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www.pasosonline.org Vol. 9 Nº 4 págs. 573-583. 2011 Pescadores, cabaneiros e feirantes: novas percepções sobre a atividade turística na Baía de Camamu Djaneide Silva Argolo i Natanael Reis Bomfi m ii Universidade Estadual de Santa Cruz (Brasil) i Mestra em Cultura e Turismo pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Professora da Universidade Estadual de Santa Cruz – Curso de Historia. E-mail: djaneideargolo@hotmail.com ii Doutor em Educação pela Universidade do Quebec em Montreal. Professor Adjunto da Universidade Estadual de Santa Cruz, atuando no Programa de Mestrado de Cultura e Turismo na Disciplina Planejamento Susten-tável do Turismo e no Curso de Bacharelado e Licenciatura em Geografi a, na Disciplina Cartografi a. E-mail: natanaelreis@uol.com.br. Resumo: Este artigo tem como objetivo compreender o processo de ressignifi cação socioespacial da Baía de Camamu – Bahia – Brasil, através da inserção da atividade turística, a fi m de apresentar estratégias para o planejamento sustentável do turismo. Entende-se que o turismo, como atividade econômica e como fenômeno social, aporta impactos sociais, culturais e ambientais, negativos e/ ou positivos (Bomfi m,2006; Dias;2003; Yazigi, 2008). Nessa perspectiva, entender a percepção dos atores principais, sobre a produção do lugar turístico, a Baía de Camamu é buscar pistas que possam permitir ao planejamento sustentável do turismo. Para tal, utiliza-se nesse estudo uma abordagem metodológica qualitativa/interpretativa. Os resultados apontam que a ressignifi cação do espaço da Baía de Camamu, pelos pescadores, cabaneiros e feirantes, passa pela percepção afetiva dos mes-mos, na medida em que as transformações nas dimensões ambientais, sociais e culturais envolvem uma relação de alteridade entre esses sujeitos e os visitantes. Nesse sentido, um planejamento parti-cipativo pode direcionar ações para uma sustentabilidade da atividade turística. Palavras-chave: Baía de Camamu; Turismo; Sustentabilidade; Percepção. Title: Fishermen, and merchants cabaneiros: new insights into the tourist activity in the Bay of the Camamu Abstract: This article aims to understand the process of socio reinterpretation of the bay - Bahia - Brazil, through the inclusion of tourism in order to propose strategies for sustainable tourism plan-ning. It is understood that tourism, as economic activity and as a social phenomenon, brings the social, cultural and environmental consequences and / or positive (Bomfi m, 2006; Dias;2003; Yazigi, 2008). From this perspective, understanding the perception of the main actors on the production of tourist place, the bay is to seek clues that might enable the planning of sustainable tourism. It draws on this study a qualitative approach / interpretation. The results indicate that the redefi nition of the area of the bay, the fi shermen, and merchants cabaneiros, affective is the perception of them, to the extent that changes in the dimensions of environmental, social and cultural otherness involves a relationship between these subjects and visitors. Accordingly, a participatory planning can guide actions for sus-tainability of tourism. Keywords: Bay of the Camamu; Tourism; Sustainability; Perception. © PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121 574 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Pescadores, cabaneiros e feirantes: ... ISSN 1695-7121 Introdução Nas últimas décadas, paralelo ao contexto educacio-nal e ao seio das ciências humanas, Geografi a, História, Sociologia, Antropologia, Economia, entre outras, os de-bates sociais e científi cos colocam em jogo os termos re-presentações, territórialidade, lugar, etc. Estes debates portam sobre a necessidade de investigar os princípios fundadores de nossa relação com o mundo. Trata-se de interagir os fundamentos de uma inteligibilidade do espaço das sociedades com as signifi cações atribuídas ao espaço vivido pelo ator sóciogeográfi co, construídas através de sua participação na sociedade e da sua cons-trução identitária com o espaço (aquele que pensa, refl e-te e age no espaço geográfi co). Entende-se, aqui, que o turismo se afi rma como atividade econômica que interfere na organização des-igual dos territórios, absorvido pelos modos de produção econômicos, sociais e culturais, portanto, requerendo controle governamental e da própria sociedade e exigin-do a aplicação de políticas públicas e privadas, ofi ciais e alternativas. É nessa perspectiva da organização es-pacial que Havas (1981: 6) explica o turismo como uma atividade que se preocupa com a produção e distribuição espaço. Isso revela a necessidade de um disciplinamento no contexto global onde opera o turismo, visando dotá-lo de uma racionalidade econômica que permita o controle das variáveis de bens e serviços que tornam possíveis os benefícios esperados pelos turistas em viagem. Os principais objetivos econômicos gerais do turismo são: maximização da quantidade de experiência psicológi-ca para os turistas [da utilidade dos bens e serviços]; maximização dos lucros das fi rmas que produzem bens para os turistas; maximização dos impactos primário e secundário dos gastos turísticos sobre uma determinada comunidade, região ou país. Mas, antes de ser um fenômeno econômico, o turis-mo é uma experiência social que envolve pessoas que se deslocam no tempo e no espaço em busca de prazer e diversão que atendam não apenas as suas necessida-des físicas imediatas, mas também os seus imaginários. Moesch (2000) afi rma que o turismo envolve uma re-lação complexa de inter relacionamentos entre produção e serviços, cuja composição integram-se uma prática so-cial com herança histórica, a um meio ambiente diverso, à uma cartografi a natural, às relações sociais de cons-trutibilidade e às trocas de informações interculturais. Percebe-se, aqui, vários aspectos das imbricações socioculturais, uma vez que das relações desenvolvidas durante a promoção da atividade turística, decorrem (re) construções e (re) signifi cações socioespaciais. Assim, o fenômeno turístico se apresenta como um misto entre a subjetividade e objetividade que compoem os processos socioculturais, políticos, geográfi cos e econômicos (Gas-tal, 2000). Logo, a sua compreensão requer estudos in-terdisciplinares, uma vez que as ações engendradas em função da exploração da atividade turística trazem seus resultados socializados (Dencker, 2004; Bomfi m, 2000; Yázigi, 1998; Filho, 2000). Essas idéias acima são corro-boradas pelas inferências de Coriolano (2005 apud Cha-defaud, 1987) quando afi rma que o espaço turístico é considerado um produto social que envolve aspectos que alicerçam as culturas dos grupos humanos, acentuan-do por sua vez, a demanda de investigação dos variados vieses da atividade turística, uma vez que esta é hoje compreendida como alternativa de desenvolvimento. Esse debate no meio acadêmico tem produzido con-hecimento, novas proposições didáticas e estratégias de planejamento tanto para a formação de profi ssionais, nos diversos níveis de ensino, quanto para o desenvolvi-mento com base sustentável para o turismo (Beni,2006, Bomfi m, 2005, Dencker,2004, Barreto, 2003). Entretan-to, verifi ca-se que essas produções foram inefi cazes, pois não acompanharam as atividades concretas capazes de responder às necessidades dos professores, de comuni-dades locais, de empresários. Logo, por um lado, os estu-dos propõem que trabalhem os conceitos em relação às próprias realidades sociais do espaço como uma forma de representação destas realidades. Por outro lado, as práticas que se exercem no espaço apontam que para a maior parte dos sujeitos, empreendimentos envolvidos no fenômeno turístico atuam de maneira assistemática, nas diversas dimensões espaciais e esferas das políticas públicas. As perspectivas de inspiração interdisciplinar consi-deram as signifi cações e práticas que os atores sociais atribuídas ao seu espaço de vivência como uma forma de reconstrução de sua realidade socioespacial. Assim, nós acreditamos que estas signifi cações nos permitem de compreender dentro de qual mundo e como eles vivem, e de afi rmar que as representações sociais são pertinen-tes para melhor se compreender o fenômeno turístico e apresentar estratégias que permitam a sua sustentabi-lidade em diversas dimensões. Por um lado, o tratamento econômico do turismo requer, no entanto, uma abordagem que contemple ao lado da análise científi ca, a consideração do elemento humano que é fundamental em sua manifestação. Por outro lado, compreender o objeto de estudo ou fenômeno, o turismo, exige antes de tudo de entender que o conhe-cimento científi co se processa a partir da relação entre os sujeitos e o objeto, a partir dos níveis de experiencias que esses travam com o mesmo. Isso signifi ca dizer que o conhecimento empírico desenvolvido, a partir de suas PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Djaneide Silva Argolo y Natanael Reis Bomfi m ISSN 1695-7121 575 experiências com o fenômeno no espaço vivido, tem uma importância fundamental para a construção da ciência. Essa, por sua vez apresenta um arcabouço teórico e me-todológico que permitem a sua evolução epistemológica, contribuindo não só com o seu avanço mas também na sua intervenção social. Nessa perspetiva, esse estudo busca esudar o tusimo como um fenômeno social e como uma atividade econô-mica. Como fenomeno social é importante salientar que o mesmo envolve deslocamento e relações de pessoas num determinado espaço gegráfi co. Esse, numa visão kantiana, é dinâmcio na medida em que sua objetivida-de permite que as coisas existam. Por outro lado, numa visão aristotélica, ele é subjetivo, ou seja percebido, vi-vido e concebido de diversas formas, logo transformado e resissginifcado com espaço tursitico, lugar turistico, lugar de memória de identidade (Bomfi m, 2000) Como atividade turística ele se apresenta, em sua forma mais simples, como uma corrente massiva que se desloca desde um mercado de origem até um núcleo receptor, apresentando dois problemas básicos: sua má distribuição no tempo e sua polarização no envolvidas, possibilitando a obtenção do pleno desenvolvimento das suas potencialidades, tanto nos lugares de emissão como nos de recepção dos fl uxos físicos e monetários da atividade turística. Com base nesses aportes teóricos e empíricos, inseri-mos a contextualização da produção do lugar turístico: a Baía de Camamu, como uma problemática que exige uma investigação científi ca. de cacau; dessa forma, outras atividades econômicas ti-veram que ser inseridas para a saída da pior crise da história local (LEAL, 2005). Considerando essas atividades econômicas, vale sa-lientar as categorias ocupacionais que se inserem nesse lugar, ao longo do processo produtivo. Brandão (1998), quando trata das categorias ocupacionais no Recôncavo, afi rma que a atividade ocupacional remonta ao inicio da colonização deste espaço, uma vez que o pescador se confi gura como elemento que tem para o exercício do seu trabalho a estrutura organizada que é o mar, como também o feirante (muitos deles são pequenos agricul-tores) que tem oriundo da terra o produto para trabal-har. Por sua vez, destaca-se o cabaneiro que se utiliza tanto do fruto do trabalho do pescador quanto do feiran-te no exercício de sua ocupação profi ssional. Com relação à atividade pesqueira por ser a forma de ocupação mais antiga, se encontra mais revestida de legenda, embora não seja a forma predominante de ocu-pação das populações da Baía de Camamu, o pescador se confi gura como produtor autônomo e é inadaptável à disciplina passando a impressão de que opera sem che-fes nem patrões e produz por conta própria Mas, tanto este quanto o feirante integram categorias socioeconô-micas cuja posição se caracteriza por grande despropor-ção entre o quanto depende do seu trabalho e o quanto lhe resulta como benefi cio. Para o pescador são ressaltadas três categorias de tipos sociais. A primeira refere-se aos sujeitos que têm a pesca como única atividade profi ssional. A segunda defi - Tabela 1- População residente total e taxa média geométrica de crescimen-to anual - Baixo Sul - 2000. Fonte: Superintendência de Estudos Econômi-cos e Sociais da Bahia (SEI) A Baía de Camamu e o Turismo A Baía de Camamu formada por onze mu-nicípios Cairu, Camamu, Ibirapitanga, Igra-piúna, Ituberá, Maraú, Nilo Peçanha, Pirai do Norte, Presidente Tancredo Neves, Taperoá e Valença, que ocupa 6.138 km2, o que signifi ca 1.1% do território da Bahia (Olalde, Matos E Conceição, 2010). Como forma de entendimen-to da sua organização espacial para a ativida-de turística, objeto do nosso trabalho, apresen-taremos um breve comentário sobre o aspecto demográfi co estrutura fundiária do Baixo Sul (Tabela 01). O município de Camamu fi cou conhecido pela sua produção de cacau, mas que antes do seu apogeu, produziu também farinha e man-dioca. Após necessidades do mercado externo. Contudo, principalmente pelo surgimento da praga, popularmente conhecida como “vassou-ra de bruxa”, devastou-se parte da produção 576 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Pescadores, cabaneiros e feirantes: ... ISSN 1695-7121 ne aquele que tem a pesca como atividade suplementar, trabalhando na condição de assalariado. Finalmente, a terceira categoria, refere-se aquele que exerce sua ativi-dade na condição de trabalhador autônomo. Com relação ao feirante observa-se também, a exis-tência de três categorias: 1) aquele que é ao mesmo tem-po produtor e comerciante de seus produtos, geralmente em pequena escala; 2) aquele que compra os produtos para o exercício de sua atividade profi ssional; 3) aqueles que são pagos por quem produz para comercializarem os produtos. Com relação aos cabaneiros estes são os próprios donos dos seus negócios, por herança ou por opção de trabalho de acordo com as variações de economias pre-dominantes. Ressaltando que para esta categoria o ele-mento ou fator que direciona o sucesso do seu empreen-dimento é o número de pessoas que afl uem a sua região, independendo que este fato seja originado de extração de minérios ou atividades agrícolas ou outra atividade qualquer. Na busca de outros caminhos para o seu desenvol-vimento, nos meados da década de 80, do século XX, as Vilas de Baixo, no entorno da Baía de Camamu, mantiveram as atividades agrícolas, inclusive o cacau, que coexistiam com a extração de minérios, como bau-xita, baritina, gás natural e petróleo. Entretanto, com a decência da lavoura cacaueira, na década de 90, des-te mesmo século, a região se respalda na diversidade econômica. Dentre vários setores, uma possibilidade é o turismo, pois diante das riquezas naturais e patrimô-nio histórico-cultural preservados, a cidade se consagra pela rica memória historiográfi ca e, principalmente, pela paradisíaca. Esta inserção deve ter gerado novas relações que infl uenciam diretamente no processo de ressignifi cação desse espaço e, pelo seu envolvimento direta ou indiretamente, é possível que os cabaneiros, pescadores e feirantes tenham uma percepção sobre a Baía de Camamu e sua comunidade, antes e após da implantação dessa atividade e, que o conteúdo dela seja um fermento importante para alavancar o planejamen-to do turismo na região. A Baía de Camamu está localizada na Zona Turís-tica (ZT) da Costa do Dendê, localizado na Região Sul da Bahia (Figura 01). Os critérios de potencialidade e atrativos foram identifi cados pelo Programa de Regio-nalização do Turismo (PRT) do Ministério do Turismo Mapa 1 – Costa do Dendê. Fonte: Ministério do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas de Tu-rismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação Geral de Regionalização (2009). PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Djaneide Silva Argolo y Natanael Reis Bomfi m ISSN 1695-7121 577 um campo rico para as pesquisas em ciencias sociais, tendo as Representações sociais com base teórico e me-todológica. A Representação Social, que na concepção de Mos-covici (1976), se confi gura como um conjunto de idéias, opiniões, valores, preconceitos e estereótipos que os in-divíduos têm sobre um objeto social. Moscovici (1976) introduz em sua teoria, uma noção de sujeito ativo e construtor, assim, é importante destacar que o conceito de representação social parte da proposição de consciên-cia coletiva, porém não relaciona indivíduo e sociedade de forma dicotômica. Desse modo, o homem não absorve os conteúdos que a sociedade o impõe, ele os reformula, na medida em que é um ser ativo e não passivo diante do mundo. As representações sociais exercem um papel de in-termediário entre o individual e o coletivo, tornando-os intercambiáveis. Logo, a singularidade dessa teoria reside em abordar os pontos de interseção entre as re-ferências de grupos sociais e suas apreensões indivi-duais como sujeitos ativos. Por outro lado, as representações sociais podem ser produto (conteúdo) e em processo, ao mesmo tempo orientando as práticas sociais e sendo orientadas pe-las mesmas. Para tanto, se considera que as represen-tações sociais se estruturam em duas instâncias princi-pais, um núcleo central, mais resistentes a mudanças, sendo a base comum propriamente social e coletiva, e uma periferia, mais maleável e disposta a modifi car-se no intuito de englobar eventos, idéias, objetos, que se-jam contraditórios a priori, para, ao interagir com esta novidade, integrá-la na representação pré-existente ou criar uma nova representação a partir desta novidade, sendo mais associada às características individuais e ao contexto imediato e contingente nos quais os indivíduos estão inseridos (Abric, 2000; Olschowsky, 2007). O sucesso desta teoria é testemunho da renovação dos interesses pelos fenômenos coletivos, especifi camen-te, pelas regras que regem o pensamento social. Com isso, o “senso comum” aparece como essencial, a identi-fi cação da “visão de mundo” que os indivíduos ou os gru-pos têm e utilizam para tomar posição é indispensável para compreender a dinâmica das interações e práticas sociais (Abric, 2000). As Práticas Sociais e Ecnômicas no Processo de Ressignifi cação Espacial Considerando que o espaço turístico é consumido pe-los atores sociais que aí exercem suas práticas, resgata-se aqui, o conceito de (Santos, 1986:119) onde “o espaço é a natureza modifi cada pelo homem através do seu trabalho”. Essa concepção do autor nos leva a perceber que o espaço geográfi co que inclui aquele da atividade do Brasil. Essa região de importância econômica, não somente pela produção de dendê, mas também pelo des-envolvimento da atividade turística, se confi gura como uma área com notáveis recursos e atrativos turísticos naturais e culturais, traduzidos pela exuberante vege-tação de mata atlântica, mangues, lagoas, cachoeiras e representação histórica. Aliado a esta problemática histórico-geográfi co que envolve a produção e transformação desse lugar turís-tico, verifi ca-se, ainda, que após uma exausta revisão de literatura, existem poucos estudos abordando a Baía de Camamu. Destes, alguns se inserem nos campos da Biologia, da Economia e da História e trazem poucos elementos teóricos e metodológicos que expliquem a re-lação entre a prática da atividade turística e a plura-lidade cultural no processo de organização do espaço. Também,na maioria desses trabalho, negligencia-se a valorização dos atores sociais locais, fato este que legi-tima a presente iniciativa, uma vez que pelo caráter da atividade turística e pelo histórico da região, esta ativi-dade deverá alcançar um lugar de destaque na estrutu-ra econômica regional. Diante do exposto, busca-se questionar qual a per-cepção dos pescadores, cabaneiros e feirantes sobre a Baía de Camamu, antes e depois da inserção da ativida-de turística? Para atender a essa questão, elaborou-se os seguintes objetivos: identifi car analisar a percepção desses atores sociais sobe a baía e o modo de vida da sua comunidade, antes e depois da inserção da atividade tu-rística, a fi m de apresentar estratégias para o planeja-mento sustentável do turismo. A Teoria e Método das Repreentçãoes Sociais e suas Contribuições para o Planejamento e Com-preensão do Turismo Característico de uma sociedade de consumo, o tu-rismo como um todo estruturado é um produto compos-to por bens e serviços, tangíveis e intangíveis. Assim, o produto turístico inclui recursos e atrativos naturais e artifi ciais, equipamentos e infra-estruturas, serviços, atitudes recreativas, imagens e valores simbólicos, constituindo-se num conjunto de determinados benefí-cios capazes de atrair certos grupos de consumidores em busca de uma satisfação das suas motivações e expecta-tivas (Droulers e Milani,2002). Nessa perspectiva, a atividade turistica como feno-meno social e econômico apresenta objetivos que visam a maximização do lucro, de experiencias psicológicas, dos impactos sobre o social, ambiental e econômico, principalmente para a comunidade local, de uma logis-tica temporal e espacial. Isso coloca estranhos frente a frente, agregando mão de obra de feminina e de mino-rias etnicas excluidas. Nesse sentido, ese fenomeno é 578 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Pescadores, cabaneiros e feirantes: ... ISSN 1695-7121 turística, não é apenas um refl exo, mas um produto da materialização das coisas produzidas pelos homens no seu lugar de vida e de trabalho. Entendendo aqui que o “espaço não pode ser um refl exo do modo de produção atual, mas um refl exo dos modos de produção passados” (Santos, 1986:145). Essas idéias, associadas às nossas, com relação à Baía de Camamu, implica em inferência de algo percebido e sentido pelos homens em função tanto de seus sistemas de pensamento quanto de suas necessidades. Nesse contexto, esse espaço turístico da Baía de Ca-mamu é analisado segundo múltiplos fatores que envol-vem tanto o meio natural, quanto as necessidades e as-pirações dos atores sociais que aí vivem, observando-se que esse espaço é o resultado de um produto histórico, destacando-se o fl uxo dinâmico e contraditório das re-lações sociais e comportamentais. Busca-se essa compreensão através da percepção socioespacial dos sujeitos envolvidos na pesquisa reme-tendo ao signifi cado do espaço turístico da comunidade local, que corresponde ao espaço percebido através do sentido que (Husserl, 1986:47) emprega para o termo percepção quando diz que “perceber é fenômeno que de-pende da capacidade do sujeito para decompor um objeto em sua qualidade simples - a sensação - e de recompor o objeto como um todo, organizando-o e interpretando - a percepção. A percepção, como elemento da representação social, é entendida como a relação entre sujeito e objeto, atra-vés da sua experiência ou visão de mundo. Esta com-preensão envolve categorias das diferentes formas de apreensão dos valores e atitudes dos sujeitos atribuídos e vividos no seu espaço, uma vez que o lugar só tem sen-tido quando este possui um espírito, uma personalidade e o refl exo de toda esta personalidade. Logo, este trabalho se organizou com base na perce-pção dos valores e atitudes sobre o seu espaço vivido e sua comunidade, pois, segundo (Bomfi m ,2009: 40-41), “o espaço vivido exprime a relação existencial (subje-tiva) do individuo, de suas práticas de suas represen-tações e de seus imaginários ambientais, onde os laços afetivos são tecidos progressivamente entre os homens e os lugares”. Métodos e Técnicas de Investigação Amostragem e Instrumentos de Coleta de Dados Este estudo insere-se numa linha de pesquisa centra-da no conteúdo com uma metodologia de tradição her-menêutico/ interpretativa (Karsent - Savoie-Zajc, 2000; Alves-Mazotti, 2001; Demo, 1995). Para o entendimento de como os pescadores, cabaneiros e feirantes percebem a Baía de Camamu e sua Comunidade, antes e depois da inserção da Atividade Turística, coletam-se os dados primários através de entrevistas semi-estruturadas não dirigidas (Marconi; Lakatos, 2004). Como critérios bási-cos para seleção dos participantes adotaram-se, aqueles sujeitos que lidavam diretamente com atividade turís-ticas nas suas atividades laborais, durante os últimos 30 anos. Esse período eu engloba a crise do cacau e a inserção da atividade turística. Esses atores sociais são considerados como informantes em potencial, uma vez que este procedimento permite ao pesquisador selecio-nar pessoas da comunidade a ser investigada que sejam fontes de informações que concernem às questões e aos objetivos de pesquisa. Para complementação dos dados, recorre-se aos dados secundários advindo da pesquisa documental e bibliográfi ca. Análise e Interpretação dos Dados Os dados foram tabulados e analisados pela técnica da análise do conteúdo do discurso (Bardin (2002). As-sim, o pesquisador reconstrói a realidade de acordo com o que lhe é passado e conhecido, permitindo-o assim dis-cernir os signifi cados dos depoimentos (Bleicher, 1992) e (Ricoeur, 1990). Os resultados da pesquisa foram comparados com as proposições teórico-conceituais, cuja discussão permitiu traças as estratégias que possam contribuir para um melhor desenvolvimento da atividade turística na Baía de Camamu. Resultados e Discussão No decorrer das pesquisas para este artigo, obser-vou- se que os resultados apontaram para duas imagens bastante signifi cativas. A primeira, que antecede a ati-vidade turística e, a segunda após a mesma. Essas ima-gens serviram para criação de um modelo estratégico eu pudessem alavancar o turismo para u desenvolvimento regional local, baseado no planejamento participativo. Segundo, maioria dos pescadores, cabaneiros e fei-rantes, até os últimos vintes anos do século passado, o espaço da Baía de Camamu era caracterizado pela ati-vidade econômica ligada a exploração do cacau, seguido da produção do pescado que era comercializado no mer-cado interno. Além dessa caracterização, eles a relem-bram como um espaço paço de lazer exclusivamente dos moradores locais. Por essas razões, infere-se que essa comunidade se defi nia pelo aporte econômico advindo do cacau, incidindo diretamente no fortalecimento do comércio local, refl etindo, por sua vez, na sua prosperi-dade. Resumindo, depreende-se um grupo social amal-gamado pelo aspecto da solidariedade, sem grandes con-fl itos econômicos, sociais e existenciais. PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Djaneide Silva Argolo y Natanael Reis Bomfi m ISSN 1695-7121 579 Nós vivíamos antes da atividade turística, eu consi-dero de modo melhor, como meus pais falavam, por-que em 1980 eu era adolescente devia ter mais de 10 anos, mas, verifi cava que tínhamos mais fartura na mesa, e na roça do meu pai, até os trabalhadores vi-viam melhor (Feirante 1). Nós vivíamos, em termos gerais dos recursos do ca-cau, pois quando o cacau se encontrava na safra e com preços bons o comércio sempre estava bem, embo-ra a gente não trabalhasse diretamente com o cacau, mas todos ganhavam algum dinheiro em suas ativi-dades quando a cacau tinha preço (Cabaneiro 3). Eu nasci aqui e sempre vivi da atividade cacaueira, desde a época do meu avô. Eram tempos bons na con-dição econômica, antes de 1980, pois quem trabalha-va no cacau tinha uma boa condição de vida. [...] Os colegas viviam do mesmo jeito que eu, alguns, mas os outros que não tinham cacau trabalhava no comércio que era melhor que hoje, pescava ou era trabalhador do serviço público. A vantagem era que sempre rola-va dinheiro e a gente não passava necessidade com a família (Pescador 1). Com relação à caracterização da Baía de Camamu, após a inserção da atividade do turismo, esses atores sociais afi rmam que, atualmente, a região se apresen-ta bem mais populosa que antes, e eles admitem que a atividade turística foi responsável, uma vez que novos empreendimentos imobiliários foram implantados, au-mentando assim a oferta de empregos, tanto fi xos quan-to temporários. Por outro lado, eles defi nem esse espaço como aquele da produção turística, pela presença da po-pulação residente como da visitante. [...] depois da queda do cacau, no início dos anos 90, começou a chegar muito estrangeiro aqui na Baía, e aí começou a diminuir as coisas, coisas do mar e tam-bém coisas da terra, tem havido nos fi ns de semana, dia de feira mais lixo na cidade e na orla (Cabaneiro 2). [...] tem vindo muita gente no meu restaurante e mui-ta gente na cidade, tenho notado um crescimento no vai e vem do povo, uma massa muito grande de gente, aqui em Camamu, como também em Igrapiuna e em Ituberá não tem muita acomodação, apesar das cons-truções nas ilhas, tem escassez de comida do mar e a cidade tem fi cado mais suja, eu acho que tem épocas que dobra a quantidade de pessoas (Cabaneiro 3). [...] o turismo melhorou a Baía de Camamu em al-guns aspectos, trouxe oferta de empregos, o gás natu-ral que tem em grande quantidade na Baía e é divi-dido em maior parte para Camamu e Maraú, fi cando um pouco do lucro para Igrapiúna e Ituberá e temos a Michelin da Bahia que traz emprego para o povo (Feirante 2). Eles são mister em apontar alguns impactos na di-mensão ambiental, mas que não estão associados dire-tamente à atividade turística, na medida em que todos afi rmam que houve depreciação dos manguezais e das matas, bem como escassez do pescado a exemplo dos peixes, mariscos e crustáceos. O meu lugar foi tomado por estrangeiros, uma boa parte de antigos colegas foram morar em outros lu-gares e venderam as casas para pessoas de fora, até nas festas só tem gente de fora, não tem muito espaço para o nativo, nossos barcos no fi m do ano, na festa da virada são alugados quase todos por gente de fora. (Pescador 2). Essa análise permite inferir que um conjunto de fa-tores contribuiu para a depreciação ambiental: a pesca com rede de malhas pequenas, a utilização de bombas para a pesca de peixes, confi gurando a ocorrência co-mum da pesca predatória e a exploração dos minérios existentes na Baía. Vale ressaltar que as empresas que exploram minerais na Baía, já atuam há muito tempo e propiciam, em contrapartida para a comunidade, al-gumas ações como: promoção de cursos (carcinocultura, artesanato, etc.), manutenção de escolas e preservação de áreas verdes. Por outro lado, verifi ca-se que todos os participantes do estudo abordaram a questão da escassez dos frutos do mar, em função da depreciação ambiental e citam que os locais mais degredados são aqueles que recebem maior número de visitantes na alta estação, tornando-se por esta razão foco de desgaste natural originado pela oco-rrência de edifi cações urbanas, uma vez que para este locais afl uem em grande número, tanto turistas quanto pessoas de outras localidades que passam a fi xar resi-dência para explorar a atividade turística ou para ser apenas residente. Quem vem de fora não tem amor pela nossa natureza, veja Barra Grande, só tem construção, o manguezal tem bem pouco, as madeiras de lei que era muita far-tura, os estaleiros de Cajaíba comeram, hoje buscam madeira até do Pará, por que as madeiras daqui, já era. (Cabaneiro 2). 580 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Pescadores, cabaneiros e feirantes: ... ISSN 1695-7121 visibilidade comercial do pacote, dos roteiros, das passa-gens, bilhetes e roteiros”. Para os atores sociais integrantes desta pesquisa, a Baía de Camamu, é apresentada como seu lugar, cujo conceito prevê experiência, sentimentos, valores e sig-nifi cações que no entender de (Merleau-Ponty,1999), a ação de escutar e promover a valorização desta perce-pção dota de compreensão os gestos, as preferências, as singularidades e as relações que aí são travadas. E com relação às atividades desenvolvidas pelos habitan-tes locais no entorno da Baía, com relação à utilização dos seus recursos, tem o seu entendimento se encontra atrelado à constatação de que estas atividades são deco-rrentes de suas necessidades básicas, como pescar pei-xes e mariscos, coletar cocos e mangas, explorar piaça-va, dendê, que, no entanto, não incidem na depreciação ambiental. Assim, nesse contexto evidencia-se a relação dos impactos socioculturais com a questão da identidade cultural local, percebendo-se como as transformações na localidade vêm deslocando as referencias identitá-rias, acentuando que estas têm passado por transfor-mações que vêm esvaziando os aspectos tradicionais e incorporando elementos contemporâneos (Hall, 2001). Argumentando sobre deslocamentos nas identidades culturais, esse autor aborda a questão na medida em que as culturas tornam-se mais expostas a infl uências externas através de infi ltração cultural que ocorre nas diversas comunidades, afi rmando ser difícil conservar a identidade cultural intacta, exemplifi cando. Neste caso, buscamos a idéia de (Canclini, 2006), so-bre o processo de hibridação cultural, quando ocorre a perda de elementos característicos de uma identidade, ao tempo em que outros elementos são absorvidos nas relações sociais desenvolvidas entre integrantes de co-munidade emissoras e receptoras. Observando-se que a função da cultura seria de controlar e ordenar com-portamentos, (Geertz, 1989) explica que a cultura não podendo ser interpretada como complexo de padrões concretos de comportamentos, há que se pensar em re-lações sociais que se organizam com imbricamento de usos, costumes, regras, planos e instruções que são vivi-dos e absorvidos no cotidiano das sociedades. Esta relação tem provocado, também, uma acentua-da exclusão social da população, bem como afl uência de outros modos de vida, reforçada por outras atividades ocupacionais, como também desemprego, uma vez que existem serviços que demandam uma mão de obra qua-lifi cada. Logo, segundo os estudos de (Becker 1998) e (Coriolano,2006) quando tratam do turismo nas áreas costeiras, afi rmam que essas agrupam atrativos típicos de lugares turísticos litorâneos em função das potencia- Não temos mais mariscos, até o camarão defumado que já não é tão bom, tem vindo de Ilhéus, peixes bo-nitos e grandes, não têm mais, não se encontra mais um mero de 200 quilos há muito tempo, ou seja, as coisas pioraram neste aspecto para nós, mas também para o turista que não encontra comida farta. (Fei-rante 2). Neste sentido inferiu-se que ocorre um desconforto para o habitante local que vê seu espaço tomado, seus hábitos modifi cados, porque passa a disputar serviços que contemplavam um determinado número de pessoas, e que na maioria das vezes não são otimizados em função das necessidades criadas pela exploração do turismo. Outra situação recorrente refere-se ao deslocamento da população residente, que opta por se desfazer de pro-priedades costeiras, em função dos preços alterados pela exploração da atividade turística, passando a morar em áreas cada vez mais distantes. Ou mesmo, até saindo do lugar e se estabelecendo em outras regiões, por sentir que o seu lugar não é mais o mesmo. Os resultados apontam que o lugar turístico é tam-bém um lugar de vivencia, onde os laços topofílicos são reforçados a partir da experiência dos sujeitos com o seu espaço de vida. Isto signifi ca, segundo Tuan, (1998) que essas afi rmações são derivadas da realidade que circun-da os pescadores, cabaneiros e feirantes, onde sua per-cepção é um produto das alterações no ambiente. Essas alterações lhes inspiram respeito ou prometem sustento e satisfação dos seus objetivos, lembrando que a afeti-vidade com o espaço vivido é u resultado das relações e das experiências que afetam não só o espaço geográfi co, mas também a vida dos sujeitos. Logo, fazendo uma relação entre espaço natural e es-paço vivido e apropriado pela atividade turística, acredi-tamos que a depreciação ambiental falada por eles, tem sua raiz na intensa movimentação de pessoas, princi-palmente na alta estação, devido aos diversos atrativos naturais e culturais, contribuindo assim em vários im-pactos econômicos, ambientais, sociais e culturais (Cas-tro, 2002). Assim, muitas vezes a comunidade residente é excluída e assiste a transformação do seu espaço de vida, com uma participação ativa de outros eu ali não construíram uma relação de afetividade, constituindo-se numa territorialização. Com relação à apropriação do território [Baía de Ca-mamu] em espaço turístico, Certeau (1994) afi rma que o espaço controlado perde seu conteúdo, na medida em que cria um voyeur, ou seja, o turista como um mero espectador. Em resumo, o turismo na visão de (Ferrara, 2002: 21) “faz do espaço um objeto quando o enfrenta na PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Djaneide Silva Argolo y Natanael Reis Bomfi m ISSN 1695-7121 581 Portanto, entendendo que os lugares turísticos são apropriados de forma estratégica a partir da lógica do capital, com uma função mercadológica, passam a ser um lugar do espetáculo para os visitantes e o lugar das resistências para os integrantes da comunidade, pois a seleção dos lugares e pessoas desencadeia uma série de tensões, cuja teia está imbricada nas dimensões am-bientais, econômicas, sociais e culturais. Considerações fi nais Entende-se que as ciências sociais auxiliam no des-velamento do caminho epistemológico do turismo seja como fenomeno social, seja como atividade turistica. Vários autores tem contribuido de forma tangencial ou direta, na compreensão da complexidade do turismo: um fenômeno marcadamente multissetorial em sua pro-dução e interdisciplinar. No campo da Psicologia Social, utilizando-se das Representações sociais, elas como um produto social são orientadoras de condutas que vão de um “continuum” que se estende do vivido cognitivo in-dividual até os sistemas sociais, culturais e ideológicos. Baseando-se nas questões de alteridade, de relações de genero, de minorias étnicas excluidas, dos impactos sociocultrais, entendemos a necessidade de um plane-jamento do turismo como forma de tomada de decisão. Aqui, ele deve signifi car idéias racionais e organizadas, tendo como substrato o conhecimento produzido a partir da visão de mundo dos sujeitos envolvidos na atividade turística exercida nos lugares de memória e consumo. Entretanto, planejar nos remete a idéia de (re) orga-nização de um sistema que implica numa certa sus-tentabilidade que envolva a integração das atividades humanas, das práticas e relações sociais no ambiente, respeitando suas potencialidades e limites. Considerando a Baía de Camamu, no que se refere a essa integração, verifi ca-se que a percepção dos sujeitos envolvidos evidencia suas atividades econômicas, suas práticas, suas relações sociais, apontando as potenciali-dades naturais e culturais e seus limites. Essas dimen-sões da produção do lugar turístico são traduzidas par-ticularmente pelos recursos, empregos, meio ambiente, enfi m sua vivencia. Após avaliação dos resultados da pesquisa realizada, considera-se adequado informar aos representantes do poder público da Zona Turística da Costa do Dendê so-bre as sugestões e recomendações decorrentes da perce-pção dos atores sociais desta pesquisa. Assim, é possível que seus gestores verifi quem a necessidade de adoção de critérios de um planejamento participativo capaz de direcionar ações para certa sustentabilidade da ativi-dade turística, prevendo mecanismos que resultem em lidades naturais. Nessa afi rmação insere-se a Baía de Camamu, que teve o turismo como atividade econômi-ca que veio depois da cacauicultura, trazendo impactos mais negativos que positivos, como: aumento do con-tingente populacional na Baía e nos municípios do seu entorno, grande número de construções de pousadas, hotéis e casas de habitação no veraneio, desmatamento, encarecimento dos preços tanto de alimentos quanto de terras e casas, que levam a uma refl exão sobre o plane-jamento sustentável no turismo. Na avaliação deste quadro de carências e alterações, percebe-se que se projeta um processo de ressignifi cação nos vários aspectos da vida da comunidade da Baía de Camamu, levantando-se, para o seu entendimento, vá-rias questões que devem ser trabalhadas na interface do turismo, uma vez que para (Yázigi,1998) a falta de planejamento na exploração da atividade turística am-plia a ocorrências de impactos negativos que poderiam ser minimizados com a adoção de políticas adequadas pelas entidades ofi ciais e privadas, ajustando , portanto questões socioculturais e ambientais. Considerando que no âmbito do turismo a nature-za tem o signifi cado de capital, cuja reserva de valores (água, metais, biodiversidade) é utilizada tanto através de tecnologias avançadas, tanto pela venda da própria natureza como mercadoria da atividade turística, prin-cipalmente nas zonas costeiras, o valor destas áreas é visto através da articulação terra-mar, pelos recursos bióticos e pela rica biodiversidade. Verifi cando-se a ne-cessidade de se pensar em políticas de planejamento para evitar que a atividade do turismo continue se des-envolvendo de forma desordenada. Atentando-se para o fato de que é de fundamental importância que a política governamental esteja vincu-lada à gestão da atividade do turismo, contando com a participação de representações locais e regionais, como de iniciativa privada e da sociedade civil acentua-se a necessidade da utilização do planejamento estratégico que, apoiando-se na participação social, venha elaborar políticas que contemplem equidade e sustentabilidade, modelo este que possibilita superar ao longo do tempo problemas como a exclusão social e a pobreza nas áreas periféricas. Para (Dias, 2003), a elaboração de políticas de pla-nejamento deve levar em consideração que as necessi-dades dos segmentos atrelados à atividade do turismo devem ser priorizadas, uma vez que todos eles devem se encontrar integrados para a socialização dos resultados cujos efeitos implicam em consequências tanto para o meio ambiente quanto para as comunidades diretamen-te envolvidas no processo de articulação da atividade do turismo. 582 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Pescadores, cabaneiros e feirantes: ... ISSN 1695-7121 impactos positivos para a comunidade local. Partindo-se do princípio de que a possibilidade de inexistirem impactos no modelo relacional turista e ambiente é nula, há que se construírem formas de mi-nimizar os impactos negativos, através de projetos que contemplem sustentabilidade dos recursos naturais. A adoção de planejamento para a atividade turística deve ter aplicabilidade como processo racional e participati-vo, no sentido de se evitar medidas que não correspon-dam às exigências das realidades locais, objetivando a integração dos vários interesses que permeiam a ativi-dade do turismo, uma vez que existem novas formas de organização do turismo que são adaptadas aos interes-ses dessas comunidades, com negócios turísticos volta-dos à geração de trabalho com melhor distribuição dos resultados do trabalho social, fazendo valer os valores comunitários. Frente à disputa do residente com o turista, espe-cialmente, na alta estação, se faz necessária ampliação de atendimentos na área da saúde, saneamento básico, existência de salva vidas, sinalização na área costeira e nos acessos a vários espaços, regularização do abas-tecimento de água, organização do sistema de energia elétrica e segurança. Logo, que sejam fi rmadas parcerias com empresas públicas e privadas para a exploração da atividade tu-rística, desde quando sejam apresentados de projetos e programas que prevejam ações para a preservação dos recursos naturais e das tradições culturais. Nessa perspectiva as parcerias podem alavancar um turismo que atenda de maneira mais signifi cativa a re-lação entre turista e comunidade local. Para tal, após a análise dos resultados desta pesquisa, indica-se particu-larmente para Baía de Camamu, algumas estratégias: 1) criação de cooperativas a fi m de ampliar atividades artesanais, visto que a fl ora oferece espécimes de pal-meiras nativas e em abundância, que poderão ofere-cer matéria prima, como também o aproveitamento dos frutos produzidos na região para transformação em polpa, geléias e doces. 2) capacitação de mão de obra local, através de parceria público/privado, via convênios que possam ser des-envolvidos entre as prefeituras e BAHIATURSA, Se-cretaria de Turismo do Estado da Bahia, Ministério do Turismo do Brasil, SENAC, SEBRAE e a UESC; 3) Uso da legislação municipal para proteger o patrimô-nio cultural (histórico e natural); 4) Criação de um Conselho Municipal de Turismo e Meio Ambiente; 5) Manutenção da cultura local, através de programas de educação patrimonial, que permita o resgate das tradições e valores culturais; 6) Elaboração de calendário cultural ofi cial dos muni-cípios. Sob este ângulo o planejamento participativo para buscar um turismo de base local, pode recuperar o poder da sociedade, levando o cidadão a participar dessas es-tratégias de ação para a organização sustentável da ati-vidade turística, preservando a identidade ambiental e sociocultural da comunidade local, posto que, o turismo sustentável envolve compreensão dos impactos, geração de empregos locais, melhoria da vida das comunidades envolvidas, desde que os métodos da gestão estratégica se aproximem de processos de sustentabilidade social, econômico, ambiental e cultural. Bibliografi a Alves-Mazzotti, A. J.; Gewandszjder, F. 2001 O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira. Barreto, M. 2003. O imprescindivel aporte das Ciências Sociais para o planejamento e Compreensão do Turismo. Horizon-tes Antropológicos. Porto Alegre, ano 9, n. 20, p.15- 29, Outubro. Becker, K. B. 1998 Políticas e planejamento do turismo no Brasil. In: YÁZIGI, E. (Org.).Turismo, espaço, paisagem e cul-tura 3 ed. São Paulo: Hucitec. Bleicher, J. 1992. Hermenêutica contemporânea. Lisboa: Edições 70, Publicado originalmente como: Contemporary hermeneutics as methods philosophy and critiques. Routege e Kegan Paul. London. Bomfi m, N. R. 2000 Noção social do território: Em busca de um concei-to didático em Geografi a..A territorialidade. Ilhéus: Editus. Bomfi m, N. R. 2006, Uma perspectiva educacional da relação entre cultura e ambiente. In: 2006 Encontro de geografi a da unicsul, PP.18-26 2ed. São Paulo. Anais... São Paulo: UNICSUL. BRANDÃO, M. A. 1998 Recôncavo da Bahia – Sociedade e economia em transição. Salvador: Fundação Casa de Jorge Ama-do. Canclini, G. N. 2006.Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. Tradução Ana R. Lessa & Heloísa P. Cintrão. 3 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Djaneide Silva Argolo y Natanael Reis Bomfi m ISSN 1695-7121 583 Castro, C. A. P. 2002 Sociologia aplicada ao turismo. São Paulo: Atlas. Certeau, M. 1994 Artes de fazer: a invenção do cotidiano. 16 ed. Tra-dução de Ephraim F. Alves. Petrópolis: Editora Vo-zes. Coriolano, L. N. M. T; Silva, S. C. B. M; Conceição, H. R. da. 2006 Turismo e geografi a: abordagens críticas. Forta-leza: Editora UECE. Demo, P. 1995 Metodologia científi ca em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas. Dencker, A. de F. 2004 Métodos e técnicas da pesquisa em turismo. São Paulo: Futura. Dias, R, 2003 Turismo sustentável e meio ambiente. São Paulo: Atlas. Dias, R. 2003. Planejamento do turismo: política e desenvolvi-mento do turismo no Brasil. São Paulo: Atlas. Ferrara, L. D’A. 2002 O turismo dos deslocamentos virtuais. In: YÁZIGI, E. (Org.). Turismo, espaço, paisagem e cultura. São Paulo: Hucitec. Filho F. D. 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Título y subtítulo | Pescadores, cabaneiros e feirantes: novas percepções sobre a atividade turística na Baía de Camamu |
Autor principal | Silva Argolo, Djaneide ; Reis Bomfim, Natanael |
Publicación fuente | Pasos. Revista de turismo y patrimonio cultural |
Numeración | Volumen 09. Número 4 |
Sección | Artículos |
Tipo de documento | Artículo |
Lugar de publicación | El Sauzal, Tenerife |
Editorial | Universidad de La Laguna |
Fecha | 2011-10 |
Páginas | pp. 573-583 |
Materias | Turismo ; Patrimonio cultural ; Publicaciones periódicas |
Enlaces relacionados | Página web: http://todopatrimonio.com/revistas/101-pasos-revista-de-turismo-y-patrimonio-cultural |
Copyright | http://biblioteca.ulpgc.es/avisomdc |
Formato digital | |
Tamaño de archivo | 309360 Bytes |
Texto | www.pasosonline.org Vol. 9 Nº 4 págs. 573-583. 2011 Pescadores, cabaneiros e feirantes: novas percepções sobre a atividade turística na Baía de Camamu Djaneide Silva Argolo i Natanael Reis Bomfi m ii Universidade Estadual de Santa Cruz (Brasil) i Mestra em Cultura e Turismo pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Professora da Universidade Estadual de Santa Cruz – Curso de Historia. E-mail: djaneideargolo@hotmail.com ii Doutor em Educação pela Universidade do Quebec em Montreal. Professor Adjunto da Universidade Estadual de Santa Cruz, atuando no Programa de Mestrado de Cultura e Turismo na Disciplina Planejamento Susten-tável do Turismo e no Curso de Bacharelado e Licenciatura em Geografi a, na Disciplina Cartografi a. E-mail: natanaelreis@uol.com.br. Resumo: Este artigo tem como objetivo compreender o processo de ressignifi cação socioespacial da Baía de Camamu – Bahia – Brasil, através da inserção da atividade turística, a fi m de apresentar estratégias para o planejamento sustentável do turismo. Entende-se que o turismo, como atividade econômica e como fenômeno social, aporta impactos sociais, culturais e ambientais, negativos e/ ou positivos (Bomfi m,2006; Dias;2003; Yazigi, 2008). Nessa perspectiva, entender a percepção dos atores principais, sobre a produção do lugar turístico, a Baía de Camamu é buscar pistas que possam permitir ao planejamento sustentável do turismo. Para tal, utiliza-se nesse estudo uma abordagem metodológica qualitativa/interpretativa. Os resultados apontam que a ressignifi cação do espaço da Baía de Camamu, pelos pescadores, cabaneiros e feirantes, passa pela percepção afetiva dos mes-mos, na medida em que as transformações nas dimensões ambientais, sociais e culturais envolvem uma relação de alteridade entre esses sujeitos e os visitantes. Nesse sentido, um planejamento parti-cipativo pode direcionar ações para uma sustentabilidade da atividade turística. Palavras-chave: Baía de Camamu; Turismo; Sustentabilidade; Percepção. Title: Fishermen, and merchants cabaneiros: new insights into the tourist activity in the Bay of the Camamu Abstract: This article aims to understand the process of socio reinterpretation of the bay - Bahia - Brazil, through the inclusion of tourism in order to propose strategies for sustainable tourism plan-ning. It is understood that tourism, as economic activity and as a social phenomenon, brings the social, cultural and environmental consequences and / or positive (Bomfi m, 2006; Dias;2003; Yazigi, 2008). From this perspective, understanding the perception of the main actors on the production of tourist place, the bay is to seek clues that might enable the planning of sustainable tourism. It draws on this study a qualitative approach / interpretation. The results indicate that the redefi nition of the area of the bay, the fi shermen, and merchants cabaneiros, affective is the perception of them, to the extent that changes in the dimensions of environmental, social and cultural otherness involves a relationship between these subjects and visitors. Accordingly, a participatory planning can guide actions for sus-tainability of tourism. Keywords: Bay of the Camamu; Tourism; Sustainability; Perception. © PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121 574 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Pescadores, cabaneiros e feirantes: ... ISSN 1695-7121 Introdução Nas últimas décadas, paralelo ao contexto educacio-nal e ao seio das ciências humanas, Geografi a, História, Sociologia, Antropologia, Economia, entre outras, os de-bates sociais e científi cos colocam em jogo os termos re-presentações, territórialidade, lugar, etc. Estes debates portam sobre a necessidade de investigar os princípios fundadores de nossa relação com o mundo. Trata-se de interagir os fundamentos de uma inteligibilidade do espaço das sociedades com as signifi cações atribuídas ao espaço vivido pelo ator sóciogeográfi co, construídas através de sua participação na sociedade e da sua cons-trução identitária com o espaço (aquele que pensa, refl e-te e age no espaço geográfi co). Entende-se, aqui, que o turismo se afi rma como atividade econômica que interfere na organização des-igual dos territórios, absorvido pelos modos de produção econômicos, sociais e culturais, portanto, requerendo controle governamental e da própria sociedade e exigin-do a aplicação de políticas públicas e privadas, ofi ciais e alternativas. É nessa perspectiva da organização es-pacial que Havas (1981: 6) explica o turismo como uma atividade que se preocupa com a produção e distribuição espaço. Isso revela a necessidade de um disciplinamento no contexto global onde opera o turismo, visando dotá-lo de uma racionalidade econômica que permita o controle das variáveis de bens e serviços que tornam possíveis os benefícios esperados pelos turistas em viagem. Os principais objetivos econômicos gerais do turismo são: maximização da quantidade de experiência psicológi-ca para os turistas [da utilidade dos bens e serviços]; maximização dos lucros das fi rmas que produzem bens para os turistas; maximização dos impactos primário e secundário dos gastos turísticos sobre uma determinada comunidade, região ou país. Mas, antes de ser um fenômeno econômico, o turis-mo é uma experiência social que envolve pessoas que se deslocam no tempo e no espaço em busca de prazer e diversão que atendam não apenas as suas necessida-des físicas imediatas, mas também os seus imaginários. Moesch (2000) afi rma que o turismo envolve uma re-lação complexa de inter relacionamentos entre produção e serviços, cuja composição integram-se uma prática so-cial com herança histórica, a um meio ambiente diverso, à uma cartografi a natural, às relações sociais de cons-trutibilidade e às trocas de informações interculturais. Percebe-se, aqui, vários aspectos das imbricações socioculturais, uma vez que das relações desenvolvidas durante a promoção da atividade turística, decorrem (re) construções e (re) signifi cações socioespaciais. Assim, o fenômeno turístico se apresenta como um misto entre a subjetividade e objetividade que compoem os processos socioculturais, políticos, geográfi cos e econômicos (Gas-tal, 2000). Logo, a sua compreensão requer estudos in-terdisciplinares, uma vez que as ações engendradas em função da exploração da atividade turística trazem seus resultados socializados (Dencker, 2004; Bomfi m, 2000; Yázigi, 1998; Filho, 2000). Essas idéias acima são corro-boradas pelas inferências de Coriolano (2005 apud Cha-defaud, 1987) quando afi rma que o espaço turístico é considerado um produto social que envolve aspectos que alicerçam as culturas dos grupos humanos, acentuan-do por sua vez, a demanda de investigação dos variados vieses da atividade turística, uma vez que esta é hoje compreendida como alternativa de desenvolvimento. Esse debate no meio acadêmico tem produzido con-hecimento, novas proposições didáticas e estratégias de planejamento tanto para a formação de profi ssionais, nos diversos níveis de ensino, quanto para o desenvolvi-mento com base sustentável para o turismo (Beni,2006, Bomfi m, 2005, Dencker,2004, Barreto, 2003). Entretan-to, verifi ca-se que essas produções foram inefi cazes, pois não acompanharam as atividades concretas capazes de responder às necessidades dos professores, de comuni-dades locais, de empresários. Logo, por um lado, os estu-dos propõem que trabalhem os conceitos em relação às próprias realidades sociais do espaço como uma forma de representação destas realidades. Por outro lado, as práticas que se exercem no espaço apontam que para a maior parte dos sujeitos, empreendimentos envolvidos no fenômeno turístico atuam de maneira assistemática, nas diversas dimensões espaciais e esferas das políticas públicas. As perspectivas de inspiração interdisciplinar consi-deram as signifi cações e práticas que os atores sociais atribuídas ao seu espaço de vivência como uma forma de reconstrução de sua realidade socioespacial. Assim, nós acreditamos que estas signifi cações nos permitem de compreender dentro de qual mundo e como eles vivem, e de afi rmar que as representações sociais são pertinen-tes para melhor se compreender o fenômeno turístico e apresentar estratégias que permitam a sua sustentabi-lidade em diversas dimensões. Por um lado, o tratamento econômico do turismo requer, no entanto, uma abordagem que contemple ao lado da análise científi ca, a consideração do elemento humano que é fundamental em sua manifestação. Por outro lado, compreender o objeto de estudo ou fenômeno, o turismo, exige antes de tudo de entender que o conhe-cimento científi co se processa a partir da relação entre os sujeitos e o objeto, a partir dos níveis de experiencias que esses travam com o mesmo. Isso signifi ca dizer que o conhecimento empírico desenvolvido, a partir de suas PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Djaneide Silva Argolo y Natanael Reis Bomfi m ISSN 1695-7121 575 experiências com o fenômeno no espaço vivido, tem uma importância fundamental para a construção da ciência. Essa, por sua vez apresenta um arcabouço teórico e me-todológico que permitem a sua evolução epistemológica, contribuindo não só com o seu avanço mas também na sua intervenção social. Nessa perspetiva, esse estudo busca esudar o tusimo como um fenômeno social e como uma atividade econô-mica. Como fenomeno social é importante salientar que o mesmo envolve deslocamento e relações de pessoas num determinado espaço gegráfi co. Esse, numa visão kantiana, é dinâmcio na medida em que sua objetivida-de permite que as coisas existam. Por outro lado, numa visão aristotélica, ele é subjetivo, ou seja percebido, vi-vido e concebido de diversas formas, logo transformado e resissginifcado com espaço tursitico, lugar turistico, lugar de memória de identidade (Bomfi m, 2000) Como atividade turística ele se apresenta, em sua forma mais simples, como uma corrente massiva que se desloca desde um mercado de origem até um núcleo receptor, apresentando dois problemas básicos: sua má distribuição no tempo e sua polarização no envolvidas, possibilitando a obtenção do pleno desenvolvimento das suas potencialidades, tanto nos lugares de emissão como nos de recepção dos fl uxos físicos e monetários da atividade turística. Com base nesses aportes teóricos e empíricos, inseri-mos a contextualização da produção do lugar turístico: a Baía de Camamu, como uma problemática que exige uma investigação científi ca. de cacau; dessa forma, outras atividades econômicas ti-veram que ser inseridas para a saída da pior crise da história local (LEAL, 2005). Considerando essas atividades econômicas, vale sa-lientar as categorias ocupacionais que se inserem nesse lugar, ao longo do processo produtivo. Brandão (1998), quando trata das categorias ocupacionais no Recôncavo, afi rma que a atividade ocupacional remonta ao inicio da colonização deste espaço, uma vez que o pescador se confi gura como elemento que tem para o exercício do seu trabalho a estrutura organizada que é o mar, como também o feirante (muitos deles são pequenos agricul-tores) que tem oriundo da terra o produto para trabal-har. Por sua vez, destaca-se o cabaneiro que se utiliza tanto do fruto do trabalho do pescador quanto do feiran-te no exercício de sua ocupação profi ssional. Com relação à atividade pesqueira por ser a forma de ocupação mais antiga, se encontra mais revestida de legenda, embora não seja a forma predominante de ocu-pação das populações da Baía de Camamu, o pescador se confi gura como produtor autônomo e é inadaptável à disciplina passando a impressão de que opera sem che-fes nem patrões e produz por conta própria Mas, tanto este quanto o feirante integram categorias socioeconô-micas cuja posição se caracteriza por grande despropor-ção entre o quanto depende do seu trabalho e o quanto lhe resulta como benefi cio. Para o pescador são ressaltadas três categorias de tipos sociais. A primeira refere-se aos sujeitos que têm a pesca como única atividade profi ssional. A segunda defi - Tabela 1- População residente total e taxa média geométrica de crescimen-to anual - Baixo Sul - 2000. Fonte: Superintendência de Estudos Econômi-cos e Sociais da Bahia (SEI) A Baía de Camamu e o Turismo A Baía de Camamu formada por onze mu-nicípios Cairu, Camamu, Ibirapitanga, Igra-piúna, Ituberá, Maraú, Nilo Peçanha, Pirai do Norte, Presidente Tancredo Neves, Taperoá e Valença, que ocupa 6.138 km2, o que signifi ca 1.1% do território da Bahia (Olalde, Matos E Conceição, 2010). Como forma de entendimen-to da sua organização espacial para a ativida-de turística, objeto do nosso trabalho, apresen-taremos um breve comentário sobre o aspecto demográfi co estrutura fundiária do Baixo Sul (Tabela 01). O município de Camamu fi cou conhecido pela sua produção de cacau, mas que antes do seu apogeu, produziu também farinha e man-dioca. Após necessidades do mercado externo. Contudo, principalmente pelo surgimento da praga, popularmente conhecida como “vassou-ra de bruxa”, devastou-se parte da produção 576 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Pescadores, cabaneiros e feirantes: ... ISSN 1695-7121 ne aquele que tem a pesca como atividade suplementar, trabalhando na condição de assalariado. Finalmente, a terceira categoria, refere-se aquele que exerce sua ativi-dade na condição de trabalhador autônomo. Com relação ao feirante observa-se também, a exis-tência de três categorias: 1) aquele que é ao mesmo tem-po produtor e comerciante de seus produtos, geralmente em pequena escala; 2) aquele que compra os produtos para o exercício de sua atividade profi ssional; 3) aqueles que são pagos por quem produz para comercializarem os produtos. Com relação aos cabaneiros estes são os próprios donos dos seus negócios, por herança ou por opção de trabalho de acordo com as variações de economias pre-dominantes. Ressaltando que para esta categoria o ele-mento ou fator que direciona o sucesso do seu empreen-dimento é o número de pessoas que afl uem a sua região, independendo que este fato seja originado de extração de minérios ou atividades agrícolas ou outra atividade qualquer. Na busca de outros caminhos para o seu desenvol-vimento, nos meados da década de 80, do século XX, as Vilas de Baixo, no entorno da Baía de Camamu, mantiveram as atividades agrícolas, inclusive o cacau, que coexistiam com a extração de minérios, como bau-xita, baritina, gás natural e petróleo. Entretanto, com a decência da lavoura cacaueira, na década de 90, des-te mesmo século, a região se respalda na diversidade econômica. Dentre vários setores, uma possibilidade é o turismo, pois diante das riquezas naturais e patrimô-nio histórico-cultural preservados, a cidade se consagra pela rica memória historiográfi ca e, principalmente, pela paradisíaca. Esta inserção deve ter gerado novas relações que infl uenciam diretamente no processo de ressignifi cação desse espaço e, pelo seu envolvimento direta ou indiretamente, é possível que os cabaneiros, pescadores e feirantes tenham uma percepção sobre a Baía de Camamu e sua comunidade, antes e após da implantação dessa atividade e, que o conteúdo dela seja um fermento importante para alavancar o planejamen-to do turismo na região. A Baía de Camamu está localizada na Zona Turís-tica (ZT) da Costa do Dendê, localizado na Região Sul da Bahia (Figura 01). Os critérios de potencialidade e atrativos foram identifi cados pelo Programa de Regio-nalização do Turismo (PRT) do Ministério do Turismo Mapa 1 – Costa do Dendê. Fonte: Ministério do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas de Tu-rismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação Geral de Regionalização (2009). PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Djaneide Silva Argolo y Natanael Reis Bomfi m ISSN 1695-7121 577 um campo rico para as pesquisas em ciencias sociais, tendo as Representações sociais com base teórico e me-todológica. A Representação Social, que na concepção de Mos-covici (1976), se confi gura como um conjunto de idéias, opiniões, valores, preconceitos e estereótipos que os in-divíduos têm sobre um objeto social. Moscovici (1976) introduz em sua teoria, uma noção de sujeito ativo e construtor, assim, é importante destacar que o conceito de representação social parte da proposição de consciên-cia coletiva, porém não relaciona indivíduo e sociedade de forma dicotômica. Desse modo, o homem não absorve os conteúdos que a sociedade o impõe, ele os reformula, na medida em que é um ser ativo e não passivo diante do mundo. As representações sociais exercem um papel de in-termediário entre o individual e o coletivo, tornando-os intercambiáveis. Logo, a singularidade dessa teoria reside em abordar os pontos de interseção entre as re-ferências de grupos sociais e suas apreensões indivi-duais como sujeitos ativos. Por outro lado, as representações sociais podem ser produto (conteúdo) e em processo, ao mesmo tempo orientando as práticas sociais e sendo orientadas pe-las mesmas. Para tanto, se considera que as represen-tações sociais se estruturam em duas instâncias princi-pais, um núcleo central, mais resistentes a mudanças, sendo a base comum propriamente social e coletiva, e uma periferia, mais maleável e disposta a modifi car-se no intuito de englobar eventos, idéias, objetos, que se-jam contraditórios a priori, para, ao interagir com esta novidade, integrá-la na representação pré-existente ou criar uma nova representação a partir desta novidade, sendo mais associada às características individuais e ao contexto imediato e contingente nos quais os indivíduos estão inseridos (Abric, 2000; Olschowsky, 2007). O sucesso desta teoria é testemunho da renovação dos interesses pelos fenômenos coletivos, especifi camen-te, pelas regras que regem o pensamento social. Com isso, o “senso comum” aparece como essencial, a identi-fi cação da “visão de mundo” que os indivíduos ou os gru-pos têm e utilizam para tomar posição é indispensável para compreender a dinâmica das interações e práticas sociais (Abric, 2000). As Práticas Sociais e Ecnômicas no Processo de Ressignifi cação Espacial Considerando que o espaço turístico é consumido pe-los atores sociais que aí exercem suas práticas, resgata-se aqui, o conceito de (Santos, 1986:119) onde “o espaço é a natureza modifi cada pelo homem através do seu trabalho”. Essa concepção do autor nos leva a perceber que o espaço geográfi co que inclui aquele da atividade do Brasil. Essa região de importância econômica, não somente pela produção de dendê, mas também pelo des-envolvimento da atividade turística, se confi gura como uma área com notáveis recursos e atrativos turísticos naturais e culturais, traduzidos pela exuberante vege-tação de mata atlântica, mangues, lagoas, cachoeiras e representação histórica. Aliado a esta problemática histórico-geográfi co que envolve a produção e transformação desse lugar turís-tico, verifi ca-se, ainda, que após uma exausta revisão de literatura, existem poucos estudos abordando a Baía de Camamu. Destes, alguns se inserem nos campos da Biologia, da Economia e da História e trazem poucos elementos teóricos e metodológicos que expliquem a re-lação entre a prática da atividade turística e a plura-lidade cultural no processo de organização do espaço. Também,na maioria desses trabalho, negligencia-se a valorização dos atores sociais locais, fato este que legi-tima a presente iniciativa, uma vez que pelo caráter da atividade turística e pelo histórico da região, esta ativi-dade deverá alcançar um lugar de destaque na estrutu-ra econômica regional. Diante do exposto, busca-se questionar qual a per-cepção dos pescadores, cabaneiros e feirantes sobre a Baía de Camamu, antes e depois da inserção da ativida-de turística? Para atender a essa questão, elaborou-se os seguintes objetivos: identifi car analisar a percepção desses atores sociais sobe a baía e o modo de vida da sua comunidade, antes e depois da inserção da atividade tu-rística, a fi m de apresentar estratégias para o planeja-mento sustentável do turismo. A Teoria e Método das Repreentçãoes Sociais e suas Contribuições para o Planejamento e Com-preensão do Turismo Característico de uma sociedade de consumo, o tu-rismo como um todo estruturado é um produto compos-to por bens e serviços, tangíveis e intangíveis. Assim, o produto turístico inclui recursos e atrativos naturais e artifi ciais, equipamentos e infra-estruturas, serviços, atitudes recreativas, imagens e valores simbólicos, constituindo-se num conjunto de determinados benefí-cios capazes de atrair certos grupos de consumidores em busca de uma satisfação das suas motivações e expecta-tivas (Droulers e Milani,2002). Nessa perspectiva, a atividade turistica como feno-meno social e econômico apresenta objetivos que visam a maximização do lucro, de experiencias psicológicas, dos impactos sobre o social, ambiental e econômico, principalmente para a comunidade local, de uma logis-tica temporal e espacial. Isso coloca estranhos frente a frente, agregando mão de obra de feminina e de mino-rias etnicas excluidas. Nesse sentido, ese fenomeno é 578 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Pescadores, cabaneiros e feirantes: ... ISSN 1695-7121 turística, não é apenas um refl exo, mas um produto da materialização das coisas produzidas pelos homens no seu lugar de vida e de trabalho. Entendendo aqui que o “espaço não pode ser um refl exo do modo de produção atual, mas um refl exo dos modos de produção passados” (Santos, 1986:145). Essas idéias, associadas às nossas, com relação à Baía de Camamu, implica em inferência de algo percebido e sentido pelos homens em função tanto de seus sistemas de pensamento quanto de suas necessidades. Nesse contexto, esse espaço turístico da Baía de Ca-mamu é analisado segundo múltiplos fatores que envol-vem tanto o meio natural, quanto as necessidades e as-pirações dos atores sociais que aí vivem, observando-se que esse espaço é o resultado de um produto histórico, destacando-se o fl uxo dinâmico e contraditório das re-lações sociais e comportamentais. Busca-se essa compreensão através da percepção socioespacial dos sujeitos envolvidos na pesquisa reme-tendo ao signifi cado do espaço turístico da comunidade local, que corresponde ao espaço percebido através do sentido que (Husserl, 1986:47) emprega para o termo percepção quando diz que “perceber é fenômeno que de-pende da capacidade do sujeito para decompor um objeto em sua qualidade simples - a sensação - e de recompor o objeto como um todo, organizando-o e interpretando - a percepção. A percepção, como elemento da representação social, é entendida como a relação entre sujeito e objeto, atra-vés da sua experiência ou visão de mundo. Esta com-preensão envolve categorias das diferentes formas de apreensão dos valores e atitudes dos sujeitos atribuídos e vividos no seu espaço, uma vez que o lugar só tem sen-tido quando este possui um espírito, uma personalidade e o refl exo de toda esta personalidade. Logo, este trabalho se organizou com base na perce-pção dos valores e atitudes sobre o seu espaço vivido e sua comunidade, pois, segundo (Bomfi m ,2009: 40-41), “o espaço vivido exprime a relação existencial (subje-tiva) do individuo, de suas práticas de suas represen-tações e de seus imaginários ambientais, onde os laços afetivos são tecidos progressivamente entre os homens e os lugares”. Métodos e Técnicas de Investigação Amostragem e Instrumentos de Coleta de Dados Este estudo insere-se numa linha de pesquisa centra-da no conteúdo com uma metodologia de tradição her-menêutico/ interpretativa (Karsent - Savoie-Zajc, 2000; Alves-Mazotti, 2001; Demo, 1995). Para o entendimento de como os pescadores, cabaneiros e feirantes percebem a Baía de Camamu e sua Comunidade, antes e depois da inserção da Atividade Turística, coletam-se os dados primários através de entrevistas semi-estruturadas não dirigidas (Marconi; Lakatos, 2004). Como critérios bási-cos para seleção dos participantes adotaram-se, aqueles sujeitos que lidavam diretamente com atividade turís-ticas nas suas atividades laborais, durante os últimos 30 anos. Esse período eu engloba a crise do cacau e a inserção da atividade turística. Esses atores sociais são considerados como informantes em potencial, uma vez que este procedimento permite ao pesquisador selecio-nar pessoas da comunidade a ser investigada que sejam fontes de informações que concernem às questões e aos objetivos de pesquisa. Para complementação dos dados, recorre-se aos dados secundários advindo da pesquisa documental e bibliográfi ca. Análise e Interpretação dos Dados Os dados foram tabulados e analisados pela técnica da análise do conteúdo do discurso (Bardin (2002). As-sim, o pesquisador reconstrói a realidade de acordo com o que lhe é passado e conhecido, permitindo-o assim dis-cernir os signifi cados dos depoimentos (Bleicher, 1992) e (Ricoeur, 1990). Os resultados da pesquisa foram comparados com as proposições teórico-conceituais, cuja discussão permitiu traças as estratégias que possam contribuir para um melhor desenvolvimento da atividade turística na Baía de Camamu. Resultados e Discussão No decorrer das pesquisas para este artigo, obser-vou- se que os resultados apontaram para duas imagens bastante signifi cativas. A primeira, que antecede a ati-vidade turística e, a segunda após a mesma. Essas ima-gens serviram para criação de um modelo estratégico eu pudessem alavancar o turismo para u desenvolvimento regional local, baseado no planejamento participativo. Segundo, maioria dos pescadores, cabaneiros e fei-rantes, até os últimos vintes anos do século passado, o espaço da Baía de Camamu era caracterizado pela ati-vidade econômica ligada a exploração do cacau, seguido da produção do pescado que era comercializado no mer-cado interno. Além dessa caracterização, eles a relem-bram como um espaço paço de lazer exclusivamente dos moradores locais. Por essas razões, infere-se que essa comunidade se defi nia pelo aporte econômico advindo do cacau, incidindo diretamente no fortalecimento do comércio local, refl etindo, por sua vez, na sua prosperi-dade. Resumindo, depreende-se um grupo social amal-gamado pelo aspecto da solidariedade, sem grandes con-fl itos econômicos, sociais e existenciais. PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Djaneide Silva Argolo y Natanael Reis Bomfi m ISSN 1695-7121 579 Nós vivíamos antes da atividade turística, eu consi-dero de modo melhor, como meus pais falavam, por-que em 1980 eu era adolescente devia ter mais de 10 anos, mas, verifi cava que tínhamos mais fartura na mesa, e na roça do meu pai, até os trabalhadores vi-viam melhor (Feirante 1). Nós vivíamos, em termos gerais dos recursos do ca-cau, pois quando o cacau se encontrava na safra e com preços bons o comércio sempre estava bem, embo-ra a gente não trabalhasse diretamente com o cacau, mas todos ganhavam algum dinheiro em suas ativi-dades quando a cacau tinha preço (Cabaneiro 3). Eu nasci aqui e sempre vivi da atividade cacaueira, desde a época do meu avô. Eram tempos bons na con-dição econômica, antes de 1980, pois quem trabalha-va no cacau tinha uma boa condição de vida. [...] Os colegas viviam do mesmo jeito que eu, alguns, mas os outros que não tinham cacau trabalhava no comércio que era melhor que hoje, pescava ou era trabalhador do serviço público. A vantagem era que sempre rola-va dinheiro e a gente não passava necessidade com a família (Pescador 1). Com relação à caracterização da Baía de Camamu, após a inserção da atividade do turismo, esses atores sociais afi rmam que, atualmente, a região se apresen-ta bem mais populosa que antes, e eles admitem que a atividade turística foi responsável, uma vez que novos empreendimentos imobiliários foram implantados, au-mentando assim a oferta de empregos, tanto fi xos quan-to temporários. Por outro lado, eles defi nem esse espaço como aquele da produção turística, pela presença da po-pulação residente como da visitante. [...] depois da queda do cacau, no início dos anos 90, começou a chegar muito estrangeiro aqui na Baía, e aí começou a diminuir as coisas, coisas do mar e tam-bém coisas da terra, tem havido nos fi ns de semana, dia de feira mais lixo na cidade e na orla (Cabaneiro 2). [...] tem vindo muita gente no meu restaurante e mui-ta gente na cidade, tenho notado um crescimento no vai e vem do povo, uma massa muito grande de gente, aqui em Camamu, como também em Igrapiuna e em Ituberá não tem muita acomodação, apesar das cons-truções nas ilhas, tem escassez de comida do mar e a cidade tem fi cado mais suja, eu acho que tem épocas que dobra a quantidade de pessoas (Cabaneiro 3). [...] o turismo melhorou a Baía de Camamu em al-guns aspectos, trouxe oferta de empregos, o gás natu-ral que tem em grande quantidade na Baía e é divi-dido em maior parte para Camamu e Maraú, fi cando um pouco do lucro para Igrapiúna e Ituberá e temos a Michelin da Bahia que traz emprego para o povo (Feirante 2). Eles são mister em apontar alguns impactos na di-mensão ambiental, mas que não estão associados dire-tamente à atividade turística, na medida em que todos afi rmam que houve depreciação dos manguezais e das matas, bem como escassez do pescado a exemplo dos peixes, mariscos e crustáceos. O meu lugar foi tomado por estrangeiros, uma boa parte de antigos colegas foram morar em outros lu-gares e venderam as casas para pessoas de fora, até nas festas só tem gente de fora, não tem muito espaço para o nativo, nossos barcos no fi m do ano, na festa da virada são alugados quase todos por gente de fora. (Pescador 2). Essa análise permite inferir que um conjunto de fa-tores contribuiu para a depreciação ambiental: a pesca com rede de malhas pequenas, a utilização de bombas para a pesca de peixes, confi gurando a ocorrência co-mum da pesca predatória e a exploração dos minérios existentes na Baía. Vale ressaltar que as empresas que exploram minerais na Baía, já atuam há muito tempo e propiciam, em contrapartida para a comunidade, al-gumas ações como: promoção de cursos (carcinocultura, artesanato, etc.), manutenção de escolas e preservação de áreas verdes. Por outro lado, verifi ca-se que todos os participantes do estudo abordaram a questão da escassez dos frutos do mar, em função da depreciação ambiental e citam que os locais mais degredados são aqueles que recebem maior número de visitantes na alta estação, tornando-se por esta razão foco de desgaste natural originado pela oco-rrência de edifi cações urbanas, uma vez que para este locais afl uem em grande número, tanto turistas quanto pessoas de outras localidades que passam a fi xar resi-dência para explorar a atividade turística ou para ser apenas residente. Quem vem de fora não tem amor pela nossa natureza, veja Barra Grande, só tem construção, o manguezal tem bem pouco, as madeiras de lei que era muita far-tura, os estaleiros de Cajaíba comeram, hoje buscam madeira até do Pará, por que as madeiras daqui, já era. (Cabaneiro 2). 580 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Pescadores, cabaneiros e feirantes: ... ISSN 1695-7121 visibilidade comercial do pacote, dos roteiros, das passa-gens, bilhetes e roteiros”. Para os atores sociais integrantes desta pesquisa, a Baía de Camamu, é apresentada como seu lugar, cujo conceito prevê experiência, sentimentos, valores e sig-nifi cações que no entender de (Merleau-Ponty,1999), a ação de escutar e promover a valorização desta perce-pção dota de compreensão os gestos, as preferências, as singularidades e as relações que aí são travadas. E com relação às atividades desenvolvidas pelos habitan-tes locais no entorno da Baía, com relação à utilização dos seus recursos, tem o seu entendimento se encontra atrelado à constatação de que estas atividades são deco-rrentes de suas necessidades básicas, como pescar pei-xes e mariscos, coletar cocos e mangas, explorar piaça-va, dendê, que, no entanto, não incidem na depreciação ambiental. Assim, nesse contexto evidencia-se a relação dos impactos socioculturais com a questão da identidade cultural local, percebendo-se como as transformações na localidade vêm deslocando as referencias identitá-rias, acentuando que estas têm passado por transfor-mações que vêm esvaziando os aspectos tradicionais e incorporando elementos contemporâneos (Hall, 2001). Argumentando sobre deslocamentos nas identidades culturais, esse autor aborda a questão na medida em que as culturas tornam-se mais expostas a infl uências externas através de infi ltração cultural que ocorre nas diversas comunidades, afi rmando ser difícil conservar a identidade cultural intacta, exemplifi cando. Neste caso, buscamos a idéia de (Canclini, 2006), so-bre o processo de hibridação cultural, quando ocorre a perda de elementos característicos de uma identidade, ao tempo em que outros elementos são absorvidos nas relações sociais desenvolvidas entre integrantes de co-munidade emissoras e receptoras. Observando-se que a função da cultura seria de controlar e ordenar com-portamentos, (Geertz, 1989) explica que a cultura não podendo ser interpretada como complexo de padrões concretos de comportamentos, há que se pensar em re-lações sociais que se organizam com imbricamento de usos, costumes, regras, planos e instruções que são vivi-dos e absorvidos no cotidiano das sociedades. Esta relação tem provocado, também, uma acentua-da exclusão social da população, bem como afl uência de outros modos de vida, reforçada por outras atividades ocupacionais, como também desemprego, uma vez que existem serviços que demandam uma mão de obra qua-lifi cada. Logo, segundo os estudos de (Becker 1998) e (Coriolano,2006) quando tratam do turismo nas áreas costeiras, afi rmam que essas agrupam atrativos típicos de lugares turísticos litorâneos em função das potencia- Não temos mais mariscos, até o camarão defumado que já não é tão bom, tem vindo de Ilhéus, peixes bo-nitos e grandes, não têm mais, não se encontra mais um mero de 200 quilos há muito tempo, ou seja, as coisas pioraram neste aspecto para nós, mas também para o turista que não encontra comida farta. (Fei-rante 2). Neste sentido inferiu-se que ocorre um desconforto para o habitante local que vê seu espaço tomado, seus hábitos modifi cados, porque passa a disputar serviços que contemplavam um determinado número de pessoas, e que na maioria das vezes não são otimizados em função das necessidades criadas pela exploração do turismo. Outra situação recorrente refere-se ao deslocamento da população residente, que opta por se desfazer de pro-priedades costeiras, em função dos preços alterados pela exploração da atividade turística, passando a morar em áreas cada vez mais distantes. Ou mesmo, até saindo do lugar e se estabelecendo em outras regiões, por sentir que o seu lugar não é mais o mesmo. Os resultados apontam que o lugar turístico é tam-bém um lugar de vivencia, onde os laços topofílicos são reforçados a partir da experiência dos sujeitos com o seu espaço de vida. Isto signifi ca, segundo Tuan, (1998) que essas afi rmações são derivadas da realidade que circun-da os pescadores, cabaneiros e feirantes, onde sua per-cepção é um produto das alterações no ambiente. Essas alterações lhes inspiram respeito ou prometem sustento e satisfação dos seus objetivos, lembrando que a afeti-vidade com o espaço vivido é u resultado das relações e das experiências que afetam não só o espaço geográfi co, mas também a vida dos sujeitos. Logo, fazendo uma relação entre espaço natural e es-paço vivido e apropriado pela atividade turística, acredi-tamos que a depreciação ambiental falada por eles, tem sua raiz na intensa movimentação de pessoas, princi-palmente na alta estação, devido aos diversos atrativos naturais e culturais, contribuindo assim em vários im-pactos econômicos, ambientais, sociais e culturais (Cas-tro, 2002). Assim, muitas vezes a comunidade residente é excluída e assiste a transformação do seu espaço de vida, com uma participação ativa de outros eu ali não construíram uma relação de afetividade, constituindo-se numa territorialização. Com relação à apropriação do território [Baía de Ca-mamu] em espaço turístico, Certeau (1994) afi rma que o espaço controlado perde seu conteúdo, na medida em que cria um voyeur, ou seja, o turista como um mero espectador. Em resumo, o turismo na visão de (Ferrara, 2002: 21) “faz do espaço um objeto quando o enfrenta na PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Djaneide Silva Argolo y Natanael Reis Bomfi m ISSN 1695-7121 581 Portanto, entendendo que os lugares turísticos são apropriados de forma estratégica a partir da lógica do capital, com uma função mercadológica, passam a ser um lugar do espetáculo para os visitantes e o lugar das resistências para os integrantes da comunidade, pois a seleção dos lugares e pessoas desencadeia uma série de tensões, cuja teia está imbricada nas dimensões am-bientais, econômicas, sociais e culturais. Considerações fi nais Entende-se que as ciências sociais auxiliam no des-velamento do caminho epistemológico do turismo seja como fenomeno social, seja como atividade turistica. Vários autores tem contribuido de forma tangencial ou direta, na compreensão da complexidade do turismo: um fenômeno marcadamente multissetorial em sua pro-dução e interdisciplinar. No campo da Psicologia Social, utilizando-se das Representações sociais, elas como um produto social são orientadoras de condutas que vão de um “continuum” que se estende do vivido cognitivo in-dividual até os sistemas sociais, culturais e ideológicos. Baseando-se nas questões de alteridade, de relações de genero, de minorias étnicas excluidas, dos impactos sociocultrais, entendemos a necessidade de um plane-jamento do turismo como forma de tomada de decisão. Aqui, ele deve signifi car idéias racionais e organizadas, tendo como substrato o conhecimento produzido a partir da visão de mundo dos sujeitos envolvidos na atividade turística exercida nos lugares de memória e consumo. Entretanto, planejar nos remete a idéia de (re) orga-nização de um sistema que implica numa certa sus-tentabilidade que envolva a integração das atividades humanas, das práticas e relações sociais no ambiente, respeitando suas potencialidades e limites. Considerando a Baía de Camamu, no que se refere a essa integração, verifi ca-se que a percepção dos sujeitos envolvidos evidencia suas atividades econômicas, suas práticas, suas relações sociais, apontando as potenciali-dades naturais e culturais e seus limites. Essas dimen-sões da produção do lugar turístico são traduzidas par-ticularmente pelos recursos, empregos, meio ambiente, enfi m sua vivencia. Após avaliação dos resultados da pesquisa realizada, considera-se adequado informar aos representantes do poder público da Zona Turística da Costa do Dendê so-bre as sugestões e recomendações decorrentes da perce-pção dos atores sociais desta pesquisa. Assim, é possível que seus gestores verifi quem a necessidade de adoção de critérios de um planejamento participativo capaz de direcionar ações para certa sustentabilidade da ativi-dade turística, prevendo mecanismos que resultem em lidades naturais. Nessa afi rmação insere-se a Baía de Camamu, que teve o turismo como atividade econômi-ca que veio depois da cacauicultura, trazendo impactos mais negativos que positivos, como: aumento do con-tingente populacional na Baía e nos municípios do seu entorno, grande número de construções de pousadas, hotéis e casas de habitação no veraneio, desmatamento, encarecimento dos preços tanto de alimentos quanto de terras e casas, que levam a uma refl exão sobre o plane-jamento sustentável no turismo. Na avaliação deste quadro de carências e alterações, percebe-se que se projeta um processo de ressignifi cação nos vários aspectos da vida da comunidade da Baía de Camamu, levantando-se, para o seu entendimento, vá-rias questões que devem ser trabalhadas na interface do turismo, uma vez que para (Yázigi,1998) a falta de planejamento na exploração da atividade turística am-plia a ocorrências de impactos negativos que poderiam ser minimizados com a adoção de políticas adequadas pelas entidades ofi ciais e privadas, ajustando , portanto questões socioculturais e ambientais. Considerando que no âmbito do turismo a nature-za tem o signifi cado de capital, cuja reserva de valores (água, metais, biodiversidade) é utilizada tanto através de tecnologias avançadas, tanto pela venda da própria natureza como mercadoria da atividade turística, prin-cipalmente nas zonas costeiras, o valor destas áreas é visto através da articulação terra-mar, pelos recursos bióticos e pela rica biodiversidade. Verifi cando-se a ne-cessidade de se pensar em políticas de planejamento para evitar que a atividade do turismo continue se des-envolvendo de forma desordenada. Atentando-se para o fato de que é de fundamental importância que a política governamental esteja vincu-lada à gestão da atividade do turismo, contando com a participação de representações locais e regionais, como de iniciativa privada e da sociedade civil acentua-se a necessidade da utilização do planejamento estratégico que, apoiando-se na participação social, venha elaborar políticas que contemplem equidade e sustentabilidade, modelo este que possibilita superar ao longo do tempo problemas como a exclusão social e a pobreza nas áreas periféricas. Para (Dias, 2003), a elaboração de políticas de pla-nejamento deve levar em consideração que as necessi-dades dos segmentos atrelados à atividade do turismo devem ser priorizadas, uma vez que todos eles devem se encontrar integrados para a socialização dos resultados cujos efeitos implicam em consequências tanto para o meio ambiente quanto para as comunidades diretamen-te envolvidas no processo de articulação da atividade do turismo. 582 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(4). 2011 Pescadores, cabaneiros e feirantes: ... ISSN 1695-7121 impactos positivos para a comunidade local. Partindo-se do princípio de que a possibilidade de inexistirem impactos no modelo relacional turista e ambiente é nula, há que se construírem formas de mi-nimizar os impactos negativos, através de projetos que contemplem sustentabilidade dos recursos naturais. A adoção de planejamento para a atividade turística deve ter aplicabilidade como processo racional e participati-vo, no sentido de se evitar medidas que não correspon-dam às exigências das realidades locais, objetivando a integração dos vários interesses que permeiam a ativi-dade do turismo, uma vez que existem novas formas de organização do turismo que são adaptadas aos interes-ses dessas comunidades, com negócios turísticos volta-dos à geração de trabalho com melhor distribuição dos resultados do trabalho social, fazendo valer os valores comunitários. Frente à disputa do residente com o turista, espe-cialmente, na alta estação, se faz necessária ampliação de atendimentos na área da saúde, saneamento básico, existência de salva vidas, sinalização na área costeira e nos acessos a vários espaços, regularização do abas-tecimento de água, organização do sistema de energia elétrica e segurança. Logo, que sejam fi rmadas parcerias com empresas públicas e privadas para a exploração da atividade tu-rística, desde quando sejam apresentados de projetos e programas que prevejam ações para a preservação dos recursos naturais e das tradições culturais. Nessa perspectiva as parcerias podem alavancar um turismo que atenda de maneira mais signifi cativa a re-lação entre turista e comunidade local. Para tal, após a análise dos resultados desta pesquisa, indica-se particu-larmente para Baía de Camamu, algumas estratégias: 1) criação de cooperativas a fi m de ampliar atividades artesanais, visto que a fl ora oferece espécimes de pal-meiras nativas e em abundância, que poderão ofere-cer matéria prima, como também o aproveitamento dos frutos produzidos na região para transformação em polpa, geléias e doces. 2) capacitação de mão de obra local, através de parceria público/privado, via convênios que possam ser des-envolvidos entre as prefeituras e BAHIATURSA, Se-cretaria de Turismo do Estado da Bahia, Ministério do Turismo do Brasil, SENAC, SEBRAE e a UESC; 3) Uso da legislação municipal para proteger o patrimô-nio cultural (histórico e natural); 4) Criação de um Conselho Municipal de Turismo e Meio Ambiente; 5) Manutenção da cultura local, através de programas de educação patrimonial, que permita o resgate das tradições e valores culturais; 6) Elaboração de calendário cultural ofi cial dos muni-cípios. Sob este ângulo o planejamento participativo para buscar um turismo de base local, pode recuperar o poder da sociedade, levando o cidadão a participar dessas es-tratégias de ação para a organização sustentável da ati-vidade turística, preservando a identidade ambiental e sociocultural da comunidade local, posto que, o turismo sustentável envolve compreensão dos impactos, geração de empregos locais, melhoria da vida das comunidades envolvidas, desde que os métodos da gestão estratégica se aproximem de processos de sustentabilidade social, econômico, ambiental e cultural. Bibliografi a Alves-Mazzotti, A. J.; Gewandszjder, F. 2001 O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira. Barreto, M. 2003. O imprescindivel aporte das Ciências Sociais para o planejamento e Compreensão do Turismo. Horizon-tes Antropológicos. Porto Alegre, ano 9, n. 20, p.15- 29, Outubro. Becker, K. 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