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© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Porto de Trás: etnicidade, turismo e patrimonialização
Patrícia de Araújo Brandão Coutoi
Universidade Federal Fluminense
Resumo: Este artigo tem por objetivo discutir o recente processo de patrimonialização cultural do
bairro do Porto de Trás, da cidade de Itacaré, situada no litoral sul do estado da Bahia; uma comunidade
étnica de afro-descendentes, tradicionalmente vinculada à pesca artesanal. Historicamente, os
moradores deste bairro, agrupados pelo pertencimento familiar, foram segregados no espaço urbano
por implicações raciais e sócio-econômicas. Com a introdução do turismo nos anos de 1990, o
bairro, que se preservou dos novos processos de ocupação, manteve suas práticas culturais e passou
a ser reconhecido como um reduto de “autenticidade” da cultura local. Pretendemos abordar os
processos de interação entre as esferas patrimoniais atuantes neste espaço turistificado, enfocando
particularmente a constituição da etnicidade dos moradores desta área.
Palavras-Chave: Turismo; Etnicidade; Patrimônio Cultural; Itacaré (BA); Populações Afro-brasileiras
Title: Porto de Trás: ethnicity, tourism and the recognition of heritage
Abstract: The article describes the process by which cultural heritage of Porto de Trás, a neigborhood
in Itacaré on the southern coast of Bahia, Brazil, has gained recognition. Porto de Trás is an ethnic
community of African Brazilians with a tradition of artisanal fishing. Historically, its residents,
organized in family groupings, have been segregated for their race and socioeconomic status.
Even with the arrival of the tourist industry in the 1990s and concomitant urban developments,
it maintained its traditional cultural practices, gaining recognition as an enclave of “authenticity”
referred to local culture. Interactions between the different spheres of heritage operating in this space
are discussed especially the construction of ethnicity by local residents
Keywords: Tourism; Ethnicity; Cultural Heritage; Itacaré (Bahia/ BR); African Brazilians.
iDoutora em Antropologia Pesquisadora Associada do INCT-InEAC / LeMetro – Laboratório de Etnografia Metropolitana.
IFCS/UFRJE-Mail: patcouto@centroin.com.br
Vol. 9(3) Special Issue págs. 19-30. 2011
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(3). Special Issue. 2011 ISSN 1695-7121
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Introdução
Este artigo1 tem por objetivo discutir
o recente processo de patrimonialização
cultural do bairro do Porto de Trás, uma
“comunidade étnica de afro-descendentes”
(Barth, 2000) tradicionalmente vinculada
à pesca artesanal e às atividades portuá-rias
da cidade de Itacaré, situada no lito-ral
sul do estado da Bahia. Enquanto a
cidade foi um porto de escoamento da pro-dução
de cacau da região - entre os anos de
1900 e 1960 – os moradores deste bairro,
agrupados pelo pertencimento familiar,
foram segregados no espaço urbano por
implicações raciais e sócio-econômicas.
Com a introdução da economia turística
nos anos 1990 e o subseqüente processo
de reconfiguração urbana, o bairro, que
se preservou dos novos processos de ocu-pação,
manteve suas práticas culturais e
incorporou os novos sentidos da afro-baia-nidade,
passou a ser reconhecido como um
reduto de “autenticidade” da cultura local.
Compreendendo a multiplicidade de
sentidos que o patrimônio como catego-ria
de pensamento evoca, entendemos
como “patrimonialização” os diferentes
processos de resignificação e reapropria-ção
desta categoria pelos distintos grupos
de interesse que o atualizam em termos
normativos e pragmáticos. Neste sentido,
pretendemos abordar os processos de inte-ração
entre as esferas patrimoniais atuan-tes
neste espaço turistificado, privilegian-do
o enfoque de reapropriação do ponto de
vista nativo. Interessa-nos em particular,
analisar os alicerces culturais que possi-bilitaram
a constituição da etnicidade de
seus moradores, essencial para o processo
de inversão simbólica na condição urbana
do Porto de Trás, um bairro historicamen-te
estigmatizado, que se distinguiu por
uma identidade cultivada e na atualidade
patrimonializada em diferentes sentidos.
A seguir, apresento os parâmetros con-ceituais
com os quais pretendo dialogar
na presente situação etnográfica2, estabe-lecendo
neste caso, as interfaces entre pa-trimônio
e turismo, para ao longo da ana-lise
etnográfica demonstrar o processo de
constituição da “etnicidade” (Barth, 1994)
dos moradores do Porto de Trás, ao viven-ciarem
o fenômeno turístico e refletirem
sobre as atribuições internas e externas à
identificação do grupo.
O patrimônio em sua multiplicidade
de sentidos
Ao discutir a noção de patrimônio en-tendido
como portador de memória cole-tiva,
Le Goff (1998) identifica três fases
históricas para a configuração desta no-ção.
Num primeiro período, está associa-do
ao processo de formação dos Estados
Nações, quando seu sentido foi ancorado
pelo Estado na identificação de símbolos
de um passado nacional comum. Seu uso
crescente entre as duas grandes guerras
mundiais, inaugura uma segunda fase
quando passa a ser apropriado por insti-tuições
e organizações internacionais. A
partir dos anos de 1960, a noção de patri-mônio
expande-se de sua condição históri-ca
para sua condição social; do patrimônio
herdado ao reivindicado; de sua percepção
visível e material a uma percepção invisí-vel
e imaterial.
A noção de patrimônio intangível se
vincula a moderna concepção antropoló-gica
de cultura, uma vez que seu sentido
desmaterializado e simbólico o permite
trafegar no plano do intangível. Na atu-alidade,
as diferentes abordagens que
convergem para o reconhecimento de um
patrimônio e os significados que lhes são
atribuídos não se excluem, pelo contrário,
são complementares, posto ser necessário
haver “ressonância” para a identificação
de um objeto como patrimônio (Gonçal-ves,
2004). Neste sentido, patrimônio e
memória coletiva, formam um léxico de
expressões cuja característica principal
é a multiplicidade de sentidos que lhes
são atribuídos, tanto pelo senso comum,
quanto por agentes estatais especializa-dos
em coletar fragmentos culturais.
Portanto, como lugar da identidade
de um passado resguardado ou evoca-ção
necessária do presente e do futuro,
como formas fixas ou intangíveis, porém
portadoras de tempo e de vivências, a ex-pressão
ao longo do tempo acumulou uma
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Patrícia de Araújo Brandão Couto
série de noções que se configuraram num
vasto campo semântico. Justo por isto,
Gonçalves (2003) nos sugere posicionar o
patrimônio como “categoria de pensamen-to”,
presente em toda e qualquer socieda-de
humana. Em outras palavras, é neces-sário
identificar e comparar os diversos
contornos semânticos da categoria patri-mônio
para compreendê-la no tempo e no
espaço, estabelecendo as distinções entre
o que é normativo e o que é pragmático
sobre o patrimônio.
Isto significa dizer que em qualquer
situação que a questão patrimonial se
imponha, não devemos pensá-la como um
construto único, de amarras bem defini-das
e um sentido comum para o seu em-prego.
Seus sentidos e significados estão
diretamente associados aos atores, gru-pos,
agentes e agências que fazem uso
do conteúdo desta categoria, o que impli-ca
em afirmar que não necessariamente
um grupo ou segmento social que possui
um patrimônio cultural faça uso desta
expressão de forma direta. Muitas vezes,
principalmente entre os grupos étnicos de
origem ágrafa, como é o caso dos morado-res
do bairro do Porto de Trás, a compre-ensão
do conteúdo patrimonial pode estar
condensada no plano simbólico, onde se
produzem os sentidos culturais.
Em termos etnográficos, tanto o “pa-trimônio”
quanto o “fenômeno turístico”
podem ser qualificados como “fatos sociais
totais” (Mauss, 1974) porque se caracteri-zam
como elementos mediadores que atra-vessam
diversos planos simbolicamente
construídos no domínio social (Couto,
2007b). Na situação em questão é o tu-rismo,
como “rizoma” (Barretto, 2003)3,
que em sua imprevisibilidade permite o
engendramento de uma multiplicidade de
sentidos patrimoniais e produz uma nova
consciência étnica nos moradores do por-to.
Um pouco da história do município
De acordo com os habitantes do muni-cípio,
a história de Itacaré se divide em
duas fases: antes e depois da construção
da estrada (1996-1998). Contam os mora-dores
que a cidade teve sua origem numa
aldeia indígena Guerém catequizada pe-los
jesuítas que aí vieram se instalar no
início do século XVIII e introduzir o plan-tio
da cana-de-açúcar.
Os catequizadores construíram uma
capela em homenagem a São Miguel e ba-tizaram
a nova povoação de São Miguel
da Barra do Rio de Contas no ano de 1718.
Por sua extensa possibilidade de navega-ção,
ainda no século XVIII, o Rio de Con-tas
transformou-se no eixo de ligação en-tre
o interior da Chapada Diamantina e
o litoral, no qual São Miguel da Barra do
Rio de Contas servia como apoio náutico
devido às condições facilitadoras de sua
foz. Assim, a pequena vila, devido a sua
localização no encontro das águas ribeiri-nhas
junto ao mar, acabou por se consti-tuir
num ponto estratégico para embar-que
e desembarque de produtos da época
e para o tráfico de escravos que serviam
às fazendas locais.
A cana de açúcar não vingou como pro-duto
regional. Foi somente em meados
do século XIX que a região do litoral sul
do estado saiu de sua condição de forne-cedora
de produtos de subsistência para
ganhar relevância econômica e se tornar
a principal região produtora de cacau do
estado (Falcon, 1995)4. A partir deste pe-ríodo,
o porto de Barra do Rio de Contas
ganhou um novo sentido. Como único vín-culo
de transporte náutico entre a região e
a capital de São Salvador, passou a drenar
toda a produção cacaueira do sul do esta-
Igreja de São Miguel e Monumento ao Cacau (Foto:
Patricia A. B. Couto)
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do da Bahia.
Até então, habitado essencialmente
por pescadores e ribeirinhos, muitos de-les
de origem indígena ou filhos e netos de
escravos, oriundos, tanto dos quilombos
e mocambos regionais (Spix e Martius,
1981; Reis, 2005)5 quanto das fazendas
locais, o pequeno povoado passou a atrair
e agregar novos interesses de segmentos
sociais mais abastados. A intensidade da
vida comercial do Rio de Contas decorren-te
da riqueza obtida com o cacau fez com
que o povoado de São Miguel ganhasse
ares de vila. Durante o terceiro ciclo do
cacau (1895/1930), luxuosas casas de ve-raneio
foram construídas pelos fazendei-ros
do interior e comerciantes, que passa-ram
a residir na área do porto. Assim, em
torno da igreja de São Miguel, no alto de
uma pequena colina junto ao mar, desen-volveu-
se o centro da vila.
A região portuária ganhou construções
portentosas que estampavam a riqueza de
seus proprietários. A abastança começa a
se esvair no final da década de 20, quando
o porto de Barra do Rio de Contas perde
parte de sua importância estratégica para
o escoamento da produção cacaueira. Esta
perda se deveu essencialmente a dois fato-res:
a construção do porto de Ilhéus entre
os anos de 1920 e 1926 e a extensão fer-roviária
que conectou os povoados desta
área ao novo porto, mais central para a
região sul. A partir de 1931, o município
e sua sede passam a se chamar Itacaré.
Embora tenha perdido sua relevância
portuária regional, seu porto continuou a
escoar a produção municipal e a embarcar
os passageiros que rumavam para Salva-dor
até o final da década de 1960, quan-do
foi desativado devido ao assoreamento
crescente do Rio de Contas.
O fechamento do Porto de Itacaré en-cerrou
seus habitantes num relativo iso-lamento
uma vez que a população, antes
acostumada à circulação costeira permi-tida
pela navegação passou a enfrentar
sérias dificuldades de circulação devido
a seus frágeis caminhos terrestres. Esta
situação se agravou ainda mais com a cri-se
econômica do cacau nos anos de 1980,
por decorrência da queda do produto no
mercado internacional e a subseqüente
incidência do fungo chamado “vassoura
de bruxa”, uma praga que varreu as plan-tações
de cacau do sul do estado da Bahia.
A partir de então o município entrou em
franca decadência por não dispor de ou-tros
produtos que mobilizassem recursos
para a região.
A “crise do cacau” não afetou somente
o município, mas todo o sul do estado da
Bahia. Os baixos preços ditados pelo mer-cado
e a ausência de um fruto saudável,
provocaram o endividamento dos fazen-deiros,
o desemprego de grande parte dos
trabalhadores rurais e a estagnação da
economia municipal.
Dentre as estratégias governamentais
para reordenar a economia do estado, foi
criado no ano de 1991, o PRODETUR/
BAHIA - Plano de Desenvolvimento do
Turismo da Bahia – com a finalidade de
reposicionar a indústria turística estadu-al
no ranking nacional.
Este planejamento elaborou uma sé-rie
de metas e redesenhou a geografia
turística do estado dividindo-o em seis
áreas: Costa dos Coqueiros, Costa do
Dendê, Costa do Descobrimento, Costa
das Baleias, Costa do Cacau e Chapada
Diamantina. Como resultante do plane-jamento
governamental para a expansão
Fonte: http://www.costadocacau.com.br/pt/
costadocacau.php
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e implantação de novas áreas turísticas,
o município de Itacaré, situado na então
denominada Costa do Cacau e possuidor
de um dos últimos redutos da mata-atlân-tica,
foi beneficiado com a construção da
Estrada Parque Ilhéus-Itacaré, entre os
anos de 1996-1998.
Observa-se, portanto, a atribuição de
valores patrimoniais por parte do Es-tado
com relação à demarcação de seus
possíveis territórios turísticos. Em ou-tras
palavras, o estado nomeou os futu-ros
territórios turísticos de acordo com
suas características naturais, culturais
e históricas, com o intuito de viabilizar
economicamente o projeto governamental
perante as agências de fomento interna-cional
a exemplo do Banco Interameri-cano
de Desenvolvimento (BID) que teve
intensa participação na concretização do
projeto turístico estatal (PRODETUR/
BAHIA) e posteriormente na efetivação
do PRODETUR NE I (Couto, 2007)6 .
No caso do município de Itacaré, o selo
patrimonial atribuído pelo Estado está as-sociado
ao imaginário coletivo posto que
no plano simbólico, vincula o território
municipal às representações da “cultura
do cacau e seus coronéis”, extensamente
divulgada nas publicações internacionais
da literatura produzida por Jorge Amado,
evocando o patrimônio cultural da região.
Mas a sustentabilidade econômica do pro-jeto
foi viabilizada por seu patrimônio
natural, através da criação de uma Área
de Proteção Ambiental na mata atlântica
do município. Portanto, o selo patrimonial
recorre aos recursos naturais e culturais
da região.
Implementada com finalidades a priori
econômicas, a estrada rapidamente atin-giu
seu objetivo, pois se antes Itacaré era
freqüentada somente por veranistas baia-nos,
viajantes alternativos e surfistas em
busca de paraísos naturais e ondas perfei-tas
que enfrentavam as difíceis condições
de acesso terrestre para usufruir das belas
paisagens do município, a partir de então,
esta localidade tornou-se acessível nacio-nal
e internacionalmente. A facilidade de
acesso, além de possibilitar a presença de
fluxos populacionais sazonais, acarretou
uma onda migratória em direção à região,
tanto por parte das populações circunvi-zinhas
em busca de novas oportunidades
econômicas, quanto por parte de peque-nos
empresários e grandes especuladores
imobiliários internacionais e nacionais,
vindos da região sudeste. Tais transfor-mações
decorrentes do processo de absor-ção
do fenômeno turístico têm desencade-ado
a re-configuração social, econômica,
territorial e simbólica das áreas urbanas
e rurais do município (Couto, 2007a).
De fato, a estrada trouxe os turistas e o
turismo reaqueceu a economia municipal
com a presença de novos investidores que
instalaram pousadas, hotéis, agências e
operadoras ecoturísticas na localidade,
mas as novas oportunidades de trabalho
também atraíram outros “estrangeiros”
(Simmel, 1983) dispostos a encontrar um
lugar no mercado de trabalho insurgente.
As novas “co-presenças”(Urry, 2005), con-seqüentes
à facilidade de acesso e mobi-lidade,
acabaram por gerar uma espécie
de antagonismo latente entre aqueles que
são considerados como “de dentro” e “de
fora” do município (Couto, 2006), ou seja,
antigos e novos moradores ou “estabeleci-dos
e outsiders” (Elias e Scotson, 2000),
uma vez que o “princípio da antiguidade”
vem acirrar as reivindicações pelo “direito
ao lugar” e ao mercado de trabalho insur-gente.
As disputas nas relações de poder, ex-plicitadas
nos pares de oposição; superio-ridade
e inferioridade moral e social; au-to-
percepção e reconhecimento; exclusão e
pertencimento; passaram a atravessar de
forma objetiva as condições existenciais
de seus habitantes, que lutam para en-contrar
uma posição na nova hierarquia
sócio-econômica local posto que o fluxo
populacional que afluiu para o município
reconfigurou valores, hábitos, costumes e
redesenhou as territorialidades urbanas
e rurais do lugar (Couto,2006). Mas o fe-nômeno
turístico, como um “rizoma”, se-gue
os caminhos do imponderável e se por
um lado reifica a acertiva de seu impacto
avassalador e mutante para as localida-des
onde aporta, por outro, pode reservar
gratas surpresas para os que dele partici-
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pam ou o observam.
A cidade como lugar: para entender
a paisagem
Para um espaço ser reconhecido como
lugar, é preciso que tenha sido contornado
e preenchido de sentidos, histórias, me-mórias
e representações, produzidas tan-to
pela humanidade que o habita, quanto
pelos demais coletivos com o qual intera-ge,
uma vez que as identidades sociais são
processos resultantes de interações cole-tivas.
Ezra Park (1976) em seus estudos de
Ecologia Humana constata que os ho-mens
se organizam segundo dois princí-pios
ecológicos que operam para estabele-cer
uma ordem comunal. Estes princípios
são denominados como de “dominância e
sucessão”: o primeiro refere-se às chama-das
áreas naturais, a partir das quais os
homens se organizam; o segundo obede-ce
à lógica das seqüências ordenadas de
mudança e que no caso dos aglomerados
urbanos refere-se ao processo de expansão
nas diferentes direções. Dos doze bairros
atuais da cidade de Itacaré somente qua-tro
fazem parte de sua formação original,
quero dizer, são anteriores a construção
da estrada, finalizada no ano de 1998: o
Centro, o Porto de Trás, o Marimbondo e
o Angelim.
O Centro, que se estende pela Orla ou
Praia da Coroa, no passado fora reconhe-cido
por seus casarões de grande porte
como o bairro da elite branca do lugar,
formada por comerciantes e grandes pro-prietários
da cultura cacaueira e em torno
do qual se estabeleceu o centro adminis-trativo
e comercial da cidade. O declínio
da economia cacaueira teve por conse-qüência
a decadência de seus casarões e
a mudança no perfil dos habitantes que
ali permaneceram como a gente branca e
remediada do lugar. O bairro manteve-se
como centro administrativo e aos poucos
foi se tornando uma área de cobiça para
o desenvolvimento das atividades turísti-cas
que na década de 1990 começaram a
despontar e que ao longo dos últimos anos
foram responsáveis pela revitalização da
área. Como ocupação “sucessiva” na área
sul da cidade existia somente o bairro do
Angelim, um bairro de pescadores contí-guo
ao Centro e que com o processo de tu-ristificação
foi parcialmente integrado às
Remanescente da época de auge do cacau no centro
da cidade (Foto: Patricia A. B. Couto)
Uma lateral da rua principal de Porto de Trás
(Foto: Patricia A. B. Couto)
Segunda rua; fruto do crescimento populacional do
porto (Foto: Patricia A. B. Couto)
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Patrícia de Araújo Brandão Couto
atividades comerciais de novos moradores.
Posicionados a noroeste do centro, por-tanto
situados na área ribeirinha, perma-neceram
incrustrados e quase invisíveis
atrás do morro do cemitério, os bairros do
Porto de Trás e do Marimbondo. Situado
às margens do Rio de Contas, o Porto de
Trás, teve sua origem no agrupamento
das famílias Cruz, Souza, Silva, Santos e
Rocha, cuja estreita relação de parentesco
é explicada pelos moradores como resul-tante
da proveniência do grupo, que teria
se originado no antigo quilombo do Oiti-zeiro
(Reis, 2005), em tempos idos, esta-belecido
rio acima.
Apesar dos sobrenomes citados, todos
se consideram como pertencentes a uma
única família e isto é o que se verifica,
quando se passeia pelo pequeno bairro,
onde a entrada de carros é socialmente
recriminada já que as crianças brincam
na rua até o anoitecer, sob os olhos e cui-dados
da extensa parentela de tios, avós e
primos que os cerca. Cerca de 400 pessoas
vivem na área do Porto de Trás. Estas fa-mílias,
que vivem da atividade pesqueira
e que anteriormente também trabalha-ram
na estiva do porto, ainda hoje são
conhecidas pela forma reservada como
mantiveram a privacidade dos moradores
estabelecidos na longa e estreita rua que
desemboca no rio, e que atualmente con-ta
com um segundo quarteirão de casas
construídas num sentido paralelo à mes-ma.
Dando continuidade à ocupação pre-dominante
nas margens do rio, na área
interior ao Porto, situa-se o Marimbondo.
Segundo seus moradores - também em
sua grande maioria negros – esta área
teve por origem um aglomerado de casas
de taipa, construídas pelos ribeirinhos de
mesma proveniência, que desceram o rio
para comercializar os produtos de suas
roças e trabalhar nas docas do porto de
escoamento do cacau. Apesar de propiciar
uma leitura exterior de continuidade étni-ca
e identitária, devido à sucessão espa-cial
que une os dois bairros7 e dos vínculos
de parentesco e práticas culturais co-muns,
os dois lugares não se reconhecem
por uma identidade única, em decorrência
da alegada diferença de procedência fami-liar,
muito embora admitam a existência
de relações de parentesco.
O que se percebe é que existe uma
relação de complementaridade entre as
duas áreas, mas que estas cultivam certa
rivalidade com relação à legitimidade e ao
reconhecimento dos legados culturais que
lhes são atribuídos. São estes legados que
conferem aos dois bairros uma posição
diferenciada perante as demais áreas de
ocupação. Mas é fato que após a constru-ção
da estrada, somente o Porto de Trás
manteve sua configuração anterior, pre-servando-
se espacialmente da heteroge-neidade
sócio-cultural desencadeada pelo
fenômeno turístico.
Já o Marimbondo, tornou-se uma
área de passagem para as novas áreas
de ocupação: a “Baixa da Gia”, uma es-treita
faixa de mangue, ocupada pelos
ribeirinhos que desceram da área rural
à procura de trabalho nas atividades tu-rísticas
e a “Passagem”, uma área de des-dobramento
da população nativa, recen-temente
ocupada por algumas pousadas
construídas na beira do Rio de Contas e
por moradores provenientes de outras lo-calidades.
Portanto o Marimbondo não
foi preservado do processo de hibridiza-ção
da nova configuração urbana e suas
singularidades fronteiriças diluíram-se
na paisagem.
Além dos dois novos bairros na área
noroeste da cidade surgiram na área sul
e oeste da faixa litorânea: a Pituba, um
Porto de Trás da perspectiva do Rio das Contas
(Foto: Patricia A. B. Couto)
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bairro ícone da integração local atual, re-conhecido
pela complexa mistura de seus
habitantes - pescadores, surfistas e alter-nativos;
Conchas do Mar I e II, que em
toda sua extensão litorânea concentra as
principais pousadas de bom padrão de Ita-caré;
São Miguel ou Alagados, um peque-no
trecho de habitações precárias entre a
Pituba e os loteamentos da Concha; Alto
da Ribeirinha, que vem se constituindo
como um bairro de moradia para padrões
médio e alto em oposição ao seu vizinho
Bairro da Linha, também conhecido como
Santo Antonio e reconhecido localmente
como uma área de expansão desordenada
da cidade, que acolheu as populações ru-rais
e circunvizinhas atraídas pelas novas
oportunidades de trabalho.
Singularidades do Porto de Trás
Como o processo de hibridização turís-tica
tende por vezes a descaracterizar ou
tornar difusos os traços culturais origi-nais
das localidades onde este fenômeno
aporta, a manutenção das singularidades
culturais e identitárias do bairro do Porto
de Trás, fez com que esta área se tornas-se
um símbolo de resistência cultural dos
novos tempos citadinos. Ironicamente, o
que se percebe neste caso em particular, é
uma inversão dos valores, uma vez que os
bairros do Porto de Trás e do Marimbondo
passaram a ser reconhecidos no imaginá-rio
urbano como os guardiões da “cultura
autêntica” da cidade de Itacaré.
Digo ironicamente, porque no passa-do,
durante o auge da cultura cacaueira,
os dois núcleos contíguos de ocupação, ti-nham
suas representações como lugares,
remetidos ao espaço de moradia dos ne-gros,
ex-escravos, servidores dos senhores
do cacau, confinados no que os próprios
moradores do Porto e do Marimbondo
denominam como a “antiga senzala da
cidade”. A geografia deste confinamento
se revela na própria posição que ocupa-ram
dentro do espaço urbano. Enquanto
os brancos ricos ou remediados do lugar,
se fixaram na região de “dominância” e
construíram seus casarões na colina ou
beira mar, os pretos e pobres elevaram
suas casas de taipa numa área sucessiva
beira rio, num espaço de sombra, invisível
à vigilância e abastança dos primeiros.
Esta segregação racial, social e econô-mica,
explicitada na própria configuração
do espaço urbano em suas áreas de con-finamento
e interação social, permitiu a
constituição da etnicidade dos negros do
Porto de Trás e do Marimbondo. Enten-do
o conceito de etnicidade no sentido que
lhe confere Frederick Barth (2000), ou
seja, uma identidade étnica que se con-cebe
como dinâmica e interativa e que se
mantém de forma duradoura pela eficácia
de sua atualização nos processos de dis-tinção
entre o nós e os outros. Portanto,
não se trata da preservação de práticas
culturais por uma situação de isolamento,
mas sim, de uma identidade cultivada e
propiciada pela construção de referenciais
étnicos amparados nas relações de perten-cimento,
exclusão, segregação e interação
entre os moradores do bairro e os demais
habitantes da cidade.
A coesão interna se justifica em prin-cípio
por uma argumentação que se arti-cula
em torno do porto como um espaço
Canoas de pesca no Rio das Contas (Foto: Patricia
A. B. Couto)
Moradores do porto na saída para a pesca e para
passeios turísticos (Foto: Patricia A. B. Couto)
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Patrícia de Araújo Brandão Couto
comum a famílias negras que se uniram
por alianças matrimoniais até constituí-rem
uma coletividade. A história real ou
suposta do lugar remete seus fundadores
a remanescentes do quilombo do Oitizei-ro8,
a escravos foragidos das fazendas e
dos navios negreiros que por ali passa-vam.
Reclusos nesta área de ocupação
cultuaram seus ancestrais e perpetuaram
a solidariedade étnica através de práticas
culturais que sobrevivem nas “festas do
Porto”, tais como o samba de roda, a fo-lia
de reis, o bicho caçador, a capoeira dos
estivadores e as festas de São João. Por-tanto,
um “banco de símbolos” (Sansone,
2000) amalgamado por uma identidade
cultivada. Observa-se deste modo que os
operadores simbólicos desta etnicidade
se constituem a partir de um território
comum entre partícipes de uma história
real ou suposta que os uniu por laços con-sangüíneos
e traços culturais perpetua-dos
em suas práticas sociais independente
dos infortúnios da exclusão.
Um fator essencial para a renovação e
cultivo desta identidade foi a “chegada da
estrada”. Isto se explica pelo fato de que
entre as décadas de 1960 e 1990, o assore-amento
do Rio de Contas e as dificuldades
de acesso terrestre, mantiveram a cidade
de Itacaré num relativo isolamento, con-sequentemente,
a população do Porto de
Trás e do Marimbondo permaneceu vin-culada
à atividade tradicional pesqueira,
mantendo-se contida pelos limites da di-visão
social do trabalho e dos estigmas
decorrentes. A construção da estrada per-mitiu
não somente a chegada de novos mo-radores
e oportunidades de trabalho, mas
facilitou sobremaneira a circulação dos
antigos moradores que até então sofriam
com a dificuldade de deslocamento. Neste
sentido, a população jovem do Porto teve
uma oportunidade diferenciada ao entrar
em contato com outras realidades e loca-lidades.
Ainda na década de 1990, muitos mo-radores
jovens do Porto foram para Sal-vador
e a livre circulação permitiu-lhes
uma expansão da consciência cultural e
política. O acesso às questões emergentes
no movimento negro, o discurso pela valo-rização
da cultura afro-baiana, o cultivo
da auto-estima e a entrada no fluxo da
cultura do Atlântico Negro, através de in-terações
com o movimento rastafari e com
o “banco de símbolos” das africanidades
afro-baianas contemporâneas, redimen-sionaram
a consciência étnica destes jo-vens.
Ao retornarem ao Porto de Trás, le-varam
consigo novos ingredientes para a
atualização da etnicidade de seus morado-res.
Digo atualização porque não negaram
as práticas culturais de seus pais e avós,
pelo contrário, reforçaram a importância
de seus legados culturais, portanto patri-moniais,
ao mesmo tempo em que incorpo-raram
o estilo da negritude baiana atual
e passaram a investir na manutenção da
coesão grupal.
Ao refletir sobre as “temáticas perma-nentes
e emergentes na etnicidade”, Bar-th(
1994), atualiza suas proposições face
às questões emergentes e estabelece três
níveis ou planos interpenetráveis para
compreendermos as forças que interagem
na formação de uma identidade étnica. No
nível micro, modela-se os processos que
produzem a experiência e formação das
identidades; no nível médio, identificado
como o campo da liderança e da retóri-ca,
criam-se os processos que mobilizam
os grupos para diversos propósitos; no
nível macro, referendado no Estado, está
as criações de burocracias que distribuem
direitos e proibições de acordo com crité-rios
formais.
No caso específico do Porto de Trás, o
Atividade na Associação de Moradores do Porto de
Trás (Foto: Patricia A. B. Couto)
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(3). Special Issue. 2011 ISSN 1695-7121
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“nível micro” se explicita através da cultu-ra
compartilhada e cultivada pelo grupo,
que mesmo passando por uma longa traje-tória
de estigma e segregação racial, não
abre mão de seus valores, suas práticas e
de seu patrimônio cultural perpetuando-o
através de gerações. O nível médio surge
justamente quando os jovens do porto, ao
saírem da localidade encontram a res-sonância
de suas praticas culturais de
origem no “banco de símbolos” das afri-canidades
afro-baianas contemporâneas,
tomam consciência de seu patrimônio
cultural e retornam com novos ideais,
valorizando a unidade e a coesão grupal,
fundando inclusive, a Associação dos Mo-radores
do Porto de Trás, ainda em fins
da década de 1990.
No nível macro o processo de reconhe-cimento
tem se dado num movimento di-fuso,
porém crescente. Embora o poder
público local, vinculado às velhas oligar-quias
da economia cacaueira tenha his-toricamente
ignorado as necessidades e
direitos dos habitantes desta área, a ar-ticulação
dos moradores do Porto em tor-no
de seu patrimônio, através de contatos
com estrangeiros e turistas que visitam a
localidade de Itacaré e são atraídos pelas
práticas culturais do bairro em busca dos
signos de “autenticidade da cultura local”,
tem despertado o interesse de algumas
ONGs internacionais, o que vem possibi-litando
alguns benefícios para os morado-res
do Porto.
A título de exemplo, a CARE Brasil se
encarregou da construção dos banheiros
nas moradias do bairro, que até muito
recentemente só contava com um único
banheiro público. No ano de 2006, um
livro sobre “Biatatá”, uma lenda do Por-to
foi confeccionado pelas crianças locais
e publicado pela editora espanhola Libre
Obert, de Barcelona. Há cerca de três
anos, uma empresa turística internacio-nal
financiou a construção de um centro
cultural no interior do bairro, solidifican-do
um espaço anteriormente criado pelos
jovens da “Tribo do Porto”, um grupo for-mado
por capoeiristas da área.
Estes jovens, atualmente lideram a
Associação de Moradores que está plei-teando
junto a Fundação Palmares o
reconhecimento do Porto de Trás como
quilombo urbano, com o intuito de garan-tirem
a manutenção do território para as
famílias tradicionais locais, participarem
das políticas de reparação propostas pelo
Estado e gerarem capacitação profissional
para a população jovem do Porto. Median-te
o reconhecimento internacional das ri-quezas
patrimoniais do Porto, a prefeitu-ra
e as empresas turísticas locais, ainda
que de modo superficial, vem buscando
uma aproximação com os moradores, seja
citando-os como patrimônio da cultura lo-cal
ou negociando sua inclusão nos calen-dários
festivos.
O contexto etnográfico atual nos re-porta
à De Vos (apud Vermeulen, H. e
Govers, 1994), segundo o autor, a proposi-ção
de organização social pressuposta por
Frederic Barth, alega que a etnicidade,
pensada enquanto organização social re-quer
interação regulada e como elemento
da cultura implica na consciência da di-ferença,
consciência esta que pode se dar
em níveis tanto baixos quanto altos. No
primeiro caso, as pessoas aceitam as dife-renças
como adquiridas, não há um movi-mento
étnico propriamente dito porque as
reflexões não ultrapassam as fronteiras
do grupo. No segundo caso, a interação
aumenta, o grupo toma consciência de sua
singularidade cultural e começa a exigir
seus direitos de reparação. A evidência
dos fatos observados nos conduz a cons-tatação
de que os moradores do Porto de
Trás vêm cumprindo a trajetória de cons-tituição
de uma etnicidade própria.
Conclusão
Ainda que consideremos o fenômeno
turístico como um “fato social total” que
provoca mudanças avassaladoras em qua-se
todas as sociedades onde aporta, é pre-ciso
observar que nem todas as mudanças
implicam num processo de descaracteri-zação
das culturas locais. Tal qual um
rizoma, este fenômeno imprevisível de-monstra
que o movimento dialético é pos-sível.
No caso do Porto de Trás, o turismo,
Porto de Trás: etnicidade, turismo e patrimonialização
29
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(3). Special Issue. 2011 ISSN 1695-7121
Patrícia de Araújo Brandão Couto
decorrente da construção da estrada, pro-vocou
a reconfiguração do espaço urbano;
acirrou a resistência étnica mediante as
novas co-presenças, ao mesmo tempo em
que possibilitou novos processos de inte-ração
social. São estas interações que per-mitem
a atualização e identificação dos
legados culturais locais que serão patri-monializados,
tanto pelos de dentro quan-to
pelos de fora.
Que não se pense que o reconhecimen-to
e a visibilidade tornaram os moradores
do Porto menos atentos e desconfiados. Os
novos ventos de mudança não apagaram
as lembranças da segregação étnica sofri-da
por mais de um século. Mas é fato que
parecem mais convictos ou conscientes do
diferencial que a etnicidade, aqui compre-endida
como consciência política da dife-rença,
lhes proporcionou, uma etnicidade
construída sob os alicerces do patrimônio
cultural acumulado pelo capital simbólico
desta coletividade. Na atualidade, ser do
Porto de Trás significa ter orgulho da pró-pria
origem e por ironia do destino e do
capital, ser detentor da “cultura autentica
do lugar”, tão cobiçada pelo turismo.
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NOTAS
1 O presente artigo foi originalmente apresentado
no grupo de trabalho “Turismo, cultura e sociedade:
tradição e modernidade” da 27ª Reunião Brasileira
de Antropologia, realizada em agosto de 2010, em
Belém do Pará, Brasil. Agradeço especialmente as
contribuições de Barretto e Banducci no que se refe-re
a ampliação reflexiva deste trabalho.
2 Resultante de pesquisa realizada para minha
tese de doutorado: “O direiro ao lugar: situações
processuais de conflito na reconfiguração social e
territorial do município de Itacaré, BA”, defendida
do Programa de Pós-Graduação em Antropologia
da Universidade Federal Fluminense (PPGA/UFF:
2007).
3 No referido artigo, a autora se inspira no concei-to
de rizoma desenvolvido por Deleuze e Guatarri,
para pensar o turismo, uma vez que tal como o ri-zoma,
o fenômeno turístico é imprevisível, nunca se
sabe para onde vai expandir ou como vai ressurgir.
4 Segundo o autor, a cultura do cacau no sul da
Bahia se desenvolveu em 3 ciclos: 1746/1820 – plan-tio
e desbravamento da região seguindo-se a es-tagnação
sem consequências; 1820/1895 – reinício
do plantio com as primeiras exportações chegando
a atingir 100 mil sacos; 1895/1930 – afirmação do
cacau como base econômica da região sul do estado.
5 De acordo com os relatos históricos a colonização
dispersa e as densas florestas de mata atlântica
muito contribuíram para a fuga de escravos e as
formações quilombolas desta região.
6 De acordo com os arquivos pesquisados e relativos
aos projetos governamentais, o sucesso do projeto do
estado da Bahia deu subsídios para a elaboração do
PRODETUR NE I, que envolveu todos os estados do
Nordeste e foi inicialmente financiado pelo Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES)
7 O Porto de Trás só tem acesso pelo Rio de Contas
e pelo Marimbondo.
8 Segundo Reis (2005) por ordem do governador da
Bahia João de Saldanha da Gama e Mello e Torres
Guedes de Brito, o Quilombo do Oitizeiro foi total-mente
dizimado no ano de 1807.
Recibido:
Reenviado:
Aceptado:
Sometido a evaluación por pares anónimos
30/09/2010
29/11/2010
18/12/2010