Vol. 6 Nº 3 págs. 511-522. 2008
www.pasosonline.org
© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
A organização da atividade turística em Corumbá, sob o enfoque dos
conceitos de cadeia produtiva e arranjo produtivo local
Lis Damasceno de Oliveira ii
Luiz Eustáquio Lopes Pinheiro, Ido Luiz Michels e Eron Brum
UNIDERP (Brasil)
Resumo: A pesquisa foi realizada em Corumbá, um dos principais pólos turísticos do Mato Grosso do
Sul, objetivou compreender como a atividade turística está organizada nessa localidade, identificando os
principais atores envolvidos e como as forças externas interferem no turismo. A metodologia utilizada
foi fenomenológica, do tipo exploratória e descritiva. Para coleta de dados foi realizada pesquisa bi-bliográfica,
entrevistas não dirigidas e discussões em grupo. Os resultados obtidos demonstraram que a
cadeia do turismo de Corumbá ainda esta sendo estruturada, tendo como principais pontos de estrangu-lamento
a baixa capacitação e qualificação profissional, desarticulação empresarial, alta dependência do
poder municipal, além de questões sociais e relacionadas ao meio ambiente.
Palavras chave: Ecoturismo; Pantanal; Desenvolvimento local; Cadeia produtiva; Turismo de pesca.
Abstract: The research was realized in Corumbá, one of the main tourist regions for Mato Grosso do
Sul, and objectified to understand as the tourism is organized in this locality and to identify the main
involved actors, as well as how the external forces intervene in this activity. The used methodology was
phenomenological, exploratory and descriptive type. For the collection of data it was carried through
bibliographical research indirect interviews and group discussions. The obtained results had demonstrat-ed
that the chain of tourism in Corumbá is still being structuralizing and some points of strangulation had
been identified: deficiency in human resources prepared and enable, the disarticulation of local entrepre-neur,
high dependence of the municipal government, beyond social and the environment matters.
Keywords: Ecotourism; Pantanal; Local development; Productive chain; Sport fishing.
ii Lis Damasceno de Oliveira. Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional. Universidade para o Desen-volvimento
do Estado e da Região do Pantanal - UNIDERP Email: lisdamasceno@yahoo.com.br
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Introdução
O turismo é uma atividade econômica
que se caracteriza pela sua dinâmica e
flexibilidade, sendo considerado por muitos
uma excelente fonte geradora de empregos,
renda, desenvolvimento econômico e social.
Por essas razões, o turismo vem assumindo
grande representatividade no contexto
econômico mundial.
Em 2006 os turistas estrangeiros gasta-ram
no Brasil US$ 4,3 bilhões, superando
em 11,77% os US$ 3,8 bilhões registrados
em 2005 (Mtur, 2006). Neste contexto, o
estado de Mato Grosso do Sul ganhou noto-riedade
por seu significativo potencial
turístico, sobretudo, no segmento do ecotu-rismo,
dada à exuberância de suas riquezas
naturais. Segundo a Secretaria de Estado
de Planejamento e de Ciência e Tecnologia
(2003), pelo menos 40% dos atrativos turís-ticos
do Estado são naturais e ecológicos;
16% estão distribuídos na categoria históri-co-
culturais; 28% estão na categoria folclo-re;
6% referem-se à realizações técnicas e
científicas e 10% encontram-se na categoria
de eventos programados.
O Estado de Mato Grosso do Sul se des-taca
na economia nacional e internacional,
pela sua produção de gado de corte. Porém,
recentemente, o Estado ganhou notoriedade
por seu significativo potencial turístico,
sobretudo, no segmento do ecoturismo, da-da
à exuberância de suas riquezas natu-rais.
Em 2005, o estado recebeu 519.752 tu-ristas,
representando um aumento de
23,9% em relação ao ano anterior (419 mil
turistas), segundo Silveira (2006). Estes
números demonstram que o turismo no
Estado está crescendo gradativamente,
contudo ainda enfrenta dificuldades, prin-cipalmente
na identificação dos agentes que
interagem no processo produtivo e na men-suração
de seus impactos econômicos. En-tretanto,
segundo Massari (2005), o desen-volvimento
do setor turístico é prejudicado
pela inexistência de um modelo de cadeia
produtiva do turismo, dificultando apontar
claramente os elementos que a integram,
consequentemente levando ao retardo na
capacidade desse setor em organizar-se de
maneira consistente.
Dentro desse contexto, é necessário con-siderar
o turismo como uma atividade que
depende da relação entre demanda e oferta,
tornando-se necessário, então, caracterizar,
mensurar e avaliar as relações mercadoló-gicas
do setor. A cadeia produtiva do turis-mo
leva em consideração a configuração de
destinos turísticos com características e
objetivos específicos, possibilitando, dessa
forma, diagnosticar a situação atual e as
tendências do turismo na localidade, por
meio da identificação dos agentes essen-ciais
para a configuração da atividade, bem
como da mensuração do impacto econômico
gerado pelo turismo.
Diante disso, estudar e caracterizar a
cadeia do turismo em Mato Grosso do Sul
vem ao encontro das necessidades viven-ciadas
não só no contexto estadual, mas
também no contexto nacional, mostrando-se
ser etapa primordial para organização efe-tiva
e desenvolvimento da atividade turísti-ca.
O presente estudo analisa a organização
da cadeia turística em Corumbá (MS), por
ser considerado um dos destinos prioritá-rios
para o desenvolvimento do turismo no
estado.
Para tanto, esta pesquisa foi desenvolvi-da,
em forma de um estudo fenomenológico,
adotando o modelo de formulação e estrutu-ração
das cadeias produtivas proveniente
do agronegócio, que consiste em descrever
as operações de produção responsáveis pela
transformação da matéria-prima em produ-to
acabado.
Referêncial teórico
Turismo: conceituações
Do ponto de vista econômico, o turismo
pode ser descrito como a combinação de
bens e serviços, de atrativos e infra-estruturas,
ordenados de forma que ofere-çam
vantagens aos clientes, que consigam
satisfazer suas percepções e expectativas, e
que requer empresas que se dediquem a
realizar essas atividades que o tornam
possível (BALANZÁ; NADAL, 2003).
A EMBRATUR, em 1992, definiu turis-mo
como:
É uma atividade econômica representa-da
pelo conjunto de transações, compra e
venda de serviços turísticos efetuadas
entre os agentes econômicos do turismo.
É gerado pelo deslocamento voluntário e
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temporário de pessoas para fora dos li-mites
da área ou região em que têm re-sidência
fixa, por qualquer motivo, exce-tuando-
se o de exercer alguma atividade
remunerada no local que visita.
Indo mais além, numa visão humanista
e holística do turismo Jafar Jafari e Beni
(2003) afirmaram que a atividade turística
foca o homem fora do seu local de habitaç-ão.
Neste ambiente, ele é influenciado dire-tamente
por fatores de realização pessoal,
social, motivacional, econômica, cultural,
ecológica e científica. Neste particular, o
turismo é ainda o elemento gerador de im-pacto
sobre os ambientes físicos, econômico
e sociocultural da área receptora.
Por ser o turismo uma atividade econô-mica,
pressupõe-se a existência, de um
mercado turístico, caracterizado por Ba-lanzá
e Nadal (2003) como um complexo
resultado de relações entre diferentes fato-res
que devem ser considerados conjunta-mente
como um sistema, e que evoluem de
forma dinâmica. Concretamente, quatro
elementos básicos fazem parte deste mer-cado:
a demanda, formada pelo conjunto de
consumidores reais ou potenciais de bens e
serviços turísticos; a oferta, composta pelo
conjunto de produtos, serviços e organizaç-ões
envolvidas ativamente na experiência
turística; o espaço geográfico, a base física
onde ocorre o encontro entre oferta, de-manda
e a população residente, isto é, am-biente
onde acontecem todas as relações; e,
os operadores de mercado, empresas e or-ganizações
cuja função principal é facilitar
a relação entre oferta e demanda. Entram
nesta consideração as agências de viagens,
as companhias de transporte regular e os
organismos públicos e privados que se ocu-pam
da organização e/ou promoção do tu-rismo.
A atividade turística como um todo es-truturado
é, portanto, um produto composto
por bens e serviços, tangíveis e intangíveis.
A parte tangível é o produto global em si,
tal como é oferecido pelos produtores. Já a
intangibilidade advém das percepções e
expectativas geradas pelos consumidores.
Nos produtos tangíveis as duas partes
têm, em geral, a mesma importância. Mas,
no turismo, a parte intangível é mais im-portante
do que a outra, porque os consu-midores/
usuários não conhecem o produto,
não podem ver e tocar, e não podem consu-mi-
lo fora dele; por isso, através da infor-mação
e dados que têm, geram opiniões e
expectativas de como será o produto total,
que uso farão dele, que resultados obterão
(BALANZÁ e NADAL, 2003).
Combinados entre si, os diferentes tipos
de serviços turísticos, agregam valor,
criando o produto turístico, que é composto
por dois elementos básicos: atrativos e in-fra-
estrutura turística, como exposto por
Balanza e Nadal (2003), no Quadro 1.
Segundo Vaz (1999 apud Cordeiro,
2001), na produção, distribuição e consumo
do produto turístico surgem várias empre-sas
diferentes umas das outras, resultando
a grande dificuldade de padronização e
qualidade do produto, pois envolve uma
combinação entre diversos serviços e equi-pamentos.
Ainda segundo o mesmo autor,
como a prestação de um bom serviço turís-tico
está interligada às demais atividades
Quadro 1. Formação do produto turístico. Fonte: Balanzá; Nadal, 2003.
ATRATIVOS TURÍSTICOS:
elementos básicos a partir dos quais se desenvolve a atividade turística.
NATURAIS CULTURAIS HISTÓRICO-MONUMENTAIS
EVENTOS
+
INFRA-ESTRUTURA TURÍSTICA:
elementos criados de maneira a permitir que o turista atenda as suas necessidades básicas e
desfrute dos atrativos do destino.
AGÊNCIAS
E OPERADORAS TRANSPORTE HOSPEDAGEM ALIMENTAÇÃO OUTROS
=
PRODUTO TURÍSTICO GLOBAL:
conjunto de elementos tangíveis e intangíveis organizados de maneira que possam satisfazer
as percepções e expectativas de um determinado segmento de mercado.
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econômicas, cria-se uma relação de inter-dependência
de vários fornecedores. Como
conseguinte, a formação do produto turísti-co
exige a interação de dois níveis – bens
turísticos e serviços – que não devem ser
vistos como duas partes distintas, mas sim
como dois níveis do produto turístico que se
articulam e necessitam um do outro.
Cadeia produtiva
Para fins de ordenamento dos vários
segmentos adjuntos ao turismo, optou-se
por utilizar as definições de cadeias produ-tivas
comumente utilizadas no agronegócio.
Assim, o conceito norteador é aquele descri-to
por Batalha (2001), que se refere às re-lações
de contrato ou interdependência
entre segmentos que configuram determi-nada
cadeia de produção, formada em torno
da produção dos itens a ele pertinentes.
Contudo, Massari (2005) alertou que
tais conceitos de cadeia produtiva estão
relacionados à atividade industrial e não
aos serviços, setor no qual o turismo está
inserido. A autora afirmou ainda que ao
estabelecer o modelo de cadeia produtiva do
turismo deve-se considerar a atividade
turística como um fenômeno único e multi-setorial.
Logo, a cadeia produtiva do turis-mo
congrega os elos que se articulam, desde
o uso dos equipamentos e da infra-estrutura,
do destino turístico indo até o
fator que gera o estimulo e a decisão de
compra do consumidor (marketing e pro-moção
turística). Finalmente, ainda segun-do
Massari (2005) o turismo é uma combi-nação
de uma série de outras atividades
econômicas integradas, na qual é criada
uma oferta e uma demanda, que pode exis-tir
ou até ser estimulada.
Sendo assim, conforme, Balanzá e Nadal
(2003) a cadeia produtiva do turismo é
composta pelo trade (mercado) turístico,
que é formado principalmente pelos opera-dores
do mercado e por empresas e organi-zações,
cuja função principal é facilitar a
relação entre a oferta e a demanda. Entram
nessa consideração as agências de viagens,
as companhias de transporte regular e os
organismos públicos e privados que, me-diante
seu trabalho profissional, se ocupam
da organização e/ou promoção do turismo”.
Arranjo produtivo local
De acordo com o Ministério do Desen-volvimento,
Indústria e Comércio Exterior
(2002) arranjos produtivos locais (APL) são
aglomerações territoriais de agentes
econômicos, políticos e sociais, com foco em
um conjunto específico de atividades
econômicas, que podem apresentar vínculos
e interdependências, envolvendo a partici-pação
e interação de empresas (desde pro-dutoras
de produtos e serviços finais até
fornecedoras de insumos e equipamentos,
prestadoras de consultorias, comercializa-doras
etc). Podendo incluir outras instituiç-ões
públicas e privadas voltadas para a
formação e capacitação de recursos huma-nos,
política, promoção e financiamento.
Mamberti e Braga (2004) afirmam que o
conceito de APL também pode ser aplicado
ao turismo, desde que as reformulações
para adapta-lo as particularidades da ati-vidade
turística sejam feitas., haja vista,
que o turismo envolve uma ´serie de relaç-ões
intersetoriais que devem ser identifica-das,
organizadas e articuladas para possibi-litar
uma análise sistêmica.
Haddad (2004) ainda descreve um con-junto
de características que, quando pre-sentes
em uma atividade econômica, poten-cializam
os benefícios de eficiência coletiva,
aprendizado conjunto e inovação gerados
pelas economias dinâmicas de aglomeração,
que podem ser utilizados na caracterização
de um APL:
• Dimensão territorial delimitada: A
proximidade geográfica leva ao compar-tilhamento
de visões e valores econômi-cos,
como mão-de-obra especializada,
fornecedores e principalmente conheci-mento
tácito, aquele que não está codifi-cado,
mas está implícito e incorporado
nos indivíduos.
• Diversidade de atores econômicos, políti-cos
e sociais: A presença de diferentes
instituições estimula a inovação, pois fa-vorece
a formação e capacitação da mão-de-
obra, o investimento em pesquisa, o
desenvolvimento e o acesso a fontes de
capital.
• Governança/coordenação: A maneira co-mo
os diferentes atores coordenam suas
atividades e investimentos favorece a
criação de economias de escala antes in-
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existentes, como compras conjuntas, in-vestimentos
compartilhados e treina-mento,
compartilhamento de infra-estrutura
de logística etc.
• Vocação e/ou Relevância da Atividade
Econômica: Quando uma atividade é re-levante
para a região, seja pela im-portância
para a economia local, seja por
uma vocação da região, a mobilização da
população e das instituições de apoio é
muito mais provável.
Dentro da ótica descrita por Haddad
(2004), Mamberti e Braga (2004) lembram
ainda que, de forma genérica, pode-se iden-tificar
a organização da atividade turística
como núcleos produtivos aglomerados, visto
que as empresas que compõe a infra-estrutura
turística compartilham o mesmo
território e participam da mesma cadeia
produtiva. Essa forma de organização ca-racterizada
por empresas com afinidade
econômica, com proximidade física e articu-ladas
entre si consolida um arranjo produ-tivo
local. Um arranjo produtivo local devi-damente
estruturado intensifica e fortalece
a interação entre as empresas e as insti-tuições
envolvidas, gerando um aperfei-çoamento
no uso das vantagens competiti-vas.
Quando a atividade turística é organi-zada
de modo sistêmico e integrado, os be-nefícios
são tanto para as empresas quanto
para os turistas e a comunidade local.
Material e método
O estudo de caráter fenomenológico uti-lizou
a abordagem de análise de cadeia de
valor, que segundo Fleury e Fleury (2005),
enfatiza as relações que as organizações
estabelecem entre si, considerando as con-seqüências
das relações entre as empresas
e como elas são governadas.
O trabalho utilizou a pesquisa qualitati-va
como procedimentos de execução da pes-quisa
que segundo Minayo (2001), se pre-ocupa
com aspetos da realidade que não
podem ser quantificados, buscando explicar
a dinâmica das relações.
A técnica de coleta de dados contemplou
levantamento de informações secundárias
(pesquisa bibliográfica), entrevistas não
dirigidas, com representantes do trade
turístico estadual e municipal e discussão
em grupo no destino.
Para se analisar os dados levantados,
considerou-se como adequado a análise
interpretativa, fornecendo as bases para
caracterizar os resultados comparativos.
Turismo em Mato Grosso do Sul
A atividade turística ainda tem pouca
representatividade para a economia do
Estado, considerando que, em 2003, as ati-vidades
relacionadas (Alojamento e alimen-tação
e Transporte e armazenagem) repre-sentaram
apenas 4,44% do total do PIB,
somando R$ 777,53 milhões. Em 2004, o
setor terciário apresentou um crescimento
de 3,16%, impulsionado pelas atividades de
comunicação, transportes, outros serviços e
serviços domésticos. As atividades ligadas
ao turismo apresentaram leve crescimento,
passando a ser responsáveis por 4,59% do
PIB estadual neste período (Seplanct, 2003;
2006).
De acordo com o Ministério do Turismo,
Mato Grosso do Sul, possui, cadastradas,
142 agências de turismo, 100 meios de hos-pedagens,
61 transportadoras turísticas, 15
organizadoras de eventos, totalizando 318
empreendimentos turísticos.1
Conforme pesquisa encomendada pelo
Ministério de Turismo, os principais esta-dos
emissores de turistas para o Mato
Grosso do Sul são, em primeiro lugar, São
Paulo (52,7%), seguido pelo próprio Mato
Grosso do Sul (13,4%). O Paraná ocupa a
terceira posição com a margem de 12,5%.
Minas Gerais e Rio Grande do Sul estão em
quarto e quinto lugar, respectivamente,
com 6,4% e 5,9%, cada. O Rio de Janeiro
ocupa a sexta posição com 3,2%, seguido
com pequena diferença pelo Mato Grosso
(3%). São ainda, regiões emissoras de turis-tas
para o Estado, o Distrito Federal, Rio
Grande do Norte e Santa Catarina.
O Programa de Regionalização do Tu-rismo
- Roteiros do Brasil (Mtur, 2004) di-vide
o estado de Mato Grosso do Sul em
três regiões turísticas: Campo Grande e
Região, Pantanal e Serra da Bodoquena.
O turismo no Pantanal e em Corumbá
O Pantanal é a maior planície neotropi-cal
inundável do mundo, reconhecida na-cional
e internacionalmente pela exuberân-cia
de sua biodiversidade como uma das
áreas úmidas de maior importância do glo-bo
(Martin, 2003). Reconhecido pela Consti-
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tuição Brasileira como patrimônio cultural
e pela UNESCO como Reserva da Biosfera,
o Pantanal sul-mato-grossense tem área de
95.923 km2, compreendendo 65% da área
total da Bacia hidrográfica do rio Paraguai
(Alho; Golçalves, 2005).
Região formada pelos municípios de
Aquidauana, Corumbá, Coxim, Ladário e
Porto Murtinho. Tem em sua base econômi-ca
a bovinocultura de corte, a pesca, a mi-neração
e o turismo (Martin, 2003).
Para Alho e Gonçalves (2005), o marco
para o desenvolvimento do turismo na regi-ão
foi a grande enchente de 1974. Após 15
anos de seca, a enchente gerou grandes
prejuízos às atividades econômicas da regi-ão,
principalmente à pecuária. Nesse mo-mento,
surge o turismo como uma nova
opção de geração de renda para região,
amenizando os prejuízos.
A partir de 1977, são instaladas as pri-meiras
empresas interessadas em explorar
o turismo. Inicia-se, então, o processo de
estruturação necessário para a execução do
turismo na região: construção de equipa-mentos
de hospedagem, passeios, infra-estrutura
de acesso etc.
Os principais tipos de turismo pratica-dos
no Pantanal, atualmente, são: turismo
de pesca, o ecoturismo e o turismo de con-templação.
Moraes e Seidl (apud Alho;
Gonçalves, 2005) descrevem as principais
motivações que levam os pescadores espor-tivos
ao Pantanal. De acordo com o estudo
realizado em 2000, 65% dos entrevistados
vêm a região em função do turismo ser pra-ticado
ao ar livre e da natureza mais geral,
apenas 35% disseram que os aspectos dire-tos
da pesca, tais como capturar muitos
peixes, peixes grandes ou uma variedade de
peixes, foram as razões mais importantes.
Notou-se ainda, que para mais da metade
dos entrevistados a qualidade do ambiente
natural foi a principal razão para a visita e
que somente 7% atribuíram a possibilidade
de ver e observar a vida silvestre como sua
motivação principal.
O turismo de pesca é sazonal, sendo
mais intenso nos meses de agosto a outu-bro.
Conforme divulgado pelo Sistema de
Pesca de Mato Grosso do Sul em 2002, a
Bacia do Alto Paraguai recebeu 29.683 pes-cadores
esportivos, dos quais 61,7% eram
provenientes de São Paulo, 14,1% vinham
do Paraná e 9,3 % residiam no estado de
Minas Gerais. Rio Grande do Sul, Goiás,
Santa Catarina e Mato Grosso do Sul eram
os estados de origem 14,9% restantes. Os
rios mais utilizados foram o Paraguai, Mi-randa,
Taquari, Aquidauana e Apa e a
quantidade de pescado capturado pela pes-ca
esportiva foi de 373 toneladas, ou seja,
55% do total de pescado capturado no Esta-do
(685 toneladas).
Corumbá é a cidade que mais se destaca
no contexto turístico dessa região. Lomba
(2004) destaca que o turismo foi implantado
em Corumbá com o intuito de atender aos
turistas que visitavam a região motivados
pela pesca no rio Paraguai e para contrapor
a decadência econômica que a região en-frentava
devido ao deslocamento do eixo
econômico para Campo Grande. O autor
cita ainda que os investimentos em infra-estrutura
para a pesca, hotéis, barcos-hotéis,
tornaram Corumbá uma das cidades
portuárias brasileiras com maior estrutura
de pesca fluvial, chegando a atrair na déca-da
de 1990, mais de 70 mil turistas por ano.
Distante 415 km de Campo Grande, Co-rumbá
chama atenção pelos aspectos cultu-rais
e naturais que o circundam. Com popu-lação
de 100.268 habitantes (estimativa
IBGE, 2005) e área de 64.961 km², a Cidade
Branca, como é conhecida, chama atenção
pelas altas temperaturas média de 32 °C no
verão. Município detentor de diversas ri-quezas
naturais e culturais tem suas ativi-dades
econômicas pautadas no comércio e
nos serviços (SEPLANCT, 2006).
A cidade conta com infra-estrutura de
apoio ao turismo. No aeroporto está insta-lado
um centro de atendimento ao turista.
A rede hoteleira dispõe de 44 empreendi-mentos
localizados na área urbana, 39 em-preendimentos
localizados na área rural e
48 barcos-hotel que somados oferecem
3.946 leitos. Corumbá ainda conta com 22
agências de viagens cadastradas no Mi-nistério
do Turismo, mais de 40 empreen-dimentos
de alimentação (contabilizando
bares e restaurantes), um pavilhão de ex-posições
e feiras, um teatro e um centro de
convenções em fase de construção (SETUR;
MTUR, 2006).
Os atrativos turísticos de maior desta-que
de Corumbá, além do Pantanal, são: o
patrimônio arquitetônico, representado pelo
Casario do Porto, o rio Paraguai, a fronteira
com a Bolívia e a Estrada Parque. Além dos
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eventos como o Festival América do Sul, o
Carnaval e a Festa de São João.
A cadeia do turismo de Corumbá
A Figura 1 retrata como está organizado
o processo de construção do produto turísti-co
em Corumbá. O município vem trabal-hando
com dois segmentos turísticos: o tu-rismo
de pesca (principal atividade) e o
turismo de eventos.
Figura 1. Cadeia do turismo de Corumbá.
No desenho observa-se que o turista tem
a opção de acionar uma agência de turismo
ou operadora para organizar sua viagem ou
contratar os indivíduos de forma indivi-dual,
no caso de Corumbá, quando se trata
do turismo de pesca, grande parte dos tu-ristas
que visitam a região com esta finali-dade,
o fazem utilizando serviços de opera-doras
e agências.
Além dos serviços turísticos primordiais
(transporte, hospedagem e alimentação) a
cadeia do turismo em Corumbá engloba
outros serviços e empresas. No turismo de
pesca, observa-se a existência dos barcos-hotel,
que desempenham simultaneamente,
serviços de hospedagem e de atrativo turís-tico,
uma vez que são elementos diferen-ciais
que podem ser encontrado em Co-rumbá
e em apenas algumas outras locali-dades
brasileiras. Juntamente, com o tu-rismo
de pesca, estão alocadas todos os
outros “Serviços Afins” necessários para
que o turismo de pesca ocorra, estão inseri-dos
nessa categoria: as lojas que vendem os
equipamentos para pesca, os catadores de
iscas, as empresas que abastecem os bar-cos-
hotel com alimentação, combustível,
toda a parte de manutenção desses equi-pamentos,
entre outros.
Já no turismo de eventos, observam-se
em destaque as empresas “Promotoras de
eventos”, as “Empresas organizadoras” e as
empresas de “Serviços de Promoção e Mar-keting”.
Na cadeia do turismo em Corumbá,
nota-se um gargalo entre as empresas de
“Serviços de Promoção e Marketing” que
poderiam ser acionadas de forma mais efe-tiva
a fim de promover uma maior divul-gação
dos eventos junto as operadoras e
agências de turismo, proporcionando assim
um maior conhecimento desses eventos por
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parte dessas empresas, que poderão moti-var
a vinda de turistas pertencentes a ou-tros
nichos de mercado, além daquele do
turismo de pesca.
Outro gargalo identificado diz respeito a
relação entre o Turismo de Eventos e as
Operadoras e Agências de turismo. Esse
gargalo é semelhante ao apresentado entre
as empresas de “Serviços de Promoção e
Marketing” e as “Operadoras e Agências de
turismo”, pois não existe ainda nenhuma
ação que venha divulgar e inserir esses
eventos nos pacotes turísticos que já estão
sendo comercializados. Essa situação pre-judica
a diversificação do fluxo turístico,
contribuindo para a manutenção da sazona-lidade,
haja vista, que o turismo de pesca
ocorre de março a outubro, devido ao perío-do
da piracema, durante o qual fica proibi-da
a pesca nos rios do Estado.
Identificou-se, ainda, a ausência de in-tegração
entre o turismo de pesca e turismo
de eventos. Existe resistência por parte de
uma parcela dos empresários em investir
no desenvolvimento do turismo de eventos.
O que prejudica a tentativa de diversificaç-ão
do fluxo turístico e diminuição da sazo-nalidade,
pois, a falta de interesse dos em-presários
retarda a criação de novos produ-tos
turísticos, bem como, a conquista de
novos mercados.
De forma geral, a cadeia do turismo em
Corumbá está desarticulada, não existindo
um elo entre os atores envolvidos na ativi-dade,
como é o caso de Bonito, que através
do voucher único faz essa amarração.
Nota-se que no destino, o turismo de
pesca continua sendo o mais significativo,
sendo que recentemente o turismo de even-tos
começa a despontar como importante
fator de movimentação econômica e social
da região.
Além da desarticulação do empresariado
outro problema enfrentado pela cadeia
turística corumbaense é a sazonalidade,
que afeta diretamente o turismo de pesca,
em razão do período da piracema. Durante
este período grande parte das embarcações
turístico-pesqueiras e das agências que
comercializam tais pacotes permanecem
ociosas, prejudicando o andamento dos
negócios.
A fim de movimentar a economia nos
períodos de baixa temporada, a gestão mu-nicipal
de Corumbá começa a investir no
turismo de eventos, como forma de atrair
turistas de outras regiões, diversificando o
fluxo turístico. Entretanto, mesmo assim
observa-se a desarticulação do trade turís-tico
no sentido de criar produtos e comer-cializá-
los junto aos turistas antes, durante
e depois desses eventos.
O turismo corumbaense enfrenta ainda
outro problema que é a prostituição infan-to-
juvenil. Estudos realizados demonstram
forte relação entre o turismo de pesca e a
problemática social. Para muitos empresá-rios
a prostituição é vista como serviço
complementar ao turismo de pesca (Lomba,
2004).
No que tange as influências externas, a
cadeia do turismo corumbaense é afetada
pelas Universidades e Curso Técnicos
(principalmente para a capacitação e quali-ficação
da mão-de-obra local), pelo Sistema
de Informações Turísticas (dificuldade de
acesso às informações sobre o destino) e
pelo Governo (que especificamente, para o
turismo de eventos, é o maior fomentador e
ordenador do processo) e pelas Questões
Ambientais (principalmente, o turismo de
pesca que é afetado diretamente pelas mo-dificações
na legislação e nos regulamentos
que ordenam a pesca). É válido relembrar
que a relação turismo de pesca e preservaç-ão
ambiental é conflitante, estudos compro-vam
a diminuição dos exemplares de peixes
nos rios do Pantanal, portanto, as medidas
de conservação adotadas são necessárias
para a manutenção da qualidade ambiental
na região.
Os pontos fortes identificados são:
o Pantanal como principal atrativo turís-tico;
o Potencial para desenvolver outros pro-dutos
turísticos, tais como cavalgadas,
mergulho contemplativo, passeio de bar-co
pelo Rio Paraguai, entre outros;
o Turismo de pesca ainda é um produto
diferenciado;
o Rede hoteleira diversificada e com oferta
considerável de leitos (3.946 leitos);
o Patrimônio arquitetônico e manifestaç-ões
culturais;
o Localização (fronteira): fluxo intenso de
pessoas e turismo de compras;
o Realização de diversos cursos de capaci-tação
profissional;
o A população é hospitaleira;
o Realização de eventos de grande porte e
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PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(3). 2008 ISSN 1695-7121
já reconhecidos estadual e regionalmen-te
(Festival América do Sul, Pantanal
das Águas, Festa de São João, Carna-val);
o Turismo é prioridade para a gestão
pública;
o Construção do Centro de Convenções;
o Implantação do Corumbá Convention &
Visitors Bureau, que auxiliará na divul-gação
do destino, contribuindo para a
diversificação da atividade e do fluxo
turístico.
Os pontos fracos identificados são:
• Desarticulação do empresariado local;
• Ausência de elo articulador entre os
agentes da cadeia;
• Sazonalidade. Em razão da piracema,
nos meses de novembro a fevereiro o tu-rismo
de pesca é inexistente;
• Localização (distante dos principais
pólos emissores);
• Acesso (pouca oferta de horários no
transporte aéreo);
• Ausência de dados econômicos da ativi-dade;
• Maioria dos atrativos de propriedade
pública (limita a inserção da população
na atividade turística);
• Problemas sociais e ambientais (prosti-tuição,
subempregos, ausência de cons-ciência
ambiental, por parte dos turistas
e da população);
• Ausência de espaços de lazer para a
população;
As situações de conflito identificadas en-globam:
1) Situações de Conflito entre a Atividade
Turística e a Comunidade Local
O turismo em Corumbá, se por um lado
proporciona inúmeros benefícios ao municí-pio,
por outro, causa conseqüências, não
somente ambiental, mas também de ordem
social. Esta questão coloca em pauta várias
situações conflitantes entre os interessados
no desenvolvimento do turismo e a socieda-de
em geral.
Dentre as causas das situações de confli-tos
pode-se citar o aumento significativo de
pessoas na cidade durante algumas épocas
do ano (alta temporada), carnaval, festivais
de música, entre outros eventos. Como con-seqüência,
nota-se o aumento da violência
local, prostituição, utilização em excesso
dos recursos naturais e geração de resíduos
acima da capacidade local de coleta. Tais
conseqüências podem resultar na posição
contrária da sociedade na realização dos
eventos. Porém, o aumento da quantidade
de turistas beneficia alguns atores do setor
turístico.
A prostituição infanto-juvenil é o princi-pal
impacto negativo gerado pelo turismo,
quando se trata de conflitos entre a ativi-dade
turística e a comunidade local. O tu-rismo
de pesca é o grande absorvedor desse
tipo de “serviço”. Conforme estudo realizado
por Lomba (2004), muitos empresários da
localidade vêem a prostituição como serviço
complementar ao turismo de pesca. A baixa
escolaridade e qualificação profissional da
população e as poucas alternativas de em-prego,
podem contribuir de forma direta
para agravar esta situação.
Deve-se mencionar, ainda, que o turismo
de pesca, absorve pouca mão-de-obra, que
geralmente possui baixa qualificação. É
válido lembrar, que a atividade turística,
também contribui para a geração de su-bempregos,
como é o caso dos catadores de
iscas, que trabalham em condições subu-manas,
para capturar as iscas que serão
revendidas aos turistas pelos hoteleiros ou
lojas especializadas.
2) Situações de Conflitos entre a Atividade
Turística e as Demais Atividades
Econômicas
Em Corumbá observa-se uma inversão
de base econômica, com a explosão do tu-rismo
de pesca na região, muito ribeirinhos
que sobreviviam da pesca profissional,
abandonaram sua antiga profissão para
prestarem serviços aos turistas. Com a
diminuição do fluxo turístico para a região
e devido a sazonalidade da atividade, oca-sionada,
sobretudo, pelas restrições legais
(piracema), gerou-se uma mão-de-obra ocio-sa,
acarretando no desemprego e na pobre-za
das populações ribeirinhas.
3) Situações de Conflitos entre os Serviços
de Transporte Local e os Turistas
A cidade de Corumbá possui como servi-ços
de transporte local, táxis e moto-táxis
disponíveis para os turistas. O oferecimento
deste serviço é feito sem uma sistemática
de cobrança de tarifas, desta forma os pre-ços
são praticados conforme a percepção do
prestador do serviço. Esta situação cria um
conflito entre os agentes envolvidos, haja
vista que, o turista muitas vezes se sente
explorado pelo o valor da tarifa cobrado.
520 A organização da atividade turística em Corumbá...
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(3). 2008 ISSN 1695-7121
4) Situações de Conflitos entre os Turistas e
a Mão-de-Obra Local
A presença de fluxo turístico estrangeiro
pressupõe a necessidade de qualificar as
pessoas que atendem diretamente os turis-tas.
Um conflito evidente entre os turistas
estrangeiros e a mão-de-obra local está na
comunicação, barreira de imposta pela
língua. O fato, da grande maioria dos pres-tadores
de serviços não serem bilíngües
compromete a qualidade do serviço ofereci-do.
5) Situações de Conflitos entre a Atividade
Turística e a Preservação do Meio Am-biente
O município de Corumbá apresenta con-flitos
entre a atividade turística e a preser-vação
ambiental. O turismo de pesca tem
sido apontado por alguns estudiosos como
um dos principais fatores responsáveis pela
diminuição da ictiofauna dos rios pantanei-ros.
Segundo o Sistema de Controle de Pes-ca
no Mato Grosso do Sul, 53% do pescado
retirado dos rios da bacia do Alto Paraguai
em 2003, foram resultantes da pesca espor-tiva
representando a retirada de 288,4 to-neladas
contra 254 toneladas retiradas pela
pesca profissional.
Além do mais, o intenso trânsito de bar-cos
a motor de popa, causa ruído e ondas
que vão de encontro às margens, causando
desbarrancamento. O despejo inapropriado
de lixo (latas, garrafas, embalagens plásti-cas,
comida) nas barrancas dos rios e co-rixos
causam dano ambiental e influenciam
negativamente a saúde do estoque pesquei-ro
(Alho; Gonçalves, 2005).
Ainda segundo Artioli (2002) falta de li-cenciamento
ambiental e fiscalização facili-tam
a instalação de empreendimentos
turísticos irregulares, geralmente em área
de mata ciliar, que além do desmatamento,
impactam o ambiente com o esgoto sanitá-rio
e resíduos sólidos domésticos (lixões a
céu aberto).
6) Situações de Conflitos entre o Meio Ur-bano
e o Desenvolvimento Econômico
Situações de conflitos de âmbito social
são comuns em diversas cidades decorren-tes
do crescimento e desenvolvimento
econômico.
No caso de Corumbá, observa-se que a
cidade caminha para promover seu orde-namento
e planejamento urbano. Prova
disso é o Plano Diretor de Corumbá, que foi
finalizado em 2006. Até então, a cidade não
seguia padrões adequados para o planeja-mento
urbano, apesar da região central ser
ordenada, nas zonas periféricas fica claro a
ausência de planejamento urbano. A cidade
cresce espalhada, muitos bairros estão sen-do
instalados próximos a encostas dos mo-rros,
gerando problemas urbano-ambientais.
Entretanto, o que mais chama a atenção
do turista, mas que causa uma impressão
ruim, são os casarões antigos. Muitos deles
encontram-se abandonados ou transforma-ram-
se em cortiços. O poder público muni-cipal
vem tomando medidas para reurbani-zar
a área portuária, dentre elas destaca-se
o Programa Monumenta/BID que, em 2004,
revitalizou regiões da cidade (Escadinha,
praça XV de Novembro, Praça Generoso
Ponce, prédios do casario do porto e o Porto
Geral).
Apesar dessas medidas, a cidade ainda
apresenta problemas com o vandalismo por
parte da população local, que vêm degra-dando
as áreas já revitalizadas. Algumas
construções do Casario do Porto ainda não
estão ocupadas, dando um ar de abandono
ao local.
7) Situações de Conflitos entre o Desenvol-vimento
Econômico e os Fatores Educacio-nais
Como já comentado, a inserção da mão-de-
obra local no mercado formal de tra-balho
esbarra na falta de qualificação. Os
fatores educacionais são essenciais para o
desenvolvimento sustentável da região,
pois assim, se torna possível a implemen-tação
de políticas de geração de emprego e
renda no município. No entanto, observa-se
a ausência de um sistema efetivo de ensino
profissionalizante. A ausência de mão-de-obra
qualificada é uma realidade vivencia-da
por todo Estado.
Esta situação de conflito gerada pelo de-senvolvimento
da economia traz como con-seqüência,
as oportunidades de emprego
que demandem um alto nível de qualificaç-ão,
ou seja, mais bem remuneradas, aca-bam
sendo ocupadas por pessoas vindas de
outros lugares, enquanto a população local
fica restrita a ocupar posições de trabalho
com remuneração mais baixa.
8) Situações de Conflitos entre Companhia
de Transporte Interestadual e Agentes
de Viagens
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A tendência que se observa dentro da
atividade turística é a integração de diver-sas
regiões para formatar produtos regio-nais.
Em Corumbá verifica-se uma pro-blemática
com relação a empresa de ônibus
interestadual que opera a linha Corumbá-
Bonito. A mesma empresa não disponibiliza
a venda de passagens para as agências de
turismo e ainda não comercializa os bil-hetes
com antecedência, podendo a compra
ser efetivada apenas alguns minutos antes
do embarque. Além disso, é disponibilizado
apenas um horário diariamente. Essa si-tuação
é prejudicial, pois afeta diretamente
a organização e planejamento das viagens,
haja vista, que o cliente não tem meios para
saber, com antecedência, se haverá assen-tos
suficientes no veículo. Prejudica
também, os agentes de viagens, que ficam
impedidos de formatar pacotes rodoviários
para esse destino e ainda, essa situação vai
de encontro com as ações de regionalização
que estão sendo realizadas, principalmente
para o roteiro que busca integrar, Foz do
Iguaçu-Bonito-Corumbá.
Conclusão
A análise do turismo sob o enfoque de
cadeia produtiva ainda é recente no Brasil,
todavia como dito por Massari (2005) é de-terminante
para garantir a efetiva organi-zação
do setor. A caracterização da cadeia
do turismo de Corumbá realizada neste
estudo, segue essa linha de pensamento,
pois buscou identificar e alocar os agentes
atuantes no setor turístico dessa localidade,
considerando as especificidades do destino.
Do conceito de cadeia produtiva do agro-negócio,
tomou-se como base a sua lógica de
produção, a interdependência entre os seg-mentos
e as externalidades, seguindo de
complementação por meio da identificação
dos principais pontos fortes e fracos e das
situações de conflito que afetam positiva-mente
e negativamente a relação desses
atores.
É importante frisar que a organização
da atividade turística em Corumbá ainda é
insipiente. Atualmente o destino passa por
um momento de transição, gradativamente
o turismo de pesca vem sendo complemen-tado
pelo turismo de eventos e problemas
relacionados a desarticulação empresarial,
alta dependência do governo municipal,
baixa capacitação e qualificação profissio-nal
da mão-de-obra local, ausência de me-canismos
de mensuração da atividade
turística, questões ambientais (piracema) e
sociais (prostituição infanto-juvenil) são os
principais gargalos da cadeia do turismo de
Corumbá, constituindo-se em entraves para
a oferta de serviços e produtos turísticos de
qualidade e competitivos, bem como, para a
consolidação do turismo na região.
Nesse contexto, deve-se pontuar que, no
estágio atual, o turismo em Corumbá ainda
não pode ser caracterizado como cadeia
produtiva completa, conforme as definições
incluídas no texto. Sendo mais adequado
definir o estágio atual como um tipo parti-cularizado
de arranjo produtivo local, com
as suas devidas especificidades. Conceitos
de arranjos produtivos locais como os des-critos
por Haddad (2004) e Mamberti e
Braga (2004), permitem diferenciar e carac-terizar
estágios, dimensões e outras variá-veis
próprias.
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Recibido: 11 de febrero de 2008
Reenviado: 13 de junio de 2008
Aceptado: 19 de julio de 2008
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