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Vol. 9 Nº 2 págs. 367-381. 2011
Demandas turísticas, crescimento da malha urbana e dos
problemas sócio-ambientais em Pirenópolis, Estado de Goiás,
decorrentes da proximidade com Brasília-DF
Boanerges Candido Da Silvai
Maclovia Correa da Silvaii
i Mestre em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR/Brasil, graduado em Geo-grafia
pelo Centro Universitário de Brasília – UniCEUB/Brasil, professor do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Paraná –IFETPR/Brasil e Coordenador do Observatório do Mundo do Trabalho do
IFPR. E-mail: boanerges.silva@ifpr.edu.br
ii Maclovia Correa da Silva – UTFPR/Brasil – Professora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia – PPG-TE/
UTFPR. Doutora em planejamento urbano e regional pela Universidade de São Paulo - Mestre em História
do Brasil, área de concentração: História Econômica pela UFPR - Graduada em Letras: Português – Francês e
Ciências Econômicas. E-mail: macloviasilva@utfpr.edu.br
© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Programa de Pós-Graduação em Tecnologia – PPGTE/UTFPR (Brasil)
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (Brasil)
Resumo: Este artigo trata das mudanças ocorridas em Pirenópolis-GO, após a inauguração de Bra-sília
em 1960, que criou no interior do país necessidades socioeconômicas atendidas pela implan-tação
de infra-estrutura viária, proporcionando acessibilidade e a mobilidade. As facilidades de lo-comoção
deram origem migração para a região do cerrado, acelerando a urbanização e aumentando
o fluxo de pessoas em busca de Turismo. A malha urbana de Pirenópolis se estendeu em direção à
periferia, que passou a abrigar os moradores expulsos do Centro Histórico devido aos novos usos e
a valorização dos imóveis. A natureza sofreu impactos ambientais. Para a redação deste artigo des-envolvemos
leituras, fizemos observações in loco e aplicamos questionário durante o mês de julho
de 2007. .
Palavras-chave: Pirenópolis; Migração; Urbanização; Turismo; Malha Urbana; Centro Histórico;
Impactos ambientais.
Title: Tourist demand, urban and socioenvironmental problems growth in Pirenópolis, in the State of
Goiás, due to the proximity to Brasília-DF
Abstract: This article discusses the changes in Pirenopolis-GO, after Brasilia’s inauguration in 1960,
which created the socioeconomic needs in the country and they were met by the deployment of road
infrastructure, providing accessibility and mobility. The advantages of locomotion led migration to
the region of savannah, accelerating urbanization and increasing people flown in search of Tourism.
The urban area of Pirenopolis spread toward the periphery that has housed the residents expelled from
the Historic Center due the new uses and value of buildings and nature suffered environmental im-pacts.
This article was developed after readings, remarks made on the spot and questionnaires applied
during July, 2007.
Keywords: Pirenópolis; Migration, Urbanization, Tourism, Urban Area; Historical Center; environ-mental
impacts.
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Introdução
Esse artigo discorre sobre as transformações, expan-são
da malha urbana e os problemas sócio-ambientais
ocorridos em Pirenópolis, pequena cidade goiana situa-da
a 150 quilômetros de Brasília-DF, Capital da Re-pública.
No decorrer da administração do Presidente
Juscelino Kubitschek de Oliveira, a nova sede do poder
nacional foi construída e inaugurada. O Brasil, durante
197 anos (1763-1960) manteve a sede do Governo Fede-ral
na cidade do Rio de Janeiro-RJ (Silva, 2008).
O “olhar” para o interior do País é recente e ganha
maiores contornos, no governo de Juscelino Kubits-chek,
as ações realizadas durante o período 1956-1960,
estavam previstas no seu Plano de Metas1, que estabe-leceu
novo padrão de incorporação e de acumulação de
capitais na região central. A pretensão era promover a
integração da região do cerrado ao restante do País, a
partir de três eixos: a) investimentos estatais na área
de infra-estrutura, no sentido de solucionar os pontos de
estrangulamento da economia regional; b) estímulo aos
investimentos privados (nacionais e estrangeiros) pela
instalação de plantas industriais; e c) interiorização do
país, por meio do projeto da construção de Brasília (Ro-cha
Neto et al, 2006).
Desde 1960, quando o Planalto Central Brasileiro
passa a experimentar o aumento da migração, os fenô-menos
da urbanização e da aceleração do crescimento
populacional, especialmente na região do Entorno2 da
Capital Federal, ganharam impulso. Este processo foi
mais célere nos municípios que compõem a Região In-tegrada
de Desenvolvimento do Distrito Federal e En-torno
- RIDE3 e nos demais espaços da região Centro-
Oeste, num ritmo menos intenso. Segundo Marques e
Bichir (2001), as décadas de 1960 e 1970 foram mar-cadas
pelos investimentos na área de habitação, com a
construção de residências financiadas com os recursos
do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS
essa nova política habitacional teve influência marcan-te
nos movimentos populacionais observados nesta área
do país.
Os centros urbanos irradiam para as periferias, os
serviços, os postos de trabalho e a distribuição da renda.
Nesses espaços instalam-se as pessoas de baixa renda e
inseridas no mercado informal de trabalho. Esse modelo
metropolitano brasileiro foi construído na cidade do Rio
de Janeiro, e exportado para as demais aglomerações
urbanas brasileiras. As mazelas presentes nas cidades
são motivadoras do desejo de viajar nos momentos de
descanso, se afastando do cotidiano urbano em busca de
paz e tranqüilidade junto à natureza, ou em contato com
comunidades rurais (Silva, 2008).
Na instância social do Lazer, o Turismo4 cresceu a
partir da década de 1980 e ganhou destaque como im-portante
atividade econômica na região central do país.
Nesse texto, se adota a concepção clássica de viajar com
fins de entretenimento baseado na idéia de que nesses
deslocamentos as pessoas contemplam passivamente as
paisagens sem participação ativa. O setor turístico pode
ainda ser definido do ponto de vista econômico como: o
conjunto de resultados alcançados e de serviços necessá-rios
para atrair aqueles que praticam a atividade (Oli-veira,
2001; Dias; Aguiar, 2002).
A infra-estrutura viária, os modernos meios de co-municação
e a disseminação do automóvel como meio
de transporte individual, proporcionaram as pessoas à
acessibilidade aos locais antes inatingíveis. O automó-vel
deu ensejo à mobilidade desfrutada pelos turistas,
ansiosos por conhecer novos atrativos, mas sem depen-der
de meios de transportes compartilhados com outros
e em horários predefinidos, conseguindo reduzir o tempo
gasto nos deslocamentos. Este conjunto de novidades foi
fundamental para o crescimento da atividade turística
na região do cerrado e influenciou de maneira marcan-te
o município de Pirenópolis-GO, que passou a receber
turistas em um fluxo constante e crescente a partir da
década de 1980.
A presença dos turistas na cidade de Pirenópolis, so-bretudo
os vindos da Capital Federal e de Goiânia-GO,
movimentou a economia e o mercado imobiliário e alte-rou
o cotidiano dos moradores. Assim, é grande o risco
do local, em função das atividades turísticas, passar por
um esvaziamento da identidade, e “a cidade [transfor-mar-
se] no espetáculo do consumo, as ruas [redimen-sionarem-
se e ganharem] outro conteúdo que elimina o
lúdico, pois, transforma-se, em lugar de passagem [ou
de visita]” (Carlos, 2004, p. 62).
O Centro Histórico se transformou e os novos usos do
solo e dos imóveis, valorizaram esta área e mobilizaram
os tradicionais proprietários a cederem seus espaços
para o funcionamento de serviços de hotelaria, alimen-tação
e lojas. O atendimento as necessidades do turismo
estimulou o crescimento da malha urbana em direção às
áreas periféricas promovendo alterações que afetaram
as relações sociais e a própria atividade turística.
No caso de Pirenópolis-GO, as bases sobre as quais
o Turismo ganhou destaque e importância na economia
local, foram proporcionadas pelo “[...] acervo arquitetô-nico
tombado; um folclore rico povoado de festas e ma-nifestações
populares originais; juntamente com o clima
ameno; o cenário de serras e cachoeiras; e a posição geo-gráfica
favorável [...]” (Almeida, 2006, p. 112).
A busca incessante do novo, do diferente, do ainda
não explorado, intocado pelo desenvolvimento e pelo ca-
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pital. Aliado ao uso intenso das paisagens e das mais
variadas manifestações culturais compromete e destrói,
ou retiram da localidade as condições que originaria-mente
a elegeram como destino. As deteriorações que
ocorrem nos atrativos em virtude da presença dos tu-ristas
fazem com que a localidade perca a capacidade
de seduzir novos turistas, que procuram outros locais
que ainda apresentam um bom estado de conservação
(Mendonça, 2003).
O pensamento racionalista e o idealista vão se confli-tar
durante todo o século XIX, e as ciências da natureza,
do homem, o progresso científico e social vão fundamen-tar
as ações do ser humano no meio ambiente, mediadas
pelo processo de trabalho ativo. Romancini e Martins
(2005), ao discutirem o conceito de natureza, e os pro-cessos
de ocupação do cerrado, apontam para a existên-cia
de relações entre a cultura e a representações do
mundo natural.
Todavia, o processo de desmatamento e de mudança
nas paisagens naturais promovida pelas ações, tanto do
setor público, quanto da iniciativa privada já estabe-leceu
importante processo de degradação na região do
cerrado e alteraram os olhares sobre as festas popula-res
ligadas aos símbolos naturais: o morro, os rios e as
árvores.
Benny Schvasberg (2003) assinala que o crescimento
demográfico tem caminhado em direções diferentes da-quelas
ocorridas até os anos 1990. As cidades médias e
as periferias das grandes aglomerações urbanas estão
alcançando taxas elevadas de crescimento o que tornam
complexas as articulações sócio-espaciais.
É provável que os elevados custos dos imóveis urba-nos
nas metrópoles tenham contribuído em parte com
esse movimento, aumentando a importância dos cen-tros
urbanos intermediários – devido ao fato de possuí-rem
papéis regionais e locais expressivos – na região
dos cerrado. Soares e Bessa (1999), afirmam que as ci-dades
médias brasileiras de modo geral apresentaram
um acentuado crescimento populacional nas últimas
décadas, associado ao desenvolvimento fundamentado
na implantação de uma importante infra-estrutura li-gada
aos transportes e às comunicações.
Na década de 90, o aprofundamento da tendência
de fragmentação da estrutura produtiva brasilei-ra,
com o crescimento, por exemplo, da agroin-dústria,
agricultura irrigada, empreendimentos
voltados à exploração de recursos naturais, a
acelerada urbanização da fronteira5, ratificou a
inflexão na trajetória da taxa de crescimento ur-bano
das metrópoles, observada na década de 80.
A participação do crescimento metropolitano no
total cai expressivamente, enquanto as cidades
de pequeno e médio porte passam a registrar uma
maior participação (Schvasberg, 2003, p. 45).
O município de Pirenópolis-GO, cidade histórica
atrelada às modificações da região, com atrativos na-turais,
culturais e históricos, submete-se às oscilações
das demandas turísticas que acompanharam o acelera-do
ritmo de crescimento populacional e econômico pós-inauguração
de Brasília-DF. Diante deste conjunto de
alterações, impostas pelo Turismo como os novos usos
ao espaço urbano e rural nesta cidade, a modificação e
a compreensão do lugar e do espaço compartidos entre
morador e o turista sofreu alterações
O processo de urbanização, o agribusiness e a de-gradação
do cerrado na região Centro-Oeste do
Brasil
Segundo Bessa e Soares (2001) a rede urbana da
Região Centro-Oeste é recente e tomou a atual configu-ração
após a inauguração da Capital Federal. As prin-cipais
cidades da região são Brasília-DF e Goiânia-GO,
concentrando o principal contingente populacional e os
centros de poder federal e estadual. Confirmou-se o que
estava previsto, desde os anos 1930, pelas políticas pú-blicas
definidas pelas autoridades, que era atrair novos
habitantes para a região central do país.
A transferência da Capital Federal reforçou e influen-ciou
a formação de uma rede urbana que foi determina-da
pelas novas atividades econômicas e pela localização
dos centros de poder. “As políticas de interiorização do
país, teve grande impacto político, econômico e social
nas áreas de cerrado” (Soares; Bessa, 1999, p. 14).
Até a década de 1960 a rede urbana do Planalto
Central foi estabelecida em função da baixa densidade
demográfica e da estagnação econômica, presentes na
região devido aos grandes latifúndios monocultores e a
atividade pecuarista. Anteriormente as áreas de cerra-do
apresentavam-se desarticuladas, com pequena inte-gração
interna e externa, (Soares; Bessa, 1999). Até este
momento histórico, era uma região onde predominavam
os vazios demográficos. A construção de estradas ligan-do
a Capital Federal aos demais centros nacionais, per-mitiu
o crescimento econômico e a atração de migrantes
para esta área do país (Moreira, 2002).
Segundo Silva (2008), durante os governos militares,
as políticas públicas continuaram a incentivar a ocu-pação
das regiões Centro-Oeste e Norte, entre as medi-das
tomadas naquele momento estão à implantação de
rodovias como: a Belém-Brasília, a Cuiabá-Santarém,
a Transamazônica, a Manaus-Porto Velho e a Brasília-
Cuiabá, entre outras, todas usadas para promover a
interiorização do desenvolvimento e a criação de novos
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núcleos populacionais. A região passou por intenso pro-cesso
de urbanização, especialmente a área central do
Estado de Goiás e as imediações do Distrito Federal.
O Centro-Oeste passou por grandes transfor-mações
nas últimas décadas, especialmente de-pois
da construção de Brasília, [...] era uma região
com baixa densidade demográfica. A abertura da
rodovia Belém-Brasília em 1962 e a posterior
construção de outras grandes estradas atraíram
capitais e migrantes (Moreira, 2002, p. 252-253).
No decorrer da ditadura militar também se incenti-va
a ocupação das áreas de cerrados para fins agrícolas.
A soja foi o produto mais cultivado e a produção era di-recionada
ao mercado externo, situação que ainda per-siste
nos dias atuais. Segundo Theodoro, Et al (2002), a
partir da década de 1970, a região passou a ser explo-rada
de forma intensiva, com a produção voltada para o
comércio internacional. A adoção do modelo agroexpor-tador
viabilizou o desenvolvimento regional, mas criou
problemas sociais como a concentração de renda e de te-rras.
“Este modelo de desenvolvimento agrícola adotado
pelo país, e especialmente no cerrado, além de social-mente
injusto, vem acarretando problemas ambientais
gravíssimos, [...]” (Theodoro, Et al, 2002, p. 147).
Bessa e Soares (2001) assinalam que no período com-preendido
entre os anos de 1960-1996, na região Cen-tro-
Oeste, houve um crescimento econômico provocado
pela introdução de novas tecnologias para o plantio e
armazenamento de grãos, da implantação de novas ati-vidades
relacionadas à pecuária e à avicultura.
O crescimento populacional e a intensa urbanização
ocorrida nas últimas décadas do século XX na Região
Centro-Oeste, especialmente no Distrito Federal e no
Estado de Goiás, repercutem na conservação, sustenta-bilidade
e desenvolvimento econômico centrado na ex-ploração
dos recursos naturais. Assinala Silva (2003),
que o modelo de produção no qual está alicerçado o cres-cimento
econômico no Cerrado é insustentável, uma vez
que concentra a renda e a estrutura fundiária, produz
impactos ambientais cumulativos e perigosos, é estimu-lador
do êxodo rural e da ocupação desordenada de no-vas
áreas.
Bursztyn (2002), afirma que o cerrado é um retra-to
do Brasil, neste bioma as cidades cresceram rapida-mente,
as favelas estão presentes, os campos destruí-dos
pelas máquinas e ocupados pelos bois, pela soja e
delimitados pelas cercas. Preparado para ser o grande
fornecedor de gêneros alimentícios que aliviaria a fome
e promoveria a inclusão social. A região do cerrado se
converteu ao agronegócio se tornando grande exporta-dora
de commodities, mas conforme cresce a produção,
acentua-se a degradação do ambiente e das condições
sociais.
Segundo Almeida (2005), existe um paralelismo en-tre
as políticas de expansão agrícola introduzidas no
Centro-Oeste e na região Sudeste, em consonância com
o Plano de Metas de (1956), que contemplava a cons-trução
de Brasília, associada à implantação da Belém-
Brasília e de outras rodovias, visando o povoamento e a
ocupação do Cerrado. A vegetação natural foi desapa-recendo
para dar lugar aos plantios homogêneos e as
grandes obras de infra-estrutura. Há uma reorientação
quanto aos comportamentos coletivos e individuais das
práticas de uso dos recursos naturais e energéticos.
Ao levantar os dados estatísticos sobre a concen-tração
de população em áreas de caráter urbano no Es-tado
de Goiás, os dados revelaram que os processos de
urbanização acentuaram as desigualdades municipais,
e que existe a necessidade de considerar as diferen-ciações
territoriais ao se tratar da exclusão social nesta
unidade da Federação (Almeida, 2005).
A razão desse processo pode ser analisada sob o ponto
de vista do capital, e ao retrocedermos nosso olhar para
o passado temos elementos marcantes para “duvidar de
que seja a pobreza a causa dos problemas ambientais.
Ao contrário, nossa convicção tende a se consolidar na
direção de que esta causalidade reside tendencialmente
[sic] na concentração da riqueza, espacial e economica-mente”
(Barros, 2004, p.267).
A urbanização acentua tanto o movimento de des-locamento
quanto o de concentração de pessoas, e por
vezes, confunde os limites entre áreas urbanas e áreas
rurais. As possibilidades de melhorar a qualidade de
vida, no que tange aos setores da habitação, saúde, in-fra-
estrutura, emprego e capacitação profissional fun-cionam
como atrativos que provocam os movimentos de
esvaziamento e de crescimento de cidades. Um exemplo
desse processo acontece dentro das metrópoles que têm,
por um lado, suas áreas centrais esvaziadas, e por outro
o rápido crescimento dos assentamentos irregulares e
das áreas periféricas, precárias em infra-estrutura (Ba-rros,
2004).
Um fator bastante relevante na motivação das pes-soas
para os deslocamentos é o aumento territorial dos
latifúndios na região agrícola, com extensas áreas de
plantação. Este fato social e econômico provoca a expul-são
forçada de pequenos proprietários: “Já nos anos 80, a
agricultura intensiva tomou impulso na região [centro-oeste],
com a viabilização tecnológica da soja definindo
a estrutura fundiária que mostra um perfil ainda mais
claro quanto ao predomínio das grandes propriedades”
(Theodoro Et al, 2002, p. 149).
Analisando a distribuição da população nas áreas de
cerrado, observamos uma tendência para aumentar a
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concentração da população nas cidades e de um acele-rado
crescimento populacional. O Estado de Goiás apre-senta
uma urbanização de 80,81% da população, segun-do
o censo de 2000 da FIBGE e o Distrito Federal um
índice superior a 96%, enquanto o total da região é de
86,70%. “A população urbana do Centro-Oeste cresceu
780% em apenas três décadas” (MMA, 1998, p. 18).
Karam (2004) diz que podemos considerar o rural
uma continuidade do urbano do ponto de vista espacial
e permite pensar que o modo de vida diferenciado pro-duzido
no espaço urbano cria referências do ponto de
vista social as quais interferem na percepção da reali-dade.
Não podemos deixar de destacar que no alvorecer de
Brasília a nova Capital Federal, ou seja, no final da dé-cada
de 1950, algumas cidades do Entorno já supriam a
carência de habitações para a população de baixa ren-da,
mas esta área passou a ser mais requisitada para
moradia a partir do início da década de 1980 (Silva, Et
al, 2008).
Na região do cerrado, segundo Soares e Bessa (1999,
p. 26), “[...] pode ser constatada a existência de aglome-rações
urbanas em que houve um expressivo esvazia-mento
de suas populações e atividades econômicas que
foram drenadas pelas cidades com papel regional mais
significativo”.
Tomando como apoio pressupostos teóricos de San-tos
(2005), para explicar o fenômeno do esvaziamento
de subespaços na região Centro-Oeste, constatou que as
cidades de 20 a 50 mil habitantes entre 1950 e 1980
apresentaram porcentuais representativos os quais
mostram um processo de transformação progressiva e
gradual que indica um grau de aperfeiçoamento irre-gular
no período, ainda que em 1980, alcance índice li-geiramente
elevado em relação ao de 1950. Além disso,
outro fator importante para se analisar os movimentos
populacionais, são os índices referentes às cidades gran-des,
com população na casa dos milhões que absorvem
cerca de 40% do crescimento total da população brasilei-ra
entre 1960 e 1980.
A explicação para o fenômeno da urbanização em
nível regional, as perspectivas apontam para outras
tendências. No mesmo período, há uma grande con-centração
populacional na região Sudeste, seguida pe-las
regiões do Nordeste e Sul, enquanto que às regiões
Centro-Oeste e Norte cabem “[...] apenas fatias relati-vamente
reduzidas. Ainda que sua participação seja
decrescente nos últimos quatro recenseamentos (1950,
1960, 1970 e 1980), cerca de 60% da população residen-te
nos centros com mais de 20 mil habitantes se encon-tram
o Sudeste” (Santos, 2005, p. 81).
O Turismo em Pirenópolis-GO
A cidade goiana chamada inicialmente de “Meia Pon-te”,
hoje Pirenópolis, começou seu povoamento quando
Bartolomeu Bueno da Silva, o “Anhangüera”, estabele-ceu-
se em Vila Boa de Goiás, hoje Cidade de Goiás. Os
bandeirantes, à procura de ouro, foram avançando para
os sítios próximos, e chegaram às minas auríferas loca-lizadas
no Rio das Almas, por eles nomeada de Nossa
Senhora do Rosário, localizadas aos pés da Serra dos
Pireneus (Barbosa, Et al, 2004).
Inicialmente a localidade cresceu com a vinda de
pessoas interessadas em garimpar o ouro abundante
existente no leito do Rio das Almas. O arraial foi ele-vado
à vila de Meia Ponte em 10 de julho de 1832, e
posteriormente à categoria de cidade em agosto de 1853.
Mudou de nome em 1890, quando passou a se chamar
Pirenópolis por conta de se achar plantada aos pés Se-rra
dos Pireneus (Bertran, 2000).
A cidade, beneficiada pela posição geográfica, próxi-ma
ao Distrito Federal e localizada na Região Integra-da
de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno
- RIDE, oferece opções e possibilidades de Turismo e
Lazer, possuindo características remanescentes da ar-quitetura
portuguesa, com traçado irregular das ruas,
uma tendência à linearidade, possuindo núcleos popu-lacionais
distintos no tecido urbano, os quais se juntam
formando um desenho irregular. Pirenópolis ganhou
importância devido às opções de Lazer que oferece aos
habitantes da nova Capital. Os atrativos se constituem
dos recursos naturais, das áreas rurais e do patrimônio
histórico-arquitetônico, além da rica cultura local (Sil-
Foto 1: Centro Histórico de Pirenópolis-GO, Rua Direi-ta.
Foto de Boanerges Candido Da Silva – 2007
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va, 2008).
Os investimentos em infra-estrutura viária garan-tiram
a acessibilidade aos turistas e aos moradores. A
mobilidade destes é caracterizada pelo uso, de forma
crescente e marcante, do automóvel como meio de trans-porte
para se atingir o município e desfrutar das opções
de Turismo e Lazer presentes nesta localidade, permiti-ram
a sua inserção como destino turístico na região do
Entorno do Distrito Federal.
O centro histórico remonta ao tempo do ciclo aurífero
e as construções arquitetônicas e urbanísticas de estilo
colonial que o compõem (ver foto 1), apresentando carac-terísticas
opostas aos modernos monumentos existentes
em Brasília. A Capital Federal agrupa dois grandes
mitos: a Cidade Utópica6 e a Terra Prometida7. O pri-meiro
se refere ao planejamento urbano e a arquitetu-ra
futurista do Plano Piloto, e “os fundadores da cidade
estavam imbuídos do sonho e da missão de inaugurar
um novo tempo em uma nova civitas para um Brasil
fundado no belo, na igualdade e na universalidade” (Si-queira,
2003, p.77). O segundo se reveste de aspectos
transcendentais, mitológicos, referentes a um local onde
Pirenópolis-Anápolis-Goiânia (ver mapa 1) favorecem
a presença de um importante contingente de turistas
oriundos das três cidades citadas, com predominância
da Capital Federal.
Os moradores do Distrito Federal se valendo da aces-sibilidade
e da mobilidade proporcionada pelos avanços
tecnológicos ocorridos no século XX passaram a freqüen-tar
o município nos finais de semana, nos feriados pro-longados,
nos períodos de férias (janeiro e julho) e, quan-do,
ocorrem comemorações, manifestações folclóricas e
outros eventos, inclusive de natureza religiosa8.
Os dados do Gráfico 1 revelam que os moradores de
Brasília-DF, e de Goiânia-GO freqüentam assiduamen-te
as festas realizadas na cidade de Pirenópolis. Tam-bém
demonstram que a cidade esta mais conhecida a
nível nacional e até internacional, situação que pode
trazer inúmeros benefícios econômicos para a localidade
através do aumento do número de turistas.
La mayor parte del volumen turístico de Pirenó-polis,
o sea el 50 por ciento, procede de Brasilia
siguiéndoles el de Goiânia con un 17 por ciento, el
de São Paulo con un 10 por ciento, y el de Goiás 9
por ciento (la mayoría de Anápolis). Esto se debe,
sobretodo, al fácil acceso en automóvil y la corta
distancia de Brasília, Goiânia y Anápolis una vez
que 67 por ciento de los entrevistados utilizan co-ches
propios para llegar hasta la ciudad. Así po-demos
afirmar que Pirenópolis se configura como
un centro de turismo preferencialmente regional
(LOPES, 1999, Nº 45 (43))9.
Os dados apurados por Lopes (1999), pela AGETUR
(2002) e por Silva (2007), apontam na mesma direção,
sinalizando que o turismo em Pirenópolis possui carac-terísticas
que permitem concluir que a cidade exerce
uma atração sobre os fluxos turísticos de origem prefe-
Mapa 1: Localização de Pirenópolis-GO e acessos rodoviários.
Adaptado pelos autores
o sagrado estaria presente e as diferenças eliminadas.
Geógrafos vêm estudando o crescimento das mal-has
urbanas, fundadas nos interesses de pessoas que
procuram momentos de Lazer em lugares bucólicos, os
quais passaram a ser explorados e se transformam em
plataformas políticas voltadas para o desenvolvimento
das localidades de pequeno porte. Soares e Bessa (1999),
destacam que o Turismo nas suas diversas modalidades
tem se apresentado como alternativa para o crescimen-to
econômico, social e político de pequenas comunidades
na região do cerrado, devido ao potencial dos atrativos
naturais, históricos e dos elementos culturais presentes
nestas localidades como é o caso de Pirenópolis-GO.
Os atrativos naturais e os demais eventos combi-nados
com a pequena distância que separa Brasília-
Origem do visitante Pirenópolis 2007
7%
5% 56%
23%
9% Anápolis
Brasília
Interior de Goiás
Goiás
Outras
Gráfico 1: Origem do turista. Fonte: elaborado pelos autores ten-do
com base questionário aplicado em Pirenópolis-GO – em
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rencialmente regional, é realizado principalmente, por
pessoas residentes nas duas maiores cidades da região,
Brasília-DF e Goiânia-GO, se constata também nestas
pesquisas que o meio de transporte preferencialmente
utilizado é o rodoviário em suas diversas modalidades
(Ver Tabela 01).
Para chegar a Pirenópolis, o turista prefere o trans-porte
rodoviário, seja em veículo particular, seja em ôni-bus
ou peruas, com custos mais baixos do que o indivi-dual,
mas limitado em seus destinos. A importância dos
veículos para deslocamentos de pequena distância e por
curtos períodos é uma prática na região do entorno do
Distrito Federal, e Pirenópolis dista de Brasília-DF 150
Km, de Goiânia-GO 120 Km, e de Anápolis-GO 80 Km.
cias entre as localidades de origem e destino, eles usam
o automóvel para o Turismo de curta duração, nos fins
de semana.
O primeiro autor, por ser morador da região do cerra-do
desde a infância, e por ter visitado a localidade várias
vezes, já tinha determinadas assertivas construídas so-bre
o Turismo em Pirenópolis-GO. As suas observações
o levaram a especular que a localização geográfica da
cidade, na proximidade das duas grandes capitais da
região, Goiânia-GO e Brasília-DF e a oferta de vias de
infra-estrutura viária de boa qualidade, permitiram a
construção de hipóteses sobre o tema, como a dependên-cia
econômica de Pirenópolis-GO frente a Capital Fede-ral,
pois a maior presença de turistas é oriunda destes
ORIGEM DO TURISTA – PIRENÓPOLIS-GO (%)
Brasília-DF Goiânia-GO Anápolis-GO
Interior de Goiás
São Paulo Outros Pesquisa
50 17 9 10 14 LOPES (1999)
42,11 23,06 8,77 26,07 AGETUR (2002)
56 23 12 9 SILVA (2007)
Tabela 01: Comparação dos dados relativos à origem do turista
– Pirenópolis-GOFonte: Elaborada pelo autor
dois grandes centros
regionais é constatada
com certa facilidade
pela observação das
placas dos veículos (Sil-va,
2008).
A facilidade de aces-so
se caracteriza pela
existência de boas ro-dovias
federais e esta-duais
e pela presença
de um aeroporto. Além
disso, a localização geográfica deste município goiano, a
uma curta distância das duas principais aglomerações
urbanas da Região Centro-Oeste do Brasil, a Capital
Meio de transporte utilizado pelo
turista - Pirenópolis 2007
0%
9% 63%
28% Avião
Automóvel
Motocicleta
Van/Ônibus
A mobilidade proporcionada pela utilização
do automóvel, que se popularizou como meio de
transporte a partir da década de 1980 tornou
este tipo de veículo o mais empregado em deslo-camentos
de curta duração, realizados em fins de
semana e feriados. Esta facilidade tem favoreci-do
o Turismo na localidade de Pirenópolis-GO, os
dados do gráfico 2 apontam de maneira inequívo-ca
que os turistas preferem viajar para o muni-cípio
em automóveis – 62,96% – e em transporte
coletivo - 28,40%, e mesmo que a cidade tenha
aeroporto, não existem linhas aéreas que sirvam
a localidade. Dois terços utilizam os veículos par-ticulares,
e a probabilidade deles procederem das
cidades de Brasília e Goiânia é de 79% (Silva,
2008).
As pessoas que residem em grandes centros
deslocam-se na área urbana com os seus
veículos e esse hábito faz com que elas esten-dam
essa idéia para os momentos de lazer, em
especial quando se deslocam para as pequenas
localidades situadas em adjacências, como é o caso de
Pirenópolis. No gráfico 2, a amostra revela de onde pro-cedem,
e as repostas confirmam que para curtas distân-
Gráfico 2: Meio de transporte utilizado pelo turista. Fonte: ela-borado
pelos autores tendo com base questionário aplicado
em Pirenópolis-GO – em 2007
374
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(2). 2011
Demandas turísticas, crescimento da malha urbana e dos problemas sócio-ambientais ...
ISSN 1695-7121
antes do interesse governamental em promover o Tu-rismo
como fonte de desenvolvimento e de geração de
renda. De acordo com Almeida (2006, p. 112), no caso de
Pirenópolis-GO, as bases sobre as quais o Turismo gan-hou
destaque e importância na economia local, foram
proporcionadas pelo acervo arquitetônico tombado pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
- IPHAN; um folclore rico em festas e manifestações po-pulares,
juntamente com o clima ameno, as serras e as
cachoeiras e a posição geográfica favorável, ver gráfico 3.
Segundo Batista (2003), o Turismo em Pirenópolis
inicialmente estava assentado na exploração do patri-mônio
histórico-arquitetônico, que remonta ao período
da mineração aurífera no século XVIII, posteriormente
os atrativos naturais, representados pelas formações ro-chosas
existentes em suas serras, as belas cachoeiras, a
biodiversidade do cerrado e o turismo rural ganharam
espaço e destaque no contexto econômico local.
Federal e a Capital goiana que juntamente com as ci-dades
a elas conurbadas10 concentram um número de
pessoas que se aproxima de 6.700.000, ver tabela 2.
A urbanização acelerada, o rápido crescimento da po-pulação
e da economia regional, propiciados pela moder-nização
do campo não foram acompanhados pela preocu-pação
ambiental, pois, segundo Theodoro, Et al, (2002,
p. 158) com a “[...] implantação da agricultura moderna,
assumiu-se a premissa de que tudo era bom e adequado
para qualquer situação, sem preocupações com escassez
e qualidade dos recursos naturais”. Esse processo de
ocupação territorial vem se processando dentro da lógi-ca
do mercado capitalista globalizado, e de acordo com
Almeida (2005, p. 331), “as marcas dessa apropriação
estão presentes nos principais problemas ambientais
oriundos, em parte, da expansão da fronteira agrícola,
baseada em desmatamento, queimadas e plantios ho-mogêneos,
mecanizados e irrigados, da pecuária exten-siva
[...]”.
Tabela 2: Evolução da população em Brasília-DF, na RIDE,
Goiânia-GO e Região Metropolitana de Goiânia11 (1960-
2005). Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da
FIBGE12 , Censos Demográficos, 1960-2000. Contagem Po-pulacional
1996 e 2005.
Municípios 1960 1970 1980 1991 1996 2000 2005
Brasília 139.796 538.351 1.176.935 1.596.272 1.821.946 2.051.146 2.333.108
RIDE 115.953 161.386 246.039 353.976 635.573 815.522 1.126.134
Goiânia 151.953 381.055 714.174 920.257 1.003.477 1.093.007 1.201.006
RM de Goiânia - - - 1.312.709 - 1.743.297 2.013.073
TOTAL 406.762 1.080.792 2.137.148 4.183.216 3.460.996 5.702.972 6.673.361
O município de Pirenópolis-GO, situado no Estado
de Goiás é circundado por formações serranas, onde
nascem vários cursos de água que formam dezenas de
cachoeiras. A cidade mantém seu aspecto antigo e bu-cólico,
com a arquitetura colonial das suas edificações
em bom estado de conservação. O povo é receptivo e
hospitaleiro, alegre, festivo e convive com um ambien-te
de extrema beleza natural. A localidade é um retra-to
vivo da história e da cultura goiana (Silva, 2008).
A vocação turística das pequenas cidades localiza-das
nas proximidades do Distrito Federal se manifestou
Gráfico 3: Motivo da Viagem. Fonte: elaborado pelos autores
tendo com base questionário aplicado em Pirenópolis-GO –
em 2007
Motivo da Viagem - Pirenópolis 2007
10%
6% 53%
25%
4% 2%
Visita a parentes
Atratativos naturais
Festivais
Atrativos
históricos/culturais
Festas religiosas
Outros
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(2). 2011
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noite, e nos finais de semana as atividades turísticas
povoam lugares inabitados. Os turistas fazem uso da
infra-estrutura existente, e provocam modificações –
abertura de vias de acesso, ampliação do terminal de
transporte, revitalização de espaços públicos como o
Teatro de Pirenópolis e o Cine Pirineus, de logradouros,
pintura dos imóveis, que revertem em benfeitorias para
a população. É importante ressaltar que esses espaços
onde ocorrem atividades cotidianas e turísticas quando
reconfigurados aumentaram a qualidade de vida dos re-sidentes
e criaram oportunidades de Lazer para classes
menos abastadas.
Inicialmente o setor turístico se apropriou e utilizou
a infra-estrutura já existente nesta localidade, que fo-ram
criadas pela população e por outros setores da eco-nomia
para outros fins. Posteriormente foi necessária
a divisão das tarefas para aumentar a oferta turística.
O governo cuidou da parte política, da segurança, da
preservação da natureza e da cultura local, do sistema
de transporte, das redes de água e saneamento básico,
enquanto que o setor privado respondeu pela expansão
imobiliária para atender a demanda por alojamentos e
alimentação (Silva, 2008).
O impacto positivo do Turismo nas pequenas cidades
localizadas no “Entorno” do Distrito Federal como Pire-nópolis,
vem sendo demonstrado por meio da criação de
empregos e da melhoria na condição de vida da popu-lação
receptora. Porém existe um problema, “os postos
de trabalho abertos pelo turismo são geralmente sazo-nais
– ocorrendo durante os períodos de alta temporada
– e os níveis salariais de um modo geral são comparati-vamente
baixos, [...]” (Dias; Aguiar, 2002, p. 148).
A migração de pessoas de outras cidades é surpreen-dente,
pois quando se procura uma pousada, um res-taurante,
descobre-se que os proprietários acabaram de
chegar ao município (ver tabela 3). A explicação para
esse fenômeno acontecer, em cidades provincianas, que
ainda procuram manter sua identidade e refutam as
modificações impostas pelo progresso pode estar rela-
A importância do turismo como atividade econô-mica
em Pirenópolis-GO
A região do Entorno do Distrito Federal se caracte-riza
pela heterogeneidade, apresentando simultanea-mente
traços metropolitanos ao lado de núcleos urbanos
com estruturas provincianas e agrárias. Nesse contex-to
de singularidade, Pirenópolis desponta-se como ex-poente
do Patrimônio Histórico Arquitetônico Cultural
e Paisagístico no interior goiano. O sítio histórico local é
de grande valor e desperta interesse dos turistas, entre
os atrativos estão as Igrejas, os monumentos e os pré-dios
centenários, e as fazendas remontam ao tempo da
escravidão. As atrações culturais como: as cavalhadas e
a festa do divino, também os festivais e outros eventos
culturais atraem muitos turistas (Silva et al., 2007).
Nesta cidade, a presença de pedreiras é um marco
da atividade econômica, com forte participação na arre-cadação,
trazendo uma soma considerável de recursos
para o município. A partir de 1990, a cidade tornou-se
interessante para os turistas, os quais passaram a visi-tá-
la. O fluxo de pessoas oriundas de outras unidades
da federação, do interior e da capital do Estado e prin-cipalmente
do Distrito Federal aumentou significativa-mente,
conforme visto no gráfico 1.
O perfil da cidade de Pirenópolis, com hotéis, resi-dências
transformadas em pousadas, a rua do lazer, os
festivais, culinária regional, bares com música ao vivo,
fábrica de doces e queijos, comércio de artesanato local
– crochê, artigos de palha, móveis rústicos – confirma a
nova vocação urbana. O setor turístico, para pequenas
cidades como Pirenópolis, representa a possibilidade
de superação da estagnação econômica, pois empreen-dimentos
voltados para a promoção do bem estar dos
turistas são implantados gerando empregos e renda
(Soares; Bessa, 1999).
Muitos espaços da cidade adquirem funções diversas
durante a semana. Enquanto praças e ruas são locais
de circulação de pedestres em horário de trabalho, à
Serviço Quant. Empresa Proprietários Empregados
Familiar Não
familiar
Nativo Não nativo Nativo Não
Nativo
Hotéis/pousadas 46 32 14 24 22 244 54
Campings 06 06 - 06 - 30 -
Alimentação 47 34 13 18 29 342 66
Tabela 3: Ocupação do Mercado de Trabalho em Pirenópolis no ano de 2000. Fonte: Adaptado pelos autores a partir do Inventário
e Diagnóstico Turístico do Município de Pirenópolis – Goiás, 2001.
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PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(2). 2011
Demandas turísticas, crescimento da malha urbana e dos problemas sócio-ambientais ...
ISSN 1695-7121
cionada ao fato de que as substantivas modificações na
paisagem são acompanhadas de alterações nas relações
sociais em sociedades, nas quais, o Turismo se torna
uma atividade importante. Nestas comunidades é pos-sível
divisar uma nova distribuição dos residentes, dos
serviços, das áreas destinadas ao divertimento e ao la-zer,
o aparecimento de uma área central e uma periferia
(Mendonça, 2003).
Existe o predomínio das empresas do tipo fami-liar,
os proprietários naturais de Pirenópolis predomi-nam
com exceção do Serviço de alimentação e a gran-de
maioria dos empregados é nativa desta pequena e
pacata cidade, nos serviços de camping os cidadãos
pirenopolenses dominante a totalidade da atividade.
O Turismo e a expansão da malha urbana em Pi-renópolis
Em Pirenópolis, como foi constatado através das
observações e das consultas ao Plano Diretor13 , o an-tigo
morador cedeu suas propriedades para as ativida-des
turísticas, e estabeleceu residência nas áreas mais
longínquas, no mapa 2, as áreas em vermelho, repre-sentam
o tecido urbano existente até 1988, os demais
espaços traçados representam as áreas para as quais
houve a expansão da malha urbana da cidade. Ain-da
não se pode falar de socialização de valores, signi-ficados
e visões de mundo, e nem de plena aceitação
das atividades turísticas pela população residente,
a qual não assume integralmente a readequação de
mão-de-obra, representada pelo exercício profissio-nal
do comércio e da oferta de serviço (Silva, 2008).
Há um movimento pendular que impede que os
ponteiros se encontrem, marcando momentos distintos
e diferenciados para aqueles que deixam a localidade,
e aqueles que chegam a ela. Um mecanismo bastante
apropriado e que pode ser observado em Pirenópolis é o
descompasso espacial e temporal de movimentos popu-lacionais.
Quando é possível, a população local concilia
seus interesses com os prováveis programas de lazer dos
turistas, e assim não há coincidência entre a utilização
dos espaços pelo turista e pelo morador.
Porém é importante ressaltar, que a “[...] organização
territorial dos lugares turísticos não responde somente
à lógica do lugar, do meio, e da população, ela é a re-produção
de atributos valorizados nos centros urbanos
emissores, [...]” (Luchiari, 1998, p. 23). Numa visão mais
ampla da atividade turística, os apelos mercadológicos
para comercializar “meio ambiente e cultura” entram no
campo do utilitarismo e ainda é necessário compreender
que os lugares turísticos sintetizam na materialidade
das cidades que se expandem, as novas representações
sociais imprimidas ao uso do território. Por isto os luga-res
não permanecerão ‘provincianos’ ou ‘selvagens’, por-que
estes atributos não representam mais a sociedade.
Mapa 2 –Áreas de expansão do tecido urbano. Fonte: Elaborado pelos autores a partir das informações presentes no
Plano Diretor de Pirenópolis, Lei nº 002/02 de 12/12/2002 (PIRENÓPOLIS, 2002).
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Em Pirenópolis ocorreu um movimento populacional
representado pela chegada de novos moradores enquan-to
os antigos se deslocavam para as áreas periféricas ou
para outros centros urbanos regionais. É possível infe-rir,
a partir dos dados da Tabela 4, as seguintes tendên-cias
de movimentações populacionais nesta localidade
de Goiás.
Até 1960 – os dados revelam uma cidade brasilei-ra
de pequeno porte localizada na Região Integrada -
RIDE, antes da inauguração de Brasília-DF;
De 1960 a 1970 – o crescimento populacional de Pi-renópolis
foi significativo, com um acréscimo de 5.571
habitantes, que representam um crescimento de 21%;
De 1970 a 1980 – Inicia-se um processo inverso nas
taxas de crescimento populacional;
A partir de 1991 – acentua-se a tendência de decrés-cimo
populacional.
Na Tabela 4, observa-se que a população dos mu-nicípios
goianos localizados na região de abrangência
da RIDE cresceu aproximadamente 892% em 45 anos.
Enquanto nas outras cidades a população aumentava
com a chegada de novos habitantes, a cidade Pirenópo-lis
desenvolvia-se economicamente, ao mesmo tempo
ocorria o crescimento da malha urbana acompanhado
do esvaziamento populacional a partir da década de
1970.
Em Pirenópolis, enquanto cidade povoada há quase
300 anos atrás, o movimento populacional foi peculiar,
o qual pode ser explicado pelas idéias desenvolvidas por
Santos (2005) no que tange à urbanização. O autor diz
que a intensificação da urbanização em algumas áreas
de “antigo povoamento, servidas por infra-estruturas
antigas” manteve raízes com seu passado, as quais têm
papel ativo, porém apresentam remotas possibilidades
de atenderem às vocações do presente, seguindo a ló-gica
da divisão internacional do trabalho e do mercado
interno, que integra o território, porém aprofunda a dis-cussão
dos movimentos populacionais. O autor defende
que as dimensões continentais do território brasileiro
necessitavam de uma lógica comum aos subespaços, a
qual privilegiasse diferentemente cada fração do espaço
e seu momento histórico, considerando as vocações atri-buídas
pela divisão territorial do trabalho.
É relevante dizer que existe um modo coerente pelo
qual coisas ou acontecimentos se encadeiam, comum
em escala nacional e aos subespaços, todavia eles têm
movimentos próprios e articulação com o todo: “é assim
que podem se explicar não apenas esses dados esta-tísticos
que são as diferenças regionais dos índices de
urbanização, mas também dados estruturais, como as
diferenças regionais de forma e de conteúdo da urbani-zação”
(Santos, 2005, p.67).
A modernidade não se implantou sobre o vazio em
Pirenópolis, porque lá havia heranças culturais, com
marcas do período anterior às técnicas inovadoras in-troduzidas
pelo Turismo. Apesar do decréscimo popu-lacional
apresentado na tabela 4, a malha urbana foi
modificada pelo parcelamento do solo, e pelo esvazia-mento
do centro histórico, e a aprovação de loteamentos
na periferia, afastadas da centralidade urbana.
Existem relações entre os locais de trabalho e os de
lazer, permeados pelas fantasias, desejos, sonhos, as
quais motivam as pessoas, com poder aquisitivo, a pro-curar
uma segunda residência. Nas cidades, residência,
indústrias e serviços disputam espaços. Todavia, todas
as atividades disputam a acessibilidade ao centro urba-no:
“Esse interesse na centralidade é a própria razão de
ser das cidades como organismo espacial. Sem ele, as
cidades não existiriam” (Villaça, 1998, p.329).
Com base nas idéias de Villaça (1998) podemos en-tender
a busca por Turismo e Lazer nas pequenas ci-dades
do Entorno do Distrito Federal. Elas apresentam
características semelhantes: pequeno Centro Histórico,
atrativos naturais, acessibilidade. O autor reforça que
os movimentos populacionais temporários, dentro e fora
das cidades acontecem porque existe o acesso. Ele per-gunta
“Qual a origem ou a fonte da centralidade? Está
na possibilidade de minimizarem o tempo gasto e os
Municípios
População total
1960 1970 1980 1991 1996 2000 2007 2010
Pirenópolis 26.494 32.065 29.320 25.056 24.717 21.245 21.241 24.500
RIDE 115.953 161.386 246.039 353.976 635.573 815.522 1.029.832 1.129.533
Distrito Federal 140.165 537.494 1.176.935 1.601.094 1.821.946 2.051.146 2.455.903 2.562.963
Total Geral 282.212 730.945 1.202.974 1.955.070 2.448.519 2.866.668 3.485.735 3.692.496
Tabela 4: Evolução da população em Pirenópolis e nos municípios goianos que fazem parte da RIDE. Fonte: Elaborada pelos auto-res
a partir dos dados da FIBGE. Censos Demográficos, 1960-2010. FIBGE. Contagem Populacional 1996 e 2007.
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PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(2). 2011
Demandas turísticas, crescimento da malha urbana e dos problemas sócio-ambientais ...
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desgastes e custos associados aos deslocamentos espa-ciais
de seres humanos” (Villaça, 1998, p. 242).
Tulik (2000), ao estudar a cidade de São Paulo, des-taca
a questão do poder aquisitivo, o qual possibilita aos
moradores de grandes centros buscarem outras formas
de Turismo e Lazer, fomentando a rede hoteleira ou ad-quirindo
uma segunda residência14 nas regiões serra-nas
e litorâneas. A autora explica que o alto índice de
renda permite a um importante contingente da popu-lação,
o desfrute das conquistas sociais que lhes garante
a capacidade ou faculdade de dispor de seus próprios
bens financeiros e da maior extensão do tempo livre. As-sim,
entre os pontos de origem dos fluxos de pessoas e
as áreas próximas alastra-se uma expansão imobiliária
representada pelo aumento de vendas de residências se-cundárias.
Nos países ricos, grande parte dos habitantes reside
em subúrbios e pequenas cidades. Em Brasília e Goiâ-nia,
onde existem os melhores Índices de Desenvolvi-mento
Humano – IDH da região e maior poder aqui-sitivo
(ver tabela 5) e de onde parte a grande maioria
dos turistas (79%) esse fenômeno urbano acontece e os
moradores mais abastados, cansados do cotidiano urba-no
procuram a natureza: “O turismo moderno deixa o
monumento histórico, a sala de concertos e o museu e se
concentra na cena urbana ou, precisamente, em alguma
versão da cena urbana adequada ao turismo” (Sassen;
Roost, 2001, p. 66). Pirenópolis, por meio da adminis-tração
municipal, para receber turistas da região, tem
investido nas “cenas urbanas” e aumentado às áreas
de Turismo Ecológico, criando infra-estrutura, revitali-constada
através dos levantamentos realizados pelo
IBGE conforme demonstrados pelos dados da Tabela 3.
Em decorrência dessa afirmação, pode-se dizer que de-terminadas
residências ficam fechadas durante a maior
parte do ano, sendo ocupados apenas nos finais de sema-na,
feriados e períodos de férias escolares.
As propriedades localizadas no Centro Histórico,
apesar de terem usos diversificados. As residências, os
estabelecimentos comerciais e a prestação de serviços,
também ficam esvaziadas nestes períodos, pois as ativi-dades
desenvolvidas nestes imóveis dependem da pre-sença
do turista.
Considerações finais
O crescimento populacional e os grandes inves-timentos
realizados na região dos cerrados a par-tir
da década de 1960 tornaram esta área um pólo
da atração de migrantes. O aumento da população
criou um importante fluxo intra-regional de pes-soas,
gerando uma demanda turística que impul-sionou
a economia do Planalto Central Brasileiro.
Na região do cerrado, as aglomerações urbanas
do Entorno do Distrito Federal e da Região Metro-politana
de Goiânia, devido à acessibilidade propor-cionada
pela presença da Capital Federal e da Ca-pital
do Estado de Goiás, concentraram importante
contingente populacional, que demanda as ativida-des
relacionadas ao descanso, ao turismo e ao Lazer.
A acessibilidade propiciada pela infra-estrutura
existente na região permitiu a descoberta de pequenas
Pirenópolis
Semana
Santa
Final de semana
comum
Cavalhadas Férias de julho
Até 1 salário mínimo 1,26% 3,57% 2,70% 1,86%
Entre 1 e 2 salários mínimos 4,28% 4,46% 6,76% 5,59%
Entre 2 e 3 salários mínimos 8,31% 4,46% 8,11% 4,66%
Entre 3 e 5 salários mínimos 10,83% 10,71% 10,81% 10,25%
Entre 5 e 10 salários mínimos 23,17% 15,18% 21,62% 14,60%
Entre 10 e 20 salários mínimos 21,91% 23,21% 14,86% 21,12%
Mais de 20 salários mínimos 15,37% 25,00% 18,24% 18,01%
Não possui renda própria 11,84% 7,14% 8,78% 11,80%
Não respondeu 3,02% 6,27% 8,12% 5,90%
Total 99,99% 100,00% 100,00% 93,79%
Tabela 5: Renda pessoal mensal do turista – Pirenópolis/2007. Fonte: Agência Goiana de
Turismo - AGETUR
zando o Centro Histórico e
restaurando patrimônio ar-quitetônico.
Em Pirenópolis, o Cen-tro
Histórico, manteve o
mesmo perímetro urbano
até 1987. A partir de en-tão
a cidade expandiu-se
para a zona rural. As visi-tas
à cidade permitiram a
observação visual dos no-vos
bairros, com estilo ar-quitetônico
diferenciado da
área central, que surgiram
na periferia. A constatação
é obvia o tecido urbano se
expandiu acentuadamente
nas últimas décadas.
Esse crescimento terri-torial
não é compatível com
a diminuição da população,
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(2). 2011
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cidades com atrativos turísticos dentro dos seus limi-tes
territoriais. As pessoas que buscavam alternativas
para preencher suas horas de folga com atividades
diferenciadas das rotinas, as quais elas estavam sub-metidas
nas grandes cidades encontraram na cidade
de Pirenópolis-GO as condições necessárias para sa-tisfazerem
as suas necessidades de Lazer e Turismo.
As carências históricas herdadas, e por superar
em algumas áreas do Planalto Central, provocam
conflitos diante da realidade transformadora provo-cada
pela atividade turística. Hábitos culturais têm
parte importante nas manifestações de resistência
às mudanças, sobretudo quando as populações lo-cais
se deparam com “estranhos” no seu dia a dia,
mas em Pirenópolis este comportamento não impediu
o crescimento da exploração econômica do Turismo.
Apesar de existirem grupos que de pessoas que man-têm
os vínculos com as tradições e o cotidiano, a maioria
dos moradores se apropria dos benefícios econômicos de-correntes
da presença dos turistas, mesmo que percam
as vantagens de localização na malha urbana, de sosse-go,
de privacidade. Mesmo que o aquecimento do mer-cado
de imóveis estimule o esvaziamento da identidade
na medida em que vai fazendo a “tábua rasa” de me-mórias
e de valores culturais. Em Pirenópolis-GO, isso
vem se consolidando enquanto cidade turística, a qual
perde pouco a pouco “suas lembranças” de local paca-to,
do silêncio, e da paz adquirindo ares cosmopolitas.
A circulação de pessoas no Centro Histórico desca-racteriza
a paisagem bucólica, agora “desnuda”, expos-ta
para ser vista, admirada, e explorada. Os turistas
chegam a Pirenópolis para usufruir os seus atrativos,
porém sem qualquer compromisso com a conservação
do patrimônio. Nesse “vai-e-vem” dos turistas, os mo-radores
também deixam à cidade, outros chegam, e a
malha urbana vai se estendendo em direção a periferia.
As alterações que ocorreram no coração da cida-de,
em virtude da presença dos turistas, fizeram com
que a localidade passasse a ter movimentos populacio-nais
sazonais, os quais resultaram na criação de no-vos
bairros e no esvaziamento de moradores da área
central. Os imóveis da região central foram os pri-meiros
a serem revitalizados, e os proprietários cede-ram
seus espaços privados para o funcionamento de
serviços de hotelaria, alimentação e lojas. O artesa-nato
de prata dominou o comércio de jóias, a madeira
transformou-se em artefatos de enfeite, suporte de ob-jetos,
sementes, pedras, penas tomaram outros rumos
e foram aproveitadas para a confecção de bijuterias.
Nessa dinâmica os moradores tradicionais, que tive-ram
suas rendas aumentadas com a valorização de seus
imóveis, se deslocaram em direção às áreas periféricas,
ou para outras cidades. Todavia, a diminuição da po-pulação
local, a partir da década de 1980, contrastou
com a incorporação de novas áreas ao território urbano.
A adoção de políticas de desenvolvimento e investi-mentos
em infra-estrutura, a partir da década de 1970,
foram os principais fatores para a geração de uma nova
dinâmica econômica centrada na exploração econômica
do Turismo, que resultou na abertura e na ocupação do
espaço geográfico com novas atividades, no aumento da
circulação de pessoas e na expansão da malha urbana.
Esta situação acarretou para o município de Pire-nópolis
problemas sócio-ambientais, pois com a expan-são
da malha urbana aumentou a pressão sobre o meio
ambiente. Atualmente existem áreas que apresentam
áreas degradadas do bioma Cerrado, especialmente as
que foram tradicionalmente ocupadas pela agricultu-ra
e pecuária, porém ainda possui atrativos naturais
muito valorizados na região central do Brasil, especial-mente
as cachoeiras, muito freqüentadas pelos turistas.
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NOTAS
1 O Plano de Metas traçava a forma para atingir o desenvol-vimento
de 50 anos, em um período de cinco anos duração
do mandato presidencial na década de 1950. Basicamente,
este visava acelerar o processo de acumulação, aumentan-do
a produtividade dos investimentos em atividades pro-dutoras.
Ao todo foram 30 metas e mais a meta síntese:
Brasília. Estas metas podem ser agrupadas em 6 grandes
grupos: 1) Energia; 2) Transportes; 3) Alimentação; 4) In-dústria
de Base; 5) Educação e 6) Construção de Brasília.
2 O termo “Entorno” empregado neste artigo, se refe-re
aos municípios, que estão localizados nas proxi-midades
do Distrito Federal e sofrem uma forte in-fluência
sócio-econômica desta unidade da federação.
3 A RIDE é um organismo constituído de 20 municípios do Es-tado
de Goiás e três do Estado de Minas Gerais. O objetivo
desse procedimento administrativo é estabelecer mecanis-mos
institucionais que permitam ao poder público, nos três
níveis tratar de forma adequada os problemas da região, bus-cando
o crescimento econômico e a preservação ambiental.
4 Os termos “Turismo e Lazer” serão grafados neste arti-go
com letra maiúscula para ressaltar a importância da ati-vidade
no contexto sócio-econômico de Pirenópolis-GO.
5 Fronteira, da maneira como foi empregado (Schvasberg, 2003),
se refere às áreas de cerrado no Planalto Central Brasileiro, que
foram preservadas durante muitos anos e que a partir de mea-dos
do século passado passou a ser ocupado pela agricultura,
para o cultivo de produtos destinados ao mercado externo.
6 Thomas Morus (1478-1535) foi o escritor que tratou da uto-pia,
da cidade sem propriedade privada, sem moeda e diferen-te
da sociedade feudal. Escreveu a obra intitulada “Utopia”.
7 Baseada na idéia do mito do profano e do sa-grado
na construção da Terra Prometida.
8 No mês de julho ocorrem as “Cavalhadas”, uma ence-nação
da guerra entre cristãos e mouros; a festa do Morro
é uma celebração religiosa, no pico mais alto dos Pirineus,
com procissão e missa; Festa da Capela do Rio do Pei-xe,
em louvor a Nossa Senhora de Santana; Festival de In-verno
são alguns exemplos de manifestações culturais.
9 A maior parte do volume de turistas que freqüentam Pirenó-polis,
cerca de 50 %, vem de Brasília, seguida de Goiânia com
um 17%, da cidade de São Paulo com 10%, e do Estado de
Goiás com 9% (a maioria dos goianos é proveniente de Aná-polis).
Esta situação ocorre, acima de tudo, devido ao acesso
fácil por carro e a curta distância que separa Pirenópolis-GO:
de Brasília, Goiânia e Anápolis, uma vez que 67 % dos en-trevistados
declararam utilizar veículos automotivos parti-culares
para chegar à cidade (Tradução do primeiro autor).
10 Conurbação: junções espontâneas de duas ou mais ci-dades
próximas por meio da expansão horizontal de
suas áreas (Lucci; Branco; Mendonça, 2005, p. 442).
11 A Região Metropolitana de Goiânia-GO foi criada em
30/12/1999 pela Lei Complementar Estadual n° 027.
12 Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
13 O Plano Diretor de Pirenópolis foi aprovado e transfor-mado
na Lei Municipal nº 0002/02 em dezembro de 2002.
14 Residências secundárias ou segunda residência são ter-mos
utilizados na literatura específica do turismo. Trata-se
de alojamentos turísticos particulares, utilizados es-poradicamente,
nos momentos de turismo e lazer, por
pessoas que residem em outros locais (Tulik, 2000).
Recibido: 28/01/09
Reenviado: 19/12/10
Aceptado: 22/12/10
Sometido a evaluación por pares anónimos