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Vol. 6 Nº 2 págs. 361-375. 2008 Special Issue – Número Especial www.pasosonline.org © PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121 Notas de investigación A gastronomia eslava em Irati como possibilidade de atrativo turístico Paula Turra Grechinski Poliana Fabíula Cardozoii Universidade Estadual do Centro-Oeste (Brasil) Resumo: Este trabalho verifica a oferta de pratos eslavos nos estabelecimentos gastronômicos em Irati e o interesse dos turistas e residentes em provar desta gastronomia. Na cidade existem descendentes de poloneses e ucranianos, que mantêm costumes gastronômicos de antepassados. Considera-se a gastro-nomia eslava como potencial para o turismo em Irati. Realizou-se pesquisa bibliográfica e de campo, e constatou-se que os estabelecimentos pesquisados ofertam um dos principais pratos típicos da gastrono-mia eslava, pierogi/perohê. Porém, os clientes dos estabelecimentos têm interesse em provar outros pra-tos, e escolheram o sábado como o melhor dia da semana para tal. Existe interesse pela oferta da gastro-nomia eslava em Irati, tanto para proprietários dos restaurantes, quanto para clientes, porém não existem estabelecimentos gastronômicos que supram esta demanda. Palavras-chave: Cultura; Gastronomia eslava; Irati-Pr; Turismo; Imigração eslava; Turismo gastronô-mico. Abstract: This essay verifies offers of Slavic plates in the gastronomic establishments in Irati and the interest of the tourists and residents in proving of this gastronomy. In the city Poles and Ukrainians exist descending of, that keep gastronomic customs of ancestor. It is considered Slavic gastronomy as poten-tial for the tourism in Irati. Bibliographical research and of field research was become fulfilled, and was evidenced that the searched establishments offer one of main typical plates of the Slavic gastronomy, pierogi/perohê. However, the customers of the establishments have interest in proving other plates, and had chosen Saturday as optimum day of the week for such. Interest exists for offers of the Slavic ga-stronomy in Irati, as much for proprietors of the restaurants, how much for customers, however gastro-nomic establishments do not exist that supply this demand. Keywords: Culture; Slavic gastronomy; Irati-Pr; tourism; Slavic immigration; Gastronomic tourism i Paula Turra Grechinsk. Bacharel em Turismo pela Universidade Estadual do Centro-Oeste. Docente da mesma IES. E-mail: peul_t@hotmail.com. ii Poliana Fabíula Cardozo. Bacharel e Mestre em Turismo (Universidade Estadual do Oeste do Paraná e Universidade de Caxias do Sul). Doutoranda em Geografia (Universidade Federal do Paraná). Professora assistente e pesquisadora da Universidade Estadual do Centro-Oeste. E-mail: polianacardo-zo@ yahoo.com.br 362 A gastronomia eslava em Irati ... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 Introdução Este trabalho trata sobre gastronomia e versa acerca das relações entre gastrono-mia, etnicidade e suas interfaces com o turismo, considerando a gastronomia esla-va como um atrativo aos estabelecimentos gastronômicos na cidade de Irati, estado do Paraná, na região Sul do Brasil. Irati, cidade localizada a cerca de 156 km da capital do estado, Curitiba, possui uma população formada pela mescla de diferentes etnias, entre elas, os poloneses e ucranianos (Prefeitura Municipal de Irati, 2007). A influência destes imigrantes é predominante na cidade até hoje. Podem-se notar os costumes e tradições polonesas e ucranianas na literatura, arte, música, dança, arquitetura, costumes religiosos, modo de falar e na gastronomia da cidade. Ao longo do trabalho, os poloneses e ucranianos serão denominados generica-mente por eslavos. Segundo o dicionário Aurélio (1995), o termo eslavo refere-se ao grupo étnico e lingüístico da Europa central e oriental, e divide-se em três grandes sub-grupos: eslavos ocidentais (poloneses e tcheco-eslovacos), eslavos meridionais (búlgaros, servo-croatas e eslovenos) e esla-vos orientais (russos e ucranianos). Os povos eslavos diferenciam-se pelo idioma, costumes e origem histórica, mas um dos pontos em comum entre eles é a gastronomia. Os poloneses e ucranianos utilizam basicamente os mesmos ingredien-tes e maneiras de preparo dos alimentos, e na maioria das vezes altera-se somente a pronúncia ou o nome do prato. Podem-se citar como exemplo os dois pratos típicos mais conhecidos na cidade: o pierogi (em polonês) ou perohê (em ucraniano); e a barszcz (em polonês) ou borchtz (em ucra-niano). Ambos os pratos possuem a mesma forma de preparo para as duas etnias, alte-rando- se somente o nome. Considerando a hipótese da gastronomia eslava constituir um atrativo potencial para a atividade turística em Irati, a oferta de pratos eslavos nos estabelecimentos gastronômicos da cidade pode ocasionar uma maior valorização e divulgação da identidade, cultura, história e tradições locais, além de um maior desenvolvimento das empresas ligadas ao ramo da alimen-tação e da possibilidade de vincular a gas-tronomia eslava à cidade de Irati como for-ma de um produto turístico distinto. De acordo com a Prefeitura do Municí-pio, a cidade de Irati possui cerca de 54.855 habitantes, e, conforme afirma Rudek (2002), grande parte de sua população é de descendentes das etnias polonesa e ucra-niana. Estes descendentes contribuem para o enriquecimento cultural da cidade, man-tendo costumes, tradições e valores dos países de origem especialmente no que diz respeito à alimentação. Percebe-se que, apesar do potencial exis-tente na cidade acerca da cultura de seus colonizadores, faltam opções aos visitantes para apreciar os pratos típicos da gastro-nomia eslava. Faz-se necessário, portanto, um estudo junto aos estabelecimentos gas-tronômicos e seus clientes (sejam eles visi-tantes ou residentes), para analisar se há interesse pela oferta da gastronomia esla-va, o que viria a suprir a esta possível carência. Nesse sentido, a pesquisa tem por obje-tivos: Geral: examinar a oferta de pratos eslavos nos estabelecimentos gastronômicos de Irati e suas interfaces com o turismo local. Específicos: • avaliar, do ponto de vista dos estabele-cimentos gastronômicos e dos clientes (turistas e residentes), o interesse pela oferta de pratos eslavos na cidade de Irati; e • detectar quais são os pratos mais apre-ciados e procurados pelos clientes. Metodologia de pesquisa Para alcançar os objetivos propostos, a realização desta pesquisa ocorreu em eta-pas. A etapa inicial foi composta por pes-quisa teórica. A segunda etapa abrangeu pesquisa de campo para coleta de dados. Como técnica de investigação foram desen-volvidos três instrumentos: dois de entre-vista; e o terceiro um instrumento de for-mulário voltado aos clientes dos mesmos estabelecimentos. De acordo com Fagali (2006), a cidade de Irati conta com 20 restaurantes, porém apenas seis deles foram escolhidos para a pesquisa. O critério de escolha dos seis res- Paula Turra Grechinsk y Poliana Fabíula Cardozo 363 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 taurantes deu-se pelo fato de os mesmos estarem localizados no centro da cidade, onde há um grande fluxo de pessoas. As entrevistas com os proprietários fo-ram realizadas durante o mês de julho de 2007, em total de seis. O objetivo destas entrevistas foi o de obter informações a respeito do estabelecimento e do interesse do mesmo acerca da gastronomia eslava. Na entrevista com as descendentes das etnias polonesa e ucraniana foram não-estruturadas e não-dirigidas. Quando cita-das no trabalho as descendentes serão refe-renciadas pelas iniciais das entrevistadas: M.Z. representando a descendente polone-sa, e V.K., para representar a descendente ucraniana. A pesquisa com os clientes ocorreu em julho, num total de cem entrevistados. A abordagem aos clientes foi realizada de forma aleatória, no momento em que os mesmos saíam dos restaurantes pesquisa-dos, todos na região central da cidade. A análise dos resultados aliada aos con-ceitos bibliográficos pesquisados, torna possível um parecer com relação à oferta da gastronomia eslava nos estabelecimentos gastronômicos de Irati como forma de atra-tivo turístico. Gastronomia, cultura e interfaces com o turismo Desde o início do século XX vêm sendo elaboradas definições para o turismo. Em-bora não haja um consenso, dada a com-plexidade do tema, o turismo pode ser basi-camente descrito como as atividades de lazer que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência temporária em lu-gares distintos dos que vivem, desde que sem fins lucrativos. Percebe-se que o turismo é um fenômeno típico da sociedade capitalista, com re-levância social, econômica e cultural, que envolve pessoas em busca de novas expe-riências e conhecimentos, e capaz de au-mentar o consumo e produção de bens, ser-viços e empregos. Com o crescimento do turismo ao longo dos anos, desencadeado pela elevação do nível de renda das populações, pelo aumen-to do tempo ocioso, facilidades de desloca-mento, avanços tecnológicos, desejo de evasão e pelo interesse em conhecer novos lugares e culturas, cresceu também a diver-sidade de atividades turísticas para aten-der a demandas cada vez maiores. Torna-se necessário, portanto, uma segmentação do turismo como forma de diferenciar e satisfazer necessidades especí-ficas dos turistas. A segmentação do turis-mo é uma técnica caracterizada pela divis-ão do mercado turístico em grupos com características semelhantes e conseqüentes esforços para atingir tais nichos de merca-do, adequando os produtos e serviços às necessidades específicas. (Lage e Milone, 2000). Com a segmentação, o núcleo recep-tor pode preparar-se adequadamente para receber determinado tipo de turista e atendê-lo de acordo com suas necessidades. De forma generalizada, os maiores seg-mentos de mercado são: turismo de lazer, turismo de negócios, de compras, de even-tos, terceira idade ou melhor idade, despor-tivo, ecológico, rural, de aventura, religioso, cultural, científico, estudantil, familiar, de saúde ou médico-terapêutico e, entre ou-tros, o turismo gastronômico (Fagliari, 2005). O turismo gastronômico é um dos seg-mentos que gera conflito entre estudiosos, sendo que alguns nem mesmo o consideram como uma segmentação do turismo. Geral-mente é associado ao turismo cultural pelo fato de que a gastronomia possibilita o con-hecimento de hábitos e costumes da comu-nidade visitada. Considera-se, portanto, a gastronomia como parte do patrimônio cul-tural de uma localidade, por ser uma forma de demonstrar características e o modo de vida da mesma. Turismo e patrimônio cultural: viés com a gastronomia De acordo com Barretto (1995), o turis-mo cultural tem como objetivo conhecer os bens materiais e imateriais produzidos pelo homem, não tendo como atrativo principal um recurso natural. Montejano (2002) afirma que a pessoa que pratica turismo cultural busca informações, conhecimentos, interação com outras pessoas, comunidades e lugares, degustação da gastronomia de uma localidade, o artesanato, participação das festas folclóricas e visitas a locais histó-ricos. Segundo o autor, o perfil desse tipo de 364 A gastronomia eslava em Irati ... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 turista é composto por um interesse pelo passado histórico, monumental, artístico e antropológico, assim como uma motivação por uma formação cultural permanente. Os recursos turísticos culturais são pro-dutos diretos dos bens móveis e imóveis produzidos pelo homem, compreendendo elementos do patrimônio cultural. O concei-to básico de patrimônio segundo Camargo (2002:95), é o de “bens culturais ou monu-mentos de excepcional valor histórico e artístico nacional”. Partindo deste conceito é possível descrever o patrimônio cultural como as manifestações dos indivíduos de uma comunidade, sejam materiais ou não, e que se referem à identidade, ação e memó-ria de uma sociedade, como construções móveis e imóveis; criações imateriais; modo de vida; descobertas científicas, artísticas e tecnológicas; etc. Nota-se que não é apenas o legado mate-rial que atrai turistas para uma localidade, mas sim todos os demais aspectos da cultu-ra como festas, danças, gastronomia, e aç-ões ligadas ao comportamento, pensamento e expressão dos povos. Segundo definição da UNESCO (Orga-nização das Nações Unidas para a Educaç-ão, a Ciência e a Cultura), o patrimônio intangível é a herança cultural dos povos passadas oralmente de geração em geração, como tradições, folclore, celebrações, cren-ças, valores, representações, idiomas, ex-pressões, gastronomia, festas, conhecimen-tos, técnicas e diversos outros aspectos que compõe a identidade de um povo e são re-conhecidos como parte integrante do pa-trimônio cultural (Schlüter, 2003). O patrimônio cultural é, portanto, todos os bens (materiais e imateriais), que por suas características históricas, culturais ou naturais, servem como uma referência ao passado, fazendo com que sua preservação e valorização sejam de interesse para a sociedade atual. É relevante destacar que o patrimônio cultural é um recurso de grande potencial turístico, mas não deve ser preservado e conservado apenas para que o turismo pos-sa utilizá-lo. Sua preservação é importante para a comunidade como um todo, já que proporciona conhecimento e respeito à história e aos elementos valorizados pela sociedade, além da conservação da identi-dade do local. A gastronomia assume cada vez mais importância como um atrativo cultural e patrimônio intangível dos povos, sendo um atrativo tanto para os residentes quanto para os turistas. As pessoas sentem-se mo-tivadas a buscar o prazer mediante a ali-mentação, e conseguem entender a cultura de um lugar por meio da gastronomia. (Schlüter, 2003). De acordo com Segala (2007), algumas regiões utilizam sua cultura, história e tra-dições como forma de divulgar a gastrono-mia, e criam um produto turístico distinto - que também é parte integrante do turismo cultural - os roteiros gastronômicos. A prin-cipal função dos roteiros é mostrar os hábi-tos alimentares de uma região, fazendo com que além dos sabores, as pessoas passem a conhecer também mais sobre a história, costumes, religiões e tradições locais. Se-gundo Schlüter (2003:75), “as rotas gas-tronômicas em função da cultura têm por objetivo mostrar os valores culturais de determinadas localidades tendo como eixo os pratos típicos da região.” Como é considerada patrimônio por tra-duzir a identidade de um povo, a gastrono-mia adquire cada vez mais importância ao promover um destino e atrair fluxo turísti-co, possibilitando aos visitantes a oportuni-dade de construírem, aumentarem ou reo-rientarem seus sensos de identidade (Schlüter, 2003). Segundo Gimenes (2003), a gastronomia e suas atividades correlatas são peças fun-damentais para a atividade turística, e atuam como serviço indispensável à estadia e bem-estar do turista, inclusive “caracteri-zando- se enquanto atrativo turístico em diversas localidades.” (Gimenes, 2003: 274). A gastronomia, quando utilizada como um atrativo turístico, serve para divulgar a cozinha regional, ajudando também a pre-servá- la. A utilização da gastronomia como produto turístico permite inclusive o desen-volvimento sustentável da atividade por envolver a comunidade na elaboração dos produtos. Córner (2007) destaca que o sabor de certos alimentos e temperos são teste-munho do passado que sobrevive na manei-ra de preparar certos pratos, e, muitas ve-zes, conta também a história dos imigran-tes em uma região. Conforme Schlüter (2003), o patrimônio Paula Turra Grechinsk y Poliana Fabíula Cardozo 365 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 gastronômico de uma região é um dos pila-res no qual o desenvolvimento do turismo cultural está fundamentado. Dessa forma, torna-se fácil a associação da gastronomia com patrimônio cultural, já que, inegavel-mente, ela é uma ação cultural ligada ao passado e à história da sociedade, do povo e da nação à qual pertence. Serviços e atrativos na composição da ofer-ta turística De acordo com Bahl (2004), para que as pessoas sintam-se motivadas a deslocar-se de uma determinada região para outras, há a necessidade da existência de uma oferta turística adequada. A oferta turística se-gundo o autor são os “[...] bens e serviços oriundos da estrutura de atrativos, utilida-de pública, geral e turística de uma locali-dade que [...] permitem conformar produtos turísticos” (Bahl, 2004:32). A oferta turísti-ca pode ser descrita, portanto, como tudo o que uma localidade necessita para atender de maneira adequada às necessidades e desejos de seus visitantes. Os componentes da oferta turística, se-gundo Bahl (2004) são agrupados em atra-tivos, estrutura de utilidade pública e geral e serviços turísticos. Os atrativos são os elementos básicos para a determinação turística de uma localidade, e dividem-se basicamente em atrativos naturais e cultu-rais. A estrutura de utilidade pública e geral inclui os elementos que correspondem à dinâmica básica da localidade receptora, como energia, saneamento, acessos, estru-tura de circulação, de comunicação, de or-denação urbano-administrativa e de entre-tenimento e animação. Finalmente, a estru-tura de serviços turísticos são os serviços, instalações e equipamentos que podem ser utilizados pelos turistas. Com relação aos atrativos turísticos, Bahl (2004) os define como todos os elemen-tos naturais ou culturais que compõe o pa-trimônio turístico e despertam a curiosida-de dos turistas, motivando-os a viajar. Já os serviços turísticos são “o conjunto de edifi-cações, instalações e serviços indispensá-veis ao desenvolvimento da atividade turís-tica” (Lage e Milone, 2000:28). Os serviços são, portanto, toda estrutura utilizada pe-los turistas (transporte, alimentação, hos-pedagem, entretenimento, agenciamento, apoio turístico, etc...). A alimentação pode então ser considera-da tanto como atrativo quanto como serviço turístico. Pode ser um atrativo, quando traduz a identidade de uma localidade, fazendo com que os turistas sintam-se mo-tivados a conhecê-la, e satisfazendo assim suas necessidades pessoais. E pode ser um serviço por compreender a estrutura ele-mentar de alimentação (restaurantes, ba-res, lanchonetes e similares), complemen-tando o pacote de serviços oferecidos ao turista com o objetivo de suprir suas neces-sidades alimentares. Relação do turismo com a gastronomia Como já visto anteriormente, a gastro-nomia pode ser por si só um atrativo turís-tico ou complementar outras atrações de maior envergadura. Funari e Pinsky (2003:109) afirmam que os hábitos culinários de uma região são “o melhor caminho para conhecer sua herança cultural” e que as preferências alimentares refletem “as possibilidades naturais ou comerciais de uma região, as tradições (in-clusive religiosas) do povo que a habita e suas técnicas de preparação”. Pode-se con-siderar, portanto, a gastronomia como uma forma de mostrar a identidade de um lugar por refletir as preferências, aversões, iden-tificações, discriminações e etc. de seus moradores. Ao explorar mais a gastronomia como forma de atrativo, o turismo resgata uma memória que poderia se perder no tempo (Córner, 2007). A gastronomia, por ser uma manifestação cultural expressiva, torna-se uma atração de demanda turística. Alimentos e bebidas típicos de grupos imigrantes refletem a história e cultura dos mesmos. O fato de manter-se a maneira de preparar e degustar os alimentos, mesmo longe de seu país de origem, é uma forma de reforçar a idéia de pertencer ao lugar que deixaram (Schlüter, 2003). O processo cultural que determinou a receita e os in-gredientes que compõe cada prato desperta o interesse dos visitantes, e influencia in-clusive na escolha por determinados desti-nos turísticos. A gastronomia típica de grupos imigran-tes também faz parte do patrimônio cultu-ral de uma localidade, podendo ser utiliza- 366 A gastronomia eslava em Irati ... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 da como referencial da herança cultural e para elaboração de roteiros turísticos (Bahl, 2004). O interesse por restaurantes espe-cializados nesse tipo de gastronomia têm crescido muito pois oferecem a oportunida-de de recordar ou conhecer um pouco de um outro país através das expressões culturais mantidas pelos descendentes, proporcio-nando ao turista lazer e cultura. A gastro-nomia tem uma função importante em uma comunidade, especialmente quando tra-balha como atrativo, pois tem a capacidade de demonstrar valores culturais e a identi-dade local aos visitantes. Hoje em dia, em função da globalização, as trocas de experiências estão mais fáceis. Por exemplo, já é possível conhecer alimen-tos de todas as culturas sem precisar con-hecer suas respectivas localidades. É im-portante mencionar, de acordo com Schlü-ter (2003), que fora de seu local de origem é comum as receitas serem alteradas para agradar diferentes hábitos alimentares. Para o turismo gastronômico não é sufi-ciente conhecer apenas os alimentos e não conhecer o local de origem e sua cultura. Segundo De Paula (2004), a satisfação em comer fora de casa é atribuída a fatores ambientais e à expectativa emocional, e não apenas à escolha de determinada refeição, afinal, não se compra apenas o serviço, mas também a experiência da refeição. É a par-tir daí que o turismo gastronômico passa a ser um diferencial. Tendo em vista o crescimento do inte-resse de turistas pelo contato com a cultura de seus antepassados, diferenças culturais e valores étnicos, o turismo gastronômico pode e deve ser mais explorado no país, utilizando inclusive a imigração como po-tencialidade turística. Gimenes (2003) afirma que a diversificação em termos de oferta gastronômica no Brasil, mais especi-ficamente no Paraná, é evidente e reflete um potencial que necessita de mais atenç-ão. O turismo gastronômico, segundo Gime-nes (2003), pode ser encarado como uma forma de utilizar o patrimônio de uma co-munidade como vetor para o desenvolvi-mento do turismo, objetivando a recuperaç-ão de antigas tradições e valorização dos produtos locais. Considera-se ainda a opi-nião de Bahl (2004) acerca desse tema quando afirma que o patrimônio cultural oriundo de um legado étnico associado ao turismo, constitui um componente da oferta turística. Utilizando a gastronomia étnica como atrativo turístico também é possível o resgate cultural da presença da etnia em determinada localidade. A busca dos turistas pela culinária típi-ca de uma região torna-se cada vez mais freqüente, e a cozinha tradicional é cada vez mais reconhecida pelo seu valor como patrimônio cultural. A gastronomia é um importante motivador para viagens, e mesmo quando não é o motivo ou elemento principal, sempre tem seu papel de desta-que, pois agrega maior valor e incrementa os roteiros de viagem. Essas informações confirmam o interes-se por parte dos turistas em conhecer mais a história e características do local que estão visitando, incluindo a gastronomia. De acordo com Furtado (2007), a gastrono-mia como um produto, ou como atrativo é importante do ponto de vista turístico, pois apresenta formas de turismo voltadas para as características gastronômicas de cada região nem sempre bem exploradas. Considera-se, com estes entendimen-tos, que a busca pelo lazer, novas experiên-cias e conhecimentos podem ser sanados por meio do turismo, e mais especificamen-te com o turismo cultural, que torna possí-vel a interação com outras pessoas, comu-nidades e lugares. Como a gastronomia faz parte do turismo cultural e reflete a identi-dade e memória de uma comunidade, sua valorização resulta na preservação e divul-gação da cultura da comunidade como um todo. É notável a importância da gastrono-mia como patrimônio cultural e atrativo turístico, pois por meio dela as pessoas conhecem também mais sobre a história, costumes e tradições locais, além de ser uma forma de preservar a história dos imi-grantes de determinada região. Aqui cabe mencionar a relevância da preservação da memória dos grupos de imigrantes, pois para eles esta vem a ser um instrumento para que suas tradições não se percam no tempo ou no espaço. Irati e a imigração eslava: marcas e identi-dade cultural Os dados referentes à cidade de Irati es-critos neste capítulo foram obtidos junto à Prefeitura Municipal da cidade, através de uma apostila comemorativa ao centenário da cidade, denominada Dados Gerais – 1907 a 2007 (2007), contendo informações atuais sobre o município. A cidade de Irati está situada na região Paula Turra Grechinsk y Poliana Fabíula Cardozo 367 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 centro-sul do Estado do Paraná. O municí-pio está distante 156 km da capital do Es-tado, Curitiba e tem aproximadamente 54.855 mil habitantes. Irati possui diversos atrativos turísticos, dentre eles a imagem de Nossa Senhora das Graças, a maior do mundo segundo o Guiness Book – Livro do Recordes, com 22 metros de altura. A cidade também conta com uma arquitetura religiosa diversifica-da, incluindo Igrejas e monumentos, e o Teatro da Paixão de Cristo, heranças dos imigrantes. O município também conta com recantos naturais e quedas d’água, ainda não explorados turisticamente. Existem numerosos eventos municipais, alguns de grande porte como o Rodeio Irat-chê, o maior do Sul do Brasil, que acontece no mês de julho desde 1988. A Casa da Cul-tura guarda o acervo histórico da cidade e o diversificado artesanato da região intitula-do “É de Irati”, que também são formas de manter e promover a cultura do municípío (Prefeitura Municipal de Irati, 2007). A imigração eslava e suas manifestações em Irati O ano da chegada dos primeiros imi-grantes ucranianos e poloneses no Brasil não pode ser determinado com certeza de-vido à falta de documentação. Muitos auto-res fixam como referência da imigração eslava no Brasil o ano de 1895, quando chegou ao Paraná a primeira grande leva de colonos vindos da Galícia (região frontei-riça entre Polônia e Ucrânia), mas sabe-se que entre os anos de 1867 e 1948, famílias vindas da Ucrânia e Polônia passaram a residir em terras brasileiras, principalmen-te no Sul do País. Atualmente vivem no Brasil quase dois milhões de descendentes de imigrantes poloneses (Sahaiko, 2007 e Zavilinski, 2007). Como afirma Rudek (2002:04), “Em fins do século XIX e início do século XX, ocorreu uma massífica (sic) ocupação das terras no Estado do Paraná, pelos imigrantes, vindos da Europa Oriental, conhecidos como esla-vos”. Em 1904 a região de Irati contava com 30 famílias polonesas, e por volta de 1922, já estavam registradas 800 famílias. Em 1937, dos 16.000 habitantes em Irati, 4.500 eram poloneses. Registros de ucranianos datam de 1891, com 25 a 30 famílias ucra-nianas vindas da Província da Galícia, e a partir de 1895 já eram cerca de 5.000 famí-lias ucranianas no Paraná. Atualmente, 90% dos 300.000 descendentes de ucrania-nos no Brasil estão no Paraná (Rudek, 2002). Entre os anos de 1895 e 1896, houve grande incentivo para que se povoasse o Brasil. O governo brasileiro e suas políticas de imigração incentivavam a vinda de imi-grantes porque o Brasil necessitava de pes-soas para ocupá-lo (por meio da colonizaç-ão). Portanto, o governo pagava as passa-gens de navio, cedia 10 alqueires de terra a cada família de imigrantes para ser pago num prazo de 20 anos, fornecia ferramen-tas para o trabalho agrícola e comida du-rante um ano. Em troca, os colonos trabal-havam pelo menos três vezes por semana na construção e conservação de estradas (Zavilinski, 2007). Os motivos da vinda dos imigrantes po-loneses e ucranianos para Irati foram a garantia de trabalho com a construção da estrada de ferro, as condições climáticas semelhantes ao país de origem, as matas que possibilitavam a indústria extrativista, e a facilidade em adquirir terras férteis. (Rudek, 2002). De acordo com Rudek (2002), os colonos eslavos organizaram colônias e dedicaram-se à agricultura e à criação de animais co-mo requisito para a ocupação das terras, contribuindo muito para o desenvolvimento da economia do município. De acordo com Sahaiko (2007) e Zavi-linski (2007), uma forte característica dos imigrantes ucranianos e poloneses é a preo-cupação com a religião. Desde o início da organização das comunidades polonesas e ucranianas em Irati houve uma preocupaç-ão com o aspecto religioso. Pode-se dizer que a Igreja é a grande responsável por manter as tradições, expressões artísticas e culturais e estilo de vida dos descendentes eslavos. Oriundos de países ricos em tradições artísticas, os imigrantes ucranianos e polo-neses não poderiam esquecer da herança cultural recebida de seus antepassados. A herança mais representativa neste sentido é a Pêssanka ucraniana. São ovos pintados artisticamente, representando a Páscoa com símbolos de amor, amizade, vida eter- 368 A gastronomia eslava em Irati ... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 na, felicidade, ressurreição, cristianismo, etc... O que poucos sabem é que essa tradi-ção também faz parte da cultura polonesa, e a chamam Pisanki. (Rudek, 2002). Segundo Rudek (2002), são também ex-pressões artísticas dos eslavos o entalhe em madeira e bordados em toalhas e camisas. O bordado ucraniano utiliza muito as cores vermelha – que representa alegria e amor – e preta – que significa sofrimento. Em Irati as tradições são mantidas, a-lém da Igreja, através do Grupo Folclórico Ucraniano Ivan Kupalo, e do Grupo Folcló-rico Polonês Lublin. O Grupo Folclórico Ucraniano Ivan Ku-palo surgiu em fevereiro de 1976. As dan-ças do grupo são relacionadas à fenômenos da natureza: vento, sol e chuva. Atualmen-te o grupo conta com aproximadamente 60 componentes entre adultos, jovens e crian-ças, todos preocupados em estudar, divul-gar e preservar a cultura dos imigrantes ucranianos (Sahaiko, 2007). Na mesma época da fundação do grupo folclórico foi criada a Congregação Mariana, grupo de jovens descendentes de ucrania-nos com o objetivo de ajudar nos eventos da Igreja e manter os costumes étnicos. Atualmente também editam um boletim informativo, com notícias, entretenimento e outros assuntos relevantes para a comuni-dade ucraniana iratiense (Sahaiko, 2007). A partir de 1985, com o objetivo de resgatar as tradições e promover os costu-mes, festas e cultura da etnia polonesa, formou-se o Centro de Tradições Polonesas 3 de Maio, e foi ao ar em uma rádio local, o programa “Hora Polonesa”. O Grupo Folcló-rico Polonês de Irati, que pertence ao Cen-tro de Tradições Polonesas 3 de Maio, cha-ma- se Lublin e teve sua estréia em 3 de janeiro de 1987 (Zavilinski, 2007). Ao longo dos cem anos de colonização em Irati, os ucranianos e poloneses foram res-ponsáveis pelo desenvolvimento do municí-pio. Durante esse período, houve uma grande integração com outros grupamentos étnicos, mas isso não impediu que os cos-tumes e tradições trazidos dos países de origem se mantivessem até os dias de hoje. Ainda é possível notar a presença da cultu-ra polonesa e ucraniana em Irati através da arquitetura, artesanato, folclore, religiosi-dade, linguagem e hábitos alimentares. A gastronomia eslava em Irati Entre as manifestações culturais eslavas em Irati, pode-se mencionar a gastronomia. Conforme afirma Rudek (2002), dentre os pratos típicos mais consumidos nas famílias descendentes de imigrantes poloneses e ucranianos estão: “charuto, sopa de toma-tes, pastéis de requeijão, molhos e cremes de cogumelos, canjas de galinha, geléia de porco, batata-doce, repolho azedo, ensopa-dos de repolho com carne defumada, peixes defumados, diversos doces e as massas [...] como o pão doce com sementes e papoula [...] broa, rética, coravai, polenta e arroz com leite, coalhada (Rudek, 2002:18). Os pratos citados, e outros, serão deta-lhados a seguir de acordo com as entrevis-tas realizadas com as descendentes das etnias polonesa e ucraniana em Irati, M.Z. e V.K. Segundo as entrevistadas, a gastro-nomia da Ucrânia e Polônia ainda é preser-vada nas famílias dos imigrantes em Irati, e os pratos típicos são servidos principal-mente em datas comemorativas e reuniões de família. As informações expostas a se-guir são resultantes das entrevistas. Os povos eslavos e seus descendentes apreciam muito a pães e broas. A broa inte-gral feita de centeio ou trigo sarraceno (c-hleb razowy1 em polonês) é muito comum, assim como o kororwaj (em polonês) e koro-vái (em ucraniano), um pão tradicional feito em formato redondo e decorado com massa em formato de tranças ou o strucel (em polonês), que também é um pão trançado. O paska (em ucraniano) está sempre presente na Páscoa, assim como o babka (em ucrani-ano) é um pão doce sempre presente no Natal. Salsicha, linguiça (kovbaça em ucrania-no ou kubassat em polonês), lombo de porco e toucinho (salo em ucraniano) são muito utilizados como aperitivos em dias de festa e como acompanhamento para outros pra-tos típicos. Podem ser preparados defuma-dos, fritos, assados, cozidos ou servidos cru. As sopas são muito comuns, sendo a bor-chtz (em ucraniano) a mais comum e apre-ciada. É considerado o prato nacional da família ucraniana, mas também é muito apreciada pelos poloneses, que a conhecem como barszcz czerwony (consomê de beter-raba). Aqui no Brasil é comumente chama-da de sopa vermelha. As sopas são tradicionalmente servidas Paula Turra Grechinsk y Poliana Fabíula Cardozo 369 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 como entrada para outro prato principal, e são degustadas acompanhadas por pão preto de centeio ou trigo. Outra sopa tradi-cional encontrada em Irati é a kasp´sniaki (em polonês) e kapusniak (em ucraniano), feita com repolho azedo, batata e carne de porco. Dentre as carnes, a carne de porco é a mais encontrada nas receitas eslavas, exis-tindo também receitas com a tripa (flaki) e o joelho de porco (golonka). Existem em ambas as culturas receitas com carne de marreco ou frango, bovino, novilho (krazy) e vitela. Quanto à forma de preparo, são mui-to variadas: assadas, defumadas, fritas, abafadas, amassadas, moídas, enroladas, recheadas, etc. Os ucranianos também a-preciam muito a kozá, carne de cabrito as-sada. Os molhos mais consumidos são os mo-lhos de nata e suas variações (como o de requeijão com nata), e o molho à base de raiz forte moída conhecido no Brasil como krin (hryn em ucraniano, chrzan em polo-nês), que acompanha principalmente car-nes. Pratos a base de batatas são muito co-muns nas duas etnias. O pierogi (em polo-nês) ou perohê ou varéneke (em ucraniano), uma espécie de pastel cozido, de massa amanteigada feito com farinha de trigo e recheado com uma mistura de batata e requeijão, é a receita mais comum entre os descendentes de ucranianos e poloneses. Tradicionalmente é servido acompanhado por um molho de nata ou molho de carne temperado, semelhante ao molho bolonhe-sa. Existem muitas variedades de recheio deste prato típico na Ucrânia, como cogu-melos, feijão, carne, peixe, papoula, pêsse-gos, trigo mourisco, entre outros, mas o mais encontrado em Irati é a receita tradi-cional com batata e requeijão. Outra receita polonesa muito conhecida a base de batatas é o platzki, uma mistura de batatas, trigo e ovos fritos. Outros pratos típicos: • bigos (em polonês): é uma mistura de couve branca ou repolho azedo com grande variedade de carnes defumadas e diversos temperos como pimenta, louro, ameixas secas, vinho branco, mel cogu-melos, tomates, batatas maçãs e outros ingredientes. • holoptchi (em ucraniano) ou aluszki (em polonês): charuto feito com recheio de carne, miúdos, trigo ou arroz e envolvido com folhas de repolho ou couve; • cholodetz (em ucraniano): geléia, que pode ser de porco, de galinha, de peru... • mamalega (em ucraniano): polenta de fubá; • kasha (em ucraniano) ou kasza (em po-lonês): mingau com quirera de trigo, a-veia, milho ou arroz cozidos, consumido em diversas ocasiões; e • retica (em ucraniano): um cereal, conhe-cido no Brasil como arroz preto. Como sobremesas, a grande preferência são aquelas feitas com ricota. A sernik (em polonês) é a torta de requeijão. Citados por M.Z., iogurtes, tortas, sorvetes de frutas, mousses gelados, sonhos (paczki), além da torta de papoula (makowiec em polonês) e do bolo de levedo (drozdzowka em polonês) são sobremesas muito apreciadas pelos povos eslavos. O kutiá (em ucraniano), um doce a base de trigo, papoula, frutas secas e mel, é servido como sobremesa, mas origi-nalmente é uma receita consumida na ceia de Natal. A tradicional bebida eslava é a wodka gelada. No Brasil, a pivo (em polonês) ou pevo (em ucraniano), mais conhecida como cerveja caseira é a grande herança dos co-lonizadores. Apresentação dos dados Neste item serão apresentados os dados obtidos com as entrevistas realizadas com os clientes e com os proprietários dos esta-belecimentos gastronômicos pesquisados. Dados coletados com clientes As pessoas com idade entre 26 e 40 anos foram as que mais participaram das entre-vistas, representando 42% do total de en-trevistados. Em menor número, 5% estão as pessoas com mais de 60 anos. No que tange ao gênero dos entrevista-dos, as mulheres foram encontradas em maior número nos restaurantes pesquisa-dos, representando 53% dos entrevistados, enquanto os homens, 47%. Para a procedência, conforme dados co-letados, 65% dos entrevistados nos restau- 370 A gastronomia eslava em Irati ... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 rantes pesquisados residem em Irati. O restante, 35% estava temporariamente na cidade, a trabalho, e eram provenientes de cidades próximas como Curitiba, Guarapu-ava, e outras. Também foram entrevistadas pessoas provenientes de cidades não tão próximas como Rolândia, São João do Tri-unfo, e outras (no Paraná), bem como de outros estados e países do Mercosul. A grande maioria dos entrevistados (70%) conhece a gastronomia da região. Os que não a conhecem (25%) ou a conhecem pouco (5%) são os que não residem na cidade ou residentes que não são descendentes das etnias polonesa ou ucraniana. A maioria dos entrevis-tados (70%) gostaria que os restauran-tes da cidade servissem pratos da gastronomia eslava, mas 10% deles não apreciam essa culinária, portanto não gos-tariam que os restaurantes a servissem. O restante, 20%, é indiferente ao questiona-mento por não residirem na cidade de Irati. Quando questionados a respeito do inte-resse em freqüentar estabelecimentos que oferecem gastronomia eslava, 86% dos en-trevistados afirmam que iriam a um res-taurante para degustá-la, porém, 14% não iriam por não apreciar essa culinária. Na opinião dos entrevistados residen-tes em Irati, o fim de semana é a melhor opção para degustar os pratos típicos ucra-nianos e poloneses, principalmente no sábado (22%) e na sexta-feira (17%), em função da maior disponibilidade de tempo. A quarta-feira foi um dia mui-to cogitado (16%) pelos que não resi-dem em Irati, e que de acordo com a pesquisa da autora, a maioria vem à cidade durante a semana, a trabalho. Com relação à preferência acerca de qual prato típico gostaria que fosse servido nos restaurantes os entrevis-tados escolheram em maior número o pie-rogi/ perohê (19%), e a barszcz/borchtz (12%). O aluszki/holoptchi e o kozá foram o terceiro mais votados (10%). A escolha de qualquer prato, deu-se por 6% dos entrevis-tados, que alegaram gostar de todos ou ter interesse de provar qualquer um dos pra-tos. Gráfic 1. Prato típico que os entrevistados gostariam que fosse servido nos restauran-tes em irati - 2007 Dados coletados com proprietários Quando questionado aos proprietários se os mesmos já serviram algum prato típico da culinária polonesa ou ucraniana, todos afirmam que sim, com exceção do restau-rante B, que preparou pratos típicos ucra-nianos e poloneses apenas em eventos, e não em seu restaurante. Os demais servem pierogi/perohê pelo menos uma vez por semana, seja nos buffets ou quando é o pra-to do dia (no caso do restaurante C). O prato típico que foi servido por todos foi o pierogi/perohê. Os restaurantes E e A serviram, além do pierogi/perohê, o Quadro 1 – idade x interesse dos entrevistados em que os restaurantes de irati sirvam comida típica ucraniana e polonesa 15 a 25 anos 26 a 40 anos 41 a 60 anos Mais de 60 anos Sim 60% 70% 70% 100% Não 10% 10% 15% ------- Indiferente 30% 20% 15% ------- 12% 19% 10% 7% 5% 6% 8% 10% 9% 8% 6% Barszcz/Borchtz Pierogi/Perohê Aluszki/Holoptchi Kasp´Sniaki/ Kapusniak Retica Chrzan/Hryn Requeijão com nata Kozá Broa, salsicha, Lingüiça, lombo... Kutiá Qualquer um Paula Turra Grechinsk y Poliana Fabíula Cardozo 371 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 chrzan/hryn. O restaurante F serviu também uma receita com repolho azedo, considerando-a como um prato típico das etnias em questão. Os restaurantes C e D foram os que mais serviram pratos típi-cos eslavos, como barszcz/borchtz, kasp´sniaki/ kapusniak, aluszki/holoptchi, a rética, chrzan/hryn, requeijão com nata, kozá, broa, salsicha, lingüiça e lombo de porco defumados, kutiá, e platzki. Ainda segundo os proprietários entrevis-tados, os clientes do restaurante A aprova-ram as receitas eslavas oferecidas no esta-belecimento. No restaurante C, os clientes gostam muito quando têm a possibilidade de degustar pratos eslavos, assim como nos restaurantes D e F. Os clientes do restau-rante E sempre elogiam quando um prato típico ucraniano ou polonês é incluído no cardápio. O restaurante B, que ainda não serviu nenhum prato típico eslavo, a não ser em eventos, afirma que tem interesse em fazê-lo algum dia da semana. Todos os proprietários dos restaurantes pesquisados interessaram-se em saber o resultado da pesquisa com seus clientes, para verificar se há interesse dos mesmos em provar pratos da gastronomia eslava. Análise dos dados Considerando os dados expostos, parte-se neste momento para sua análise em pro-fundidade. Para tal, foram efetuados al-guns cruzamentos entre dados pertinentes obtidos com o formulário e com as entrevis-tas. Cruzamento 1: relação entre a idade dos entrevistados e o conhecimento dos mesmos acerca da gastronomia típica da região. Percebe-se que a grande maioria dos entrevistados, em todas as faixas etárias tem conhecimento da gastronomia típica da região. Importante ressaltar que a totali-dade dos entrevistados acima de 60 anos conhece a gastronomia típica da região (a gastronomia eslava). Com esse dado, pode-se pensar que a tradição dos imigrantes é mais difundida entre a população mais idosa, e menos difundida entre os mais jovens. Cruzamento 2: relação entre a idade dos entrevistados e o interesse dos mesmos na oferta de pratos eslavos nos restaurantes da cidade, onde sim indica que há interesse, e não, que não há interesse. Mais uma vez é relevante perceber que o grupo de entrevistados com mais de 60 anos demonstra maior interesse pela cultu-ra dos imigrantes ucranianos e poloneses no que diz respeito à gastronomia. Além dessa informação, é notável que a maior parte dos entrevistados, em todos as faixas etárias, gostaria que os restaurantes da cidade servissem comida típica ucraniana e polonesa. Cruzamento 3: relação entre o gênero dos entrevistados e o conhecimento dos mesmos acerca da gastronomia típica da região. Também neste cruzamento é notá-vel que em ambos os sexos o conhecimento da gastronomia ucraniana e polonesa pre-domina sobre o desconhecimento, porém com maior destaque que para as mulheres. Cruzamento 4: relação entre o sexo dos entrevistados e o interesse em que os res-taurantes da cidade sirvam pratos típicos poloneses e ucranianos, onde sim represen-ta que há interesse, e não, que não há inte-resse. Com ambos os sexos obteve-se a maioria das respostas positivas, quando perguntado se gostariam que os restauran-tes da cidade servissem comida típica ucra-niana e polonesa. Um dado interessante é que há um número superior de indivíduos que se sentem indiferentes quanto à oferta da gastronomia eslava em relação aos que não têm interesse. Os indiferentes não sen-tem falta da gastronomia eslava nos res-taurantes de Irati porque, pode-se aferir, na maioria, consomem os pratos típicos em suas próprias casas. Cruzamento 5: relação entre a pro-cedência dos entrevistados e o conhecimen-to acerca da gastronomia eslava na região, onde sim significa que conhece, e não, que não conhece. Em Irati, a maior parte dos entrevista-dos conhece a gastronomia típica da região, provavelmente por conviverem de alguma forma com as culturas polonesa e ucrania-na na cidade. Em se tratando de outras cidades, é perceptível que o número de res-postas negativas e positivas é o mesmo, sendo que os entrevistados que afirmaram não conhecer a tradição da gastronomia eslava em Irati, na maioria, não eram mo-radores de cidades próximas. Os entrevis- 372 A gastronomia eslava em Irati ... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 tados procedentes de outros estados não foram em número relevante (duas pessoas) para tornar possível uma análise para este cruzamento. Cruzamento 6: relação entre a cidade de origem e o interesse pela oferta de pra-tos eslavos nos estabelecimentos gastronô-micos de Irati, onde sim significa que há interesse, e não, que não há interesse Os moradores da cidade, em sua maio-ria, gostariam que os restaurantes servis-sem comida típica ucraniana e polonesa, apesar de um número representativo de respostas indiferentes à essa pergunta. Interessante notar que pessoas provenien-tes de outras cidades têm um grande inte-resse de encontrar em Irati restaurantes que sirvam comida típica ucraniana e polo-nesa. Provavelmente obteve-se este dado porque os visitantes gostam, em grande parte das vezes – como já foi observado na fundamentação teórica por outros pesqui-sadores – de experimentar pratos típicos do local visitado. O número de entrevistados provenientes de outros estados não foi sufi-ciente (2 pessoas) para resultar em um dado relevante, porém chama a atenção o fato de nenhum dos indivíduos ter interesse em que se sirvam pratos típicos ucranianos e poloneses em Irati. A justificativa está em um deles não apreciar essa gastronomia, e outro não conhecê-la. Cruzamento 7: a relação entre cada res-taurante pesquisado e o interesse de seus clientes em que o mesmo sirva pratos típi-cos da gastronomia ucraniana e polonesa. Considerando que, de acordo com as respostas dos proprietários dos restauran-tes durante as entrevistas, todos teriam interesse em montar um cardápio contendo pratos típicos da culinária eslava ao menos em algum dia da semana, dependendo do resultado da presente pesquisa. No restaurante A, 65% dos entrevista-dos gostariam que os restaurantes da cida-de servissem pratos típicos ucranianos e poloneses, sendo 15% de respostas indife-rentes à esta pergunta. O restante, 20% não gostaria. No restaurante B, não houve nenhuma resposta negativa. Apesar de 30% dos en-trevistados serem indiferentes à esta per-gunta, o restante dos entrevistados (70%) têm interesse em provar pratos típicos da gastronomia eslava nos restaurantes em Irati. Relevante ressaltar o fato de que o restaurante B é o único que nunca serviu pratos eslavos, talvez desconhecendo o grande interesse de seus clientes. No restaurante C também não houve nenhuma resposta negativa por parte dos clientes quando questionados sobre o inte-resse em que os restaurantes de Irati sir-vam pratos típicos poloneses e ucranianos, sendo 40% dos clientes indiferentes ao questionamento. No restaurante D, a maioria dos entre-vistados (65%) gostaria que fossem servidos pratos eslavos, 25% não gostariam e 10% são indiferentes ao questionamento. No restaurante E, apenas 5% dos entre-vistados deram uma resposta negativa ao questionamento, 30% foram indiferentes, e o restante (65%) gostaria, sim, que os res-taurantes da cidade servissem os pratos típicos da região. Finalmente, no restaurante F, o resul-tando do cruzamento em questão foi positi-vo para a pesquisa, afinal, entre todos os entrevistados não houve nenhuma resposta negativa, sendo que 90% deles gostariam de provar pratos típicos eslavos nos restauran-tes da cidade, e apenas 10% sentem-se indi-ferentes quanto à esta questão. Cruzamento 8: todos os seis restauran-tes pesquisados afirmam que recebem mui-tos clientes advindos de outras cidades. De acordo com um cruzamento de dados refe-rentes à cidade de origem dos entrevistados em cada restaurante, obteve-se como res-posta a tabela a seguir, onde as letras do alfabeto representam cada um dos restau-rantes pesquisados. Percebe-se que o restaurante E é o que mais recebe pessoas de outras cidades, sen-do o número de entrevistados que não resi- Quadro 8 – cidade de origem dos entrevistados em cada restaurante pesquisado Restaurante A Restaurante B Restaurante C Restaurante D Restaurante E Restaurante F Irati 70% 90% 60% 65% 35% 50% Outra cidade do Paraná 25% 10% 40% 35% 60% 50% Outro estado 5% 5% Paula Turra Grechinsk y Poliana Fabíula Cardozo 373 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 dem em Irati superior ao número de mora-dores da cidade. No restaurante F, o núme-ro de clientes residentes e visitantes entre-vistados foi o mesmo. Nos restaurantes A, B, C e D, o número de clientes da cidade foi superior ao número de visitantes, sendo que a diferença maior encontra-se nos esta-belecimentos A e B, onde o número de clientes iratienses foi superior ao de visi-tantes. Cruzamento 09: fez-se um cruzamento entre o que cada restaurante afirma já ter servido da culinária eslava, e o que os clien-tes dos mesmos restaurantes gostariam de encontrar nos restaurantes. Quando cita-dos, os nomes dos pratos estarão escritos conforme a maneira polonesa e ucraniana, respectivamente. O restaurante A, que já serviu piero-gi/ perohê e chrzan/hryn, teve com um número maior de respostas o pierogi/perohê como a melhor opção da culinária eslava. Com os clientes do restaurante B, que não possui nenhum prato típico eslavo em seu cardápio, o prato típico que se destaca, mais uma vez, é o pierogi/perohê, mas hou-ve um expressivo número de respostas em todos os pratos típicos sugeridos, uma vez que diversos clientes quando questionados respondiam que gostariam de degustar qualquer um dos pratos, seja por gostarem de diversos deles, ou para conhecê-los. O proprietário do restaurante C afirma já ter servido quase todos os pratos típicos citados na entrevista como barszcz/borchtz, pierogi/perohê, aluszki/holopti, kasp´sniaki/kapusniak, chrzan/hryn, kozá, além de requeijão com nata e broas, salsi-cha, lingüiça e lombo de porco defumados, que também são tradicionais nas culturas eslavas. Os clientes escolheram, na maio-ria, o pierogi/perohê, que é um prato típico servido ao menos uma vez por semana nes-te estabelecimento. O restaurante D também já serviu di-versos pratos da gastronomia eslava. Além dos já citados no restaurante C, e com ex-ceção do kozá, foi servido também retica, kutiá e platzki. Mais uma vez, a maioria dos clientes escolheu o pierogi/perohê como o prato típico que gostariam de encontrar com mais freqüência nos restaurantes da cidade. O restaurante E, assim como o restau-rante A já serviu pierogi/perohê e chrzan/hryn aos seus clientes, que escol-heram o pierogi/perohê como o prato típico da gastronomia eslava que gostariam que fosse servido nos restaurantes em Irati. Por fim, o estabelecimento F já serviu pierogi/perohê com diferentes recheios, além do repolho azedo, que é outro alimen-to tradicional nos países eslavos. Um gran-de número de entrevistados respondeu que gostaria que fosse servido qualquer prato da culinária eslava. Vale ressaltar que, conforme o cruzamento 8, 90% dos entrevis-tados neste estabelecimento gostaria que os restaurantes da cidade servissem pratos típicos poloneses ucranianos, o que talvez justifique o fato de seus clientes responde-rem de maneira ampla quando questiona-dos sobre quais pratos eles gostariam que fossem servidos nos restaurantes da cidade. Depois do pierogi/perohê, o prato mais escolhido, em todos os restaurantes foi a barszcz/borchtz. Talvez isso se dê pelo fato de que estes são os pratos típicos mais co-muns na cidade. Não houve nenhuma su-gestão de prato típico presente no formulá-rio que não foi escolhida por ninguém, todos foram escolhidos ao menos por uma pessoa. Também não houve nenhum caso com os clientes em que o entrevistado sugerisse algum prato que não estivesse contido no formulário utilizado. Com os cruzamentos e a análise indivi-dual de cada restaurante, é possível um parecer amplo quanto às questões aborda-das nos formulários e entrevistas. Os mo-radores de Irati são os que mais conhecem a gastronomia polonesa e ucraniana, pro-vavelmente por conviverem com essas cul-turas na cidade. Mas são as pessoas de outras cidades as que mais gostariam de ver os pratos típicos dessas etnias nos res-taurantes de Irati. Uma hipótese para a ocorrência deste dado dá-se em função de que diversos entrevistados iratienses, por serem descendentes das duas etnias, estão acostumados a consumir os pratos típicos em suas próprias casas. Além de ser notá-vel o interesse dos que não vivem na cidade em degustar ou conhecer os pratos típicos poloneses e ucranianos. Durante a aplicação das entrevistas com os clientes dos estabelecimentos, notou-se que muitos deles, apesar de conhecerem o 374 A gastronomia eslava em Irati ... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 prato típico, desconheciam o nome do prato. Também houve casos em que os entrevista-dos acreditavam ser o pierogi/perohê um prato típico da cultura italiana, ou que o aluszki/holoptchi era um prato típico li-banês. Coube à pesquisadora esclarecer esses aspectos e outros que geraram dúvi-das nos pesquisados acerca das culturas ucraniana e polonesa. Percebe-se pela pesquisa que a gastro-nomia eslava interessa tanto aos iratienses como aos visitantes, e ainda mais do que isso, é desejada pelo público freqüentador de restaurantes. Partindo do princípio de que a gastro-nomia, mais do que um serviço prestado, pode ser um atrativo turístico em Irati, pode-se dizer que na oferta de pratos esla-vos reside um grande nicho de divulgação, atração e mantenimento de turistas à cida-de, agregando valor à visitação por colocar à mostra aspectos tão ricos da cultura local. Considerações finais Ao longo deste trabalho, a gastronomia é entendida como patrimônio cultural por fazer parte, e traduzir de alguma forma a história e a identidade de um povo e de um local. O turismo gastronômico pode ser uma forma de utilizar o patrimônio cultural co-mo um atrativo turístico, ajudando inclusi-ve a preservar tradições que aos poucos vão se perdendo. Em razão disso, apresentou-se a possibi-lidade de análise para esta pesquisa, consi-derando a colonização eslava em Irati e seu legado gastronômico, tendo por finalidade examinar a oferta de pratos típicos eslavos nos estabelecimentos gastronômicos de Irati e suas interfaces com o turismo local. Quando avaliado o interesse pela oferta de pratos eslavos em Irati, do ponto de vis-ta dos estabelecimentos gastronômicos, foi possível notar que existe o interesse dos mesmos em ofertar alimentos desta gastro-nomia. Porém, há um receio por parte dos proprietários dos restaurantes pesquisados no que diz respeito à demanda para tal. Esse receio pode ser sanado pela pesqui-sa da avaliação do interesse pela oferta de pratos eslavos na cidade de Irati do ponto de vista dos clientes (turistas e residentes) dos estabelecimentos gastronômicos, cujo resultado foi muito positivo. Foi possível detectar que os visitantes da cidade gosta-riam que houvesse um local onde pudessem degustar e conhecer os pratos típicos da gastronomia da região. Seria interessante também para os moradores de Irati em muitos aspectos, inclusive para aqueles que moram na cidade, mas ainda não tiveram a oportunidade de provar os pratos típicos ucranianos e poloneses, já que eles são ser-vidos principalmente na residência dos descendentes dessas etnias. O prato típico mais citado pelos entre-vistados foi o pierogi/perohê. Vale ressaltar que muitas pessoas que participaram da pesquisa, sejam elas moradoras da cidade ou não, não conhecem os outros pratos típi-cos comuns para os descendentes, mas teri-am interesse em conhecê-los. Os pesquisa-dos não residentes em Irati, e os que não conhecem a gastronomia da região, afir-mam que iriam a um restaurante da cidade que serve pratos da gastronomia eslava e que gostariam que qualquer um dos pratos típicos fosse servido, mostrando um grande interesse em conhecer a gastronomia em questão. Nota-se que a gastronomia eslava pode ser um atrativo relevante para o turismo em Irati quando servida e divulgada nos restaurantes da cidade. Dessa forma, ela pode atuar como um atrativo propriamente dito, por traduzir a identidade da cidade, ou ainda agregar valores intangíveis a outros produtos e experiências turísticas mesmo quando utilizada apenas como um serviço. Referências Aurélio 1995 “Dicionário Básico da Língua Portu-guesa”. São Paulo: Nova Fronteira. Bahl, Miguel 2004 “Legados Étnicos e Oferta Turística”. Curitiba: Juruá. Barretto, Margarita. 1995 “Manual de Iniciação ao Estudo do Turismo”. Campinas: Papirus. 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Zavilinski, Genoveva. 2007 “Influência Polonesa nos 100 anos de Irati”. Folha de Irati. Irati, 14 a 20 de julho de 2007, p. 30 NOTA 1 Considerando que os idiomas ucraniano e polonês são grafados em alfabeto cirílico, neste trabalho não se observou a maneira original para a grafia das palavras estrangeiras, que foram então transcritas para o alfabeto latino. Primou-se pela cópia fiel quando essas palavras surgiam em trabalhos de outros autores. Durante as entrevistas elas foram grafadas conforme mencionado pelas entrevistadas. Cabe comentar que foi utilizado como material de apoio para essa escrita o Pequeno Dicionário Por-tuguês Ucraniano e Ucraniano Português, de autoria de Waldemiro Chomem. Recibido: 12 de febrero de 2008 Reenviado: 5 de marzo de 2008 Aceptado: 21 de marzo de 2008 Sometido a evaluación por pares anónimos
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Calificación | |
Título y subtítulo | A gastronomia eslava em Irati como possibilidade de atrativo turístico |
Autor principal | Turra Grechinsk, Paula ; Fabíula Cardozo, Poliana |
Publicación fuente | Pasos. Revista de turismo y patrimonio cultural |
Numeración | Volumen 06. Número 2 |
Sección | Notas de investigación |
Tipo de documento | Artículo |
Lugar de publicación | El Sauzal, Tenerife |
Editorial | Universidad de La Laguna |
Fecha | 2008-04 |
Páginas | pp. 361-375 |
Materias | Turismo ; Patrimonio cultural ; Publicaciones periódicas |
Enlaces relacionados | Página web: http://todopatrimonio.com/revistas/101-pasos-revista-de-turismo-y-patrimonio-cultural |
Copyright | http://biblioteca.ulpgc.es/avisomdc |
Formato digital | |
Tamaño de archivo | 158768 Bytes |
Texto | Vol. 6 Nº 2 págs. 361-375. 2008 Special Issue – Número Especial www.pasosonline.org © PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121 Notas de investigación A gastronomia eslava em Irati como possibilidade de atrativo turístico Paula Turra Grechinski Poliana Fabíula Cardozoii Universidade Estadual do Centro-Oeste (Brasil) Resumo: Este trabalho verifica a oferta de pratos eslavos nos estabelecimentos gastronômicos em Irati e o interesse dos turistas e residentes em provar desta gastronomia. Na cidade existem descendentes de poloneses e ucranianos, que mantêm costumes gastronômicos de antepassados. Considera-se a gastro-nomia eslava como potencial para o turismo em Irati. Realizou-se pesquisa bibliográfica e de campo, e constatou-se que os estabelecimentos pesquisados ofertam um dos principais pratos típicos da gastrono-mia eslava, pierogi/perohê. Porém, os clientes dos estabelecimentos têm interesse em provar outros pra-tos, e escolheram o sábado como o melhor dia da semana para tal. Existe interesse pela oferta da gastro-nomia eslava em Irati, tanto para proprietários dos restaurantes, quanto para clientes, porém não existem estabelecimentos gastronômicos que supram esta demanda. Palavras-chave: Cultura; Gastronomia eslava; Irati-Pr; Turismo; Imigração eslava; Turismo gastronô-mico. Abstract: This essay verifies offers of Slavic plates in the gastronomic establishments in Irati and the interest of the tourists and residents in proving of this gastronomy. In the city Poles and Ukrainians exist descending of, that keep gastronomic customs of ancestor. It is considered Slavic gastronomy as poten-tial for the tourism in Irati. Bibliographical research and of field research was become fulfilled, and was evidenced that the searched establishments offer one of main typical plates of the Slavic gastronomy, pierogi/perohê. However, the customers of the establishments have interest in proving other plates, and had chosen Saturday as optimum day of the week for such. Interest exists for offers of the Slavic ga-stronomy in Irati, as much for proprietors of the restaurants, how much for customers, however gastro-nomic establishments do not exist that supply this demand. Keywords: Culture; Slavic gastronomy; Irati-Pr; tourism; Slavic immigration; Gastronomic tourism i Paula Turra Grechinsk. Bacharel em Turismo pela Universidade Estadual do Centro-Oeste. Docente da mesma IES. E-mail: peul_t@hotmail.com. ii Poliana Fabíula Cardozo. Bacharel e Mestre em Turismo (Universidade Estadual do Oeste do Paraná e Universidade de Caxias do Sul). Doutoranda em Geografia (Universidade Federal do Paraná). Professora assistente e pesquisadora da Universidade Estadual do Centro-Oeste. E-mail: polianacardo-zo@ yahoo.com.br 362 A gastronomia eslava em Irati ... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 Introdução Este trabalho trata sobre gastronomia e versa acerca das relações entre gastrono-mia, etnicidade e suas interfaces com o turismo, considerando a gastronomia esla-va como um atrativo aos estabelecimentos gastronômicos na cidade de Irati, estado do Paraná, na região Sul do Brasil. Irati, cidade localizada a cerca de 156 km da capital do estado, Curitiba, possui uma população formada pela mescla de diferentes etnias, entre elas, os poloneses e ucranianos (Prefeitura Municipal de Irati, 2007). A influência destes imigrantes é predominante na cidade até hoje. Podem-se notar os costumes e tradições polonesas e ucranianas na literatura, arte, música, dança, arquitetura, costumes religiosos, modo de falar e na gastronomia da cidade. Ao longo do trabalho, os poloneses e ucranianos serão denominados generica-mente por eslavos. Segundo o dicionário Aurélio (1995), o termo eslavo refere-se ao grupo étnico e lingüístico da Europa central e oriental, e divide-se em três grandes sub-grupos: eslavos ocidentais (poloneses e tcheco-eslovacos), eslavos meridionais (búlgaros, servo-croatas e eslovenos) e esla-vos orientais (russos e ucranianos). Os povos eslavos diferenciam-se pelo idioma, costumes e origem histórica, mas um dos pontos em comum entre eles é a gastronomia. Os poloneses e ucranianos utilizam basicamente os mesmos ingredien-tes e maneiras de preparo dos alimentos, e na maioria das vezes altera-se somente a pronúncia ou o nome do prato. Podem-se citar como exemplo os dois pratos típicos mais conhecidos na cidade: o pierogi (em polonês) ou perohê (em ucraniano); e a barszcz (em polonês) ou borchtz (em ucra-niano). Ambos os pratos possuem a mesma forma de preparo para as duas etnias, alte-rando- se somente o nome. Considerando a hipótese da gastronomia eslava constituir um atrativo potencial para a atividade turística em Irati, a oferta de pratos eslavos nos estabelecimentos gastronômicos da cidade pode ocasionar uma maior valorização e divulgação da identidade, cultura, história e tradições locais, além de um maior desenvolvimento das empresas ligadas ao ramo da alimen-tação e da possibilidade de vincular a gas-tronomia eslava à cidade de Irati como for-ma de um produto turístico distinto. De acordo com a Prefeitura do Municí-pio, a cidade de Irati possui cerca de 54.855 habitantes, e, conforme afirma Rudek (2002), grande parte de sua população é de descendentes das etnias polonesa e ucra-niana. Estes descendentes contribuem para o enriquecimento cultural da cidade, man-tendo costumes, tradições e valores dos países de origem especialmente no que diz respeito à alimentação. Percebe-se que, apesar do potencial exis-tente na cidade acerca da cultura de seus colonizadores, faltam opções aos visitantes para apreciar os pratos típicos da gastro-nomia eslava. Faz-se necessário, portanto, um estudo junto aos estabelecimentos gas-tronômicos e seus clientes (sejam eles visi-tantes ou residentes), para analisar se há interesse pela oferta da gastronomia esla-va, o que viria a suprir a esta possível carência. Nesse sentido, a pesquisa tem por obje-tivos: Geral: examinar a oferta de pratos eslavos nos estabelecimentos gastronômicos de Irati e suas interfaces com o turismo local. Específicos: • avaliar, do ponto de vista dos estabele-cimentos gastronômicos e dos clientes (turistas e residentes), o interesse pela oferta de pratos eslavos na cidade de Irati; e • detectar quais são os pratos mais apre-ciados e procurados pelos clientes. Metodologia de pesquisa Para alcançar os objetivos propostos, a realização desta pesquisa ocorreu em eta-pas. A etapa inicial foi composta por pes-quisa teórica. A segunda etapa abrangeu pesquisa de campo para coleta de dados. Como técnica de investigação foram desen-volvidos três instrumentos: dois de entre-vista; e o terceiro um instrumento de for-mulário voltado aos clientes dos mesmos estabelecimentos. De acordo com Fagali (2006), a cidade de Irati conta com 20 restaurantes, porém apenas seis deles foram escolhidos para a pesquisa. O critério de escolha dos seis res- Paula Turra Grechinsk y Poliana Fabíula Cardozo 363 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 taurantes deu-se pelo fato de os mesmos estarem localizados no centro da cidade, onde há um grande fluxo de pessoas. As entrevistas com os proprietários fo-ram realizadas durante o mês de julho de 2007, em total de seis. O objetivo destas entrevistas foi o de obter informações a respeito do estabelecimento e do interesse do mesmo acerca da gastronomia eslava. Na entrevista com as descendentes das etnias polonesa e ucraniana foram não-estruturadas e não-dirigidas. Quando cita-das no trabalho as descendentes serão refe-renciadas pelas iniciais das entrevistadas: M.Z. representando a descendente polone-sa, e V.K., para representar a descendente ucraniana. A pesquisa com os clientes ocorreu em julho, num total de cem entrevistados. A abordagem aos clientes foi realizada de forma aleatória, no momento em que os mesmos saíam dos restaurantes pesquisa-dos, todos na região central da cidade. A análise dos resultados aliada aos con-ceitos bibliográficos pesquisados, torna possível um parecer com relação à oferta da gastronomia eslava nos estabelecimentos gastronômicos de Irati como forma de atra-tivo turístico. Gastronomia, cultura e interfaces com o turismo Desde o início do século XX vêm sendo elaboradas definições para o turismo. Em-bora não haja um consenso, dada a com-plexidade do tema, o turismo pode ser basi-camente descrito como as atividades de lazer que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência temporária em lu-gares distintos dos que vivem, desde que sem fins lucrativos. Percebe-se que o turismo é um fenômeno típico da sociedade capitalista, com re-levância social, econômica e cultural, que envolve pessoas em busca de novas expe-riências e conhecimentos, e capaz de au-mentar o consumo e produção de bens, ser-viços e empregos. Com o crescimento do turismo ao longo dos anos, desencadeado pela elevação do nível de renda das populações, pelo aumen-to do tempo ocioso, facilidades de desloca-mento, avanços tecnológicos, desejo de evasão e pelo interesse em conhecer novos lugares e culturas, cresceu também a diver-sidade de atividades turísticas para aten-der a demandas cada vez maiores. Torna-se necessário, portanto, uma segmentação do turismo como forma de diferenciar e satisfazer necessidades especí-ficas dos turistas. A segmentação do turis-mo é uma técnica caracterizada pela divis-ão do mercado turístico em grupos com características semelhantes e conseqüentes esforços para atingir tais nichos de merca-do, adequando os produtos e serviços às necessidades específicas. (Lage e Milone, 2000). Com a segmentação, o núcleo recep-tor pode preparar-se adequadamente para receber determinado tipo de turista e atendê-lo de acordo com suas necessidades. De forma generalizada, os maiores seg-mentos de mercado são: turismo de lazer, turismo de negócios, de compras, de even-tos, terceira idade ou melhor idade, despor-tivo, ecológico, rural, de aventura, religioso, cultural, científico, estudantil, familiar, de saúde ou médico-terapêutico e, entre ou-tros, o turismo gastronômico (Fagliari, 2005). O turismo gastronômico é um dos seg-mentos que gera conflito entre estudiosos, sendo que alguns nem mesmo o consideram como uma segmentação do turismo. Geral-mente é associado ao turismo cultural pelo fato de que a gastronomia possibilita o con-hecimento de hábitos e costumes da comu-nidade visitada. Considera-se, portanto, a gastronomia como parte do patrimônio cul-tural de uma localidade, por ser uma forma de demonstrar características e o modo de vida da mesma. Turismo e patrimônio cultural: viés com a gastronomia De acordo com Barretto (1995), o turis-mo cultural tem como objetivo conhecer os bens materiais e imateriais produzidos pelo homem, não tendo como atrativo principal um recurso natural. Montejano (2002) afirma que a pessoa que pratica turismo cultural busca informações, conhecimentos, interação com outras pessoas, comunidades e lugares, degustação da gastronomia de uma localidade, o artesanato, participação das festas folclóricas e visitas a locais histó-ricos. Segundo o autor, o perfil desse tipo de 364 A gastronomia eslava em Irati ... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 turista é composto por um interesse pelo passado histórico, monumental, artístico e antropológico, assim como uma motivação por uma formação cultural permanente. Os recursos turísticos culturais são pro-dutos diretos dos bens móveis e imóveis produzidos pelo homem, compreendendo elementos do patrimônio cultural. O concei-to básico de patrimônio segundo Camargo (2002:95), é o de “bens culturais ou monu-mentos de excepcional valor histórico e artístico nacional”. Partindo deste conceito é possível descrever o patrimônio cultural como as manifestações dos indivíduos de uma comunidade, sejam materiais ou não, e que se referem à identidade, ação e memó-ria de uma sociedade, como construções móveis e imóveis; criações imateriais; modo de vida; descobertas científicas, artísticas e tecnológicas; etc. Nota-se que não é apenas o legado mate-rial que atrai turistas para uma localidade, mas sim todos os demais aspectos da cultu-ra como festas, danças, gastronomia, e aç-ões ligadas ao comportamento, pensamento e expressão dos povos. Segundo definição da UNESCO (Orga-nização das Nações Unidas para a Educaç-ão, a Ciência e a Cultura), o patrimônio intangível é a herança cultural dos povos passadas oralmente de geração em geração, como tradições, folclore, celebrações, cren-ças, valores, representações, idiomas, ex-pressões, gastronomia, festas, conhecimen-tos, técnicas e diversos outros aspectos que compõe a identidade de um povo e são re-conhecidos como parte integrante do pa-trimônio cultural (Schlüter, 2003). O patrimônio cultural é, portanto, todos os bens (materiais e imateriais), que por suas características históricas, culturais ou naturais, servem como uma referência ao passado, fazendo com que sua preservação e valorização sejam de interesse para a sociedade atual. É relevante destacar que o patrimônio cultural é um recurso de grande potencial turístico, mas não deve ser preservado e conservado apenas para que o turismo pos-sa utilizá-lo. Sua preservação é importante para a comunidade como um todo, já que proporciona conhecimento e respeito à história e aos elementos valorizados pela sociedade, além da conservação da identi-dade do local. A gastronomia assume cada vez mais importância como um atrativo cultural e patrimônio intangível dos povos, sendo um atrativo tanto para os residentes quanto para os turistas. As pessoas sentem-se mo-tivadas a buscar o prazer mediante a ali-mentação, e conseguem entender a cultura de um lugar por meio da gastronomia. (Schlüter, 2003). De acordo com Segala (2007), algumas regiões utilizam sua cultura, história e tra-dições como forma de divulgar a gastrono-mia, e criam um produto turístico distinto - que também é parte integrante do turismo cultural - os roteiros gastronômicos. A prin-cipal função dos roteiros é mostrar os hábi-tos alimentares de uma região, fazendo com que além dos sabores, as pessoas passem a conhecer também mais sobre a história, costumes, religiões e tradições locais. Se-gundo Schlüter (2003:75), “as rotas gas-tronômicas em função da cultura têm por objetivo mostrar os valores culturais de determinadas localidades tendo como eixo os pratos típicos da região.” Como é considerada patrimônio por tra-duzir a identidade de um povo, a gastrono-mia adquire cada vez mais importância ao promover um destino e atrair fluxo turísti-co, possibilitando aos visitantes a oportuni-dade de construírem, aumentarem ou reo-rientarem seus sensos de identidade (Schlüter, 2003). Segundo Gimenes (2003), a gastronomia e suas atividades correlatas são peças fun-damentais para a atividade turística, e atuam como serviço indispensável à estadia e bem-estar do turista, inclusive “caracteri-zando- se enquanto atrativo turístico em diversas localidades.” (Gimenes, 2003: 274). A gastronomia, quando utilizada como um atrativo turístico, serve para divulgar a cozinha regional, ajudando também a pre-servá- la. A utilização da gastronomia como produto turístico permite inclusive o desen-volvimento sustentável da atividade por envolver a comunidade na elaboração dos produtos. Córner (2007) destaca que o sabor de certos alimentos e temperos são teste-munho do passado que sobrevive na manei-ra de preparar certos pratos, e, muitas ve-zes, conta também a história dos imigran-tes em uma região. Conforme Schlüter (2003), o patrimônio Paula Turra Grechinsk y Poliana Fabíula Cardozo 365 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 gastronômico de uma região é um dos pila-res no qual o desenvolvimento do turismo cultural está fundamentado. Dessa forma, torna-se fácil a associação da gastronomia com patrimônio cultural, já que, inegavel-mente, ela é uma ação cultural ligada ao passado e à história da sociedade, do povo e da nação à qual pertence. Serviços e atrativos na composição da ofer-ta turística De acordo com Bahl (2004), para que as pessoas sintam-se motivadas a deslocar-se de uma determinada região para outras, há a necessidade da existência de uma oferta turística adequada. A oferta turística se-gundo o autor são os “[...] bens e serviços oriundos da estrutura de atrativos, utilida-de pública, geral e turística de uma locali-dade que [...] permitem conformar produtos turísticos” (Bahl, 2004:32). A oferta turísti-ca pode ser descrita, portanto, como tudo o que uma localidade necessita para atender de maneira adequada às necessidades e desejos de seus visitantes. Os componentes da oferta turística, se-gundo Bahl (2004) são agrupados em atra-tivos, estrutura de utilidade pública e geral e serviços turísticos. Os atrativos são os elementos básicos para a determinação turística de uma localidade, e dividem-se basicamente em atrativos naturais e cultu-rais. A estrutura de utilidade pública e geral inclui os elementos que correspondem à dinâmica básica da localidade receptora, como energia, saneamento, acessos, estru-tura de circulação, de comunicação, de or-denação urbano-administrativa e de entre-tenimento e animação. Finalmente, a estru-tura de serviços turísticos são os serviços, instalações e equipamentos que podem ser utilizados pelos turistas. Com relação aos atrativos turísticos, Bahl (2004) os define como todos os elemen-tos naturais ou culturais que compõe o pa-trimônio turístico e despertam a curiosida-de dos turistas, motivando-os a viajar. Já os serviços turísticos são “o conjunto de edifi-cações, instalações e serviços indispensá-veis ao desenvolvimento da atividade turís-tica” (Lage e Milone, 2000:28). Os serviços são, portanto, toda estrutura utilizada pe-los turistas (transporte, alimentação, hos-pedagem, entretenimento, agenciamento, apoio turístico, etc...). A alimentação pode então ser considera-da tanto como atrativo quanto como serviço turístico. Pode ser um atrativo, quando traduz a identidade de uma localidade, fazendo com que os turistas sintam-se mo-tivados a conhecê-la, e satisfazendo assim suas necessidades pessoais. E pode ser um serviço por compreender a estrutura ele-mentar de alimentação (restaurantes, ba-res, lanchonetes e similares), complemen-tando o pacote de serviços oferecidos ao turista com o objetivo de suprir suas neces-sidades alimentares. Relação do turismo com a gastronomia Como já visto anteriormente, a gastro-nomia pode ser por si só um atrativo turís-tico ou complementar outras atrações de maior envergadura. Funari e Pinsky (2003:109) afirmam que os hábitos culinários de uma região são “o melhor caminho para conhecer sua herança cultural” e que as preferências alimentares refletem “as possibilidades naturais ou comerciais de uma região, as tradições (in-clusive religiosas) do povo que a habita e suas técnicas de preparação”. Pode-se con-siderar, portanto, a gastronomia como uma forma de mostrar a identidade de um lugar por refletir as preferências, aversões, iden-tificações, discriminações e etc. de seus moradores. Ao explorar mais a gastronomia como forma de atrativo, o turismo resgata uma memória que poderia se perder no tempo (Córner, 2007). A gastronomia, por ser uma manifestação cultural expressiva, torna-se uma atração de demanda turística. Alimentos e bebidas típicos de grupos imigrantes refletem a história e cultura dos mesmos. O fato de manter-se a maneira de preparar e degustar os alimentos, mesmo longe de seu país de origem, é uma forma de reforçar a idéia de pertencer ao lugar que deixaram (Schlüter, 2003). O processo cultural que determinou a receita e os in-gredientes que compõe cada prato desperta o interesse dos visitantes, e influencia in-clusive na escolha por determinados desti-nos turísticos. A gastronomia típica de grupos imigran-tes também faz parte do patrimônio cultu-ral de uma localidade, podendo ser utiliza- 366 A gastronomia eslava em Irati ... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 da como referencial da herança cultural e para elaboração de roteiros turísticos (Bahl, 2004). O interesse por restaurantes espe-cializados nesse tipo de gastronomia têm crescido muito pois oferecem a oportunida-de de recordar ou conhecer um pouco de um outro país através das expressões culturais mantidas pelos descendentes, proporcio-nando ao turista lazer e cultura. A gastro-nomia tem uma função importante em uma comunidade, especialmente quando tra-balha como atrativo, pois tem a capacidade de demonstrar valores culturais e a identi-dade local aos visitantes. Hoje em dia, em função da globalização, as trocas de experiências estão mais fáceis. Por exemplo, já é possível conhecer alimen-tos de todas as culturas sem precisar con-hecer suas respectivas localidades. É im-portante mencionar, de acordo com Schlü-ter (2003), que fora de seu local de origem é comum as receitas serem alteradas para agradar diferentes hábitos alimentares. Para o turismo gastronômico não é sufi-ciente conhecer apenas os alimentos e não conhecer o local de origem e sua cultura. Segundo De Paula (2004), a satisfação em comer fora de casa é atribuída a fatores ambientais e à expectativa emocional, e não apenas à escolha de determinada refeição, afinal, não se compra apenas o serviço, mas também a experiência da refeição. É a par-tir daí que o turismo gastronômico passa a ser um diferencial. Tendo em vista o crescimento do inte-resse de turistas pelo contato com a cultura de seus antepassados, diferenças culturais e valores étnicos, o turismo gastronômico pode e deve ser mais explorado no país, utilizando inclusive a imigração como po-tencialidade turística. Gimenes (2003) afirma que a diversificação em termos de oferta gastronômica no Brasil, mais especi-ficamente no Paraná, é evidente e reflete um potencial que necessita de mais atenç-ão. O turismo gastronômico, segundo Gime-nes (2003), pode ser encarado como uma forma de utilizar o patrimônio de uma co-munidade como vetor para o desenvolvi-mento do turismo, objetivando a recuperaç-ão de antigas tradições e valorização dos produtos locais. Considera-se ainda a opi-nião de Bahl (2004) acerca desse tema quando afirma que o patrimônio cultural oriundo de um legado étnico associado ao turismo, constitui um componente da oferta turística. Utilizando a gastronomia étnica como atrativo turístico também é possível o resgate cultural da presença da etnia em determinada localidade. A busca dos turistas pela culinária típi-ca de uma região torna-se cada vez mais freqüente, e a cozinha tradicional é cada vez mais reconhecida pelo seu valor como patrimônio cultural. A gastronomia é um importante motivador para viagens, e mesmo quando não é o motivo ou elemento principal, sempre tem seu papel de desta-que, pois agrega maior valor e incrementa os roteiros de viagem. Essas informações confirmam o interes-se por parte dos turistas em conhecer mais a história e características do local que estão visitando, incluindo a gastronomia. De acordo com Furtado (2007), a gastrono-mia como um produto, ou como atrativo é importante do ponto de vista turístico, pois apresenta formas de turismo voltadas para as características gastronômicas de cada região nem sempre bem exploradas. Considera-se, com estes entendimen-tos, que a busca pelo lazer, novas experiên-cias e conhecimentos podem ser sanados por meio do turismo, e mais especificamen-te com o turismo cultural, que torna possí-vel a interação com outras pessoas, comu-nidades e lugares. Como a gastronomia faz parte do turismo cultural e reflete a identi-dade e memória de uma comunidade, sua valorização resulta na preservação e divul-gação da cultura da comunidade como um todo. É notável a importância da gastrono-mia como patrimônio cultural e atrativo turístico, pois por meio dela as pessoas conhecem também mais sobre a história, costumes e tradições locais, além de ser uma forma de preservar a história dos imi-grantes de determinada região. Aqui cabe mencionar a relevância da preservação da memória dos grupos de imigrantes, pois para eles esta vem a ser um instrumento para que suas tradições não se percam no tempo ou no espaço. Irati e a imigração eslava: marcas e identi-dade cultural Os dados referentes à cidade de Irati es-critos neste capítulo foram obtidos junto à Prefeitura Municipal da cidade, através de uma apostila comemorativa ao centenário da cidade, denominada Dados Gerais – 1907 a 2007 (2007), contendo informações atuais sobre o município. A cidade de Irati está situada na região Paula Turra Grechinsk y Poliana Fabíula Cardozo 367 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 centro-sul do Estado do Paraná. O municí-pio está distante 156 km da capital do Es-tado, Curitiba e tem aproximadamente 54.855 mil habitantes. Irati possui diversos atrativos turísticos, dentre eles a imagem de Nossa Senhora das Graças, a maior do mundo segundo o Guiness Book – Livro do Recordes, com 22 metros de altura. A cidade também conta com uma arquitetura religiosa diversifica-da, incluindo Igrejas e monumentos, e o Teatro da Paixão de Cristo, heranças dos imigrantes. O município também conta com recantos naturais e quedas d’água, ainda não explorados turisticamente. Existem numerosos eventos municipais, alguns de grande porte como o Rodeio Irat-chê, o maior do Sul do Brasil, que acontece no mês de julho desde 1988. A Casa da Cul-tura guarda o acervo histórico da cidade e o diversificado artesanato da região intitula-do “É de Irati”, que também são formas de manter e promover a cultura do municípío (Prefeitura Municipal de Irati, 2007). A imigração eslava e suas manifestações em Irati O ano da chegada dos primeiros imi-grantes ucranianos e poloneses no Brasil não pode ser determinado com certeza de-vido à falta de documentação. Muitos auto-res fixam como referência da imigração eslava no Brasil o ano de 1895, quando chegou ao Paraná a primeira grande leva de colonos vindos da Galícia (região frontei-riça entre Polônia e Ucrânia), mas sabe-se que entre os anos de 1867 e 1948, famílias vindas da Ucrânia e Polônia passaram a residir em terras brasileiras, principalmen-te no Sul do País. Atualmente vivem no Brasil quase dois milhões de descendentes de imigrantes poloneses (Sahaiko, 2007 e Zavilinski, 2007). Como afirma Rudek (2002:04), “Em fins do século XIX e início do século XX, ocorreu uma massífica (sic) ocupação das terras no Estado do Paraná, pelos imigrantes, vindos da Europa Oriental, conhecidos como esla-vos”. Em 1904 a região de Irati contava com 30 famílias polonesas, e por volta de 1922, já estavam registradas 800 famílias. Em 1937, dos 16.000 habitantes em Irati, 4.500 eram poloneses. Registros de ucranianos datam de 1891, com 25 a 30 famílias ucra-nianas vindas da Província da Galícia, e a partir de 1895 já eram cerca de 5.000 famí-lias ucranianas no Paraná. Atualmente, 90% dos 300.000 descendentes de ucrania-nos no Brasil estão no Paraná (Rudek, 2002). Entre os anos de 1895 e 1896, houve grande incentivo para que se povoasse o Brasil. O governo brasileiro e suas políticas de imigração incentivavam a vinda de imi-grantes porque o Brasil necessitava de pes-soas para ocupá-lo (por meio da colonizaç-ão). Portanto, o governo pagava as passa-gens de navio, cedia 10 alqueires de terra a cada família de imigrantes para ser pago num prazo de 20 anos, fornecia ferramen-tas para o trabalho agrícola e comida du-rante um ano. Em troca, os colonos trabal-havam pelo menos três vezes por semana na construção e conservação de estradas (Zavilinski, 2007). Os motivos da vinda dos imigrantes po-loneses e ucranianos para Irati foram a garantia de trabalho com a construção da estrada de ferro, as condições climáticas semelhantes ao país de origem, as matas que possibilitavam a indústria extrativista, e a facilidade em adquirir terras férteis. (Rudek, 2002). De acordo com Rudek (2002), os colonos eslavos organizaram colônias e dedicaram-se à agricultura e à criação de animais co-mo requisito para a ocupação das terras, contribuindo muito para o desenvolvimento da economia do município. De acordo com Sahaiko (2007) e Zavi-linski (2007), uma forte característica dos imigrantes ucranianos e poloneses é a preo-cupação com a religião. Desde o início da organização das comunidades polonesas e ucranianas em Irati houve uma preocupaç-ão com o aspecto religioso. Pode-se dizer que a Igreja é a grande responsável por manter as tradições, expressões artísticas e culturais e estilo de vida dos descendentes eslavos. Oriundos de países ricos em tradições artísticas, os imigrantes ucranianos e polo-neses não poderiam esquecer da herança cultural recebida de seus antepassados. A herança mais representativa neste sentido é a Pêssanka ucraniana. São ovos pintados artisticamente, representando a Páscoa com símbolos de amor, amizade, vida eter- 368 A gastronomia eslava em Irati ... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 na, felicidade, ressurreição, cristianismo, etc... O que poucos sabem é que essa tradi-ção também faz parte da cultura polonesa, e a chamam Pisanki. (Rudek, 2002). Segundo Rudek (2002), são também ex-pressões artísticas dos eslavos o entalhe em madeira e bordados em toalhas e camisas. O bordado ucraniano utiliza muito as cores vermelha – que representa alegria e amor – e preta – que significa sofrimento. Em Irati as tradições são mantidas, a-lém da Igreja, através do Grupo Folclórico Ucraniano Ivan Kupalo, e do Grupo Folcló-rico Polonês Lublin. O Grupo Folclórico Ucraniano Ivan Ku-palo surgiu em fevereiro de 1976. As dan-ças do grupo são relacionadas à fenômenos da natureza: vento, sol e chuva. Atualmen-te o grupo conta com aproximadamente 60 componentes entre adultos, jovens e crian-ças, todos preocupados em estudar, divul-gar e preservar a cultura dos imigrantes ucranianos (Sahaiko, 2007). Na mesma época da fundação do grupo folclórico foi criada a Congregação Mariana, grupo de jovens descendentes de ucrania-nos com o objetivo de ajudar nos eventos da Igreja e manter os costumes étnicos. Atualmente também editam um boletim informativo, com notícias, entretenimento e outros assuntos relevantes para a comuni-dade ucraniana iratiense (Sahaiko, 2007). A partir de 1985, com o objetivo de resgatar as tradições e promover os costu-mes, festas e cultura da etnia polonesa, formou-se o Centro de Tradições Polonesas 3 de Maio, e foi ao ar em uma rádio local, o programa “Hora Polonesa”. O Grupo Folcló-rico Polonês de Irati, que pertence ao Cen-tro de Tradições Polonesas 3 de Maio, cha-ma- se Lublin e teve sua estréia em 3 de janeiro de 1987 (Zavilinski, 2007). Ao longo dos cem anos de colonização em Irati, os ucranianos e poloneses foram res-ponsáveis pelo desenvolvimento do municí-pio. Durante esse período, houve uma grande integração com outros grupamentos étnicos, mas isso não impediu que os cos-tumes e tradições trazidos dos países de origem se mantivessem até os dias de hoje. Ainda é possível notar a presença da cultu-ra polonesa e ucraniana em Irati através da arquitetura, artesanato, folclore, religiosi-dade, linguagem e hábitos alimentares. A gastronomia eslava em Irati Entre as manifestações culturais eslavas em Irati, pode-se mencionar a gastronomia. Conforme afirma Rudek (2002), dentre os pratos típicos mais consumidos nas famílias descendentes de imigrantes poloneses e ucranianos estão: “charuto, sopa de toma-tes, pastéis de requeijão, molhos e cremes de cogumelos, canjas de galinha, geléia de porco, batata-doce, repolho azedo, ensopa-dos de repolho com carne defumada, peixes defumados, diversos doces e as massas [...] como o pão doce com sementes e papoula [...] broa, rética, coravai, polenta e arroz com leite, coalhada (Rudek, 2002:18). Os pratos citados, e outros, serão deta-lhados a seguir de acordo com as entrevis-tas realizadas com as descendentes das etnias polonesa e ucraniana em Irati, M.Z. e V.K. Segundo as entrevistadas, a gastro-nomia da Ucrânia e Polônia ainda é preser-vada nas famílias dos imigrantes em Irati, e os pratos típicos são servidos principal-mente em datas comemorativas e reuniões de família. As informações expostas a se-guir são resultantes das entrevistas. Os povos eslavos e seus descendentes apreciam muito a pães e broas. A broa inte-gral feita de centeio ou trigo sarraceno (c-hleb razowy1 em polonês) é muito comum, assim como o kororwaj (em polonês) e koro-vái (em ucraniano), um pão tradicional feito em formato redondo e decorado com massa em formato de tranças ou o strucel (em polonês), que também é um pão trançado. O paska (em ucraniano) está sempre presente na Páscoa, assim como o babka (em ucrani-ano) é um pão doce sempre presente no Natal. Salsicha, linguiça (kovbaça em ucrania-no ou kubassat em polonês), lombo de porco e toucinho (salo em ucraniano) são muito utilizados como aperitivos em dias de festa e como acompanhamento para outros pra-tos típicos. Podem ser preparados defuma-dos, fritos, assados, cozidos ou servidos cru. As sopas são muito comuns, sendo a bor-chtz (em ucraniano) a mais comum e apre-ciada. É considerado o prato nacional da família ucraniana, mas também é muito apreciada pelos poloneses, que a conhecem como barszcz czerwony (consomê de beter-raba). Aqui no Brasil é comumente chama-da de sopa vermelha. As sopas são tradicionalmente servidas Paula Turra Grechinsk y Poliana Fabíula Cardozo 369 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 como entrada para outro prato principal, e são degustadas acompanhadas por pão preto de centeio ou trigo. Outra sopa tradi-cional encontrada em Irati é a kasp´sniaki (em polonês) e kapusniak (em ucraniano), feita com repolho azedo, batata e carne de porco. Dentre as carnes, a carne de porco é a mais encontrada nas receitas eslavas, exis-tindo também receitas com a tripa (flaki) e o joelho de porco (golonka). Existem em ambas as culturas receitas com carne de marreco ou frango, bovino, novilho (krazy) e vitela. Quanto à forma de preparo, são mui-to variadas: assadas, defumadas, fritas, abafadas, amassadas, moídas, enroladas, recheadas, etc. Os ucranianos também a-preciam muito a kozá, carne de cabrito as-sada. Os molhos mais consumidos são os mo-lhos de nata e suas variações (como o de requeijão com nata), e o molho à base de raiz forte moída conhecido no Brasil como krin (hryn em ucraniano, chrzan em polo-nês), que acompanha principalmente car-nes. Pratos a base de batatas são muito co-muns nas duas etnias. O pierogi (em polo-nês) ou perohê ou varéneke (em ucraniano), uma espécie de pastel cozido, de massa amanteigada feito com farinha de trigo e recheado com uma mistura de batata e requeijão, é a receita mais comum entre os descendentes de ucranianos e poloneses. Tradicionalmente é servido acompanhado por um molho de nata ou molho de carne temperado, semelhante ao molho bolonhe-sa. Existem muitas variedades de recheio deste prato típico na Ucrânia, como cogu-melos, feijão, carne, peixe, papoula, pêsse-gos, trigo mourisco, entre outros, mas o mais encontrado em Irati é a receita tradi-cional com batata e requeijão. Outra receita polonesa muito conhecida a base de batatas é o platzki, uma mistura de batatas, trigo e ovos fritos. Outros pratos típicos: • bigos (em polonês): é uma mistura de couve branca ou repolho azedo com grande variedade de carnes defumadas e diversos temperos como pimenta, louro, ameixas secas, vinho branco, mel cogu-melos, tomates, batatas maçãs e outros ingredientes. • holoptchi (em ucraniano) ou aluszki (em polonês): charuto feito com recheio de carne, miúdos, trigo ou arroz e envolvido com folhas de repolho ou couve; • cholodetz (em ucraniano): geléia, que pode ser de porco, de galinha, de peru... • mamalega (em ucraniano): polenta de fubá; • kasha (em ucraniano) ou kasza (em po-lonês): mingau com quirera de trigo, a-veia, milho ou arroz cozidos, consumido em diversas ocasiões; e • retica (em ucraniano): um cereal, conhe-cido no Brasil como arroz preto. Como sobremesas, a grande preferência são aquelas feitas com ricota. A sernik (em polonês) é a torta de requeijão. Citados por M.Z., iogurtes, tortas, sorvetes de frutas, mousses gelados, sonhos (paczki), além da torta de papoula (makowiec em polonês) e do bolo de levedo (drozdzowka em polonês) são sobremesas muito apreciadas pelos povos eslavos. O kutiá (em ucraniano), um doce a base de trigo, papoula, frutas secas e mel, é servido como sobremesa, mas origi-nalmente é uma receita consumida na ceia de Natal. A tradicional bebida eslava é a wodka gelada. No Brasil, a pivo (em polonês) ou pevo (em ucraniano), mais conhecida como cerveja caseira é a grande herança dos co-lonizadores. Apresentação dos dados Neste item serão apresentados os dados obtidos com as entrevistas realizadas com os clientes e com os proprietários dos esta-belecimentos gastronômicos pesquisados. Dados coletados com clientes As pessoas com idade entre 26 e 40 anos foram as que mais participaram das entre-vistas, representando 42% do total de en-trevistados. Em menor número, 5% estão as pessoas com mais de 60 anos. No que tange ao gênero dos entrevista-dos, as mulheres foram encontradas em maior número nos restaurantes pesquisa-dos, representando 53% dos entrevistados, enquanto os homens, 47%. Para a procedência, conforme dados co-letados, 65% dos entrevistados nos restau- 370 A gastronomia eslava em Irati ... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 rantes pesquisados residem em Irati. O restante, 35% estava temporariamente na cidade, a trabalho, e eram provenientes de cidades próximas como Curitiba, Guarapu-ava, e outras. Também foram entrevistadas pessoas provenientes de cidades não tão próximas como Rolândia, São João do Tri-unfo, e outras (no Paraná), bem como de outros estados e países do Mercosul. A grande maioria dos entrevistados (70%) conhece a gastronomia da região. Os que não a conhecem (25%) ou a conhecem pouco (5%) são os que não residem na cidade ou residentes que não são descendentes das etnias polonesa ou ucraniana. A maioria dos entrevis-tados (70%) gostaria que os restauran-tes da cidade servissem pratos da gastronomia eslava, mas 10% deles não apreciam essa culinária, portanto não gos-tariam que os restaurantes a servissem. O restante, 20%, é indiferente ao questiona-mento por não residirem na cidade de Irati. Quando questionados a respeito do inte-resse em freqüentar estabelecimentos que oferecem gastronomia eslava, 86% dos en-trevistados afirmam que iriam a um res-taurante para degustá-la, porém, 14% não iriam por não apreciar essa culinária. Na opinião dos entrevistados residen-tes em Irati, o fim de semana é a melhor opção para degustar os pratos típicos ucra-nianos e poloneses, principalmente no sábado (22%) e na sexta-feira (17%), em função da maior disponibilidade de tempo. A quarta-feira foi um dia mui-to cogitado (16%) pelos que não resi-dem em Irati, e que de acordo com a pesquisa da autora, a maioria vem à cidade durante a semana, a trabalho. Com relação à preferência acerca de qual prato típico gostaria que fosse servido nos restaurantes os entrevis-tados escolheram em maior número o pie-rogi/ perohê (19%), e a barszcz/borchtz (12%). O aluszki/holoptchi e o kozá foram o terceiro mais votados (10%). A escolha de qualquer prato, deu-se por 6% dos entrevis-tados, que alegaram gostar de todos ou ter interesse de provar qualquer um dos pra-tos. Gráfic 1. Prato típico que os entrevistados gostariam que fosse servido nos restauran-tes em irati - 2007 Dados coletados com proprietários Quando questionado aos proprietários se os mesmos já serviram algum prato típico da culinária polonesa ou ucraniana, todos afirmam que sim, com exceção do restau-rante B, que preparou pratos típicos ucra-nianos e poloneses apenas em eventos, e não em seu restaurante. Os demais servem pierogi/perohê pelo menos uma vez por semana, seja nos buffets ou quando é o pra-to do dia (no caso do restaurante C). O prato típico que foi servido por todos foi o pierogi/perohê. Os restaurantes E e A serviram, além do pierogi/perohê, o Quadro 1 – idade x interesse dos entrevistados em que os restaurantes de irati sirvam comida típica ucraniana e polonesa 15 a 25 anos 26 a 40 anos 41 a 60 anos Mais de 60 anos Sim 60% 70% 70% 100% Não 10% 10% 15% ------- Indiferente 30% 20% 15% ------- 12% 19% 10% 7% 5% 6% 8% 10% 9% 8% 6% Barszcz/Borchtz Pierogi/Perohê Aluszki/Holoptchi Kasp´Sniaki/ Kapusniak Retica Chrzan/Hryn Requeijão com nata Kozá Broa, salsicha, Lingüiça, lombo... Kutiá Qualquer um Paula Turra Grechinsk y Poliana Fabíula Cardozo 371 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 chrzan/hryn. O restaurante F serviu também uma receita com repolho azedo, considerando-a como um prato típico das etnias em questão. Os restaurantes C e D foram os que mais serviram pratos típi-cos eslavos, como barszcz/borchtz, kasp´sniaki/ kapusniak, aluszki/holoptchi, a rética, chrzan/hryn, requeijão com nata, kozá, broa, salsicha, lingüiça e lombo de porco defumados, kutiá, e platzki. Ainda segundo os proprietários entrevis-tados, os clientes do restaurante A aprova-ram as receitas eslavas oferecidas no esta-belecimento. No restaurante C, os clientes gostam muito quando têm a possibilidade de degustar pratos eslavos, assim como nos restaurantes D e F. Os clientes do restau-rante E sempre elogiam quando um prato típico ucraniano ou polonês é incluído no cardápio. O restaurante B, que ainda não serviu nenhum prato típico eslavo, a não ser em eventos, afirma que tem interesse em fazê-lo algum dia da semana. Todos os proprietários dos restaurantes pesquisados interessaram-se em saber o resultado da pesquisa com seus clientes, para verificar se há interesse dos mesmos em provar pratos da gastronomia eslava. Análise dos dados Considerando os dados expostos, parte-se neste momento para sua análise em pro-fundidade. Para tal, foram efetuados al-guns cruzamentos entre dados pertinentes obtidos com o formulário e com as entrevis-tas. Cruzamento 1: relação entre a idade dos entrevistados e o conhecimento dos mesmos acerca da gastronomia típica da região. Percebe-se que a grande maioria dos entrevistados, em todas as faixas etárias tem conhecimento da gastronomia típica da região. Importante ressaltar que a totali-dade dos entrevistados acima de 60 anos conhece a gastronomia típica da região (a gastronomia eslava). Com esse dado, pode-se pensar que a tradição dos imigrantes é mais difundida entre a população mais idosa, e menos difundida entre os mais jovens. Cruzamento 2: relação entre a idade dos entrevistados e o interesse dos mesmos na oferta de pratos eslavos nos restaurantes da cidade, onde sim indica que há interesse, e não, que não há interesse. Mais uma vez é relevante perceber que o grupo de entrevistados com mais de 60 anos demonstra maior interesse pela cultu-ra dos imigrantes ucranianos e poloneses no que diz respeito à gastronomia. Além dessa informação, é notável que a maior parte dos entrevistados, em todos as faixas etárias, gostaria que os restaurantes da cidade servissem comida típica ucraniana e polonesa. Cruzamento 3: relação entre o gênero dos entrevistados e o conhecimento dos mesmos acerca da gastronomia típica da região. Também neste cruzamento é notá-vel que em ambos os sexos o conhecimento da gastronomia ucraniana e polonesa pre-domina sobre o desconhecimento, porém com maior destaque que para as mulheres. Cruzamento 4: relação entre o sexo dos entrevistados e o interesse em que os res-taurantes da cidade sirvam pratos típicos poloneses e ucranianos, onde sim represen-ta que há interesse, e não, que não há inte-resse. Com ambos os sexos obteve-se a maioria das respostas positivas, quando perguntado se gostariam que os restauran-tes da cidade servissem comida típica ucra-niana e polonesa. Um dado interessante é que há um número superior de indivíduos que se sentem indiferentes quanto à oferta da gastronomia eslava em relação aos que não têm interesse. Os indiferentes não sen-tem falta da gastronomia eslava nos res-taurantes de Irati porque, pode-se aferir, na maioria, consomem os pratos típicos em suas próprias casas. Cruzamento 5: relação entre a pro-cedência dos entrevistados e o conhecimen-to acerca da gastronomia eslava na região, onde sim significa que conhece, e não, que não conhece. Em Irati, a maior parte dos entrevista-dos conhece a gastronomia típica da região, provavelmente por conviverem de alguma forma com as culturas polonesa e ucrania-na na cidade. Em se tratando de outras cidades, é perceptível que o número de res-postas negativas e positivas é o mesmo, sendo que os entrevistados que afirmaram não conhecer a tradição da gastronomia eslava em Irati, na maioria, não eram mo-radores de cidades próximas. Os entrevis- 372 A gastronomia eslava em Irati ... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 tados procedentes de outros estados não foram em número relevante (duas pessoas) para tornar possível uma análise para este cruzamento. Cruzamento 6: relação entre a cidade de origem e o interesse pela oferta de pra-tos eslavos nos estabelecimentos gastronô-micos de Irati, onde sim significa que há interesse, e não, que não há interesse Os moradores da cidade, em sua maio-ria, gostariam que os restaurantes servis-sem comida típica ucraniana e polonesa, apesar de um número representativo de respostas indiferentes à essa pergunta. Interessante notar que pessoas provenien-tes de outras cidades têm um grande inte-resse de encontrar em Irati restaurantes que sirvam comida típica ucraniana e polo-nesa. Provavelmente obteve-se este dado porque os visitantes gostam, em grande parte das vezes – como já foi observado na fundamentação teórica por outros pesqui-sadores – de experimentar pratos típicos do local visitado. O número de entrevistados provenientes de outros estados não foi sufi-ciente (2 pessoas) para resultar em um dado relevante, porém chama a atenção o fato de nenhum dos indivíduos ter interesse em que se sirvam pratos típicos ucranianos e poloneses em Irati. A justificativa está em um deles não apreciar essa gastronomia, e outro não conhecê-la. Cruzamento 7: a relação entre cada res-taurante pesquisado e o interesse de seus clientes em que o mesmo sirva pratos típi-cos da gastronomia ucraniana e polonesa. Considerando que, de acordo com as respostas dos proprietários dos restauran-tes durante as entrevistas, todos teriam interesse em montar um cardápio contendo pratos típicos da culinária eslava ao menos em algum dia da semana, dependendo do resultado da presente pesquisa. No restaurante A, 65% dos entrevista-dos gostariam que os restaurantes da cida-de servissem pratos típicos ucranianos e poloneses, sendo 15% de respostas indife-rentes à esta pergunta. O restante, 20% não gostaria. No restaurante B, não houve nenhuma resposta negativa. Apesar de 30% dos en-trevistados serem indiferentes à esta per-gunta, o restante dos entrevistados (70%) têm interesse em provar pratos típicos da gastronomia eslava nos restaurantes em Irati. Relevante ressaltar o fato de que o restaurante B é o único que nunca serviu pratos eslavos, talvez desconhecendo o grande interesse de seus clientes. No restaurante C também não houve nenhuma resposta negativa por parte dos clientes quando questionados sobre o inte-resse em que os restaurantes de Irati sir-vam pratos típicos poloneses e ucranianos, sendo 40% dos clientes indiferentes ao questionamento. No restaurante D, a maioria dos entre-vistados (65%) gostaria que fossem servidos pratos eslavos, 25% não gostariam e 10% são indiferentes ao questionamento. No restaurante E, apenas 5% dos entre-vistados deram uma resposta negativa ao questionamento, 30% foram indiferentes, e o restante (65%) gostaria, sim, que os res-taurantes da cidade servissem os pratos típicos da região. Finalmente, no restaurante F, o resul-tando do cruzamento em questão foi positi-vo para a pesquisa, afinal, entre todos os entrevistados não houve nenhuma resposta negativa, sendo que 90% deles gostariam de provar pratos típicos eslavos nos restauran-tes da cidade, e apenas 10% sentem-se indi-ferentes quanto à esta questão. Cruzamento 8: todos os seis restauran-tes pesquisados afirmam que recebem mui-tos clientes advindos de outras cidades. De acordo com um cruzamento de dados refe-rentes à cidade de origem dos entrevistados em cada restaurante, obteve-se como res-posta a tabela a seguir, onde as letras do alfabeto representam cada um dos restau-rantes pesquisados. Percebe-se que o restaurante E é o que mais recebe pessoas de outras cidades, sen-do o número de entrevistados que não resi- Quadro 8 – cidade de origem dos entrevistados em cada restaurante pesquisado Restaurante A Restaurante B Restaurante C Restaurante D Restaurante E Restaurante F Irati 70% 90% 60% 65% 35% 50% Outra cidade do Paraná 25% 10% 40% 35% 60% 50% Outro estado 5% 5% Paula Turra Grechinsk y Poliana Fabíula Cardozo 373 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 dem em Irati superior ao número de mora-dores da cidade. No restaurante F, o núme-ro de clientes residentes e visitantes entre-vistados foi o mesmo. Nos restaurantes A, B, C e D, o número de clientes da cidade foi superior ao número de visitantes, sendo que a diferença maior encontra-se nos esta-belecimentos A e B, onde o número de clientes iratienses foi superior ao de visi-tantes. Cruzamento 09: fez-se um cruzamento entre o que cada restaurante afirma já ter servido da culinária eslava, e o que os clien-tes dos mesmos restaurantes gostariam de encontrar nos restaurantes. Quando cita-dos, os nomes dos pratos estarão escritos conforme a maneira polonesa e ucraniana, respectivamente. O restaurante A, que já serviu piero-gi/ perohê e chrzan/hryn, teve com um número maior de respostas o pierogi/perohê como a melhor opção da culinária eslava. Com os clientes do restaurante B, que não possui nenhum prato típico eslavo em seu cardápio, o prato típico que se destaca, mais uma vez, é o pierogi/perohê, mas hou-ve um expressivo número de respostas em todos os pratos típicos sugeridos, uma vez que diversos clientes quando questionados respondiam que gostariam de degustar qualquer um dos pratos, seja por gostarem de diversos deles, ou para conhecê-los. O proprietário do restaurante C afirma já ter servido quase todos os pratos típicos citados na entrevista como barszcz/borchtz, pierogi/perohê, aluszki/holopti, kasp´sniaki/kapusniak, chrzan/hryn, kozá, além de requeijão com nata e broas, salsi-cha, lingüiça e lombo de porco defumados, que também são tradicionais nas culturas eslavas. Os clientes escolheram, na maio-ria, o pierogi/perohê, que é um prato típico servido ao menos uma vez por semana nes-te estabelecimento. O restaurante D também já serviu di-versos pratos da gastronomia eslava. Além dos já citados no restaurante C, e com ex-ceção do kozá, foi servido também retica, kutiá e platzki. Mais uma vez, a maioria dos clientes escolheu o pierogi/perohê como o prato típico que gostariam de encontrar com mais freqüência nos restaurantes da cidade. O restaurante E, assim como o restau-rante A já serviu pierogi/perohê e chrzan/hryn aos seus clientes, que escol-heram o pierogi/perohê como o prato típico da gastronomia eslava que gostariam que fosse servido nos restaurantes em Irati. Por fim, o estabelecimento F já serviu pierogi/perohê com diferentes recheios, além do repolho azedo, que é outro alimen-to tradicional nos países eslavos. Um gran-de número de entrevistados respondeu que gostaria que fosse servido qualquer prato da culinária eslava. Vale ressaltar que, conforme o cruzamento 8, 90% dos entrevis-tados neste estabelecimento gostaria que os restaurantes da cidade servissem pratos típicos poloneses ucranianos, o que talvez justifique o fato de seus clientes responde-rem de maneira ampla quando questiona-dos sobre quais pratos eles gostariam que fossem servidos nos restaurantes da cidade. Depois do pierogi/perohê, o prato mais escolhido, em todos os restaurantes foi a barszcz/borchtz. Talvez isso se dê pelo fato de que estes são os pratos típicos mais co-muns na cidade. Não houve nenhuma su-gestão de prato típico presente no formulá-rio que não foi escolhida por ninguém, todos foram escolhidos ao menos por uma pessoa. Também não houve nenhum caso com os clientes em que o entrevistado sugerisse algum prato que não estivesse contido no formulário utilizado. Com os cruzamentos e a análise indivi-dual de cada restaurante, é possível um parecer amplo quanto às questões aborda-das nos formulários e entrevistas. Os mo-radores de Irati são os que mais conhecem a gastronomia polonesa e ucraniana, pro-vavelmente por conviverem com essas cul-turas na cidade. Mas são as pessoas de outras cidades as que mais gostariam de ver os pratos típicos dessas etnias nos res-taurantes de Irati. Uma hipótese para a ocorrência deste dado dá-se em função de que diversos entrevistados iratienses, por serem descendentes das duas etnias, estão acostumados a consumir os pratos típicos em suas próprias casas. Além de ser notá-vel o interesse dos que não vivem na cidade em degustar ou conhecer os pratos típicos poloneses e ucranianos. Durante a aplicação das entrevistas com os clientes dos estabelecimentos, notou-se que muitos deles, apesar de conhecerem o 374 A gastronomia eslava em Irati ... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(2). 2008 Número Especial. Turismo Gastronómico y Enoturismo ISSN 1695-7121 prato típico, desconheciam o nome do prato. Também houve casos em que os entrevista-dos acreditavam ser o pierogi/perohê um prato típico da cultura italiana, ou que o aluszki/holoptchi era um prato típico li-banês. Coube à pesquisadora esclarecer esses aspectos e outros que geraram dúvi-das nos pesquisados acerca das culturas ucraniana e polonesa. Percebe-se pela pesquisa que a gastro-nomia eslava interessa tanto aos iratienses como aos visitantes, e ainda mais do que isso, é desejada pelo público freqüentador de restaurantes. Partindo do princípio de que a gastro-nomia, mais do que um serviço prestado, pode ser um atrativo turístico em Irati, pode-se dizer que na oferta de pratos esla-vos reside um grande nicho de divulgação, atração e mantenimento de turistas à cida-de, agregando valor à visitação por colocar à mostra aspectos tão ricos da cultura local. Considerações finais Ao longo deste trabalho, a gastronomia é entendida como patrimônio cultural por fazer parte, e traduzir de alguma forma a história e a identidade de um povo e de um local. O turismo gastronômico pode ser uma forma de utilizar o patrimônio cultural co-mo um atrativo turístico, ajudando inclusi-ve a preservar tradições que aos poucos vão se perdendo. Em razão disso, apresentou-se a possibi-lidade de análise para esta pesquisa, consi-derando a colonização eslava em Irati e seu legado gastronômico, tendo por finalidade examinar a oferta de pratos típicos eslavos nos estabelecimentos gastronômicos de Irati e suas interfaces com o turismo local. Quando avaliado o interesse pela oferta de pratos eslavos em Irati, do ponto de vis-ta dos estabelecimentos gastronômicos, foi possível notar que existe o interesse dos mesmos em ofertar alimentos desta gastro-nomia. Porém, há um receio por parte dos proprietários dos restaurantes pesquisados no que diz respeito à demanda para tal. Esse receio pode ser sanado pela pesqui-sa da avaliação do interesse pela oferta de pratos eslavos na cidade de Irati do ponto de vista dos clientes (turistas e residentes) dos estabelecimentos gastronômicos, cujo resultado foi muito positivo. Foi possível detectar que os visitantes da cidade gosta-riam que houvesse um local onde pudessem degustar e conhecer os pratos típicos da gastronomia da região. Seria interessante também para os moradores de Irati em muitos aspectos, inclusive para aqueles que moram na cidade, mas ainda não tiveram a oportunidade de provar os pratos típicos ucranianos e poloneses, já que eles são ser-vidos principalmente na residência dos descendentes dessas etnias. O prato típico mais citado pelos entre-vistados foi o pierogi/perohê. Vale ressaltar que muitas pessoas que participaram da pesquisa, sejam elas moradoras da cidade ou não, não conhecem os outros pratos típi-cos comuns para os descendentes, mas teri-am interesse em conhecê-los. Os pesquisa-dos não residentes em Irati, e os que não conhecem a gastronomia da região, afir-mam que iriam a um restaurante da cidade que serve pratos da gastronomia eslava e que gostariam que qualquer um dos pratos típicos fosse servido, mostrando um grande interesse em conhecer a gastronomia em questão. Nota-se que a gastronomia eslava pode ser um atrativo relevante para o turismo em Irati quando servida e divulgada nos restaurantes da cidade. Dessa forma, ela pode atuar como um atrativo propriamente dito, por traduzir a identidade da cidade, ou ainda agregar valores intangíveis a outros produtos e experiências turísticas mesmo quando utilizada apenas como um serviço. Referências Aurélio 1995 “Dicionário Básico da Língua Portu-guesa”. São Paulo: Nova Fronteira. Bahl, Miguel 2004 “Legados Étnicos e Oferta Turística”. Curitiba: Juruá. Barretto, Margarita. 1995 “Manual de Iniciação ao Estudo do Turismo”. Campinas: Papirus. 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Zavilinski, Genoveva. 2007 “Influência Polonesa nos 100 anos de Irati”. Folha de Irati. Irati, 14 a 20 de julho de 2007, p. 30 NOTA 1 Considerando que os idiomas ucraniano e polonês são grafados em alfabeto cirílico, neste trabalho não se observou a maneira original para a grafia das palavras estrangeiras, que foram então transcritas para o alfabeto latino. Primou-se pela cópia fiel quando essas palavras surgiam em trabalhos de outros autores. Durante as entrevistas elas foram grafadas conforme mencionado pelas entrevistadas. Cabe comentar que foi utilizado como material de apoio para essa escrita o Pequeno Dicionário Por-tuguês Ucraniano e Ucraniano Português, de autoria de Waldemiro Chomem. Recibido: 12 de febrero de 2008 Reenviado: 5 de marzo de 2008 Aceptado: 21 de marzo de 2008 Sometido a evaluación por pares anónimos |
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