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www.pasosonline.org Vol. 9 Nº 4 págs. 559-571. 2011 Implicações do turismo no espaço rural e em estabelecimentos da agricultura familiar Luciano Zanetti Pessôa Candiotto i i Professor Adjunto do curso de Geografi a da UNIOESTE, campus de Francisco Beltrão. Membro do GETERR (Grupo de Estudos Territoriais). Doutor em Geografi a pela UFSC. E-mail: lucianocandiotto@yahoo.com.br Resumo: Sabendo da expansão do turismo no espaço rural mundial e brasileiro, e do atual incentivo do setor público e privado à abertura de estabelecimentos da agricultura familiar ao turismo, en-tendidos também como unidades de produção e vida familiares (UPVF´s), o presente texto, procura apresentar e discutir as implicações socioespaciais do turismo rural, e enfatizar suas consequencias nas pequenas propriedades rurais. Para tanto, nos apoiamos em referenciais bibliográfi cos brasilei-ros e estrangeiros que tratam das implicações/transformações decorrentes dessa atividade, e procu-ramos apresentar nossa posição em relação ao turismo rural, fenômeno que tende a crescer no espaço rural, e consequentemente, a transformar sua dinâmica socioespacial. Palavras-chave: Turismo; Espaço rural; Implicações socioespaciais; Agricultura familiar; Unidade de produção e vida familiar (UPVF). Title: Implications of rural tourism businesses and family farms Abstract: Considering the expansion of rural tourism in the world and in Brazil and the incentive of public and private sectors to family farms open their properties to tourism, we wrote this article to presents and discuss the implications of rural tourism and to emphasize their consequences in family farms. So, we worked with brazilian and foreigners literature that analyses the spatial implications and changes of this activity and try to present our impressions about rural tourism, which may grow in rural spaces and modify its social and spatial dynamics. Keywords: tourism; rural space; social and spatial implications; family farm; family unity of produc-tion and life (UPVF). Keywords: Tourism; Rural space; Socio-spatial implications; Family farming; Farm and family life (UPVF) © PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121 Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Brasil) 560 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Implicações do turismo no espaço rural ... ISSN 1695-7121 Introdução O incentivo público ao turismo rural e as novas pos-sibilidades de acumulação desta atividade através da transformação dos produtos, paisagens, manifestações culturais, modo de vida rural e elementos naturais em mercadoria, levou à implantação dos mais variados em-preendimentos públicos e privados de turismo no espaço rural, assim como de roteiros, circuitos e até resorts de turismo rural. Esse crescimento das destinações de turismo rural foi impulsionado pela inserção de objetos técnicos no es-paço rural, sobretudo pela maior infra-estrutura (vias de circulação, energia elétrica, comunicações, etc.) e equi-pamentos (hotéis, restaurantes, postos de informações turísticas, etc.), fundamentais para o desenvolvimento do turismo. Por conseguinte, os novos empreendimen-tos de turismo no espaço rural vêm contribuindo para a transformação e densifi cação técnica do espaço rural e, consequentemente, para a complexifi cação de objetos, atores e ações no rural. Assim como todas as atividades econômicas, a oferta do turismo rural trouxe consigo conseqüências socioespaciais, chamadas também de im-pactos do turismo rural. Considerando a tendência de crescimento da territorialização do turismo no espaço rural e a mani-festação de impactos já existentes do turismo rural nos lugares, procuramos nesse texto, apresentar e discutir algumas implicações do turismo rural com destaque para as famílias rurais agricultoras e suas unidades de produção e vida familiares (UPVF´s). Partindo dos impactos identifi cados na literatura e em estudos em-píricos, procuramos discorrer sobre a existência de um choque entre a racionalidade do agricultor e sua lógica de sobrevivência com a racionalidade econômica global presente nos atores envolvidos com o trade turístico (empresários, operadores, guias, consultores, planeja-dores, etc). Implicações socioespaciais do turismo rural Quando nos referimos às implicações socioespaciais do turismo rural procuramos considerar como a inser-ção de objetos e ações (Santos, 1996) ligados ao lazer e ao turismo exerce infl uência sobre as transformações espaciais manifestadas nos lugares em que a atividade de lazer e/ou turismo se insere. Estas transformações espaciais são decorrentes de uma dinâmica social, na qual coexistem aspectos políticos, econômicos, históri-cos e culturais, bem como, de uma dinâmica natural, ou seja, da relação de interdependência entre os elementos físicos (solos, águas, rochas, fl ora, fauna, eventos climá-ticos, etc), e destes com a sociedade. Os elementos da natureza são utilizados como recursos naturais que dão suporte à vida humana, porém, muito mais que recur-sos, são os responsáveis pelo surgimento do homem e por sua permanência como espécie viva. Nesse sentido, procuramos apreender as implicações socioespaciais do turismo rural através de uma análise integrada entre os elementos naturais e sociais, ou seja, considerando a apropriação e o uso dos recursos natu-rais pela sociedade, as relações de poder existentes, e as conseqüências destas ações. Ao se inserir no espaço geográfi co, os objetos e as ações ligados ao turismo rural podem trazer alguns benefícios mas também podem des-encadear confl itos com a população residente nas proxi-midades das áreas afetadas. Um grave problema apontado por Cavaco diz res-peito à implantação de destinações turísticas sem uma preocupação com questões de infra-estrutura e de equi-pamentos básicos, que devem existir antes e indepen-dentemente da atividade turística. A autora (2001) co-loca que para promover o lazer e o turismo, problemas básicos devem ser resolvidos, como a eletrifi cação, o abastecimento de água, o saneamento básico, a coleta de lixo doméstico, os serviços pessoais cotidianos e de saú-de e, outros serviços de proximidade e acessibilidade. Considerando essa afi rmativa para o caso do Brasil, podemos afi rmar que a maioria das destinações de tu-rismo rural é implementada sem o atendimento a essas necessidades básicas. A maior parte dos investimentos públicos e privados são direcionados aos equipamentos e atrativos turísticos, enquanto a infra-estrutura e os equipamentos básicos (amplamente utilizado pelos ha-bitantes locais) raramente é prioridade. Baidal (2000), afi rma que a existência de impactos produzidos pelo turismo nos espaços rurais nos remete a um adequado planejamento e gestão da atividade, que permita prevenir e reconduzir os efeitos negativos que o desenvolvimento turístico pode provocar. Sabemos da necessidade de planejamento e gestão do turismo no meio rural com o objetivo de reduzir seus impactos, porém, além das limitações do planejamento e da gestão executados somente por técnicos, existem difi - culdades para construir planos participativos, e princi-palmente, para aplicar esses planos em uma gestão de-mocrática e participativa. O planejamento e a gestão do turismo costumam ser centralizados, setoriais e direcio-nados às intencionalidades dos atores com mais poder. Além disso, nos remetemos a Ouriques (2005), quando este afi rma que a própria lógica de acumulação e cres-cimento econômico sem limites conduz a impactos so-cioespaciais indesejáveis, que por sua vez, são inerentes a qualquer atividade da economia capitalista. Portanto, PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Luciano Zanetti Pessôa Candiotto ISSN 1695-7121 561 mesmo com um planejamento e uma gestão do turismo no espaço rural, a própria natureza da atividade turísti-ca – pautada na lógica de acumulação capitalista - des-encadeia implicações socioespaciais não desejadas pela maior parte da população local, de modo que os agentes privados costumam se apropriar dos territórios turís-ticos. Assim, mesmo havendo condições institucionais para participação popular nas tomadas de decisões, de-terminadas intencionalidades irão sobressair-se sobre outras no jogo determinado pelas relações de poder. Santana (2002), afi rma que o uso da participação como ferramenta impulsora do desenvolvimento, tem partido em várias ocasiões de uma idéia falsa e etno-cêntrica do âmbito rural, isto é, conceber o campo e sua gente como homogêneos, com pouca iniciativa e, com pouca articulação social necessária para organizar-se, considerando a participação como um princípio de apli-cabilidade transcultural. A participação dos residentes deve ir além da mera consulta, de modo que estes devem ser informados sobre os possíveis custos e benefí-cios, e integrados no projeto e na tomada de de-cisões, considerando os costumes locais e a di-visão sexual do trabalho. (Santana, 2002: 35) No entanto, os custos (impactos) do turismo rural aos residentes, como a degradação ambiental e as trans-formações sociais e culturais, são ignorados no plane-jamento e não são divulgados para a sociedade. Assim, interessa divulgar o que é positivo e esconder os proble-mas, fato fundamental para a criação do imaginário do turismo rural como atividade sustentável. Desta forma, ignorar os impactos socioespaciais do turismo rural implica deixar a população rural local à margem do processo de desenvolvimento econômico ge-rado pelo turismo, restando a essa, os problemas sociais e ambientais decorrentes de atividades turísticas no es-paço rural. Segundo a lógica economicista vigente, os habitantes do lugar precisam se adaptar aos ditames do negócio, tornando-se empreendedores. Contudo, a maior parte da população autóctone acaba trabalhando como empregados, enquanto predominam empreende-dores exógenos e sem nenhuma identidade com o lugar, que acabam fi cando com a maior parte dos lucros gera-dos pelo turismo. Calatrava é outro pesquisador a questionar os bene-fícios do turismo rural para as populações envolvidas. “Há duvidas se os objetivos básicos do turismo rural para as comunidades implicadas conseguirão ser aten-didos, como rendas complementares, infra-estrutura terciária, além de um certo equilíbrio entre os sistemas ecológico, socioeconômico e cultural.” (Calatrava apud Froehlich e Rodrigues, 2000: 93) Santana (2002: 27), também ressalta que (...) infelizmente nem tudo o que é ofertado sob o rótulo de turismo rural baseia-se nas premissas de responsabilidade e consciência do espaço em que se desenvolve a atividade, gerando uma série de efei-tos não desejados nas áreas e populações receptoras. No Brasil, Froellich e Rodrigues (2000) perguntam se, para além da geração de emprego e renda, o turis-mo rural conseguirá distribuir essa renda e reduzir as desigualdades socioeconômicas. Para os autores, a afi r-mação de que o turismo rural dinamiza áreas rurais de-primidas é baseada em expectativas e proposições e não em estudos empíricos aprofundados. Portanto, é preciso considerar que o turismo rural pode agravar os proble-mas dos agricultores familiares. Concordamos total-mente com essa ressalva de Froellich e Rodrigues, pois percebemos uma exacerbação da idéia de que o turismo rural na agricultura familiar é uma atividade promis-sora para as famílias rurais, pois além de benefi ciá-las economicamente, seria uma forma de turismo susten-tável que estaria contribuindo para o desenvolvimento sustentável. Vieira, Almeida e Souza (2006), questionam os pró-prios impactos positivos do turismo rural na geração de emprego e renda, e também afi rmam que falta moni-toramento das experiências para comprovar os efeitos econômicos propagados como positivos. Ao pesquisar o turismo rural no Sul do estado do Rio Grande do Sul, e na Serra da Mantiqueira no estado de Minas Gerais (Brasil), Souza apud Vieira, Almeida e Souza (2006), conclui que o número de empregos gerados é baixo; a maioria dos empregos são temporários e exigem baixa qualifi cação; e que os resultados das pesquisas contra-riam a ênfase na retórica das vantagens econômicas do turismo rural. Pesquisando os impactos do turismo rural na Zona da Mata do estado de Pernambuco (Brasil), onde as gran-des fazendas de cana-de-açúcar são os principais atrati-vos, Santo (2005), não verifi ca melhorias na qualidade de vida da população local e no próprio desenvolvimento econômico. Segundo ela, o modelo de turismo rural na zona da mata exclui a participação da população local e contribui para perpetuar o latifúndio. (...) apesar de apregoada como opção de em-prego e renda, a atividade nessa região vem re-produzindo mais uma forma de exclusão dos trabalhadores rurais, não contribuindo para a ma-nutenção do homem do campo, nem para a melho-ria da sua qualidade de vida. (Santo, 2005: 191) Ao analisar um caso específi co na Espanha, Calatra-va apud Baidal (2000) aponta os seguintes impactos do turismo rural: 562 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Implicações do turismo no espaço rural ... ISSN 1695-7121 - a atividade agrária diminuiu notavelmente, ou até desapareceu; - o setor de serviços teve um hiper-desenvolvimento, empregando 70% da população ativa; - perda da cultura agrária e da identidade cultural dos habitantes; - aumento de bens oferecidos aos visitantes, que não são produzidos na região. Calatrava parece se referir ao segundo impacto como algo positivo, pois reduziu o desemprego entre a popu-lação local. No entanto, os outros impactos apontados se mostram indesejáveis e negativos para a população local, principalmente no que tange a questão cultural e identitária local. A redução e até o desaparecimento das atividades agrárias é um dos impactos negativos que justifi ca a defesa do turismo rural como atividade com-plementar, pois, ao obter maiores lucros com um esfor-ço menor, é comum ver agricultores abandonando suas práticas agropecuárias. Entendemos que, com o desen-volvimento do turismo, ocorre um predomínio de urba-nidades sobre as ruralidades, assim como a infl uência externa no lugar, levando ao terceiro e quarto impacto apontado por Calatrava. O antropólogo Santana (2002), aponta para as se-guintes conseqüências do turismo rural: - variações populacionais com a inserção dos turistas no lugar (sazonalidade); - aparição de espaços interferidos, correspondente à in-serção de turistas em espaços da população local e à apropriação desses espaços; - modifi cação na estrutura econômica e social das popu-lações, com a inserção de novos atores e atividades laborais para apoio ao turismo e, com o aumento da participação de mulheres; - maior necessidade de infra-estrutura e equipamentos no entorno para atender os turistas e mudanças na paisagem; - estereotipação do artesanato, da paisagem, do modo de vida e de outras manifestações culturais, levando à criação de símbolos e imagens constituintes de uma autenticidade ilusória. Assim como as demais modalidades turísticas, o tu-rismo rural também pode se expandir descontrolada-mente e desencadear impactos negativos. Labat e Perez apud Silva, Vilarino e Dale (2000), indicam os seguintes impactos da massifi cação do turismo rural: - não permite o desenvolvimento de grandes áreas ru-rais; - impactos ambientais decorrentes da proliferação desordenada de construções; - abandono das atividades agropecuárias; - terceirização da atividade econômica e grande de-pendência da atividade turística, sem que se desen-volvam atividades alternativas para a população lo-cal; - desenvolvimento de um turismo realizado por agen-tes exógenos (externos), com poucos benefícios para a população local; - presença de enclaves similares aos do turismo sol e praia, deixando a margem o meio rural e suas neces-sidades. Calatrava, Santana, e Labat e Perez, procuram elencar os impactos do turismo rural com base em ex-periências empíricas européias. Como o turismo rural na Europa é bem mais antigo que no Brasil, suas conse-qüências são mais evidentes, de modo que é fundamen-tal conhecer os problemas e erros existentes no contexto europeu para aprender o que não deve ser feito e como fazer melhor. Todavia, não podemos nos esquecer que a realidade brasileira é bem diferente da européia. Segundo Ribeiro apud Tulik (2003), os famosos be-nefícios econômicos do turismo rural podem desenca-dear pressões políticas visando sua expansão. O su-cesso econômico pode atrair investidores, limitando as oportunidades e os benefícios para a população local e subvertendo a concepção do desenvolvimento no meio rural. Havendo concorrência do turismo com as ativi-dades agrícolas, pode haver abandono das atividades primárias, tradicionais das famílias rurais. Santana (2002: 31) assevera que, Modifi cações no valor de uso dos recursos podem desestabilizar socialmente a população, favorecen-do poucos (maioria de investidores/empreendedores externos ao local) e prejudicando a população local, fato comum em qualquer desenvolvimento turísti-co. (...) A desarticulação do tecido social, juntamen-te com outras variáveis, como o envelhecimento da população, a perda de perspectivas individuais ou familiares, e a baixa qualifi cação profi ssional, con-dicionam e determinam o futuro de uma população. Roberts apud Santana (2002) diz que o turismo rural supõe a mercantilização de um espaço já conhecido, com o objetivo de possibilitar o desenvolvimento de hobbies para a população urbana. Santana (2002) entende que o cliente potencial do turismo rural é um neoromântico desencantado com a sociedade urbana, mas que não re-nuncia seu cotidiano urbano. Para Dudley apud Santa-na (2002), a raiz de grande parte dos impactos negativos do turismo rural provém do fato de que o campo recebe iniciativas elaboradas por entidades governamentais e grupos de interesse que operam a partir das cidades. Na visão de Baidal (2000), o espaço turístico é, antes de tudo, uma imagem, criada pelos turistas e oferecida pelos organizadores de viagens. Adicionaríamos a essa PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Luciano Zanetti Pessôa Candiotto ISSN 1695-7121 563 constatação que não são apenas os turistas que criam as imagens do turismo mas principalmente o trade turís-tico através do marketing e da propaganda veiculados nas mais variadas mídias. Baidal cita Miossec, que já em 1976 apontava para o fato das populações autóc-tones perceberem com inquietude e até com surpresa as imagens criadas/oferecidas pelo turismo. A imagem turística dos espaços rurais se fundamenta nas caracte-rísticas tradicionalmente associadas ao mundo rural e facilmente identifi cáveis nas mensagens promocionais desse tipo de turismo. Para Santos (1996), as imagens fazem parte da psi-cosfera, enquanto os objetos correspondem à tecnosfe-ra. Ambas, psicosfera e tecnosfera são coexistentes e infl uenciam a dinâmica espacial. Acreditamos que no turismo, a psicosfera, através da criação de imagens, é extremamente importante na afi rmação de uma des-tinação turística. Muitas vezes, o turismo encontra-se mais consolidado na psicosfera, no imaginário indivi-dual e coletivo, do que na tecnosfera. No Brasil, esse fenômeno é muito comum, de modo que diversos atra-tivos e roteiros turísticos apresentam uma imagem que não condiz com a realidade. Santana (2002) tece várias críticas à idealização do rural como espaço de tranqüilidade e à ideologia do tu-rismo rural como vetor de desenvolvimento local. Para o autor, o estilo de vida rural consolidou-se como um atra-tivo, em virtude de estereótipos e perspectivas diferen-tes das do meio urbano. O autor aponta que o turismo é condicionado pelas modas e estilos de vida preconizados em cada etapa histórica pela qual a sociedade ocidental passa, de modo que as imagens do rural bucólico partem da premissa de separação, cada vez mais radical e fal-sa, entre cidade e campo, refl etindo o predomínio de um sistema urbano que atribui virtudes ao entorno rural. Sabendo das difi culdades em delimitar o que é au-tentico, Verbole (2002) aponta que a busca pela au-tenticidade pode conduzir a museologização das áreas rurais. Muitas vezes, as comunidades hospedeiras e os agentes do turismo procuram moldar as ilusões e expec-tativas dos turistas acerca da vida rural e “fantasiam” suas atividades para satisfazer os turistas. MacCannel apud Verbole (2002) denominou esse fenômeno de au-tenticidade encenada. Na acepção de Santana (2002), os produtos vendidos como autênticos não o são e, boa parte dos consumido-res percebe que há uma reprodução dos produtos. Toda-via, esta autenticidade e sua imagem representam para o turista uma experiência que compensa as rotinas do cotidiano, de modo que este paga por ela como por qual-quer outro bem ou serviço vinculado a sua viagem. A experiência centrada no autêntico e exótico, de contato com o nativo desenha uma nova visão do sistema turís-tico. O entorno e suas imagens são vendidos da mesma forma que no turismo de massa, de maneira uniforme, e (...) induzem a pensar que, como produto destina-do ao turista, o patrimônio cultural e ambiental é tão regulável e reconstruível como qualquer outro bem ou serviço. Se for assim, o âmbito rural conformará a mé-dio prazo um destino-espetáculo global, diferencian-do as áreas em função de sua atratividade e da habili-dade- capacitação de seus atores. (Santana, 2002: 44) Verbole (2002), Baidal (2000), Tulik (2003) e Santa-na (2002) são alguns autores que atentam para a trans-formação da cultura em mercadoria no turismo rural. Santana é um dos mais enfáticos, e além das citações acima ainda afi rma que O turismo rural e outras formas de turis-mo alternativo promovem o consumo do cotidia-no social, cultural e ambiental dentro do rol de produtos recreacionais. Esse cotidiano é comer-cializado, e para tanto, adornado, empacotado e vendido segundo um valor atribuído pelo merca-do e seus agentes promotores. (Santana, 2002: 44) Portanto, o autor aponta para a valorização do es-teticamente belo e, que a conservação, reabilitação ou desaparecimento dos atrativos dependerá de sua rele-vância no contexto recreacional. (...) a contemplação da paisagem rural como museu vivo, do entorno físico intocável e dos espaços sociais como públicos, onde predominam os usos recreacio-nais sobre a produção tradicional e sustentada, fecha as portas para um desenvolvimento equilibrado das populações, mas, além disso, condena o recurso no qual este tipo de turismo está centrado. (Santana, 2002: 44) No fi nal de seu artigo, Santana (2002: 46) conclui: A melhoria da qualidade de vida, a educação, a formação profi ssional, a recuperação e conser-vação devem ser metas do planejamento do tu-rismo rural, e não manifestações de um discurso político-fi ctício. (...) Senão, estaremos criando cons-cientemente, belas utopias e falsas ilusões de futuro. Analisando o turismo rural em Portugal, Cristóvão (2002) e Graça (2001) também questionam a exacer-bação do turismo rural e apresentam críticas pertinen-tes sobre as implicações socioespaciais dessa modalida-de turística. O meio rural depende cada vez mais de fatores ex-ternos (macroeconômicos) e, com o turismo, esta depen-dência tende a aumentar, pois ampliam-se as relações capitalistas, inclusive do pequeno agricultor. Assim como Santana (2002), Cristóvão (2002) vê o turismo ru-ral condicionado pelo interesse dos citadinos pelo espaço rural, 564 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Implicações do turismo no espaço rural ... ISSN 1695-7121 (...) é clara a tendência para o mundo rural se transformar em objeto de consumo para cita-dinos, o que, embora criando oportunidades de desenvolvimento, coloca a economia rural numa posição de cada vez mais dependência de fato-res e atores exógenos. Além do mais, mostra que a nova identidade rural é, na essência, moldada pelas procuras urbanas. (Cristovao, 2002: 107). Cristóvão (2002) se remete a Lourenço, que apresen-ta uma visão crítica sobre o turismo rural, e usa termos como ambientalização do rural e da agricultura, divó-rcio rural-agricultura, autonomização do espaço rural face à agricultura, e dependência do rural face às dinâ-micas urbanas. As atividades a que se apela para este mundo rural tendem a torná-lo mais uma cena comple-mentar à vida urbana, sendo valorizado pelas suas qualidades estéticas e pelos seus recursos físicos, e constituindo-se em lugar procurado para espe-cializar as formas de lazer emergentes na cultu-ra urbana. (Lourenço apud Cristóvão, 2002: 86) Nesse sentido, Lourenço apud Cristovão (2002) des-taca a possibilidade de crescente dependência do ru-ral face às dinâmicas urbanas e de dominância de um conceito de rural que nada tem a ver com a atividade agropecuária, produtor de uma reinvenção e artifi ciali-zação do rural no imaginário urbano. No contexto brasileiro, alguns autores tecem críticas aos impactos do turismo rural na paisagem e na cultura local de seus habitantes. Weissbach (2005: 298) aponta que “o exagerado espírito comercial faz com que, às ve-zes, a cultura não passe de um simulacro para o turista ver.” Freitas (2002) destaca a infl uência de valores urba-nos na paisagem rural a partir do turismo, haja vista que a procura pelo turismo rural cria, não só um cenário artifi cial, como também exige novas construções para atender os anseios dos turistas, geralmente provenien-tes das cidades, de modo que o conforto e as facilidades da vida urbana são transferidos para o rural. Para a autora, a partir do consumo do espaço rural via turismo, há uma normatização de atitudes e práticas. Weissbach (2005) também afi rma que propriedades rurais abertas ao turismo incorporam hábitos e tecnologias urbanas e, Filho et al. (2006), falam do caráter urbanizador de al-gumas propostas de turismo rural. Acreditamos que os agricultores familiares não de-vem buscar o padrão de conforto exigido pelos urbanos, mas sim, afi rmar seu modo de vida e buscar o seu con-forto para compartilhá-lo com os visitantes. O turismo rural na agricultura familiar deve ter como foco o agri-cultor familiar e não o turista, ou seja, a melhoria da qualidade de vida das famílias rurais e não os gostos, muitas vezes fúteis, dos turistas. Weissbach (2005: 299), reforça nossa afi rmação, ao colocar que Para evitar o confronto com o visitante que se julga superior, as comunidades visitadas podem ser educadas no sentido de respeitar os valores estran-hos aos seus e, ao mesmo tempo, enfatizar o valor de sua cultura, de modo a afi rmar-se nem como infe-rior, nem tampouco como superior àquele que chega. O autor ainda conclui, Fazer a população local crer que é a sua cultu-ra que provoca a visitação e que seu modo de vi-ver simples e rústico atrai as pessoas é funda-mental para garantir uma manutenção cultural aliada a práticas econômicas que garantam a mel-horia da vida no meio rural. (Weissbach, 2005: 300) Além disso, entendemos que adaptar o meio rural aos padrões do trade turístico ou às expectativas da popu-lação urbana é mascarar esse meio rural para comercia-lizá- lo e, não mostrar o que realmente faz parte da vida das famílias rurais. Caso as ações em torno do turismo rural continuem seguindo a lógica vigente, o alerta de Weissbach (2005) de que existirá uma cultura para exi-bir para o turista e outra para o viver cotidiano, se con-cretizará. As implicações do turismo rural no Brasil não deixam de ser similares a algumas conseqüências já verifi cadas na Europa. Graça (2001, p. 42) coloca que o turismo no espaço rural português “é uma atividade elitizada, ca-racterizada pela quase total ausência de complementa-ridade com a agricultura e pouco enraizada localmente”. Fundamentada em pesquisas de Moreira, Graça aponta que a maioria dos promotores são profi ssionais liberais e do meio científi co (40%), empresários (18%), trabalha-dores qualifi cados (12%) e agricultores (5%). Portanto, “o turismo rural é uma atividade cuja difusão começou pelo topo da pirâmide socioprofi ssional e que está longe ainda de se estender para os estratos mais próximos da base desta” (p. 42). Concluindo, Graça (2001: 43) coloca, (...) a aposta num segmento de elevada qualida-de e preço, confi gura o turismo no espaço rural como um processo de desenvolvimento turístico adequan-do às estratégias de diversifi cação dos “produtos” turísticos, mas pouco condizente com processos de desenvolvimento local assentados na complementa-ridade agrícola e promovido pelos protagonistas da transição do mundo agrícola para o mundo rural. Prosser apud Santana (2002), afi rma que para não saturar o destino, busca-se atrair as elites, não permi-tindo o uso turístico a classes menos favorecidas. Assim, PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Luciano Zanetti Pessôa Candiotto ISSN 1695-7121 565 o aumento dos preços é uma das opções mais utilizadas para barrar o aumento do fl uxo de turistas, caracteri-zando uma clara segregação socioeconômica. Tanto Graça quanto Prosser destacam a elitização do turismo rural na Europa, fato que reafi rma a idéia de transformação da natureza e da cultura em merca-dorias, bem como o uso restrito dessas áreas pelas pes-soas que podem pagar por ela. Assim, o turismo rural também vem se confi gurando como uma modalidade se-gregadora, demonstrando que, na prática, as formas “al-ternativas” de turismo, ao serem gerenciadas dentro da mesma lógica do turismo convencional, desencadeiam impactos similares a outras modalidades turísticas tra-dicionais, como o turismo sol e praia. Não obstante, a gestão dos empreendimentos de tu-rismo rural geralmente é feita pelo proprietário. Como os proprietários não são atores homogêneos, é preciso levar em consideração a origem e as intencionalidades de cada proprietário com seu empreendimento. A par-tir de uma pesquisa realizada no estado de São Paulo (Brasil), Oliveira apud Tulik (2003) apontou três grupos de proprietários e propriedades rurais vinculados ao tu-rismo rural: - autêntico: produtor rural reside na propriedade e tem o turismo rural como atividade principal ou com-plementar; - sazonal: proprietário, geralmente turista e de ele-vado nível sóciocultural, que transformou sua resi-dência secundária num empreendimento de turismo rural; - investidor: proprietário sem vínculo com o meio ru-ral, que adquiriu a propriedade para transformá-la numa oportunidade de negócio. Dos três grupos citados, entendemos que apenas o primeiro, chamado de autêntico, já possui suas origens no campo e depende da agricultura para sobreviver. Por conseguinte, neste grupo estariam incluídos os agricul-tores familiares, que são tidos como os grandes benefi - ciários em potencial do turismo rural e, principalmente, do agroturismo1. Implicações do turismo rural na agricultura fa-miliar Entendendo que o turismo rural na agricultura fa-miliar apresenta especifi cidades como a dependência das atividades agropecuárias, podemos afi rmar que as pequenas unidades de produção familiares se consti-tuem nas propriedades com maior aptidão ao agrotu-rismo, pois têm como principal atividade a agricultura e/ou pecuária; carregam consigo o modo de vida rural tradicional; possuem gestão e trabalho familiar e; são empreendimentos que possibilitam um contato direto com o homem do campo e seu cotidiano. Todavia, os impactos do turismo rural ou do agro-turismo em unidades familiares parecem ser mais in-tensos do que em médias ou grandes propriedades ru-rais altamente tecnifi cadas, pois o agricultor familiar se apresenta como uma categoria social diferenciada, sobretudo por ter a maior parte da renda proveniente da agricultura, viver em pequenos estabelecimentos rurais, ter trabalho e gestão familiares e, uma relativa autonomia no que tange a gestão da propriedade. Tratando especifi camente das implicações do agro-turismo na agricultura familiar, que não fogem muito das próprias implicações do turismo rural, nos remete-mos ao estudo dos ingleses Evans e Ilvery apud Silva, Vilarino e Dale (2000), ao mostrarem que a geração de renda com o agroturismo é limitada em função da curta duração das visitas e, que a diversifi cação interna das propriedades incorporando atividades não-agrícolas é insufi ciente para enfrentar os problemas de queda das rendas agrícolas. Passando para autores que trabalham com o agroturismo no Brasil, Silva e Almeida (2002: 169) co-locam que (...) a exemplo das demais adoções de renda plu-riativa, o turismo implica em adaptações na vida de todos os membros da família. A decisão de imple-mentá- lo depende da disponibilidade dos indivíduos alterarem os hábitos produtivos e de convivência. No entanto, ao se promover o turismo rural na agri-cultura familiar, a família deve ser alertada não ape-nas para os benefícios que a atividade pode gerar (como geralmente ocorre), mas também pelos problemas e para as mudanças que podem ocorrer com a inserção no turismo, fato pouco trabalhado com as famílias rurais brasileiras, pois os promotores/planejadores do turismo objetivam viabilizar a atividade, estando mais compro-metidos com o retorno econômico do que com as con-dições de vida dos agricultores. No que tange os impactos positivos do turismo rural na agricultura familiar, Silva apud Vieira, Almeida e Souza (2006) destaca os seguintes: - preservação do patrimônio cultural; - permanência da esposa no lar e outras funções para ela desenvolver; - perspectiva de trabalho para os fi lhos; - valorização da auto-estima; - contato com outras pessoas; - redução do êxodo rural. Ao pesquisar uma experiência de turismo em peque-nas propriedades rurais do município de Taquari, esta-do do Rio Grande do Sul (Brasil), Jasper e Rocha (2006) 566 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Implicações do turismo no espaço rural ... ISSN 1695-7121 oito empreendimentos de hospedagem no espaço rural e constataram que apesar de todos terem menos de 10 hectares, apenas um era de propriedade e administrado por um agricultor familiar. Ao pesquisar a experiência do “Circuito Italiano de Turismo Rural” do município de Colombo, estado do Pa-raná (Brasil), Candiotto (2007) constatou que entre os 31 estabelecimentos envolvidos com o Circuito, apenas oito eram administrados por agricultores familiares. O autor também enfatiza que a maior parte dos lucros e benefícios provenientes do turismo está concentrada na-queles atores com uma visão empresarial enquanto os agricultores familiares fi cam com uma pequena parcela desses benefícios. Outro aspecto analisado por Candio-tto, diz respeito à baixa participação dos agricultores familiares nos fóruns coletivos como o Conselho Munici-pal de Turismo e, à pouca infl uencia que estes têm nas decisões tomadas pelo Conselho e pela Associação dos empreendedores do Circuito. Marafon (2006) coloca que o espaço rural se trans-forma em decorrência da valorização de seus aspectos naturais e a manutenção da produção agrícola familiar se torna importante para a disseminação da imagem do espaço rural e natural vendido ao turista. Apesar da valorização da imagem do rural e da agricultura fami-liar, o autor tece críticas a essa concepção e a partir de pesquisa realizada na região serrana do estado do Rio de Janeiro (Brasil), demonstra que os agricultores fami-liares vêm sendo explorados no processo de implantação do turismo rural. Campanhola e Silva (2000) elencam os seguintes problemas que podem advir com o agroturismo: 1. degradação ambiental (lixo, esgoto, barulho, depre-dação de patrimônios naturais, fl ora e fauna); 2. degeneração da cultura local por interação da comu-nidade local com turistas de diferentes origens, au-mento do trânsito de pessoas e mobilidade populacio-nal; 3. aumento da demanda por serviços públicos, compe-tindo com o atendimento da comunidade local; 4. inclusão e exclusão de áreas e regiões, podendo levar ao êxodo rural nas áreas excluídas; 5. aumento da criminalidade, uso de drogas e depre-dações do patrimônio público por infl uência dos fl u-xos de populações urbanas no meio rural; 6. abandono das atividades agropecuárias; 7. aumento do custo de vida das comunidades residen-tes devido ao aumento no custo das mercadorias e serviços e, do preço da terra, resultante da especu-lação imobiliária. Os impactos apontados pelos autores demonstram a complexidade do turismo e de suas implicações, pois mostram os seguintes benefícios do turismo rural na opinião dos agricultores familiares envolvidos: - aumento do valor da propriedade e da empresa; - divulgação dos produtos; - novos consumidores; - aumento da procura pelos produtos; - novos contatos. Analisando seis propriedades rurais envolvidas com o Projeto denominado “Caminhos das Pedras” no Rio Grande do Sul, Silva e Almeida (2002) constatam que para os agricultores, os principais benefícios foram o au-mento de renda da família; o trabalho para os fi lhos; a permanência da população no distrito; valorização pes-soal decorrente da perda de inibição frente os visitantes e; auto-conhecimento por meio de novas relações sociais. No que tange as mudanças positivas ocorridas na comu-nidade, estão: a volta da vitalidade da mesma; o resga-te da auto-estima dos moradores; a criação de mercado para a produção local; a preservação do patrimônio e da cultura e; o fortalecimento das relações interpessoais. Como principal mudança negativa, os agricultores apontaram o aumento do trabalho, que está vinculado a outras mudanças, como a redução no tempo de lazer; comprometimento das refeições em família; e prejuízos da privacidade. Outros aspectos interessantes da pes-quisa de Silva e Almeida (2002) foram os seguintes: den-tre as seis famílias dedicadas ao turismo, apenas duas conseguem manter a agricultura. Para tanto, recrutam elementos de outros núcleos familiares (fi lhos casados, irmãos, empregados). Duas arrendam a área agrícola para terceiros e se dedicam somente ao turismo. As de-mais não se envolvem com a agricultura. Esses resultados demonstram a difi culdade em man-ter as atividades agropecuárias combinadas com a or-ganização da propriedade para receber os visitantes e indicam que apesar de alguns benefícios para os agri-cultores e a comunidade, há uma tendência de secunda-rização da agricultura. Na visão de Filho et al. (2006: 147) Com a implantação do turismo na agricultu-ra familiar preocupa a migração, mesmo que len-ta, da atividade agropecuária típica da família para uma situação de dilapidação onde a proprie-dade rural perde sua identidade com a produção primária e fi ca voltada para a prestação de ser-viços no meio rural, alterando sua identidade. Ao constatar que o turismo rural é uma atividade que vêm benefi ciando os mais dotados dos meios neces-sários a seu aproveitamento econômico, Silva (2004), afi rma que a participação dos agricultores familiares brasileiros em atividades de turismo rural é irrisória. Cavalheiro, Dullius e Froehlich (2006) pesquisaram PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Luciano Zanetti Pessôa Candiotto ISSN 1695-7121 567 Acontecendo isso, o turismo rural, de alternativa complementar de renda, torna-se a atividade principal e, ao invés de contribuir para a diversifi cação das ativi-dades agropecuárias e manutenção das famílias no cam-po, reduz as atividades àquelas que de alguma forma são interessantes para o turista e transforma os agri-cultores em empresários do setor turístico. Além disso, altera-se a confi guração das paisagens e dos lugares bem como os “serviços tradicionais” rurais, que podem deixar de ser atrativos ou modifi car-se a ponto de desca-racterizar as práticas locais. Portanto, a idéia do turismo como atividade comple-mentar, sobretudo para agricultores familiares, pode se tornar inviável a partir do momento em que o turismo passa a ser visto como um único negócio, no qual são investidos recursos que necessariamente tem que retor-nar através do aumento da demanda turística. Vale destacar ainda, mais um empecilho para os em-preendedores rurais que dispõem de poucas condições fi nanceiras, que é o que está relacionado em muitos ca-sos à falta de mão-de-obra que o agricultor dispõe. Para o turismo como atividade complementar, o agricultor terá que utilizar um tempo considerável além do tem-po de trabalho na agricultura. Existem possibilidades de faltar tempo para que o agricultor exerça as demais atividades rotineiras desempenhadas por ele na agri-cultura, o que pode afetar o desenvolvimento de outras atividades. Partindo da análise de experiências empíricas de tu-rismo rural na agricultura familiar, Candiotto (2006) e Bricalli (2005) também constatam que os agricultores familiares que passam a receber turistas, não têm mais tempo livre para seu próprio lazer e de sua família, haja vista que a visitação ocorre majoritariamente nos fi nais de semana e feriados, enquanto os dias de semana são ocupados com as atividades agrícolas e com a prepa-ração da propriedade para recepção dos turistas. Assim, aqueles agricultores que são responsáveis por uma ofer-ta de lazer e turismo, acabam, em função disso, sendo privados de tempo livre para poder praticar o lazer e o turismo. Fundamentada na conceituação de turismo rural apresentada por Groulleau, Novaes (2004) afi rma que o turismo rural apresenta as seguintes funções: utilizar mão-de-obra, recursos e gestão local, além de ser uma atividade estratégica para a proteção ambiental do es-paço rural; garantir a manutenção da família rural no campo e, consequentemente, a conservação das ativida-des agrícolas tradicionais e; estimular a preservação do patrimônio cultural, respeitando sua diversidade. Para Bovo (2005), o turismo rural tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas da localidade. envolvem questões ambientais, econômicas e sociocul-turais que tendem a afetar as áreas receptoras, ou seja, as comunidades e famílias rurais. No caso dos pequenos agricultores, os mesmos autores percebem que as difi - culdades para seu engajamento no agroturismo pare-cem ser maiores e relacionam os principais obstáculos: - defi ciência de capacitação para desenvolver ativida-des não-agrícolas; - difícil predisposição para agregar um negócio não agrícola dentro da propriedade, devido à tradição agrícola; - baixa capacidade econômica para assumir riscos; - difi culdade de acesso a programas do governo devido à falta de garantias para o setor fi nanceiro; - pouca tradição de associativismo e cooperativismo, que para os pequenos é fundamental para o sucesso do empreendimento, sobretudo no marketing e co-mercialização; - difi culdade de acesso à informação mercadológica dos produtos turísticos; - baixo intercâmbio com agências operadoras. (Cam-panhola e Silva, 2000: 164) Apesar de concordarmos com os problemas eviden-ciados, as difi culdades dos pequenos agricultores apon-tadas por Campanhola e Silva (2000) demonstram a concepção de turismo rural dos autores como mais uma modalidade de turismo convencional, haja vista a ênfa-se nos aspectos econômicos e administrativos do turis-mo rural em pequenas propriedades. A integração dos agricultores ao trade é apontada como inevitável, ne-cessária e positiva para o desenvolvimento do turismo rural. Contudo, apesar da longa trajetória dos autores em estudos agrários, estes parecem ignorar certas espe-cifi cidades dos agricultores familiares, acreditando na viabilidade de transformação destes em empresários do turismo e primando pela maior inserção destes na lógi-ca mercadológica, aspectos criticados por Graça (2001), Santana (2002), Cristovão (2002), entre outros. Em nossa opinião, a própria lógica do mercado, pau-tada na maximização constante de lucros, competitivi-dade, profi ssionalização e individualismo, não combina com as características econômicas e socioculturais dos agricultores familiares. É mais uma lógica capitalista que penetra no campo, utiliza o discurso de sustenta-bilidade e de melhorias para os agricultores familiares, mas que provavelmente benefi ciará os promotores da atividade. Segundo Tulik (2003) quando o turismo começa a gerar renda superior a agricultura, o proprietário, so-bretudo pequeno, deixa as atividades rotineiras para se dedicar a venda de produtos que, embora tipicamente rurais, não são produzidos por ele. 568 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Implicações do turismo no espaço rural ... ISSN 1695-7121 Considerando as funções acima, podemos afi rmar que o turismo rural tem como principal objetivo mel-horar as condições de vida das populações rurais, seja através do aumento dos empregos e da renda, da pro-teção ambiental, da manutenção das atividades agro-pecuárias existentes e da valorização cultural local. No entanto, a implantação do turismo rural geralmente é feita a partir de uma lógica de desenvolvimento turís-tico que é determinada por atores vinculados ao trade turístico, de modo que diversos valores mercadológicos (competição, crescimento constante, capacitação e ges-tão empresariais) passam a ser disseminados para os agricultores como inevitáveis para o “sucesso” do em-preendimento. Nesse sentido, questionamos se os interesses do tra-de estão vinculados aos interesses dos agricultores com a abertura de suas propriedades ao turismo. Apesar de diversos autores justifi carem que o turismo rural é uma alternativa de melhoria e de fi xação do homem do campo no espaço rural, entendemos que para o trade, o turis-mo rural não passa de mais um nicho de mercado a ser explorado. Assim, o boom do turismo rural no mundo interessa muito mais às empresas do trade, que passam a atuar na perspectiva de segmentação do turismo, do que aos agricultores, que na retórica são tidos como os maiores benefi ciários da implantação do turismo rural mas no processo de implantação do turismo são aqueles que mais sofrem com os impactos negativos da ativida-de turística. Graça (2001) apresenta uma refl exão similar, enten-dendo que na perspectiva do turismo e de seus agentes há uma reinvenção do rural, onde o consumo turístico da genuinidade e da autenticidade é promovido e me-diatizado por promotores externos muito próximos do perfi l dos visitantes. Nesse sentido, o espaço rural tor-na- se palco para atuação de atores exógenos enquanto a população rural tradicional é relegada aos ditames do trade turístico, tendo pouca participação no processo de tomada de decisões sobre seu próprio futuro. Acreditamos que o trade turístico vê no espaço ru-ral um novo receptáculo dos equipamentos e atividades do turismo. Assim, as diversas peculiaridades e parti-cularidades do rural – quando não se constituem em atrativos turísticos – vêm sendo ignoradas na gestão do turismo no meio rural, sobretudo quando o pequeno agricultor familiar é envolvido no processo. A lógica do mercado turístico penetra no meio rural com um único objetivo que é o lucro, modifi cando paisagens, territórios e a territorialidade dos agricultores familiares. Desta forma, por um lado temos a busca de expansão dos mercados turísticos para o trade, onde o rural é visto como um nicho de mercado a ser explorado. Mesmo ten-do suas peculiaridades, o turismo rural é pensado dentro da lógica do trade turístico. Assim, para desenvolver o turismo rural, além dos atrativos naturais e culturais já existentes, é preciso dotar esse rural de infra-estrutura, equipamentos turísticos, capacitação profi ssional, visão empreendedora, entre outros fatores de cunho merca-dológico que tendem a transformar e complexifi car o espaço rural, sobretudo no que tange os interesses pelo rural e as novas relações de poder que são estabelecidas com a entrada do trade e outros atores. Por outro lado, emerge o discurso do turismo ru-ral como alternativa para os agricultores e moradores das áreas rurais, de modo que com a implantação do turismo, seriam gerados empregos e renda para a popu-lação rural, contribuindo para a permanência dessa po-pulação no campo, valorização da auto-estima dos agri-cultores, diversifi cação das atividades na propriedade, conservação ambiental, etc. Nessa vertente incluem-se diversas políticas públicas de apoio ao turismo rural em áreas economicamente deprimidas, como os programas LEADER (Ligação entre Ações de Desenvolvimento da Economia Rural) da União Européia. No entanto, não podemos negar que tanto o dis-curso do rural como novo território para o trade turísti-co, quanto o discurso do turismo rural como alternativa de emprego e renda para os agricultores encontram-se imbricados, de modo que agricultores passam a incor-porar a ideologia do turismo rural como alternativa, ao mesmo tempo em que o trade turístico passa a valorizar o modo de vida rural, historicamente tido como atrasado e marginal. Mesmo sabendo das diferentes intencionalidades no que tange o incentivo ao turismo rural, alguns ele-mentos da retórica passam a ser adotados pelos diver-sos atores sociais envolvidos. Um deles diz respeito ao turismo como atividade complementar à agricultura, pois dissemina-se a idéia de que o agricultor deve man-ter sua produção e incorporar o atendimento ao turista como mais uma atividade. Aqui, percebemos que cres-cem as exigências frente os agricultores, que além de produtores de alimentos tem que se transformar em em-presários com capacidade administrativa em um novo e diferente negócio. Considerando o contexto sociocultu-ral dos agricultores brasileiros, sobretudo dos agricul-tores familiares, percebemos que essa dupla exigência de permanecer agricultor e se tornar um empreendedor não condiz com a realidade dos agricultores familiares brasileiros, marcada pela baixa escolaridade, difi cul-dades de sobrevivência, falta de infra-estrutura (ener-gia, comunicações, habitações adequadas, saneamento, etc.), bem como com as características culturais destes agricultores, que sempre retiraram sua sobrevivência a PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Luciano Zanetti Pessôa Candiotto ISSN 1695-7121 569 partir do trabalho na terra. Discordamos da idéia de que o turismo rural deve ser gerenciado pelo trade turístico, e entendemos que é preciso pensar o turismo rural a partir da realidade dos agricultores, ou seja, direcionado à melhoria de qualida-de de vida para as famílias rurais. O turismo tem que se adaptar ao meio rural e não o meio rural ser adaptado para o turismo. Considerações Finais A partir do exposto, entendemos que há uma incom-patibilidade entre os objetivos eminentemente econômi-cos do trade turístico e a retórica dos benefícios ambien-tais, socioculturais e econômicos do turismo rural para os agricultores, e que essa incompatibilidade conduz a diversas implicações socioespaciais decorrentes do desenvolvimento do turismo rural. Mesmo sendo uma nova fonte de emprego e renda para as famílias rurais, o turismo rural usa o ambiente e a cultura rural como atrativos e, a partir da entrada de agências, operadoras, consultores, empresários externos, entre outros atores sociais, modifi ca a estrutura do rural e sua dinâmica so-cioespacial, ao ponto de tornar o espaço rural um mero receptor dos objetos e das ações do trade turístico. Portanto, mesmo valorizando e conservando o meio físico-biótico e paisagístico, ou seja, incorporando a va-riável ambiental, o turismo rural e o próprio agrotu-rismo ainda não podem ser considerados sustentáveis, pois, de forma geral continuam controlados e promovi-dos por sujeitos que concentram o lucro da atividade, em detrimento das comunidades autóctones, que ao in-vés de se benefi ciarem são as mais afetadas com os im-pactos provenientes do turismo. Apesar de uma maior preocupação com a conser-vação ambiental, valorização cultural, melhoria da in-fra- estrutura local e com algum retorno econômico para as comunidades autóctones receptoras, o turismo não costuma alterar a concentração de renda nem promove benefícios sociais estruturais, isto é, direcionados para a coletividade. Acreditamos ser importante buscar alternativas de turismo que tenham como objetivo as comunidades re-ceptoras e a conservação ambiental, porém a lógica do sistema capitalista, regida por um mercado globalizado, concentrador e cada vez mais poderoso frente os luga-res difi culta e até impossibilita a operacionalização de experiências que realmente busquem minimizar as des-igualdades sociais, conservar os ecossistemas e possibi-litar a autonomia das populações locais. Como o lucro é o objetivo primordial, os benefícios ambientais e principalmente socioculturais fi cam restri-tos ao discurso promocional. Apenas as áreas que pos-suem atrativos naturais ou culturais são conservadas e quase não há retorno do lucro para a construção de obras de infra-estrutura coletivas, conservação de áreas de entorno (recursos hídricos, ecossistemas, biodiversi-dade), geração de empregos e outras melhorias sociais. Portanto, ao comparar o discurso com as experiências de implantação do turismo com base local, percebemos que há uma contradição entre o discurso do turismo como atividade sustentável e os objetivos dos promotores da atividade, eminentemente econômicos e corporativistas. Desta forma, é impertinente afi rmar que existe ou que está sendo construído no Brasil um turismo susten-tável ou mesmo práticas sustentáveis de turismo em lugares específi cos, sobretudo em destinações de turis-mo rural. Para afi rmar que determinada experiência de turismo é sustentável, é preciso realizar uma análise consistente e detalhada desta, considerando a dinâmi-ca espacial, os aspectos e impactos de ordem ecológica, sociocultural, econômica e política, bem como as premis-sas teóricas das idéias de desenvolvimento sustentável e, consequentemente, de turismo sustentável. Apesar de estarmos distantes de um turismo com base local que possa ser sustentável, entendemos que é fundamental a continuidade dos esforços teóricos e das análises empíricas que possam subsidiar a efetivação de uma gestão turística no meio rural, mais justa com os interesses coletivos. Para tanto, o planejamento do turismo de base local se faz necessário, tanto em áreas com alguma organização, que já recebem visitantes, como naquelas onde já existe oferta em potencial, atra-tivos naturais e uma visitação desordenada. No entanto, voltamos a apontar que o maior pro-blema não está na falta de planejamento e de gestão, mas principalmente nas intencionalidades particulares que predominam sobre intencionalidades coletivas, ou seja, nas relações de poder entre os atores sociais en-volvidos, sobretudo aqueles que, mesmo indiretamente, representam os interesses das corporações transnacio-nais e do capital fi nanceiro globalizado. Estas relações são elementos constituintes dos territórios turísticos e apreendê-las é fundamental para desvendar quem são os reais benefi ciários dos projetos de desenvolvimento turístico e quais são os interesses e intencionalidades predominantes. Bibliografi a Baidal, Josep A. I. 2000 “Turismo y espacios rurales: conceptos, fi losofi as y realidades”. Estudios turísticos, 23 (enero-junio): 59-88. 570 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Implicações do turismo no espaço rural ... 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Recibido: 02/10/09 Reenviado: 16/02/11 Aceptado: 22/02/11 Sometido a evaluación por pares anónimos
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Título y subtítulo | Implicações do turismo no espaço rural e em estabelecimentos da agricultura familiar |
Autor principal | Zanetti Pessôa Candiotto, Luciano |
Publicación fuente | Pasos. Revista de turismo y patrimonio cultural |
Numeración | Volumen 09. Número 4 |
Sección | Artículos |
Tipo de documento | Artículo |
Lugar de publicación | El Sauzal, Tenerife |
Editorial | Universidad de La Laguna |
Fecha | 2011-10 |
Páginas | pp. 559-571 |
Materias | Turismo ; Patrimonio cultural ; Publicaciones periódicas |
Enlaces relacionados | Página web: http://todopatrimonio.com/revistas/101-pasos-revista-de-turismo-y-patrimonio-cultural |
Copyright | http://biblioteca.ulpgc.es/avisomdc |
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Texto | www.pasosonline.org Vol. 9 Nº 4 págs. 559-571. 2011 Implicações do turismo no espaço rural e em estabelecimentos da agricultura familiar Luciano Zanetti Pessôa Candiotto i i Professor Adjunto do curso de Geografi a da UNIOESTE, campus de Francisco Beltrão. Membro do GETERR (Grupo de Estudos Territoriais). Doutor em Geografi a pela UFSC. E-mail: lucianocandiotto@yahoo.com.br Resumo: Sabendo da expansão do turismo no espaço rural mundial e brasileiro, e do atual incentivo do setor público e privado à abertura de estabelecimentos da agricultura familiar ao turismo, en-tendidos também como unidades de produção e vida familiares (UPVF´s), o presente texto, procura apresentar e discutir as implicações socioespaciais do turismo rural, e enfatizar suas consequencias nas pequenas propriedades rurais. Para tanto, nos apoiamos em referenciais bibliográfi cos brasilei-ros e estrangeiros que tratam das implicações/transformações decorrentes dessa atividade, e procu-ramos apresentar nossa posição em relação ao turismo rural, fenômeno que tende a crescer no espaço rural, e consequentemente, a transformar sua dinâmica socioespacial. Palavras-chave: Turismo; Espaço rural; Implicações socioespaciais; Agricultura familiar; Unidade de produção e vida familiar (UPVF). Title: Implications of rural tourism businesses and family farms Abstract: Considering the expansion of rural tourism in the world and in Brazil and the incentive of public and private sectors to family farms open their properties to tourism, we wrote this article to presents and discuss the implications of rural tourism and to emphasize their consequences in family farms. So, we worked with brazilian and foreigners literature that analyses the spatial implications and changes of this activity and try to present our impressions about rural tourism, which may grow in rural spaces and modify its social and spatial dynamics. Keywords: tourism; rural space; social and spatial implications; family farm; family unity of produc-tion and life (UPVF). Keywords: Tourism; Rural space; Socio-spatial implications; Family farming; Farm and family life (UPVF) © PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121 Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Brasil) 560 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Implicações do turismo no espaço rural ... ISSN 1695-7121 Introdução O incentivo público ao turismo rural e as novas pos-sibilidades de acumulação desta atividade através da transformação dos produtos, paisagens, manifestações culturais, modo de vida rural e elementos naturais em mercadoria, levou à implantação dos mais variados em-preendimentos públicos e privados de turismo no espaço rural, assim como de roteiros, circuitos e até resorts de turismo rural. Esse crescimento das destinações de turismo rural foi impulsionado pela inserção de objetos técnicos no es-paço rural, sobretudo pela maior infra-estrutura (vias de circulação, energia elétrica, comunicações, etc.) e equi-pamentos (hotéis, restaurantes, postos de informações turísticas, etc.), fundamentais para o desenvolvimento do turismo. Por conseguinte, os novos empreendimen-tos de turismo no espaço rural vêm contribuindo para a transformação e densifi cação técnica do espaço rural e, consequentemente, para a complexifi cação de objetos, atores e ações no rural. Assim como todas as atividades econômicas, a oferta do turismo rural trouxe consigo conseqüências socioespaciais, chamadas também de im-pactos do turismo rural. Considerando a tendência de crescimento da territorialização do turismo no espaço rural e a mani-festação de impactos já existentes do turismo rural nos lugares, procuramos nesse texto, apresentar e discutir algumas implicações do turismo rural com destaque para as famílias rurais agricultoras e suas unidades de produção e vida familiares (UPVF´s). Partindo dos impactos identifi cados na literatura e em estudos em-píricos, procuramos discorrer sobre a existência de um choque entre a racionalidade do agricultor e sua lógica de sobrevivência com a racionalidade econômica global presente nos atores envolvidos com o trade turístico (empresários, operadores, guias, consultores, planeja-dores, etc). Implicações socioespaciais do turismo rural Quando nos referimos às implicações socioespaciais do turismo rural procuramos considerar como a inser-ção de objetos e ações (Santos, 1996) ligados ao lazer e ao turismo exerce infl uência sobre as transformações espaciais manifestadas nos lugares em que a atividade de lazer e/ou turismo se insere. Estas transformações espaciais são decorrentes de uma dinâmica social, na qual coexistem aspectos políticos, econômicos, históri-cos e culturais, bem como, de uma dinâmica natural, ou seja, da relação de interdependência entre os elementos físicos (solos, águas, rochas, fl ora, fauna, eventos climá-ticos, etc), e destes com a sociedade. Os elementos da natureza são utilizados como recursos naturais que dão suporte à vida humana, porém, muito mais que recur-sos, são os responsáveis pelo surgimento do homem e por sua permanência como espécie viva. Nesse sentido, procuramos apreender as implicações socioespaciais do turismo rural através de uma análise integrada entre os elementos naturais e sociais, ou seja, considerando a apropriação e o uso dos recursos natu-rais pela sociedade, as relações de poder existentes, e as conseqüências destas ações. Ao se inserir no espaço geográfi co, os objetos e as ações ligados ao turismo rural podem trazer alguns benefícios mas também podem des-encadear confl itos com a população residente nas proxi-midades das áreas afetadas. Um grave problema apontado por Cavaco diz res-peito à implantação de destinações turísticas sem uma preocupação com questões de infra-estrutura e de equi-pamentos básicos, que devem existir antes e indepen-dentemente da atividade turística. A autora (2001) co-loca que para promover o lazer e o turismo, problemas básicos devem ser resolvidos, como a eletrifi cação, o abastecimento de água, o saneamento básico, a coleta de lixo doméstico, os serviços pessoais cotidianos e de saú-de e, outros serviços de proximidade e acessibilidade. Considerando essa afi rmativa para o caso do Brasil, podemos afi rmar que a maioria das destinações de tu-rismo rural é implementada sem o atendimento a essas necessidades básicas. A maior parte dos investimentos públicos e privados são direcionados aos equipamentos e atrativos turísticos, enquanto a infra-estrutura e os equipamentos básicos (amplamente utilizado pelos ha-bitantes locais) raramente é prioridade. Baidal (2000), afi rma que a existência de impactos produzidos pelo turismo nos espaços rurais nos remete a um adequado planejamento e gestão da atividade, que permita prevenir e reconduzir os efeitos negativos que o desenvolvimento turístico pode provocar. Sabemos da necessidade de planejamento e gestão do turismo no meio rural com o objetivo de reduzir seus impactos, porém, além das limitações do planejamento e da gestão executados somente por técnicos, existem difi - culdades para construir planos participativos, e princi-palmente, para aplicar esses planos em uma gestão de-mocrática e participativa. O planejamento e a gestão do turismo costumam ser centralizados, setoriais e direcio-nados às intencionalidades dos atores com mais poder. Além disso, nos remetemos a Ouriques (2005), quando este afi rma que a própria lógica de acumulação e cres-cimento econômico sem limites conduz a impactos so-cioespaciais indesejáveis, que por sua vez, são inerentes a qualquer atividade da economia capitalista. Portanto, PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Luciano Zanetti Pessôa Candiotto ISSN 1695-7121 561 mesmo com um planejamento e uma gestão do turismo no espaço rural, a própria natureza da atividade turísti-ca – pautada na lógica de acumulação capitalista - des-encadeia implicações socioespaciais não desejadas pela maior parte da população local, de modo que os agentes privados costumam se apropriar dos territórios turís-ticos. Assim, mesmo havendo condições institucionais para participação popular nas tomadas de decisões, de-terminadas intencionalidades irão sobressair-se sobre outras no jogo determinado pelas relações de poder. Santana (2002), afi rma que o uso da participação como ferramenta impulsora do desenvolvimento, tem partido em várias ocasiões de uma idéia falsa e etno-cêntrica do âmbito rural, isto é, conceber o campo e sua gente como homogêneos, com pouca iniciativa e, com pouca articulação social necessária para organizar-se, considerando a participação como um princípio de apli-cabilidade transcultural. A participação dos residentes deve ir além da mera consulta, de modo que estes devem ser informados sobre os possíveis custos e benefí-cios, e integrados no projeto e na tomada de de-cisões, considerando os costumes locais e a di-visão sexual do trabalho. (Santana, 2002: 35) No entanto, os custos (impactos) do turismo rural aos residentes, como a degradação ambiental e as trans-formações sociais e culturais, são ignorados no plane-jamento e não são divulgados para a sociedade. Assim, interessa divulgar o que é positivo e esconder os proble-mas, fato fundamental para a criação do imaginário do turismo rural como atividade sustentável. Desta forma, ignorar os impactos socioespaciais do turismo rural implica deixar a população rural local à margem do processo de desenvolvimento econômico ge-rado pelo turismo, restando a essa, os problemas sociais e ambientais decorrentes de atividades turísticas no es-paço rural. Segundo a lógica economicista vigente, os habitantes do lugar precisam se adaptar aos ditames do negócio, tornando-se empreendedores. Contudo, a maior parte da população autóctone acaba trabalhando como empregados, enquanto predominam empreende-dores exógenos e sem nenhuma identidade com o lugar, que acabam fi cando com a maior parte dos lucros gera-dos pelo turismo. Calatrava é outro pesquisador a questionar os bene-fícios do turismo rural para as populações envolvidas. “Há duvidas se os objetivos básicos do turismo rural para as comunidades implicadas conseguirão ser aten-didos, como rendas complementares, infra-estrutura terciária, além de um certo equilíbrio entre os sistemas ecológico, socioeconômico e cultural.” (Calatrava apud Froehlich e Rodrigues, 2000: 93) Santana (2002: 27), também ressalta que (...) infelizmente nem tudo o que é ofertado sob o rótulo de turismo rural baseia-se nas premissas de responsabilidade e consciência do espaço em que se desenvolve a atividade, gerando uma série de efei-tos não desejados nas áreas e populações receptoras. No Brasil, Froellich e Rodrigues (2000) perguntam se, para além da geração de emprego e renda, o turis-mo rural conseguirá distribuir essa renda e reduzir as desigualdades socioeconômicas. Para os autores, a afi r-mação de que o turismo rural dinamiza áreas rurais de-primidas é baseada em expectativas e proposições e não em estudos empíricos aprofundados. Portanto, é preciso considerar que o turismo rural pode agravar os proble-mas dos agricultores familiares. Concordamos total-mente com essa ressalva de Froellich e Rodrigues, pois percebemos uma exacerbação da idéia de que o turismo rural na agricultura familiar é uma atividade promis-sora para as famílias rurais, pois além de benefi ciá-las economicamente, seria uma forma de turismo susten-tável que estaria contribuindo para o desenvolvimento sustentável. Vieira, Almeida e Souza (2006), questionam os pró-prios impactos positivos do turismo rural na geração de emprego e renda, e também afi rmam que falta moni-toramento das experiências para comprovar os efeitos econômicos propagados como positivos. Ao pesquisar o turismo rural no Sul do estado do Rio Grande do Sul, e na Serra da Mantiqueira no estado de Minas Gerais (Brasil), Souza apud Vieira, Almeida e Souza (2006), conclui que o número de empregos gerados é baixo; a maioria dos empregos são temporários e exigem baixa qualifi cação; e que os resultados das pesquisas contra-riam a ênfase na retórica das vantagens econômicas do turismo rural. Pesquisando os impactos do turismo rural na Zona da Mata do estado de Pernambuco (Brasil), onde as gran-des fazendas de cana-de-açúcar são os principais atrati-vos, Santo (2005), não verifi ca melhorias na qualidade de vida da população local e no próprio desenvolvimento econômico. Segundo ela, o modelo de turismo rural na zona da mata exclui a participação da população local e contribui para perpetuar o latifúndio. (...) apesar de apregoada como opção de em-prego e renda, a atividade nessa região vem re-produzindo mais uma forma de exclusão dos trabalhadores rurais, não contribuindo para a ma-nutenção do homem do campo, nem para a melho-ria da sua qualidade de vida. (Santo, 2005: 191) Ao analisar um caso específi co na Espanha, Calatra-va apud Baidal (2000) aponta os seguintes impactos do turismo rural: 562 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Implicações do turismo no espaço rural ... ISSN 1695-7121 - a atividade agrária diminuiu notavelmente, ou até desapareceu; - o setor de serviços teve um hiper-desenvolvimento, empregando 70% da população ativa; - perda da cultura agrária e da identidade cultural dos habitantes; - aumento de bens oferecidos aos visitantes, que não são produzidos na região. Calatrava parece se referir ao segundo impacto como algo positivo, pois reduziu o desemprego entre a popu-lação local. No entanto, os outros impactos apontados se mostram indesejáveis e negativos para a população local, principalmente no que tange a questão cultural e identitária local. A redução e até o desaparecimento das atividades agrárias é um dos impactos negativos que justifi ca a defesa do turismo rural como atividade com-plementar, pois, ao obter maiores lucros com um esfor-ço menor, é comum ver agricultores abandonando suas práticas agropecuárias. Entendemos que, com o desen-volvimento do turismo, ocorre um predomínio de urba-nidades sobre as ruralidades, assim como a infl uência externa no lugar, levando ao terceiro e quarto impacto apontado por Calatrava. O antropólogo Santana (2002), aponta para as se-guintes conseqüências do turismo rural: - variações populacionais com a inserção dos turistas no lugar (sazonalidade); - aparição de espaços interferidos, correspondente à in-serção de turistas em espaços da população local e à apropriação desses espaços; - modifi cação na estrutura econômica e social das popu-lações, com a inserção de novos atores e atividades laborais para apoio ao turismo e, com o aumento da participação de mulheres; - maior necessidade de infra-estrutura e equipamentos no entorno para atender os turistas e mudanças na paisagem; - estereotipação do artesanato, da paisagem, do modo de vida e de outras manifestações culturais, levando à criação de símbolos e imagens constituintes de uma autenticidade ilusória. Assim como as demais modalidades turísticas, o tu-rismo rural também pode se expandir descontrolada-mente e desencadear impactos negativos. Labat e Perez apud Silva, Vilarino e Dale (2000), indicam os seguintes impactos da massifi cação do turismo rural: - não permite o desenvolvimento de grandes áreas ru-rais; - impactos ambientais decorrentes da proliferação desordenada de construções; - abandono das atividades agropecuárias; - terceirização da atividade econômica e grande de-pendência da atividade turística, sem que se desen-volvam atividades alternativas para a população lo-cal; - desenvolvimento de um turismo realizado por agen-tes exógenos (externos), com poucos benefícios para a população local; - presença de enclaves similares aos do turismo sol e praia, deixando a margem o meio rural e suas neces-sidades. Calatrava, Santana, e Labat e Perez, procuram elencar os impactos do turismo rural com base em ex-periências empíricas européias. Como o turismo rural na Europa é bem mais antigo que no Brasil, suas conse-qüências são mais evidentes, de modo que é fundamen-tal conhecer os problemas e erros existentes no contexto europeu para aprender o que não deve ser feito e como fazer melhor. Todavia, não podemos nos esquecer que a realidade brasileira é bem diferente da européia. Segundo Ribeiro apud Tulik (2003), os famosos be-nefícios econômicos do turismo rural podem desenca-dear pressões políticas visando sua expansão. O su-cesso econômico pode atrair investidores, limitando as oportunidades e os benefícios para a população local e subvertendo a concepção do desenvolvimento no meio rural. Havendo concorrência do turismo com as ativi-dades agrícolas, pode haver abandono das atividades primárias, tradicionais das famílias rurais. Santana (2002: 31) assevera que, Modifi cações no valor de uso dos recursos podem desestabilizar socialmente a população, favorecen-do poucos (maioria de investidores/empreendedores externos ao local) e prejudicando a população local, fato comum em qualquer desenvolvimento turísti-co. (...) A desarticulação do tecido social, juntamen-te com outras variáveis, como o envelhecimento da população, a perda de perspectivas individuais ou familiares, e a baixa qualifi cação profi ssional, con-dicionam e determinam o futuro de uma população. Roberts apud Santana (2002) diz que o turismo rural supõe a mercantilização de um espaço já conhecido, com o objetivo de possibilitar o desenvolvimento de hobbies para a população urbana. Santana (2002) entende que o cliente potencial do turismo rural é um neoromântico desencantado com a sociedade urbana, mas que não re-nuncia seu cotidiano urbano. Para Dudley apud Santa-na (2002), a raiz de grande parte dos impactos negativos do turismo rural provém do fato de que o campo recebe iniciativas elaboradas por entidades governamentais e grupos de interesse que operam a partir das cidades. Na visão de Baidal (2000), o espaço turístico é, antes de tudo, uma imagem, criada pelos turistas e oferecida pelos organizadores de viagens. Adicionaríamos a essa PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Luciano Zanetti Pessôa Candiotto ISSN 1695-7121 563 constatação que não são apenas os turistas que criam as imagens do turismo mas principalmente o trade turís-tico através do marketing e da propaganda veiculados nas mais variadas mídias. Baidal cita Miossec, que já em 1976 apontava para o fato das populações autóc-tones perceberem com inquietude e até com surpresa as imagens criadas/oferecidas pelo turismo. A imagem turística dos espaços rurais se fundamenta nas caracte-rísticas tradicionalmente associadas ao mundo rural e facilmente identifi cáveis nas mensagens promocionais desse tipo de turismo. Para Santos (1996), as imagens fazem parte da psi-cosfera, enquanto os objetos correspondem à tecnosfe-ra. Ambas, psicosfera e tecnosfera são coexistentes e infl uenciam a dinâmica espacial. Acreditamos que no turismo, a psicosfera, através da criação de imagens, é extremamente importante na afi rmação de uma des-tinação turística. Muitas vezes, o turismo encontra-se mais consolidado na psicosfera, no imaginário indivi-dual e coletivo, do que na tecnosfera. No Brasil, esse fenômeno é muito comum, de modo que diversos atra-tivos e roteiros turísticos apresentam uma imagem que não condiz com a realidade. Santana (2002) tece várias críticas à idealização do rural como espaço de tranqüilidade e à ideologia do tu-rismo rural como vetor de desenvolvimento local. Para o autor, o estilo de vida rural consolidou-se como um atra-tivo, em virtude de estereótipos e perspectivas diferen-tes das do meio urbano. O autor aponta que o turismo é condicionado pelas modas e estilos de vida preconizados em cada etapa histórica pela qual a sociedade ocidental passa, de modo que as imagens do rural bucólico partem da premissa de separação, cada vez mais radical e fal-sa, entre cidade e campo, refl etindo o predomínio de um sistema urbano que atribui virtudes ao entorno rural. Sabendo das difi culdades em delimitar o que é au-tentico, Verbole (2002) aponta que a busca pela au-tenticidade pode conduzir a museologização das áreas rurais. Muitas vezes, as comunidades hospedeiras e os agentes do turismo procuram moldar as ilusões e expec-tativas dos turistas acerca da vida rural e “fantasiam” suas atividades para satisfazer os turistas. MacCannel apud Verbole (2002) denominou esse fenômeno de au-tenticidade encenada. Na acepção de Santana (2002), os produtos vendidos como autênticos não o são e, boa parte dos consumido-res percebe que há uma reprodução dos produtos. Toda-via, esta autenticidade e sua imagem representam para o turista uma experiência que compensa as rotinas do cotidiano, de modo que este paga por ela como por qual-quer outro bem ou serviço vinculado a sua viagem. A experiência centrada no autêntico e exótico, de contato com o nativo desenha uma nova visão do sistema turís-tico. O entorno e suas imagens são vendidos da mesma forma que no turismo de massa, de maneira uniforme, e (...) induzem a pensar que, como produto destina-do ao turista, o patrimônio cultural e ambiental é tão regulável e reconstruível como qualquer outro bem ou serviço. Se for assim, o âmbito rural conformará a mé-dio prazo um destino-espetáculo global, diferencian-do as áreas em função de sua atratividade e da habili-dade- capacitação de seus atores. (Santana, 2002: 44) Verbole (2002), Baidal (2000), Tulik (2003) e Santa-na (2002) são alguns autores que atentam para a trans-formação da cultura em mercadoria no turismo rural. Santana é um dos mais enfáticos, e além das citações acima ainda afi rma que O turismo rural e outras formas de turis-mo alternativo promovem o consumo do cotidia-no social, cultural e ambiental dentro do rol de produtos recreacionais. Esse cotidiano é comer-cializado, e para tanto, adornado, empacotado e vendido segundo um valor atribuído pelo merca-do e seus agentes promotores. (Santana, 2002: 44) Portanto, o autor aponta para a valorização do es-teticamente belo e, que a conservação, reabilitação ou desaparecimento dos atrativos dependerá de sua rele-vância no contexto recreacional. (...) a contemplação da paisagem rural como museu vivo, do entorno físico intocável e dos espaços sociais como públicos, onde predominam os usos recreacio-nais sobre a produção tradicional e sustentada, fecha as portas para um desenvolvimento equilibrado das populações, mas, além disso, condena o recurso no qual este tipo de turismo está centrado. (Santana, 2002: 44) No fi nal de seu artigo, Santana (2002: 46) conclui: A melhoria da qualidade de vida, a educação, a formação profi ssional, a recuperação e conser-vação devem ser metas do planejamento do tu-rismo rural, e não manifestações de um discurso político-fi ctício. (...) Senão, estaremos criando cons-cientemente, belas utopias e falsas ilusões de futuro. Analisando o turismo rural em Portugal, Cristóvão (2002) e Graça (2001) também questionam a exacer-bação do turismo rural e apresentam críticas pertinen-tes sobre as implicações socioespaciais dessa modalida-de turística. O meio rural depende cada vez mais de fatores ex-ternos (macroeconômicos) e, com o turismo, esta depen-dência tende a aumentar, pois ampliam-se as relações capitalistas, inclusive do pequeno agricultor. Assim como Santana (2002), Cristóvão (2002) vê o turismo ru-ral condicionado pelo interesse dos citadinos pelo espaço rural, 564 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Implicações do turismo no espaço rural ... ISSN 1695-7121 (...) é clara a tendência para o mundo rural se transformar em objeto de consumo para cita-dinos, o que, embora criando oportunidades de desenvolvimento, coloca a economia rural numa posição de cada vez mais dependência de fato-res e atores exógenos. Além do mais, mostra que a nova identidade rural é, na essência, moldada pelas procuras urbanas. (Cristovao, 2002: 107). Cristóvão (2002) se remete a Lourenço, que apresen-ta uma visão crítica sobre o turismo rural, e usa termos como ambientalização do rural e da agricultura, divó-rcio rural-agricultura, autonomização do espaço rural face à agricultura, e dependência do rural face às dinâ-micas urbanas. As atividades a que se apela para este mundo rural tendem a torná-lo mais uma cena comple-mentar à vida urbana, sendo valorizado pelas suas qualidades estéticas e pelos seus recursos físicos, e constituindo-se em lugar procurado para espe-cializar as formas de lazer emergentes na cultu-ra urbana. (Lourenço apud Cristóvão, 2002: 86) Nesse sentido, Lourenço apud Cristovão (2002) des-taca a possibilidade de crescente dependência do ru-ral face às dinâmicas urbanas e de dominância de um conceito de rural que nada tem a ver com a atividade agropecuária, produtor de uma reinvenção e artifi ciali-zação do rural no imaginário urbano. No contexto brasileiro, alguns autores tecem críticas aos impactos do turismo rural na paisagem e na cultura local de seus habitantes. Weissbach (2005: 298) aponta que “o exagerado espírito comercial faz com que, às ve-zes, a cultura não passe de um simulacro para o turista ver.” Freitas (2002) destaca a infl uência de valores urba-nos na paisagem rural a partir do turismo, haja vista que a procura pelo turismo rural cria, não só um cenário artifi cial, como também exige novas construções para atender os anseios dos turistas, geralmente provenien-tes das cidades, de modo que o conforto e as facilidades da vida urbana são transferidos para o rural. Para a autora, a partir do consumo do espaço rural via turismo, há uma normatização de atitudes e práticas. Weissbach (2005) também afi rma que propriedades rurais abertas ao turismo incorporam hábitos e tecnologias urbanas e, Filho et al. (2006), falam do caráter urbanizador de al-gumas propostas de turismo rural. Acreditamos que os agricultores familiares não de-vem buscar o padrão de conforto exigido pelos urbanos, mas sim, afi rmar seu modo de vida e buscar o seu con-forto para compartilhá-lo com os visitantes. O turismo rural na agricultura familiar deve ter como foco o agri-cultor familiar e não o turista, ou seja, a melhoria da qualidade de vida das famílias rurais e não os gostos, muitas vezes fúteis, dos turistas. Weissbach (2005: 299), reforça nossa afi rmação, ao colocar que Para evitar o confronto com o visitante que se julga superior, as comunidades visitadas podem ser educadas no sentido de respeitar os valores estran-hos aos seus e, ao mesmo tempo, enfatizar o valor de sua cultura, de modo a afi rmar-se nem como infe-rior, nem tampouco como superior àquele que chega. O autor ainda conclui, Fazer a população local crer que é a sua cultu-ra que provoca a visitação e que seu modo de vi-ver simples e rústico atrai as pessoas é funda-mental para garantir uma manutenção cultural aliada a práticas econômicas que garantam a mel-horia da vida no meio rural. (Weissbach, 2005: 300) Além disso, entendemos que adaptar o meio rural aos padrões do trade turístico ou às expectativas da popu-lação urbana é mascarar esse meio rural para comercia-lizá- lo e, não mostrar o que realmente faz parte da vida das famílias rurais. Caso as ações em torno do turismo rural continuem seguindo a lógica vigente, o alerta de Weissbach (2005) de que existirá uma cultura para exi-bir para o turista e outra para o viver cotidiano, se con-cretizará. As implicações do turismo rural no Brasil não deixam de ser similares a algumas conseqüências já verifi cadas na Europa. Graça (2001, p. 42) coloca que o turismo no espaço rural português “é uma atividade elitizada, ca-racterizada pela quase total ausência de complementa-ridade com a agricultura e pouco enraizada localmente”. Fundamentada em pesquisas de Moreira, Graça aponta que a maioria dos promotores são profi ssionais liberais e do meio científi co (40%), empresários (18%), trabalha-dores qualifi cados (12%) e agricultores (5%). Portanto, “o turismo rural é uma atividade cuja difusão começou pelo topo da pirâmide socioprofi ssional e que está longe ainda de se estender para os estratos mais próximos da base desta” (p. 42). Concluindo, Graça (2001: 43) coloca, (...) a aposta num segmento de elevada qualida-de e preço, confi gura o turismo no espaço rural como um processo de desenvolvimento turístico adequan-do às estratégias de diversifi cação dos “produtos” turísticos, mas pouco condizente com processos de desenvolvimento local assentados na complementa-ridade agrícola e promovido pelos protagonistas da transição do mundo agrícola para o mundo rural. Prosser apud Santana (2002), afi rma que para não saturar o destino, busca-se atrair as elites, não permi-tindo o uso turístico a classes menos favorecidas. Assim, PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Luciano Zanetti Pessôa Candiotto ISSN 1695-7121 565 o aumento dos preços é uma das opções mais utilizadas para barrar o aumento do fl uxo de turistas, caracteri-zando uma clara segregação socioeconômica. Tanto Graça quanto Prosser destacam a elitização do turismo rural na Europa, fato que reafi rma a idéia de transformação da natureza e da cultura em merca-dorias, bem como o uso restrito dessas áreas pelas pes-soas que podem pagar por ela. Assim, o turismo rural também vem se confi gurando como uma modalidade se-gregadora, demonstrando que, na prática, as formas “al-ternativas” de turismo, ao serem gerenciadas dentro da mesma lógica do turismo convencional, desencadeiam impactos similares a outras modalidades turísticas tra-dicionais, como o turismo sol e praia. Não obstante, a gestão dos empreendimentos de tu-rismo rural geralmente é feita pelo proprietário. Como os proprietários não são atores homogêneos, é preciso levar em consideração a origem e as intencionalidades de cada proprietário com seu empreendimento. A par-tir de uma pesquisa realizada no estado de São Paulo (Brasil), Oliveira apud Tulik (2003) apontou três grupos de proprietários e propriedades rurais vinculados ao tu-rismo rural: - autêntico: produtor rural reside na propriedade e tem o turismo rural como atividade principal ou com-plementar; - sazonal: proprietário, geralmente turista e de ele-vado nível sóciocultural, que transformou sua resi-dência secundária num empreendimento de turismo rural; - investidor: proprietário sem vínculo com o meio ru-ral, que adquiriu a propriedade para transformá-la numa oportunidade de negócio. Dos três grupos citados, entendemos que apenas o primeiro, chamado de autêntico, já possui suas origens no campo e depende da agricultura para sobreviver. Por conseguinte, neste grupo estariam incluídos os agricul-tores familiares, que são tidos como os grandes benefi - ciários em potencial do turismo rural e, principalmente, do agroturismo1. Implicações do turismo rural na agricultura fa-miliar Entendendo que o turismo rural na agricultura fa-miliar apresenta especifi cidades como a dependência das atividades agropecuárias, podemos afi rmar que as pequenas unidades de produção familiares se consti-tuem nas propriedades com maior aptidão ao agrotu-rismo, pois têm como principal atividade a agricultura e/ou pecuária; carregam consigo o modo de vida rural tradicional; possuem gestão e trabalho familiar e; são empreendimentos que possibilitam um contato direto com o homem do campo e seu cotidiano. Todavia, os impactos do turismo rural ou do agro-turismo em unidades familiares parecem ser mais in-tensos do que em médias ou grandes propriedades ru-rais altamente tecnifi cadas, pois o agricultor familiar se apresenta como uma categoria social diferenciada, sobretudo por ter a maior parte da renda proveniente da agricultura, viver em pequenos estabelecimentos rurais, ter trabalho e gestão familiares e, uma relativa autonomia no que tange a gestão da propriedade. Tratando especifi camente das implicações do agro-turismo na agricultura familiar, que não fogem muito das próprias implicações do turismo rural, nos remete-mos ao estudo dos ingleses Evans e Ilvery apud Silva, Vilarino e Dale (2000), ao mostrarem que a geração de renda com o agroturismo é limitada em função da curta duração das visitas e, que a diversifi cação interna das propriedades incorporando atividades não-agrícolas é insufi ciente para enfrentar os problemas de queda das rendas agrícolas. Passando para autores que trabalham com o agroturismo no Brasil, Silva e Almeida (2002: 169) co-locam que (...) a exemplo das demais adoções de renda plu-riativa, o turismo implica em adaptações na vida de todos os membros da família. A decisão de imple-mentá- lo depende da disponibilidade dos indivíduos alterarem os hábitos produtivos e de convivência. No entanto, ao se promover o turismo rural na agri-cultura familiar, a família deve ser alertada não ape-nas para os benefícios que a atividade pode gerar (como geralmente ocorre), mas também pelos problemas e para as mudanças que podem ocorrer com a inserção no turismo, fato pouco trabalhado com as famílias rurais brasileiras, pois os promotores/planejadores do turismo objetivam viabilizar a atividade, estando mais compro-metidos com o retorno econômico do que com as con-dições de vida dos agricultores. No que tange os impactos positivos do turismo rural na agricultura familiar, Silva apud Vieira, Almeida e Souza (2006) destaca os seguintes: - preservação do patrimônio cultural; - permanência da esposa no lar e outras funções para ela desenvolver; - perspectiva de trabalho para os fi lhos; - valorização da auto-estima; - contato com outras pessoas; - redução do êxodo rural. Ao pesquisar uma experiência de turismo em peque-nas propriedades rurais do município de Taquari, esta-do do Rio Grande do Sul (Brasil), Jasper e Rocha (2006) 566 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Implicações do turismo no espaço rural ... ISSN 1695-7121 oito empreendimentos de hospedagem no espaço rural e constataram que apesar de todos terem menos de 10 hectares, apenas um era de propriedade e administrado por um agricultor familiar. Ao pesquisar a experiência do “Circuito Italiano de Turismo Rural” do município de Colombo, estado do Pa-raná (Brasil), Candiotto (2007) constatou que entre os 31 estabelecimentos envolvidos com o Circuito, apenas oito eram administrados por agricultores familiares. O autor também enfatiza que a maior parte dos lucros e benefícios provenientes do turismo está concentrada na-queles atores com uma visão empresarial enquanto os agricultores familiares fi cam com uma pequena parcela desses benefícios. Outro aspecto analisado por Candio-tto, diz respeito à baixa participação dos agricultores familiares nos fóruns coletivos como o Conselho Munici-pal de Turismo e, à pouca infl uencia que estes têm nas decisões tomadas pelo Conselho e pela Associação dos empreendedores do Circuito. Marafon (2006) coloca que o espaço rural se trans-forma em decorrência da valorização de seus aspectos naturais e a manutenção da produção agrícola familiar se torna importante para a disseminação da imagem do espaço rural e natural vendido ao turista. Apesar da valorização da imagem do rural e da agricultura fami-liar, o autor tece críticas a essa concepção e a partir de pesquisa realizada na região serrana do estado do Rio de Janeiro (Brasil), demonstra que os agricultores fami-liares vêm sendo explorados no processo de implantação do turismo rural. Campanhola e Silva (2000) elencam os seguintes problemas que podem advir com o agroturismo: 1. degradação ambiental (lixo, esgoto, barulho, depre-dação de patrimônios naturais, fl ora e fauna); 2. degeneração da cultura local por interação da comu-nidade local com turistas de diferentes origens, au-mento do trânsito de pessoas e mobilidade populacio-nal; 3. aumento da demanda por serviços públicos, compe-tindo com o atendimento da comunidade local; 4. inclusão e exclusão de áreas e regiões, podendo levar ao êxodo rural nas áreas excluídas; 5. aumento da criminalidade, uso de drogas e depre-dações do patrimônio público por infl uência dos fl u-xos de populações urbanas no meio rural; 6. abandono das atividades agropecuárias; 7. aumento do custo de vida das comunidades residen-tes devido ao aumento no custo das mercadorias e serviços e, do preço da terra, resultante da especu-lação imobiliária. Os impactos apontados pelos autores demonstram a complexidade do turismo e de suas implicações, pois mostram os seguintes benefícios do turismo rural na opinião dos agricultores familiares envolvidos: - aumento do valor da propriedade e da empresa; - divulgação dos produtos; - novos consumidores; - aumento da procura pelos produtos; - novos contatos. Analisando seis propriedades rurais envolvidas com o Projeto denominado “Caminhos das Pedras” no Rio Grande do Sul, Silva e Almeida (2002) constatam que para os agricultores, os principais benefícios foram o au-mento de renda da família; o trabalho para os fi lhos; a permanência da população no distrito; valorização pes-soal decorrente da perda de inibição frente os visitantes e; auto-conhecimento por meio de novas relações sociais. No que tange as mudanças positivas ocorridas na comu-nidade, estão: a volta da vitalidade da mesma; o resga-te da auto-estima dos moradores; a criação de mercado para a produção local; a preservação do patrimônio e da cultura e; o fortalecimento das relações interpessoais. Como principal mudança negativa, os agricultores apontaram o aumento do trabalho, que está vinculado a outras mudanças, como a redução no tempo de lazer; comprometimento das refeições em família; e prejuízos da privacidade. Outros aspectos interessantes da pes-quisa de Silva e Almeida (2002) foram os seguintes: den-tre as seis famílias dedicadas ao turismo, apenas duas conseguem manter a agricultura. Para tanto, recrutam elementos de outros núcleos familiares (fi lhos casados, irmãos, empregados). Duas arrendam a área agrícola para terceiros e se dedicam somente ao turismo. As de-mais não se envolvem com a agricultura. Esses resultados demonstram a difi culdade em man-ter as atividades agropecuárias combinadas com a or-ganização da propriedade para receber os visitantes e indicam que apesar de alguns benefícios para os agri-cultores e a comunidade, há uma tendência de secunda-rização da agricultura. Na visão de Filho et al. (2006: 147) Com a implantação do turismo na agricultu-ra familiar preocupa a migração, mesmo que len-ta, da atividade agropecuária típica da família para uma situação de dilapidação onde a proprie-dade rural perde sua identidade com a produção primária e fi ca voltada para a prestação de ser-viços no meio rural, alterando sua identidade. Ao constatar que o turismo rural é uma atividade que vêm benefi ciando os mais dotados dos meios neces-sários a seu aproveitamento econômico, Silva (2004), afi rma que a participação dos agricultores familiares brasileiros em atividades de turismo rural é irrisória. Cavalheiro, Dullius e Froehlich (2006) pesquisaram PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Luciano Zanetti Pessôa Candiotto ISSN 1695-7121 567 Acontecendo isso, o turismo rural, de alternativa complementar de renda, torna-se a atividade principal e, ao invés de contribuir para a diversifi cação das ativi-dades agropecuárias e manutenção das famílias no cam-po, reduz as atividades àquelas que de alguma forma são interessantes para o turista e transforma os agri-cultores em empresários do setor turístico. Além disso, altera-se a confi guração das paisagens e dos lugares bem como os “serviços tradicionais” rurais, que podem deixar de ser atrativos ou modifi car-se a ponto de desca-racterizar as práticas locais. Portanto, a idéia do turismo como atividade comple-mentar, sobretudo para agricultores familiares, pode se tornar inviável a partir do momento em que o turismo passa a ser visto como um único negócio, no qual são investidos recursos que necessariamente tem que retor-nar através do aumento da demanda turística. Vale destacar ainda, mais um empecilho para os em-preendedores rurais que dispõem de poucas condições fi nanceiras, que é o que está relacionado em muitos ca-sos à falta de mão-de-obra que o agricultor dispõe. Para o turismo como atividade complementar, o agricultor terá que utilizar um tempo considerável além do tem-po de trabalho na agricultura. Existem possibilidades de faltar tempo para que o agricultor exerça as demais atividades rotineiras desempenhadas por ele na agri-cultura, o que pode afetar o desenvolvimento de outras atividades. Partindo da análise de experiências empíricas de tu-rismo rural na agricultura familiar, Candiotto (2006) e Bricalli (2005) também constatam que os agricultores familiares que passam a receber turistas, não têm mais tempo livre para seu próprio lazer e de sua família, haja vista que a visitação ocorre majoritariamente nos fi nais de semana e feriados, enquanto os dias de semana são ocupados com as atividades agrícolas e com a prepa-ração da propriedade para recepção dos turistas. Assim, aqueles agricultores que são responsáveis por uma ofer-ta de lazer e turismo, acabam, em função disso, sendo privados de tempo livre para poder praticar o lazer e o turismo. Fundamentada na conceituação de turismo rural apresentada por Groulleau, Novaes (2004) afi rma que o turismo rural apresenta as seguintes funções: utilizar mão-de-obra, recursos e gestão local, além de ser uma atividade estratégica para a proteção ambiental do es-paço rural; garantir a manutenção da família rural no campo e, consequentemente, a conservação das ativida-des agrícolas tradicionais e; estimular a preservação do patrimônio cultural, respeitando sua diversidade. Para Bovo (2005), o turismo rural tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas da localidade. envolvem questões ambientais, econômicas e sociocul-turais que tendem a afetar as áreas receptoras, ou seja, as comunidades e famílias rurais. No caso dos pequenos agricultores, os mesmos autores percebem que as difi - culdades para seu engajamento no agroturismo pare-cem ser maiores e relacionam os principais obstáculos: - defi ciência de capacitação para desenvolver ativida-des não-agrícolas; - difícil predisposição para agregar um negócio não agrícola dentro da propriedade, devido à tradição agrícola; - baixa capacidade econômica para assumir riscos; - difi culdade de acesso a programas do governo devido à falta de garantias para o setor fi nanceiro; - pouca tradição de associativismo e cooperativismo, que para os pequenos é fundamental para o sucesso do empreendimento, sobretudo no marketing e co-mercialização; - difi culdade de acesso à informação mercadológica dos produtos turísticos; - baixo intercâmbio com agências operadoras. (Cam-panhola e Silva, 2000: 164) Apesar de concordarmos com os problemas eviden-ciados, as difi culdades dos pequenos agricultores apon-tadas por Campanhola e Silva (2000) demonstram a concepção de turismo rural dos autores como mais uma modalidade de turismo convencional, haja vista a ênfa-se nos aspectos econômicos e administrativos do turis-mo rural em pequenas propriedades. A integração dos agricultores ao trade é apontada como inevitável, ne-cessária e positiva para o desenvolvimento do turismo rural. Contudo, apesar da longa trajetória dos autores em estudos agrários, estes parecem ignorar certas espe-cifi cidades dos agricultores familiares, acreditando na viabilidade de transformação destes em empresários do turismo e primando pela maior inserção destes na lógi-ca mercadológica, aspectos criticados por Graça (2001), Santana (2002), Cristovão (2002), entre outros. Em nossa opinião, a própria lógica do mercado, pau-tada na maximização constante de lucros, competitivi-dade, profi ssionalização e individualismo, não combina com as características econômicas e socioculturais dos agricultores familiares. É mais uma lógica capitalista que penetra no campo, utiliza o discurso de sustenta-bilidade e de melhorias para os agricultores familiares, mas que provavelmente benefi ciará os promotores da atividade. Segundo Tulik (2003) quando o turismo começa a gerar renda superior a agricultura, o proprietário, so-bretudo pequeno, deixa as atividades rotineiras para se dedicar a venda de produtos que, embora tipicamente rurais, não são produzidos por ele. 568 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Implicações do turismo no espaço rural ... ISSN 1695-7121 Considerando as funções acima, podemos afi rmar que o turismo rural tem como principal objetivo mel-horar as condições de vida das populações rurais, seja através do aumento dos empregos e da renda, da pro-teção ambiental, da manutenção das atividades agro-pecuárias existentes e da valorização cultural local. No entanto, a implantação do turismo rural geralmente é feita a partir de uma lógica de desenvolvimento turís-tico que é determinada por atores vinculados ao trade turístico, de modo que diversos valores mercadológicos (competição, crescimento constante, capacitação e ges-tão empresariais) passam a ser disseminados para os agricultores como inevitáveis para o “sucesso” do em-preendimento. Nesse sentido, questionamos se os interesses do tra-de estão vinculados aos interesses dos agricultores com a abertura de suas propriedades ao turismo. Apesar de diversos autores justifi carem que o turismo rural é uma alternativa de melhoria e de fi xação do homem do campo no espaço rural, entendemos que para o trade, o turis-mo rural não passa de mais um nicho de mercado a ser explorado. Assim, o boom do turismo rural no mundo interessa muito mais às empresas do trade, que passam a atuar na perspectiva de segmentação do turismo, do que aos agricultores, que na retórica são tidos como os maiores benefi ciários da implantação do turismo rural mas no processo de implantação do turismo são aqueles que mais sofrem com os impactos negativos da ativida-de turística. Graça (2001) apresenta uma refl exão similar, enten-dendo que na perspectiva do turismo e de seus agentes há uma reinvenção do rural, onde o consumo turístico da genuinidade e da autenticidade é promovido e me-diatizado por promotores externos muito próximos do perfi l dos visitantes. Nesse sentido, o espaço rural tor-na- se palco para atuação de atores exógenos enquanto a população rural tradicional é relegada aos ditames do trade turístico, tendo pouca participação no processo de tomada de decisões sobre seu próprio futuro. Acreditamos que o trade turístico vê no espaço ru-ral um novo receptáculo dos equipamentos e atividades do turismo. Assim, as diversas peculiaridades e parti-cularidades do rural – quando não se constituem em atrativos turísticos – vêm sendo ignoradas na gestão do turismo no meio rural, sobretudo quando o pequeno agricultor familiar é envolvido no processo. A lógica do mercado turístico penetra no meio rural com um único objetivo que é o lucro, modifi cando paisagens, territórios e a territorialidade dos agricultores familiares. Desta forma, por um lado temos a busca de expansão dos mercados turísticos para o trade, onde o rural é visto como um nicho de mercado a ser explorado. Mesmo ten-do suas peculiaridades, o turismo rural é pensado dentro da lógica do trade turístico. Assim, para desenvolver o turismo rural, além dos atrativos naturais e culturais já existentes, é preciso dotar esse rural de infra-estrutura, equipamentos turísticos, capacitação profi ssional, visão empreendedora, entre outros fatores de cunho merca-dológico que tendem a transformar e complexifi car o espaço rural, sobretudo no que tange os interesses pelo rural e as novas relações de poder que são estabelecidas com a entrada do trade e outros atores. Por outro lado, emerge o discurso do turismo ru-ral como alternativa para os agricultores e moradores das áreas rurais, de modo que com a implantação do turismo, seriam gerados empregos e renda para a popu-lação rural, contribuindo para a permanência dessa po-pulação no campo, valorização da auto-estima dos agri-cultores, diversifi cação das atividades na propriedade, conservação ambiental, etc. Nessa vertente incluem-se diversas políticas públicas de apoio ao turismo rural em áreas economicamente deprimidas, como os programas LEADER (Ligação entre Ações de Desenvolvimento da Economia Rural) da União Européia. No entanto, não podemos negar que tanto o dis-curso do rural como novo território para o trade turísti-co, quanto o discurso do turismo rural como alternativa de emprego e renda para os agricultores encontram-se imbricados, de modo que agricultores passam a incor-porar a ideologia do turismo rural como alternativa, ao mesmo tempo em que o trade turístico passa a valorizar o modo de vida rural, historicamente tido como atrasado e marginal. Mesmo sabendo das diferentes intencionalidades no que tange o incentivo ao turismo rural, alguns ele-mentos da retórica passam a ser adotados pelos diver-sos atores sociais envolvidos. Um deles diz respeito ao turismo como atividade complementar à agricultura, pois dissemina-se a idéia de que o agricultor deve man-ter sua produção e incorporar o atendimento ao turista como mais uma atividade. Aqui, percebemos que cres-cem as exigências frente os agricultores, que além de produtores de alimentos tem que se transformar em em-presários com capacidade administrativa em um novo e diferente negócio. Considerando o contexto sociocultu-ral dos agricultores brasileiros, sobretudo dos agricul-tores familiares, percebemos que essa dupla exigência de permanecer agricultor e se tornar um empreendedor não condiz com a realidade dos agricultores familiares brasileiros, marcada pela baixa escolaridade, difi cul-dades de sobrevivência, falta de infra-estrutura (ener-gia, comunicações, habitações adequadas, saneamento, etc.), bem como com as características culturais destes agricultores, que sempre retiraram sua sobrevivência a PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Luciano Zanetti Pessôa Candiotto ISSN 1695-7121 569 partir do trabalho na terra. Discordamos da idéia de que o turismo rural deve ser gerenciado pelo trade turístico, e entendemos que é preciso pensar o turismo rural a partir da realidade dos agricultores, ou seja, direcionado à melhoria de qualida-de de vida para as famílias rurais. O turismo tem que se adaptar ao meio rural e não o meio rural ser adaptado para o turismo. Considerações Finais A partir do exposto, entendemos que há uma incom-patibilidade entre os objetivos eminentemente econômi-cos do trade turístico e a retórica dos benefícios ambien-tais, socioculturais e econômicos do turismo rural para os agricultores, e que essa incompatibilidade conduz a diversas implicações socioespaciais decorrentes do desenvolvimento do turismo rural. Mesmo sendo uma nova fonte de emprego e renda para as famílias rurais, o turismo rural usa o ambiente e a cultura rural como atrativos e, a partir da entrada de agências, operadoras, consultores, empresários externos, entre outros atores sociais, modifi ca a estrutura do rural e sua dinâmica so-cioespacial, ao ponto de tornar o espaço rural um mero receptor dos objetos e das ações do trade turístico. Portanto, mesmo valorizando e conservando o meio físico-biótico e paisagístico, ou seja, incorporando a va-riável ambiental, o turismo rural e o próprio agrotu-rismo ainda não podem ser considerados sustentáveis, pois, de forma geral continuam controlados e promovi-dos por sujeitos que concentram o lucro da atividade, em detrimento das comunidades autóctones, que ao in-vés de se benefi ciarem são as mais afetadas com os im-pactos provenientes do turismo. Apesar de uma maior preocupação com a conser-vação ambiental, valorização cultural, melhoria da in-fra- estrutura local e com algum retorno econômico para as comunidades autóctones receptoras, o turismo não costuma alterar a concentração de renda nem promove benefícios sociais estruturais, isto é, direcionados para a coletividade. Acreditamos ser importante buscar alternativas de turismo que tenham como objetivo as comunidades re-ceptoras e a conservação ambiental, porém a lógica do sistema capitalista, regida por um mercado globalizado, concentrador e cada vez mais poderoso frente os luga-res difi culta e até impossibilita a operacionalização de experiências que realmente busquem minimizar as des-igualdades sociais, conservar os ecossistemas e possibi-litar a autonomia das populações locais. Como o lucro é o objetivo primordial, os benefícios ambientais e principalmente socioculturais fi cam restri-tos ao discurso promocional. Apenas as áreas que pos-suem atrativos naturais ou culturais são conservadas e quase não há retorno do lucro para a construção de obras de infra-estrutura coletivas, conservação de áreas de entorno (recursos hídricos, ecossistemas, biodiversi-dade), geração de empregos e outras melhorias sociais. Portanto, ao comparar o discurso com as experiências de implantação do turismo com base local, percebemos que há uma contradição entre o discurso do turismo como atividade sustentável e os objetivos dos promotores da atividade, eminentemente econômicos e corporativistas. Desta forma, é impertinente afi rmar que existe ou que está sendo construído no Brasil um turismo susten-tável ou mesmo práticas sustentáveis de turismo em lugares específi cos, sobretudo em destinações de turis-mo rural. Para afi rmar que determinada experiência de turismo é sustentável, é preciso realizar uma análise consistente e detalhada desta, considerando a dinâmi-ca espacial, os aspectos e impactos de ordem ecológica, sociocultural, econômica e política, bem como as premis-sas teóricas das idéias de desenvolvimento sustentável e, consequentemente, de turismo sustentável. Apesar de estarmos distantes de um turismo com base local que possa ser sustentável, entendemos que é fundamental a continuidade dos esforços teóricos e das análises empíricas que possam subsidiar a efetivação de uma gestão turística no meio rural, mais justa com os interesses coletivos. Para tanto, o planejamento do turismo de base local se faz necessário, tanto em áreas com alguma organização, que já recebem visitantes, como naquelas onde já existe oferta em potencial, atra-tivos naturais e uma visitação desordenada. No entanto, voltamos a apontar que o maior pro-blema não está na falta de planejamento e de gestão, mas principalmente nas intencionalidades particulares que predominam sobre intencionalidades coletivas, ou seja, nas relações de poder entre os atores sociais en-volvidos, sobretudo aqueles que, mesmo indiretamente, representam os interesses das corporações transnacio-nais e do capital fi nanceiro globalizado. Estas relações são elementos constituintes dos territórios turísticos e apreendê-las é fundamental para desvendar quem são os reais benefi ciários dos projetos de desenvolvimento turístico e quais são os interesses e intencionalidades predominantes. Bibliografi a Baidal, Josep A. I. 2000 “Turismo y espacios rurales: conceptos, fi losofi as y realidades”. Estudios turísticos, 23 (enero-junio): 59-88. 570 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Implicações do turismo no espaço rural ... 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Recibido: 02/10/09 Reenviado: 16/02/11 Aceptado: 22/02/11 Sometido a evaluación por pares anónimos |
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