© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Vol. 12 N.o 4. Págs. 875-883. 2014
www .pasosonline.org
* Mestre em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul – UCS, Bacharel em Turismo pela Pontifícia Universidade Católica
‑
PUCRS. Docente efetiva do curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Estadual de Roraima –UERR; E‑
mail:
rita.michelin@gmail.com
** Mestre em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul ‑
UCS, Bacharel em Turismo pela Universidade de Caxias do
Sul ‑
UCS. Docente efetivo do curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Estadual de Roraima – UERR; E‑mail:
paulinho.turismo@gmail.com
*** Mestre em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul – UCS, Bacharel em Turismo e Hotelaria pela Universidade Paranaense
– Unipar. Docente do curso de Hotelaria na Universidade do Oeste do Paraná; E‑mail:
nandricandida@gmail.com
Resumo: O turismo rural é um segmento do turismo que utiliza o espaço da ruralidade como principal
atrativo, através das manifestações dos hábitos e costumes de uma determinada cultura. O objeto de estudo
foi o Roteiro Caminhos de Pedra, localizado no interior da cidade de Bento Gonçalves, no estado do Rio
Grande do Sul. No local, o visitante pode conhecer a história dos descendentes de imigrantes italianos e ter
contato direto com os moradores locais. O método de investigação se deu através de pesquisa documental do
histórico das visitações no roteiro. Os resultados demonstraram que o número de visitantes cresceu consid-eravelmente
desde sua implantação, assim como o número de empreendimentos, demonstrando assim um
constante crescimento do Roteiro contribuindo para sua consolidação.
Palavras‑chave:
Turismo; Turismo Rural; Turismo Cultural; Caminhos de Pedra – Rio Grande do Sul.
Caminhos de Pedra Attractive ‑
Bento Gonçalves – Rio Grande do Sul: A reflection about the
number of visitors in the period 1997‑2011.
Abstract: Rural tourism is a segment of tourism that uses the spaceof rurality main attraction, through the
manifestations of the habits and customs of a particular culture. The object of study was the Caminhos de
Pedra Attractive, located in Bento Gonçalves city, at Rio Grande do Sul state. In This local, the visitors can
learn about the history of the Italian descendants immigrants and have direct contact with the locals. The
research method was through desk research oft hehistoryofvisitations in the local. The results showed that
the number of visitors has grown considerably since its was introduce, as well as the number of enterprise,
demonstrating a good example of rural tourism done contributing this way to its consolidation.
KeyWords:
Tourism; Rural Tourism; Cultural Tourism; Caminhos de Pedra – RS.
Roteiro Caminhos de Pedra ‑
Bento Gonçalves – Rio Grande
do Sul: uma reflexão sobre o número de visitantes no período
de 1997 a 2011
Rita L. Michelin* Paulo Roberto Teixeira**
Universidade Estadual de Roraima – UERR (Brasil)
Nândri Cândida Strassburger***
Universidade do Oeste do Paraná – UNIOESTE (Brasil)
Rita L. Michelin, Paulo Roberto Teixeira, Nândri Cândida Strassburger
1. Introdução
O turismo, no Brasil, vem sendo reconhecido
como um dos vetores de desenvolvimento em várias
escalas, tanto local quanto nacional. De acordo com
Cavaco (2001), é por esse motivo que os programas
de desenvolvimento turístico voltam‑se
ao espaço
rural. Nesse sentido, Souza et.al. (2011: 219), com-
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876 Roteiro Caminhos de Pedra ‑
Bento Gonçalves – Rio Grande do Sul
plementa ao dizer que “o desenvolvimento rural
envolve a descoberta, mobilização e valorização dos
recursos locais, sendo que o turismo normalmente
é apresentado como uma das atividades capazes de
organizar e desenvolver as potencialidades”, sendo
assim, tem‑se
o turismo no meio rural como uma al-ternativa
a contribuir para o desenvolvimento como
atividade complementar objetivando a valorização
do patrimônio natural e cultural.
Considerando que o turismo possui diversos
segmentos que estão relacionados as motivações que
levam o turista ao deslocamento, tem‑se
a ligação
entre algumas motivações, como, por exemplo, o
turismo rural e o cultural, pelo fato de que a cultura
está intrinsecamente ligada a vida no campo e
as características de determinado grupo social.
Nesse sentido, Azevedo (2002: 152) define o turismo
cultural como aquele em que:
“[...] a motivação central corresponde à busca do
conhecimento, busca essa que envolve satisfação
da curiosidade, inclusive em relação ao patrimônio
humano. Outra característica marcante distinta
do turismo cultural é que sua oferta se pode dar
independentemente de estações e de configurações
de território, podendo ocorrer no litoral ou inte-rior,
em zona urbana ou rural, em região plana
ou acidentada”.
Entendendo cultura como o “conjunto de com-portamentos,
saberes e saber‑fazer
característicos
de um grupo humano ou de uma sociedade [...]”
(Laplantine, 1999: 120), o turismo cultural objetiva
o contato entre diferentes grupos humanos no qual
a motivação principal é justamente esse contato, a
relação entre visitantes e visitados e suas diferenças
culturais, seus saberes e fazeres.
No turismo rural não é diferente, pois a curio-sidade
pela vida no campo, pela cultura do homem
do campo é um dos fatores motivacionais desse
segmento, de acordo com Solla (2002: 117), “[...] o
turismo rural está mais interessado nos aspectos
do patrimônio, que pode abranger não só a pró-pria
natureza, mas também a cultura popular,
a arquitetura, a gastronomia ou os modos de
vida”, ou seja, o patrimônio tanto material quanto
imaterial tornam‑se
cada vez mais relevantes no
desenvolvimento do turismo rural, dando maior
ênfase as relações entre os recursos naturais e
culturais. De acordo com Zimmerman (1973), o
turismo rural caracteriza‑se
por se contrapor ao
turismo de massa, pois tem como premissa utilizar
de maneira adequada os recursos naturais, além de
respeitar a cultura local, a fim de resgatar hábitos
e costumes.
Nesse sentido, Machado (2005: 37) enfatiza que
esse segmento contribui para manter o homem no
campo a partir da valorização do patrimônio, natu-ral
e cultural, bem como da conservação cultural
por meio de costumes e tradições, resultando na
agregação do turismo à atividade rural. Comple-mentando,
Souza et. al. (2011: 220) apresenta que
“o turismo rural também vem sendo apontado como
um instrumento capaz de contribuir para o aumento
da auto‑estima
dessas famílias, justamente por
estas obterem através do turismo, uma maior
inserção social, intercâmbio cultural e valorização
das atividades e do saber rural”.
Dessa forma, é possível perceber a relação
intrínseca entre as questões culturais e rurais,
sendo o turismo uma alternativa para contribuir
na valorização cultural das comunidades do espaço
rural. Entretanto, vale lembrar que o turismo no
meio rural não é a solução para todos os problemas
do campo, e sim uma alternativa a contribuir para
algumas mudanças.
Observando a importância da cultura no tu-rismo
rural, Adir Rodrigues (2001: 112) expõe
que o turismo rural tradicional pode apresentar
a modalidade “de colonização européia: sua origem
está relacionada a história da imigração européia
no Brasil, principalmente nas regiões sul e sudeste”,
considerando essa classificação de cunho histórico
percebe‑se
ainda mais a relação existente entre o
turismo rural e a cultura. Dessa forma, podem‑se
desenvolver ambos os segmentos do turismo
de forma conjunta, agregando valor a cultura de
determinados grupos socais do meio rural.
Um exemplo de desenvolvimento do turismo
rural em conjunto com a cultura local é o Roteiro
Caminhos de Pedra que será apresentado no
presente trabalho.
2. Roteiro Caminhos de Pedra
Localizado no distrito de São Pedro, interior do
município de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha,
está o Roteiro Caminhos de Pedra (Fig. 1), distante
cerca de 13km do centro da cidade. Esse foi criado a
partir de um levantamento arquitetônico realizado
no município e foi idealizado na década de 1990
através do Projeto Cultural Caminhos de Pedra,
com o objetivo preservar o patrimônio das casas
de pedra, bem como contribuir para o resgate dos
costumes, sendo o turismo uma alternativa para
manter o patrimônio cultural material e reconstruir
a herança cultural dos moradores locais (Michelin,
2008). Segundo a Associação dos Caminhos de
Pedra1, anteriormente ao Projeto Cultural o acervo
cultural do Distrito de São Pedro necessitava de
uma rápida ação para que não se perdesse, consi-
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Rita L. Michelin, Paulo Roberto Teixeira, Nândri Cândida Strassburger 877
derando que partes desse acervo encontravam‑se
parcialmente abandonadas e muitas já haviam
sido demolidas. Após o projeto quatro casas foram
restauradas e no ano de 1992, especificamente no
dia 30 de Maio, essas quatro primeiras casas inte-grantes
do roteiro ‑
Casa Merlo, Casa Bertarello,
Ferraria Ferri e Cantina Strapazzon– receberam
o primeiro grupo de visitantes, dando início ao
Roteiro Caminhos de Pedra que, no ano de 2012,
completou 20 anos de atividades.
No ano de 1997 é fundada a Associação Ca-minhos
de Pedra, a partir da criação dessa é que
inicia o trabalho de análise e controle de visitantes
objetivando dados estatísticos acerca das visitações
no Roteiro. Vale ressaltar que no ano de 1998 o
Projeto Cultural Caminhos de Pedra passou a
contar com a Lei de Incentivo à Cultura do Estado
do Rio Grande do Sul (Lei 10.846/96), passando a
captar recursos de empresas locais. Nos anos de
2002 e 2006 foram realizados os seminários de
planejamento do Roteiro, com enfoque participativo,
nos quais participaram a diretoria da Associação,
associados e colaboradores (Michelin, 2008).
Por ser considerado um dos roteiros pioneiros no
segmento de turismo rural e cultural, os Caminhos
de Pedra se tornaram referência e modelo para
diversos outros roteiros do Estado e do Brasil.
Esse roteiro apresenta como principal atrativo a
cultura italiana dos descendentes de imigrantes
italianos vindos para o Rio Grande do Sul, bem
como a vida no meio rural e os costumes e tradições
dessa cultura. Segundo Strassburger (2008: 08)
“os turistas buscam algo diferenciado, não querem
encontrar no Roteiro Caminhos de Pedra o que eles
encontrariam em qualquer cidade, eles buscam
o diferente, o simples, o bucólico”, enfatizando a
motivação através do turismo cultural e rural, na
busca pelo conhecimento da cultura.
O roteiro é considerado pioneiro em turismo
rural e cultural, pois
“[...] despertou novas possibilidades de aprovei-tamento
do patrimônio histórico – arquitetônico,
valorizando a cultura regional expressada pela
culinária, pelo linguajar (o dialeto vêneto, conhecido
como talian), estilo de vida, pelos usos e costumes,
típicos dessa região, formada principalmente por
imigrantes italianos e seus descendentes” (Fávero,
2006: 75).
O reconhecimento do patrimônio presente no
Roteiro ganhou destaque no ano de 2009 através
da Lei Estadual 13.177/09, a qual declara o Roteiro
Caminhos de Pedra integrante do patrimônio his-tórico
e cultural do Estado do Rio Grande do Sul.
Esse reconhecimento do roteiro como patrimônio
histórico e cultural do Estado demonstra o valor
do patrimônio tanto material, quanto imaterial
presentes no local e contribui para o maior reco-nhecimento
da importância histórica e cultural
do Roteiro, pois demonstra a necessidade de se
conservar e se manter o constante resgate da
cultura dos descentes de imigrantes italianos da
zona rural de Bento Gonçalves.
De acordo com Michelin (2008: 98‑99),
os pró-prios
moradores do roteiro passaram a valorizar
e buscar o seu resgate cultural a partir do desen-volvimento
do turismo na comunidade, ou seja, o
reconhecimento e a valorização da cultura local
Fig. 1: Mapa de localização dos Caminhos de Pedra.
Fonte: Elaborado pelos autores.
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878 Roteiro Caminhos de Pedra ‑
Bento Gonçalves – Rio Grande do Sul
pelos turistas contribuíram para que os moradores
também tivessem tal atitude. Em sua pesquisa, a
autora apresenta que, quando entrevistados, muitos
moradores do local afirmaram que tinham vergonha
da sua cultura, do seu sotaque e das suas casas,
e, somente após o início das visitações quando os
turistas que chegavam no roteiro diziam o quanto as
casas eram bonitas, o quanto elogiavam o sotaque
e queriam saber mais sobre a cultura deles, é que
os próprios moradores começaram a valorizar e
a buscar o resgate da sua cultura. Sendo assim,
acredita‑se
que o reconhecimento através da Lei
acima citada, foi mais um fator que contribuiu para
a maior valorização cultural tanto pelos moradores
locais, quanto pelo poder público e pelos turistas.
Atualmente o Roteiro Caminhos de Pedra, com
12km de extensão, conta com algumas construções
centenárias e outras mais recentes, onde a união
dessas, juntamente com a cultura dos residentes,
demonstra uma parte da história dos imigrantes
italianos chegados ao Sul do Brasil. No roteiro, o
turista pode visitar 15 casas, onde terá contato
direto com os moradores do local, podendo, assim,
conhecer tanto o patrimônio material através das
construções e objetos, quanto o patrimônio imaterial
através das trocas com os moradores. Dentre os
pontos de visitação estão vinícolas, artesanato, casa
de massas, restaurantes, entre outros. Quanto a
hospedagem, os turistas necessitavam retornar
a cidade de Bento Gonçalves para pernoitar, no
entanto, desde o ano de 2011 o roteiro conta com
o seu primeiro meio de hospedagem em funciona-mento,
permitindo que o visitante possa ter uma
experiência mais completa no local.
3. O Roteiro em Números
Atualmente o roteiro é composto por 15 pontos
de visitação, que são casas nas quais o visitante
é recepcionado a maioria das vezes pelo próprio
morador ou então por funcionários. Nessa visita,
o turista pode conhecer o processo de fabricação
de produtos coloniais, bem como ter um contato
direto com os moradores da comunidade local e
sua cultura. Além dos pontos de visitação, o ro-teiro
conta com 56 pontos de observação, que são
casas que fazem parte de um levantamento de
patrimônio arquitetônico, que, no entanto, não
abrem suas portas à visitação. Em alguns casos,
essas, também já fizeram parte do Roteiro como
pontos para visitação, mas, atualmente não mais.
Percebe‑se
que ao longo dos 20 anos de existência
o Roteiro Caminhos de Pedra passou por várias
modificações, pode‑se
observar essas analisando o
início das visitações no roteiro, quando era formado
por apenas 04 pontos de visitação: Ferraria Ferri,
Casa Merlo, Casa Bertarello e Cantina Strapazzon,
atualmente os 02 primeiros tornaram‑se
pontos de
observação e as outras duas casas ainda recebem
visitantes. De acordo com pesquisas realizadas,
é possível apresentar a mudança no número de
pontos de visitação e observação (Fig. 2). No ano
de 2000, faziam parte do roteiro 23 pontos, desses
05 de visitação e 18 de observação (Fávero, 2002:
225), já em 2002, Luchese (2002: 178‑184)
apresenta
que o Roteiro passa a ser composto por 6 pontos
de visitação e 16 de observação. Em 2008 o roteiro
passa a contar com 10 pontos de visitação e 52
pontos de observação (Michelin, 2008: 45).
Fig. 2: Comparativo entre os pontos de visitação e pontos de observação
do Roteiro Caminhos de Pedra.
Fonte: Adaptado de Associação Caminhos de Pedra, Fávero (2002); Luchese (2002) e Michelin (2008).
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 12 (4). 2014 ISSN 1695-7121
Rita L. Michelin, Paulo Roberto Teixeira, Nândri Cândida Strassburger 879
Além disso, a Associação Caminhos de Pedra
informa, no seu site, que apenas no ano de 2012
mais 03 casas estarão abrindo suas portas para
receber os turistas. Através desses dados é possível
observar o crescente aumento no número dos locais
a serem tanto visitados como observados pelos
turistas. Dessa forma, percebe‑se
a consolidação
de alguns pontos de visitação, tendo em vista que
02 dos atuais 15 estão em funcionamento à 20
anos. No sentido oposto, existem aqueles que não
conseguem se fixar definitivamente ao roteiro,
por razões diversas, resultando no fechamento do
empreendimento para visitações e mudança nos
números do Roteiro.
Tendo conhecimento que no desenvolvimento
do turismo a consolidação dos roteiros é a longo
prazo, através dos dados estatísticos cedidos pela
Associação Caminhos de Pedra, objetiva‑se
fazer
uma reflexão acerca do número de visitantes anuais
no roteiro. A Associação Caminhos de Pedra realiza
um levantamento mensal do número de visitantes
em todos os pontos de visitação do Roteiro, dados
esses, que foram sendo coletados a partir de 1997,
ano de criação da associação (Fig. 3).
Acredita‑se
que um dos fatores que contribui
para esse constante crescimento no número de
visitações é o fato de que o Roteiro passou por mo-dificações
ao longo dos anos, que está diretamente
relacionado ao aumento do número de pontos de
visitação e observação. A oferta de novos “produtos”
para o visitante conhecer no Roteiro é mais um
atrativo para que aquele turista que já visitou os
Caminhos de Pedra o faça novamente, pois existe
um novo ponto de visitação que não havia quando
da sua primeira visita.
Pode‑se
observar claramente o crescimento do
número de visitantes ano após ano. Na análise,
em apenas três anos foi registrada uma baixa
no número de visitantes, em 2005 com 48.300
visitantes, em 2006, 42.777 e em 2009, 49.132
turistas. Entretanto, faz‑se
necessário ressaltar
que o turismo é uma área que sobre influências
de diversos fatores, e analisando os fatores exóge-nos
que ocorreram nesses anos, alguns desses se
destacam, por exemplo, em 2006 o Brasil sofreu
com uma crise no setor aéreo, levando ao caos
esse setor, como os Caminhos de Pedra recebem
muitos turistas vindos de outras partes do país,
esse fator pode ter contribuído para a redução de
aproximadamente 5 mil visitantes se comparado
ao ano anterior (2005).
Analisando o ano de 2009, quando o mundo
sofreu com a pandemia de gripe, conhecida como
gripe A, uma doença infectocontagiosa causada pelo
vírus H1N1, que se espalhou rapidamente por todo
o globo. Devido ao alto risco de contágio e mortes
sendo registradas por causa do vírus, houve uma
redução drástica nos deslocamentos em função de
turismo, sendo percebida essa redução também
no número de visitantes do Roteiro Caminhos de
Pedra que no ano de 2008 recebeu cerca de 54 mil
visitantes, tento em 2009 esse número reduzido
para 49.132 turistas.
Vale lembrar que não se pode afirmar que fato-res
como o caos aéreo e a gripe A foram os únicos
responsáveis diretos para a redução do número
de visitante no Roteiro Caminhos de Pedra nos
anos de 2006 e 2009, respectivamente. No entanto,
é preciso considerar que o turismo é sensível a
uma série de fatores que contribuem para a sua
realização, como, por exemplo, clima, economia,
férias, dentre outros.
Outra questão, claramente perceptível, refere‑se
a sazonalidade, ou seja, o desequilíbrio nos períodos
de visitação, meses de alta e meses de baixa visita-ção.
De acordo com Butler (2000, apud Lohmann e
Netto, 2008: 429), dentre as variáveis que podem
explicar a sazonalidade tem‑se
o clima e os fatores
Fig. 3: Número de visitantes no Roteiro Caminhos de Pedra entre o ano de 1997 e 2011.
Fonte: Adaptado de Associação Caminhos de Pedra.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 12 (4). 2014 ISSN 1695-7121
880 Roteiro Caminhos de Pedra ‑
Bento Gonçalves – Rio Grande do Sul
de decisão humana, como, por exemplo, as férias
escolares. Com relação ao número de visitantes, é
possível perceber que o mês de Julho concentra o
período de maior visitação (Fig. 4), esse fato pode
ser relacionado com as variáveis apresentadas por
Butler referentes a sazonalidade.
O mês de julho representa o período de férias
escolares de inverno, assim como a relação com
o clima, pois o Roteiro está localizado na Serra
Gaúcha, que tem como característica ser uma das
regiões mais frias do Brasil, fazendo com que o
clima frio seja um dos grandes atrativos levando
milhares de turistas aos municípios integrantes
da Região Serra Gaúcha no período de inverno.
Em contraponto, o mês de março apresenta‑se
como o de menor visitação aos Caminhos de Pedra,
novamente podemos considerar as variáveis de
Butler para explicar tal baixa, tendo em vista que
em Março é o período de início de ano letivo, bem
como época de altas temperaturas do verão. Através
da análise dos dados levantados pela Associação
Caminhos de Pedra, no período de 1997 até 2011
somente no mês de Julho 95.054 turistas visitaram
o roteiro, enquanto que no mês de Março, do mesmo
período, ocorreram apenas 23.997 visitações.Com
relação ao número de visitantes anuais no Roteiro
(Fig. 3), a análise dos últimos dois anos, apresenta
números de visitação nunca antes registrados no
Roteiro, chegando a 65.481 visitantes em 2011.
Com isso verifica‑se
a relação entre o número de
pontos de observação/visitação com o aumento no
número de visitantes. Por exemplo, no ano 2000,
quando o Roteiro era composto por 23 pontos o
número de visitantes foi de 21.446, já em 2008,
com o aumento para 62 pontos houve um aumento
de 32.744 turistas em relação ao ano 2000, ou seja,
em 08 anos as visitações ao roteiro aumentaram
em mais de 100%. Atualmente, contando com 71
pontos o roteiro foi visitado por mais de 65mil
turistas no ano de 2011, um aumento de mais de
39 mil visitantes nos últimos 10 anos.
Vale ressaltar que o Roteiro está localizado no
município de Bento Gonçalves, um dos 65 destinos
indutores do Brasil, e o município conta, atualmente
com cinco roteiros, desses somente um na área
urbana da cidade, os demais estão localizados em
distritos do município. Dessa forma, o turista que
visita Bento Gonçalves tem a oportunidade de
visitar mais de um roteiro.
No comparativo entre o número de visitantes do
município de Bento Gonçalves e o Roteiro Caminhos
de Pedra no período de 2002 à 2011, é possível
verificar o percentual de visitantes nos Caminhos
de Pedra com relação ao número de visitantes no
município de Bento Gonçalves (Fig. 5).
Realizando uma reflexão acerca desses dados,
observa‑se
o reduzido percentual do número de
turistas que vão a Bento Gonçalves e visitam o
Roteiro Caminhos de Pedra. No entanto, vale res-saltar
que, conforme apresentado anteriormente,
o município conta com mais quadro roteiros turís-ticos,
dentre esses, inclui roteiros expressivos de
enoturismo reconhecidos nacional e internacional-mente.
Além disso, o município sedia importantes
eventos nacionais e internacionais, o que eleva o
número de visitantes no destino. Considerando a
grande opção de roteiros, acredita‑se
que muitos
turistas acabam não visitando todos os roteiros do
destino, devido a questões de tempo, por exemplo,
pois a maioria desses demanda de pelo menos um
dia de visitação.
Os números de visitação tanto no município
quanto especificamente no roteiro seguem o mesmo
padrão de aumento e redução, sendo perceptível
Fig. 4: Somatório do número de visitantes mensais no período de 1997 a 2011.
Fonte: Adaptado de Associação Caminhos de Pedra.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 12 (4). 2014 ISSN 1695-7121
Rita L. Michelin, Paulo Roberto Teixeira, Nândri Cândida Strassburger 881
uma disparidade apenas nos anos de 2005, 2009 e
2011. Nos dois primeiros o município teve aumento
no número de visitantes e o roteiro redução, já no
ano de 2011 ocorreu o oposto. Entretanto, na média
geral ambos mantém o mesmo padrão de visitações.
Com relação ao perfil dos visitantes do roteiro,
os dados da Associação Caminhos de Pedra de-monstram
que a partir do ano de 2007 os visitantes
particulares passaram a representar o maior
percentual de visitações ao local (Fig. 6).
Até o ano de 2006 o maior número de visitações
ocorria por grupos. A percepção dos moradores
do Roteiro quanto aos visitantes foi abordada
por um entrevistado, segundo Michelin (2008:
87) “conforme o exposto pelo entrevistado B a
diferença entre os turistas particulares e os
excursionistas é que os primeiros vão em busca
do que querem e os segundos fazem o roteiro
de forma direcionada pelo guia”, além disso, os
moradores afirmaram ter um maior contato com
o visitante particular, pois esse, geralmente,
dispõem de mais tempo e interesse na visitação
que o turista de grupo.
Tendo como objetivo fazer uma reflexão do nú-mero
de visitantes do Roteiro Caminhos de Pedra,
é importante considerar, que não apenas o aumento
dos pontos de visitação e observação são responsáveis
por esse grande aumento no número de visitações,
Fig. 5: Comparativo entre o número de visitantes na cidade de Bento Gonçalves e os que
visitaram o Roteiro Caminhos de Pedra, entre os anos de 2002 e 2011.
Fonte: Adaptado de Secretaria Municipal de Turismo de Bento Gonçalves e Associação Caminhos de Pedra.
Fig. 6: Comparativo entre os perfis de público que visita o Roteiro Caminhos de Pedra.
Fonte: Adaptado de Associação Caminhos de Pedra.
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882 Roteiro Caminhos de Pedra ‑
Bento Gonçalves – Rio Grande do Sul
existem diversos fatores que também contribuem
para isso, como a divulgação, seja na mídia ou atra-vés
dos grupos culturais (dança italiana, flauta doce,
etc.) das comunidades integrantes dos Caminhos de
Pedra. Além disso, conforme observado na figura
5, também o município de Bento Gonçalves conta
com um aumento significativo, ano após ano, nas
visitações, o que reflete também no aumento do
número de turistas nos Caminhos de Pedra.
O Roteiro, nesse sentido, pode ser considerado
um atrativo consolidado, pois não se trata de um
novo produto a ser lançado no mercado, mas sim
pode‑se
dizer que nesses 20 anos de trajetória, ele
vem, cada vez mais, se consolidando e se tornando
conhecido como um roteiro pioneiro no Brasil em se
tratando dos segmentos de turismo rural e cultural.
Recentemente, o reconhecimento do Roteiro como
patrimônio histórico e cultural do Estado do Rio
Grande do Sul, pode ser considerado como mais um
fator que contribui para a valorização da cultura
presente no local.
São diversos os fatos que contribuem para a
consolidação do desenvolvimento de um roteiro
turístico e poucos são aqueles que conseguem
se manter em constante crescimento durante
20 anos, como é o caso do Roteiro Caminhos de
Pedra. Por esse motivo, vale frisar a importância
da Associação Caminhos de Pedra e sua contri-buição
para o planejamento e desenvolvimento
de ações tanto para promoção, quanto para a
melhor estruturação do Roteiro, valorizando os
seus patrimônios e os atores.
Considerando que “o desenvolvimento pode ser
compreendido como um processo capaz de gerar
bem social no seu sentido mais amplo, passando a
considerar também como ganho a conservação am-biental
e do patrimônio histórico‑cultural
peculiar
a cada sociedade” (Ashton e Fagundes, 2011: 231),
pode‑se
dizer que o desenvolvimento que vem sendo
gerado através do turismo que ocorre no Roteiro
Caminhos de Pedra vem beneficiando a população
local, tanto como atividade alternativa, quanto como
influência para a valorização da cultura.
Através dos 20 anos de desenvolvimento do
Roteiro muitas pesquisas (Fávero, 2000; Miche-lin,
2008; Strassburger, 2008; Souza et.al., 2011)
revelam a importância que a atividade turística
representou para o desenvolvimento da comuni-dade
e a representatividade frente a valorização
e a reconstrução da cultura local. Além disso, o
turismo representa uma alternativa à atividade
do campo, gerando renda e contribuindo para que
muitos jovens não deixem o espaço rural em busca
de empregos na zona urbana. Sendo assim, por
meio da atividade turística que cresce ano após
ano, conforme apresentados pelos dados estatís-ticos,
os segmentos do turismo rural e cultural
desenvolvidos através do Roteiro Caminhos de
Pedra contribuem consideravelmente como fonte
de renda extra para as famílias participantes do
Roteiro e principalmente para o reconhecimento e
a valorização do patrimônio cultural, tanto mate-rial
quanto imaterial, presentes nas comunidades
integrantes do Roteiro.
4. Considerações finais
Pode‑se
dizer que mesmo completando 20
anos de história o Roteiro Caminhos de Pedra
ainda tem um longo caminho pela frente, pois
se for analisado o ciclo de vida das destinações
turísticas, apresentado por Butler (1980, apud
Lohmann e Netto, 2008: 358), a tendência é que
após a consolidação venha a fase da estagnação.
Considerando que o Roteiro vem apresentando‑se
como um produto consolidado, deve‑se
trabalhar
para que esse continue se fortalecendo e crescendo
constantemente, como pode‑se
observar que vem
acontecendo, e assim evitando a sua estagnação.
Além disso, um dos fatores que ainda precisa
ser trabalhado com planejamento e visão de fu-turo
é a sazonalidade, pois a grande discrepância
existente entre o número de visitantes nos me-ses
de Março e Julho devem ser consideradas e
buscar‑se
alternativas para modificar os impactos
que esses períodos de alta e baixa temporada
causam aos moradores locais que contam com
o turismo como uma atividade complementar
para sua subsistência. Algumas ações vem sendo
desenvolvidas pelo município, como por exemplo,
o “Bento em Vindima” que ocorre no período de
Janeiro à Março celebrando a colheita da uva, que
visa aumentar o número de visitantes no período
de baixa temporada.
Entretanto, é importante frisar o reconheci-mento
e o desenvolvimento do Roteiro em estudo
considerando o constante aumento no número
de turistas que o visitam anualmente, conforme
os dados apresentados em 15 anos apenas três
anos tiveram uma pequena queda no número de
visitações, mas que nos anos seguintes foram su-peradas.
Quanto a mudança no perfil de visitantes
ocorrida nos últimos cinco anos, apresentando um
maior percentual de visitantes particulares do
que grupos, destaca‑se
como positiva, tendo em
vista que o visitante particular tem mais tempo
para a visitação e maior interesse na cultura local,
contribuindo para as trocas culturais e à valorização
do patrimônio cultural local.
Além do número de visitantes e o perfil desses,
também o fato de ser reconhecido como patrimônio
histórico cultural do Estado do Rio Grande do Sul
representa mais um passo no caminho do desen-
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 12 (4). 2014 ISSN 1695-7121
Rita L. Michelin, Paulo Roberto Teixeira, Nândri Cândida Strassburger 883
volvimento responsável dos Caminhos de Pedra.
Assim, atingindo os objetivos propostos quando da
formatação do projeto, que previa a preservação
do patrimônio das casas de pedra e o resgate dos
costumes (Michelin, 2008), havendo através do
turismo uma maior valorização da cultura local
e a contribuição do turismo como alternativa às
atividades do campo, dessa forma, contribuindo
fortemente para o desenvolvimento rural e suas
potencialidades (Souza et.al., 2011).
Vale destacar que o desenvolvimento e a con-solidação
de destinos e atrativos turísticos ocorre
a longo prazo, dessa forma, temos no Roteiro
Caminhos de Pedra um exemplo positivo de que
uma comunidade organizada, um planejamento
associativo e persistência são fundamentais para
se manter no mercado turístico e alcançar a con-solidação
nesse meio.
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Notes
1 Informações disponíveis no site da Associação
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caminhosdepedra.org.br
Recibido: 08/04/2013
Reenviado: 12/04/2014
Aceptado: 05/05/2014
Sometido a evaluación por pares anónimos
Margarita Barretto (coord.)
Turismo, reflexividad y
procesos de hibridación
cultural en América del
Sur austral
Colección PASOS edita, nº 4
www.pasosonline.org