© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Revista de Turismo y Patrimonio Cultural
PAS S
www.pasosonline.org
Vol. 11 N.º 4. págs. 671-685. 2013
Desafios e potencialidades para a implantação
do turismo cooperativo como ferramenta de viabilização
das RPPNs de Ilhéus (BA, Brasil)
Maria Conceição de Morais Santos*
Suzana Machado Pádua**
Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (Brasil)
Zysman Neiman***
Universidade Federal de São Paulo (Brasil)
Resumo: As Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) do Município de Ilhéus (BA, Bra-sil)
exercem forte atratividade, mas, em sua maioria, ainda não possuem a infraestrutura para atender
aos turistas. Por não serem economicamente apoiadas pelo poder público, procuram buscar no turismo o
instrumento para alcançar a sua viabilidade econômica. Neste estudo foi feita uma pesquisa com alguns
proprietários de RPPNs e diretores de instituições do segmento turístico, com o objetivo de se ter um
breve diagnóstico das dificuldades e potenciais para que o turismo se torne uma opção. Defende -se aqui a
viabilidade de uma parceria fundamentada na cultura da cooperação entre RPPNs, órgãos públicos, coo-perativas
e instituições financeiras, que podem contribuir para a sustentabilidade econômica da atividade
turística em Ilhéus.
Palavras Chaves: Reservas Particulares, Turismo Sustentável, Cooperativas, Ilhéus, Bahia.
Challenges and opportunities for the implementation of tourism cooperative as a tool for
viability of RPPNs in Ilhéus (BA, Brazil)
Abstract: The Private Reserves of the Natural Heritage (RPPNs) of Ilheus Municipality (BA, Brazil)
exert a strong attractiveness, though in their majority they do not have the infrastructure to receive
tourists. Because there is no economic support from government agencies they need and wish to seek
in tourism their economic viability. This study comprises a research with RPPN owners and directors of
institutions that are linked to tourism, with the aim of briefly assessing the difficulties and potentials that
occur, so that tourism can become a regional option. We defend the importance of partnerships based on a
culture of cooperation among RPPNs, public sector, cooperatives and financial institutions, enhancing the
economic sustainability of the regional tourism trade.
Keywords: Private Reserves, Sustainable Tourism, Cooperatives, Ilhéus, Bahia.
* E -mail: maryacmorais@hotmail.com
** E -mail: suzana@ipe.org.br
*** E -mail:zneiman@gmail.com
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
672 Desafios e potencialidades …
1. Introdução
As Reservas Particulares de Patrimônio
Natural (RPPN) são áreas de conservação em
propriedades privadas, para as quais existe uma
legislação federal específica. A intenção dessa
legislação é a criação de uma rede particular
de Unidades de Conservação (UCs), onde o pro-prietário,
por sua livre vontade, registra pelo
Instituto Chico Mendes de Conservação da Bio-diversidade
(ICMBio) parte de sua propriedade
como reserva natural. As RPPNs têm grande
importância para a conservação do país, pois
este papel dificilmente seria alcançado apenas
pela iniciativa pública (Morsello, 2001: 194).
Dentre os motivos que têm levado os pro-prietários
rurais a criarem as RPPNs pode -se
citar: a) garantia da conservação do patrimô-nio
natural (por mais de 3 gerações na família,
em alguns casos); b) possibilidade de apoio dos
órgãos ambientais, governamentais e não gover-namentais
em pesquisas; c) aporte logístico; e,
d) garantia da manutenção de seu patrimônio
frente às pressões sociais por distribuição de ter-ras
(Pellin, 2010).
A isenção do Imposto Territorial Rural (ITR)
para áreas destinadas a RPPNs é o único bene-fício
concreto oferecido pelo governo aos pro-prietários
das terras (Mesquita, 2004), sendo,
portanto, insignificante perante os custos com a
manutenção e a preservação dessas áreas.
A realidade indica inúmeras dificuldades para
a manutenção das RPPNs e os proprietários das
terras, importantes aliados do poder público na
promoção do desenvolvimento local (Costa -Alves;
Guimarães, 2009), buscam alternativas para a
sustentabilidade de suas Reservas. Uma delas é
o turismo, o qual também não tem apresentado
os resultados esperados por uma série de razões,
dentre as quais a falta de estrutura física, o
difícil acesso e a baixa qualidade do receptivo
turístico, uma vez que as empresas que operam
o turismo no município não apresentam as con-dições
específicas para o ecoturismo.
Mesquita (1999 apud Santos, 2005) analisou
as reservas particulares da América Latina e
percebeu que o Ecoturismo é a principal fonte de
recursos para sua manutenção. De acordo com o
autor, cerca de 60% das reservas estão adaptadas
para receber turistas. Entretanto, ainda é inci-piente
a participação dessas reservas no desen-volvimento
local do turismo. Falta uma relação
mais forte entre os proprietários das reservas e o
setor turístico. De acordo com Schvarsten (2003
apud Costa -Alves; Guimarães, 2009), é impor-tante
a colaboração dos atores locais e o estabe-lecimento
dessa relação entre empresários, poder
público e a comunidade onde as reservas estão
inseridas para fortalecer o processo.
O sul do Estado da Bahia tem um grande
poder de atração à visitação turística, principal-mente
por estar inserido no bioma Mata Atlân-tica,
possuir imensas praias, belezas naturais e
rica cultura material e imaterial. A Bahiatursa
– o órgão oficial de turismo do Estado – deno-mina
esta região como Costa do Cacau, uma das
treze Zonas Turísticas (ZTs) do Estado da Bahia,
e que é composta por oito municípios definidos
como turísticos (Canavieiras, Una, Ilhéus, Ita-caré,
Uruçuca, Itabuna, Santa Luzia e Pau Bra-sil),
tendo Ilhéus como destino -âncora.
Este município possui cerca de 200 quilôme-tros
de litoral, com paisagens que abrigam o
cenário de três importantes ciclos históricos do
Brasil: pau -brasil; cana -de -açúcar; e, principal-mente,
cacau, que deu nome à Zona Turística.
Há também uma rica memória historiográfica,
explorada e estigmatizada pela paradisíaca ima-gem
construída pela literatura de Jorge Amado,
ilustre ex -morador local.
Um estudo elaborado em 2009 pelo Markes-trat
(Centro de Pesquisa e Projetos em Marke-ting
e Estratégia) aponta que a história desta
Zona Turística é marcada por duas fases dis-tintas.
A primeira fase aborda o período econô-mico
da cacauicultura que antecede a atividade
turística em seu sentido econômico (Guerreiro
de Freitas; Paraíso, 2001 apud Pinto, 2008).
A segunda fase caracteriza a região, de poucos
anos para cá, como em desenvolvimento da ativi-dade
turística, pois parte de suas riquezas natu-rais
permaneceram parcialmente preservadas
por conta da forma como se procedeu a cacaui-cultura
– chamada de Cabruca –, cujo manejo de
produção acontece dentro da mata sob a sombra
das árvores, que, por conta desse tipo de manejo
não são derrubadas.
De acordo com dados da Fundação de Pesqui-sas
Econômicas (FIPE), em 2011, a região rece-beu
6,2% do fluxo de turistas domésticos e 5,6%
do internacional, situando -se em 3º lugar no
Estado. Isso significa 56,6% do turismo interno
baiano neste período.
Segundo Magalhães (2006), em Ilhéus existe
falta de planejamento do setor turístico, o que
impossibilitou o desenvolvimento da infraestru-tura
nos últimos anos, principalmente para o
chamado turismo sustentável, que se define por
organizar a visitação aos ambientes naturais,
usando os critérios de conservação e respeitando-
-se as características socioambientais regionais.
De acordo com Mendonça e Neiman (2005),
o turismo em áreas naturais envolve parte da
cadeia produtiva do ecoturismo, proporcionando
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
Maria Conceição de Morais Santos; Suzana Machado Pádua; Zysman Neiman 673
estratégias melhores para a conservação da
biodiversidade, desde que os espaços equipados
para atender ao turista causem o mínimo de
impacto possível.
Este artigo investiga a possibilidade de se
firmar uma parceria entre os atores (Cooperati-vas,
RPPNs, instituições financeiras e de capa-citação)
que têm projetos para o ecoturismo e o
turismo responsável e sustentável no município
de Ilhéus (BA), uma região de Mata Atlântica,
com considerável área de floresta ainda conser-vada
e um rico contexto histórico, como forma de
fortalecer o turismo cooperativo.
2. Cooperativismo: histórico no mundo, no
Brasil, e em Ilhéus
De acordo com Klaes (2005), o cooperativismo
tem acompanhado a evolução desde o princípio
da sociedade humana. De acordo com Pardini
(2012), o cooperativismo nasceu quando os prin-cípios
da cooperação passaram a ser aplicados
no mundo dos negócios. A primeira cooperativa
de consumo que se tem conhecimento foi criada
em 1769 na Escócia. Sessenta anos depois, já
havia centenas de cooperativas na Inglaterra.
Conforme os dados da Gerência de Comuni-cação
do Serviço Nacional de Aprendizagem do
Cooperativismo do Espírito Santo (SESCOOP/
ES)1, o cooperativismo, em 2007, já estava
presente em mais de 100 países e somava um
bilhão de cooperados em todo o mundo, sendo
responsável por mais de 100 milhões de postos
de trabalho nos 13 ramos que compõem o sis-tema
cooperativista.
Segundo Soares e Sobrinho (2007), por repre-sentar
iniciativas diretamente promovidas pelos
cidadãos, as cooperativas são importantes para
o desenvolvimento local de forma sustentável,
especialmente no que diz respeito à formação
de poupança e financiamento de iniciativas
empresariais, que trazem benefícios evidentes
na geração de empregos e distribuição de renda.
Para Cançado (2007), as cooperativas promo-vem
ações estruturantes e não assistencialistas
quando passam a olhar para fora da organiza-ção,
em um sentido de corresponsabilidade com
o espaço em que estão inseridas.
A primeira cooperativa de consumo na área
urbana no Brasil foi criada em Ouro Preto (MG),
no ano de 1889: a “Sociedade Cooperativa Econô-mica
dos Funcionários Públicos de Ouro Preto”.
O cooperativismo ganhou força a partir de então
e chegou a Pernambuco, Rio de Janeiro, São
Paulo, Rio Grande do Sul. Ainda assim, mesmo
com todo o histórico, o modelo cooperativo bra-sileiro
é pouco expressivo quando comparado a
maioria dos países do mundo, incluindo cerca de
4% de toda a população economicamente viável,
segundo dados da Organização das Cooperativas
Brasileiras (OCB) (2011).
Para Ninaut e Matos (2008), as cooperativas
proporcionam inúmeras vantagens aos municí-pios,
uma vez que trazem investimentos inter-nos
e externos, geram capacitação técnica dos
residentes locais, impulsionando a criação de
novas cooperativas, o que aumenta o fluxo do
comércio regional, propiciando emprego e renda
à comunidade. Melhora, desta forma, o Índice
de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-
-M), que são os indicadores mais adequados
para avaliar as condições dos núcleos sociais da
região. A tabela 1 demonstra como as coopera-tivas
podem fazer diferença à região ao influir
diretamente na mudança para melhorar o IDH
do local em que estão presentes.
Ilhéus tem um histórico antigo de cooperativas
de agronegócio e de crédito, desde quando surgi-ram
as primeiras empresas, na época em que a
região tinha o cacau como sua maior economia.
Atualmente, a região conta com 27 cadastradas,
segundo dados de 2011 da Organização das Coo-perativas
do Estado da Bahia (OCEB)2, dentre
estas, algumas cooperativas já consolidadas
como a Unimed (médicos), a Coopec (crédito), a
Cabruca (agronegócios), Coofasulba (agricultura
familiar), Cooperbom Turismo (turismo e lazer),
Cooperturi (transporte turístico), Uniodonto
(dentistas) e outras em desenvolvimento.
O Município conta ainda com um curso de
especialização em Economia das Sociedades Coo-perativas
na Universidade Estadual Santa Cruz
(UESC). Considerando que o número de coope-rativas
existentes no município já aponta posi-tivamente
para o seu crescimento, o Sindicato
e Organização das Cooperativas do Estado da
Bahia (OCEB) vem trabalhando intensamente
Tabela 1. Relação entre IDH -M e Presença de Cooperativas
IDH Municípios Centro -oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
Sem cooperativas 0,727 0,600 0,647 0,730 0,763 0,666
Com cooperativas 0,757 0,633 0,694 0,760 0,789 0,701
Fonte: OCB/CE e IDH -M – Média por Região.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
674 Desafios e potencialidades …
para o fomento do Sistema Cooperativo Baiano
local.
3. Turismo cooperativo e a conservação e a
sustentabilidade econômica nas RPPNs
No Brasil, o turismo cooperativo teve seus
padrões básicos de atividade desenvolvidos no
Congresso do Rio Cooperativo 2000, realizado
no Rio de Janeiro, após um estudo conjunto da
Associação Brasileira para o Desenvolvimento
do Cooperativismo do Brasil (ABRACOOP) e
a Organização das Cooperativas Brasileiras
(OCB). Aliado à dinâmica vocacional para o
turismo dos municípios, o turismo cooperativo
potencializa o setor turístico, observando -se os
aspectos culturais, históricos, religiosos, ambien-tais,
místicos e esportivos. Esta atividade pode
proporcionar emprego e renda não somente aos
integrantes das cooperativas existentes, como
também criando mecanismos de elevar o recolhi-mento
de impostos nos municípios, por meio da
criação de empresas indiretamente envolvidas
no processo. No entanto, deve ter sua existência
e trabalho facilitado por uma cooperativa que
tenha como base de atuação operacional os ser-viços
típicos de uma agência de turismo, devida-mente
cadastrada nos órgãos competentes como:
Abav, Embratur, OCB e outros.
Um exemplo exitoso encontra -se no Estado
do Paraná com a Cooperativa Paranaense de
Turismo (COOPTUR), que tem como associa-dos
profissionais de diversas atividades econô-micas,
tais como: donos de hotéis e pousadas,
museus, restaurantes, fazendeiros, proprie-tários
de RPPNs, dentre outras importantes
atrações turísticas da região oferecendo pacotes
turísticos de seus cooperados de acordo com a
demanda de cada cliente. A primeira coopera-tiva
de empreendedores de turismo do Brasil,
seguiu os conceitos do Código Mundial de Ética
no Turismo, considerado uma referência para o
desenvolvimento sustentável, levando em conta
os 7 (sete) princípios universais do cooperati-vismo
e a Carta de Princípios do Turismo Rural
Cooperativo (OLIVEIRA 2002). Opera atual-mente
em dez municípios do Paraná, e seus coo-perados
trabalham em conjunto em um turismo
sustentável e de qualidade, gerador de emprego
e renda para a região.
Considerando os resultados já obtidos com o
turismo cooperativo no sul do Brasil, de acordo
com Mielke e Torres (2005), o diferencial do
modelo cooperativista encontra -se justamente
na forma como os fatores (comunidades locais,
trade turístico, instituições de representação
local, ONGs, sindicatos e associações, poder
público estadual e a cooperativa de turismo)
são envolvidos no processo de desenvolvimento
turístico de um destino e nas relações estabele-cidas
entre eles.
Outro caso de sucesso que pode ser citado e
que vem do exterior é o da Cooprena R. L – Con-sorcio
Cooperativo Red Ecoturistica Nacional da
Costa Rica. Criada há 17 anos, é um consórcio
que agremia cooperativas, organizações da eco-nomia
social e uma agência de viagens (Sim‑biosis
Cooprena Tour), a qual comercializa os
produtos de todos os associados, define roteiros,
pacotes turísticos e city tours. É reconhecida
como modelo em sustentabilidade, fazendo do
turismo um ativador econômico nos locais onde
está inserida.
Voltando ao cenário brasileiro, um exemplo
potencial – a despeito de toda a dificuldade
criada pela pouca cultura da cooperação local
– pode ser visto pela existência atual de uma
cooperativa de turismo em Ilhéus: a Cooper-bom
Turismo. Criada em 14 de novembro de
2007, por cidadãos comuns de todas as áreas
de atuação, foi capitaneada por alguns oficiais
das Forças Armadas, preocupados com a susten-tabilidade
do turismo da região. A Cooperbom
Turismo vem agregando valor social e ambiental
aos produtos turísticos que oferece, socializando
seu lucro com a comunidade onde está inserida.
Oferece descontos aos associados e clientes e
ainda contribui por meio da doação de um per-centual
de 10% sobre suas “sobras”, para um
“Fundo Verde”, exatamente criado para os proje-tos
socioambientais.
As condições atuais de organização, capa-citação
de profissionais e outros atores sociais,
ausência de políticas públicas e fontes de finan-ciamento,
no entanto, têm impedido ou dificul-tado
a implantação do turismo cooperativo nas
RPPNs em Ilhéus. Em parceria com os órgãos
públicos e com o suporte de instituições financei-ras,
existe o potencial do sistema cooperativista
se tornar um modelo equilibrado de sustentabi-lidade
econômica para os proprietários dessas
RPPNs e as comunidades que compõem esse
cenário.
4. As RPPNs no Município de Ilhéus
De acordo com o Cadastro Nacional de
RPPNs (CNRPPN), existem quatro unidades
dessa modalidade em gestão no Município de
Ilhéus (Tabela 2), apresentando alto índice de
endemismo e rica biodiversidade. Há, ainda,
outras oito RPPNs em processo de criação no
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
Maria Conceição de Morais Santos; Suzana Machado Pádua; Zysman Neiman 675
município. Neste artigo abordaremos apenas as
4 já consolidadas.
4.1. RPPN Fazenda São João
Criada pela portaria 022/97 em 31/03/1997,
a RPPN Fazenda São João possui 25 hectares.
Pertence atualmente ao Sr. Amílcar Benetti,
engenheiro agrônomo, que comprou a área em
1998, mas reside em Brasília. Quando adquiriu
a fazenda em 1995, da bióloga Regina Helena
Santos Pessoa, a Reserva já havia sido criada
com a intenção de proteger a “matinha” exis-tente.
De acordo com Lins (2005), com a venda
da propriedade ao Sr. Amilcar, a Reserva passou
a fazer parte da fazenda Águas Claras, rebati-zada
por ele. Sua propriedade hoje tem 79,1 hec-tares
e está localizada na zona da Sapucaieira,
em Olivença, distrito de Ilhéus, a cerca de 30 km
da cidade.
4.2. RPPN Arte Verde
A RPPN Arte Verde (futura Dias Melhores),
criada sob a portaria do IBAMA 114/98 em
17/08/98, tem 10 hectares (8 hectares de mata
secundária em estágio avançado de regeneração
e 2 hectares de cacau, coco, árvores de frutas
tropicais, mandioca, abacaxi e outras espécies),
com sinais de ocorrência de animais silvestres
de pequeno porte (LINS, 2005). Faz parte da
fazenda Arte Verde, com 25 hectares, e pertence
ao consultor em gestão empresarial, Sr. Roberto
Aguiari e à empresária Mari Garros. Desenvolve
vários projetos de educação ambiental, dentre
os quais: passeio monitorado e interativo à tri-lha
Via Camoropins e Santuário do Guiamun
Cardisoma guanhummi: sensibilização intera-tiva
e biopsicologia interativa para adultos e
grupos específicos. A Reserva possui uma trilha
ecológica interativa, com cerca de 600 metros
de extensão, e mais de 100 espécies arbóreas
catalogadas e identificadas. Abriga nascente de
água, represas para pesca artesanal e piscina
natural para banho, área para camping cien-tífico,
ecológico e recreativo, e tem visão pano-râmica
de 180º de Ilhéus. Conta com passarela
didática no manguezal, mirante para observação
de pássaros e viveiro de produção de mudas de
espécies nativas (Lins, 2005).
4.3. RPPN Salto Apepique
Situada a nordeste do Município de Ilhéus,
a Reserva foi criada sob a Portaria 103/97 em
12/09/1997 (Santos, 2005). Localizada na Área
de Proteção Ambiental (APA) Lagoa Encan-tada
e Rio Almada (um dos principais rios do
município e que tem sua nascente na área da
Reserva), a RPPN é parte do Corredor Cen-tral
da Mata Atlântica. Possui uma área de
118 hectares e está localizada na Fazenda São
Paulo com 420 hectares, a cerca de 30 km do
município de Ilhéus. De acordo com Lins (2005,
p.63), 360 hectares da fazenda foram divididos
entre os três herdeiros do proprietário antigo,
Sr. Emanuel (in memorium), e o restante, onde
tem a RPPN, ficou unificado à fazenda com seus
atuais 420 hectares. Atualmente, a Reserva
pertence aos Srs. Gustavo Henrique Martins
Nora (médico), Paulo Emanuel Martins de Nora
(médico) e à Sra. Regina Lúcia Bettencourt de
Nora Garcia (profissão não identificada). De
acordo com Lins (2005: 64), o laudo técnico do
IBAMA, em 1996, apontava para “90 hectares
de uma cobertura de vegetação secundária em
estágio avançado de regeneração da Mata Atlân‑tica
em bom Estado de conservação e 28 hectares
cobertos por cabruca com alto nível de infestação
de ‘vassoura de bruxa’’’. O resultado dessa mata
secundária em regeneração é a presença consi-derável
de flora e fauna diversas. Segundo dados
levantados por Santos (2008), a RPPN tem uma
ótima estrutura para o receptivo e atendimento
ao turista, onde os visitantes buscam, principal-mente,
recreação (29,6%) e os aspectos naturais
(91,4%) da Reserva.
4.4. RPPN Mãe da Mata
Criada sob a Portaria 32/04 aprovada em
04/03/2004, situada nas terras do Engenho de
Tabela 2. Reservas em Gestão no Município de Ilhéus -Bahia.
RPPN ÁREA/ha Município UF Proprietário
Reserva São João 25 Ilhéus BA Regina H. R. S. Pessoa
RPPN Arte Verde 10 Ilhéus BA Roberto Aguiar
Salto Apepiqui 118 Ilhéus BA Gustavo Nora
RPPN Mãe da Mata 13 Ilhéus BA Ronaldo Santana
Fonte: CNRPPN (Cadastro Nacional de RPPN’s – adaptado pelos autores).
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
676 Desafios e potencialidades …
Sant’Anna, faz parte da Fazenda Colinas de
Odé, com 67 hectares. A RPPN Mãe da Mata
é um importante sítio histórico do Brasil. Suas
terras foram doadas a Mem de Sá, Terceiro
Governador Geral do Brasil, em 1537, pelo
Donatário da Capitania de São Jorge dos Ilhéus,
Jorge Figueiredo Correia. Localizando -se no
km 07 da estrada que liga Banco da Vitória a
Maria Jape, no Distrito de Japu, a 15 km do
centro de Ilhéus. Com 13 hectares, a Reserva,
com sua rica biodiversidade, é um local ideal
para aulas in loco. Segundo o Sr. Ronaldo San-tana,
sociólogo, proprietário da fazenda desde
1973, a RPPN proporciona aulas de Educação
Ambiental, História do Brasil, Ecologia, Hidro-logia,
Geografia, Agronomia, Biologia, Farmaco-botânica,
Botânica, Zoologia, Desenvolvimento
Ambiental, Saúde Ambiental, Turismo Ecológico,
reflexão, relaxamento, meditação e descanso.
Possui, ainda, agricultura orgânica certificada e
variada, onde os visitantes têm a oportunidade
de conhecer o cultivo de cacau, cupuaçu, pupu-nha,
açaí, banana, entre outros, em sistemas
agroflorestais, além de uma indústria de álcool
biocombustível. A fauna de animais terrestres
e aves é preservada e muito diversificada, com
algumas espécies em extinção sendo estuda-das
por universidades brasileiras. A flora, com
matas primárias e árvores centenárias, é tam-bém
preservada e diversa, com espécies na lista
de extinção, algumas sendo estudadas por pes-quisadores
de renome em convênio com a UESC/
CEPLAC e Jardim Botânico de Nova York, EUA.
5. Metodologia
Esta pesquisa pode ser enquadrada como um
estudo de caso, objetivando verificar a rede de
potenciais parceiros para a implantação do Eco-turismo
em Ilhéus (BA). Optou -se pelo estudo de
caso, pois o interesse era observar a ocorrência
do fenômeno no campo social e não discuti -lo
apenas do ponto de vista da teoria. O enfoque
aqui é a construção da pesquisa com base em
uma realidade delimitada, conforme sugere Gil
(2004).
O problema formulado, e que orientou tanto o
levantamento bibliográfico quanto as entrevistas
semiestruturadas, foi: há um cenário favorável
para a implantação de uma rede de parceiros
que viabilize o trabalho cooperativo com o Eco-turismo
e que seja vantajoso para o manejo das
RPPNs da região de Ilhéus (BA)?
Os dados foram inicialmente coletados de fon-tes
secundárias, através de levantamento biblio-gráfico
sobre o assunto.
Fontes primárias incluíram visitação às
Reservas e às demais instituições, com aplicação
de entrevistas semiestruturadas in loco, para
os seguintes atores: os proprietários de 2 (duas)
das 4 (quatro) RPPNs em gestão no município:
Arte Verde e Mãe da Mata; o gestor do Serviço
Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa
(SEBRAE); o gestor da carteira de desenvolvi-mento
do Banco do Nordeste do Brasil (BNB);
o presidente da cooperativa de turismo local
(Cooperbom); o Secretário de Meio Ambiente do
município; e, o Secretário Executivo do Instituto
Cabruca, uma ONG que atua na região. Todos
esses atores estavam envolvidos no processo de
melhoria do turismo local, no período de março
a novembro de 2012.
Além dos representantes das RPPNs já apre-sentadas,
optou -se pelos demais atores por dife-rentes
motivos: 1) o Banco do Nordeste do Bra-sil
(BNB) apoia o Programa de Desenvolvimento
do Turismo no Nordeste (PRODETUR/NE),
financiado com recursos do Banco Interameri-cano
de Desenvolvimento (BID), que consiste
em propiciar crédito para o setor público (Esta-dos
e Municípios), concebido tanto para criar
condições favoráveis à expansão e melhoria
da qualidade da atividade turística na Região
Nordeste, quanto para melhorar a qualidade
de vida das populações residentes nas áreas
beneficiadas; 2) o Instituto Cabruca desenvolve
um projeto turístico no qual firmou parceria
com a empresa aérea TAM e com a Cooperbom
Turismo para a criação de um roteiro turístico
chamado Caminhos do Engenho de Santana; 3)
o Serviço de Atendimento à Pequena e Média
Empresa (SEBRAE) dá apoio às pequenas e
micro empresas do segmento do turismo na
região; 4) a Secretaria do Meio Ambiente de
Ilhéus é o órgão municipal regulador do seg-mento
e pode contribuir para a viabilização de
atividades turísticas nas RPPNs.
Para a elaboração dos tópicos abordados nas
entrevistas, foi considerado o levantamento da
oferta turística, a demanda das RPPNs, e a
verificação de programas governamentais para o
fomento do turismo em nível local.
As entrevistas padronizadas eram abertas,
pois, segundo Richardson (1985), assim se pode
identificar melhor a problemática estudada. As
perguntas resumiram -se às ações desenvolvidas,
as dificuldades econômicas encontradas e a uma
possível cooperação entre os atores regionais.
Foram feitas as mesmas perguntas para todos,
adaptadas apenas quanto ao enfoque de acordo
com cada instituição ou categoria de entrevista-dos.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
Maria Conceição de Morais Santos; Suzana Machado Pádua; Zysman Neiman 677
6. Resultados
Para compreender a potencialidade da cons-trução
de uma rede de parceiros que viabilizem
o turismo cooperativo nas RPPNs de Ilhéus,
tentamos promover um “diálogo” entre os depoi-mentos
dos atores entrevistados, dividindo suas
opiniões em “potencialidades” e “dificuldades”. A
seguir estão alguns destaques das respostas aos
questionários por cada entrevistado.
6.1. Potencialidades
As respostas advindas do representante do
Banco do Nordeste demonstram que a institui-ção
financeira se mostra disposta, não somente
ao financiamento de projetos voltados às Reser-vas,
como também às associações e cooperativas
ligadas ao turismo, como a de agricultura fami-liar,
agências de turismo, artesões e de artesa-nato,
o que possibilita mais um caminho a ser
abraçado pela integração do segmento. Para
o setor privado, o Banco disponibiliza várias
linhas de crédito.
Segundo o representante:
“Uma das oportunidades mais viáveis para
a região Nordeste é o turismo, pelo fato de
apresentar recursos cênicos e culturais signi-ficativos,
além de mão -de -obra em abundân-cia,
e com custos relativamente baixos. Com
isso, para financiar atividades nestas quatro
áreas, o BNDES inaugurou em 1994 o Pro-grama
Nordeste Competitivo (PNC). [...] Após
negociações envolvendo a extinta SUDENE,
o Banco do Nordeste (BNB), o BID, o então
Ministério dos Esportes e Turismo e os Esta-dos
do Nordeste, foi criado o PRODETUR/NE,
cuja primeira fase foi iniciada ainda em 1994.
[...] Atualmente, [...] o Ministério do Turismo
(MTur) participa do Programa por meio do
aporte da maior parte da contrapartida local,
bem como compõe o Grupo de Trabalho, jun-tamente
com o BNB, para a análise dos pla-nos
turísticos e projetos por ele apoiados.”
Tendo em vista o investimento aplicado no
turismo, a gestora regional do Serviço de Atendi-mento
à Pequena e Média Empresa (SEBRAE),
afirmou que eles têm o objetivo consagrado das
parcerias com outras Instituições do segmento,
ficando evidente também poderiam contribuir
para o desenvolvimento da atividade:
“[...] a entidade desenvolve uma política de
fomento ao turismo regional em parceria
com outras instituições com vistas ao forta-lecimento
e competitividade do setor turístico
através do programa Progredir, parceirizado
com a sede SECTI/BID, apoiando todas as
atividades que estejam focadas em ações con-templadas
no mapa de competência da insti-tuição”.
De maneira um pouco mais objetiva, e focada
na realidade local, o representante do Instituto
Cabruca, durante a entrevista, afirmou que há
vantagens em se trabalhar com a Cooperativa
local ao invés de uma agência de viagens esta-belecida,
por conta do envolvimento de muitos
segmentos sociais, como forma de fomentar o
turismo, divulgar e formatar um roteiro com-pleto,
que falta na região. Acredita que o Insti-tuto
Cabruca pode contribuir, pois possui
“perfil empreendedor, somos uma institui-ção
comprometida com o desenvolvimento
sustentável de base comunitária, apoiamos
agricultores familiares, possuímos estrutura
física e contrapartida (sede, carro, equipe
técnica multidisciplinar, comunicação, asses-soria
de imprensa, etc.). [...] Cada instituição
poderá apoiar com uma parte do programa
de turismo local, fornecendo informações téc-nicas,
apoiando com a estrutura institucio-nal
para o desenvolvimento das atividades,
etc... [...] Nós poderemos fazer a divulgação
do roteiro turístico no site, folder, mídia, TV,
internet”.
Quando o questionário foi aplicado ao Insti-tuto
Cabruca, a instituição acabara de comprar
um carro de tração nas quatro rodas com 12
lugares para realizar o atendimento aos turistas.
A gestora do SEBRAE destacou que, por meio
do Projeto Progredir, o SEBRAE já vem aten-dendo
a uma rede de RPPNs dentro do territó-rio
representado por oito municípios chamado
Costa do Cacau. Considera que esta iniciativa
promete fazer a diferença nesse cenário através
do trabalho constante com as Reservas, o que
pode ser colocado à disposição do município de
Ilhéus, a depender dos próprios proprietários
das RPPNs e de sua disponibilidade de criar
sinergias de serviços entre si e as instituições
envolvidas nesse mercado. Ainda, segundo a ges-tora,
embora o programa não seja específico para
RPPNs, a instituição vem desenvolvendo traba-lhos
de capacitação e acesso ao mercado com a
rede dessas Reservas do Sul da Bahia:
“...haja visto (sic) o potencial turístico que
possui como vocação estas Reservas, e que
precisam ser alavancadas o quanto antes
como forma de solucionar o problema da
maior permanência do turista na região,
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
678 Desafios e potencialidades …
como uma opção diferente daquela do turismo
de sol e mar”.
De acordo com o Secretário de Meio Ambiente
de Ilhéus, a Secretaria também
“...tem interesse em apoiar, o setor turístico
e cooperativas em função do potencial das
RPPNs para o desenvolvimento do ecotu-rismo
com respectiva infraestrutura para
a educação ambiental, importante vetor do
turismo em áreas naturais, em parceria com
a Secretaria de Turismo – SETUR, embora
no momento atual esta parceria seja pontual
e exista apenas em épocas de eventos”.
Quando questionado sobre a possibilidade do
trabalho em rede com outros parceiros regionais,
o representante da Cooperbom Turismo respon-deu
que
“não trabalha ainda, mas gostaria de ser a
primeira a estar presente na iniciativa, tendo
em vista nossos princípios voltados à coope-ração.
Vemos com muito interesse a questão,
pois entendemos que se pode trabalhar com
este objetivo, desde que se crie potencialidade
de crescimento e, principalmente, oportuni-dades
econômicas concretas e de interesses
estruturais para que todos participem. [...]
Nossa cooperativa já possui vários convê-nios
com empresas e associações, onde pode
ceder parte de sua comissão aos parceiros. O
volume de serviços e oportunidades criadas
compensa e muito o valor final adquirido por
todos. [...] Entendemos que é necessário se
criar uma rede de trabalho no turismo. [...]
Ganharíamos, assim, maior oportunidade de
crescimento estrutural e econômico, pois com
a rede, com certeza, aumentaria o volume
de serviços e atendimento ao cliente, sem
esquecer o reconhecimento pelo diferencial do
tipo de trabalho praticado.”
Sobre o eventual apoio das cooperativas
locais, o recém -proprietário da Reserva Arte
Verde é categórico: “Não temos conhecimento
de apoio de entidade alguma, nem mesmo do
IBAMA, não temos conhecimento de cooperati‑vas
que prestem algum apoio”. E a respeito de
uma eventual integração entre os “RPPNistas”
da região para criar um roteiro de visitação con-junto
declarou:
“Eu acho viável, e vou além, acredito que toda
a área turística deveria integrar -se para pro-porcionar
experiências agradáveis aos turis-tas
que vêm nos visitar. Estivemos recente-mente
na Costa Rica que serve de modelo de
comunidade turística integrada, onde todos
indicam todos. Você está no Hotel ele indica
a operadora de rapel, na companhia de rapel
ele te indica a companhia de rafting, na com-panhia
de rafting ele te indica um passeio
na cidade ou um restaurante, e assim por
diante, tudo para manter o turista feliz e bem
atendido... Mas passa por uma mudança de
cultura. Enquanto mantivermos esse compor-tamento
egoísta de cada um tentar resolver o
seu pedaço e, se possível roubar o cliente do
outro, não vamos avançar. Eu já ouvi dono de
hotel dizer: ‘eu trago o turista para ficar no
meu hotel e quanto menos ele sair de lá, para
mim, melhor...’. É essa a cultura que impera
atualmente”.
O proprietário da Reserva Mãe da Mata
revelou na entrevista que a mesma já possui
infraestrutura e um trabalho de algum tempo
com o turismo. Este proprietário é o único que
faz parceria com os negócios de seus vizinhos,
seja com o alambique de pinga famosa que está
próximo, ou com o artesanato e a associação de
agronegócio familiar.
Teve oportunidade de conhecer o sistema
Costa -ricense de consórcio, que é incrementado
pelo cooperativismo e se encantou com o que viu,
e que lhe parecia impossível ser construído pela
integração das pessoas e seus negócios. A Costa
Rica também foi mencionada pelo proprietário
da RPPN Arte Verde, foi a Costa Rica, onde:
“Vi essa integração [...] onde os turistas pas-sam
7 a 8 dias visitando Reservas, com ativi-dades
diversas nas matas e nas fazendas. As
atividades são o arvorismo, as caminhadas,
a observação de pássaros, a rica culinária, o
artesanato diferenciado, a História e as estó-rias,
os banhos de rio, de cachoeira, de bica,
de véu de noiva, a degustação de deliciosas e
variadas frutas, etc.”
Revelou, ainda que sua intenção ao criar a
reserva era:
“...proteger a fantástica biodiversidade que
ainda existe nessa minha propriedade e no
entorno da mesma – desde a flora com árvo-res
com mais de 500 anos, bem como aves
e outros animais silvestres de pequeno e
grande porte [...] As RPPNs dessa região têm
sido um laboratório natural para professores,
pesquisadores e estudantes das mais diver-sas
áreas do conhecimento, além de locais de
visitação para turistas em busca da natureza.
Várias escolas do Brasil e da própria região já
incluíram na grade curricular o passeio -aula
onde os alunos podem viver experiências que
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
Maria Conceição de Morais Santos; Suzana Machado Pádua; Zysman Neiman 679
os levem a se tornarem transformadores do
planeta”.
Ao tratar dos planos de implantação de par-cerias,
o representante da Cooperbom Turismo
sentenciou que eles seriam benéficos:
“...pois um complementa o outro. O primeiro
tem o produto e o segundo vende e utiliza-
-se dos produtos para venda a seus clientes.
Nossa Cooperativa é a única do Estado da
Bahia que trabalha como agência de turismo
e uma das poucas do país. Na parceria com o
trade turístico local temos sido a agência que
planeja pacotes turísticos locais e regionais,
bem como promove a captação de turistas e
divulga a região a nível nacional e internacio-nal,
principalmente entre as cooperativas do
mundo todo, não se pode esquecer que temos
um potencial de mais de 1 bilhão de coope-rativados
pelo mundo. Temos, também, a
particularidade de captar projetos voltados ao
turismo, ao meio ambiente e à educação, que
estejam relacionados com este segmento. [...]
Contribuiríamos apoiando a criação do plano,
a estratégia de trabalho, a implantação da
rede, a criação dos roteiros, favorecendo a
cultura da cooperação e o crescimento eco-nômico,
estimulando e apoiando a criação de
associações e cooperativas de artesanato com
a população e o trabalho local, promovendo
a captação de projetos em todos os setores,
estimulando a cultura da cooperação, promo-vendo
a educação ambiental, patrocinando
o marketing e a divulgação de nossa região
a nível nacional e internacional, levando o
turista para visitação, fomentando a criação
de novos serviços e criando oportunidades de
novas parcerias”.
Questionado sobre a possibilidade do Insti-tuto
Cabruca trabalhar em rede para o desen-volvimento
do turismo sustentável, ou mesmo de
um roteiro para as RPPNs da região, seu repre-sentante
afirmou:
“Sim, estamos com encaminhamentos/proje-tos
iniciais de apoio ao turismo sustentável
em assentamentos rurais, comunidades qui-lombolas,
tribos indígenas e RPPNs em nossa
região. Entendemos que o fortalecimento
desta estratégia contribuirá para o desenvol-vimento
da região, por meio da divulgação de
novos roteiros turísticos”.
A depender da demanda, as cooperativas
também estão integradas nesse trabalho de
desenvolvimento do turismo regional. Isso abre
portas para que elas possam ser apoiadas, ainda
que se saiba que possuem o Serviço Nacional de
Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP)
como seu serviço de apoio segmentado.
6.2. Dificuldades
O recém -proprietário da Reserva Arte Verde,
apesar de estar a poucos anos nesse segmento,
trouxe respostas precisas sobre o diagnóstico que
se obteve da região e a necessidade clara de um
choque de cultura da cooperação no trade turís-tico
local. Dá exemplos da visão de curto prazo
existente, onde o lucro deve ser imediato, tra-zendo
principalmente o mau hábito comercial de
exploração nos preços com a consequente perda
do cliente para um possível retorno. Destaca que
essa prática acaba por fazer uma propaganda
“boca a boca” negativa. Segundo ele, “se por um
lado se ganha mais três clientes com um traba‑lho
de qualidade, por outro perde ‑se sete quando
se vende uma má imagem de seu negócio”.
Quando questionado sobre as formas como
pretendia viabilizar economicamente a RPPN,
respondeu:
“...imaginávamos sustentá -la com a renda
do turismo e de alguma produção rural no
entorno da área de Reserva. Atualmente a
propriedade não é sustentável. Temos apenas
alguma produção local, porém muito insi-piente.
Ainda pretendemos aumentar a pro-dução
local e iniciar as operações de turismo.
Porém, as políticas locais voltadas ao turismo
são muito frágeis e com foco bastante indivi-dualista,
sem um pensamento em desenvol-ver
a região como um todo. Ações isoladas
são geradas para atender esse ou aquele setor
e os setores competem entre si, ao invés de
cooperar.”
Analisando -se os projetos e investimentos da
Secretaria do Meio Ambiente (SEMA) durante o
período desta pesquisa, essa dificuldade também
transparece. A pasta parece distante do setor de
turismo e das RPPNs, pois se mostra pouco inte-ressada
em repassar incentivos que possam ser
proporcionados pelo ICMS Ecológico, por exem-plo,
que até o momento não foi demandado pelos
proprietários de Reservas.
No entanto, sustentar uma Reserva, qual-quer
que seja seu tamanho, envolve um processo
complexo de captação de recursos. O proprietá-rio
da RPPN Mãe da Mata reclama da falta de
apoio do governo e, como os outros proprietários,
não vê nenhuma vantagem econômica concreta
quanto à lei de incentivo às RPPNs. Nota -se, em
sua fala, o desestímulo trazido pela burocracia
e o valor quase insignificante correspondente,
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
680 Desafios e potencialidades …
quando comparado às despesas necessárias para
a manutenção das terras:
“Eu achava que teria um apoio dos órgãos
oficiais – ICMBio e Ibama – de acordo com
a legislação do SNUC, porém foi um engano.
Temos uma relação pessoal boa, porém apoio
oficial zero. Também as grandes ONGs, usam
as RPPNs como vitrine, captam muitos recur-sos,
porém quase nada chega até a ponta que
somos nós. Vou dar um exemplo: O VIVA A
MATA capitaneado pela SOS Mata Atlântica
em parceria com a CI, TNC, NATURA, BRA-DESCO.
É um evento realmente importante
porque chama a atenção não só do Brasil,
mas do mundo para a importância e preser-vação
do fantástico bioma Mata Atlântica.
Porém, para as RPPNs (apenas algumas)
chega o mínimo – passagem, hospedagem e
alimentação – para participar do evento mos-trando
seus trabalhos de educação e suas par-cerias
com as comunidades do entorno. Acho
que deveriam dar mais ajuda à MATA VIVA,
que somos nós no dia a dia enfrentando caça-dores
e traficantes de aves e outros animais,
pagando Mateiros Guardas -Parque do próprio
bolso, lutando para dar sustentabilidade às
comunidades do entorno para tirar a pressão
de cima da RPPN etc.”
Para o proprietário da RPPN Arte Verde, é
daí que surge o turista de baixa qualidade ou de
pouca economia que existe no cenário da região.
Em sua opinião, fica estampada a inexistência
de uma boa gestão entre os grupos que precisam
do turismo para sua sobrevivência, prejudicados
pela baixa cultura da cooperação que deve e
precisa ser estimulada de forma mais eficiente
possível.
Alega que não recebe nenhum tipo de incen-tivo
além da isenção de ITR, que julga não
ser significativo, pois sustenta apenas poucos
encargos para manter a Reserva intacta. Sua
propriedade possui trilhas pela mata, circuito de
arvorismo, tirolesa, lago para pesca, passeio de
barco, caiaques e rapel, além de oferecer ao visi-tante
a oportunidade da coleta de frutas e ver-duras
locais e o contato com a natureza. Mesmo
com esses atrativos, afirma:
“Não investimos ainda na operação turística
propriamente dita, que nos exigiria contrata-ção
de mais um funcionário para cuidar da
operação e também investimentos em publi-cidade
etc. Fizemos um teste no final do ano
passado, mas a procura foi muito baixa. O
que percebemos é que com as políticas desas-tradas
que a região possui para o turismo
estamos atraindo um turismo de baixa quali-dade,
com baixo nível de renda, focado apenas
nas necessidades básicas como comer, beber
e ir à praia. Esse cenário não nos motivou
muito ainda a investir na operação. Temos
atividades na propriedade para 1, 2 ou 3 dias
de entretenimento, com um excelente nível
de satisfação para um turista que não seja de
primeira viagem e que pretenda viver experi-ências
diferentes em contato com a natureza”.
No entanto, as RPPNs ainda não trabalham
em conjunto com a Cooperbom, uma das poucas
agências de turismo cooperativo do país, que
conta com 80 associados (advogados, médicos,
engenheiros, militares, professores universitá-rios,
empresários, hoteleiros e estudantes). O
trabalho dessa agência cooperativa foi publicado
na revista da Organização Internacional do
Turismo Social (OITS)3, com sede em Bruxelas
(Bélgica) apoiada pela ONU em 2012 (Ano Inter-nacional
das Cooperativas), cujo objetivo era
divulgar as organizações que praticam o turismo
social.
De acordo com seu Diretor Presidente:
“[...] a Cooperbom Turismo nasceu com uma
identidade social muito forte e encontra -se em
desenvolvimento, evoluindo e incorporando
conceitos de administração fundamentados
na doutrina cooperativista para constituir-
-se numa moderna empresa de resultados, a
exemplo das grandes cooperativas no Canadá,
Estados Unidos e Europa. Estamos traba-lhando
diuturnamente para que alcancemos
os objetivos propostos. O cooperativismo é a
base fundamental para a sustentabilidade
social. [...] Não é por acaso que as regiões
onde existe o cooperativismo, o IDH é sempre
mais elevado”.
Apesar de todo esse potencial, o proprietá-rio
da RPPN Mãe da Mata se queixa da falta
de parceria com a Cooperativa de Turismo: “a
COOPERBOM, está autorizada a contratar pas‑seios,
porém até o momento ainda não consegui
operacionalizar nenhum passeio, não sei por que
motivo”. E, manifestou que recebe apoio das ins-tituições
financiadoras: “há cinco anos tive um
apoio da Aliança para a Conservação da Mata
Atlântica – SOS Mata Atlântica, CI e TNC e no
momento estou tendo um apoio do Instituto Flo‑resta
Viva e do Instituto CABRUCA”.
Perguntado sobre seu relacionamento com os
vizinhos, o proprietário disse ser “muito bom”,
embora mantenha fiscalização constante porque
ainda existem caçadores, traficantes de aves
e cortadores de lenha para casas de farinha.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
Maria Conceição de Morais Santos; Suzana Machado Pádua; Zysman Neiman 681
Segundo ele, houve até um princípio de união
entre várias instituições para que se pudesse
levar à frente um roteiro turístico desejado pelos
turistas e proprietários, mas alguns participan-tes
impuseram dificuldades para as empresas,
ou acharam que levaria muito tempo para o pro-jeto
se consolidar.
Para finalizar, cabe ressaltar algumas difi-culdades
apontadas pelo representante da Coo-perbom
sobre as expectativas iniciais e o atual
desempenho da Cooperativa no agendamento de
visitação à RPPN, uma vez que, de acordo com
seu ponto vista, os objetivos foram apenas par-cialmente
alcançados:
“...pois pensávamos que a adesão à iniciativa
fosse ser mais fácil, pela própria dependência
da região ao turismo e os benefícios que rapi-damente
poderiam ser criados com a união
das pessoas e empresas voltadas ao setor. A
baixa cultura da cooperação, as experiências
fracassadas com algumas cooperativas locais,
inclusive envolvendo os cacauicultores da
região, impediram o rápido desenvolvimento
da cooperativa. Por outro lado, ao modificar-mos
o foco da Cooperativa em relação aos seus
primeiros anos, onde tínhamos uma visão
voltada ao cooperativismo cultural/eventos
– para o turismo, como agência cooperativa
de turismo, foi que passamos a crescer... A
falta da cultura cooperativista ainda é um
ponto a ser trabalhado entre os atores envol-vidos
no turismo, inclusive a própria RPPN
Mãe da Mata já foi beneficiada com visitação
organizada pela Cooperativa, mas problemas
envolvendo a logística do próprio local foram
fatores que dificultaram o agendamento de
novas visitações à reserva, além do mais,
o proprietário já foi cooperado e deixou de
sê -lo simplesmente por buscar soluções ime-diatistas
e uma Cooperativa, como qualquer
outra empresa, requer um prazo significativo
para proporcionar os benefícios desejados....
Alguns atores não entendem que a solução
não deve ser unilateral e não dão subsidio
ou apoio para que o processo se viabilize ou
possa ser agilizado, sem entender que a ação
necessária pode não ser imediata, e depende,
muitas vezes, de médio a longo prazo para se
alcançar os objetivos desejados”.
7. Discussão e Considerações Finais
À primeira vista, a impressão que se tem é de
que Ilhéus seria um local ideal para se promover
um turismo baseado em cooperação e integração
dos diferentes setores. No entanto, há uma com-plexidade
relativo ao trade turístico que dificulta
sua implementação, especialmente porque cada
um parece pensar mais em si do que na região
como um todo.
Uma somatória de fatores vem dificultando o
desenvolvimento do turismo em Ilhéus: má ges-tão
municipal; letargia da população em cobrar
resultados do poder público; pouca cultura de
cooperação no próprio trade turístico; e, falta
de lideranças proativas na sociedade. O turismo
local ainda se sustenta quase que somente por
sua vocação natural de sol e mar, ou pelas histó-rias
de Jorge Amado.
Nogueira et al. (2008), salientam que os
diferentes produtos turísticos precisam ter uma
atratividade considerável para que essas Reser-vas
possam, através do turismo, ter sustenta-bilidade
econômica e garantir a conservação da
biodiversidade em um trabalho conjunto com a
população do entorno.
Neste contexto, mesmo com os desafios elen-cados
pelos diferentes atores envolvidos, o coope-rativismo
poderia funcionar, como propõe Klaes
Figura 1. Modelo proposto da Rede de Parcerias integradas para a eficiência do turismo
em RPPNs
Associações Parcerias RPPN’s Cooperativas
de Artesanato Fazendeiros de Transporte
Instituições Cooperativa Cooperativas
Bancárias de Turismo de Crédito
Associação de Turismo Poder Público
& Setor Hoteleiro Setur e SEMA
Operadoras/Agências de Turismo
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
682 Desafios e potencialidades …
(2005), por ser um processo social, cuja interação
das pessoas leva a fins comuns. A proposta é de
se desenvolver um modelo de rede a ser gerida
por uma Cooperativa de Turismo, no intuído de
tê -la como instrumento de sinergia para estrutu-rar
e coordenar as instituições envolvidas nesse
processo, o que pode fazer a diferença no desen-volvimento
do turismo na região, ao integrar os
principais atores locais (Figura 1).
Cientes de que este ainda é um cenário ideal,
propomos que se houver um fluxo satisfatório de
turistas com diferentes produtos ofertados nas
Reservas, esta atividade poderá ser uma alter-nativa
econômica muito importante, tanto para
o proprietário, como para a comunidade local,
além de se garantir não apenas os lucros mas
também a conservação da biodiversidade. Com
a concentração populacional em centros urba-nos,
a procura a locais naturais e belos pode ser
uma tendência que cresça, como propôs Neiman
(2012), quando descreve o ecoturismo como um
caminho para se conquistar defensores das cau-sas
ambientais.
Uma cooperativa no centro desse processo
traria agilidade, facilidade e flexibilidade para
envolver a todos e realizar um trabalho multi-facetário,
tendo em conta os múltiplos serviços e
atividades que pode desenvolver.
Ao se analisar todos os depoimentos dos
representantes das instituições entrevistados,
verifica -se a necessidade de uma mudança de
estratégia nessa direção, e que até já chegou a
ser ensaiada por alguns atores locais, mas ainda
de forma pontual e oportunística. Uma moti-vação
extra para o trabalho cooperativo parece
depender de um agente ou instituição catali-sadora.
A Coorpebom Turismo poderia desem-penhar
esse papel, já que foi citada por todos
os entrevistados como a organização com esse
potencial.
No que tange às RPPNs, já há uma grande
expectativa, segundo o proprietário da Mãe da
Mata, em relação à parceria com as coopera-tivas,
principalmente a de turismo. Segundo
ele, as propostas que estão sendo desenhadas
têm grande chance de dar certo, principal-mente
devido à participação de novos parcei-ros:
“Considerou ‑se o fluxo turístico, a demanda
e oferta turística, assim como a nova disponibili‑dade
dos parceiros em participarem do processo
de viabilização dos programas de turismo para a
sustentabilidade econômica das RPPNs e ela tem
parecido animadora”, conclui.
As entrevistas com os representantes da
cooperativa Cooperbom Turismo e do Instituto
Cabruca demonstraram uma forte preocupação
com o desenvolvimento sustentável e o uso do
turismo como ferramenta para a viabilização
econômica e de conscientização da população
para a importância das questões ambientais,
no que tange a conservação da Mata Atlântica
remanescente. Para isso, elas apostam nas
parcerias como alavancadoras desse processo,
ainda que haja dificuldade em encontrar suporte
financeiro e apoio do poder público local, além de
mecanismos de integração dos diferentes atores
relacionados com a questão turística.
Um dos objetivos deste estudo foi avaliar a
importância da criação de uma rede local que
possa tornar realidade um projeto integrado
de eficiência e qualidade turística. A partir dos
resultados obtidos conclui -se que o município
apresenta um enorme potencial para desenvol-ver
um turismo cooperativo com vistas à con-servação
da biodiversidade e sustentabilidade
econômica das RPPNs.
Entretanto, faltam políticas públicas adequa-das
e parceiros engajados em promoverem o for-talecimento
das Reservas. A criação de uma rede
de cooperação entre os atores locais pode viabi-lizar
o processo, gerando equilíbrio econômico
para o município, partindo -se do pressuposto de
que as ações conjuntas, como é o caso do turismo
cooperativo, geram benefícios sociais, culturais e
ambientais ao envolverem todos os atores, nesse
caso nas atividades turísticas. Como sugerem
Ninaut e Matos (2008), tais iniciativas trazem
benefícios aos municípios e aumentam o IDH
regional, ao proporcionar benefícios sociais e
ambientais para diferentes segmentos da socie-dade
local. Sendo assim, poder -se -á criar a
sinergia necessária a gerar os benefícios socio-ambientais
desejados e potenciais soluções da
tão desejada sustentabilidade das UCs.
A região de Ilhéus, porém, carece de recur-sos
como um todo para o desenvolvimento do
turismo responsável e sustentável, tanto por
conta da falta de capacitação dos agentes recep-tivos
e da população do entorno, quanto dos pró-prios
”RPPNistas”. Mesmo que haja um curso
universitário sobre temas afins na região, ainda
são poucas as pessoas formadas e bem prepa-radas
para assumirem papéis de liderança em
processos complexos como este. Ainda há uma
carência de conhecimento e capacitação para a
adequação das propriedades com RPPNs, por
exemplo, que exigem a criação e a manutenção
de trilhas interpretativas, aquisição de equipa-mentos
específicos e fornecimento de uma ali-mentação
apropriada.
O turismo pode ser o melhor caminho para
a solução dos problemas econômicos, que tanto
preocupa os proprietários de Reservas, como
mostram outras regiões citadas como exemplo
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
Maria Conceição de Morais Santos; Suzana Machado Pádua; Zysman Neiman 683
no Brasil e em outras partes do mundo. Todavia,
para que isso aconteça com a menor brevidade
possível e de maneira economicamente viável
e proficiente em suas iniciativas, deverá haver
a criação de uma rede de turismo cooperativo,
principalmente pela necessidade de se pro-por
soluções e alternativas que promovam um
turismo de forma sustentável.
A operacionalização do atendimento turístico
em rede por uma cooperativa com sede local pode
proporcionar, ainda, a educação cooperativista de
todos os atores envolvidos, (hospedagem, guias,
transporte e serviços relacionados), imprescin-dível
para o perfeito andamento do processo,
facilitando o desenvolvimento econômico e o
crescimento institucional do marketing da rede
do turismo cooperativo. Vale salientar que a
participação dos proprietários das RPPNs como
cooperados é importante, mas não fundamental
para a operacionalização da rede, pois essa deve
ser uma situação natural e de livre arbítrio.
Somente ao passar a utilizar os serviços da agên-cia
e ao participar da rede, o proprietário estará
integrado ao processo, fazendo com que as opor-tunidades
aconteçam pela união de esforços em
comum, proporcionando o aumento no emprego
e na renda da comunidade, promovendo a dimi-nuição
das diferenças sociais, com consequente
elevação da qualidade de vida dos munícipes.
Para que as RPPNs possam alcançar a sus-tentabilidade
econômica através do turismo,
torna -se necessário um planejamento das ati-vidades
a serem implantadas, seguindo uma
organização adequada ao padrão de cada
Reserva, observando -se os impactos ambientais
que advém ou possam derivar da visitação. Um
plano estratégico de criação de oportunidades
mútuas poderia propiciar o fortalecimento de um
polo turístico regional de conhecimento nacional
e mesmo internacional, no qual se pudesse gerar
a sustentabilidade das respectivas Reservas par-ticipantes
do processo.
Há que se criar uma “rede” com identidade
própria, formada por grupos de estudo, ONGs,
agências, pessoas preocupadas em experimen-tar
situações inovadoras. Um bom exemplo de
iniciativa vem do Instituto Cabruca, por ser
uma instituição interessada em avançar com
o processo de oferta turística, fortalecendo as
parcerias já existentes. O Instituto adquiriu um
carro específico para o transporte turístico e está
desenvolvendo, juntamente com a Cooperbom
Turismo e a RPPN Mãe da Mata, um projeto
cuja proposta é o desenvolvimento sustentável
da comunidade do Rio do Engenho, através do
turismo rural e pedagógico, visando fortalecer as
potencialidades locais.
Deve -se ter em conta que nos últimos dez
anos, dado o crescimento das orientações e da
cultura cooperativista levada a efeito, principal-mente
pelas gestões exitosas das cooperativas
encabeçadas pelos ramos de crédito, agronegó-cios
e de saúde no país, também se aumentou a
fiscalização e a educação cooperativista, fortale-cidos
pela criação e crescimento substancial do
Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperati-vismo
(SESCOOP) nesse período.
Na área do turismo, tem -se uma boa referên-cia,
a já citada parceria entre a RPPN Ninho do
Corvo (PR) com a Cooperativa Paranaense de
Turismo (Cooptur), criada em 2004, reúne pro-fissionais
das mais diversas atividades econômi-cas,
como donos de hotéis e pousadas, museus,
restaurantes e de outras atrações turísticas,
típicas da região. Esta ideia deve ser estudada
mais profundamente para que as lições aprendi-das
possam ser ajustadas à realidade de Ilhéus.
A diferença entre a Cooptur no Paraná e a
Cooperbom Turismo em Ilhéus é que a pri-meira
tem como objetivo o turismo local, vol-tado
somente para as empresas do trade de sua
região. Não se trata de uma agência de viagem,
mas uma organização como objetivo maior e com
o esforço conjunto para trabalhar a venda de pro-dutos
que os próprios associados têm a oferecer
na sua região. Já a Cooperbom Turismo, além
de ter papel semelhante de apoiar seus coopera-dos
voltados ao trade turístico, é uma agência de
viagem legalmente constituída, possuindo não
somente uma abrangência local, mas nacional
e internacional. Vende seus produtos regionais,
assim como atende a todos os interessados, asso-ciados
– que possuem vantagens de descontos
na compra – ou não associados – podendo dispo-nibilizar
todos os produtos turísticos oferecidos
pelas principais operadoras no Brasil e exterior.
Ou seja, a Cooperbom Turismo vende pacotes
turísticos de todas as operadoras conveniadas
nacionais e estrangeiras, dentre seus produtos
estão passagens aéreas, cruzeiros e intercâmbios
em mais de 130 países.
Essa maior abrangência de serviços lhe pro-porciona
o diferencial de atendimento logístico
que lhe credencia – pelo menos potencialmente
– a ter núcleos em todas as cidades e capitais do
país, inclusive no exterior, atendendo a escolas,
universidades, empresas de qualquer área de
atuação e, preferencialmente, as próprias asso-ciações
e cooperativas nacionais que precisem de
serviços nesse segmento.
Outro exemplo que pode ser citado é o da
Cooprena R. L – Consorcio Cooperativo Red Eco-turistica
Nacional da Costa Rica. Criada há 17
anos, é um consórcio que agremia cooperativas,
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
684 Desafios e potencialidades …
organizações da economia social e uma agência
de viagens (Simbiosis Cooprena Tour), a qual
comercializa os produtos de todos os associados
e promove programas próprios ou consorciados.
É reconhecida como modelo em sustentabilidade,
fazendo do turismo um ativador econômico nos
locais onde está inserida.
A conclusão que se chega é que existe um
enorme potencial em Ilhéus para se desenvol-ver
um programa integrado de turismo susten-tável
que beneficie comunidades, RPPNs e os
diferentes setores da sociedade. Todavia, será
necessário um empenho para que isso aconteça
de forma eficaz e harmônica. Há a necessidade,
de se fomentar a participação dos agentes e
representantes dos diferentes segmentos, além
das escolas e universidades, por exemplo, tendo
na educação ambiental in loco, um pilar para
promover a sinergia entre os atores sociais e os
que podem contribuir para processos geradores
do desenvolvimento sustentável das redes pro-postas.
Mesmo que a ideia de se criar uma coopera-tiva
para o trade turístico que envolva diversos
segmentos sociais para beneficiar as RPPNs
de Ilhéus pareça ainda remota, seu potencial é
inquestionável. Este estudo trouxe informações
sobre as potencialidades e a realidade de Ilhéus
que precisa ser trabalhada para que se chegue a
um produto sólido e sustentável e que contribua
de fato para a região como um todo. Implemen-tar
algo que faça a diferença regionalmente pode
ser uma tarefa desafiante e que exige tempo e
empenho, mas as fazem valer a pena investir
tempo e recursos para sua concretização.
Bibliografia
BRASIL
Lei n. 5.764, de 16 de dez. 1971. “Define a Polí-tica
Nacional de Cooperativismo, institui o
regime jurídico das sociedades cooperativas, e
dá outras providências”. Brasília, 16 de dez
1971.
CANÇADO, A. C.; CANÇADO, A. C. M. G.
2009 Incubação de Cooperativas Populares:
Metodologia dos indicadores de desempenho.
2ª ed. Palmas (TO): Futura.
COSTA-ALVES, A. L.; GUIMARÃES, G. A. M. C.
2009 “Turismo e agricultura no entorno das
RPPN do Município de Casimiro de Abreu/
RJ sob o enfoque da multifuncionalidade:
relação em potencial para o desenvolvimento
rural local”. CULTUR – Revista de Cultura e
Turismo, n. 01, v. 03.
KLAES, L.S.
2005 “Cooperativismo e ensino à distância”.
Florianópolis/SC. 2005. (Tese de Doutorado
em Engenharia de Produção). Universidade
Estadual de Santa Cruz, Ilhéus (BA).
LINS, Alene da Silva
2005 “A decisão de preservar: um estudo das
Reservas Particulares do Patrimônio Natu-ral
na região cacaueira (sul da Bahia, Bra-sil)”.
Dissertação (mestrado) apresentada ao
Programa de Mestrado em Desenvolvimento
Regional e Meio Ambiente da Universidade
Estadual de Santa Cruz, Ilhéus (BA), 168p.
MAGALHÃES, J. H. A. F.
2006 “Cultura, turismo e desenvolvimento da
cidade de Ilhéus – Bahia: uma análise da
gestão de Jabes Ribeiro (1996 -2004)”. Dis-ponível
em: <http://www.uesc.br/cursos/
pos_graduacao/mestrado/turismo/dissertacao/
dissertacao_joana_hage.pdf>. Acesso em 21
de novembro de 2012.
MENDONÇA, R.; NEIMAN, Z.
2005 Ecoturismo no Brasil. Barueri, SP: Manole.
MORSELLO, C.
2006 Áreas protegidas públicas e privadas. São
Paulo :Annablume.
NINAUT, E.S.; MATOS, M.A.
2008 “Panorama do cooperativismo no Brasil:
censo, exportações e faturamento”. Informa‑ções
Econômicas, v38, n8, 1 -13, ago 2008.
NOGUEIRA, J. M, IMBROISI, D, RIOS, R. M.
2008 “Ecoturismo e Conservação da Diversidade
Biológica: Uma avaliação econômica de poten-ciais”.
Anais do XLVI Congresso da Sociedade
Brasileira de Economia, Administração e
Sociologia Rural. Disponível em http://purl.
umn.edu/108192. Acesso em novembro 2012.
ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASI-LEIRAS
– OCB
2011 “Relatório da Gerência de Monitoramento”.
Panorama do Cooperativismo Brasileiro.
Março 2011.
PARDINI, F.
2012 “2012: Um ano para as cooperativas”,
Pagina 22, Disponível em http://pagina22.
com.br/index.php/2012/01/um -ano -para -as-
-cooperativas/. Acesso em 10/09/2012.
PELLIN, A.
2010 “Avaliação dos aspectos relacionados à
criação e manejo de Reservas Particulares
do Patrimônio Natural no Estado do Mato
Grosso do Sul, Brasil”. Tese (doutorado)
apresentada à Escola de Engenharia de São
Carlos da Universidade de São Paulo. São
Carlos, SP, 227 p.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
Maria Conceição de Morais Santos; Suzana Machado Pádua; Zysman Neiman 685
PINTO, R.
2008 “Navegando à Deriva: Notas etnográficas
sobre o turismo em Ilhéus -Bahia”. Revista
Brasileira do Turismo. V. 2, nº 4.
SANTOS, M. S.
2005 “Análise da Atividade Turística da Reserva
do Patrimônio Particular Salto do Apepique,
Ilhéus, Bahia”. Dissertação de Mestrado, Uni-versidade
Estadual de Santa Cruz, Ilhéus
(BA).
SOARES, M. M.; SOBRINHO, A. D. M.
2007 Microfinanças: o papel do Brasil e a impor‑tância
da cooperativa de crédito. Brasília:
BCB, 170 p.
Notas
1 Disponível em http://www.ocbes.coop.br/ocb/
index.php?module=m_noticias&pag=inf_
noticia&id_noticia=2189, acessado em
09/03/2013. Disponível em http://www.sicoo-bcoopemesp.
com.br/novosite/menu/23, aces-sado
em 09/03/2013.
2 Disponível em http://www.bahiacooperativo.
coop.br/download/relatorio -de -gestao -2012.
pdf, acessado em 09/03/2013.
3 Disponível em: http://www.bits -int.org/files/
oits153.pdf
Recibido: 19/03/2013
Reenviado: 24/04/2013
Aceptado: 13/06/2013
Sometido a evaluación por pares anónimos
JOURNAL OF TRAVEL AND TOURISM RESEARCH
http://www.site.adu.edu.tr/jttr/index.asp
AIMS & SCOPE
Aiming at freely accessible scholarly knowledgebase in the travel, hospitality and tourism field, the JTTR,
with its rich, quality, current and applicable information from different corners of the world, and growing
number of queries and manuscript submissions, is emerging as a major and highly favorable scientific
platform among researchers and practitioners.
The journal covers all types of empirical and conceptual research of issues relevant to travel, tourism and
hospitality industry. In addition to research articles, research notes and book reviews, the JTTR welcomes
book discussions and contributions debating or commenting issues of interests to researchers and the
professional community.
All manuscripts published in JTTR are double-blind peer reviewed by scholars expert in the subject/topic
area of the manuscript and in the disciplinary or methodological approach used. The standard for
publication in JTTR is that the paper must make a clear contribution substantively, theoretically or
methodologically, to the body of knowledge.
Indexed/abstracted in Ebsco, Ciret, Proquest Career and Technical Education,Turizam, Journal of Travel
and Tourism Research has recently been approved for inclusion in the 11th Edition of Cabell's Directory of
Publishing Opportunities in Marketing.
Thanks to the distinguished editorial board members for their time, painstaking reviews, constructive
criticisms and contributions, the JTTR will successfully continue to dissemination of knowledge to a wider
audience since 2001.
E-mail: intjttr@gmail.com ; stad@adu.edu.tr ; ayuksel@adu.edu.tr
EDITORIAL BOARD
AGARWAL, Sheela
University of Plymouth‐UK
BALOGLU, Şeyhmus
University of Nevada, USA
BAUM, Tom
The Scottish School, University of Strathcylde, UK
BECKER, Cherylynn
Washington State University, USA
BRAMWELL, Bill
Sheffield Hallam University, UK
BUTLER, Richard, W.
University of Surrey, UK
BUSBY, Graham
Universty of Plymouth, UK
CHON KS. (Kaye)
Hong Kong Polytechnic University, Hong Kong
CLARKE, Alan
University of Pannonia, Hungary
ÇAKICI, A. Celil
Mersin University, Mersin‐Türkiye
ÇOBANOGLU, Cihan
Delaware University‐USA
ÇOLAKOĞLU, Osman
Adnan Menderes University, Aydın‐ Türkiye
Ekiz, H. Erdogan
Taylor's University, Malaysia
HALL, Colin Michael
University of Otago, New Zealand
HANCER, Murat
Oklahoma State University, USA
İÇÖZ, Orhan
Yaşar University, İzmir‐Türkiye
KAHRAMAN, Nüzhet
İstanbul Ticaret University, İstanbul‐Türkiye
KOÇ, Erdoğan
Doğuş University, İstanbul –Türkiye
KORSTANJE, Maximiliano E.
University of Palermo‐Argentina
KOZAK, Nazmi
Anadolu University, Eskişehir‐Türkiye
KUŞLUVAN, Salih
Nevşehir University, Nevşehir‐Türkiye
MANSFELD, Yoel
University of Haifa, Israel
MANSFIELD, Charles
Universty of playmouth, UK
MORRISON, Alastair
Purdue University, USA
MORRISON, Alison
The Scottish School, University of Strathclyde , UK
OKUMUS, Fevzi
University of Central Florida, USA
PAGE, Stephen
University of Stirling, UK
PIRNAR, İge
Yasar University, İzmir‐Türkiye
RITCHIE, J.B.R.
University of Calgary, Canada
RYAN, Chris
University of Waikato, New Zealand
TANRISEVDİ, Abdullah
Adnan Menderes University, Aydın‐Türkiye
TEPECİ, Mustafa
Celal Bayar University, Manisa‐Türkiye
TOSUN, Cevat
Mustafa Kemal University, Hatay‐Türkiye
USTA, Öcal
Dokuz Eylül University, İzmir‐Türkiye
UYSAL, Muzaffer
Virginia tech University, USA
WOOD, Roy
The Scottish School, University of Strathclyde, UK