© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Vol. 14 N.o 5. Págs. 1143-1160. 2016
www .pasosonline.org
Resumo: Ao debruçar‑se
sobre Bangu e suas peculiaridades socioculturais, percebe‑se
que pertences ligados a
esta comunidade exalariam signos capazes de evidenciar uma intrincada rede de significados. Através de um olhar
descentralizado sobre este objeto, pode‑se
amplificar valores, personagens, explorar histórias e experiências sociais
que ali se estabeleceram, tendo sempre cuidado de enxergá‑la
como um “espelho” de relações que apresentariam
olhares e significados heterogêneos capazes de apresentar uma nova faceta à compreensão do processo de formação
desta comunidade. Destarte, propõem‑se
aqui um trabalho com culturas, identidades e memórias daqueles que
participam na tessitura de relações em Bangu, tentando entender de que maneira seu elo com o turismo pode
mostrar que ainda se negligenciam importantes aspectos ligados à memória deste bairro carioca.
Palavras-chave: Bangu; Memória; Identidade; Tecnologia; Turismo.
From pioneering at the aisle: the banguense memory and its relationship with tourism
Abstract: To look into Bangu and their socio‑cultural
peculiarities, it is perceived that things connected to
this community demonstrates signs able to show an intricate network of meanings. Through a decentralized
look at this object, it can be amplified values, characters, stories and explore social experiences that
have settled there, always taking care to see it as a “mirror” of relations which would present looks and
heterogeneous meanings able to present a new facet to understanding the formation of this community
process. Thus, it is proposed here work with cultures, identities and memories of those who participate in the
fabric of relationships in Bangu, trying to understand how their link with tourism can show that still neglect
important aspects of memory of this carioca neighborhood.
Keywords: Bangu; Memory; Identity; Technology; Tourism.
Do pioneirismo à coxia: a memória banguense
e sua relação com o turismo
Dan Gabriel D’Onofre* Rodrigo Amado dos Santos**
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Brasil)
Dan Gabriel D’Onofre, Rodrigo Amado dos Santos
* Professor do Curso de Bacharelado em Hotelaria da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e doutorando
em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA/UFRRJ); E‑mail: donofretur@gmail.com
** Professor dos Cursos de Bacharelado em Hotelaria da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), de MBA em
Gestão Hoteleira (UFRRJ). Atua enquanto docente colaborador do Programa de Pós‑Graduação
Strictu Sensu – Nível
Mestrado – em Educação Agrícola (UFRRJ/PPGEA). É doutorando em Sistemas de Gestão Sustentáveis pela Universidade
Federal Fluminense (UFF/LATEC), mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” (UNESP, Campus Marília) e bacharel em turismo pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP); E‑mail:
profrodrigoamado@gmail.com
1. Tramas sociais e memória do subúrbio carioca: Bangu em foco
Iniciar um leque de argumentações, que ao final dará suporte e contribuição a este estudo acadê‑mico,
requer a estruturação e minuciosa planificação de um trabalho que ao mesmo tempo em que se
mostra árduo, é visto de uma forma demasiadamente gratificante. Árduo no sentido de que para se
concretizar o objetivo que aqui é pleiteado, há a necessidade de uma dedicação deveras meticulosa e que
vislumbre a sutileza e a importância daquilo “que não foi dito” e muito menos registrado, daquilo que
só é percebido através da sensibilidade capaz de captar indícios, personagens e estórias que também se
mostraram responsáveis pela construção e delineação de uma identidade local, fruto de relações entre
indivíduos que puderam vivenciar, acompanhar e até mesmo fazer parte de uma realidade, tal qual
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será exposto aqui, que remete a especificidades históricas, culturais, sociais, econômicas e políticas de
uma localidade – Bangu – que assumira, em tempos pretéritos, importante papel de desenvolvimento
da economia carioca.
E é justamente nesse ponto em que o trabalho se mostrará gratificante, na medida em que há a
possibilidade de se compreender o desenrolar de tramas sociais, de relações de poder, de lutas pelo espaço
que, direta ou indiretamente se evidenciaram como responsáveis pela gênese de uma localidade. E isso só
pode ser percebido graças a um diálogo contínuo entre passado e presente1, pelo quais os seres humanos
constantemente se confrontam ao longo de sua vivência. É indubitável que aqui, através de um olhar
minucioso e fragmentado2 que consiga despertar vozes e valores adormecidos e/ou esquecidos, dando
credibilidade também aos sujeitos marginalizados por nossa história elitista, e ser capaz de conceber uma
nova percepção e dar novos significados às fontes documentais e aos relatos registrados e apreendidos
como certos e inquestionáveis, nos possibilitará uma nova versão à história desta comunidade.
Deste modo, atualmente conhecido como um dos bairros com as temperaturas mais altas do Brasil,
Bangu figura entre as páginas esportivas e policiais dos jornais e telejornais fluminenses e nacionais.
Embora esse seja o panorama contemporâneo, a história de Bangu apresenta um panorama interessante
quanto à sucessão paradigmas tecnológicos em seu território. O que se manifesta na paisagem banguense
tem relação direta com os esforços de diversos atores na tessitura de suas relações.
Há aqui, portanto, um universo demasiadamente complexo e que, através das apropriações corretas,
se abre aos olhos mais inquietos e curiosos. E o porquê dessa inquietação poderá ser esclarecido por
Halbwachs (1990) no momento em que este afirma que quando qualquer objeto que não faz parte de
círculo mais familiar, há o resultado mais lógico: o assombro, pois não existem conhecimentos dentro deste
ciclo que possam “desvendar” todas as possibilidades existentes perante este novo campo de observação.
Nesses casos, debates relacionados a símbolos culturais e identitários que enaltecem uma dada memória,
devem ampliar a perspectiva contemplativa e emotiva e começar a assumir um olhar mais minucioso,
investigativo e participativo perante os valores que circundam não apenas espaços familiares, mas todo
o complexo social no qual estamos presentes, estando atento às relações sociais e hierárquicas, de poder
e de cunho econômico que estariam imersas e que ditaram os rumos e ações locais em Bangu, estando
atento também às representações que tais discursos estabeleceriam nesta comunidade. Afirmação esta
que remeterá a um relevante fato: o por quê da escolha deste objeto?
Com vistas a propiciar um debate em torno dos elementos culturais que emergiram por conta das
relações exercidas entre os atores sociais que inventaram ou influenciaram Bangu, parte‑se
de uma
linearidade histórica dos lugares de memória do bairro e seu entorno. Desta maneira, para compreender
de que maneira observaremos este cenário, embebido expressivos significados e valores que dão um tom
ímpar a esta localidade, é interessante apresentar uma nova faceta à sua história, aquela tida como
oficial, e questionarmos aquilo que sabemos sobre esta. Para tanto, nos aproximamos das reflexões de
Possas (2001) ao percebermos a importância de se olhar de novo um objeto, só que dessa vez, tentando
historicizar a construção de suas representações, de seus personagens e de eventos que foram sendo
esquecidos ou relegados a uma marginalidade. E para que isso aconteça, lançamos mão de um olhar
minucioso e fragmentado, despertado por antigas vozes que conceberam uma nova percepção, de forma
a suscitar signos3 e representações já esquecidos em um universo tão singular quanto o bairro de Bangu.
Nesse sentido, a meta é realizar uma análise crítica sobre a condição coadjuvante que tais elementos possuem
no cenário turístico fluminense. Deste modo, o modelo desse trabalho consiste na triangulação dos principais
meios de divulgação turística do Poder Público (secretarias municipal e estadual de turismo e Ministério do
Turismo) e a (des) promoção da memória banguense. Os dados utilizados são referentes às publicações e páginas
disponíveis nas redes de computadores, considerados dados secundários. Dessa maneira, avaliou‑se
como os
projetos turísticos não privilegiam o território em questão, o qual apresenta marcas importantes ligadas aos
sucessivos modelos tecnológicos e ao esporte mais admirado pelos brasileiros: o futebol.
2. Os ciclos econômicos em Bangu e seus legados
Para realizar essa tarefa, parte‑se
do conceito schumpeteriano que versa sobre os ciclos econômicos.
Mesmo que Schumpeter (1997) faça uma distinção entre fato social e fato econômico4, a credenciar
que este não seja puramente econômico, o autor realiza uma dicotomia entre tais. Quando se parte do
pressuposto de Schumpeter, em que os fatos econômicos não são puramente econômicos, não se pretende
seguir diante de uma dicotomia que, de certa forma, impede um olhar amplo sobre as interpenetrações
das atitudes humanas em relação ao seu ambiente. Embora estas sejam as ambiguidades de Schumpeter,
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discuti‑las
não é o motivo principal deste trabalho. Há de se pensar que o autor dera pistas metodológicas
para a compreensão da emergência de ciclos econômicos. Segundo ele, “o total de mercadorias produzidas
e comercializadas numa comunidade em dado período econômico pode ser chamado de produto social”
(Schumpeter, 1997, 28). Consequentemente, o produto social que é produzido em Bangu, bem como
nos demais locais do planeta, podem ser vistos como reflexos de ciclos econômicos, os quais, segundo
Schumpeter, não são apenas determinados por dinâmicas concorrenciais entre preço, oferta e demanda.
Com a finalidade de se levantar críticas em relação à formação da memória banguense, enfatiza‑se
os aspectos dos ciclos econômicos por quais este bairro da zona oeste carioca tem passado. Para tanto,
assumiremos a perspectiva de D’Alessio (1998) no momento em que esta afirma a importância das
memórias como uma forma de se “auscultar” a história, visto que estas se mostram como depoentes
de identidades ameaçadas e que de certa forma acabam por acolher trechos que se evidenciam como
importantes para a exaltação dos aspectos singulares que ocorreram neste espaço social5.
Ainda pouco se sabe sobre os povos originários que habitavam o que hoje é o bairro de Bangu, contudo
há uma boa documentação sobre a constituição da fazenda que o originou. De acordo com Assaf (2001), o
negociante português Manoel de Barcelos Domingues desmembrara uma parcela significativa de terras
produtivas da paróquia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande. Os “sertões do oeste” era, à época,
um grande vazio demográfico quando comparado ao Centro. Quando o Rio de Janeiro nem era capital colonial,
no dia 21 de janeiro de 1673, Domingues funda a Fazenda Bangu. Naquele momento, pode‑se
deduzir que
Bangu inaugurava um paradigma tecnológico que se distingue às dinâmicas dos povos autóctones.
Imagem 1: Engenho da Serra, Bangu, Rio de Janeiro, [16??]
Fonte: Sena, [16??]
Ao visar a fabricação de açúcar, álcool, cachaça e rapadura, o Engenho da Serra (ver imagem 1) é
o elemento material que constitui o prelúdio ao plantation6. Em conformidade com a égide colonial,
Bangu é integrado à economia globalizada com a oferta daqueles produtos elaborados por mão de obra
escravizada, sob a gerência de lusitanos e seus descendentes. A produção banguense era escoada por via
terrestre até os portos de Guaratiba, onde seguia rumo à África e Europa. Na atualidade, nada restou
sobre esse patrimônio erigido7, cuja memória colonial banguense quase nada guardou.
Deste modo, julgamos que a conservação e perpetuação de nosso passado devem ser vistas como
passos fundamentais, pois sem a preservação de uma materialidade ou imaterialidade, ligada aos
personagens, artefatos, monumentos, histórias e eventos que se mostram fundamentais para a
compreensão e estruturação de todo o nosso senso identitário, um grande vazio nos assolaria, como se
não tivéssemos importância perante “os outros” que nos cercam. Nesse sentido, Lowenthal (1998) nos
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assegurará que esse sentido de preservação e perpetuação de singularidades locais só nos é conseguido
graças às articulações que fazemos com nossa memória8, já que será através dela que nos ligaremos,
como mencionará o autor, aos nossos “selves” anteriores, numa busca constante para tentarmos nos
compreender, alicerçar e projetar as relações atuais e futuras que nos espreitam.
Assim, é importante entendermos a memória enquanto um processo constante de percepção das
ações, dos indivíduos e dos eventos que nos cercam e que auxiliam na nossa constituição enquanto
indivíduos ou grupos sociais singulares, capazes de, consciente ou inconscientemente, apresentar um
trabalho de organização precisa de fatos que acabam moldando nosso comportamento e o posicionamento
em uma determinada sociedade. Portanto, é preciso ter em mente que a memória se apresentará como
um artifício capaz de realçar, excluir, relembrar e recalcar certos acontecimentos importantes, ou não,
para o posicionamento sociocultural dos indivíduos ou grupos sociais em suas respectivas comunidades,
e que de certa forma, ao longo dos tempos, esta nos dará nosso sentido de identidade (Pollak, 1992).
De posse destes preceitos, ao voltarmos os olhos sobre esta sucinta análise historiográfica de Bangu,
há de se destacar que a prosperidade da produção agrícola fez com que a posse da terra se acirrasse com
as demais unidades produtivas vizinhas. Assaf revela que até o século XX, a Fazenda Bangu teve cerca de
dez proprietários. Os autores dão destaque à Dona Ana Francisca, viúva de José Correia de Castro, que
a partir de 1798, por intermédio de ações à Justiça conseguira anexar diversas terras vizinhas, no que
atualmente é Realengo. Após a morte da viúva banguense, o seu herdeiro Gregório de Castro Morais e
Souza transfere suas terras ao Barão de Itacuruçá, Manuel Miguel Martins, em 1870 (Assaf, 2001: 12 ‑
13).
A partir da segunda metade do século XIX, o Rio de Janeiro já capital imperial começa a mudar seu
modelo econômico com a introdução da indústria têxtil nos arredores do Centro. O Barão de Itacuruçá,
interessado nos negócios que já se desenvolviam na região da Tijuca, demonstra pouco interesse nas
terras adquiridas nos sertões de oeste. Vale ressaltar que em 1878 os trilhos da então Ferrovia D. Pedro
II chegam a Santa Cruz (Giesbrecht, 2014), os quais passam a cortar a Fazenda Bangu. O cultivo do café,
somado ao crescimento urbano do centro do Rio de Janeiro colocavam em risco o abastecimento d’água
da região da Tijuca, fatores já identificados pelo engenheiro Henrique de Morgan Snell. Encarregado do
governo imperial para construir uma fábrica nos arredores da Rua Conde de Bonfim, ele constatou que
irregularidade do acesso hidráulico poderia comprometer os negócios a longo prazo. Como alternativa,
segundo Assaf, Snell ressaltara as qualidades ambientais de Bangu, com suas cachoeiras e nascentes,
cuja “água era fundamental em seis das oito etapas do processo têxtil” (Assaf, 2001: 13).
Após convencer um grupo de comerciantes portugueses, Snell conseguiu adquirir as terras do Barão
de Itacuruçá, cuja extensão englobava não apenas a fazenda Bangu, como também a do Agostinho, dos
Amarais e do Retiro. De acordo com Assaf (2001), no dia 6 de fevereiro de 1889, ainda em período imperial,
a Companhia Progresso Industrial do Brasil tivera suas obras finalizadas. A empresa responsável por
erigir o principal elemento material que influencia até hoje a paisagem banguense foi a The Morgan
Snell and Company. Por conta disso, a fábrica foi “inspirada em padrão de arquitetura industrial
tipicamente britânico, utilizando material basicamente trazido da Inglaterra, além de telhas francesas
e pinho‑de‑Riga
finlandês” (Assaf, 2001: 14).
Parte dos prelúdios do terceiro movimento (até agora descoberto), em 1º de maio de 1890 fora
inaugurada a estação de trem de Bangu, uma das primeiras no recém‑instaurado
período republicano.
Com a instauração da fábrica e de toda a estrutura de suporte ao seu funcionamento, bem como as
vilas de funcionários, as escolas, unidades de saúde, o paradigma tecnológico, a Fábrica de Tecidos
Bangu apenas começa suas atividades no dia 8 de março de 1893 (Bangu Shopping, s/d). Tal fato
consiste na aceleração dos passos à modernização do bairro. Conquanto seja presumível que a sucessão
de paradigmas, dentro de uma perspectiva evolucionista, suplante e sufoque o anterior, a presença
da produção primária não fora superada. De fato, o que houve em Bangu foi justamente mudança do
cultivo de gêneros, cujos campos deixam de ser canaviais para tornarem‑se
algodoais que facilitariam
a demanda por matéria prima aos tecidos.
Ainda sobre a construção da planta industrial, a relação da Companhia Progresso Industrial do
Brasil com o Reino Unido não se daria apenas pela marca paisagística relacionada à arquitetura fabril.
O “esporte bretão” viria a ter em Bangu seus primeiros toques por conta de um operário escocês chamado
Thomas Donohoe. Conforme Pelli
Seu Danau é como muitos banguenses se referem a Thomas Donohoe, que eles consideram o verdadeiro
introdutor do futebol no Brasil. O escocês desembarcou no Rio em 21 de maio de 1894 e, em setembro daquele
ano, já teria botado a bola para rolar – sete meses antes, portanto, daquela que é considerada a primeira partida
oficial do futebol brasileiro, promovida em abril do ano seguinte por Charles Miller, em São Paulo (Pelli, 2012).
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Com cerca de 200 dias de antecedência, um operário escocês e seus amigos superam aquele que
permanece no imaginário e nas publicações como o pioneiro do futebol no Brasil9. Aquela que fora a
primeira partida de futebol em solo brasileiro também teria outra repercussão: o surgimento de um
time chamado Bangu Atlético Clube. De acordo com a página eletrônica do clube,
Aos 17 de abril de 1904, na casa nº 12 da Rua Estevão, com a presença dos seguintes Senhores: John
Starck, Fred Jacques, Clarence Hibbs, Thomas Hellowell, José Soares, William Procter, William Hellowell,
William French, Segundo Maffeu e Andrew Procter, fundou‑se
um Club Athletic sob a denominação de
“Bangu Athletic Club” (Bangu AC, s/d).
Imagem 2: O primeiro estádio ao lado da Fábrica de Tecidos Bangu, Rio de Janeiro [190?]
Fonte: Autor desconhecido, [190?]. In: Bangu AC, s/d
O time que neste ano comemora 110 anos de vida, surgira como uma estratégia de coesão de funcio‑nários
e gestores em torno do futebol10. O primeiro campo oficial do time ficava às margens da ferrovia,
na lateral da fábrica (ver imagem 2), na antiga Rua Ferrer (atual Avenida Cônego de Vasconcelos), foi
palco da consolidação da prática do futebol no subúrbio do Rio de Janeiro. O pioneirismo banguense
não cessou apenas na primeira partida de futebol registrada. O futebol fora difuso no Brasil, sobretudo,
entre as elites num modelo de assimilação pelas classes trabalhadores. Como o bairro de Bangu cresceu
em torno da fábrica em moldes britânicos, aqui os trabalhadores foram os protagonistas nesse esporte.
Posteriormente à Lei Áurea, há de se ressaltar que boa parte da força de trabalho despendida na
construção da fábrica era composta por negros. Ou seja, o Bangu Atlético Clube foi o primeiro a compor
seu time com jogadores negros. De acordo com Assaf,
Em 1915, um fato chamou a atenção dos redatores de esportes dos principais jornais. Pela primeira
vez, desde a fundação do clube, um brasileiro passou a ocupar a presidência do Bangu A. C. A tarefa
coube a Noel de Carvalho, fluminense de Resende, poeta e escritor, um intransigente defensor do
aproveitamento dos negros nos campos de futebol, numa época em que a elite ainda dominava a Liga
Metropolitana de Sports Athléticos (Assaf, 2001: 24).
Porém, antes mesmo de Noel de Carvalho, o Bangu Atlético Clube torna‑se
o primeiro clube de
desportos brasileiro a apresentar Francisco Carregal, um jogador negro que se consagra como o primeiro
brasileiro dentro das quatro linhas a defender a camisa alvorrubra11. O fato se consolida quando, em
1905, o Bangu juntamente com o Botafogo e o Fluminense realizam o primeiro campeonato regional,
tendo Carregal, um filho de português com uma brasileira negra, em sua equipe (ver imagem 3). Por
conta de romper com as relações tradicionais e étnicas da prática do futebol no início do século XX, o
Bangu Atlético Clube recebeu a Medalha Tiradentes12 em 2001.
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Imagem 3: Equipe do Bangu Atlético Clube com Carregal no centro, Rio de Janeiro [1914]
Fonte: Autor desconhecido apud Terceiro Tempo (s/d)
O Bangu Atlético Clube vivenciaria muitas mudanças ainda nas primeiras décadas de sua existência.
Em 1933, o alvirrubro de Bangu se sagra campeão carioca13. Já partir de 1943, seu estádio foi desativado
e seu terreno, vendido. O novo centro de treinamento apenas ficaria pronto em 1947, o que significou
que os jogos do Bangu foram distantes de sua apaixonada torcida. Com o nome de Estádio Proletário
Guilherme da Silveira Filho (ver imagem 4), o reduto do futebol banguense tem uma relação ambígua
com sua nomenclatura. Guilherme da Silveira Filho, também conhecido como Silveirinha, fora engenheiro
e filho de Manuel Guilherme da Silveira Filho, quem desde a década de 1920 gerira a unidade fabril.
Guilherme da Silveira (o pai) era médico pediatra e clínico geral, sendo também um dos acionistas da
Companhia do Progresso Industrial do Brasil. Por conta de sua boa influência junto à clientela formada
por uma elite abastada do Rio de Janeiro, Silveirinha assume por indicação a presidência da Fábrica
de Tecidos Bangu em 24 de março de 1923 (Assaf, 2001: 28 – 36).
Imagem 4: A construção do Estádio do Bangu Atlético Club com a Praça Nova
Jales (Praça de Guilherme da Silveira) a frente, Rio de Janeiro [1947]
Fonte: Autor desconhecido, 1947. In: Bangu AC, s/d.
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Em 1936, Silveirinha passa a trabalhar na fábrica e rapidamente manifesta sua inclinação ao futebol
quando, em 1937, assume por eleição a presidência do Bangu Atlético Clube, bem como é nomeado
superintendente da Companhia. Guilherme da Silveira ficou conhecido pela sua habilidade em lidar
com os impactos da Crise de 1929, sendo convidado a assumir a presidência do Banco do Brasil entre
novembro de 1945 a junho de 1949, seguida do Ministério da Fazenda no fim do governo de Eurico
Gaspar Dutra. Segundo Assaf, coubera a Silveirinha ocupar os cargos deixados por seu pai. O clã dos
Silveira é reconhecido por ter priorizado aspectos sociais de assistência aos proletários da Fábrica de
Tecidos Bangu, ao ponto do vereador do Partido Comunista Algildo Barata dizer que “com indústrias
assim, fica difícil o comunismo vencer no Brasil” (apud Assaf, 2001: 38). Consequentemente, por mais
que Guilherme da Silveira14 não tenha sido stricto sensu um proletário, seus intentos em propiciar
estruturas que propiciassem um ambiente favorável aos trabalhadores são parte da explicação que
subjaz a emergência do nome do estádio do Bangu Atlético Clube.
O estádio foi construído no antigo Marco Seis, região onde hoje parte pertence ao bairro de Padre
Miguel, mais exatamente na região entre a Praça dos Abrolhos e o Ponto Chique. Nessa região vivia uma
formosa jovem, a qual tinha por costume passear com suas amigas num chafariz defronte à sua casa.
Tal fato chamava atenção, segundo Assaf (2001), de uma gama variada de rapazes, sobretudo jovens
cadetes da Escola de Campos dos Afonsos quando em folga, que vinham dos arredores para apreciar sua
beleza. Assim, a região do entorno do estádio ficou conhecido como Moça Bonita, dando uma espécie de
apelido ao centro de treinamento e cada do Bangu Atlético Clube. Hoje, o Estádio de Moça Bonita tem
a capacidade de abrigar cerca de 9 mil pessoas, que podem acessá‑lo
tanto por transporte rodoviário,
quanto pela linha férrea na Estação de Guilherme da Silveira.
Outro fenômeno cultural que surge por conta do paradigma urbano industrial banguense é sua
relação com o Carnaval. Em 1903, surge o Grupo Carnavalesco Flor da Lira, o qual figura entre
os primeiros no subúrbio carioca. As manifestações culturais desses grupos se assemelham com os
ranchos carnavalescos15, uma espécie de adaptação festiva de matrizes lusas e da África ocidental. No
ano seguinte, surge o Grupo Carnavalesco Flor da União, composto apenas por negros (Assaf, 2001:
18‑19).
Mas será apenas na década de 1950 a região entrará para o mapa do samba. Próximo à região
do Estádio de Moça Bonita, o bairro de Padre Miguel viu surgir o Grêmio Recreativo Escola de Samba
Mocidade Independente de Padre Miguel, em 10 de novembro de 1955. Conhecida como a verde e
branco da Zona Oeste, a Mocidade apenas desfilará no grupo especial do carnaval do Rio de Janeiro
em 1958. Ambiciosa desde o início, a agremiação mais famosa da região obteve a quinta colocação
no ano seguinte, ficando atrás das únicas agremiações que costumeiramente ganhavam os desfiles16.
O motivo principal dessa conquista para a região foi a “paradinha” do Mestre André (ver imagem 5),
José Pereira da Silva, o qual seguiu o conselho de Djalma Nicolau, o “Galo Velho” (Assaf, 2001: 42).
Imagem 5: Mestre André no desfile da Mocidade, Rio de Janeiro [1979]
Fonte: Salgado, 1979 apud Bruno, 2009
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Se os tambores de umbanda e candomblé vão inspirar as inovações do samba produzido na
região, a fé católica vai deixar outra marca do legado britânico na região. A Capela de São Sebas‑tião
e Santa Cecília que foi inaugurada em 1908. Em estilo neogótico inglês, com vitrais e arcos
apontados no interior e uma torre sineira encimada por cúpula piramidal, a já centenária igreja
tem sua marca maior voltada aos tijolos que acompanhavam o estilo das construções fabris (ver
imagem 6), a qual segue as cores vermelho e branco. O Instituto Estadual do Patrimônio Cultural
(INEPAC) foi responsável pelo tombamento da maior marca paisagística e religiosa banguense em
1990 (INEPAC, s/d).
Imagem 6: Igreja de São Sebastião e Santa Cecília, Rio de Janeiro [200?]
Fonte: INEPAC, s/d.
Além das inovações que Bangu vivenciou no esporte e nas artes, o bairro também entrará na história
da moda nacional. Por iniciativa de Maria Cândida de Sousa Silveira, mulher de Joaquim Guilherme da
Silveira (cunhada de Silveirinha e nora de Guilherme da Silveira), tem a ideia de realizar um desfile de
moda de cunho beneficente. Candinha Silveira, como era conhecida, juntamente com outras mulheres da
alta sociedade fluminense, institucionaliza um evento onde elas desfilaram com trajes confeccionados a
partir de tecidos da Fábrica de Tecidos Bangu no Copacabana Palace Hotel, em 1951. Ainda inédito no
Brasil, essa estratégia que aliava filantropia à divulgação da produção têxtil banguense iria desembocar
no Miss Elegante Bangu, cujas moças de diversas partes do Brasil (ver imagem 7) iriam competir no
mesmo hotel sob os olhos de toda mídia da época (Assaf, 2001: 39 – 40).
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Imagem 7: Maria Helena Quirino dos Santos, de Araraquara, São Paulo,
Miss Elegante Bangu 1958, com um modelo da coleção 1959.
Fonte: Revista Querida, 1958 apud Lima, 2010
As mudanças no padrão tecnológico de produção e consumo em Bangu alteraram as formas de relação
entre banguenses e outros atores que intermediam essa rede. Segundo Schumpeter, há dois motivos
subjacentes à produção: necessidades e problemas econômicos. Neste trabalho, foge‑se
da perspectiva
evolucionista cujos paradigmas tecnológicos se sobreporiam ao ponto de exterminar o anterior. Muito pelo
contrário, pois, em Bangu, o modelo agrícola não foi extinto mesmo com o intenso processo de assimilação
produtivo de modelo fabril. A urbanização e a industrialização do bairro não exterminaram a agricultura,
por exemplo. Talvez, das poucas reminiscências relativas e compreensivas do modelo anterior à inserção
da agricultura de moldes plantation seja o nome do bairro. De acordo com Assaf (2001: 48), estudiosos
sobre toponímia defendem que Bangu17 deriva do tupi “banguê”, cujo significado seria “anteparo escuro”
ou “barreira negra”, isto é, uma possível relação com o Maciço da Pedra Branca (ver imagem 8).
Imagem 8: Maciço da Pedra Branca e o bairro de Bangu, Rio de Janeiro [2005]
Fonte: Vinícius, 2005 apud Skyscrapercity, 2011
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Há também uma corrente que defende que Bangu deriva de um termo africano que seria uma referência
a uma padiola feita de couro, fibras e varas que serve para movimentar cargas. Assim, existe uma evidente
relação com a expressão “á bangu”, com significado de algo improvisado e feito sem esmero. A depender
do que se segue, muitos nomes de marcos geográficos (Sarapuí, Boiobi, Amanajó, Urucum, Murundu,
etc.)18 ora remetem a matriz cultural tupi, ora a africana. Em conformidade com essas evidências, fica
o legado do paradigma que regia a transição dos primeiros povos ao plantation. Após a consolidação da
Fábrica de Tecidos Bangu, uma série de preocupações se concretizaram na manutenção de atividades
agrícolas ligadas à produção de gêneros como polvilho, melado, farinha de mandioca e outros produtos que
abasteciam o nascente comércio local que já demandava alimentos de outras localidades (Assaf, 2001).
3. O fim do modelo industrial banguense: processos de mudança na conjuntura social e o
setor terciário
A partir de 1960, a história do Rio de Janeiro será marcada pela transferência da capital federal para
a recém criada Brasília. Por cerca de quinze anos, o que era o Distrito Federal passa a ser o Estado da
Guanabara, vindo a se extinguir com sua fusão à “velha província”. Em 1975, o então Estado do Rio de
Janeiro deixa de ter sua capital em Niterói com mudança para a cidade do Rio de Janeiro. O crescimento
da procura de classes abastadas por terrenos na Zona Sul e arredores inicia um processo de gentrificação
desta região. O desmanche de localidades proletárias encravadas na Zona Sul, Centro e Grande Tijuca
fazem com que o governo enxergue no subúrbio a alternativa para reassentar essas populações.
Se Guilherme da Silveira rejeitara concorrer ao governo do então Estado da Guanabara, seu possível
adversário foi aquele quem o agregou durante parte do mandato. Carlos Lacerda foi uma figura política de
posições muito controversas19. Ao coligar‑se
com Lacerda, Guilherme da Silveira mesmo após afastar‑se
do
Banco Nacional da Habitação construiu diversos condomínios populares (ver imagem 9). Em concordância
com Assaf, a estratégia para que os desalojados das regiões elitizadas da cidade fossem para Bangu eram
[...] financiamento a perder de vista, em suaves prestações, trabalhando nas indústrias que logo seriam
instaladas na região, condução fácil, cursos de especialização profissional, escolas, hospitais, além de áreas
de lazer e recreação (ASSAF, 2001: 45).
Imagem 9: O “embrutecimento” da paisagem banguense: o Conjunto
Residencial Cardeal Dom Jaime Câmara, Rio de Janeiro [199?]
Fonte: Humanas, 2010.
O Conjunto Residencial Cardeal Dom Jaime Câmara foi a evidência dos planos de cisão entre subúrbio
e centro. O que já fora o maior conjunto habitacional da América Latina (Assaf, 2001), é a demonstração
de que a população empobrecida da cidade do Rio de Janeiro passaria a ter endereço certo
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 14 N° 5. Octubre 2016 ISSN 1695-7121
Dan Gabriel D’Onofre, Rodrigo Amado dos Santos 1153
Sete mil e 200 apartamentos, em 180 blocos distribuídos por uma área de cerca de 450 mil metros quadrados
(54 vezes o gramado do Maracanã). O maior conjunto habitacional do Rio, o Dom Jaime Câmara, construído em
1969, atravessa dois bairros ‑
Bangu e Padre Miguel ‑
tem cerca de 26 mil moradores, população superior à de 37
dos 92 municípios do Estado do Rio, e uma quantidade de problemas igualmente superlativa. Em seus 42 anos,
a fase de crescimento do conjunto não cessa. Nele, pelo menos 1.800 puxadinhos rompem com a homogeneidade
dessa “cidade” de prédios gêmeos. Gatos de energia, prestações acumuladas, praças malconservadas, ausência de
escolas de ensino médio e apartamentos invadidos pelo tráfico também compõem o quadro (Galdo; Daflon, 2011).
Não apenas relações internas moldam as manifestações em Bangu. Muito do que a economia mundial
repercutira influenciara nos locais de memória. A fábrica, o estádio, os tecidos, os clubes de convivência
são reflexos de mudanças paradigmáticas que se mantém ou se modificam ao sabor dos engajamentos
dos atores. A partir da década de 1970, o bairro de Bangu passou pelo processo que Assaf chama de
“embrutecimento”. As promessas de crescimento urbano aliado às necessidades de emprego e renda não
foram concretizadas pelo movimento econômico que tem nítida relação com o Choque do Petróleo, o início
do movimento de neoliberalização econômica, bem como o esgotamento do estado desenvolvimentista
promovido pela ditadura militar brasileira.
Para celebrar a ruína do paradigma industrial‑urbano,
não bastasse o Bangu Atlético Clube ter perdido a
final do Campeonato Brasileiro de 1985 contra o Coritiba, embora a Mocidade tenha conquistado seu segundo
título de campeã do carnaval carioca, em 1987, o então governador do Rio de Janeiro, Moreira Franco,
constrói nas áreas agricultáveis de Bangu o maior complexo penitenciário fluminense. Assim, o imaginário
do bairro da fábrica, do time de futebol operário, da precursão dos desfiles de moda e da “Bateria Nota 10
do Mestre André” ou mesmo “Bateria Não Existe Mais Quente”, são solapadas pelas notícias relacionadas
aos crimes cometidos por encarcerados que permanecem em Bangu. Além disso, com o recrudescimento e
desindustrialização da economia fluminense no pós‑1980,
a favelização se expande. A imperar um período
neoliberal na economia nacional, Bangu presenciou o surgimento de subempregos ou mesmo de atividades
ligadas ao tráfico de drogas e armas. A violência no bairro, a fuga dos empregos e o declínio da Fábrica de
Tecidos Bangu vão apenas ser amenizados com mais três títulos da Mocidade (1990, 1991, 1996).
Apenas na virada do milênio, o centro do bairro de Bangu que já passa a contar com mais de 400
mil habitantes ganha novos ares. Sob o segundo mandato do prefeito César Maia, o bairro passa por
reformas que deixam mais marcas em sua paisagem. O Rio Cidade 2 trouxe para Bangu cobertura fixa
para o calçadão, aspersor de água para amenizar as altas temperaturas, bem como as escadas rolantes
que ligam os dois lados do bairro cortado pela linha férrea (ver imagem 10).
Imagem 10: Calçadão coberto de Bangu, Rio de Janeiro [2012]
Fonte: Machado, 2012.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 14 N° 5. Octubre 2016 ISSN 1695-7121
1154 Do pioneirismo à coxia: a memória banguense e sua relação com o turismo
Ao modificar a paisagem, oferecer algumas amenidades ao núcleo comercial do bairro, Bangu passa
para seu quarto e atual paradigma sustentado na economia de serviços. Embora houvesse ainda nos
tempos áureos da Fábrica de Tecidos Bangu20 um forte comércio no bairro, hoje o setor tem maior
centralidade na vida de quem produz e consome em Bangu. Na atualidade, a economia fluminense tem
seu mote voltado ao setor terciário, o qual inclui o turismo. Mais de 60% do que se produz no Rio de
Janeiro é proveniente do setor de serviços e comércio (IBGE, 2012). O marco desse novo momento na
história de Bangu é a readequação da antiga unidade fabril ao Bangu Shopping.
Imagem 11: De fábrica ao Bangu Shopping, Rio de Janeiro [2012]
Fonte: Engineering, 2012
De acordo com a empresa que se responsabilizou pelas obras, o Bangu Shopping, inaugurado em 30
de outubro de 2007, se caracteriza pela reunião de grandes empresas do varejo nacional e internacional.
Outro fator é que por ser um bem tombado21, o local tem de promover contrapartidas culturais, as
quais privilegiam os aspectos históricos da região. Há de se ressaltar que o comércio de rua banguense
sempre foi muito forte, contando inclusive com o primeiro camelódromo coberto do país, situado ao
lado do atual shopping.
Embora o atual modelo econômico privilegie os aspectos relacionados ao setor de serviços, mesmo sob
ciência do pioneirismo de Bangu com relação ao futebol, o bairro ainda não figura entre os principais redutos
da memória do esporte. Não fosse pelos atores locais interessados em salvaguardar e proteger o que ainda
resta sobre os diversos modelos tecnológicos pelos quais Bangu passou e ainda passa, talvez pouquíssimo
restasse22. Devido à sua tradição turística, o Rio de Janeiro tem em seu território diversas manifestações
de atividades produtoras de serviços de lazer e hospitalidade. A capital fluminense, dentre os mais de 5 mil
municípios brasileiros, é o segundo destino mais visitado pelo público nacional com cerca de 3,5% desse
fluxo, a ser desbancada da primeira colocação pela cidade de São Paulo, com mais de 5% (Brasil, 2012).
O Brasil, recentemente, teve a oportunidade de sediar a Copa do Mundo de Futebol. O evento que
poderia de certa forma inserir Bangu dentro de alguma iniciativa de descentralização e fomento ao
turismo ligado ao futebol não teve, ao menos por parte do poder público, qualquer apoio. Ao buscar
nas páginas eletrônicas dos órgãos de públicos de promoção ao turismo, tanto a prefeitura e estado do
Rio de Janeiro, bem como o Ministério do Turismo sequer fazem menção a Bangu e sua história com o
futebol. Por iniciativa do Bangu Shopping com alguns atores sociais engajados pela memória do bairro,
uma estátua (ver em imagem 12) em homenagem ao escocês, Thomas Donohoe, ou “Seu Danau”, foi
inaugurada no dia 05 de junho de 2014, poucos dias antes do início da Copa do Mundo. Por mais que o
evento fosse noticiado23 em alguns meios de comunicação, o poder público não instigou qualquer projeto
que englobasse a região e seu legado.
Em discursos passados a respeito da importância que a atividade turística acarreta sobre uma
comunidade, sempre podemos identificar as seguintes palavras‑chave:
investimento, formação de capital
e geração de empregos. Poucos são os empreendedores que realmente possuem uma visão social a respeito
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 14 N° 5. Octubre 2016 ISSN 1695-7121
Dan Gabriel D’Onofre, Rodrigo Amado dos Santos 1155
do fenômeno turístico. Tal lógica de mercado, bem apresentada por Molina (2002:18‑19)
enxergará a
atividade turística sob os preceitos da pós‑industrialidade,
mencionando:
[...] novos requisitos para ser competitivos nos mercados intensamente disputados: a diferenciação
nos produtos/serviços e também a desmassificação dos mercados ou da alta segmentação, o começo
da personalização dos serviços, a descentralização de decisões nas empresas e a ecologia que deriva
também da estratégia de desenvolvimento sustentável. Todos eles aparecem como referentes cruciais
do novo modelo.
Imagem 12: Homenagem ao pioneiro do futebol brasileiro,
Thomas Donohoe, Rio de Janeiro [2014]
Fonte: Nemzetisport, 2014.
Em tal fase, a visão pela qual o mercado encara a cadeia produtiva do turismo relega‑se,
única e
exclusivamente, à visão do empreendedor e a do próprio turista. Não há a preocupação com os impactos
negativos ocasionados por tal interação e muito menos com as necessidades, anseios e expectativas
da comunidade autóctone em que o turismo é operacionalizado. Entretanto, com o advento da pós‑modernidade,
o homem adquire a necessidade de romper, mesmo que momentaneamente, os vínculos
que possui com o seu cotidiano, buscando, na atividade turística, um cenário que lhe oferte experiências
e vivências completamente distintas daquelas vivenciadas em sua urbe. Percebe‑se
que tais indivíduos
sentem o desejo de conhecer novas culturas e até mesmo reconhecer‑se
em meio da imensidão, quase
que infinita, de indivíduos e grupos sociais que os cercam diariamente.
Tal premissa encontrará base e será acolhida por meio da planificação e operacionalização da atividade
turística a partir do momento em que esta é entendida, tal qual explana Molina (2002), enquanto o
“Pós‑turismo”.
Cria‑se,
a partir desta faceta de desenvolvimento da atividade turística, sua terceira
visão. Antes, os ideais turísticos eram atrelados aos objetivos de empreendedores e turistas. Agora, os
mesmos devem ser atrelados às necessidades, anseios e expectativas da população autóctone24.
Nesse sentido, clama‑se
aqui que a atividade turística deva encontrar, tal qual os apelos de de‑senvolvimento
sustentável, um tripé que sustente sua prática. Destarte, o turismo deve, de maneira
justa, ética e equitativa, exaltar o desenvolvimento cultural, social e econômico de uma localidade,
atendendo através de sua gestão participativa os anseios dos atores que, direta ou indiretamente, são
responsáveis pela sua construção. Tal atividade/fenômeno deve ser concebida enquanto uma ferramenta
que vise a preservação e contemplação de todo e qualquer resquício que faça de uma localidade um
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 14 N° 5. Octubre 2016 ISSN 1695-7121
1156 Do pioneirismo à coxia: a memória banguense e sua relação com o turismo
espaço atrativo e singular, assim como o exemplo de Bangu. Nesse sentido, Bangu, juntamente com
sua memória e identidade, pode ser trabalhado como um centro de memória viva, utilizada tanto
pelos empreendimentos turísticos cariocas já consagrados, quanto por outros serviços que reforcem a
qualidade de vida da população local.
Afinal de contas, é interessante notar que em nosso meio social somos constantemente interpolados
a objetos que possuem a capacidade de nos proporcionar inúmeras vivências, pois estes representam
o passado e o presente ao mesmo tempo, posto suas funções e representações, históricas e atuais,
constantemente se interagem, sendo isto possível de ser visto através de cenários urbanos que reforçam
e transparecem os sentimentos de coexistência temporal, entre tempos que podem demonstrar usos
e abusos de imagens cruciais para a nossa formação sociocultural (Lownthal, 1998). Tudo dependerá
da maneira como os observamos, dos significados e representações que estipulamos aos mesmos, e da
acepção histórica que os mesmos têm perante os indivíduos que os cercam e que fizeram e ainda fazem
parte de seu universo.
Afinal de contas, assiduamente, o ser humano se defronta com experiências que os situam em
uma linha de tempo ligada ora ao nosso passado, ora ao nosso presente. Em nosso meio social, somos
constantemente interpolados a objetos e remetidos a ações não características de nosso tempo atual e
é inegável que estes se mostram de extrema importância para a compreensão, elaboração e percepção
de nosso tempo presente. Deste modo, serão através destas relações que grupos sociais apresentarão
suas características e singularidades, fatores estes que emolduraram o sentido de suas identidades
e que possibilitam o conhecimento necessário sobre sua própria história. Tal fato poderia relembrar
um poema, cuja autoria pertence a Paulo Esdras25 sobre a maneira como o tempo, de certa forma,
regulamenta nossa própria maneira de perceber e agir perante nossos ritmos de vida, semelhantes,
estranhos e objetos que nos cercam:
O segredo do tempo é consumi‑lo
sem percebê‑lo.
É fingir‑se
infinito para não o vermos passar
É fazer‑se
contar em anos em vez de momentos
Relógio, despertador, cronômetro, calendário
Tudo engodo para imaginarmos prendê‑lo,
controlá‑lo
Ampulheta, único instrumento sincero do tempo
Regressivamente, nos impõe a gravidade
De haver realmente um último grão
Riscando na areia a nossa fragilidade
Faz‑se
devagar nos maus momentos
Depressa quando o queremos
Ponteiro invisível da vida
Peça necessária do fim
A sua fome é insaciável
A sua vontade é determinante
A sua procura é unanime
Se esconde nas sombras que se movem
Nos objetos que não mais servem
Nas pessoas que nunca mais vimos
Na podridão das frutas que não foram colhidas
Nas lembranças já esquecidas
Revela‑se
nas fotos que se desbotam
Nas cartas que amarelam
Nas crianças que crescem
Nas rugas que aparecem
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Dan Gabriel D’Onofre, Rodrigo Amado dos Santos 1157
4. Considerações finais
Nesse universo intrigante de conceitos e vislumbres indubitavelmente complexos, devemos nos ater
ao fato de que a cultura deve ser vista como um processo inconsciente (Cuche, 2002) uma vez que valores,
crenças, tradições, costumes, hábitos e comportamentos que são cotidianamente exercidos e praticados
por membros de um determinado grupo social, e em muitas das vezes assimilados e praticados de uma
maneira involuntária, como se fossem reflexos incutidos graças a um ou vários estímulos provindos do
meio que estamos inseridos, seja este um ambiente familiar ou social.
O que percebemos, portanto, é que a maior parte de nossos comportamentos mostram‑se
como
verdadeiras respostas programadas a forma como reagimos, de tal maneira que em determinados
momentos sentimos a própria normatividade das ações de nosso cotidiano. Comentamos, questionamos,
agimos e recordamos sobre fatos, muitas das vezes graças a estímulos, negativos ou positivos, oriundos
de nosso próprio meio social.
Já a Identidade Cultural, como sugere Cuche (2002), mostra‑se
como sendo um processo consciente,
simplesmente pelo fato de que esta é baseada na ideia de exaltação do diferente. Ou seja, há a neces‑sidade
de que os indivíduos pertencentes a um grupo social criem mecanismos que farão com que essa
consagração ao diferente seja apreciada e muitas vezes perpetuada não só aos indivíduos que fazem
parte de seu meio, como também àqueles que não o fazem.
Mesmo com os sucessivos paradigmas tecnológicos, os quais não se excluem, embora assumam certo
protagonismo ao sabor da história que os atores locais se engajam, Bangu tem se (sido) posicionado
de modo coadjuvante no cenário turístico. Os intentos da iniciativa privada local e de moradores
entusiastas ainda não é o suficiente para que Bangu passe a constar nos roteiros turísticos do Rio de
Janeiro. A trajetória que esse território apresenta ainda guarda vestígios importantes quanto à área de
produção de olerícolas (há ainda uma forte produção de chuchu, couve, caqui, salsa, cebolinha, banana,
alface...), bem como o patrimônio erigido em torno do modelo fabril, o qual hoje desempenha uma função
ligada ao comércio, pode ser um ponto de partida para o surgimento do futebol, do carnaval, da moda
e de tantas outras atividades que podem ser desenvolvidas.
Se Bangu não configura um dos principais destinos turísticos da cidade do Rio de Janeiro, talvez
devessem os moradores locais usufruir e demandar mais serviços de entretenimento, cultura, com vistas
a fortalecer a identidade que o bairro quer manter e levar adiante. As bandeiras levantadas contra o
racismo, pela divulgação do que se produz, bem como a marca proletária do bairro que ainda preserva
certos aspectos britânicos têm de prevalecer sobre a violência, o descaso e a negligência para com a
cultura do subúrbio do Rio de Janeiro.
Além disso, ao se pensar em procedimentos relacionados à planificação e gestão da atividade turística,
seus atores devem considerar um dos princípios analisados por Krippendorf para a proposição de uma
nova concepção do turismo que buscasse assegurar o seguinte objetivo
[...] assegurar e otimizar a satisfação das múltiplas necessidades turísticas dos indivíduos de todas
as camadas sociais no âmbito das instalações adequadas e num meio ambiente intacto, levando em
consideração os interesses da população autóctone. [...] A política do turismo não estará mais centrada
exclusivamente nas finalidades econômicas e técnicas, mas também respeitará o meio ambiente e levará em
conta as necessidades de todas as pessoas envolvidas. [...] A política do turismo não estará mais centrada
exclusivamente nas finalidades econômicas e técnicas, mas também respeitará o meio ambiente e levará
em conta as necessidades de todas as pessoas envolvidas. Um turismo que satisfaça essas condições, no
meu entender, é um turismo “suave” ou um “turismo adaptado. (2001:136).
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Notas
1 Ver: D’Alessio (1998).
2 Ver: Jelin (2001); Pollak (1992); Possas (2001).
3 Assim como Possas (2001) perceberemos o conceito de “signo” enquanto algo que sob um determinado prisma suscitará
representações a um indivíduo ou até mesmo a um grupo social. Neste sentido, como diz a autora, todo e qualquer signo
representará algo em relação a um determinado objeto para todos aqueles indivíduos que fizerem e ainda fazem parte das
inúmeras possibilidades de percepção de seu universo interpretativo, de forma que se possa entender as ações contidas
que emanam deste mesmo objeto.
4 A teoria de Schumpeter crê que o papel de um economista se restringe em estudar determinado fator até encontrar
a causa não‑econômica.
Esse seria o limite. A partir desse achado, caberia a outros cientistas, de preferência os que
dominam os estudos sociológicos, compreender como esses fatos sociais interferem no comportamento econômico dos
atores (SCHUMPETER, 1997).
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 14 N° 5. Octubre 2016 ISSN 1695-7121
1160 Do pioneirismo à coxia: a memória banguense e sua relação com o turismo
5 Afinal de contas, um dos intuitos aqui é o de, através da observação de Bangu, conseguirmos “fazer visível o invisível”,
ou então “dar voz a quem não teve voz” e dessa maneira introduzir uma pluralidade de pontos de vistas capazes de
abrir a perspectiva de reconhecimento e legitimação de outras experiências além daquelas que até então figuraram o
desenvolvimento de praticamente todo o cenário cultural/turístico carioca.
6 Plantation – (ing.) 1. propriedade agrícola em que se cultivam produtos tropicais muitas vezes para exportação (HOUAISS,
s. v.); 2. grande propriedade agrícola na qual se cultivam produtos tropicais, geralmente para exportação (AURÉLIO, s. v.).
7 Assim, é justamente neste procedimento de exaltação que são encontrados os argumentos necessários para se começar os
questionamentos em torno da importância do Patrimônio Cultural. Desta forma, Ferreira, Luca e Iokoi (In: RODRIGUES,
1999) mencionarão que sob esta perspectiva as edificações e/ou imaterializações que remetem a valores históricos
importantes, sendo a estas atribuídas a capacidade de ‘representar’ o passado, possibilitando aos indivíduos que fizeram,
ou ainda fazem, parte das relações ali estruturadas, um reconhecimento de práticas, valores e ações que se mostram
relevantes para a caracterização sociocultural de sua comunidade.
8 “Como apenas a memória permite conhecer a... sequencia de percepções’, argumenta Hume, ‘deve ser considerada... como
a fonte de identidade pessoal. Não tivéssemos memória, nunca teríamos tido nenhuma noção... dessa cadeia de causas e
efeitos que constituem nosso self ou pessoa’”. (LOWENTHAL, 1998: 83).
9 De acordo com Mills (2005), o dia 14 de abril de 1895, no Brás, em São Paulo, foi realizada a primeira partida de futebol
do Brasil, disputada de forma organizada, entre os funcionários da Companhia de Gás de São Paulo (Gas Company of
São Paulo) e da Companhia Ferroviária de São Paulo (São Paulo Railway Company) onde o São Paulo Railway, o time
de Charles Miller, venceu por 4 a 2.
10 O Bangu Atlético Clube foi um dos fundadores da primeira Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, em 1905,
conjuntamente com Clube de Regatas Botafogo e Fluminense Football Club (BANGU AC, s/d).
11 Segundo o Blog Terceiro Tempo (s/d), em 1905, o Bangu contava com cinco ingleses (Frederick Jacques, John Stark,
William Hellowell, William Procter e James Hartley), três italianos (Cesar Bochialini, Dante Delocco e Segundo Maffeu)
e dois portugueses (Francisco de Barros e Justino Fortes).
12 A Medalha Tiradentes foi instituída pela Resolução Nº 359 de 1989, em 8 de agosto de 1989 e é destinada a premiar
pessoas que hajam prestado relevantes serviços à causa pública do Estado do Rio de Janeiro.
13 O próximo título do Campeonato Carioca apenas viria em 1966.
14 Assaf (2001) revela que, em 1960, Guilherme da Silveira reclinara o convite de Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança
e um dos quadros mais expressivos do Partido Comunista, para concorrer ao cargo de governador da Guanabara contra
Carlos Lacerda.
15 Segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira (INSTITUTO CULTURAL CRAVO ALBIN, s/d), o desfile
de um Rancho Carnavalesco pode ser descrito como um cortejo, com a presença de um Rei e uma Rainha, ao som de
uma marcha‑rancho,
acompanhado por instrumentos de sopro e corda, ritmo mais pausado que o samba. De acordo com
Câmara Cascudo, eram características típicas dos ranchos as vestimentas vistosas, sendo utilizados em seus desfiles
instrumentos como o violão, a viola, o cavaquinho, o ganzá, o prato, e às vezes, a flauta. Não eram usados instrumentos
de percussão. Havia os mestres, um de Harmonia, um de Canto e um de Sala, responsável pela coreografia.
16 O carnaval de 1959 foi liderado seguidamente por Portela, Salgueiro, Império Serrano e Mangueira.
17 Bangüê – (do quimbundo mbanguê) – Padiola de conduzir cadáveres de pretos escravos; materiais de construção (in
HECKLER, Evaldo. Dicionario morfológico da Língua Portuguesa. s.v.). Bangu – (Serra do (antigo) Distrito Federal (hoje
Rio de Janeiro) – corruptela do tupi u’bang ù = o anteparo escuro, a barreira negra (in Antenor Nascentes. Dicionário
Etimológico da Língua Portuguesa, s.v.).
18 Sarapuí – do tupi sara’ pó (nome dado a muitos peixes gimotídeos); Amanajó – do tupi ama’ na yo (o que provém da chuva,
ou das nuvens); Urucum – do tupi (vermelho); Murundu – do quimbundo mulun’ du (montículo), Boiobi – do tupi mboio’
mibi (cobra‑verde,
o mesmo que cobra‑cipó).
19 Ver mais em Mendonça, 2002.
20 Após o encerramento das atividades em 2005, a Fábrica de Tecidos Bangu se dedica atualmente à produção de tecidos de
alta qualidade na cidade de Petrópolis/RJ.
21 Em 2000, o prédio da Fábrica é tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), mostrando
assim sua importância, não só para o bairro de Bangu como também para a cidade do RJ (BANGU SHOPPING, s/d).
22 Apesar de Bangu não possuir um museu, o Grêmio Literário José Mauro de Vasconcelos atua como um espaço dedicado
à memória do povo banguense.
23 A imagem usada para retratar a homenagem foi retirada de uma página eletrônica esportiva da Hungria.
24 Um exemplo disso apresenta‑se
no México, mais precisamente em Totonicapã, onde uma comunidade cansada dos
impactos negativos indústria turística, passa a adotar medidas centralizadoras, que lhe dão poderes de decisão perante
empreendedores e turistas, principalmente no que se refere a sua identidade cultural. Fonte: Palestra “Pós‑turismo:
Novas
tecnologias, novos comportamentos sociais”, proferida pelo professor Dr. Sérgio Molina no IV Congresso Internacional de
Turismo da Rede Mercocidades, realizado no município de Porto Alegre em agosto de 2002.
25 Disponível em: http://www.overmundo.com.br/banco/o‑tempo‑poesia‑1.
Acesso em: 20.ago.2009.
Recibido: 12/08/2015
Reenviado: 15/12/2015
Aceptado: 08/01/2016
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