© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Vol. 12 N.o 3. Special Issue. Págs. 581-595. 2014
www .pasosonline.org
Abstract: Este artigo tem como objetivo apresentar alguns resultados de uma investigação científica, cujo
principal objetivo consistiu em analisar as atividades de turismo rural pedagógico como prática educativa a
ser desenvolvida em complemento ao ensino escolar, com base em duas experiências empíricas desenvolvidas
no sul do Brasil: O Roteiro “Caminhos Rurais” de Porto Alegre (RS) e o Projeto de Turismo “Viva Ciranda”,
em Joinville (SC). Metodologicamente, utilizou‑se
a revisão da literatura, a observação das atividades pro-postas
e entrevistas semiestruturadas, realizadas com 11 agricultores, donos das propriedades e 22 profes-sores,
que visitaram essas propriedades. Conclui‑se
que o turismo rural pedagógico desempenha importante
função socioeducativa, contribuindo para a aprendizagem das crianças e a valorização dos saberes e fazeres
dos agricultores.
Key Words: Turismo rural pedagógico, desenvolvimento rural, atividades educativas, diversificação, mul-tifuncionalidade.
Pedagogical rural tourism from the perspective of the multifunctionality of agriculture: experi-ences
in southern Brazil
Resumen: This paper aims to present some results of scientific research, whose main objective consisted in
analyzing the activities of pedagogical rural tourism as educational practice to be developed in addition to
schooling, based on two empirical experiences developed in southern Brazil: the Tourism Route “Caminhos
Rurais” of Porto Alegre (RS) and the Tourism Project “Viva Ciranda” in Joinville (SC). Methodologically, we
used a literature review, the observation of the proposed activities and semi‑structured
interviews conducted
with 11 farmers, owners of farm properties and 22 teachers who visited these properties. We conclude that
pedagogical rural tourism plays an important socio‑educational
function, as contributing to children’s learn-ing
and setting into value of the farmers knowledge and practices.
Palabras Clave: Pedagogical rural tourism, rural development, educational activities, diversification,
multifunctionality.
Turismo rural pedagógico sob a perspectiva
da multifuncionalidade da agricultura:
experiências no sul do Brasil
Angela Luciane Klein*
Prefeitura Municipal de Florianópolis, Santa Catarina (Brasil)
Marcelino de Souza**
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil)
* Mestre em Desenvolvimento Rural e professora de apoio pedagógico na Prefeitura Municipal de Florianópolis, Santa
Catarina, (Brasil). E‑mail:
angelaklain@yahoo.com.br
** Professor Associado da Faculdade de Ciências Econômicas e dos Programas de Pós‑Graduação
em Desenvolvimento Rural
e de Agronegócios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
E‑mail:
marcelino.souza@uol.com.br
Angela Luciane Klein, Marcelino de Souza
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582 Turismo rural pedagógico sob a perspectiva da multifuncionalidade da agricultura…
1. Introdução
A partir de 1990 a temática do desenvolvimento
rural tem sido foco de uma série de discussões no
contexto acadêmico e político internacional. Ques-tões
como sustentabilidade ambiental, segurança
alimentar, e as “novas” atividades agrícolas e não
agrícolas ganham força nesse debate, contribuindo
de modo significativo para uma melhor compre-ensão
acerca das mudanças sociais, econômicas e
culturais ocorridas nas áreas rurais.
Diante dessa conjuntura, o meio rural começa a
ser visto não mais como um lugar atrasado e sem
perspectivas, mas sim, como um espaço dinâmico e
diversificado, profundamente marcado por relações
de complementaridade com o urbano. De acordo
com Graziano da Silva (2002), este “novo rural”
já não pode mais ser pensado somente como um
lugar que produz mercadorias agrícolas e oferece
mão‑de‑obra.
Do mesmo modo, a agricultura também ad-quire
uma nova dimensão, na medida em que
passa a desempenhar novas funções. Ela se torna
responsável pela disponibilidade e qualidade dos
alimentos, pela conservação dos recursos naturais
e preservação do patrimônio cultural, bem como
pela reprodução socioeconômica das famílias rurais
(Wanderley, 2003).
Compreendida como “todos os produtos, equipa-mentos
e serviços criados por atividades agrícolas
em benefício da economia e da sociedade em geral”
(Losch, 2004: 340), a noção de multifuncionalidade
da agricultura possibilita o reconhecimento de
outras potencialidades do meio rural e da atividade
agrícola.
Segundo Carneiro (2003), esse enfoque da mul-tifuncionalidade
da agricultura favorece a legiti-mação
de formas de produção e de fontes de renda
que, na maioria das vezes, permanecem alheias aos
quadros analíticos de caráter hegemônico.
Como exemplo, cita‑se
o turismo rural pedagó-gico,
caracterizado por um conjunto de atividades
educativas realizadas no âmbito da propriedade
rural que utiliza como recurso didático as ativida-des
agrícolas e pecuárias e os recursos naturais e
culturais ali existentes, com o intuito de facilitar a
aprendizagem dos alunos, por meio da articulação
entre teoria e prática (Klein, Troian e Souza, 2011).
Na análise de Ohe (2012), dentre os fatores
que tem favorecido o surgimento e expansão desse
fenômeno está a perda de hábitos alimentares
saudáveis tradicionais. Como exemplos, cita‑se
a questão relacionada à origem dos alimentos,
o aspecto cultural relacionado à alimentação e a
valorização dos costumes da vida rural.
Nesses termos, o turismo rural pedagógico
emerge como uma alternativa inovadora que reflete
as características do “novo rural”. Aspectos como
educação, meio ambiente, agricultura familiar e
integração econômica e social representam alguns
elementos que envolvem esta temática.
Neste sentido, o presente artigo analisa as
atividades de turismo rural pedagógico, enquanto
prática educativa a ser desenvolvida em comple-mento
ao ensino escolar. Para tal, na primeira
seção, apresenta‑se
uma breve discussão em torno
da noção de turismo rural pedagógico, tratando
de evidenciar que a mesma integra, ao mesmo
tempo, 4 áreas distintas do conhecimento: o tu-rismo,
a educação, o desenvolvimento rural e a
agricultura, estando intimamente relacionado com
a multifuncionalidade da agricultura e dos espaços
rurais. A segunda secção dedica‑se
a apresentar os
procedimentos metodológicos e na terceira secção
discutem‑se,
à luz de referências bibliográficas,
alguns resultados de investigação científica que
teve como base empírica duas experiências desen-volvidas
no sul do Brasil: o projeto “Viva Ciranda”,
de Joinville (SC) e o Roteiro “Caminhos Rurais”
de Porto Alegre (RS). Na quarta e última secções
apresentam‑se
as considerações finais do artigo.
2. Turismo rural pedagógico: um conceito
em construção
No contexto brasileiro, as discussões acerca
desse tema iniciaram‑se
recentemente, sendo
que a primeira definição elaborada é de 2005.
Na ocasião, a Associação Brasileira de Turismo
Rural em parceria com a Agência de Comunicações
ECA Jr., Empresa Júnior da Universidade de São
Paulo (USP), juntaram‑se
para executar um projeto
piloto que tinha como objetivo criar um roteiro
visando a promoção e difusão das propriedades
rurais enquadradas no conceito de turismo rural
pedagógico (Abraturr/Eca Jr., 2005).
Destarte, não havendo uma definição anterior
que pudesse servir como referência, a saída foi criar
uma tendo como base a conceituação de turismo
rural proposta pelo Ministério do Turismo (MTUR).
Assim, de acordo com a Associação Brasileira de
Turismo Rural (Abraturr/Eca Jr., 2005: 6), o turismo
rural pedagógico, passou a ser definido como:
o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas
no meio rural, comprometido com o meio ambiente e
a produção agropecuária e/ou com os valores históri-cos
de produção no universo rural, agregando valor
a produtos e serviços, resgatando e promovendo
o patrimônio cultural e natural da comunidade
que fundamentalmente tem um acompanhamento
didático pedagógico com o objetivo de aquisição de
conhecimento.
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Angela Luciane Klein, Marcelino de Souza 583
Embora pareça um conceito bastante abran-gente
e generalista, a definição favoreceu o seu
reconhecimento diante da comunidade acadêmi-ca.
Além disso, é uma definição que possibilita a
compreensão de que o turismo rural pedagógico
contempla diferentes dimensões, quais sejam as
dimensões social, cultural, econômica, ambiental
e educacional.
Tal característica o diferencia, de certa maneira,
do termo turismo pedagógico. Este último serve
para designar as viagens de estudos a diferentes
lugares e cenários e com diferentes fins, abrangendo
desde visitas aos centros históricos de grandes
cidades, museus, zoológicos e igrejas até parques
ecológicos, regiões litorâneas com áreas em processo
de restauração e regiões com plantações de culturas
distintas.
Segundo Milan (2007: 26), “o turismo pedagógico
emerge como uma das recentes modalidades do
mercado turístico relacionado às viagens de estu-dos.
Entretanto, exibe em seu aspecto conceitual
uma série de confusões de ordem semântica e
metodológica”.
Ainda, segundo Milan (2007: 31) o turismo
pedagógico tem por objetivo proporcionar aos
estudantes a oportunidade de conhecer melhor
uma determinada região por meio de aulas prá-ticas.
Desta forma, é uma atividade que mistura
ensino e turismo, apropriando‑se
de alguns de seus
elementos, em especial, a viagem.
Assim, os participantes (alunos) terminam por
assumir, de acordo com Spínola da Hora e Cavalcan-ti
(2003: 224), a condição de turistas, “deslocando‑se
de seu lugar de origem em busca de algo novo”. No
entanto, a troca de posição relaciona‑se
somente ao
tratamento dado à atividade pedagógica. Assim,
os autores Spínola da Hora e Cavalcanti (2003:
224) enfatizam que:
A compreensão da transformação de alunos em
turistas implica em análise mais subjetiva do tu-rismo,
transpondo a simples ideia do deslocamento
por meio de fronteiras políticas (cidades, estados,
países e continentes) e da permanência por mais
de 24 horas. Deve‑se
compreender o que faz do
turista um ‘turista’, no sentido da experiência
pessoal. Turista é o sujeito do turismo, aquele que
realiza a viagem, o elemento dinâmico da atividade.
Turismo pedagógico e turismo rural pedagó-gico,
portanto, são termos que, em certa medida,
se equiparam no que concerne às contribuições
no âmbito da educação. Tanto o turismo rural
pedagógico quanto o turismo pedagógico podem
ser caracterizados como importantes recursos
pedagógicos. Os termos se integram em relação
às suas definições.
Enquanto o primeiro assume um caráter mais
geral e se associa a viagens de estudos para vários
locais geográficos e com diferentes fins, o segundo
é mais específico referindo‑se
a um conjunto de
atividades desenvolvidas no meio rural, tendo
como principais elementos os saberes‑fazeres
do agricultor, do proprietário rural, os hábitos e
costumes preservados, as atividades produtivas
desenvolvidas, os animais e plantas que fazem
parte desses espaços.
Para além dessas questões, outra implicação
que provoca reações diversas está associada às
modalidades do turismo ao qual o turismo rural
pedagógico se enquadra. Dizer que essa noção
situa‑se
mais próxima do turismo rural ou então
do agroturismo exige primeiramente, um estudo
aprofundado acerca das características de cada
uma dessas modalidades e a relação com o turismo
rural pedagógico.
De acordo com Tulik (2006), o turismo rural
estaria relacionado às especificidades do rural,
como paisagem rural, estilo de vida e cultura rural.
Trata‑se
de uma atividade que na sua forma
mais original e “pura”, deve estar instituída em
estruturas essencialmente rurais, de pequena
escala, situadas ao ar livre, favorecendo o visitante
o contato direto com a natureza, com a herança
cultural das comunidades do campo e também, com
as denominadas sociedades e práticas “tradicionais”
(Ruschman, 2000).
Outra análise interessante acerca do agrotu-rismo
está em Sznajder et al. (2009). De acordo
com estes autores, o agroturismo apresenta um
conjunto de características e funções diversas,
evidenciando assim o caráter multifuncional da
atividade. A primeira característica apontada
pelos autores relaciona‑se
à possibilidade de
satisfazer necessidades humanas, através da
participação prática no processo de produção de
alimentos, na vida de uma família e na comuni-dade
rural. A segunda refere‑se
à possibilidade
para satisfazer a necessidade cognitiva humana
ou etnográfica dentro da produção agrícola; e
a terceira compreende a satisfação das neces-sidades
emocionais, a partir do contato direto
com animais domésticos, plantas, produtos de
processamento, e por meio de diferentes expe-riências
vivenciadas no rural associado a uma
atmosfera de rusticidade e sossego.
Em relação ao turismo nas áreas rurais ou
turismo no meio rural, trata‑se
de um termo que,
segundo Campanhola e Graziano da Silva (2000),
refere‑se
a qualquer atividade de lazer e turismo
realizada no meio rural, envolvendo assim, várias
modalidades definidas de acordo com seus elemen-tos
de oferta: agroturismo, turismo rural, turismo
ecológico ou ecoturismo, turismo de aventura,
turismo cultural, etc..
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 12 N° 3. Special Issue. Mayo 2014 ISSN 1695-7121
584 Turismo rural pedagógico sob a perspectiva da multifuncionalidade da agricultura…
Assim, pode‑se
observar que o turismo rural, o
agroturismo e o turismo no espaço rural apresentam
características que os diferenciam entre si, mas
que de certa forma, os mantém bastante próximos,
interligados, o que pode gerar confusão em termos
conceituais.
Mas, o turismo rural pedagógico pode associar‑se
a diversas modalidades de turismo rural ou
em espaço rural. O turismo rural pedagógico
contempla aspectos que variam de acordo com
as características geográficas, sociais e culturais
de cada região e com as especificidades de cada
propriedade rural. Considerando essa diversi-dade
presente no cenário rural e levando em
conta as definições das três modalidades aqui
apresentadas, pode‑se
presumir que a prática
do turismo rural pedagógico compreende uma
atividade que não pertence a um único segmento,
mas que interage com vários, em especial, com
o agroturismo, o turismo rural e o turismo em
meio rural.
No âmbito da educação, o turismo rural pe-dagógico
também tem se evidenciado, ganhando
visibilidade enquanto uma ferramenta de ensino
que vai muito além da sala de aula, desenvolvida
no âmbito das propriedades rurais em que os
agentes educativos não são propriamente os
professores das escolas, mas sim, os agricultores.
Dentro dessa perspectiva, o turismo rural
pedagógico emerge como uma prática educativa
que tem como elemento orientador a aprendi-zagem
pela experiência. Segundo Yus (2002), a
aprendizagem pela experiência compreende um
processo que vincula a educação, o trabalho e o
desenvolvimento pessoal; um processo que exige
métodos ativos, rompendo assim com o esquema
tradicional de alunos passivos e receptivos.
A complexidade que permeia o termo turismo
rural pedagógico pode ser evidenciada também na
literatura internacional. Até o momento existem
poucas referências abordando o termo turismo
rural educacional. No entanto, em muitos países
da Europa, verifica‑se
o surgimento e expansão
de projetos de cooperação envolvendo escolas e
propriedades rurais, as quais passam a ser vistas
como ambientes pedagógicos que possibilitam a
realização de atividades educativas, utilizando
como recurso didático a produção agropecuária,
os recursos naturais e culturais existentes.
Para D’Agostinho (2008), as atividades desen-volvidas
no âmbito dessas propriedades rurais
podem representar uma ferramenta bastante
útil, na medida em que favorecem a introdução
das novas gerações no mundo rural, através da
experiência direta, constituindo‑se
desse modo,
em um verdadeiro laboratório ao ar livre.
Nesse sentido, o termo “propriedade rural
pedagógica” passa a ser utilizado como sinônimo
de turismo rural pedagógico, ainda que haja dis-cordância
em relação ao fato se este seria uma mo-dalidade
de turismo ou excursionismo. Mas, neste
artigo admitimos o conceito de turismo conforme
expressaram Spínola da Hora e Cavalcanti (2003:
224) citados anteriormente. Embora as traduções
de propriedade rural pedagógica apresentem
variações de acordo com cada país e/ou idioma1,
as características são muito semelhantes entre si.
As contribuições para o aprendizado das crianças,
a valorização das tradições das famílias rurais e
dos saberes‑fazeres
dos agricultores favorecendo
a conservação da paisagem e a preservação dos
recursos naturais renováveis são elementos
presentes nas definições de propriedade rural
pedagógica. Tais características evidenciam o
caráter multifuncional dos espaços rurais e da
agricultura, aspectos também identificados na
prática do turismo rural pedagógico.
Sob essa perspectiva, as propriedades rurais
passam a receber um novo enfoque. São locais
que, segundo Gurrieri (2008), favorecem uma
conexão direta entre a cidade e o campo, entre
o produtor e o cidadão, entre o agricultor e o
consumidor, caracterizando‑se
como uma impor-tante
ferramenta, capaz de impedir a dispersão
do patrimônio sociocultural existente no meio
rural, relativo à produção de alimentos, à terra,
à natureza e ao meio ambiente.
Por conseguinte, a utilização da propriedade
rural como recurso pedagógico evidencia‑se
como
uma importante “fonte de renda para o agricultor,
como uma plataforma pedagógica para o ensino
e como fonte de identidade para uma população
que está cada vez mais distante da agricultura”
(Jolly et al., 2004: 63).
Na análise de Caffarelli et al. (2010), isto se
deve ao fato de que estas atividades contemplam
um conjunto significativo de objetivos que vão des-de
aspectos econômicos, ecológicos, patrimoniais e
sociais, favorecendo desse modo o reconhecimento
do papel do agricultor e da agricultura no processo
de aprendizagem e valorização do meio ambiente.
Na Noruega, a compreensão do relevante papel
desempenhado pelas propriedades rurais no
campo da educação já está presente desde o ano de
1995 por meio do desenvolvimento de projetos de
cooperação entre escolas e propriedades rurais. O
objetivo da proposta nomeada de “Living School”
centrou‑se
na criação de situações pedagógicas
que oportunizassem aos alunos experiências de
conexão ao seu meio natural, a partir de um
trabalho contínuo realizado nas propriedades
rurais (Krogh et al. 2004).
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 12 N° 3. Special Issue. Mayo 2014 ISSN 1695-7121
Angela Luciane Klein, Marcelino de Souza 585
Na França, em virtude da crescente demanda
social e educacional em torno das propriedades
rurais pedagógicas, uma comissão interminis-terial
reuniu‑se
no ano de 2001 e publicou uma
circular que define as estruturas e o papel das
propriedades rurais que desenvolvem atividades
pedagógicas, como também, os objetivos e os tipos
de públicos (Caffarelli et al., 2010).
Na Itália, no ano de 2000 foram averiguadas
273 propriedades rurais pedagógicas, destacando‑se
a região de Emilia‑Romagna.
Os objetivos
dos projetos desenvolvidos nesta região visam,
principalmente, reforçar a identidade local e
promover a valorização dos produtos alimentícios
típicos e as explorações agrícolas (Napoli, 2006).
Na Holanda, segundo Haubenhofer et al.
(2011), no ano de 2007 existiam em torno de 8.000
agricultores que ofereciam passeios educativos
para crianças em idade escolar. As atividades
envolvem o conhecimento sobre a produção de ali-mentos,
a observação e interação com os animais
da propriedade e a participação em atividades
relacionadas à rotina diária dos agricultores.
No Japão, segundo Ohe (2012), no ano 2000 foi
criado o programa educativo Dairy Farms, institu-ído
por uma organização nacional para produtores
de leite. O objetivo da proposta consistia em forne-cer
informações relacionadas à produção leiteira
possibilitando assim, a compreensão sobre o papel
desempenhado pela atividade leiteira na sociedade
e, consequentemente, favorecendo um olhar mais
educativo da pecuária leiteira. Neste processo, os
visitantes aprendem, a partir dessa experiências,
sobre a origem dos alimentos e a estreita ligação
entre o alimento e vida. De acordo com o autor, no
ano de 2009 havia 257 propriedades com adesão
ao programa e o número de visitantes equivalia
a mais de 880 mil, evidenciando a formação de
mercado efetivo e a oportunidade para um novo
papel social que os produtores de leite podem
desempenhar na sociedade.
Diante do exposto, observa‑se
que o turismo
rural pedagógico compreende uma atividade
com múltiplas possibilidades, que perpassa por
diferentes áreas do conhecimento, favorecendo
o desenvolvimento rural e o reconhecimento de
novas práticas desenvolvidas nas propriedades
rurais, emergindo como uma ferramenta eficaz de
ensino que possibilita às novas gerações conhecer
um mundo diferente do seu, qual seja, o meio
rural.
3. Procedimentos metodológicos
O estudo realizado utilizou como universo em-pírico
as propriedades que integram o projeto de
turismo pedagógico “Viva Ciranda”, desenvolvido
no município de Joinville, no Estado de Santa
Catarina e propriedades que desenvolvem ativi-dades
de caráter educativo, inseridas no roteiro
“Caminhos Rurais” da zona sul do município
de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, ambos
situados na região sul do Brasil.
O roteiro “Caminhos Rurais” de Porto Ale-gre
compreende uma proposta de turismo rural
desenvolvida nas áreas rurais da zona sul do
município de Porto Alegre, capital do Estado do
Rio Grande do Sul. Com cerca de 1,5 milhões de
habitantes, Porto Alegre é considerada a segunda
capital brasileira com maior área rural, com
aproximadamente 30% do seu território definido
como espaço rural (IBGE, 2010).
O Projeto “Viva Ciranda” compreende uma
proposta de turismo pedagógico que vem sendo
desenvolvida no município de Joinville, localizado
na região nordeste do Estado de Santa Catarina,
no sul do Brasil. O município abrange uma área
total de 1.147 km², com uma população de 515.220
mil habitantes (IBGE, 2010). Para mais bem
evidenciar a localização dos dois municípios onde
foram realizadas as coletas de informações da
pesquisa apresentam‑se
os mesmos na figura 1.
No que concerne aos procedimentos metodoló-gicos
adotados, utilizou‑se
a pesquisa bibliográ-fica
acerca da temática estudada, a observação
sistemática não participante2 das atividades
propostas e a realização de entrevistas semi‑estruturadas,
com 11 proprietários rurais, donos
dos empreendimentos que oferecem atividades
educativas para grupos escolares, sendo 6 pro-prietários
que integram o projeto Viva Ciranda
e 5 que fazem parte do Roteiro Caminhos Rurais
de Porto Alegre. Também foram entrevistadas
22 professoras, responsáveis pelas turmas de
alunos que visitaram estas propriedades entre os
meses de setembro a novembro de 2011. Ressalta‑se
que todas as entrevistas foram gravadas e
posteriormente transcritas. Vale destacar que
não foi utilizado software específico a fim de
proceder a elaboração de categorias de análise.
Durante a realização das entrevistas procedeu‑se
a observação sistemática não participante. Ao
final do dia e durante uma visita acompanhando
os visitantes (escolares) as observações eram
anotadas em forma de um diário resumido. Além
desses procedimentos, também foram realizadas
entrevistas não estruturadas com dois técnicos
responsáveis pela elaboração e desenvolvimento
do “Projeto Viva Ciranda” e com a presidente da
COODESTUR ‑
Cooperativa de Desenvolvimento
e Formação do Produto Turístico, que prestava
serviços ao Roteiro “Caminhos Rurais” de Porto
Alegre.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 12 N° 3. Special Issue. Mayo 2014 ISSN 1695-7121
586 Turismo rural pedagógico sob a perspectiva da multifuncionalidade da agricultura…
4. Resultados e discussões
4.1. Turismo rural pedagógico no Roteiro
“Caminhos Rurais de Porto Alegre”
O roteiro “Caminhos Rurais” foi se constituindo
aos poucos, ao longo dos anos, tendo como ponto
de partida a realização de um diagnóstico do meio
rural de Porto Alegre no ano de 1994, o qual apon-tava
a existência de inúmeras riquezas naturais,
culturais e históricas presentes nas construções, nos
costumes e tradições preservadas e um significativo
potencial a ser explorado, por meio de serviços
e atividades voltadas para o lazer e o turismo.
Tais constatações evidenciaram, por conseguinte,
a necessidade de formulação e implementação
de políticas públicas específicas que pudessem
contribuir para a ordenação do uso dos espaços
rurais (Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1994).
Posteriormente, em 1999, novas pesquisas foram
realizadas por um grupo de acadêmicos estudantes
do curso de Turismo da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (Rodrigues, 2011).
A realização dessas pesquisas contribuiu para a
elaboração dos primeiros roteiros turísticos nas
áreas rurais de Porto Alegre, com a divulgação de
suas belezas naturais e históricas.
Nos anos seguintes, as iniciativas continuaram,
porém sem um roteiro formalizado. Somente no
ano de 2005, a Secretaria Municipal do Turismo
de Porto Alegre, em parceria com a Associação
Rio‑grandense
de Empreendimentos de Assistência
Técnica e Extensão Rural (EMATER) e o Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), no in-tuito
de estimular essas potencialidades, passaram
a auxiliar os agricultores familiares indicando os
melhores locais de suas propriedades que poderiam
ser mostrados aos turistas em virtude da impor-tância
cultural ou beleza natural existente. Nesse
mesmo período, realizou‑se
uma pesquisa entre as
propriedades localizadas na zona rural de Porto
Alegre, selecionando aquelas que apresentavam
alguma prática rural ou o interesse em desenvolver
atividades turísticas. A partir da identificação
dessas propriedades interessadas na realização
da atividade do turismo rural, foi criado então o
Figura 1. Localização dos municípios
de Porto Alegre ‑RS
e Joinville –SC, Brasil.
Fonte: Base cartográfica do IBGE.
Elaboração: Pires, F. S.
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Angela Luciane Klein, Marcelino de Souza 587
Quadro 1. Propriedades rurais que integram o “Roteiro Caminhos Rurais” de Porto Alegre,
atividades produtivas e educativas, conteúdos e objetivos voltadas para os grupos escolares.
Nomes das
propriedades
Atividades
produtivas
desenvolvidas
Atividades
educativas
propostas
Conteúdos
contemplados
durante as
atividades
Objetivos do roteiro
proposto
Sítio Recanto
das Pedras
Produção
agroecológica, com
cultivo de plantas
medicinais, hortaliças
e pomar de árvores
frutíferas.
Visitação aos espaços
onde estão os animais.
Visitação à horta
pedagógica.
Oficina de alimentação
saudável
Características dos
animais: semelhanças
e diferenças.
Identificação de tipos
e propriedades das
plantas medicinais e
hortaliças; estímulo
das percepções;
produção orgânica.
Origem dos alimentos;
noções de massa e
quantidade; preparo
e degustação de
alimentos; noções
de higiene pessoal e
hábitos alimentares.
Incentivar as crianças
para que tenham uma
alimentação mais
saudável.
Promover o resgate da
cultura rural.
Granja
Santantonio
Produção agroecológica
de hortaliças.
Criação de animais
para consumo.
Visitação às áreas de
cultivo de hortaliças.
Passeio de trator.
Características e
importância da
produção agroecológica:
preparo e manejo
da terra, sistema de
irrigação, tipos de
culturas produzidas;
importância do
consumo de produtos
orgânicos.
Impactos ambientais
da agricultura
convencional;
benefícios da produção
agroecológica;
regras para se
tornar um agricultor
agroecológico.
Mostrar aos grupos
escolares aspectos que
caracterizam o modo de
produção agroecológica.
Possibilitar às crianças
que conheçam o
trabalho do agricultor,
seus costumes e
tradições.
Sítio do Mato
Cultivo de frutas e
hortaliças, além da
criação de pequenos
animais.
Trilha ecológica.
Visitação ao estábulo e
ao curral.
Visita aos canteiros da
pequena horta.
Identificação de
diferentes espécies de
plantas; preservação
das matas e dos
recursos hídricos; tipos
de animais e pássaros
nativos do local;
qualidade do ar.
Características de
alguns animais,
hábitos alimentares e
comportamento.
Identificação de
diferentes espécies
de hortaliças e ervas
medicinais.
Oportunizar as
crianças em idade
escolar vivências no
meio rural, sobretudo
para aquelas que
vivem nos centros
urbanos, sem qualquer
contato com os
animais, as plantas e
a terra.
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588 Turismo rural pedagógico sob a perspectiva da multifuncionalidade da agricultura…
roteiro turístico “Caminhos Rurais” de Porto Alegre
(Souza e Elesbão, 2009).
Em 2007, o roteiro que inicialmente abrangia 30
empreendimentos, foi ampliado e passou a contar
com 41 atrativos turísticos (COODESTUR, 2008).
No ano seguinte, a aprovação junto ao Ministério do
Turismo (MTUR) do projeto de apoio a iniciativas
de turismo de base comunitária, elaborado pela
Cooperativa de Formação e Desenvolvimento do
Produto Turístico (COODESTUR) em parceria com
a Associação Porto Alegre Rural (POARURAL) e
apoio da Prefeitura Municipal de Porto Alegre
(PMPA), possibilitou a reorganização do referido
roteiro, com a realização de um novo diagnóstico,
cursos de capacitação, consultoria para as proprie-dades
e material promocional. No ano de 2010, o
projeto foi ampliado, recebendo uma verba para
serem investidos na divulgação e promoção do
roteiro e na qualificação dos empreendedores3.
Atualmente, de acordo com o relatório elaborado
pela Secretaria Municipal de Turismo de Porto
Alegre, o roteiro “Caminhos Rurais” abrange 31
empreendimentos oferecendo opções de lazer, gas-tronomia,
hospedagem e experiências relacionadas
à rotina de vida rural e que está distribuído em
onze bairros4 localizados na zona sul de Porto
Alegre (Rodrigues, 2011).
Dentro desse quadro de empreendimentos,
encontram‑se
algumas propriedades rurais que
também desenvolvem atividades de caráter edu-cativo
e recreativo voltadas especificamente para
grupos escolares5 e que, por apresentarem tais
características foram objetos desta pesquisa.
As cinco propriedades analisadas, apesar de
apresentarem trajetórias distintas, no que concerne
à prática do turismo rural pedagógico, apresentam
roteiros com atividades semelhantes e propósitos
que caminham para a mesma direção, qual seja,
valorizar a cultura rural a partir da apresentação
das atividades produtivas, dos saberes e fazeres
rurais e das tradições preservadas pela família,
conforme se pode observar no Quadro 1.
4.2. Turismo rural pedagógico no Projeto
Viva Ciranda
Oficialmente inaugurado em março de 2011, o
referido projeto começou a ser idealizado ainda no
ano de 2010 por uma equipe de profissionais da
Fundação de Promoção e Planejamento Turístico de
Quadro 1. Propriedades rurais que integram o “Roteiro Caminhos Rurais” de Porto
Alegre, atividades produtivas e educativas, conteúdos e objetivos voltadas para os grupos
escolares (continuação).
Sítio dos
Herdeiros
Produção agroecológica
de frutas e hortaliças.
Criação de pequenos
animais.
Visitação ao pomar de
ameixas.
Visitação à horta.
Visitação aos espaços
onde estão os pequenos
animais.
Técnicas de cultivo,
cuidados e colheita.
Tipos de culturas
produzidas; preparo
e manejo da terra;
plantio; cuidados
básicos para o plantio e
a colheita.
Observação e contato
com diferentes espécies
de animais.
Mostrar o trabalho do
agricultor no seu dia
a dia.
Sítio do Tio Juca
Produção agroecológica
de frutas e hortaliças
para comercialização
em feira agroecológica.
Visitação às áreas de
cultivo de hortaliças e
frutíferas.
Roda de discussões.
Características da
produção agroecológica;
tipos culturas
produzidas; épocas
de plantio; aspectos
do composto vegetal
utilizado como adubo
nas plantações.
Características da
propriedade; história
de vida do produtor;
diferenças entre
sistema de produção
agroecológico e
convencional.
Mostrar às crianças
a forma de produção
agroecológica e o
trabalho do produtor
rural.
Fonte: Pesquisa de campo (2011).
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 12 N° 3. Special Issue. Mayo 2014 ISSN 1695-7121
Angela Luciane Klein, Marcelino de Souza 589
Quadro 2. Propriedades rurais que integram o projeto “Viva Ciranda” de Joinville, ativi-dades
produtivas e educativas, conteúdos e objetivos voltados para os grupos escolares.
Nomes das
propriedades
Atividades
produtivas
desenvolvidas
Atividades
educativas
propostas
Conteúdos
contemplados
durante as
atividades
Objetivo do roteiro
proposto
Agrícola da Ilha Cultivo de flores e
plantas ornamentais.
Visitação ao jardim dos
Hemerocallis.
Visitação ao jardim dos
sentidos.
Lago dos peixes
ornamentais.
Trilha ecológica.
Variedades de plantas
e flores; partes das
flores; floração; fases
do plantio; processo de
reprodução, e formação
de novas variedades.
Desenvolvimento dos
sentidos por meio de
atividades sensoriais e
lúdicas.
Cuidados com a água,
coloração dos peixes,
alimentação, origem
dos peixes.
Tipo de vegetação;
preservação
da natureza;
clima, captação e
armazenamento de
água da chuva.
Mostrar às crianças
a importância das
plantas para a vida
delas, para o meio
ambiente.
Explicar o processo de
produção e cultivo de
flores.
Propriedade
da Família
Schroeder
Produção agroecológica
de hortifrutigranjeiros.
Criação de coelhos.
Produção de leite de
cabra e de vaca.
Visitação à horta
orgânica; ao pomar e
jardim.
Atividades de interação
com pequenos animais.
Forma de produção
orgânica; tipos de
culturas produzidas;
identificação de
espécies de plantas
medicinais e árvores
frutíferas.
Características dos
animais; cuidados
necessários com os
animais; estímulo às
sensações através do
contato direto.
Apresentar o dia a
dia dos agricultores,
as atividades
agrícolas e pecuárias
desenvolvidas.
Sítio Vale das
Nascentes
Produção de frutas.
Cultivo de hortaliças.
Atividade lúdica:
identificação dos sons
de diferentes pássaros
produzidos por apitos.
Visita à casa de pedra.
Observação dos
animais existentes.
Oportunidade de
alimentar as aves
domésticas e peixes.
Visita às nascentes.
Características
dos pássaros
predominantes na
região; importância das
aves na preservação
das matas.
Lixo urbano e
poluição do meio
ambiente; reciclagem
e reaproveitamento;
preservação da
natureza.
Observação e interação
com aves domésticas e
peixes.
Estímulo das
percepções; observação
de nascentes;
importância da água
para a vida; qualidade
do ar.
Promover a
educação ambiental,
especialmente com
relação aos recursos
hídricos.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 12 N° 3. Special Issue. Mayo 2014 ISSN 1695-7121
590 Turismo rural pedagógico sob a perspectiva da multifuncionalidade da agricultura…
Joinville (PROMOTUR) que, percebendo o cenário
favorável existente na região, não somente em relação
aos atrativos naturais e culturais, mas, sobretudo,
pelo público potencial presente6, decidiu investir
e elaborar uma proposta envolvendo propriedades
rurais e escolas.
A primeira dessas etapas consistiu na seleção das
propriedades7. Como a equipe em questão já possuía
um conhecimento mais aprofundado das áreas rurais
do município de Joinville foi diretamente às proprie-dades
que apresentavam potenciais ou que já tinham
alguma experiência de turismo rural pedagógico, isto
é, que não precisariam de grandes investimentos
e que tivessem interesse em inserir‑se
no projeto.
Nesse sentido, visando elaborar um roteiro que não
suscitasse concorrência interna entre os participantes,
onde cada um tivesse seu foco, mapearam‑se
estas
propriedades, buscando ofertar diferentes atividades.
Propriedade do
Senhor Ango
Kersten
Produção de cana‑de‑açúcar
e melado.
Cultivo de produtos
agrícolas.
Produção leiteira.
Passeio de trator pela
propriedade.
Observação do sistema
de tratamento de água
feito com raízes de
junco.
Visitação ao museu
rural.
Visita ao curral aos
pequenos animais e
aves que vivem na
propriedade.
Identificação de
diferentes espécies
de árvores; Histórico
da produção e manejo
da cana‑de‑açúcar
e
derivados.
Conhecimento do
sistema utilizado
no tratamento e
reutilização de água
para consumo.
Cultura e tradição a
partir da identificação
de diferentes objetos
antigos.
Observação de animais
com diferentes
características.
Vivenciar diferentes
experiências em
contato com a produção
agrícola, o meio
ambiente e a cultura
do mundo rural.
Apiário PFAU
Produção de mel, de
hortaliças e tubérculos.
Criação de vacas
leiteiras e galinhas
caipiras.
Apresentação do
mundo das abelhas.
Atividades lúdicas
de identificação das
abelhas.
Caminhada até o Rio
da Prata.
Características e
importância das
abelhas; processo de
produção do mel e
seus benefícios para
a saúde; derivados
do mel; a vida do
apicultor.
Identificação das
abelhas e colméias de
acordo com as imagens;
atenção e observação.
A importância da
água e das flores na
produção do mel;
a preservação dos
recursos hídricos.
Destacar o importante
papel desempenhado
por esses insetos no
equilíbrio da natureza.
CTG Chaparrral
Pecuária,
especialmente
bovinocultura e
eqüinocultura;
Produção de arroz.
Apresentação do cavalo
crioulo e de suas
características.
Atividade de laço e
montaria.
Passeio de charrete
pela propriedade.
Características, hábitos
e comportamentos do
cavalo crioulo.
Coordenação motora;
equilíbrio, atenção;
superação de limites
pessoais.
Observação de potros
e éguas; interação
grupal.
Promover uma
compreensão mais
aprofundada acerca
da criação e doma dos
cavalos.
Fonte: Pesquisa de campo (2011)
Quadro 2. Propriedades rurais que integram o projeto “Viva Ciranda” de Joinville, atividades
produtivas e educativas, conteúdos e objetivos voltados para os grupos escolares (continuação).
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 12 N° 3. Special Issue. Mayo 2014 ISSN 1695-7121
Angela Luciane Klein, Marcelino de Souza 591
A segunda etapa compreendeu a realização do
diagnóstico das propriedades, objetivando conhecer
as características físicas e estruturais das mesmas e o
perfil dos proprietários. Pretendeu‑se
ainda, apresen-tar
e explicar o projeto para estas famílias, buscando
despertar o interesse e motivá‑los
a participar de um
teste‑piloto.
Alguns aceitaram o desafio, outrosnão
foram aceitos por não apresentarem uma estrutura
física segura e adequada no momento. Este é um
aspecto importante, pois segundo D’Agostinho (2008)
a organização e a segurança da propriedade é um
dos elementos de sucesso no desenvolvimento desta
atividade. Mas, a partir desse grupo de interessados e
com estruturas adequadas, formou‑se
um roteiro com
seis propriedades, divididas em temas‑chave
– água
e meio ambiente, flores, pequenos animais, cavalos,
produção de mel e melado.
Na terceira etapa, contratou‑se
uma pedagoga
que visitou as propriedades, conversou com os pro-prietários
e, a partir dos recursos identificados em
cada uma delas, desenvolveu em conjunto com os
mesmos entre duas a três atividades para cada uma
delas. Feito isso, conseguiu‑se
então estabelecer uma
parceria com a Secretaria da Educação do município,
que disponibilizou um ônibus e selecionou uma escola
para a realização do teste‑piloto
no segundo semestre
de 2010. Posteriormente, uma pedagoga efetiva foi
cedida pela Secretaria para trabalhar exclusivamente
no projeto.
Com esse teste, conseguiram‑se
fotos e materiais
para elaborar uma cartilha e incrementar uma pro-posta
maior que foi apresentada ao Ministério do
Turismo em Brasília em dezembro de 2010, e cuja
aprovação ocorreu no mesmo mês. O referido órgão
governamental disponibilizou 168 mil reais para
a execução do projeto, o que permitiu subsidiar 55
visitas às propriedades, material de divulgação e
cursos de capacitação, estruturadas em 4 oficinas:
uma oficina direcionada para a organização da pro-priedade,
duas oficinas com enfoque nos recursos
naturais e meio ambiente e a quarta oficina enfocando
nas atividades lúdicas e pedagógicas para serem
desenvolvidas na propriedade.
Dentro das capacitações, foram realizadas ainda
duas visitas técnicas, sendo uma para a cidade de
Urubici, localizada na Serra Catarinense, onde o
grupo teve a oportunidade de conhecer um conjunto
de propriedades de turismo rural estruturado e orga-nizado.
A segunda visita técnica compreendeu uma
viagem para a França com o objetivo de fazer com
que os agricultores tivessem uma vivência fora do
seu ambiente habitual, buscando com isso motivá‑los
e também, apresentar experiências bem sucedidas
de turismo rural pedagógico. Assim, dos seis pro-prietários,
3 foram contemplados com a viagem em
virtude de serem os únicos que possuíam a Declaração
de Aptidão ao PRONAF8, uma das exigências do
Ministério do Turismo.
Além disso, o projeto previu a possibilidade de
visitas de escolares sem o pagamento. 48 destas
visitas contemplavam as seis propriedades do pro-jeto
e 7 seriam realizadas nas “novas” propriedades
que seriam inseridas na proposta no ano de 2012.
Para tal, foram selecionadas 4 escolas municipais
localizadas em regiões com menor IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano) do município de Joinville.
Todas as 55 visitas foram monitoradas pela pedagoga,
no sentido de orientar e dar suporte às ações do
proprietário e dos professores responsáveis pelas
turmas. A realização destas visitas, como também a
confecção de material de divulgação e oferecimento
de treinamentos aos agricultores participantes foi
possível uma vez que o Ministério do Turismo dis-ponibilizou
recursos financeiros da ordem de 168 mil
reais para a execução do projeto.
Tais iniciativas promovidas em 2011, associada ao
interesse e envolvimento dos proprietários e a cons-tante
atuação da equipe da PROMOTUR junto aos
envolvidos, favoreceu a ampliação do projeto que, em
2012 passou a contar com mais 7 empreendimentos.
A repercussão emergiu em nível nacional, sobretu-do,
por meio da imprensa local e dos meios midiáticos,
que têm divulgado o sucesso do projeto “Viva Ciranda”
e os resultados decorrentes da prática do turismo
rural pedagógico no contexto escolar. A proposta
também despertou o interesse do meio acadêmico
e científico, tornando‑se
foco de diferentes estudos.
Um resumo das atividades produtivas e educa-tivas,
conteúdos contemplados durante o desenvol-vimento
das atividades e os objetivos propostos nas
propriedades estão apresentados no quadro 2.
Apesar de não se constituir em objetivo desta
pesquisa vale destacar um discurso direto de um
dos entrevistados do projeto que trata do impacto
da atividade nas propriedades:
“A gente não está visando a questão econômica,
mas sim pensando na questão social e fazer com que
a gente consiga ajudar a mudar gerações, no sentido
de fazer com que essas crianças nesse período de
aprendizado possam saber que esse setor existe,
que a questão de valorizar o plantio de uma árvore
é super importante, tanto no meio rural quanto no
meio urbano (entrevistado)”.
Para o proprietário, a finalidade, em certa medida,
não está nos ganhos financeiros provenientes da
recepção dos grupos, mas sim nas contribuições que
estas atividades podem trazer em termos sociais e
ambientais. Tais argumentações explicitam o caráter
multifuncional das atividades agrícolas e enfatizam
a função social desempenhada pelas propriedades
rurais na atual conjuntura. Ao mesmo tempo, se
fortalece a preocupação com o meio ambiente, assu-
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 12 N° 3. Special Issue. Mayo 2014 ISSN 1695-7121
592 Turismo rural pedagógico sob a perspectiva da multifuncionalidade da agricultura…
mindo papel de destaque nas ações dos agricultores
e proprietários rurais.
4.3. Especificidades e similaridades das pro-priedades
rurais analisadas e das atividades
propostas
A análise das informações coletadas evidencia
duas experiências diferenciadas, em estágios de
desenvolvimento bastante distintos no que concerne à
prática do turismo rural pedagógico. No caso do Pro-jeto
“Viva Ciranda”, no município de Joinville, desde
o princípio o foco central foi o turismo pedagógico e
todas as ações promovidas pelos sujeitos envolvidos
direcionaram‑se
para este aspecto.
Consequentemente, a questão do planejamento
passa a figurar como um dos pilares do projeto,
podendo ser identificado não apenas nos objetivos
estabelecidos pela equipe responsável, mas também,
nas etapas a serem cumpridas, na orientação aos
proprietários, no monitoramento constante das
atividades realizadas, na realização de cursos de
capacitação e encontros para discutir os pontos a
serem melhorados e na avaliação das atividades.
Até mesmo os proprietários que já desenvolviam
atividades com turmas de crianças, passaram a
desenvolver uma proposta com um enfoque mais
pedagógico e com uma estrutura mais organizada.
Já, no Roteiro “Caminhos Rurais” de Porto Alegre,
a ênfase maior concentrou‑se
na divulgação e pro-moção
dos empreendimentos turísticos. A iniciativa
em receber grupos escolares, desse modo, surgiu
individualmente, sem incentivos ou apoio externo e
sem orientação na elaboração das atividades peda-gógicas.
O roteiro foi sendo construído ao longo do
tempo, com os erros e acertos evidenciados em cada
nova situação. As experiências práticas, associadas
aos conhecimentos adquiridos ao longo da vida, a
chamada “sabedoria antiga” destacada por Tibiletti
(2002) foram e continuam sendo os principais elemen-tos
orientadores no desenvolvimento das atividades
com grupos escolares.
No que diz respeito às estratégias utilizadas pe-los
proprietários no desenvolvimento das referidas
atividades, observa‑se
que alguns apenas expõem
seus saberes, explicam os processos de produção e os
alunos ouvem e observam, porém, sem envolver‑se
de fato nas atividades. Seria o caso averiguado no
Sítio do Tio Juca. Outros seguem uma abordagem
mais sensorial, com a realização de várias atividades
práticas envolvendo os sentidos (tato, olfato, visão,
audição, paladar), a exemplo do Sítio Recanto das
Pedras e da Agrícola da Ilha. Há ainda aqueles que
apresentam um enfoque mais lúdico, com a realização
de diferentes atividades lúdicas e recreativas. Nesse
grupo, destacar‑se‑ia
o Sítio do Mato. No grupo maior,
estão aqueles que combinam uma fala inicial mais
expositiva seguido de atividades práticas envolvendo
o contato direto com a terra e os animais.
Ressalva‑se
que o fato de utilizar um ou outro en-foque
não significa necessariamente que as atividades
desenvolvidas na propriedade não apresentem as
demais características. Por serem atividades realiza-das
ao ar livre, que envolvem os recursos da natureza
como recurso didático, tendo como público alvo turmas
de diferentes faixas etárias, provenientes de distintos
contextos sócio‑culturais,
estas atividades são em
sua essência, dinâmicas. Isso porque a natureza
possui ciclos e mudanças de estações, assim como os
grupos são diversos, o que exige certa criatividade
e flexibilidade de quem desenvolve as atividades.
Apesar das diferenças identificadas entre uma
experiência e outra, e até mesmo entre uma proprie-dade
e outra, há um aspecto que permanece presente
em todos os roteiros propostos: são vivências que
possibilitam aos alunos o contato direto com o meio
rural e com a natureza, favorecendo a compreensão
em menor ou maior escala, de questões relacionadas
à origem dos alimentos, à vida animal e vegetal, aos
recursos hídricos e as formas de produção sustentá-veis,
a exemplo, da produção agroecológica.
Tais aspectos podem ser trabalhados nas diferentes
áreas do conhecimento, dentro de uma perspectiva
interdisciplinar integrando teoria e prática. Temas
como localização geográfica, diferenças entre rural
e urbano, tipos de solo, culturas de verão e de inver-no,
tipos de vegetação, cursos d’água, (Geografia);
características dos animais, em relação ao modo de
reprodução, alimentação, habitat, comportamentos
e importância para o meio ambiente; características
do processo de produção orgânico e alimentação
saudável (Ciências); tamanhos, quantidade, medidas,
diferenças e semelhanças (Matemática); história da
região, aspectos comparativos entre a agricultura
atual e de antigamente, modos de vida e costumes
de antigamente (História) são alguns dos conteúdos
possíveis de serem contemplados durante a reali-zação
das atividades educativas desenvolvidas nas
propriedades rurais analisadas.
Em face disso, a análise das atividades desen-volvidas
nas 11 propriedades rurais pesquisadas
evidenciou várias questões que favorecem um en-tendimento
mais aprofundado acerca da prática do
turismo rural pedagógico, a partir da identificação
de um conjunto de elementos relacionados a quatro
questões‑chave.
A primeira delas compreende a
ideia do “aprender‑fazendo”,
representada pelas
atividades práticas e experiências vivenciadas no
meio rural, junto à natureza, conforme destacado
por Gurrieri (2008). A segunda refere‑se
à educação
ambiental, evidenciada pelas explanações acerca da
preservação da flora, fauna e dos recursos hídricos,
do processo de produção agroecológico e dos cuidados
para com as plantas e os animais. A terceira questão,
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 12 N° 3. Special Issue. Mayo 2014 ISSN 1695-7121
Angela Luciane Klein, Marcelino de Souza 593
por sua vez, está associada à valorização da cultura
rural, isto é, ao dia a dia do agricultor, às atividades
agrícolas e pecuárias desenvolvidas na propriedade
e aos costumes e tradições das famílias rurais. E
por último, está a educação alimentar e nutricional
ressaltada nas discussões a respeito da origem
dos alimentos, dos benefícios de uma alimentação
saudável, do valor nutricional de certos alimentos
e das propriedades medicinais de algumas plantas,
aspecto muito bem reforçado por Canavari et al.
(2011) no desenvolvimento das atividades educativas
nas propriedades rurais.
Para além dessas questões, constatou‑se
ainda
que a prática do turismo rural pedagógico desen-volvida
no âmbito das propriedades favorece o
aprendizado das crianças e dos adolescentes devido
a possibilidade de “mergulharem” no mundo das
experiências, das brincadeiras ao ar livre, das trocas,
possibilitando assim, uma infância marcada não pelo
tempo cronológico, mas pelas experiências vividas.
O turismo rural pedagógico desenvolvido nas duas
experiências brasileiras pesquisadas emerge como
uma atividade inovadora que pode ser implantada
com poucos recursos, conforme enfatizou Ohe (2007),
possibilitando um novo olhar por parte dos citadinos
para as propriedades rurais envolvidas e para o meio
rural como um todo. Se a motivação inicial para
adesão implantação do turismo rural pedagógico
é de natureza financeira, após a implantação da
atividade esta motivação parece ceder lugar a outras
motivações como, por exemplo, o aumento das relações
interpessoais, a valorização da vida e da cultura rural,
do meio ambiente e de uma agricultura de caráter
mais sustentável.
5. Considerações finais
O turismo rural pedagógico compreende uma
atividade de caráter inovador que emerge num cenário
cujas transformações são constantes e intensas. As
mudanças sociais, políticas, econômicas, culturais,
ambientais e tecnológicas trazem à tona um cenário
profícuo, caracterizado pela busca de novas alter-nativas
de caráter sustentável e que favoreçam a
sociedade como um todo. Dentro dessa conjuntura, o
termo turismo rural pedagógico surge como um tema
de grande relevância, tanto no âmbito do desenvol-vimento
rural quanto na perspectiva da educação.
No âmbito do desenvolvimento rural o turismo rural
pedagógico situa‑se
numa perspectiva de pensar
o rural tomando em conta os seguintes aspectos:
a integração intersetorial, a maior diversificação
socioeconômica, as relações de complementariedades
e a valorização dos patrimônios cultural e natural.
Assim, embora ainda seja considerado um tema
pouco estudado, as experiências envolvendo a prática
do turismo rural pedagógico tem se consolidado e se
expandido em diferentes países, o que demonstra a
relevância desse tema no cenário atual.
Na pesquisa realizada nas propriedades que inte-gram
o Roteiro “Caminhos Rurais” de Porto Alegre
(RS) e o projeto “Viva Ciranda” (SC), foi possível
constatar esta importante função socioeducativa
desempenhada pelas atividades produtivas e espaços
rurais. Também evidenciou o papel das propriedades
rurais, que passam a figurar como importantes ferra-mentas
no desenvolvimento de valores relacionados
ao meio ambiente, à cultura rural e à convivência
social, aspecto este que vai ao encontro dos resultados
apontados nos estudos realizados em países como a
França, Itália, Noruega, Finlândia Holanda e Japão.
Nesse contexto, o caráter multifuncional da ati-vidade
agrícola e dos espaços rurais é fortalecido,
do mesmo modo que o trabalho do agricultor passa
a receber um novo olhar por parte dos citadinos,
sobretudo, das crianças que visitam as propriedades.
Questões como preservação da mata ciliar, dos solos,
dos recursos hídricos e a valorização dos costumes
e tradições característicos do meio rural começam
a receber uma atenção redobrada por parte dos
proprietários rurais. Essa reconexão, por sua vez,
favorece o resgate da identidade desses sujeitos como
seres comunitários, integrados ao meio sociocultural
em que vivem.
Conforme foi possível averiguar, a prática do
turismo rural pedagógico vislumbrado nas duas
experiências analisadas apresenta um conjunto de
características que possibilitam a elaboração de
um projeto escolar cujo alicerce poderia vir a ser a
realização constante de visitações ao meio rural, a
essas propriedades rurais pedagógicas.
Assim, além de contribuir para o processo de
aprendizagem, favorecendo o aprofundamento de
temas aprendidos em sala de aula e de possibilitar
o conhecimento de questões relacionadas ao meio
ambiente e alimentação saudável, a prática desse
tipo de atividade permite às crianças e adolescentes
experiências em contato direto com o meio natural
e rural, as quais raramente são vivenciadas no seu
cotidiano.
Todos esses elementos convergem para uma
conclusão, de que as experiências brasileiras en-volvendo
a prática do turismo rural pedagógico
no âmbito das propriedades rurais, assim como
as demais experiências desenvolvidas em outros
países, emergem como importantes ferramentas
para o ensino; como estratégia de desenvolvimento
econômico, permitindo aos proprietários rurais o
aumento da renda da família, agregando valor aos
produtos e serviços realizados em sua propriedade;
e por fim, como elemento chave no processo que
permita recuperar o valor atribuído aos alimentos
e sua relação com a cultura.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 12 N° 3. Special Issue. Mayo 2014 ISSN 1695-7121
594 Turismo rural pedagógico sob a perspectiva da multifuncionalidade da agricultura…
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Notas
1 Na França, por exemplo, utiliza‑se
a palavra fermes
pédagogiques; na Itália, fattorie didattiche; em Portugal,
quintas pedagógicas; e no Chile e Argentina, granjas
educativas. Na Noruega, o termo green care tem se
difundido de modo significativo nos últimos anos, assim
como a expressão the farm as a pedagogical resource. Nos
Estados Unidos utilizam‑se
as expressões farms‑to‑school
e/ou educational farms.
2 Segundo Cotanda et al. (2008: 79), trata‑se
de uma
“estratégia de construção de informações acerca de uma
realidade não mediada por materiais documentais ou
narrativas orais, como entrevistas, que visa a apreender
práticas e comportamentos no momento em que se
desenrolam”.
3 Informações concedidas pela senhora Aline Moraes
Cunha atual presidente da Cooperativa de Formação e
Desenvolvimento do Produto Turístico (COODESTUR).
Conforme a entrevistada, o primeiro orçamento liberado
pelo MTUR (2008‑2009)
foi de R$ 147.560,00 e o segundo
orçamento, concernente ao período de 2010‑2012
compreendeu um valor total de R$ 520.000,00.
4 Os bairros do município de Porto Alegre que fazem parte
do projeto Caminhos Rurais são: Belém Novo, Belém Velho,
Lami, Vila Nova, Restinga, Cascata, Ipanema, Lageado,
Hípica, Lomba do Pinheiro e Campo Novo.
5 Vale destacar que o efeito econômico desta atividade é
importante, mas de caráter complementar ao da atividade
agrícola. Apenas em um dos casos o rendimento da
atividade turística constitui‑se
na renda principal da
propriedade. Geralmente é cobrada uma taxa de visitação
per capita dos estudantes que se situa em torno de U$2,50.
6 De acordo com os dados do Censo Escolar de 2011, o
município de Joinville possui 20.357 crianças matriculadas
na Educação Infantil, sendo 10.908 em escolas municipais
e 9.449 em escolas particulares. No ensino fundamental da
1ª a 4ª série, existem 36.844 alunos matriculados (7.279
em escolas estaduais, 25.068 em escolas municipais e
4.497 em escolas particulares). Já nas séries finais do
ensino fundamental, da 5ª a 8ª série, há 32.024 alunos
matriculados (7.649 em escolas estaduais, 20.611 em
escolas municipais e 3.794 em escolas particulares) (INEP,
2011).
7 As informações relacionadas ao projeto “Viva Ciranda”
foram obtidas por meio de entrevistas semi estruturadas
realizadas com o coordenador do projeto, Vinicius Boneli
Vieira, e com a assessora técnica, Thaíse Costa Guzzatti.
8 Instrumento que identifica os agricultores aptos a
realizarem operações de crédito rural ao amparo do
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar – PRONAF.
Recibido: 04/11/2013
Reenviado: 29/01/2014
Aceptado: 11/02/2014
Sometido a evaluación por pares anónimos