© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Revista de Turismo y Patrimonio Cultural
PAS S
www.pasosonline.org
Vol. 12 N.º 1. págs. 145-158. 2014
Turismo Cultural -Religioso, Festa Católica
e Patrimônio em São Cristóvão -Sergipe -Brasil1
Ivan Rêgo Aragão*
Universidade Estadual de Santa Cruz (Brasil)
Resumo: Turismo, patrimônio cultural e religiosidade se revelam como elementos para a busca de uma
atividade vinculada ao lazer, educação, mas também para a produção e valorização de bens culturais e
suas manifestações. Nesse âmbito, o presente artigo objetiva analisar a Festa do Senhor dos Passos, des-crevendo
os seus valores históricos, culturais, turísticos, sociais e artísticos. A metodologia de pesquisa,
para apreensão dos elementos culturais que estão vinculados à festa religiosa, perpassou pela pesquisa
bibliográfica, documental e de campo. Ao final se constatou que com os elementos culturais que compõem
o arcabouço da celebração, o centro antigo da cidade onde se realiza a festa, tem potencial para promover
o turismo religioso católico no estado de Sergipe.
Palavras -chave: Turismo Cultural -Religioso; Bens Culturais; Religiosidade; Festa; Nosso Senhor dos
Passos; São Cristóvão -SE.
Religious Cultural Tourism, Catholic Festivity and Heritage in São Cristovão -Sergipe -Brazil
Abstract: Tourism, cultural heritage and religion are revealed as key elements to the pursuit of an acti-vity
linked to leisure, education, but also the production and recoverability of cultural property and its
manifestations. In this context, this article aims to analyze the Festival of Senhor dos Passos, describing
their historical, cultural, tourist, social and artistic values. The methodology for the seizure of cultural
elements that are linked to the religious festival, elapses through the literature, documentary and field.
At the end it was found that with the cultural elements that make up the framework of the celebration,
the historic centre where the festival takes place, has potential to promote the catholic religious tourism
in the State of Sergipe.
Keywords: Cultural -Religious Tourism, Cultural Heritage, Religiosity; Festival; Nosso Senhor dos Pas-sos;
São Cristóvão -SE.
* Mestre em Cultura e Turismo/Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC); Especializando em História e Cultura
do Brasil/Universidade Gama Filho (UGM); Bacharel em Turismo/Estácio/Faculdade de Sergipe (FaSe); Técnico em
Conservação de Bens Culturais Móveis e Integrados/Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP); Membro da Associação
Brasileira de História das Religiões (ABHR).; E -mail: ivan_culturaeturismo@hotmail.com
1. Introdução
Atualmente, o turismo desponta como um
conjunto de atividades para além dos fatores
vinculados ao lazer e a educação. O mesmo con-verge
para ações de preservação do patrimônio
cultural, resgate da memória e valorização das
manifestações culturais religiosas das socieda-des.
É nesse contexto que Pérez (2009:8) informa
que “o turismo como um fenômeno sociocultural
complexo não deve ser só medido estatistica-mente,
como também interpretado qualitativa-mente
na sua complexidade humana”.
Na análise qualitativa aspectos dos destinos
turísticos que se relacionam às praticas simbó-licas
e de representatividade cultural, demons-
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146 Turismo Cultural -Religioso …
tram o valor das tradições sociais de maneira
a respaldar os costumes singulares da comuni-dade.
Nesse âmbito, práticas de religiosidade,
saberes e ofícios são vistos como elemento cul-tural
da localidade. Esse arcabouço cultural
suscita que as pessoas alheias ao território onde
elas se manifestam se desloquem aos locais na
busca dos aspectos que permeiam a tradição, o
sagrado e o sobrenatural.
Quando se vincula as manifestações religio-sas
preexistentes e busca transformá -las em
atrativos, a atividade no campo do turismo reli-gioso
percebe nas festas e procissões, ambientes
potenciais para desenvolver produtos turísti-cos.
Nesse sentido, religiosidade e fé católicas
têm sido vista por parte dos órgãos oficiais do
turismo no mundo e no Brasil2 como locus de
atração de diversos grupos de pessoas para os
locais -sede.
Festas, procissões, rituais e santuários cató-licos
fazem parte da dimensão cultural, pois
atuam como momentos de significação e iden-tidade
sociocultural das populações residentes
e flutuantes. Eles fazem parte da cultura e dos
saberes locais, sendo designados de patrimônio
de fé e de culto.
Em São Cristóvão no estado de Sergipe na
região Nordeste do Brasil e há 26 km da capi-tal
Aracaju (Ilustração 1), acontece anualmente
à celebração ao Nosso Senhor dos Passos. Ela é
realizada sempre no segundo final de semana
após o Carnaval,3 no espaço do centro antigo da
sede municipal. Com elementos do catolicismo
barroco ibérico transferido para o Brasil, a refe-rida
festa é processional e penitencial com paga-mento
de promessas. Nos dois dias em que ela é
celebrada, os últimos momentos do calvário4 de
Cristo são rememorados através da imagem do
Senhor do Passos e das Dores de Nossa Senhora.
A festa atrai pessoas em romaria5 de vários
lugares do estado de Sergipe e do Nordeste do
Brasil.
A Festa do Senhor dos Passos em São Cristó-vão
possui em seu contexto, elementos culturais
materiais e imateriais imbricados que a torna
um evento vinculado à identidade cultural reli-giosa
da cidade, patrimônio de fé da sociedade
sergipana. Alguns desses elementos já são tom-bados
nos níveis estaduais, nacional e mundial,
enquanto que outros, embora não reconhecidos
pelo órgão oficial de salvaguarda do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional,6 são valorizados
pela comunidade pelos fatores da afetividade,
memória, dádiva, pertencimento e culto.
Dentre as várias dimensões que podem ser
analisadas no turismo cultural -religioso, o pre-sente
artigo direcionou para valores simbólicos
e conjuntos patrimoniais relacionados à Festa
do Senhor dos Passos. Dessa forma, o presente
artigo analisa o objeto de estudo descrevendo
os seus valores históricos, culturais, sociais,
turísticos e artísticos. A pesquisa se embasou
em leitura bibliográfica e documental para o
aporte teórico, visita de campo para observação
do objeto de estudo in loco, entrevistas e depoi-mentos
dos atores sociais responsáveis pela polí-tica
de conservação e promoção de alguns desses
bens patrimoniais.
O presente artigo partiu da discussão geral
para o caso particular: no primeiro subtópico se
discute a relevância do turismo religioso católico
para as sociedades ocidentais e alguns dos dife-rentes
significados de sua prática. Na segunda
parte foi elaborada uma descrição do objeto da
pesquisa. Na terceira fase, buscou -se demonstrar
os valores de alguns dos patrimônios culturais
imbricados na festa e, por fim, as considerações
finais.
2. Turismo Cultural e Festa Religiosa Cató-lica
O turismo como uma atividade contempo-rânea
e multifacetada coloca na pauta de suas
reflexões áreas agregadas ao fazer turístico. O
turismo pode ser visto sob diversas óticas quando
se alia a segmentos diferentes. Tornado o cará-ter
de uma atividade com múltiplas formas como
enfatiza Santana (2009), a cultura vinculada ao
turismo traduz a produção material e imaterial,
Ilustração 1. Figura do Mapa de Sergipe
Fonte: Adaptado da SEPLAN/SE (2011)
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sendo valorizada pelas sociedades. Um binômio
propulsor dos elementos que remetem ao per-tencimento
valorizado a partir do encontro entre
residentes e visitantes. Segundo Alfonso (2003)
a produção cultural abrange todos os aspectos
criativos dos seres humanos e que, portanto, a
cultura esta relacionada à igualdade entre as
pessoas e os processos de mudança que são ine-rentes
a todos. Para Barretto (2007), a cultura
e suas manifestações devem ser respeitadas e
valorizadas e o turismo pode ser trabalhado
como elemento agregador de preservação dos
aspectos culturais tradicionais do destino turís-tico.
De acordo com Pérez (2009), o turismo se
constitui em uma motivação psicológica uni-versal
na busca de sentido para a própria
vida relacionada a um ritual de passagem que
marca o tempo, separando o tempo de trabalho
do tempo de lazer. Nesse âmbito, as ativida-des
relacionadas ao turismo que abrangem os
aspectos socioculturais se inserem no contexto
da valorização das manifestações culturais
locais em todas as suas dimensões (eventos, fes-tas,
procissões, gastronomia, santuários, patri-mônio
em pedra e cal, costumes, danças dentre
outros). O turismo como atividade vinculada à
religiosidade se mescla aos aspectos das mani-festações
culturais do lugar, apontando para
a dimensão dos saberes e ofícios existentes
em uma dada região. Dessa forma, a dimen-são
do turismo cultural -religioso perpassa por
elementos da cultura do lugar e os transforma
em atrativos turísticos, tanto pela sua singu-laridade,
como pelo seu valor patrimonial e de
culto. Dentro da perspectiva do artigo que dis-cute
o turismo religioso como também cultural,
Dias (2003: 17), reflete que,
“O turismo religioso apresenta características
que coincidem com o turismo cultural, devido
à visita que ocorre num entorno considerado
como patrimônio cultural, os eventos religio-sos
constituem -se em expressões culturais de
determinados grupos sociais ou expressam
uma realidade histórico -cultural expressiva e
representativa de determinada região”.
Os destinos do segmento religioso são consi-derados
lugares de memória e afeto por parte
dos devotos, romeiros, peregrinos, penitentes,
moradores, turistas e observadores. Locais que,
embora em alguns casos distantes geografica-mente,
contribuem para o retorno periodica-mente
do praticante dessa forma de turismo.
Verifica -se um afluxo de pessoas para locais como
o santuário de Nossa Senhora Aparecida em São
Paulo, a cidade do Vaticano -Itália, o caminho de
Santiago de Compostela na Espanha, a cidade
de Fátima em Portugal, Lourdes na França e
Jerusalém no Oriente Médio. Segundo dados do
Vaticano são 200 milhões7 de pessoas que anual-mente,
fazem turismo religioso católico ao redor
do globo. No Brasil, em grandes cidades ou povo-ados
de médio e pequeno porte, constata -se a
devoção aos santos e padroeiros com sua procis-são
anual, igrejas, santuários e capelinhas, onde
atrai a população urbana e rural para o ritual de
adoração. Há uma infinidade de círculos locais
em torno de santuários e vilas que possuem seus
santos padroeiros (Steil, 2001).
Nas cinco regiões do território nacional, um
expressivo número de pessoas entre devotos,
turistas, fiéis e penitentes se desloca para Jua-zeiro
do Norte -Ce, terra do Padre Cícero; Nova
Trento -SC onde se encontra o Santuário de
Madre Paulina; Belém -Pa para a festa do Círio
de Nazaré. Despontam como locais potencial-mente
turísticos, cidades como Caicó -RN, com a
procissão dedicada a Nossa Senhora Sant’Ana,8
Bom Jesus da Lapa -Ba, com o santuário e festa
dedicado à Bom Jesus da Lapa, São Cristóvão-
-Se, com a festa ao Nosso Senhor dos Passos.
Além das festas e procisões, as devoções vin-culadas
à fé popular giram [...] “em torno do
culto aos santos, nos espaços dos santuários, das
capelinhas, dos oratórios” e são praticadas “por
romeiros e devotos, irmandades, beatos e benze-deiras”
(Camurça, 2006: 257).
O turismo religioso traz para o cerne da ques-tão
bens culturais valorizados como elementos
importantes para a educação, lazer, religiosi-dade
e construção da identidade na sociedade
contemporânea. De acordo com Houtart (1994),
as práticas simbólicas de cunho religioso são
necessárias, visto que, têm a função de fazer o
indivíduo sair da trivialidade da vida cotidiana,
e como consequência, estimular o reencontro
com o eu interior. Essa afirmativa é corroborada
por Trigo (2010), segundo o autor citado, a via-gem
antes de ser de cunho geográfico, cultural
ou social, é uma jornada do indivíduo consigo
mesmo, o que por si só se justifica como expe-riência
fundamental na vida das pessoas. Nesse
contexto o turismo religioso se enquadra nessa
concepção, visto que promove uma mudança/des-locamento
no entorno habitual do indivíduo em
buscar aspectos existenciais e de inclusão social.
Oliveira (2005: 339), também menciona a idéia
do turismo religioso como um retorno do indiví-duo
para dentro de si, “e por isso mesmo mar-cado
por um exercício de plena inversão: visitar
santuários (tradicionais ou profanos) significa
voltar ao lugar de identidade”.
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148 Turismo Cultural -Religioso …
Segundo estudos de Dias (2003), Brasil
(2008), o turismo religioso é um segmento do
turismo cultural, visto que ir a locais, santu-ários
e igrejas representativas para qualquer
religião, além dos aspectos dogmáticos, são
também uma forma de conhecimento cultural.
O turismo religioso formata -se pela atividade
ligada à busca e prática espiritual em espaços
e eventos segundo as religiões institucionaliza-das
[...] “tais como as de origem oriental, afro-
-brasileiras, espíritas, protestantes, católica,
compostas de doutrinas, hierarquias, estrutu-ras,
templos, rituais, e sacerdócio” (BRASIL,
2008: 19). Nesse sentido, o turismo religioso
como ramificação do turismo cultural, se pro-põe
a estimular o deslocamento de pessoas aos
locais de culto e peregrinação.
Nos estudos de Richards que debate o turismo
cultural, esse é visto em uma ampla abrangên-cia,
incluindo o fluxo de pessoas envolvidas como
o segmento religioso. O autor citado se refe-rencia
na OMT, para elaborar a idéia de que o
turismo cultural é um:
“[...] movimento de pessoas em busca de
motivações essencialmente culturais, tais
como excursões de estudo, teatralizações e
excursões culturais, viagens para festivais
e outros eventos culturais, visita a localida-des
e monumentos, viagens para estudar a
natureza, folclore ou arte e peregrinações”
(Richards, 2009: 26).
As pesquisas de alguns autores9 apontam
que, o segmento do turismo religioso está em
franco crescimento. No Brasil, esse tipo de seg-mento
se fortalece, na medida em que como país
com grande tradição religiosa existe sobrema-neira
uma demanda para o desenvolvimento
dessa prática. De acordo com Andrade (2002:
79), depois do turismo de férias e de negócios,
o segmento que mais está se desenvolvendo é o
turismo religioso, visto que,
“[...] além dos aspectos místicos e dogmáticos
– as religiões assumem o papel de agentes
culturais pelas manifestações de valores anti-gos,
de intervenção na sociedade atual e de
preservação no que diz respeito ao futuro dos
indivíduos e das sociedades”.
Para Camurça e Giovannini Júnior (2003:
239) a experiência do turista enquadrado em
um destino turístico que envolve os aspectos do
sagrado, o põe em “contato com uma tradição
religiosa – tanto na realização de uma experiên-cia
mística ou na falta desta – mas quase sem-pre
incorporando a noção de história e cultura,
expressas na idéia de ‘identidade nacional’.
De acordo com Martins e Leite (2006), as
celebrações de cunho sagrado dão instrumenta-ção
de identificar nesses eventos uma vivência
do religioso incorporado ao cultural, possibili-tando
muitas vezes, a recuperação da própria
identidade. Para Amaral (2000), Maluf (2001) e
Montes (1998) as celebrações religiosas católicas
de caráter devocional e de culto público, fazem
parte da vida dos brasileiros, sendo plausível
falar em uma “cultura da festa” no país. As
celebrações religiosas são momentos ápices que
servem para lembrar acontecimentos bíblicos
ou da hagiografia10 dos santos, renovando os
sentimentos de fé em favor do catolicismo. Visto
que, “toda religião tem sua história, ou seja,
uma memória religiosa feita de tradições que
remontam a acontecimentos distantes, frequen-temente
no passado, e que ocorreram em lugares
determinados” (Rosendhal, 1996: 35). No tocante
à festa no Brasil, se percebe uma multifuncio-nalidade
e polissemia inerente de um fenômeno
que se presta a assimilação de várias, culturas,
costumes e etnias.
3. Descrição do Objeto de Estudo
Sempre quinze dias após o carnaval, o cen-tro
antigo de São Cristóvão se transforma em
um “ponto fixo um Centro, para onde conver-gem
indivíduos atraídos para o rito de devoção”
(Eliade, 2008: 26). O ritual católico da festa se
inicia a partir da sexta feira á noite onde os
fiéis rezam o quarto Ofício da Paixão de Jesus
Cristo,11 seguido de uma missa. No sábado
durante todo o dia, devotos, romeiros, promes-seiros,
penitentes, observadores e turistas, come-çam
a chegar à cidade de São Cristóvão. Durante
o dia, é intenso o afluxo de devotos em direção
a Igreja do Carmo Menor onde se encontram as
imagens processionais do Senhor dos Passos e
Nossa Senhora das Dores.
Os devotos levam os seus ex -votos,12 como
materialização da graça alcançada, deixando no
museu anexo. Um grande número de promessei-ros
faz fila para passar em baixo das charolas
onde se encontram as imagens do Senhor dos
Passos e Nossa Senhora das Dores, alguns fiéis
acendem velas, amarram fitas nos braços.
A noite logo após a missa campal, é realizada
a Procissão do Depósito com cânticos ligados aos
passos da Paixão. São paradas realizadas sem-pre
em pontos estabelecidos e mantidos segundo
a tradição da festa. Em Salvador no século XVIII
a procissão do Senhor dos Passos também seguia
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tradicional parada em pontos representando
Passos ou Estações. O cortejo sai da Igreja do
Carmo Menor seguindo pela Rua Pereira Lobo e
dobrando à esquerda pela Praça Getúlio Vargas,
até a Igreja Matriz Nossa Senhora da Vitória
para o recolhimento da imagem. Na primeira
procissão, a imagem de Nosso Senhor dos Pas-sos,
é levada dentro de uma armação de madeira
encoberta pelo encerro,13 onde permanece até o
domingo à tarde para a Procissão do Encontro.
A Procissão do Encontro no domingo (Ilus-tração
2) é o momento mais aguardado da festa.
É visível o registro de teatralização, emoção e
fervor religioso, com pessoas batendo palmas,
e chorando no encontro das imagens de Nosso
Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores.
Essa procissão tem dois cortejos: um que segue
a imagem de Jesus carregando a cruz, saindo
da Igreja Matriz Nossa Senhora da Vitória,
seguindo pela Praça Getúlio Vargas, Rua Frei
Santa Cecília, indo até a Praça São Francisco,
nesse percurso são cantados três Passos. Outro
cortejo sai da Igreja do Carmo Menor acompa-nhando
a imagem de Nossa Senhora das Dores
em direção à mesma praça. Nesse segundo cor-tejo,
a procissão passa pelas ruas Pereira Lobo,
João Bebe Água e Leão Magno, até chegar a
Praça São Francisco. Ao se encontrarem a ima-gens
são aplaudias e louvadas.
Pessoas querem tocar na cruz do Senhor dos
Passos, e assim como acontece na procissão da
noite anterior, os devotos tiram as túnicas e
jogam para a imagem, sendo recolhidas por pes-soas
da paróquia. Após o Sermão do Encontro
realizado pelo Arcebispo de Aracaju, a Verônica14
sobe no pequeno púlpito e canta o seu lamento:
“O vos omnes qui transitis per viam: atten‑dite
et videte si est dolor sicut dolor meus. O
vos omnes qui transitis per viam, attendite et
videtnte: Si est dolor similis sicut dolor meus.
V. Attendite, universi populi, et videte dolorem
meum. Si est dolor similis sicut dolor meus”.15
Ao finalizar o seu canto, a Verônica se posta
entre as duas imagens para seguir em um ter-ceiro
cortejo fazendo um percurso divergente dos
anteriores, serpenteando pelas ruas do centro
antigo da cidade. Durante o trajeto são cantados
sete Passos e, em seguida, as duas imagens sãqo
levadas a Igreja do Carmo Menor para serem
recolhidas. No final é realizada uma missa cam-pal
para o encerramento da celebração.
4. Alguns Elementos Culturais Tangíveis
e Intangíveis que Compõem a Festa do
Senhor dos Passos em Sergipe
4.1. O Museu do Ex -voto
Em consequência da celebração centenária e
milagres atribuídos ao Senhor dos Passos, ano
após ano, devotos, promesseiros e penitentes
levam objetos relativos às curas alcançadas.
Desse modo, surgiu espontaneamente na Igreja
Conventual do Carmo, o Museu do Ex -voto. O
citado museu foi inaugurado no claustro da
Igreja conventual do Carmo no dia primeiro de
janeiro de 1990, ano que se iniciou a comemora-ção
dos 400 anos da cidade (Santos, 2004).
O Museu do Ex -voto16 despontou pela neces-sidade
de guardar objetos de graças alcançadas
em favor do Senhor dos Passos. Tornou -se ponto
de atração não só de devotos que vão fazer a
desobriga,17 mas como mais um espaço museal
da cidade. Assim como o Museu Histórico de
Sergipe e o Museu de Arte Sacra – ambos no
perímetro antigo – o Museu do Ex -voto, atrai
visitantes, pesquisadores, turistas e curiosos.
É grande o afluxo de pessoas que visitam este
espaço na festa de Jesus rememorando a Via
Crucis.18
“Em São Cristóvão a festa de Nosso Senhor
dos Passos atrai multidões de fiéis ao santuá-rio
dos ex -votos, onde uma grande variedade
Ilustração 2. Procissão do Encontro na
Praça São Francisco
Foto: Ivan Rêgo Aragão (2011)
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150 Turismo Cultural -Religioso …
de tipos e de formas ajuda a compreender a
extensão do costume devocional, resquício de
um certo ideal de vida santa, predominante
da Idade Média” (Barreto, 2006: 44).
Como contou em entrevista a Srª. Lúcia
Pereira,19 o Museu do Ex -voto passou por
mudanças em sua localização, espaço e expo-sição
das peças. Foram priorizadas ações de
reorganização, desmonte, conservação, registro
fotográfico e catalogação do acervo.20 O museu
ficou fechado por um ano, e voltou a funcionar
em uma sala anexa da Igreja do Carmo Menor,
sendo reaberto na edição da festa de 2008.
De acordo com Pereira (2003: 69), “o primeiro
lugar que o devoto visita, depois de ver o santo,
é a sala dos milagres. Ali estão os dados concre-tos
que o santo é eficiente, poderoso, milagreiro
ou qualquer outro adjetivo que reforce a repro-dução
da crença”. Essa constatação atesta a fala
da entrevistada Srª. Lúcia Pereira ao mencio-nar
que [...] “a quantidade de peças do acervo
do museu atesta aos devotos que o Senhor dos
Passos é milagreiro [...] essa é uma forma de
reconhecimento pela qual os devotos querem
mostrar publicamente [...].21 Através da pesquisa
bibliográfica, se verificou que quase sempre, as
festas em favor à devoção ao santo/padroeiro que
concede cura/milagre, os agentes organizacionais
criam um local – próximo à imagem ou lugar dos
milagres – para o recebimento dos ex -votos. As
salas dos milagres ou museus dos ex -votos são
de suma importância, pois ao guardar objetos de
graças alcançadas, tornam -se locais de registro
material do poder do santo padroeiro.
4.2. As Igrejas e Praças do Circuito da Festa
Como espaço onde são guardadas as imagens
processionais – durante o ano e na festa – o Con-junto
Carmelita (Igreja Conventual do Carmo
Maior e Carmo Menor) e a Igreja Matriz apre-sentam
ao devoto todo o microcosmo sagrado
de equilíbrio e realidade religiosa. O conjunto
carmelita foi edificado ainda quando o Brasil
era colônia de Portugal. Segundo alguns auto-res,
22 a igreja inicial também conhecida como
Carmo Maior, foi ampliada a partir da capela
primitiva em 1739 tendo como mestre o frei
Antônio de Santa Eufrásia Barbosa (Carvalho,
1989), (Orazem, 2006). O altar da igreja possui
o estilo neoclássico e foi construído após a igreja.
O convento existe desde o final do século XVII,
e de acordo com Carvalho (1989), foi reedificado
entre 1755 e 1763 pelo frei José Ângelo Teixeira.
Possui claustro térreo e colunas no mesmo estilo
dos conventos franciscanos. Em 1874 funcionou
o Liceu de São Cristóvão e já no século XX, o
convento foi reformado para funcionar o Colégio
Imaculada Conceição. Em 1924 foi criado o novi-ciado,
onde a Beata Dulce dos Pobres estudou e
recebeu seu hábito.23
O conjunto carmelita é o os espaço sagrado
por excelência, onde através dos ritos, ações e
condutas se vive a sacralidade em sua maior
intensidade. São os locais onde se fazem mais
presente, o controle e organização da Igreja. Na
análise de Rosendhal (1996) é nesse controle de
pessoas e coisas que muitas vezes que a religião
se estrutura, criando os seus territórios. Essa
constante doação que impregna a filosofia de
vida dos irmãos carmelitas está vinculada ao
esforço da igreja participar enquanto instituição
eclesiástica benevolente. Segundo Mauss (2008),
o dar e receber e retribuir – que nem sempre
envolve trocas materiais – se reveste de uma
relação onde a dádiva torna -se fator de aliança
entre as partes. As ações dos carmelitas são
uma forma da Igreja Católica esta próxima dos
seus fiéis, orientando as pessoas para a liturgia,
sacramento e ritos.
Com a devoção ao Senhor dos Passos, a antiga
Capela da Ordem Terceira do Carmo (Carmo
Menor), passou a ser popularmente conhecida
como a Igreja do Senhor do Passos. No Inventá-rio
de Bens Móveis e Integrados realizado pela
Superintendência do IPHAN em Sergipe, está
documentado que a edificação foi construída em
1745. É um monumento tombado inscrito no
Livro de Belas Artes,24 volume I, folhas 60, 279A
e no Livro Histórico, volume I, folhas 35, 212
ambos no ano de 1943 (Brasil, 2001).
Na análise de Orazem (2006), os elementos
artísticos da fachada – fitomórficos, concheados
e volutas25 – destaca o estilo Rococó na cons-trução
da Igreja Conventual do Carmo Maior.
Segundo a autora citada,
“Supõe -se que a igreja da Ordem Terceira
– denominada de Nosso Senhor dos Passos
ou Carmo Menor – foi construída posterior-mente,
mais ou menos nessa segunda época
(segundo quartel do século XVIII), isso por-que
era habitual acontecer, já que as irman-dades
estabeleciam -se após a autorização dos
clérigos e também porque suas características
mais recentes” (Orazem, 2006: 42).
As figuras da concha e volutas confecciona-das
em pedra calcária estão presentes no coro-amento
da portada. Faz parte do conjunto da
entrada, a imagem de Nossa Senhora do Carmo
e o símbolo do Monte Carmelo, ambos esculpidos
com o mesmo material. Os seis retábulos late-
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rais em estilo Rococó e sem policromia, emol-duram
as esculturas do Senhor da Pedra Fria,
Senhor da Coluna, Santa Tereza D’Ávila, São
Simão Stock, bem como uma pequena imagem
de vestir de Nossa Senhora do Bom Sucesso. É
na Igreja do Carmo Menor que as imagens do
Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores
ficam guardadas, onde passam o ano entronadas
respectivamente, no altar -mor e lateral. A ima-gem
de roca do Senhor dos Passos permanece
localizada na parte mais elevada do altar mor
dentro de um nicho, no entanto, a escultura de
Nossa Senhora fica localizada no primeiro altar
lateral à esquerda de quem entra na igreja.
A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória
é datada de 1608 e foi edificada pelos padres
jesuítas por ordem do reis da Espanha para ser
a Sede Episcopal (Carvalho, 1989). A Matriz pas-sou
por várias modificações ao longo de sua exis-tência.
Em 1859, ela desabou desde a entrada
principal até o arco cruzeiro26 sendo pratica-mente
reconstruída. No arco principal é possível
verificar a presença de dois anjos e a imagem de
São Cristóvão em pedra calcária. Segundo Car-valho
(1989: 38), [...] “de grande volumetria, esta
igreja possui duas torres bem proporcionadas,
guarnecidas por azulejos brancos e encimadas
por galo português. Os púlpitos são em estilo
barroco com ‘taças’ em cantaria”. Nas comemo-rações
da Festa ao Senhor dos Passos é para a
Igreja Matriz que se dirige a imagem no sábado
à noite na Procissão do Depósito, sendo recebida
para visitação de devotos a partir da madrugada
do domingo até ser levada em cortejo no mesmo
dia à tarde para a Procissão do Encontro.
A Praça Getúlio Vargas, onde se encontra a
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória é o
espaço onde notadamente no domingo a relação
sagrado/profano é mais intensa. Dentro da igreja
matriz o controle e a organização se fazem pre-sente,
porém, à frente da igreja, onde se encon-tra
o quadrilátero da praça, se faz presente um
intenso comércio com vendas de bebidas, música
sertaneja, parquinho de diversões para as crian-ças
etc.
A Praça São Francisco27 se transforma no
cenário para a Procissão do Encontro. A intensi-dade
da sacralidade dos espaços durante a Festa
de Passos é definida muito por conta da Procis-são
do Depósito que desloca a imagem do Senhor
dos Passos da igreja do Carmo Menor para a
da Matriz. Em entrevista, a Srª. Aglaé D’Ávila
Fontes,28 menciona que, [...] “a Festa de Nosso
Senhor dos Passos, é uma das mais representa-tivas
da religiosidade popular em Sergipe” [...].29
A secretária faz uma alusão a fé que se estabele-ceu
no Brasil com a colonização portuguesa. [...]
“em São Cristóvão não foi diferente, mesmo por
conta de uma herança religiosa muito presente
com as igrejas espalhadas pelo centro antigo”
[...].
São Cristóvão além de ter sido a primeira
sede da Província de Sergipe Del Rey (Nunes,
2007), por já ser inaugurada com status de
cidade (ficando atrás respectivamente de Salva-dor,
Rio de Janeiro e João Pessoa, antiga Nossa
Senhora das Neves), detém o título de quarta
cidade mais antiga do Brasil. Segundo a interlo-cutora,
[...] “desde a colonização do Brasil houve
a presença de duas grandes instituições religio-sas
no Brasil colônia: jesuíta e carmelita. Ambas
as irmandades citadas vieram para São Cristó-vão
e aqui edificaram sua fé” [...]. De acordo com
a Srª. Aglaé, em São Cristóvão atesta -se a força
da Igreja Católica, embora hoje já se perceba
[...] “várias igrejas evangélicas e terreiros de
culto negro, onde muitas vezes a participação de
pessoas de outra religião, principalmente o can-domblé,
está vinculada ao sincretismo religioso
próprio da cultura brasileira” [...].
Em um ambiente eminentemente histórico
onde se realiza a festa, existe a dimensão macro
espacial (todo o perímetro urbano da cidade) e a
dimensão micro espacial (o centro antigo demar-cado
pelas três principais praças e suas ruas).
O conjunto carmelita composto pela Igreja do
Carmo Maior, Convento e Carmo Menor (atual
igreja de Nosso Senhor dos Passos) e a Igreja
Matriz de Nossa Senhora da Vitória, as praças
Getúlio Vargas e São Francisco, largo do Carmo
e as ruas do circuito das procissões, se revestem
de uma aura para manifestação do sagrado.
4.3. As Imagens da Procissão
As representações das figuras de Cristo e
Nossa Senhora, sempre exerceram fascínio den-tro
da religião católica. No catolicismo, a ado-ração
de imagens faz parte da doutrina, sendo
recomendado o seu culto e devoção como media-dor
no diálogo com Deus. Steil (2001: 21) reflete
que “da mesma forma que os corpos humanos
são depositários das almas invisíveis, as imagens
são os corpos dos santos. Através das imagens se
estabelece uma comunicação entre vivos e mor-tos”.
Dentro das tipologias das imagens, dimen-sões
e tecnologia de construção, o presente livro
destaca as imagens de roca que estão inseridas
na festa sãocristovense, no imaginário e memó-ria
coletiva dos participantes. Tendo o Cristo e
Nossa Senhora, os principais objetos de devoção
e personagens da comemoração sacra. As ima-gens
de roca e de vestir tiveram grande força
na Espanha e Portugal barrocos e, foram de
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 12(1). 2014 ISSN 1695-7121
152 Turismo Cultural -Religioso …
lá, transplantadas para a América Portuguesa.
Com a união ibérica, esse tipo de imagem teve
grande aceitação em Salvador (Flexor, 2005) e
como consequência em São Cristóvão, visto que
a província de Sergipe Del Rey esteve ligada a
Bahia, tanto política, como religiosamente até
182030 (Nunes, 2007).
As imagens de roca da Festa do Senhor dos
Passos são articuláveis e foram construídas no
século XVIII ou XIX (Brasil, 2001). Represen-tam
o Senhor dos Passos e Nossa Senhora das
Dores. Segundo o Inventário de Bens Móveis e
Integrados (Brasil, 2001), fazem parte do acervo
da igreja da antiga Ordem Terceira do Carmo.
Ambas as imagens, têm proteção legal nos níveis
estaduais e federais, bem como tombamento em
conjunto com a edificação. A imagem do Senhor
dos Passos está inscrita no Livro Histórico,
volume I, folha 35 e de Belas Artes, volume I,
folha 60. A escultura processional de Nossa
Senhora (Ilustração 3) possui inscrição no Livro
Histórico, volume I, folha 35 e no Livro de Belas
Artes, volume I, folha 60 (Brasil, 2001).
Construídas em madeira pouco talhada e
policromada, são destinadas ao culto interno da
igreja, mas principalmente, ao culto público. As
duas imagens possuem cabeça e mãos, porém, a
imagem do Senhor dos Passos por está com um
dos joelhos tocando o chão, se apresenta com um
dos pés aparente. Como a imagem de Cristo, a
de Nossa Senhora possui o corpo confeccionado
em uma armação em madeira forrada com um
tecido azul.
O destaque fica para a imagem que repre-senta
Jesus em uma das cenas da Paixão, que
possui olhos de vidro, indumentária e peruca,
estes dois elementos trocados a cada edição da
festa. Nos estudos de Quites (1997, 2007), tanto
a imagem de vestir, como a de roca possui arti-culações,
porém ficam escondidas sob a indu-mentária.
“Essas duas categorias geralmente
possuem perucas de cabelos naturais e vestes
feitas em tecido” (Quites, 1997: 1). No Brasil
desde o século XVIII, foram confeccionadas para
serem utilizadas nas procissões e servirem para
tornar a cena mais realística e dramatizada.
Flexor (2003: 529) menciona que em Salvador
setecentista,
“A possibilidade de mudar a roupagem e
gestos se coadunava perfeitamente com a
teatralidade barroca e com que a cena pedia.
Essa prática, como se viu, remontava a Idade
Média, quando, nas teatralizações das vidas
dos santos, a Igreja tomou emprestada do tea-tro
de marionetes o uso de bonecos, vestidos
de acordo com a cena que representavam”.
Até o final do século XIX as imagens de roca
foram importantes instrumentos de propaganda
religiosa católica contrareformista. Relegadas
por anos, atualmente vêm sendo estudadas por
historiadores e pesquisadores da história da arte
em Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro.31 A
revalorização desses objetos de culto está em
perceber a sua relevância como elementos didá-ticos
e com força sociocultural. Pelo seu apelo
visual, as imagens de roca/vestir foram no Bra-sil
colônia, facilitadoras na assimilação da filo-sofia
barroca trentina da contrareforma. Foram
importantes objetos de culto e devoção para a
conversão dos ameríndios, africanos da diáspora
e portugueses que aqui se encontravam, relem-brando
a força da Igreja em solo brasileiro.
“Criadas e enfatizadas pela matriz sensorial
das procissões, as imagens provocavam emo-ções
e lágrimas nos fiéis. E essas lágrimas,
inclusive recomendadas pelas Constituições
Primeiras do Arcebispado da Bahia, surgiam
diante das cenas de sofrimento de Cristo e de
Maria. Outras levavam à meditação. Cria-vam,
por assim dizer, o cenário propício” (Fle-xor,
2005: 165).
Quando não estavam em cima das charolas
nas procissões, serviam para o culto dentro das
igrejas. Eram periodicamente limpas, trocadas
de roupa, cabelo e jóias. Inicialmente possuíam
indumentária simples para representar a luto
no caso de Nossa Senhora nas cenas da Paixão.
Com a responsabilidade a cargo das irmanda-des
e ordens terceiras as imagens passaram a
serem ornadas com tecidos e jóias mais caros.
Ilustração 3. Escultura Processional
de N. S. das Dores
Autor: Ivan Rêgo Aragão (2011)
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 12(1). 2014 ISSN 1695-7121
Ivan Rêgo Aragão 153
Em entrevista, o Srº. Henrique dos Santos32
salientou a importância do processo de revisão
do estado de conservação relativo à imagem.
Pela sua dupla função – social e religiosa –
é fundamental que mantenha a imagem com a
sua estrutura e estética intacta, para que ela
continue exercendo esses dois papéis na socie-dade
(Maués; Herrera -Romero; Quites, 1998).
Haja visto que, muitos devotos, não se conten-tam
apenas em olhar e venerar Nosso Senhor
dos Passos, eles querem tocar a imagem, jogar
roupas e muitas vezes, os objetos dos ex -votos,
danificando a carnação, ou até, desarticulando
o braço da imagem. Esse fato também foi rela-tado
por D. Neném ao informar que [...] “teve
um ano que jogaram bastantes vestes roxas em
pagamento de promessa, que o braço do Senhor
dos Passos descolou” [...].33
4.4. A Memória Vinculada ao Mito do
Achado da Imagem
O mito relacionado ao achado da imagem e
que iniciou as rezas, devoções e posteriormente
à festa, faz parte da memória coletiva da comu-nidade.
A tradição oral confirmada pela docu-mentação
de Serafim Sant’iago datado de 1920
aborda a origem da Festa do Senhor dos Passos
em São Cristóvão.34 Nesse contexto, às homena-gens
a Cristo sob esta invocação, encontram sua
gênese a partir de uma estória que remete ao
achado da imagem no rio Paramopama.35 Esse
fato é narrado por quase todos os depoentes da
pesquisa de campo.36 O encontro da caixa feito
por um pescador é recorrente na memória dos
moradores mais antigos, sendo passada para a
população mais jovem, sejam nos dias da festa
ou durante todo o ano.
No Brasil, principalmente na região nordeste
do século XVIII e XIX a irmandade terceira
carmelita foi responsável pelo culto público das
cenas da Paixão, e, portanto, “tiveram o privi-légio
da cerimônia da procissão do Senhor dos
Passos” [...] como explica Flexor (2003: 526) em
sua pesquisa a documentos de fontes primá-rias.
37 Acredita -se que em São Cristóvão não
foi diferente, isso justifica o ato do pescador em
levar a escultura de roca para a igreja dos car-melitas.
A imagem representa cristo ajoelhado,
e desse modo, faz parte de uma das cenas dos
mistérios da Paixão.
O mito do achado de uma imagem no meio
fluvial ou marítimo e que, posteriormente, torna-
-se milagreira, é revisitado em alguns lugares de
peregrinação e celebração religiosa do catolicismo
no Brasil e no exterior. Sejam nas invocações
nacionais ao Nosso Senhor dos Passos, Nossa
Senhora Aparecida, Bom Jesus de Pirapora,
Nossa Senhora de Nazaré, ou na representação
da padroeira nacional cubana La Virgen de la
Caridad del Cobre.
Os exemplos dos mitos do achado acima cita-dos
tornam possível constatar que independente
da veracidade dos fatos, eles povoam a fé e o
imaginário coletivo de quem participa das fes-tas.
Segundo Steil (2001), quando se compara os
mitos e lendas em volta dos santuários brasilei-ros,
verifica -se um padrão de símbolos, signos e
narrativas que se repetem. O mais importante
entre os mitos e lendas, não é o fato em si, mas
apontar para uma sucessão de fatos que guiam
para uma melhor compreensão da tradição e da
cultura brasileira. Em algumas religiões a água
é vista como fonte da vida, elemento de regene-ração
e purificação. Na tradição judaico -cristã a
água simboliza a origem da criação do mundo.
Como “fonte de todas as coisas, manifesta o
transcendente e deve ser, em conseqüência, con-siderada
como uma hierofania (Chevalier; Ghe-erbrant,
1993: 16).
Nesse sentido, os mitos que envolvem as
festas religiosas católicas populares conferem
uma aura de mistério ao santo cultuado, onde
o “maravilhoso” e o “fantástico” inserem -se na
própria sacralidade da comemoração. É nos
mitos que permeiam o santo padroeiro que os
devotos se apegam e perpetuam a sua fé e devo-ção.
Mesmo não sendo oficialmente registrada, a
Festa de Nosso Senhor dos Passos com as suas
procissões, poderia se enquadrar dentro do que
se estabeleceu na política de salvaguarda dos
bens de natureza intangível. Tendo a sua inscri-ção
registrada na categoria das “Celebrações”,38
a exemplo de outras manifestações culturais-
-religiosas católicas pelo Brasil.39
4.5. “Saber Fazer” Queijadas, Doces, Coca-das,
Bolachas de Goma e Briceletes
Como participação efetiva da elite açucareira
do século XIX (Sant’iago, 2009), outro elemento
festa reconhecido pelos moradores como um
patrimônio agregado à religiosidade da Festa
do Senhor dos Passos, é a doçaria. Entre beijus,
bolos, sarolhos, pés de moleque e cocadas de forno,
o destaque se concentra nas queijadas40 e brice-letes.
41 O modo sãocristovense de fazer a quei-jada42
traduz o cotidiano das famílias na cidade
e se destaca, no período da Festa do Senhor dos
Passos. Segundo Fontes (2007, p. 8), “a queijada,
doce feito com farinha do reino, manteiga e leite,
complementada com um doce de coco que sobre-põe
uma capa delicada como se fosse um biscoito,
é conhecida no Brasil e fora dele”.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 12(1). 2014 ISSN 1695-7121
154 Turismo Cultural -Religioso …
Em depoimento D. Neném de 98 anos acres-centa
que no seu tempo de menina [...] “os doces
mais vendidos na Festa de Passos eram as quei-jadas
e as bolachinhas” [...].43 A depoente explica
que a receita foi mudada por conta da “farinha
neném”, que não deixa as queijadinhas tão cro-cantes
como antigamente. Essa transformação
ocorreu também com as bolachinhas que deixa-ram
de ser feitas com o leite puro de coco, para
serem feitas com água de coco, “para render
mais”, ficando segundo ela, mais duras e secas,
não mais “derretendo na boca”. Durante a Festa
do Senhor dos Passos, [...] “aumentam as vendas
da tradicional doçaria sancristovense, como as
populares bolachinhas e queijadas, seus nobres
e frágeis briceletes, estes saídos das mãos das
freiras, transformando em sinais distintivos da
culinária local, fazendo as delícias dos visitan-tes
mais requisitados” (Dantas, 2006: 57). O
depoimento de D. Marieta da Casa da Queijada
ilustra bem a influência dos doces e biscoitos
vinculados à festa:
“[...] Foram vendidas duas mil queijadas esse
ano no período da Festa de Passos. Oito dias
antes de começar a festa nós já começamos
a fazer as queijadinhas. Nós já assamos no
forno artesanal alguns dias antes de começar
a festa, porque não tem que dê conta de fazer
nos dias [...]”.44
A principal via para o comércio dos doces e
biscoitos é a Rua Tobias Barreto (rua em linha
reta que começa em frente à Igreja Matriz da
Nossa Senhora da Vitória, e termina no antigo
Largo do Carmo). Nas calçadas das casas loca-lizadas
dentro do perímetro entre a Matriz e o
Conjunto Carmelita, é possível encontrar docei-ras
vendendo as queijadas, bolachas de goma,
sequilhos e cocadas. Esse ponto de venda tradi-cional
vem de tempos passados, confirmado pela
fala de D. Neném, mencionando essa rua como
local de venda para as queijadas e bolachinhas
na Festa de Passos, desde o tempo de criança.
No seu depoimento, D. Neném menciona que [...]
“daqui até a Matriz era cheio de gente vendendo
queijada” [...]. “Todo mundo que vinha para a
Festa de Passos queria levar uma lembrança de
queijada, cocada, bolachinha, para quem ficava
em casa,” [...].45 D. Marieta também lembra que
desde criança ajudava a mãe a fazer as queija-das
para vir vender na Festa de Passos.
Dessa forma os doces e as queijadas se mis-turam
às memórias da Festa ao Nosso Senhor
dos Passos como um “saber fazer” vinculado a
celebração religiosa. Nesse sentido, percebe -se
a soma do patrimônio material com as recei-tas
tradicionais da gastronomia saocristovense.
Além da culinária vinculada à produção dos
doces, o patrimônio material das ruas e igrejas,
objetos de ex -votos, práticas de fé e religiosidade,
inserem -se na memória da tradição do festejo do
Senhor dos Passos, os ritos, práticas devocionais
e mitos que dão identidade a comemoração na
Quaresma.
5. Considerações Finais
A análise do presente artigo se pautou no
segmento turístico que vem sendo cada vez mais
estudado: o turismo religioso que se enquadra
dentro da atividade turística cultural. O turismo
religioso tem sido importante campo de investi-gação
não só pelo perfil da demanda que é hete-rogêneo,
mas também pela motivação complexa
e diferenciada. Transformando os destinos, em
locus onde perpassam diferentes significados,
práticas simbólicas e vivências socioculturais.
A pesquisa identificou alguns dos bens patri-moniais
materiais e imateriais que formatam a
festa: o Museu do Ex -voto, as igrejas e praças do
circuito da festa, as imagens de roca, a memó-ria
vinculada ao mito do achado da imagem e
o “saber fazer” queijadas, doces, cocadas, bola-chas
de goma e briceletes. De forma ampliada,
se buscou verificar na celebração sãocristovense,
os novos paradigmas que enquadram a celebra-ção
religiosa dentro da própria imaterialidade
da festa e do patrimônio produzido no período
da celebração. Um patrimônio intangível que se
faz presente por todo o ano na cidade, mas que
ganha visibilidade durante a Festa do Senhor
dos Passos.
Ao analisar os aspectos da Festa do Senhor
dos Passos que são vinculados aos seus valo-res
culturais, históricos, artísticos, religiosos e
turísticos, se constatou a variedade de elemen-tos
que compõem o arcabouço da celebração.
Nesse contexto, o turismo cultural em especial o
religioso, valoriza os elementos culturais locais
já existentes e os transforma em produtos atra-entes
para serem consumidos, seja sob o ponto
de vista comercial, cultural e simbólico. Alguns
dos Bens Culturais que fazem parte da festa,
já são consolidados como Patrimônio Arquite-tônico
chancelados por órgãos como IPHAN e
UNESCO, o outro grupo patrimonial embora
não reconhecido oficialmente perpassa pelo
novo olhar ampliado do conceito de Patrimônio
Cultural, de Fe e Culto. São elementos já valo-rizados
pela comunidade local e que devem ser
reconhecidos por visitantes e turistas que vão à
cidade durante a festa.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 12(1). 2014 ISSN 1695-7121
Ivan Rêgo Aragão 155
A cada edição, o centro antigo da cidade onde
se realiza a festa, desponta como um local para
a promoção do turismo católico no estado de
Sergipe. Sendo trabalhada sob a perspectiva do
turismo religioso tanto pelo valor cultural para
a região sergipana, como pela relevância iden-titária
com elementos vinculados ao patrimônio
material e imaterial da cidade -sede.
Nesse contexto, a Festa ao Nosso Senhor dos
Passos põe no cerne da questão a tênue fronteira
que separa o que é um evento eminentemente
religioso e, a partir de que momento, o mesmo
transforma -se em um produto cultural para ser
consumido pelo segmento da atividade turística
religiosa. Se caracterizando não somente sob o
ponto de vista religioso, mas turístico, cultural,
social, econômico e espacial.
Ao promover anualmente o evento para a
renovação dos votos em favor ao Senhor dos
Passos, a sede do município se consolida em um
local para o segmento do turismo religioso de
forma potencial.
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SENAC.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 12(1). 2014 ISSN 1695-7121
Ivan Rêgo Aragão 157
Notas
1 Com o auxílio da Coordenação de Aperfeiçoa-mento
de Pessoal de Nível Superior – CAPES,
o presente artigo é parte integrante do Capí-tulo
II da minha dissertação de mestrado em
cultura e turismo, intitulada “Vinde, todas
as pessoas, e vede a minha dor”: a Festa ao
Nosso Senhor dos Passos em São Cristóvão-
-Sergipe como Atrativo Turístico Potencial,
defendida em abril de 2012.
2 Em 2013 o Ministério do Turismo no Brasil
abriu edital de apoio para locais que pos-suem
potencial para desenvolver o turismo
religioso nas cinco regiões do país.
3 A festa é celebrada 17 dias após o Carnaval
dentro do período da Quaresma.
4 Suplício, jornada dolorosa.
5 Peregrinação religiosa feita por um grupo de
pessoas a uma igreja ou local considerado
sagrado para pagar promessas, agradecer ou
pedir graças, ou simplesmente por devoção.
6 O IPHAN é o órgão oficial que regulariza os
registros dos bens patrimoniais do Brasil. O
Registro é um instrumento legal de preser-vação,
reconhecimento e valorização do patri-mônio
cultural imaterial brasileiro, composto
por aqueles bens que contribuíram para a
formação da sociedade brasileira. Consiste
na produção de conhecimento sobre o bem
cultural imaterial em todos os seus aspectos
culturalmente relevantes.
7 Fonte: Globo News Documentário – Turismo
Religioso, exibido nos dias 08 e 09/10/2011.
8 A Festa de Nossa Senhora de Sant’Ana em
Caicó -Rio Grande do Norte e a Festa do Círio
de Nossa Senhora de Nazaré em Belém -Pará
são patrimônios culturais do Brasil, registra-dos
no Livro das Celebrações do IPHAN.
9 Andrade (2002), Brasil (2000, 2008), Dias
(2003), Maio (2006), Oliveira (2004).
10 Descrição da vida de algum santo, beato e
servo de Deus, proclamados por algumas
igrejas cristãs, sobretudo pela Igreja Cató-lica,
pela sua vida e pela prática de virtudes
heróicas. É também a disciplina de estudo
que se ocupa com a vida dos santos e sua
veneração.
11 São sete os Ofícios da Festa de Nosso Senhor
dos Passos e Semana Santa (sendo três antes
da data da Festa, o quarto na sexta feira do
início da festa e os três últimos após a festa).
Todos os Ofícios ficam a cargo da Igreja
da Ordem Terceira do Carmo ou Carmo
Pequena.
12 O termo ex -votos origina -se do latim ex ‑voto
suscepto, isto é, “por força de uma promessa”
ou “o voto realizado”.
13 Pano em tom de roxo que vela a imagem de
Nosso Senhor dos Passos da visão externa
dos fiéis.
14 Como Simão de Cirineu que ajudou a Jesus
a carregar a cruz, a Verônica desponta como
outro personagem de destaque no caminho
do calvário. Não há referência à história de
Santa Verônica e seu véu nos Evangelhos
Canônicos, mas segundo reza a tradição, foi
uma mulher piedosa que, comovida com o
sofrimento de Jesus, deu -lhe seu véu para
que ele pudesse limpar seu rosto. Assim
como em outras cidades do Brasil, a Verônica
se destaca como uma personagem dramática
na encenação dos Passos da Paixão tratando-
-se de uma cantora que entoa um lamento
durante a Procissão do Encontro.
15 Oh vós todos que passais pela via: vinde e
vede se há dor como a minha dor. Oh vós
todos que passais pela via, vinde e vede: Se
há dor parecida com a minha dor. V. Vinde,
todas as pessoas, e vede a minha dor. Se há
dor parecida com a minha dor.
16 Também conhecido como Sala dos Milagres.
17 Depósito dos objetos de ex -votos nas salas de
milagres das igrejas.
18 Trajeto seguido por Jesus Cristo carregando
a cruz que vai do Pretório até o Calvário.
19 Irmã leiga consagrada na Ordem Carmelita,
mestre em antropologia e responsável pela
nova diagramação do Museu do Ex -voto em
São Cristóvão.
20 Com o título de “Saltério de Madeira: sal-vaguarda
dos signos de cura e de fé de São
Cristóvão”, o projeto da Srª. Lucia Maria
Pereira foi um dos finalistas nacionais do
Premio Rodrigo Melo Franco de Andrade no
ano de 2011, promovido pelo Iphan na cate-goria
pesquisa e inventário de acervos no
Museu do Ex -voto em São Cristóvão.
21 Entrevista concedida em 23/11/2011 na
cidade de Aracaju.
22 Bazin (1983), Iphan (s.d.), Nascimento
(1981), Sobrinho (s.d.), Vilela; Silva (1989),
citados por Orazem (2006).
23 Maria Rita de Souza Brito Lopes era o nome
de batismo de irmã Dulce. Ainda adolescente,
fez noviciado na Escola das Irmãs da Imacu-lada
Conceição, em 1933/1934, nessa época
instalada no Convento de Nossa Senhora
do Carmo, em São Cristóvão/SE, recebendo
o hábito da Congregação das Irmãs Missio-nárias
da Imaculada Conceição da Mãe de
Deus. Fonte: Blog Cicerone de São Cristóvão.
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158 Turismo Cultural -Religioso …
24 O patrimônio material protegido pelo Iphan,
com base em legislações específicas, é com-posto
por um conjunto de bens culturais clas-sificados
segundo sua natureza nos quatro
Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico e
etnográfico; histórico; belas artes; e das artes
aplicadas. Eles estão divididos em bens imó-veis
como os núcleos urbanos, sítios arqueo-lógicos
e paisagísticos e bens individuais; e
móveis como coleções arqueológicas, acervos
museológicos, documentais, bibliográficos,
arquivísticos, videográficos, fotográficos e
cinematográficos. Fonte: Iphan.
25 Os artistas e artífices do período barroco e o
rococó se utilizaram de elementos da natu-reza,
como folhas e conchas, bem como ele-mentos
em espiral para dar a idéia de movi-mento.
26 Elemento de arquitetura que separa a nave
da capela -mor ou do coro situando -se no cru-zeiro.
27 Desde agosto de 2010, a Praça São Francisco
recebeu o selo de Patrimônio Cultural da
Humanidade da UNESCO por ser um modelo
exemplar de Plaza Mayor construída em ter-ras
fora da Espanha.
28 Secretária de Cultura e Turismo em São
Cristóvão no período de 2008 a 2012.
29 Entrevista concedida em 19/03/2011 em São
Cristóvão.
30 Data da emancipação política da província de
Sergipe Del Rey.
31 Campos (2000), Flexor (2005), Oliveira
(2000), Quites (1997, 2006, 2007), Rabelo
(2009).
32 Conservador -restaurador das imagens que
fazem parte da festa.
33 Depoimento concedido em 20/03/2011 em São
Cristóvão -Sergipe.
34 Documento pertencente ao acervo do Insti-tuto
Histórico e Geográfico de Sergipe. Fundo
Serafim Sant’iago, fl. 20, 1920.
35 Afluente que beira a cidade pela parte baixa.
36 Realizada no período da Festa de Nosso
Senhor dos Passos na edição de 2011 pelo
presente autor.
37 Em seu artigo (2003), a autora faz referencia
as Constituições Primeiras do Arcebispado
da Bahia para mencionar que o culto e devo-ção
de Senhor dos Passos ficava a cargo da
Irmandade Carmelita.
38 O IPHAN estipulou quatro categorias para
enquadrar os bens de natureza imaterial:
“Celebrações”, “Formas de Expressão”,
“Lugares” e “Saberes”.
39 Festa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré
(Belém -Pa), Festa do Divino Espírito Santo
(Pirenópolis -Go), Festa de Sant’Ana (Caicó-
-RN).
40 Registrada como patrimônio imaterial do
Estado de Sergipe por meio do decreto Nº
27.720 de 24 de março de 2011.
41 Tradicionais biscoitos feitos pela Congrega-ção
das Irmãs Missionárias Lar Imaculada
Conceição. Possuem várias capas e são elabo-rados
com suco de laranja e raspas de limão.
42 Originalmente feita com queijo, às queijadi-nhas
foram trazidas pelos portugueses que
vieram para São Cristóvão, sendo criativa-mente
incorporadas e adaptadas conforme os
preceitos locais. O queijo foi substituído pelo
coco – matéria prima abundante no litoral do
Nordeste do Brasil.
43 Depoimento recolhido em 20/03/2011 em São
Cristóvão.
44 Depoimento colhido em 22/12/2011 em São
Cristóvão.
45 Depoimento colhido em 20/03/2011 em São
Cristóvão.
Recibido: 22/04/2013
Reenviado: 14/06/2013
Aceptado: 19/06/2013
Sometido a evaluación por pares anónimos