa de propriedade do
Grupo Folha. Em seguida, criou-se a versão on-line do jornal Folha de S. Paulo, em formatações que sofreram inúmeras
alterações até chegar no projeto visual atual.
O Folha On-line, por intermédio do portal UOL, tem financiado inúmeras pesquisas acadêmicas sobre Internet, o que
proporcionou uma curva evolutiva expressiva em sua forma de se comunicar com base em conhecimento teórico e experimentos.
Porém, tais alterações seguem alguns padrões anteriormente estipulados pela versão impressa, com aplicabilidades
questionáveis para o ciberespaço, em especial no que tange a linguagem.
Os veículos são os mesmos. Há, contudo, uma competitividade entre as redações. Muitas das informações publicadas são
divergentes, assim como a utilização de fontes, que participam de uma versão e acabam sendo ignoradas pela outra versão. Até
mesmo a comunicação entre as redações é limitada por essa competição de conteúdo e informação.
3. O jornal El País
O jornal impresso El País é o diário de maior circulação na Espanha, com 460.100 exemplares. [4] Teve início em 4 de maio de
1976, [5] no período em que o país iniciava sua transição política para a democracia. O jornal denota em sua linha editorial
defesa a liberdade e apoio, justamente, a essa mudança política e social que os espanhóis passaram, marcando um novo
símbolo para a Espanha Moderna.
Segundo o site do veículo, o mesmo foi o primeiro na Espanha a desenvolver um manual de estilo jornalístico, aprovado em
1980, salientando os ideais democráticos pluralistas na redação. O jornal também colabora disponibilizando informações, como
projeto editorial, a diários da Europa, como La Repubblica e Le Monde, na França. Desde outubro de 2001 um suplemento em
inglês do El País integra a edição espanhola do International Herald Tribune.
Em sua versão eletrônica, o El País é considerado referência mundial tanto em confiabilidade de notícias como no que tange
desenvolvimento de linguagem e recursos comunicacionais. Com diversos prêmios conquistados no que tange a usabilidade e o
design apropriados para a rede e investimentos constantes em busca de uma atualização de linguagem, o El País.com é
considerado referência no setor. Segundo Vanessa Jiménes, chefe do El País.com, a respeitabilidade tem sido conquistada.
“Temos ganhado respeito e credibilidade” (apud Adolf, 2006: 488).
A credibilidade é uma das mais importantes características no jornalismo, em especial no que tange os ambientes virtuais.
Inicialmente, a Internet ficou conhecida como um ambiente onde a velocidade era mais importante do que a apuração, e a
diversidade superava em importância a verdade. Porém, o jornal eletrônico El País.com reflete uma mudança neste cenário, pois
tem conquistado respeitabilidade tanto no campo da ciência como na sociedade que o acessa.
O jornal eletrônico é alvo de discussões na academia. Quadros (2002), por exemplo, detalha a história do El País.com e revela
traços importantes em seu funcionamento. Para ela, o jornal ocupa importante espaço dentro do cenário eletrônico na Europa,
em especial na Espanha, e tem servido de modelo para tantos outros que surgiram naquela região.
Um diferencial expressivo presente no El País.com refere-se à ausência de lojas virtuais em sua interface, priorizando a
informação acima de tudo. Seu visual, contudo, reflete uma estrutura visual semelhante à do impresso, com distribuição de
matérias em boxes, como se a página fosse um jornal “riscado”. Apenas uma célula é direcionada à utilização da publicidade,
que surge através de um revezamento de banners animados.
Outra diferença do portal de notícias El país.com é a interatividade. O usuário pode personalizar o conteúdo que deseja,
totalmente, além de optar entre diversas formas de navegar o ambiente, em diversas tecnologias.
4. Impressões do conteúdo impresso
Durante o período analisado o jornal El País trouxe, como corpus de análise, mais material correspondente a editoria
internacional, com 88 matérias em detrimento dos 77 da Folha de São Paulo. Folha tem muito mais espaço para publicidade em
detrimento do El Pais, este por sua vez também é mais organizado em relação a apresentação dos temas dispostos no jornal. Ao
se relatar sobre o assunto da morte de membros das FARC na Colômbia a página é orientada exclusivamente a questão,
trazendo textos complementares, recursos de localização de lugares em formato de infográficos, na mesma página. Isso se dá
também em razão do formato dos jornais, o El País do formato berline enquanto a Folha opta pelo standart.
Seguindo as análises do Jornal Folha de São Paulo percebe-se que as reportagens realizadas por correspondentes e/ou da
Redação, ambos com assinaturas, mantém um modelo de reportagem com explicação do tema principal do título, com fontes a
respeito dele e depois um breve intertítulo com a exposição de um gancho, amarrado a linha editorial da Folha, com
explanações, na maioria, sem fontes de entrevistados. As outras notícias e reportagens sem assinatura costumam não seguir o
modelo que a Folha desempenha, de uma maneira geral, apenas expõe o tema e coloca um breve relato sobre o mesmo,
utilizando poucas fontes de referência, quase sempre apenas a oficial como polícia e assessoria. Nesse sentido o El País não
tem uma característica, como modelo, mas produz diferenciais no estilo de reportar os temas com características do jornalismo
interpretativo, que propõe inquietações e levanta perspectivas no discurso jornalístico, como se vê no titulo da reportagem do dia
27 de fevereiro “A popularidade de Obama resiste ao jogo sujo”, além de qualificar as fontes ou personagens que são assuntos
nos textos do jornal, tal como: “o senador recebe o apoio de Dodd, um dos ex-aspirantes democratas”.
A Folha de São Paulo utiliza-se predominantemente do recurso da objetividade por meio do lide, explorando primeiramente as
questões principais em que o texto logo no título faz referência em cumprir, não diferente o diário El País tem aproximadamente
56% das reportagens desenvolvidas a partir do começo, do tradicional recurso do lide, mas em contrapartida a Folha o El País já
traz mais informações complementares ao próprio texto, em especial possui 44% do material analisado com inícios diferenciados,
utilizando-se de recursos da introdução de parágrafo para compor sua estrutura textual.
A Folha de São Paulo também faz inferências qualitativas a determinadas segmentações sociais. No especial do dia 25 de
fevereiro, a Folha traz “Transição em Cuba/sucessão em família” e na outra página A14 o outro chapéu “Transição em
Cuba/Mudança em vista”. Na primeira página A13 há o resgate da linha histórica da trajetória de Raúl Castro, a repórter foi
enviada especial a Havana e sinaliza no seu discurso um olhar de repórter-testemunho, colocando-se de agente para descrever
o momento público que Havana viveu na transição do governo de Fidel ao irmão. Na mesma reportagem utiliza-se de termos
parciais e, em conceito de Perseu Abramo (2003: 31-32), induzindo a um olhar negativo, como titula Noam Chomsky (2003: 89)
“anticomunismo como mecanismo de controle”, tais como: “burocracia comunista”, bem como na outra reportagem assinada na
página seguinte: “(...) quando estará ao encargo do ‘grupo histórico’ ou dos ‘barbudos’ (...)”
O El País costuma ter em média dez páginas para os assuntos de internacional, com aproximadamente duas delas constituídas
de publicidade. [6] A maioria das publicidades do caderno é relacionada a agências de turismo e de empresas de aviação.
Enquanto a Folha, de outro formato como já mencionado, traz, em média cinco páginas cobrindo internacional, com duas de
publicidade, em especial das Casas Bahia e construções imobiliárias.
A Folha também perde para o El País para o valor das fotos e ilustrações dos temas das matérias. Enquanto o El País
disponibiliza 61 utilizações de imagens a Folha traz 49, em contraponto este veículo proporciona mais opções de infográficos e
complementos de cronologia do tema, em pauta, do que o El País, como fica claro no tópico da tabela abaixo “outros recursos”.
No jornal espanhol há mais utilização de fontes de agências do que no brasileiro, são 25 para 8. A Folha compreende mais
matérias extensas, com 58 de 56 do El País, bem como menos de até cinco parágrafos, 19 de 32 do espanhol. Isso se explica
em partes pelo diário El País trazer notas de acontecimentos, só respondendo as questões do lide, como se vê em toda edição, a
Folha já não traz notinhas, reelabora as matérias, de agências internacionais, com formatos mais desenvolvidos, enquanto o
espanhol prefere sistematizar as informações mais cruciais dos temas das notas, que vieram de agências, em espaços curtos. As
matérias que são assinadas por agências de notícias são, em sua maioria, relacionadas a assuntos do conflito e política do
oriente médio, em ambos os jornais.
O item Entrevistas é salientado em três momentos da editoria internacional dos veículos em análise, ambos quando são trazidos
acompanham matérias que exploram o tema na editoria, como um recurso de complemento analítico.
No jornal El País os textos complementares foram tanto pequenas reportagens como também análises da área, por especialistas,
no momento de opinião, como categoria no jornalismo. São 16 textos complementares em detrimento de 4 do jornal Folha. O El
País também dispõe de complementos indicando vídeos na página on-line do Jornal .
O jornal El País traz na última parte do caderno, ou em outro momento do caderno internacional, meia página para artigo,
análises e balanço-opinião sobre pautas internacionais. Apenas no dia 27 de fevereiro, quarta-feira, que o jornal trouxe mais de
uma análise, pois além da meia página padrão de opinião por especialista houve uma aprofundada análise, disposto em uma
página, sobre o parentesco político, nas gestões governamentais, de Hugo Chaves e Raúl Castro. A Folha de São Paulo não
traz opinião nesse formato de artigo ou análises na disposição da editoria, opta por, às vezes, compreender a opinião, sobre
assuntos internacionais, no espaço das páginas 2 e 3 do jornal, que corresponde a editoriais e artigos de colunistas e
especialistas convidados.
A Folha de São Paulo traz 35 assinaturas de repórter de 77 matérias relacionadas a assunto internacional, enquanto o diário
espanhol tem 58 assinaturas do total de 88 matérias.
Tabela 1 – Estudo quantitativo dos jornais impressos
Folha de São Paulo El País
Matérias internacionais 77 88
Lide tradicional 60 50
Utilização de imagens 49 61
Outros Recursos 21 18
Agências de Notícias 8 25
Até cinco parágrafos 19 32
Mais de cinco parágrafos 58 56
Entrevistas 3 3
Textos Complementares 4 16
Assinatura de Repórter 35 58
5. Sinais do conteúdo digital
Analisar conteúdo digital é uma ação pouco fácil, pois sua estrutura de linguagem sofre constantes alterações devido à rapidez
que o ciberespaço e as tecnologias digitais têm caminhado. Uma metodologia alternativa para desenvolver tal estudo é a
comparação do impresso com o eletrônico, ou a comparação do eletrônico com ele mesmo, em tempos diversos. Para este
estudo, adotou-se inicialmente a comparação do eletrônico com ele mesmo, para em seguida compará-lo com o impresso. Alem
disso, o próprio conteúdo digital se confunde com outros por causa dos recursos hipermídiaticos que acabam reunindo diversos
outros meios em um só.
Existe nos momentos atuais de desenvolvimento do Jornalismo digital am visível indefinição entre os
produtos jornalístico que se oferecem na rede que integram os recursos da comunicação próprios
deste meio. Distinguir a reportagem multimídia de outros produtos multimidiais, hipertextuais e, até
certo ponto, interativos, resulta em um exercício arriscado (Santana, 2008). [7]
A análise das matérias eletrônicas demonstrou um alto volume de conteúdo, quantitativamente e qualitativamente. Porém,
percebeu-se uma infinidade de diferenças entre o jornal brasileiro e o espanhol. Uma diferença marcante refere-se à linguagem,
que no jornalismo espanhol é mais literário. Não se utiliza o lide, salvo nas matérias provenientes de agências internacionais de
notícias, sobretudo das norte-americanas, onde o lide é uma técnica dominante. Segundo Kunczik (2002: 228), “para a maioria
dos jornalistas americanos, que dão grande prioridade à objetividade, ela é sobretudo sinônima de justiça e equilíbrio”. Em
contrapartida, no jornal eletrônico brasileiro Folha On-line, a presença do lide é constante, sendo encontrado em 50 das 59
matérias eletrônicas publicadas no período recortado. Isso é compreendido pelas palavras de Machado (2003), para quem o
jornalismo brasileiro sofre intensa influência do jornalismo norte-americano.
Outra diferença encontrada, presente na tabela 2, refere-se à estrutura textual. No El País.com, em matérias provenientes de
agências de notícias, respeitava-se o lide e o tamanho das mesmas era limitado, na maioria dos casos não ultrapassando cinco
parágrafos. Já na Folha On-line, a quantidade de matérias provenientes de agências de notícias (que corresponde à maioria das
publicadas) é quase a mesma das que tiveram mais de cinco parágrafos, ou seja, a redação acaba por desenvolver um novo
texto sobre o outro, com o mesmo tamanho.
Uma característica preocupante, mas justificável pelo número de matérias provenientes de agências de notícias, é o baixo
número de matérias assinadas na Folha On-line, o que não ocorre no El País.com, que possui assinatura em 40 das 91 matérias
publicadas no período, ou seja, há autoria.
Percebeu-se um retrato diferenciado no que tange o conte údo em ambos veículos. O El País.com, com volume superior em
quase 50%, contempla mais as matérias que dizem respeito à Europa, apesar de discutir também questões referentes ao Oriente
Médio, aos Estados Unidos, à América Latina hispânica e algumas notícias sobre o Brasil (apenas quatro do total, que abordam
prostitutas brasileiras na Espanha, chacinas ocorridas no Rio de Janeiro e a prisão de quadrilha de policiais pertencentes a
grupos de extermínio). Já o Folha On-line discute mais as questões dos Estados Unidos e do oriente médio, com uma publicação
não-representativa de matérias sobre a América Latina, nem mesmo sobre os países do Mercosul.
A análise demonstra diferenças também com relação à utilização de vídeos, fotos e recursos que ofereçam uma expansão
textual através de link, item necessário quando a comunicação ocorre na Internet, como explica Manovich (2005). Percebeu-se,
também, em comparação com estudos anteriores, que a Folha On-line possui diferenças de estilo do El País.com com relação à
formatação da interface, item que de acordo com Manovich é fundamental na comunicação digital.
Tabela 2 – Estudo quantitativo dos jornais eletrônicos
Folha On-line El País.com
Matérias internacionais 59 91
Lide tradicional 50 37
Utilização de imagens 9 33
Agência de notícias 45 51
Até cinco parágrafos 7 36
Mais de cinco parágrafos 13 57
Textos complementares 34 38
Utilização de link 5 30
Assinatura do repórter 6 40
6. Impresso versus on-line
Na análise se verifica que as matérias do meio eletrônico, tanto El País quanto Folha de São Paulo, utilizam-se da técnica do lide
tradicional, por cumprirem mais objetivamente, em espaço de texto enxuto, as informações cabíveis sobre o conteúdo a ser
relatado. Porém, a versão eletrônica espanhola utiliza proporcionalmente menos o lide do que o brasileiro. Enquanto o Folha On-line
adota o lide tradicional em 50 das 59 matérias publicadas, o El País adota a pirâmide invertida em apenas 39 das 91
matérias publicadas. Isso demonstra uma diferença de linguagem entre as técnicas européias e as brasileiras, estas
influenciadas pela objetividade norte-americana.
O material analisado diferencia o apoio das imagens pelas matérias, comparando o veículo impresso do on-line. Enquanto o
impresso traz 49 e 61 o on-line proporciona 9 e 33, respectivamente El País e Folha de São Paulo. Essa superioridade na
utilização de imagem pelo jornalismo impresso é injustificada, pois na Internet não há problemas com relação a espaço físico,
diferente do jornalismo impresso. Além disso, a exigência pela qualidade da imagem pelo on-line é inferior à do impresso. Porém,
tal limitação é complementada por Mateos Rodriguez (2008), para quem:
Meios que tem optado por uma visibilidade muito limitada de suas publicações digitais, e que estão
distantes ainda muito de uma otimização de adaptação ao meio, al fazer pouco uso dos enlaces
hipertextuais externos à própria edição; no interior de seus artigos ou notícias, seções e serviços.
Ligações que se encontram limitadas à navegação pelo site ou a seções específicas de conexões a
sites externos. [8]
O item textos complementares é mais comum, e em especial predominante, no material on-line, sendo utilizados como recursos
práxis da Internet, enquanto o material impresso dá pouca, ou mesmo mínima importância, para esse tipo de recurso. A
facilidade tecnológica de oferecer uma estrutura horizontal na Internet através de link proporciona tal utilização deste item. Para
isso, desenvolvem textos curtos, em ambos os casos. Tal característica foi apontada por Bernal Triviño (2008), para quem os
leitores “preferem os textos curtos que não os atrapalhem e os permitam fazer uma leitura rápida. Também apostam em
parágrafos separados, porque fazem uma leitura mais cômoda e rápida do corpo textual”.
Na versão impressa da Folha de São Paulo viu-se mais aprofundamento na exploração do assunto das eleições da Rússia, pelo
correspondente no local, e também da transição política de Cuba, de Fidel ao irmão Raúl Castro, desenvolvido por
correspondente no país cubano. Enquanto que o veículo espanhol optou pelo aprofundamento das eleições americanas, em
especial da polarização política, no mesmo partido, de Obama e Hilary. Porém, na versão européia foram divulgados especiais
tanto na Internet como no impresso sobre a substituição de Fidel por seu irmão em três edições analisadas, dividindo o espaço
com as questões européias. Pouco se fala, contudo, do Brasil no período analisado, uma semana antes da crise entre os dois
países no que se refere à entrada de turistas.
7. Conclusões
O jornal El País trouxe mais conteúdo na editoria de internacional por ambos os meios, impresso e on-line, bem como se
sobressaí em relação à utilização de imagens (predominantemente fotos) por ambos meios, impresso e on-line comparando com
os meios analisados da Folha de São Paulo. Isso é justificado pelo fato do El País dar destaque às matérias relacionadas à
Comunidade Européia.
A Folha de São Paulo traz nas pequenas reportagens, em sua maioria a assuntos do oriente médio, uma reelaboração de
notícias advindas de agências de notícias internacionais, como indica no final das mesmas com o dizer, em menor fonte, “com
agências internacionais”, não disponibilizando quais seriam essas agências. A par disso a Folha fica com o crédito de produção.
Uma mesma despreocupação acontece com o diário El País referente a matérias que falam do oriente médio. Nelas são vistas
as informações do lide tradicional com o crédito claro da agência correspondente. A ausência de correspondente no local, por ser
mais perto que do Brasil, não é justificada, pois a proximidade da Europa com a região de conflito.
Percebeu-se, também, na análise do conteúdo on-line uma maior diversificação de estilos, além da utilização de um texto mais
trabalhado e menos objetivo no El País com relação ao Folha On-line. Enquanto o jornal eletrônico brasileiro segue forte
influência das técnicas norte-americanas, o El País apresenta um texto com as informações distribuídas no decorrer da
informação.
Por fim, percebeu-se uma diferença entre a extensão do texto na versão on-line entre os dois veículos, com textos muito maiores
no El País. Porém, tal diferença não existe entre as versões impressas, o que demonstra certa diferença de política editorial ou
um atraso de conceituação sobre o jornalismo on-line pelo UOL, pois há alguns anos os leitores da Internet buscavam textos
curtos pelas limitações tecnológicas ou os altos custos de conexão que deixaram de existir com a chegada da Banda Larga.
8. Bibliografía
Adolf, Steven (2006). "Los del periódico digital están también de aniversário: cumplen 10 años". In El País: una história de 30
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9. Notas
[1] Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/conheca. Acessado em 6/05/2008.
[2] Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/conheca/historia.shtml. Acessado em 6/05/2008.
[3] Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/conheca/historia.shtml. Acessado em 1/04/2008.
[4] Disponível em:
http://www.elpais.com/articulo/sociedad/PAIS/cresce/marzo/encadena/meses/subidas/elpepisoc/20080424elpepisoc_10/Tes.
Acessado em 6/05/2008.
[5] Disponível em: http://www.elpais.com/corporativos/elpais/elpais.html. Acessado em 6/05/2008.
[6] No jornal El País há publicidade também da própria empresa jornalística, os chamados calhaus, e não pequenos. Houve dias
em que essa publicidade era trazida em página inteira.
[7] Disponível em http://www.ull.es/publicaciones/latina/08/29_40_Cuba/Liliam_Marrero.html Acessado em 2/10/2008.
[8] Disponível em http://www.ull.es/publicaciones/latina/_2008/20_27_virtual/Francisco_Mateos.html. Acessado em 2/10/2008.
FORMA DE CITAR ESTE TRABAJO EN BIBLIOGRAFÍAS:
Porto Reno, Denis y Gomes, Ingrid (2009): "Dos pesos y dos medidas: la editoria internacional en la óptica del
periódico brasileño Folha de S. Paulo y del periódico español El País, en las versiones impresa y digital". Revista
Latina de Comunicación Social, 64, páginas 57 a 64. La Laguna (Tenerife): Universidad de La Laguna,
recuperado el ___ de ________ de 2_______, de
http://www.revistalatinacs.org/09/art/05_804_03_Brasil/Denis_Porto_Reno_e_Ingrid_Gomes.html
DOI: 10.4185/RLCS-64-2009-804-57-64