© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Revista de Turismo y Patrimonio Cultural
PAS S
www.pasosonline.org
Vol. 11 N.º 4. págs. 559-570. 2013
Turismo, cooperação e desenvolvimento local
em Unidades de Conservação: o caso do Parque Nacional
do Catimbau, Buíque – PE
Josilene Henriques da Silva*
Universidade Federal Rural de Pernambuco (Brasil)
Fabiana Britto de Azevedo Maia**
Universidade Federal de Sergipe (Brasil)
Resumo: A criação de Unidades de Conservação pode configurar uma potencialidade socioeconômica para
os lugares onde foram implantadas, suscitando, por exemplo, por meio do turismo, alguns benefícios como
conservação e geração de receitas. Além disso, a forma como a comunidade se articula para dinamizar
tais potencialidades pode conduzir a importantes processos de mudança social. Nesse contexto, buscou -se
analisar as relações de cooperação entre os atores sociais, moradores de Buíque (Pernambuco, Brasil),
para a promoção da atividade turística no Parque Nacional do Catimbau, levando -se em consideração
o conceito de desenvolvimento local. Esta pesquisa foi fruto da elaboração de monografia no âmbito de
Pós -graduação Lato senso em Turismo e se configurou como um estudo de caso qualitativo, que incluiu
pesquisa bibliográfica e de campo com realização de entrevistas. Constatou-se que, apesar da existência de
algumas interações ‘cooperativas’, a maioria dos atores sociais investigados não participa desse processo.
Ainda assim, acredita-se que o referido parque possa, no futuro, contribuir para o desenvolvimento local
desse município.
Palavras -chave: Turismo; Unidades de Conservação; Cooperação; Desenvolvimento local.
Tourism, cooperation and local development in protected areas: the case of the national park
Catimbau, Buíque – EP
Abstract: The creation of protected areas can bring socio -economic development to the places where they
were created. Particularly through tourism, it may generate some benefits such as incomes and the con-servation.
Therefore, the way the community is structured to foster these benefits can lead to social
change processes. In this context, we sought to analyze the cooperative relations between social actors,
like the Buíque (Pernambuco, Brazil) residents, to promote tourism in the Catimbau National Park, consi-dering
the local development concept. This research was developed over a specialization course, and it is a
qualitative study case, which includes literature review and field research with application of interviews.
Therefore, it was found that, despite the existence of some ‘cooperative’ interactions, not all agents parti-cipate
in this process. So, among other things discussed, it is believed that the Catimbau National Park
might contribute to local development in future.
Keywords: Tourism; Protected Areas; Cooperation; Local development.
* Mestre em Extensão Rural e Desenvolvimento Local, Especialista em Turismo e Patrimônio, Graduada em Turismo.
E-mail: josileneh@yahoo.com.br
** Professora do Curso de Turismo da Universidade Federal de Sergipe. Doutora em Administração, Mestre em
Geografia, Graduada em Turismo. E-mail: fabamaia@yahoo.com.br
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
560 Turismo, cooperação e desenvolvimento local …
1. Introdução
Constantemente associado ao conceito de
desenvolvimento, o turismo, se bem planejado,
pode ser responsável por uma série de aspectos
positivos relacionados à geração de renda, valori-zação
cultural e conservação do ambiente onde é
praticado. Mas a participação de todos os agentes
interessados na atividade é de grande relevância
para a concretização desses benefícios.
Os moradores, por serem considerados os
principais influenciados pelas transformações
desencadeadas por esta atividade, não podem
ser negligenciados quanto ao seu planejamento,
por isso metodologias participativas têm sido
apontadas como possibilidades de aumentar os
aspectos positivos que podem ser alcançados por
meio do turismo.
A legislação, enquanto parte da estrutura
turística, tem grande contribuição, em espe-cial
as relacionadas ao ambiente natural. Com
relação a esse aspecto, pode -se citar o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC),
que define áreas naturais para fins de proteção
(Brasil, 2000).
Deste modo, o turismo, que frequentemente
tem utilizado esses espaços naturais protegidos
como elemento de sua oferta, deve -se pautar
também em limites definidos por lei. Assim, os
empreendimentos e atividades desenvolvidas
nesses locais precisam se adequar a certas res-trições.
Contudo, essa proteção legal também
pode ser usada como estratégia para o favore-cimento
do lugar, enquanto atrativo turístico
natural.
De acordo com o ‘Estudo sobre o turismo
praticado em ambientes naturais conservados’,
publicado pelo Instituto Brasileiro de Turismo
(EMBRATUR), a maioria dos entrevistados
respondeu que o principal motivo da visita foi
a busca pelo contato com a natureza (Brasil,
2002b).
Ainda de acordo com esse mesmo estudo “a
questão da preservação e da conservação do
patrimônio natural inclui o meio ambiente nas
discussões da sociedade, e principalmente repre-senta
um grande potencial para o mercado turís-tico”
(Brasil, 2002b: 10).
Desta forma, entende -se que as Unidades de
Conservação (UCs), de modo geral, têm o poten-cial
de despertar o interesse de visitantes, cuja
motivação esteja associada ao contato com a
natureza. Essa possibilidade tem ganhado desta-que
em lugares de economia menos desenvolvida
em que a atividade turística pode ser uma alter-nativa
de crescimento e melhoria de vida para a
população residente.
Devido às restrições relacionadas às UCs,
especialmente as de proteção integral, a exem-plo
do Parque Nacional do Catimbau (PNC), o
turismo se torna uma das poucas atividades eco-nômicas
vislumbradas para garantir uma renda
aos moradores ou comunidades do entorno desses
espaços legalmente protegidos, pois a delimitação
de uma área como parque nacional (PARNA)
‘limita’ suas possibilidades econômicas ao passo
que só admite o uso indireto de seus recursos.
Criado em 2002, o PNC abrange uma área
de aproximadamente 62.300 hectares e envolve
parte dos municípios de Ibimirim, Tupanatinga
e Buíque, no interior de Pernambuco. Uns de
seus principais atrativos são os sítios arqueo-lógicos
e as paisagens formadas por formações
rochosas e vegetação de caatinga1.
Em estudo realizado por Silva (2007), com o
intuito de relacionar os possíveis benefícios do
turismo percebidos pelos residentes do PNC,
constatou -se que, mesmo com grande potencial
na região devido a sua beleza cênica e biodiver-sidade,
poucos moradores estavam se favorecido
dessa prática.
Percebeu-se também uma relação de perten-cimento
dos moradores em relação a suas terras.
Assim, foi evidenciado que uma das questões
mais conflitantes no interior do PARNA Catim-bau
era o medo apresentado por essas pessoas
de terem que sair do local onde vivem desde que
nasceram (Silva, 2007).
Trata -se agora, portanto, de uma segunda
pesquisa na referida UC com o intuito de conti-nuar
a estudar as várias nuances do processo de
desenvolvimento do turismo em um espaço que
possui potencial para contribuir com o desenvol-vimento
na região na qual está inserida, como
indicado pelo Plano Estratégico de Turismo do
Estado (Pernambuco, 2008).
Assim, partindo -se dos resultados apresenta-dos
em 2007 no que se refere ao pertencimento
dos moradores com o lugar onde vivem, recen-temente
transformado em ‘patrimônio’; e ao se
considerar que dificilmente pode haver partici-pação
sem essa condição de apropriação pelos
indivíduos envolvidos; igualmente, ao se pon-derar
que uma das previsões do SNUC (Brasil,
2000) se refere às contribuições das UCs para o
desenvolvimento da região; optou -se, pois, pelo
conceito de desenvolvimento local como marco
referencial da presente pesquisa.
Nesse sentido, elegeu-se a ‘cooperação’ como
categoria de análise, pois acredita-se que a
mobilização, a partir da organização local entre
os envolvidos, pode estar no cerne da resolução
dos conflitos destacados naquela primeira inves-tigação
de 2007.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
Josilene Henriques da Silva; Fabiana Britto de Azevedo Maia 561
Não se trata de superestimar o poder das
comunidades, nem de negligenciar o papel de
outros atores, a exemplo do poder público; mas
se acredita que uma das principais razões pelo
fracasso de grande parte dos projetos de desen-volvimento
turístico direcionados a áreas prote-gidas
diz respeito à ausência de um ambiente
político de cooperação na comunidade (Mielke,
2009).
Portanto, objetivou -se analisar as relações de
cooperação entre os atores sociais, moradores
de Buíque – PE, para a promoção da atividade
turística no Parque Nacional do Catimbau,
levando -se em consideração o conceito de desen-volvimento
local. E, especificamente, buscou -se:
a) Identificar os empreendimentos turísticos
existentes no município; b) Averiguar a relação
entre a criação da referida UC e o surgimento de
tais empreendimentos; c) Analisar a existência
de alguma estrutura cooperativa entre as inicia-tivas
voltadas ao turismo no PNC.
Para a presente pesquisa, o uso do termo
‘atores sociais’, a partir da noção de sujeitos
como agentes de mudança, está relacionado aos
moradores de Buíque diretamente envolvidos
na atividade turística do PNC. Igualmente, a
expressão ‘empreendimentos’ foi utilizada para
relacionar as iniciativas voltadas ao turismo no
referido PARNA por parte desses habitantes,
independentemente de uma regularização esta-belecida.
E, ainda, o emprego da palavra ‘pro-moção’
refere -se às dinâmicas de planejamento/
execução e aproveitamento das potencialidades
locais; portanto não remete única ou necessaria-mente
aos esforços para divulgação do lugar.
Por meio de pesquisa qualitativa, a partir de
um estudo de caso, que incluiu pesquisa biblio-gráfica
e de campo com realização de entrevis-tas;
buscou -se analisar conceitos de desenvolvi-mento
pautados no favorecimento à participação
de atores sociais, apresentados como local ou
endógeno, e relacioná -los ao contexto encontrado
no PNC.
Faz -se oportuno entender como comunidades
locais residentes em Unidades de Conservação
estão se estruturando para gerir seu patrimônio
já que a participação tem ganhado destaque nas
discussões acadêmicas e nas justificativas das
políticas públicas voltadas à descentralização
como forma de integração do planejamento do
turismo no Brasil.
Contudo, não se trata de fazer uma análise
da efetividade alcançada pelas diretrizes gover-namentais,
mas, de modo geral, considerar a
interação estabelecida entre os diversos atores
sociais como potenciais promotores de desenvol-vimento
no PNC, a partir do aproveitamento de
oportunidades localizadas em um ambiente his-toricamente
desfavorecido por políticas públicas.
Conforme já foi mencionado, considerando a
necessidade de não superestimar o papel desses
agentes locais, o prosseguimento da presente
pesquisa justificou -se por se acreditar que a
organização local e a participação cooperativa
estão no cerne dos processos de desenvolvimento
voltados para a própria comunidade.
2. Parques nacionais, turismo e participação
O marco referencial para a presente pesquisa
está pautado na cooperação, entendida como
forma de participação para o alcance de autono-mia
e desenvolvimento pelas comunidades. Esse
enfoque é particularmente relevante quando se
avalia as condições dos moradores do entorno de
Unidades de Conservação, a exemplo dos par-ques
nacionais, nos quais a exigência legal pela
conservação se faz exclusivamente pela ‘negação’
ao uso dos bens naturais.
Nesse sentido, alguns autores (Buarque,
2002; Beni, 2006; Sachs, 2008) argumentam
que a participação da população local, inclusive
na gestão de Unidades de Conservação, é fun-damental
para a manutenção da biodiversidade
ambiental. Mas também para se alcançar uma
melhor qualidade de vida, objetivos percebidos
sob alguns paradigmas do desenvolvimento rela-cionado
às dinâmicas locais.
O entendimento de como a população do
entorno de Unidades de Conservação, especial-mente
as UCs de proteção integral, podem se
beneficiar com a proteção ambiental do lugar
conduz a conceitos de desenvolvimento pautados
na cooperação e referenciados por exemplos de
metodologias participativas com apresentação de
resultados positivos (Vitae Civilis, WWF -Brasil,
2003; Mielke, 2009). Tais iniciativas são forta-lecidas
pela noção de que os benefícios com a
conservação ambiental precisam ser estendidos
à população, que quanto mais sensibilizada e
comprometida com o projeto, mais influenciará
positivamente na gestão da UC.
Na abordagem do conceito de desenvolvi-mento
local, aqui apresentada, não se propõe a
fazer um estudo histórico de construção episte-mológica,
mas analisar o conjunto de atribui-ções
que o sustenta como marco referencial. A
participação é entendida, nesse contexto, como
o empoderamento de seu patrimônio pela popu-lação
local, que, por meio da cooperação, busca
beneficiar a própria comunidade com o apro-veitamento
indireto dos bens naturais a serem
conservados.
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562 Turismo, cooperação e desenvolvimento local …
Entretanto, segundo Oliveira (2001), o con-ceito
de desenvolvimento local não pode ser
tratado como modelo paradigmático, pois traz
consigo uma noção polissêmica, e que, por isso,
comportaria muitas dimensões; embora, de modo
geral, esteja relacionado ao exercício da cidada-nia.
No caso analisado, ficou evidente que o PNC
tem sido percebido como um atrativo e um poten-cial
para a geração de renda para a população
do entorno. Apesar disso, foram relatadas apenas
algumas ações pontuais realizadas em coopera-ção
pelos moradores com o intuito de conser-vação
do lugar, a exemplo de mutirões, para a
limpeza das trilhas, realizados pelos condutores
locais de visitantes. De modo geral, mesmo os
empreendedores que se beneficiam diretamente
com o fluxo turístico existente no município não
demonstraram conhecer a realidade no parque.
Constatou -se, portanto, que a ideia de patrimô-nio
não está relacionada à criação da UC, mas ao
fato de essas pessoas terem ‘nascido e se criado’
no lugar.
Nesse aspecto, Mielke (2009: 37) declara que,
quanto ao envolvimento dos atores sociais, “[...] é
importante ter em mente que todos têm seus pró-prios
interesses e somente irão engajar -se em um
projeto coletivo se houver um benefício. De prefe-rência
que seja possível realizar a curto prazo e
mais: sem ter que se envolver com os vizinhos”.
Essa problemática salienta bem os diversos con-textos
de ‘organização social’ existentes e auxilia
a diferenciar os processos de mobilização local
em relação aos eventos induzidos por diferentes
agentes externos, inclusive públicos.
Não se trata de visualizar a comunidade
como um todo coeso, conforme salienta Demo
(1996), mas de entendê -la como pequenos gru-pos
espacialmente localizados e que possuem
relativa homogeneidade e organização, além de
serem politicamente conscientes. De tal modo, o
autor defende a participação como um processo
de conquista que não deve ser entendido como
dádiva, e adverte: “muitas propostas participa-tivas
acabam sendo expediente para camuflar
novas e sutis repressões [...]” (Demo, 1996: 20).
De igual modo, Oliveira (2001: 24) esclarece
que “o desenvolvimento local tende a substituir
a cidadania, tende a ser utilizado como sinônimo
de cooperação, de negociação, de completa con-vergência
de interesses, de apaziguamento do
conflito”, mas, segundo esse autor, é preciso con-siderar
a existência do conflito, sabendo -se que,
nesse contexto, o poder reivindicatório deve ser
construído porque simplesmente não pode ser
doado.
A questão fundamental, portanto, é enten-der,
no âmbito da participação como conquista,
de que forma induzir processos de cooperação
comunitária voltados ao desenvolvimento sem
incidir em assistencialismo.
Nesse sentido, o contexto de muitas comuni-dades
pode ser considerado desfavorável, sendo o
histórico de exploração o primeiro impedimento
à construção de um poder reivindicatório. Além
disso, é preciso considerar que, mesmo dentro de
uma mesma comunidade, pode haver diferentes
apropriações dos benefícios criados a partir da
mobilização coletiva.
Assim, do ponto de vista das UCs, Loureiro
et al. (2003: 20 -21) definem o ‘conflito ambiental’
como uma instância da democracia que é carac-terizada
pelo confronto de interesses pelo uso
dos bens naturais:
“Não há democracia nem educação para a
cidadania sem a explicitação de conflitos. A
aceitação de que a sociedade, além de plural,
é permeada por visões de mundo, interesses
e necessidades distintas e estruturalmente
antagônicas está implícita em processos efe-tivamente
democráticos, nos quais se incluem
as oposições, tensões e contradições entre
direitos e deveres, indivíduo e coletividade,
público e privado, liberdade e igualdade, mer-cado
e estatal”.
De modo semelhante, Oliveira (2001) supõe
que o desafio é dar conta da complexidade da
sociedade moderna, de modo que sejam consi-derados
os conflitos existentes em seu interior.
Para ele, o desenvolvimento local não pode ser
confundido com a ideia de comunidades ‘bucóli-cas
e harmoniosas’. Por isso, afirma:
“A maior parte das definições e ensaios de
desenvolvimento local a rigor parecem -se
mais com adaptações dos dominados do que
alternativa à dominação: a própria dificul-dade
de definir o que é ‘desenvolvimento
local’ já é um indicativo suficientemente
forte, posto que, se tudo é desenvolvimento
local, então, como ensinava uma velha lição
de álgebra, nada é desenvolvimento local”
(Oliveira, 2001: 19).
Ainda segundo esse autor, há necessidade
de criar alternativas reais de enfretamento aos
processos dominantes, pois as adaptações reali-zadas
pelos dominados ajudaria na manutenção
das tendências globais, às quais, segundo ele, o
desenvolvimento local deveria se opor.
Para Beni (2006: 36), “as comunidades locais
apresentam, com sua identidade própria e for-talecimento
de sua capacidade organizacional,
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condições de evitar que empresas e organizações
externas de grandes cidades limitem suas poten-cialidades
de atuação”. Segundo esse autor, o
resultado da participação ativa da comunidade
com o objetivo de atender às suas demandas
pode ser entendido, portanto, como um processo
de desenvolvimento endógeno.
Ainda com relação à participação comunitá-ria,
Beni (2006: 62) declara que “isso não implica
que o Estado deixe de garantir a integração, a
regulação e o bom funcionamento da sociedade,
mas que a própria sociedade gere meios de equa-cionar
a solução dos problemas que o Estado,
sozinho, não é capaz de resolver”.
De modo semelhante, Jesus (2006) explica
que o desenvolvimento local diz respeito à mobi-lização
de instituições públicas e privadas e dos
habitantes de determinado lugar na busca da
melhoria das condições de vida da população por
meio da valorização e ativação das potencialida-des
locais.
Entretanto, para Demo (1980: 24), é preciso
ter cautela, pois “muitas teorias da comunidade
exageram sua potencialidade mobilizadora, como
se fossem entidades autônomas e capazes de
realizar sozinhas o desenvolvimento”. O autor
lembra que “a pobreza não se erradica apenas
pela tomada de consciência dela. Assim, a variá-vel
política se dilui, se não vier unida à variável
socioeconômica”.
Nesse sentido, segundo Buarque (2002: 25),
“o desenvolvimento local pode ser conceituado
como um processo endógeno de mudança, que
leva ao dinamismo econômico e à melhoria da
qualidade de vida da população em pequenas
unidades territoriais e agrupamentos huma-nos”.
Ainda de acordo com Buarque (2002: 17),
há em curso uma transição de paradigmas de
desenvolvimento, que “[...] não só demanda
novas concepções e percepções como torna viá-veis
novas propostas de organização da econo-mia
e da sociedade que, no passado recente, não
passavam de utopia”.
Portanto, a partir da avaliação dos conceitos
de desenvolvimento analisados, depreendem-se
alguns aspectos comuns, a saber:
• Participação como uma vontade intrínseca
aos atores sociais;
• Existência de cooperação entre os membros
do grupo social que compartilham vivências
e, conjuntamente, buscam alternativas para
satisfação de suas necessidades e resolução
de seus problemas;
• Consciência política desenvolvida pelos
grupos sociais organizados no contexto de
comunidade;
• Equacionamento de força das dimensões
econômica, social e ambiental;
• Negociação dos conflitos de interesses exis-tentes
entre Estado, mercado e sociedade;
• Aproveitamento das potencialidades locais
pela comunidade.
Diante do exposto, é possível apreender a
relevância de tais aspectos para o incremento
de iniciativas pautadas na organização coope-rativa
com vistas ao aproveitamento das poten-cialidades
locais e ao favorecimento à competi-tividade.
Essa relação entre competitividade e
cooperação foi analisada por Franco (2000: 32),
que declarou:
“Parece que estas duas dinâmicas – coopera-tiva
e competitiva – vão estar sempre presen-tes
nos processos de desenvolvimento local e,
esta, talvez, constitua uma de suas principais
características. A dinâmica cooperativa, sem
a qual não se efetiva um processo de desen-volvimento
local, forma comunidade. A dinâ-mica
competitiva insere a localidade em um
processo de desenvolvimento cuja racionali-dade
é dada, em parte, pelo mercado”.
Ainda de acordo com Franco (2000: 40), o
desenvolvimento tem suas bases na geração de
renda, aumento do número de proprietários pro-dutores,
elevação de escolaridade da população
e aumento do número de organizações da socie-dade
civil: “[...] ou seja, aumentar a produção
e democratizar o acesso à riqueza, ao conheci-mento
e ao poder (no sentido de empoderar as
pessoas)”.
Essa ideia se assemelha aos ensinamentos
de Sachs (2008), que diferencia os conceitos de
desenvolvimento e de crescimento por meio de
critérios sociais e ambientais e não meramente
econômicos, conforme pode ser entendido pelo
segundo termo.
No que concerne às UCs, para o Ministério
do Meio Ambiente (Brasil, 2006), esses espaços
devem integrar a visitação ao desenvolvimento
local e regional, a partir de algumas diretrizes,
a exemplo do incentivo a produtos e serviços
produzidos na região; do apoio à capacitação
da comunidade local; e do estímulo à implan-tação
de infraestrutura de transporte, serviços
e equipamentos turísticos na área de influência
da UC.
3. Procedimentos Metodológicos
Conforme estabelecido inicialmente, o obje-tivo
da presente pesquisa foi analisar as rela-
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ções de cooperação entre os atores sociais de
Buíque para a promoção da atividade turística
no Parque Nacional do Catimbau, levando -se
em consideração o conceito de desenvolvimento
local.
Portanto, serão apresentados alguns dos
resultados obtidos de acordo com os objetivos
elencados: inicialmente, buscou -se contextua-lizar
o aparecimento dos primeiros fluxos de
visitantes, bem como o surgimento dos empre-endimentos
turísticos na localidade. Por fim,
seguiu -se para a conjuntura atual em termos de
cooperação entre os agentes locais e para a aná-lise
do desenvolvimento local, enquanto oportu-nidade
para o município.
Quanto às técnicas de coleta de dados, foram
incluídas as pesquisas documental e bibliográ-fica,
além de pesquisa de campo ocorrida em
junho de 2011 com realização de entrevistas e
de observação.
Foram entrevistados os atores sociais do
município de Buíque relacionados à atividade
turística no PNC, incluindo -se empreendedores
locais; bem como os membros da Associação de
Guias do Turismo e do Desenvolvimento do Par-que
Nacional do Catimbau (AGTURC).
Assim, em um levantamento inicial, foram
listados seis empreendimentos de hospedagem
existentes no município, embora dois tenham
sido excluídos da amostra por não hospedarem
turistas/ visitantes do PNC, mas outros tipos
de viajantes. Igualmente foi localizada uma loja
de artesanato, incluída na amostra por estar na
condição de atendimento ao público turístico do
referido parque. E por fim, foram entrevistados
dez dos doze condutores de turismo integrantes
da referida associação.
Complementam ainda essa pesquisa informa-ções
adquiridas em questionário respondido por
meio eletrônico pelo gestor do parque em abril
de 20102.
4. O Parque Nacional do Catimbau
Criado por decreto de 13 de dezembro de
2002, o Parque Nacional do Catimbau tem por
objetivo “[...] preservar os ecossistemas naturais
existentes, possibilitando a realização de pesqui-sas
científicas e o desenvolvimento de ativida-des
de educação ambiental e turismo ecológico”
(Brasil, 2002a). Está localizado na mesorregião
agreste, interior de Pernambuco, e compreende
uma área de 62.300 hectares, abrangendo parte
dos municípios de Ibimirim, Tupanatinga e Buí-que.
Entretanto, a área geográfica do estudo
envolveu apenas o município de Buíque, que se
destaca como importante ponto de acesso a essa
UC, e onde funciona a associação de condutores
de turismo do lugar.
A atratividade do PNC está voltada para os
sítios onde estão as pinturas rupestres, as quais
constituem os principais atrativos culturais do
parque. E até o presente momento, 29 sítios
arqueológicos foram catalogados pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN, n.d.).
O artesanato também faz parte desse con-junto
de atrativos, e tem se evidenciado no cená-rio
regional com destaque para as figuras talha-das
em madeira e gravetos secos dos artesãos Zé
Bezerra e Luiz de Benício.
A paisagem, a partir das trilhas, mirantes e
cânions, os relevos e as formações rochosas, jun-tamente
com fauna e flora, compõem o conjunto
de atrativos naturais existentes no lugar. Para
contemplação desses elementos, segundo consta
no catálogo de roteiros disponível na sede da
AGTURC, há treze trilhas, que só podem ser
realizadas com o acompanhamento dos conduto-res.
Com relação à fauna existente no PNC, há
23 espécies de mamíferos, 135 espécies de aves,
23 espécies de répteis e 4 espécies de anfíbios.
Como descrito por Hauff (2010), algumas dessas
espécies estão ameaçadas de extinção, a exem-plo
da onça-parda (Puma condolor greeni), do
tamanduá -mirim (Tamandua tetradactyla) e do
pintassilgo -do -nordeste (Carduelis yarrellii).
Das espécies florísticas ocorrentes no local
destaca -se o mandacaru (Cereus jamacaru), o
quipá (Tacinga palmadora) e, endêmicas do
Catimbau, as bromélias Dyckia limae e Tillan‑dsia
catimbauensis. E na lista das espécies
presentes no parque que estão ameaçadas de
extinção, encontra -se o jacarandá (Jacaranda
rugosa), a coroa -de -frade (Melocactus violaceus),
a Mitracarpus buiquensis e a Mandevilla catim‑bauensis,
conforme indicado por Santos, Delgado
Jr. e Alves (2012a, 2012b).
Faz -se importante destacar ainda que a
região, na qual o parque está inserido, foi indi-cada
como umas das áreas prioritárias para a
conservação da Caatinga (Silva et al., 2003).
Portanto, a manutenção de toda essa biodiver-sidade
se torna relevante para a conservação
deste bioma, ao mesmo tempo em que se destaca
como potencial para a atratividade turística do
parque.
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5. Os empreendimentos turísticos em buí-que
e a criação do Parque Nacional do
Catimbau
A existência do turismo na região onde está
localizado o Parque Nacional do Catimbau é
anterior à criação dessa UC, sendo visitada por
pesquisadores desde a década de 19703, espe-cialmente
pelo interesse nas pinturas rupestres
existentes no lugar. Naquela época, eram poucas
as oportunidades de benefícios socioeconômicos
para os moradores locais com esses fluxos de
visitantes. Entretanto, alguns jovens já rece-biam
o convite para serem condutores desses
profissionais durante as pesquisas, em troca de
pequenas gorjetas.
Ainda no final da década de 1970, o único ser-viço
de hospedagem era realizado por religiosas
da Casa Nossa Senhora das Graças4. Mas na
década seguinte foi inaugurada uma pequena
pousada junto a um posto de gasolina, criada
para atender aos comerciantes da região que
pernoitavam na cidade.
Nessa época, o turismo não era uma atividade
vislumbrada pelos moradores do município, mas
com o passar dos anos, o número de visitantes
foi crescendo, bem como o interesse de alguns
jovens pela atividade de condução. Igualmente,
essas visitas estimularam outras iniciativas
como a abertura da pousada localizada no Dis-trito
do Catimbau.
Posteriormente, no decorrer do processo de
criação do PNC em 2002, alguns condutores,
que já atuavam no local, sentiram -se mobiliza-dos
para formar a AGTURC. E com a implemen-tação
do parque, juntamente com uma maior
exposição na mídia e o contínuo aumento da
quantidade de visitantes, a condução deixou de
ser uma atividade de ‘meninos’ para integrar a
renda de jovens e adultos5.
Posteriormente, algumas instituições auxilia-ram
essas primeiras iniciativas de organização
local feita pelos condutores. Assim, em 2003,
no âmbito do projeto ‘Sua excelência, o turismo’
realizado em parceria entre o Instituto Brasi-leiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA), a Prefeitura de Buíque e o
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (SEBRAE), foram ofertados alguns
cursos de capacitação para o turismo no PNC
(Melo, Araújo, Dos Anjos, 2007).
Essas qualificações foram direcionadas não
somente aos condutores locais, mas também aos
diversos profissionais de serviços turísticos do
município. As alternativas de trabalho, contudo,
estavam voltadas principalmente à condução
de visitantes, pois esses moradores conheciam
bem a região e sabiam a localização dos sítios
arqueológicos. Durante as entrevistas, a maioria
dos condutores disse que já andavam pelo lugar
desde criança e que admiravam as belezas natu-rais,
embora não soubessem a importância do
patrimônio ali existente.
Sobretudo depois da criação do parque,
alguns benefícios gerados por meio do turismo,
que antes eram percebidos apenas pelos condu-tores
e poucos empreendedores locais, começa-ram
a ser vistos também por outros moradores
que passaram a desenvolver atividades ligadas
ao comércio e à produção do artesanato.
Entretanto, apesar de o enfoque de nossa pes-quisa
não ter sido analisar os aspectos negativos
resultantes do desenvolvimento da atividade
turística na região, percebe -se que tal processo
tem ocasionado alguns conflitos especialmente
entre os que já se beneficiam do turismo e os
que relacionam essa atividade à criação do par-que
e, por conseguinte, à possibilidade de perde-rem
suas propriedades.
Esse julgamento feito por alguns moradores
pode ser entendido pelo fato de que boa parte
deles ainda esteja alheia à situação do turismo
no PNC, ou porque não sabem como poderiam
ser beneficiados. Dedução feita a partir dos
resultados encontrados por Silva (2007: 55 -56):
“De todas essas constatações é preciso res-saltar
três pontos importantes: primeiro, a
maioria dos moradores não está consciente da
criação do parque, ou do porquê suas terras
foram incluídas na UC, nem sabe ao certo
quais são os objetivos de sua concepção [...].
Segundo, a preocupação existente está rela-cionada
com as desapropriações e o desejo
de se permanecer na terra. Como foi verifi-cado,
através das entrevistas e das conversas
informais, boa parte dos moradores dentro do
parque não quer sair do lugar [...]. Terceiro, a
atividade turística não é percebida pela maio-ria
dos moradores como uma oportunidade
para o desenvolvimento local. A pequena
parte que se beneficia com o turismo, de certa
forma, ainda está na fase de euforia, na qual
apenas os benefícios são enxergados. Essa
situação é particularmente verificada quanto
aos condutores, já que estão mais ‘envolvidos’
com a situação do parque e o aumento do
fluxo de turistas”.
Ademais, por meio da observação, foi possível
perceber a existência de conflitos entre os condu-tores
‘oficiais’, membros da associação, e outros
que não fazem parte desse grupo. Esse problema
já havia sido sugerido em 2007, quando se cons-tatou
que:
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
566 Turismo, cooperação e desenvolvimento local …
“Embora, inicialmente, não se tenha perce-bido
nenhuma rivalidade entre os dois gru-pos,
esta é uma possibilidade que não pode
ser excluída. Já que a atividade no local não
está legalmente estruturada, ainda há certa
‘cordialidade’ entre eles, mas que pode mudar
à medida que a atividade se desenvolve,
especificamente se a geração de renda com a
condução de visitantes ultrapassar a renda
média local e a procura pela atividade passar
a ser mais acirrada” (Silva, 2007: 58).
Por outro lado, os benefícios gerados pela ati-vidade
turística em um parque nacional podem
compreender desde a conservação e educação
ambiental até a entrada de recursos para a Uni-dade
por meio do pagamento de ingressos, mas
também a geração de renda para a comunidade
do entorno por meio da prestação de serviços
aos visitantes. Contudo, pelo fato de ainda não
estar regulamentado, as atividades voltadas
ao turismo dentro do PNC estão por conta dos
condutores locais. E a cobrança de ingresso,
nesse caso, é feita por alguns proprietários de
terras onde as trilhas são realizadas. Por isso, a
maioria dos entrevistados destacou os aspectos
econômicos como um dos principais benefícios da
atividade turística desenvolvida nesse parque.
Outros aspectos positivos foram citados nas
entrevistas, a exemplo da diminuição da caça
e do desmatamento, mas é importante destacar
que essa ainda não é uma realidade absoluta,
visto que a falta de conservação também foi rela-tada
como um dos problemas existentes no PNC.
Com relação ao apoio recebido pelos condu-tores,
segundo consta em uma das entrevistas,
o SEBRAE é uma das poucas instituições que
continuam auxiliando a associação, a exemplo
das orientações em favor da mudança de nome
do grupo em virtude de esses trabalhadores não
possuírem o curso técnico obrigatório para pode-rem
atuar como guias de turismo6; e, por isso,
em março de 2010, passaram a se denominar
Associação dos Condutores de Turismo do Par-que
Nacional do Catimbau (ACONTURC).
Entretanto, em 2012, a associação voltou a
usar a designação de AGTURC por esta ser mais
conhecida entre os visitantes do parque, além de
corresponder a um maior tempo de atuação do
grupo, o quê, em tese e como esperado pelos seus
membros, pode facilitar a consecução de algum
benefício público no futuro.
Portanto, o crescente interesse pela atividade
turística no PNC e o aumento do número de
empreendimentos e iniciativas voltadas ao aten-dimento
ao público que visita esse parque res-saltam
a necessidade de analisar como os agen-tes
promotores dessas mudanças têm interagido,
e quais as perspectivas para o desenvolvimento
local em Buíque relacionado à existência da refe-rida
Unidade de Conservação.
6. Turismo, cooperação e desenvolvimento
local no Parque Nacional do Catimbau
Como parte da presente análise, buscou -se
entender o modo como se dá o relacionamento
entre os atores sociais de Buíque no que concerne
ao turismo no PNC. Constatou -se que há poucos
empreendimentos turísticos nesse município, e a
interação entre os proprietários diz respeito ao
contato ‘de vista’, sendo mais perceptível apenas
quando há alguma amizade entre eles; portanto,
não envolvendo uma cooperação entre agentes
locais, mas se tratando de uma parceria, para
fins de concorrência, entre poucos interessados.
Quanto aos meios de hospedagem, percebe -se
certa distinção entre os localizados na sede (Buí-que)
e os do distrito do Catimbau, zona rural do
município, onde estão os empreendimentos de
origem mais modesta. Diferença que pode ter
contribuído para a falta de comunicação entre
seus proprietários.
A divulgação dos serviços ofertados, quando
praticada, é feita individualmente em sites e
blogs. Porém, o PNC não é destacado enquanto
destino, mas divulgado de forma fragmentada.
Com uma única exceção, de modo geral, o obje-tivo
é noticiar os estabelecimentos, que parecem
não estar relacionados a lugar algum.
Há maior interação entre os condutores e
demais empreendimentos, por conta da dinâ-mica
de trabalho que já foi estabelecida, na qual
os primeiros recepcionam os grupos, frequente-mente
de estudantes, diretamente nas pousadas.
Além disso, essa interação entre os condutores
e os demais agentes locais se dá por conta do
maior contato que aqueles têm com os visitan-tes.
Por vezes, é o primeiro contato estabelecido
por quem visita a UC.
Entretanto, conforme assinalado, o PNC
ainda não está estruturado e apresenta uma
série de carências que dificultam a visitação e
a conservação do lugar. Essas deficiências foram
informadas pelos condutores, que demonstraram
uma maior apropriação do tema, sobretudo em
virtude das capacitações que receberam.
Apesar dessas constatações, não há nenhum
trabalho ou projeto em comum estabelecido
entre os entrevistados. E de modo geral, as pers-pectivas
dizem respeito à ampliação e melhorias
nos próprios estabelecimentos. Para os condu-tores,
entretanto, essas expectativas também
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
Josilene Henriques da Silva; Fabiana Britto de Azevedo Maia 567
dizem respeito à implementação do parque.
Mesmo assim, as dificuldades para a coopera-ção,
na maioria das vezes, são transferidas para
os demais atores, a exemplo do poder público,
sobretudo por conta da falta de infraestrutura.
De acordo com a administração do parque,
não há apoio ao trabalho na UC entre os diver-sos
atores sociais do lugar, inclusive do poder
público local. Apesar disso, citou a criação do
Conselho Gestor como uma alternativa que
poderá fortalecer a participação da comunidade
na gestão do PNC.
Segundo os condutores, frequentemente são
realizadas algumas reuniões para que sejam
tratados os assuntos relacionados ao turismo no
PNC. Para isso, também já tiveram a iniciativa
de se reunirem com os proprietários de sítios e
meios de hospedagem. No entanto, essas reu-niões
acontecem apenas entre os membros da
associação, demonstrando a falta de interesse
em cooperação dos demais agentes. Esse desin-teresse
pela UC também foi percebido nas entre-vistas
com os empreendedores dos meios de hos-pedagem;
inclusive com a confirmação, por parte
desse grupo, de que não conhecem o parque.
Apesar da dificuldade de cooperação entre
os agentes locais que trabalham o turismo no
PNC, a associação dos condutores pode ser con-siderada
um potencial de articulação entre os
interessados no referido parque, em virtude dos
contatos estabelecidos com o poder público, a
exemplo do Instituto Chico Mendes de Conser-vação
da Natureza (ICMBio), e com os demais
empreendimentos analisados.
Algumas ações voltadas à cooperação foram
relacionadas a esses condutores, que frequente-mente
organizavam mutirões de limpeza na vila
e arredores, bem como ações de sensibilização na
escola com vistas à conservação do parque.
Além disso, segundo a administração do PNC,
a falta de recursos, de pessoal e de infraestru-tura
dificulta o trabalho de gestão dessa UC, de
modo que as iniciativas dos condutores, apesar
de limitadas, correspondem às únicas ações de
manutenção das trilhas e ‘controle’ dos visitan-tes,
por exemplo.
Contudo, mesmo diante desses problemas, a
atratividade do PNC foi comentada por todos
os entrevistados, que, de modo geral, possuem
expectativas positivas em relação ao turismo
nessa UC. Assim, constatou -se que o parque
é percebido como potencialidade e, constante-mente,
é relacionado à geração de emprego e
renda pelos atores sociais analisados. Percebeu-
-se também uma pequena mudança de posicio-namento
dos moradores em relação ao turismo
no local.
De igual modo, em comparação com os
resultados encontrados por Silva (2007), houve
alguns avanços concernentes ao surgimento de
outras iniciativas relacionadas àquela atividade;
à consolidação da associação de condutores por
meio de sua regulamentação; e às ações voltadas
à implementação do parque, a exemplo do plano
de manejo e do conselho gestor.
Constatou -se ainda que as expectativas em
relação ao PNC é que essa UC traga desenvol-vimento
para o município. Entretanto, de modo
geral, não há iniciativa para a resolução dos pro-blemas
apresentados, e a ‘participação’ é feita
por meio da passividade, a exemplo da espera
pelas soluções do poder público.
Os resultados obtidos permitem a conclusão
de que há alguma cooperação entre esses atores
sociais para a promoção da atividade turística
no PNC. Entretanto, fazem -se necessárias algu-mas
ressalvas, visto que nem todos os agentes
locais participam desse processo; além disso, res-saltando
que o objetivo não foi ‘mensurar’ essa
cooperação, constatou -se que ações cooperativas,
ainda que incipientes, foram mais frequente-mente
relacionadas aos condutores de turismo.
Por fim, a apreciação dos conceitos de desen-volvimento
local, entendido como esforço con-junto
entre os atores sociais para a dinamização
das potencialidades locais em prol do bem cole-tivo,
ajudou a entender a relevância da coope-ração,
que, no caso analisado, poderia ampliar
a geração de renda para os moradores por meio
do turismo no PNC, bem como contribuir com a
conservação dessa UC.
7. Considerações finais
Houve consenso, entre os entrevistados, a
respeito de que um atrativo turístico pode pro-piciar
benefícios para o lugar onde está inserido,
particularmente os econômicos.
Sobre esse aspecto, a atratividade do PNC
foi reconhecida com unanimidade pelos indiví-duos
pesquisados; e embora nem todas as ini-ciativas
relacionadas ao turismo no município
tenham sido criadas com o propósito de atender
aos visitantes do parque, a exemplo dos meios
de hospedagem voltados ao atendimento dos
comerciantes da região, com o passar dos anos,
um número maior de pessoas passou a buscar
uma renda relacionada à atividade turística
nessa UC.
Apesar disso, como os empreendimentos
do centro de Buíque não dependem exclusiva-mente
dos visitantes do PNC, seus proprietários
demonstram pouca atenção ao parque. De modo
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
568 Turismo, cooperação e desenvolvimento local …
geral, apesar de existirem alguns discursos
‘politicamente corretos’ de que só se pode desen-volver
se todos crescerem juntos, na realidade
foram percebidas atitudes de indiferença aos
problemas dessa UC.
Para tais indivíduos, é importante que o
parque continue recebendo visitantes, pois
sabem que isso beneficia a ‘todos’, mas não
importa como se dá esse processo: se por meio
do desenvolvimento ou da exploração. Assim,
evidenciam -se algumas respostas evasivas,
dadas por esse grupo de agentes envolvidos na
atividade turística no PARNA, de que o local é
lindo; sem, entretanto, relacionar as potenciali-dades
e necessidades do lugar.
Nos resultados apresentados por Silva (2007),
mostrou -se que os habitantes do Catimbau apre-sentavam
um sentimento de pertencimento, pois
não desejariam sair de suas terras em decorrên-cia
de uma futura regulamentação fundiária do
parque. Contudo, esse pertencimento não ainda
está relacionado ao empoderamento desses
moradores, visto que, a participação é feita por
meio da passividade.
Não se pode esperar, entretanto, que uma
comunidade que sempre sobreviveu sem políti-cas
públicas de combate à pobreza e com alto
grau de analfabetismo facilmente se empodere e
passe a exercer influência nas decisões tomadas
pelo poder público; mobilize -se, busque a reso-lução
de conflitos e sane os problemas do lugar.
Por outro lado, também há um grupo mais
privilegiado de moradores, que têm acesso à edu-cação,
à informação e ao crédito. Mesmo assim,
para tais indivíduos, a situação parece ser a
mesma: não há mobilização e a passividade é
respaldada pela situação confortável resultante
dos benefícios que o turismo no PNC pode lhes
proporcionar.
Ao revisar os conceitos de desenvolvimento
local, destacou -se que se trata de um processo
de ‘concertação’ e que envolve certos fatores, a
exemplo das questões relacionadas à cidadania.
Outro aspecto a ser considerado diz respeito ao
modo como são aproveitadas as potencialidades
locais. Assim, a cooperação contribuiria com a
geração de benefícios por meio desses esforços
em comum. Trata -se, pois, de um empenho cole-tivo
entre população, poder público e iniciativa
privada para aumentar a dinâmica competitiva
do lugar.
Mesmo alheios a essa perspectiva, alguns
moradores de Buíque têm percebido a importân-cia
da atividade turística e, do jeito que podem,
também têm trabalhado para promover suas
iniciativas. Não há como negar, portanto, que
o turismo no PNC é uma potencialidade para
o município. Conforme já foi pontuado, esse
reconhecimento tem crescido ao longo do tempo,
mas, segundo os entrevistados, ainda sem o
incentivo da gestão municipal. E a ausência de
apoio, juntamente com a falta de verba para a
estruturação do parque foram destacados como
os principais problemas para o desenvolvimento
do turismo nessa Unidade de Conservação.
Sabe -se que a atividade turística pode contri-buir
com o desenvolvimento local em virtude da
atratividade do lugar, mas não pode induzi -lo,
pois dificilmente uma única atividade pode pro-mover
um processo tão complexo, tal qual enten-dido
pelo conceito de desenvolvimento analisado.
Deste modo, é preciso reconhecer as carências
do município, inclusive em relação à educação
e à infraestrutura. Igualmente, é necessário
pensar a respeito do papel da gestão municipal
nesse processo e na importância dada ao parque
não apenas enquanto recurso turístico, mas tam-bém
como espaço de conservação da caatinga.
Apesar disso, a partir das comparações com
o resultado apresentado por Silva (2007), é
possível visualizar alguns avanços, a exemplo
da visão positiva em relação ao turismo; do
maior número de empreendimentos voltados à
atividade criados pelos moradores, inclusive de
contextos mais populares; da diversificação de
iniciativas; do início da criação do conselho con-sultivo
da UC7; e da atuação da associação dos
condutores de turismo junto às escolas e mora-dores8.
Portanto, depreende -se que o desenvolvi-mento
local pode constituir um cenário futuro
para Buíque. Acredita -se que certos passos já
tenham sido dados. Os resultados, entretanto,
não dependem somente da comunidade local,
nem dos empreendedores, ou apenas da gestão
municipal. Tampouco, a cooperação pode ser
entendida como ‘única saída’ para os problemas
existentes no lugar.
Entende -se que não se trata de fazer previ-sões
para o município, mas de entender os ele-mentos
dessa conjetura; pois o desenvolvimento
local, enquanto processo, tem sido possível para
lugares que dinamizam suas potencialidades a
ponto de torná -las competitivas, e a cooperação
seria uma maneira de facilitar os esforços para
tal propósito.
No que se refere a Buíque, essa cooperação
não pode deixar de considerar a existência dos
outros municípios que integram o PNC: Ibimirim
e Tupanatinga, pois os parques nacionais devem
contribuir com o desenvolvimento da região na
qual estão inseridos (Brasil, 2006).
Como já mencionado, esta pesquisa foi reali-zada
como uma segunda investigação do turismo
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
Josilene Henriques da Silva; Fabiana Britto de Azevedo Maia 569
no PNC. Nesse sentido, fez -se importante pon-tuar
alguns resultados apresentados em 2007,
demonstrando o ‘ritmo’ das mudanças que vêm
ocorrendo no lugar. A realidade, entretanto, é
bem mais complexa que as mensurações reali-zadas,
pois em cada estudo têm -se apenas novos
ângulos de análise, que podem apresentar limi-tações.
Por isso mesmo, sugere -se um estudo mais
aprofundado da relação entre os moradores e
os visitantes do referido PARNA. Além disso,
outro ponto que merece ser analisado mais de
perto diz respeito à organização dos condutores
de turismo em torno da AGTURC ao longo dos
últimos anos. Portanto, ainda há muito a se pes-quisar
nessa UC e em seu entorno, tratando -se
de alguns outros ângulos de análise possíveis
na realidade do Parque Nacional do Catimbau
e região.
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Notas
1 Bioma exclusivamente brasileiro caracteri-zado
por vegetação preponderantemente do
tipo savana estépica, irregularidade pluvio-métrica
e períodos de seca (Hauff, 2010).
2 Na ocasião da pesquisa de campo, reali-zada
em 2011, o gestor do PNC estava em
licença médica e não houve possibilidade
de entrevistá -lo. Por isso foram reutilizadas
informações anteriores.
3 Informações obtidas a partir das entrevistas
realizadas com os condutores de turismo.
4 Atualmente, o empreendimento funciona ape-nas
como espaço para retiro espiritual.
5 Nem todos os integrantes da formação inicial
da AGTURC permaneceram no grupo, de
modo que o número de condutores presentes
nessa associação diminuiu ao longo dos últi-mos
anos, restando doze no momento desta
pesquisa.
6 No Brasil, a profissão de Guia de Turismo é
definida pela Lei nº 8.623 de 28 de janeiro de
1993 e regulamentada pelo Decreto nº 946 de
01 de outubro de 1993.
7 Posteriormente paralisado.
8 Essas ações também se encontram paralisa-das.
Recibido: 26/04/2012
Reenviado: 18/05/2013
Aceptado: 05/06/2013
Sometido a evaluación por pares anónimos