© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Revista de Turismo y Patrimonio Cultural
PAS S
www.pasosonline.org
Vol. 11 N.º 4. págs. 661-670. 2013
Artesanato com Lã de Ovinos,
Turismo e Desenvolvimento Local
Dyego de Oliveira Arruda*; Milton Augusto Pasquotto Mariani**
Leandro Sauer***; Thiago Gomes de Oliveira****
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS(Brasil)
Maria Augusta de Castilho*****
Universidade Católica Dom Bosco – UCDB (Brasil)
Resumo: O Estado de Mato Grosso do Sul/Brasil apresenta reconhecida potencialidade para impulsionar
a atividade do turismo regional através da divulgação das especificidades culturais locais – dentre as
quais a produção de artesanato com base na lã de ovinos. Sendo assim, a presente pesquisa teve como
escopo analisar as dinâmicas sob as quais pode se dar a inserção do artesanato ovino como produto turís-tico
em municípios do Estado de Mato Grosso do Sul. Para tanto, utilizaram -se questionários semiestru-turados;
além de entrevistas com questões norteadoras. Observou -se que o artesanato com lã de ovinos
não se insere de forma efetiva no âmbito da atividade turística dos territórios investigados, sobretudo por
conta das estratégias organizacionais dos grupos, e da falta de dinamismo da atividade do turismo de base
local. Não obstante, são profícuas as possibilidades de que se fomente essa inserção.
Palavras -chave: Artesanato; Turismo; Ovinocultura; Desenvolvimento Local; Mato Grosso do Sul/Brasil
Handicraft with Sheep’s Wool, Tourism and Local Development
Abstract: The state of Mato Grosso do Sul/Brazil has been recognized by its potential to boost regional
tourism activity through the dissemination of its particular culture – which includes the production of
handicrafts based on sheep’s wool. Thus, the present study was intent to analyze the dynamic scope in
which the insertion of sheep’s handicrafts as tourist product in municipalities of Mato Grosso do Sul/
Brazil may occur. For this, semi -structured questionnaires, and interviews with guiding questions were
used. It was observed that the handicrafts with sheep’s wool does not effectively lay down within the
investigated tourism territories, mainly due to the organizational strategies of the groups, and the lack of
dynamism of their community -based tourism.
Key words: Handicrafts, Tourism; Sheep; Local Development; Mato Grosso do Sul/Brazil
* Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). É mestrando em
Administração pela mesma instituição, e bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES). E -mail: dyego.arruda@gmail.com
** Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em História Social pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Docente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS),
nos Programas de Pós -Graduação em Administração e Estudos Fronteiriços. E -mail: miltmari@terra.com.br
*** Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Docente da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), no Programa de Pós -Graduação em Administração. E -mail: leandrosauer@
uol.com.br
**** Bacharel em Administração pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). É mestrando em Admi-nistração
pela mesma instituição, e bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES). E -mail: thiagomesde@hotmail.com
***** Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Professora e Vice -Coordenadora do Programa de
Pós -Graduação em Desenvolvimento Local – Mestrado Acadêmico – da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).
Professora do Curso de História da Universidade Católica Dom Bosco – UCDB. Email: maugusta@ucdb.br
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1. Introdução
A criação de ovinos, analisada no seio de
um processo histórico, mostra -se como uma
das mais antigas atividades praticadas pelo ser
humano, que inicialmente utilizava o pastoreio
como método de criação, tendo a finalidade de
suprir sua contínua demanda por proteína e
vestimenta. Sendo o pastoreio de cordeiros uma
atividade relativamente fácil e segura – por
serem animais de porte médio, sociáveis e pací-ficos
– nota -se que esta atividade espalhou -se
por diversos locais, exercendo importante fonte
de subsistência e fixação do homem às ativi-dades
características do campo (Mariani et al,
2010).
No Brasil, os registros históricos dão conta de
que os primeiros ovinos foram introduzidos no
país nos idos do século XVI, com a chegada dos
colonizadores ibéricos. Contemporaneamente, as
zonas tradicionais de criação estão consolidadas
nos Estados do sul e nordeste brasileiros, espe-cialmente
no Rio Grande do Sul, Bahia, Ceará
e Piauí. Ao todo, o rebanho ovino brasileiro é
de aproximadamente 14,2 milhões de cabeças
(IBGE, 2012).
No que tange em específico ao Estado de
Mato Grosso do Sul, nota -se que os ovinos pos-sivelmente
chegaram a este território já nos
idos do século XVIII, sobretudo com a finalidade
de servir de alimentação e vestimenta para as
tropas militares que se instalavam às margens
dos rios Paraguai e Miranda. Atualmente, os
ovinos estão espalhados por todas as regiões do
Estado, sendo que os maiores rebanhos estão
justamente próximos às localidades considera-das
‘turísticas’(Carneiro, 2002).
Em suma, o rebanho ovino de Mato Grosso do
Sul alcança algo em torno de 450 mil cabeças e
está entre os 10 maiores do país (IBGE, 2012).
Ao todo, evidenciam -se quase oito mil proprieda-des
que criam ovinos no Estado, espalhadas por
todo o seu território. Isso significa que 13,9% das
propriedades que exploram a produção animal
em pastagem também contam com a criação de
ovelhas no estabelecimento.
Dentre os subprodutos da atividade da ovi-nocultura,
nota -se que a produção de carne e a
obtenção de lã são os mais relevantes. No ano de
2006, segundo informações do Censo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
foram geradas cerca de 400 toneladas de carne
ovina decorrentes da venda de animais para
abate em frigoríficos (IBGE, 2012).
No que tange à produção de lã, o Censo de
2006 dá conta de que a obtenção deste tipo de
produto no Mato Grosso do Sul girou em torno
de 48 toneladas. Isto coloca o Estado como o 4º
maior produtor de lã do país e o maior fora da
região Sul do Brasil (Sorio, 2009).
Assim sendo, nota -se que a atividade da
ovinocultura tem importância considerável no
processo de diversificação das atividades agrá-rias
no Brasil e, particularmente, no Mato
Grosso do Sul, sobretudo diante de um quadro
de estreitamento das margens de rentabilidade
de atividades tradicionais no campo, tais como
a bovinocultura de corte (Sebrae, 2005). Por-tanto,
a ovinocultura mostra -se como importante
elemento de geração de renda e melhoria da
qualidade de vida das comunidades (sobretudo
rurais), estimulando atividades outrora inexis-tentes
nestes territórios, tais como a confecção e
comercialização de artesanatos a base de lã; bem
como o turismo gastronômico a base de carne
ovina. Desta feita, pode -se dizer que a atividade
da ovinocultura revela -se como um mecanismo
de fomento ao desenvolvimento local (Azambuja,
2001; Coriolano, 2003a).
A utilização da lã como matéria prima possi-bilita
a confecção de peças artesanais voltadas
para o consumidor local para uso cotidiano e
na lida do campo. Não obstante, entende -se que
essa matéria prima pode ser aproveitada ainda
na confecção de artesanatos e souvenirs para a
comercialização nos destinos turísticos regionais,
servindo como elemento de reprodução e divul-gação
– mesmo que de forma indireta – da cul-tura
local, especialmente no que diz respeito às
tradições do homem do campo.
O turismo sul -mato -grossense contemporâneo
movimenta uma quantidade de recursos técnicos
e econômicos de considerável importância, sobre-tudo
através de empreendimentos de grande
porte. Estas organizações, ao se implantarem,
procuram tirar o máximo de vantagens dos ter-ritórios
e dos poderes públicos locais – por exem-plo,
através de isenções fiscais e de linhas especí-ficas
de financiamento, sob o pretexto de colocar
o novo e o exótico para o mercado nacional e
internacional. Porém, as grandes empresas cos-tumeiramente
não incluem os residentes locais
em seus projetos; e os governos normalmente
não costumam exigir que sejam feitas parcerias
com as comunidades receptoras (Almeida, 2002;
Coriolano, 2003a).
Justamente uma das formas pelas quais as
comunidades locais podem se inserir no con-texto
turístico é oferecer determinados produtos
e serviços específicos, tais como o turismo de
experiência e a própria produção e comerciali-zação
de artefatos artesanais. Esta dinâmica
possibilita a agregação de valor à experiência do
turista, fazendo com que ele se sinta inclinado
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Dyego de Oliveira Arruda; Milton Augusto Pasquotto Mariani;
Leandro Sauer; Thiago Gomes de Oliveira; Maria Augusta de Castilho 663
a retornar ao destino turístico. Ademais, essa
inserção das comunidades no seio da atividade
do turismo permite a inclusão de grupos outrora
marginalizados em uma importante atividade
econômica, possibilitando o desenvolvimento dos
territórios que conseguem estabelecer esta pro-posta
(MTUR, 2003).
No Mato Grosso do Sul, uma tentativa de
inserção de comunidades locais na atividade
do turismo, através da produção de artesanato
a base de lã de ovinos, ocorreu nos municípios
de Campo Grande, Ivinhema, Caarapó e Ponta
Porã. Nestes territórios, objetivou -se utilizar
mão de obra e matérias primas locais para a
confecção de artesanato de lã, a partir da pre-missa
de valorização das tradições e aspectos
culturais regionais – além, é claro, da possibili-dade
de geração de renda à esses grupos.
Porém, como se dá a dinâmica do processo de
inserção destas localidades – e de seus respec-tivos
artesanatos – no âmbito da atividade do
turismo regional? Entende -se que o estabeleci-mento
de uma investigação acerca da problemá-tica
em tela mostra -se como um fator propício
à análise, planejamento e efetiva gestão da ati-vidade
do turismo sul -mato -grossense consubs-tanciado
ao desenvolvimento local; em escala
humana.
Percebe -se, em um breve levantamento biblio-gráfico,
que vários estudos procuraram analisar
a inserção da carne ovina no seio da atividade do
turismo regional, com destaque para os traba-lhos
de Carneiro (2002); Mariani e Sorio (2008);
Sorio e Mariani (2008); Sorio (2009); além de
Mariani et al (2010 e 2011). Não obstante, ainda
são inexistentes as publicações com a premissa
de investigar a questão do artesanato a base de
lã de ovinos como aspecto favorável à agregação
de valor à atividade do turismo em Mato Grosso
do Sul – pelo que, naturalmente, o presente tra-balho
reveste -se de ineditismo.
Em suma, o trabalho estrutura -se em três
partes – além desta introdução e das consi-derações
finais. Na primeira parte, expõe -se
breve referencial teórico acerca das dinâmicas
do turismo regional calcado nas expressões
culturais através do artesanato, e as implica-ções
desta correlação no desenvolvimento local.
Na segunda parte, elucidam -se os pressupostos
metodológicos que embasaram a pesquisa. E, por
fim, na terceira e última parte, analisam -se os
resultados auferidos na investigação empírica,
sob um paradigma holístico e sistêmico – onde
são aferidas as especificidades da obtenção de
matérias primas para a confecção dos artesa-natos;
o próprio processo produtivo em si; bem
como a oferta dos produtos artesanais ao con-sumidor
final, majoritariamente representado
pelos turistas.
2. Turismo regional e artesanato de lã de
ovinos – em busca de complementaridades,
partindo da premissa do desenvolvimento
local
O turismo é um fenômeno econômico, polí-tico,
social e cultural dos mais relevantes neste
princípio de século XXI, seja pelo aumento no
tempo livre disponível à realização de atividades
ligadas ao lazer e ao ócio; seja pela necessidade
humana de se refugiar em outros espaços geo-gráficos
que não façam parte de seu cotidiano.
Basicamente, existem dois principais grupos
de turistas ou de ‘olhar turístico’. O primeiro
deles nasce da presença de um grande número
de pessoas, e tem um sentido carnavalesco e um
caráter cosmopolita e homogêneo; é o padrão
encontrado no turismo de massa, em que há
oferta padronizada, restringindo a oportunidade
de escolha de consumidor. O segundo tipo de
olhar equivale ao romântico, um relacionamento
espiritual e pessoal com o objeto turístico. É
representado por produtos cada vez mais seg-mentados,
a fim de atingir variadas motivações
e padrões de compra (Urry, 2001).
Contemporaneamente, existe a tendência de
os deslocamentos turísticos convencionais cede-rem
espaço para uma nova forma de turismo,
caracterizado por viagens mais flexíveis e que
envolvam experiências pessoais, sociais e cultu-rais
autênticas, em oposição ao turismo de massa,
que tende a uniformizar os locais visitados e as
preferências dos turistas (Gastal, 2001). Ou seja,
há uma tendência de se privilegiar o aspecto
romântico e paisagístico inerente à prática do
turismo (Thomaz, Mariani e Moretti, 2012).
Entende -se que atrativo turístico é todo
lugar, objeto ou acontecimento de interesse
turístico que motive o deslocamento de grupos
humanos para conhecê -lo. Os atrativos turísticos
podem ser classificados em naturais, culturais,
manifestações tradicionais, realizações técnico-
-científicas e eventos. Entende -se por ‘turistifica-ção’
o processo pelo qual as potencialidades de
uma região passam por um processo de plane-jamento,
que tem o objetivo de convertê -las em
produtos destinados ao consumo turístico (Bene-vides,
2003; Beni, 2003).
Em suma, a produção de artesanato tem
sido associada ao segmento cultural de turismo,
sobretudo de forma complementar aos desti-nos
turísticos calcados nas atividades de lazer
e negócios. Essa complementaridade se dá na
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medida em que o turista – independentemente
do motivo que o levou a deslocar -se de seu local
habitual de residência – pretende levar junto
de si elementos e representações da cultura do
local visitado, através do artesanato (Santana,
1997).
Não são somente os elementos físicos, como
edificações (só para citar um exemplo), que se
inserem na noção de patrimônio. Também fazem
parte do patrimônio aqueles intangíveis, como
hábitos, costumes e saberes. Nesse sentido, as
expressões culturais através do artesanato são
consideradas tão valiosas quanto os atrativos
físicos de um território (Gimenes, 2006; Schlu-ter,
2003).
“(...) a riqueza monumental, as acessibilida-des,
a qualidade do alojamento, os equipa-mentos
sociais, a segurança, a cultura local, a
gastronomia, a animação, o artesanato, a pai-sagem,
a hospitalidade e outras componentes
qualificam os “pacotes” e tornam os destinos
desejáveis. Naturalmente que, nem sempre,
tal conjugação existe e é viável na sua tota-lidade.
Mas, como diria um operador prag-mático,
é preciso ocupar o tempo dos turistas
para fixá -los de maneira mais duradoura aos
destinos escolhidos” (Ramos, 2000: 02).
Ainda com base em Ramos (2000) percebe -se
que a prática do artesanato, em uma análise
stricto sensu, surgiu como método de substanti-vação
da criativa humana, onde o homem (arte-são)
era o detentor do produto de seu trabalho
e dos instrumentos que utilizava. Não obstante,
a configuração do turismo contemporâneo indu-ziu
a uma verdadeira transferência do caráter
utilitário dos artefatos artesanais para funções
estético -decorativas, provocando um verdadeiro
choque no fluxo artesanal, que se deslocou do
escopo da necessidade para o campo do desejo e
do estético, muito determinada economicamente
pela condição do comprador/turista (Horodyski e
Ruschmann, 2007)
Inúmeras regiões ao redor do mundo se apro-veitam
de sua tradição e expressão cultural
traduzidas nos artefatos artesanais, oferecendo
ao turista um produto diferente, além do sim-ples
souvenir (Azambuja, 2001). Essa possibili-dade
permite a criação de verdadeiros roteiros
turísticos calcados na bagagem cultural dos
territórios, onde outros elementos – além dos
artefatos artesanais em si – são passíveis de
‘turistificação’, tais como as características do
processo produtivo e da obtenção de matérias
primas; os próprios locais de produção; o método
de organização comunitária para a produção do
artesanato, etc.
Há estudos que reiteram a importância do
artesanato do ponto de vista econômico, como
fator gerador de renda às comunidades. Dentre
alguns trabalhos de relevância, pode -se citar
Saraiva e Sawyer (2007) que ponderam, atra-vés
de metodologias de valoração econômica, o
bom potencial da atividade do artesanato em
promover mudanças socioeconômicas na região
dos Lençóis Maranhenses; bem como o estudo
de Couto (1998), que analisa a importância do
artesanato como fator de dinamismo à agricul-tura
familiar e consequente fixação do homem
às atividades características do campo, através
da difusão do turismo rural com viés cultural.
Portanto, com base no referencial teórico de
Santos (2007) pondera -se que a manutenção das
especificidades culturais das comunidades e ter-ritórios;
aliado à geração e fixação da renda no
seio das próprias comunidades, são fatores que
– uma vez operando de forma conjunta e indisso-ciável
– promovem o desenvolvimento local.
O desenvolvimento local é definido como um
processo de mudança de mentalidade, de câmbio
social, institucional e de troca de eixo na busca
do desenvolvimento, por isso orienta -se para a
difusão de pequenas empresas, tendo em vista
socializar as oportunidades e promover o desen-volvimento
(Coriolano, 2003b).
Entende -se que desenvolvimento, turismo
e ambiente encontram -se imbricados em uma
relação recíproca. Em síntese, entende -se que o
desenvolvimento de caráter local em si mesmo
alavanca a possibilidade de equalizar cinco
objetivos distintos: preservação ambiental; iden-tidade
cultural; geração de renda; desenvolvi-mento
participativo e qualidade de vida (Bar-bosa,
2005; Coriolano, 2003a).
Martín (1997) escreve que no escopo do
desenvolvimento local, merecem atenção algu-mas
nuances analíticas, quais sejam: a) o muni-cípio/
local como referência e unidade de análise;
b) a abertura do lugar ao mundo; c) os valores
e produtos locais, como o patrimônio, a história,
a cultura e os alimentos; d) os habitantes como
protagonistas da dinâmica social que leva ao
desenvolvimento.
As associações produtoras de artesanato
ovino investigadas no âmbito do presente traba-lho
revelam a confluência de vários dos pressu-postos
característicos do desenvolvimento local.
Do ponto de vista social, empregam pessoas
da localidade, não raro sob um regime de par-ceria
e cooperativismo, criando vínculos sociais
e gerando processos de aprendizado mútuo; do
ponto de vista econômico, gera renda no terri-tório,
complementando os ganhos dos indiví-duos
que tem na atividade do artesanato uma
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Dyego de Oliveira Arruda; Milton Augusto Pasquotto Mariani;
Leandro Sauer; Thiago Gomes de Oliveira; Maria Augusta de Castilho 665
importante fonte de subsistência familiar; e, por
fim, do ponto de vista ambiental, embasa -se na
utilização de matérias primas que não agridem
o ecossistema e visam ao máximo de aproveita-mento
da lã (Hard e Milstein, 2004).
3. Procedimentos metodológicos
Segundo Vergara (2007), a pesquisa realizada
classificou -se por ser: exploratória, por ter a fina-lidade
de estudar profundamente um problema
de pesquisa pouco investigado; e descritiva, por
resultar em informações instantâneas e precisas,
mas ao mesmo tempo hipotéticas a respeito dos
produtores de artesanato com base nos subpro-dutos
da ovinocultura em Mato Grosso do Sul,
expondo as características dessa população.
Rememorando Yin (2001) pode -se ressaltar
que a pesquisa classificou -se como estudo de
casos múltiplos, por investigar, em vários muni-cípios,
a maneira e a forma com que as coope-rativas,
associações e organizações produtoras
de artesanato de lã ovina obtêm matéria prima
para suas atividades; além das dinâmicas sob
as quais comercializam e desenvolvem os seus
produtos artesanais.
Para tanto, partiu -se de uma abordagem
sistêmica e holística, decorrente do referencial
teórico de cadeias produtivas e sistemas agroin-dustriais,
entendidos como um encadeamento
de atividades que concorrem para a obtenção de
produtos (normalmente de caráter agroindus-trial),
numa sequência que vai desde a produção
de insumos até a chegada dos bens e serviços
ao consumidor final (Batalha et al, 2007; Zylber-sztajn
e Neves, 2000).
Neste ínterim, analisaram -se algumas dinâ-micas
de obtenção da lã e demais subprodutos
dos ovinos; o próprio processo produtivo de
confecção do artesanato e aproveitamento des-ses
materiais; as dinâmicas de comercialização
destes produtos, e as próprias questões logísti-cas
inerentes a esses fluxos de capitais, bens e
serviços.
A população da pesquisa de campo foi com-posta
por pessoas que possuem ou possuíram
vínculos com grupos ou associações de produ-ção
de artesanato derivado da lã de ovinos,
nos municípios de Campo Grande, Ponta Porã,
Ivinhema e Caarapó – todos no Estado do Mato
Grosso do Sul.
Os grupos cujas dinâmicas foram analisadas
nos idos dos meses de julho a outubro de 2011
são os seguintes: Associação da Vila Cristina
(Ivinhema); Grupo da Cabeceira do Apa (Ponta
Porã); Associação de Arte e Artesanato Vale
da Esperança (Caarapó) e Lanifício Pantanal
(Campo Grande). Tratam -se de três associações
e um empreendimento de caráter privado.
Como método de coleta de dados utilizou -se
um questionário, com questões abertas e fecha-das;
bem como entrevistas, partindo de questões
norteadoras à elucidação do problema de pes-quisa
levantado.
O critério utilizado para a delimitação da
população estudada – pessoas que trabalham ou
trabalharam em oficinas produtoras de artesa-nato
ovino – resultou da seleção de municípios
que apresentam os maiores rebanhos de ovinos
do estado de Mato Grosso do Sul e possuem ou
possuíram alguma iniciativa que tinha como
objetivo gerar renda com a produção de artesa-nato
de lã.
4. Dinâmicas do artesanato a base de ovi-nos
no Mato Grosso do Sul, e sua inserção
no turismo regional
A partir das investigações de fontes bibliográ-ficas;
bem como da análise dos questionários e
entrevistas, identificou -se que os recursos utili-zados
no início dos trabalhos artesanais com lã,
nos casos dos projetos fomentados pelo poder
público em Ivinhema, Caarapó e Ponta Porã,
foram geridos pelos governos municipais, mesmo
se tratando de verba de origem federal.
Logo abaixo – partindo de uma abordagem
holística e sistêmica das cadeias produtivas,
conforme elucidado nos procedimentos metodo-lógicos
– analisam -se a disponibilidade de insu-mos,
a produção e logística do artesanato a base
de ovinos; as possibilidades de comercialização;
bem como a demanda pelos produtos, nos terri-tórios
estudados.
4.1. Insumos, produção e logística
Em três territórios investigados – Ivinhema,
Caarapó e Ponta Porã – constatou -se que a pro-priedade
das máquinas utilizadas na confecção
dos produtos é comunitária. Ademais, os indi-víduos,
organizados em associações, utilizam -se
da lã como matéria prima para a produção de
mantas, baixeiros1 e acessórios de vestuário em
geral, valendo -se de produtos naturais (não raro,
reaproveitados) para tingir a lã, tais como a erva
mate e a casca de cebola.
A maioria das pessoas que trabalham ou tra-balharam
nas associações em Ivinhema, Caarapó
e Ponta Porã são mulheres, com mais de 40 anos,
e em média com o ensino fundamental completo.
São pessoas que, tradicionalmente, apresentam
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forte ligação com a cultura dos territórios onde
residem; bem como com o meio rural, em muitos
casos tendo aprendido o ofício de manuseio da lã
e dos próprios ovinos com os seus antepassados.
Ademais, esses indivíduos têm na atividade de
confecção de artesanato uma função complemen-tar
a alguma fonte de renda dita ‘principal’.
Outro ponto em comum nas associações é a
divisão da receita do grupo, realizada segundo
a produção individual de cada um. Somente em
Campo Grande identificou -se que a remuneração
é realizada via pagamento de salários – sobre-tudo
por conta do fato de ser este um empreen-dimento
de caráter individual.
A aquisição da matéria prima (lã) também
ocorre de forma semelhante nos grupos investi-gados,
sendo trocada por serviços e não comer-cializada,
com exceção de Campo Grande, onde
a lã é comprada diretamente de produtores ou
de intermediadores que realizam a tosquia em
diversas propriedades localizadas no Estado de
Mato Grosso do Sul e até em Estados vizinhos.
Na Associação da Vila Cristina, em Ivinhema;
bem como na Cabeceira do Apa, em Ponta Porã,
a matéria prima era trocada pelo serviço da
tosquia das ovelhas. No município de Caarapó
ocorre a troca da lã pelo serviço de manufatura
de parte deste material, sendo que 30% da lã são
devolvidos como produtos acabados, tais como
baixeiros utilizados na lida das fazendas onde os
ovinos são criados e a lã é produzida.
A foto a seguir ilustra o tipo de produto que
em geral é utilizado como pagamento pela lã
adquirida diretamente de produtores, sendo con-feccionados
diferentes tipos de baixeiros, resul-tantes
da grossura da linha utilizada. A imagem
permite observar a diferença entre um baixeiro
de lã branca tecida em fio médio; e um baixeiro
de lã escura, tecido com fio fino. Ressalte -se que
nenhum dos baixeiros em tela apresenta tingi-mento,
sendo produzidos com lã de pigmentação
original dos ovinos.
No município de Ivinhema, constataram -se
alguns problemas decorrentes da própria orga-nização
do grupo, que nos idos de sua criação
no ano de 2008 contava com 22 integrantes, ao
passo que, atualmente, evidenciam -se apenas
três mulheres que desempenham as atividades
de confecção de artesanato. Ademais, são recor-rentes
as idas e vindas do grupo; e sua conse-quente
instabilidade na produção, que atual-mente
ocorre somente em três dias da semana.
Vale ponderar, não obstante, que essa incons-tância
da produção é também evidente nos
municípios de Ponta Porã e Caarapó, sendo que
– segundo relatos dos indivíduos pesquisados –
houve épocas em que a produção ficou efetiva-mente
parada, sobretudo por conta da falta de
maquinários e disponibilidade dos indivíduos
para a produção dos artesanatos.
A situação mais crítica foi evidenciada no
município de Ponta Porã. Por conta da falta de
materiais para a cardagem da lã, optou -se por
terceirizar esse serviço através de parceiros no
município de Campo Grande, o que tornava o
produto final da associação mais caro, estrei-tando
as margens recebidas pelos associados.
No momento da realização da pesquisa, o grupo
encontrava -se em estado de latência, com a
expectativa de aquisição das máquinas de car-dar
pela Prefeitura, fomentando os processos de
produção do grupo.
No município de Caarapó atualmente
observam -se seis pessoas que corporificam a
associação, sendo notória a divisão do trabalho,
numa dinâmica onde algumas pessoas apenas
tratam da lã; enquanto outras cuidam apenas
da tecelagem.
Por fim, no município de Campo Grande o
empreendimento privado Lanifício Pantanal
conta atualmente com quatro funcionários ter-ceirizados
e oito fixos. O processo de produção se
diferencia dos demais empreendimentos devido
à diferença das máquinas utilizadas – que são
mais modernas em relação aos instrumentos de
trabalho das associações investigadas.
Em síntese, pode -se salientar que as oscila-ções
na produção de artefatos artesanais a base
de lã de ovinos – sobretudo nos municípios de
Caarapó, Ponta Porã e Ivinhema – são decor-rentes
de uma série de motivos, dentre os quais:
a ausência de máquinas e instrumentos mais
modernos para a correta e eficiente manufatura
da lã; a inexistência de iniciativas de capacitação
dos indivíduos, principalmente no que se refere à
necessidade de se obter produtos de maior quali-
Figura 1: Baixeiros produzidos a partir
da lã de ovinos
Créditos: Thiago Gomes de Oliveira
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Dyego de Oliveira Arruda; Milton Augusto Pasquotto Mariani;
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dade; a predominância de um caráter secundário
à atividade de produção de artesanatos de lã de
ovinos – que na maioria dos casos é vista pelos
indivíduos como mera fonte complementar de
renda; a ausência de iniciativas que ampliem o
mercado para os produtos artesanais; além da
falta de acordos e/ou contratos que resultem na
oferta regular e padronizada de matérias primas
aos grupos investigados.
Nota -se também que o poder público regio-nal/
local – especialmente nas organizações de
Ivinhema, Caarapó e Ponta Porã – exerceu
papel preponderante na época do surgimento
dos grupos, sobretudo mediante iniciativas de
mobilização e capacitação de alguns indivíduos
que capitaneassem as atividades de produção
dos artesanatos a base de lã de ovinos. Não
obstante, não há políticas públicas efetivamente
direcionadas aos grupos – tais como incentivos
à comercialização dos artefatos artesanais e/ou
mecanismos de facilitação ao financiamento da
produção.
4.2. Possibilidades de comercialização
Em todos os casos analisados, parte da pro-dução
era de peças por encomenda; e parte era
produzida e estocada para vendas posteriores,
sendo que a comercialização de baixeiros em
atacado para intermediadores mostrou -se como
uma prática comum nos quatro grupos investi-gados.
Todos os entrevistados apresentam a per-cepção
de que o turismo é benéfico para a sua
atividade e para a região onde residem, demons-trando
sua receptividade à vinda de novos turis-tas,
alegando que estes visitantes trazem desen-volvimento
econômico e acabam divulgando a
cidade e o trabalho que realizam, existindo a
possibilidade de elevar a demanda pelos pro-dutos
artesanais, podendo trazer contatos que
divulguem o produto fora do Estado e até mesmo
do país.
Dentre os produtos majoritariamente comer-cializados
pelos grupos estão os já supracitados
baixeiros, além de tapetes, colchas, mantas, blu-sas,
agasalhos bordados, souvenires diversos e
edredons, estes últimos com preços variando de
€ 139,71 a € 220,592.
No município de Ivinhema os produtos são
comercializados na Casa do Artesão, que retém
parte dos lucros da comercialização dos itens
como método de financiamento dos custos de
operação do espaço. Mesmo na casa do artesão,
a venda dos produtos é muito sazonal, sendo
mais intensa mediante à participação em feiras
e exposições em diversos municípios do Estado.
Em Caarapó parte da produção é vendida em
uma loja localizada no centro da cidade. Ademais,
constatou -se que uma parcela da produção é ven-dida
no atacado e repassada a revendedores, até
mesmo sediados em no Estado de São Paulo.
Já os produtos de Campo Grande são comer-cializados
em Mato Grosso, Paraná, Pará,
Roraima, Acre, São Paulo e Santa Catarina por
meio de transportadora; e em Mato Grosso do
Sul através de intermediários que compram a
produção em atacado para a revenda em locali-dades
específicas.
Observa -se que – dado o caráter mais comu-nitário,
associativo e menos tecnificado da pro-dução
– os produtos oriundos das associações de
Ivinhema, Caarapó e Ponta Porã trazem em si
maiores cargas da cultura local, normalmente
expressa desde os ritos de tosquia das ovelhas,
até a utilização e preparação dos corantes natu-rais
da lã, passando por todas as dinâmicas do
processo produtivo.
Desta forma, estes produtos – rememorando o
referencial teórico de Coriolano (2003a e 2003b),
Azambuja (2001) e outros – apresentam con-siderável
adequabilidade às propostas de um
turismo de caráter comunitário, onde pode ocor-rer
até mesmo a turistificação das etapas do pro-cesso
produtivo (o que não ocorre, atualmente,
nos grupos investigados).
Ademais, a estratégia organizacional destas
associações em produzir e vender no atacado
mostra -se incoerente a uma proposta de inser-ção
dos artesanatos nas dinâmicas do turismo
de caráter cultural – que carece de produtos que
sejam autênticos, personalizados; e que este-jam
agregados a outros elementos intrínsecos à
prática do turismo (tais como a gastronomia, a
ambientação dos locais, a própria hospitalidade
etc.).
4.3. Demanda
Os preços dos produtos artesanais dos grupos
investigados variam devido a fatores mercadoló-gicos
e a existência de atravessadores. Não obs-tante,
a sazonalidade da demanda de vestuários
e peças decorativas é nítida em todos os casos,
sendo a comercialização do baixeiro em atacado
para revenda, o mercado com demanda mais
estável em todos os casos.
Desta feita, partindo destas breves considera-ções,
notam -se alguns elementos característicos
da demanda pelos produtos nos grupos em aná-lise,
sobretudo no que se refere à: inconstância
do mercado consumidor, alta elasticidade -preço,
além de baixo interesse por alguns dos produtos
artesanais em questão, em determinadas épocas.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
668 Artesanato com Lã de Ovinos …
O aspecto relativo à inconstância refere -se ao
fato de que os municípios em análise, por si só,
apresentam mercados deveras reduzidos, deno-tados
por suas populações absolutas que (à exce-ção
de Campo Grande, a capital do Mato Grosso
do Sul) variam de 22 mil a 80 mil habitantes,
sendo, portanto, cidades consideradas pequenas,
segundo os critérios do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Ademais, no que tange à atividade do turismo
nos municípios de Ponta Porã, Ivinhema e Caa-rapó,
nota -se uma configuração turística essen-cialmente
complementar às regiões de Bonito,
Corumbá e Campo Grande – estes últimos, os
principais polos de recebimento de visitantes em
Mato Grosso do Sul.
No que tange à alta elasticidade preço da
demanda, aferiu -se que isso decorre da própria
estratégia organizacional dos grupos em produ-zir
em escalas maiores; sem os aspectos relativos
à personalização e diferenciação dos produtos –
que lhes conferem maiores margens de renta-bilidade,
além de maior procura no âmbito do
turismo.
Por fim, quanto ao baixo interesse pelos
produtos artesanais, notou -se a inexistência de
estratégias de marketing por parte dos produtos
investigados com vistas à divulgação de suas
especificidades e consequente ampliação dos pos-síveis
mercados aos artesanatos em tela.
5. Considerações Finais
É fácil perceber que o turismo de base local
tem potencial de trazer diversos benefícios para
toda a comunidade, numa dinâmica comprome-tida
com o desenvolvimento local. Afinal, quando
se desenvolve um enfoque turístico para as
expressões culturais – dentre as mais relevan-tes,
o próprio artesanato local – ocorre uma valo-rização
dos costumes e tradições dos territórios
a partir da divulgação destas especificidades. Ao
mesmo tempo, os agricultores e pecuaristas da
região são incentivados a produzir as matérias-
-primas que serão consumidas na elaboração dos
artefatos artesanais. Finalmente, o turista tem
a possibilidade de se inserir no contexto cultural
da região visitada, aumentando a experiência da
viagem e fazendo com que este mesmo turista
retorne aos destinos turísticos visitados.
Percebeu -se que o artesanato a base de lã de
ovinos no Mato Grosso do Sul possui a potencia-lidade
de inserir -se no escopo supracitado, sobre-tudo
por tratar -se de produtos que trazem em
si elementos da cultura local; utilizam matérias
primas características do próprio processo de
colonização sul -mato -grossense; além de apre-sentarem
uma gama de produtos e artefatos,
que podem ser divulgados e inseridos no escopo
das preferências dos consumidores (tanto reais
quanto potenciais) nos destinos turísticos de
Mato Grosso do Sul.
Não obstante a isso, percebeu -se nos grupos
investigados (sobretudo nos municípios de Caa-rapó,
Ivinhema e Ponta Porã) a recorrência de
estratégias organizacionais que não concorrem
à efetiva inserção dos artesanatos no seio do
turismo cultural local, tais como a opção pela
produção em escala e venda em atacado dos
produtos; a não existência de iniciativas e pro-gramas
coesos de marketing; o desconhecimento
quanto às possibilidades de turistificação das
etapas do processo produtivo dos artesanatos;
além das inconstâncias na produção dos bens,
que carregam consigo baixos níveis de tecnologia
agregada.
Desta feita, preceitua -se algumas recomenda-ções
à questões organizacionais dos grupos, prin-cipalmente
no que tange: preocupação quanto à
diferenciação dos produtos, criando e atingindo
mercados específicos aos artefatos artesanais;
divulgação dos produtos através de estratégias
organizadas de marketing, não raro lançando
mão da internet como meio de difusão das carac-terísticas
e até mesmo de comercialização dos
produtos; estreitamento de alianças mais inten-sas
com fornecedores de matérias primas locais,
avançando na consolidação de uma verdadeira
cadeia produtiva do artesanato a base de lã de
ovinos; além da formatação dos processos produ-tivos
do artesanato como atrativos do turismo de
experiência.
Por fim, para que possíveis políticas públicas
e privadas direcionem a atividade do turismo à
preservação e desenvolvimento da cultura local
de produção e comercialização de artesanato a
base de lã de ovinos, algumas providências são
fundamentais, principalmente buscando valo-rizar
os aspectos da identidade local, conforme
constam nas quatro intenções abaixo explicita-das:
a) Construção de uma base de informação e
disseminação do conhecimento nas loca-lidades,
através da educação da popula-ção
residente sobre a possibilidade de se
maximizar os impactos positivos da ação
turística. A escala local é importante para
a proposta de inserção do artesanato ovino
dentro dos roteiros turísticos de Mato
Grosso do Sul, porque os organizadores
de cada localidade podem desempenhar
um papel preponderante na obtenção do
sucesso do turismo cultural;
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(4). 2013 ISSN 1695-7121
Dyego de Oliveira Arruda; Milton Augusto Pasquotto Mariani;
Leandro Sauer; Thiago Gomes de Oliveira; Maria Augusta de Castilho 669
b) Promoção de benefícios e oportunidades
para a comunidade local através da capa-citação
dos habitantes do lugar para o
desenvolvimento do turismo, levando em
conta seus interesses, direitos e desejos;
c) A educação e informação aos profissionais
do segmento do turismo são essenciais
para o sucesso de um roteiro turístico cul-tural.
Isso deve começar pelos entes gover-namentais,
que precisarão compreender o
que representam as políticas de turismo e
outros assuntos inerentes às suas funções.
Já a mão -de -obra envolvida deverá estar
consciente a respeito da preservação do
meio que serve de base para o desenvolvi-mento
turístico, sensibilizando os visitan-tes
para estes aspectos;
d) Criação e promoção de roteiros turísti-cos
que envolvam o artesanato regional e
local, aproveitando -se dos diversos even-tos
culturais, feiras, festivais e exposições
que já estão consolidados no Estado e até
mesmo fora do país.
Enfim, estas providências têm como referên-cia
não apenas as características do cenário atual
da atividade turística, mas os desafios que se
antepõem para a sociedade sul -mato -grossense,
tendo como objetivo promover a construção
de uma abordagem desejável de utilização dos
recursos socioculturais, naturais e econômicos
existentes em todo o Mato Grosso do Sul, fomen-tando
o amadurecimento de atividades socioeco-nômicas
que sejam condizentes com as propostas
e dinâmicas de desenvolvimento local.
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Notas
1 Trata -se de uma manta grossa a base de lã,
normalmente utilizada como apetrecho de
montaria.
2 Preços convertidos a uma cotação de R$ 2,72,
vigente em 20 de janeiro de 2013, segundo o
Banco Central do Brasil (BCB).
Recibido: 04/09/2012
Reenviado: 30/01/2013
Aceptado: 16/04/2013
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