© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Vol. 12 N.o 3. Special Issue. Págs. 653-654. 2014
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O espaço rural português é muito heterogéneo mas,
de uma forma geral, transformou-se profundamen-te
nas últimas décadas. Regista-se um declínio da
agricultura e uma perda mais ou menos acentuada
de população e o envelhecimento das comunidades.
Mas existem novas procuras centradas nos territórios
rurais, com origem urbana, frequentemente dirigidas
para os produtos agroalimentares de qualidade, a
gastronomia, o lazer e o turismo. Estas procuras
configuram alternativas às atividades tradicionais em
declínio. Neste quadro, a aposta no turismo tende a
ser moldada por discursos optimistas, que idealizam
o rural e menosprezam os desafios da construção
de experiências turísticas apelativas, integradas e
sustentáveis.
Este cenário, que está longe de ser específico de
Portugal, motivou uma equipa de investigadores
das Universidades de Aveiro, Trás-os-Montes e Alto
Douro, Nova de Lisboa e do Instituto Politécnico de
Viseu, que deu forma e conteúdo ao Projeto ORTE – “A
experiência global em turismo rural e desenvolvimen-to
sustentável de comunidades locais”, financiado
pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, com
cofinanciamento comunitário, e coordenado pela
Universidade de Aveiro.
O Projeto assentou numa perspetiva holística e in-terdisciplinar
e focou-se na compreensão da natureza
e da dinâmica da experiência de turismo rural vivida
e oferecida por três aldeias portuguesas do interior
Reseña de Publicaciones
Reinventar o Turismo Rural em Portugal. Co-criação de
experiências turísticas sustentáveis
Elisabeth Kastenholz; Celeste Eusébio; Elisabete Figueiredo; Maria João Carneiro;
Joana Lima (Coords.). Aveiro. UA Editora (2014)
ISBN 978‑972‑789‑395‑9
Artur Cristóvão*
Universidade de Trás‑os‑Montes
e Alto Douro
* Professor Catedrático da Universidade de Trás‑os‑Montes
e Alto Douro; CETRAD ‑
Centro de Estudos Transdisciplinares
para o Desenvolvimento (Portugal). E‑mail:
acristov@utad.pt
Artur Cristóvão
Reinventar o
Turismo Rural em
Portugal
Cocriação de experiências
turísticas sustentáveis
Coordenação:
Elisabeth Kastenholz
Celeste Eusébio
Elisabete Figueiredo
Maria João Carneiro
Joana Lima
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 12 N° 3. Special Issue. Mayo 2014 ISSN 1695-7121
654 Reinventar o Turismo Rural em Portugal: cocriação de experiências turísticas sustentáveis
Centro e Norte do país, em contextos diferenciados
do ponto de vista geográfico, cultural, social, político e
económico, integrantes de redes temáticas centradas
no património e no desenvolvimento do turismo.
Neste âmbito, olhou para as partes integrantes e
essenciais da experiência turística, para as suas
determinantes e condicionantes do ponto de vista dos
atores envolvidos na sua “co-criação” (as populações,
os agentes da oferta e planeamento e os visitantes),
bem como para o potencial do seu desenvolvimento.
Com tal abordagem, os investigadores procuraram dar
um contributo para o desenvolvimento de estratégias
e ações de desenvolvimento sustentável do turismo
rural.
Desse Projeto nasceu o livro “Reinventar o Turis-mo
Rural em Portugal. Co-criação de experiências
turísticas sustentáveis”, editado pela Universidade
de Aveiro (UA Editora), que, através das suas cinco
partes e dez capítulos, nos resume o essencial do cami-nho
percorrido ao longo de três anos de investigação
e mostra os principais resultados obtidos, deixando
ampla matéria para reflexão e pistas para a “co-criação
de experiências turísticas rurais sustentáveis”
e para futuros estudos.
A primeira parte do livro, correspondente ao ca-pítulo
1, faz uma introdução geral à problemática,
deixando o desafio de “reinventar o turismo rural em
Portugal”, como forma de o sustentar. Na segunda
parte, composta pelos capítulos 2 e 3, faz-se uma
apresentação do Projeto ORTE, destacando-se os seus
objectivos e a metodologia, e caracterizam-se os três
destinos ruais em estudo. Sublinhe-se a solidez da
metodologia, assente na combinação das abordagens
qualitativa e quantitativa, cruzando a observação no
local, a análise documental, entrevistas semiestru-turadas,
aplicação de questionários e realização de
sessões públicas de partilha e debate de resultados.
A terceira parte, composta pelos capítulos 4 a
6, desenvolve a parte conceptual da investigação,
analisando a “experiência turística no espaço rural”, o
“desenvolvimento sustentável de destinos turísticos”
e “o papel das redes no desenvolvimento de destinos
rurais”. Um conceito central é o de “co-criação”, que
aponta para o facto das experiências turísticas serem
cocriadas por vários atores, incluindo os visitantes, os
prestadores de serviços e os residentes locais. Como
referem Kastenholz et al. no capítulo 4, inspirados em
vários autores, “Num dado contexto institucional e
geográfico, tanto os recursos endógenos dos territórios
como, muitas vezes, os agentes da oferta e a própria
população rural que partilham, condicionam e cocriam
essa experiência, assumem um papel central”.
A quarta parte destaca os resultados empíricos
da investigação, desdobrando-se pelos capítulos 7
a 9, a apresentação da experiência turística rural
vivida e cocriada pelos visitantes, pela população das
aldeias e pelos agentes da oferta e do planeamento.
Percebemos melhor nestes capítulos o carácter ino-vador
da investigação, traduzido na sua perspetiva
holística e interdisciplinar e no olhar de dimensões
geralmente pouco focadas nos estudos sobre o turismo
rural, como a avaliação da experiência dos visitantes,
englobando não só o seu perfil socioeconómico, como
as motivações, os comportamentos, as perceções da
experiência e do destino e os aspetos que deveriam
ser melhorados nas aldeias visitadas.
A quinta e última parte, a que corresponde o
capítulo 10, apresenta as conclusões e implicações
do estudo. Menciona, nomeadamente, que os da-dos
recolhidos junto dos três grupos de inquiridos/
entrevistados evidenciam uma perceção bastante
positiva da experiência turística vivida nas três
aldeias em análise do Norte e Centro de Portugal, e
que as comunidades apresentam uma atitude muito
favorável ao turismo e aos turistas. Por outro lado,
destaca a insuficiência da atuação das redes e o im-pacte
relativamente modesto do turismo na dinâmica
económica das comunidades, deixando como desafio
a necessidade de “reinventar” o modelo de turismo
rural, numa lógica de desenvolvimento turístico
sustentável “que tenha em atenção o contributo
das várias atividades e domínios de atuação, que
integrem os recursos endógenos mais apelativos e
distintos das aldeias e das áreas envolventes, e que
envolvam efetivamente os stakeholders do destino,
articulados em rede”.
Neste mesmo capítulo se deixa um amplo conjunto
de propostas para melhorar a experiência cocriada
nas aldeias analisadas, em diferentes vertentes:
valorização e dinamização dos recursos endógenos;
desenho de oportunidades para experiências; e redes
e governança. O livro não termina sem deixar um
palavra quanto aos riscos e limites do turismo em
áreas rurais, nomeadamente quanto à “adulteração de
significados e valores” e a outros impactes negativos
que um turismo desregrado pode ter nas atrações do
destino e na própria “experiência turística procurada”.
Em síntese, estamos na presença de um sólido de
trabalho de pesquisa, merecedor de leitura atenta,
não só por parte de investigadores e agentes ligados à
oferta e planeamento turístico, mas também por todos
os que se interessam pela construção de alternativas
para o desenvolvimento sustentável de áreas rurais,
em Portugal como noutros países, dentro e fora da
Europa.
Recibido: 05/12/2013
Reenviado: 19/01/2014
Aceptado: 25/01/2014
Sometido a evaluación por pares anónimos