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Vol. 8 Nº4 págs. 493 - 505. 2010
Uma análise das competências do professor de Turismo a partir da perspectiva dos estudantes
Francisco José da Costai
Francisca Flávia Plutarcoii
Renata Furtado Gradvohliii
i Professor da Universidade Federal da Paraíba - UFPB; Graduado, mestre e doutor em Administração; Interesse nas áreas de marketing e de educação em negócios. Email: franze@franzecosta.com.
ii Mestranda em Administração pela Universidade Estadual do Ceará - UECE; Interesse nas áreas de marketing e de educação em negócios. Email: flaviaplutarco@hotmail.com.
iii Mestranda em Administração pela Universidade Estadual do Ceará - UECE; Interesse nas áreas de marketing e de educação em negócios. Email: renatagradvohl@gmail.com.
Universidade Federal da Paraíba (Brasil)
Resumo: Este trabalho analisa o perfil dos professores de Turismo a partir da importância atribuída pelos estudantes a um conjunto de cinco competências (didática; conhecimento teórico; experiência de mercado; relacionamento; exigência). Além de uma revisão de literatura, foi realizado um estudo de campo junto a 140 estudantes de instituições de ensino da cidade de Fortaleza. Os dados foram avaliados por análise descritiva e análise conjunta e verificou-se que: em geral, a didática foi a competência docente com maior importância percebida, seguida pela experiência de mercado; verificações adicionais indicaram que, apesar de se manter a ordem de importância, os pesos relativos das competências variam de acordo com a metade do curso, com o gênero, e com a condição de trabalho dos estudantes.
Palavras-chave: Educação em Turismo; Perfil de professor; Competências docentes; Estudantes; Didática.
Abstract: This paper examines the Tourism faculty profile by analyzing the importance given by students to a set of five skills (didactic; theoretical knowledge; professional experience; relationship; rigor). In addition to a literature review, it was conducted a field study with 140 students from undergraduate institutions from the city of Fortaleza. The data were evaluated by using descriptive and conjoint analysis techniques, and it was found that: in general, didactic was the teaching competence of greatest perceived importance, followed by the professional experience; additional checks indicated that, despite the maintaining the order of importance, the relative importance varies with the half of the course, with the students genre, and the job condition of students.
Keywords: Education in Tourism; Faculty profile; Faculty competences; Students; Didactics.
© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Universidade Estadual do Ceará (Brasil)Introdução
A formação em nível superior em negócios no Brasil, de modo especial em Turismo, vem passando desde a segunda metade da década de 1990, por uma forte expansão na oferta, oriunda especialmente das instituições privadas. Como conseqüência, tem-se uma ampliação no número de novos estudantes e de novos professores, com impactos na demanda de formação de quadros docentes. A expectativa é de que estes docentes possuam uma preparação compatível com o desafio de formar futuros profissionais (Nunes; Barbosa, 2006; ANDrade, 2005).
A formação destes docentes é um desafio que se coloca especialmente para o universo acadêmico de Turismo, e associa-se uma série de tópicos de discussão e prática, envolvendo aspectos como a análise e a delimitação das especificidades da formação em Turismo, a estrutura geral do trabalho (inclusive a necessidade ou não de atuação de mercado paralela à docência), e a própria epistemologia da área de Turismo e de educação em Turismo.
Para este estudo, optou-se pela análise do aspecto associado às principais competências do profissional docente, e a ponderação destas competências na formação do perfil do bom professor. Sabe-se, a priori, que o profissional docente deve possuir um perfil conectado à atualidade, e que possua a capacidade de ensinar com um foco teórico e prático, mantendo sempre um nível de proximidade adequado com os estudantes. Aspectos como didática, experiência profissional, conhecimento teórico, formação apropriada, perfil ético etc., são exemplos comumente apontados como fundamentais para o profissional docente de negócios (Sousa; Jannuzzi; Sugahara, 2006).
Neste contexto, algumas questões centrais se colocam: primeiro, quais as principais competências para o professor de Turismo? Destas competências, qual o grau de importância de cada uma? Há variações de importância ou são todas igualmente importantes? Este artigo mantém foco nestas questões, e se propõe a analisá-las tomando por base a opinião dos estudantes. Entende-se que os alunos são agentes relevantes para emitir opinião neste sentido, uma vez que serão os agentes que atuarão na profissão, e são reais co-produtores do processo de ensino e de aprendizagem. Nestes termos, o presente estudo foi desenvolvido com os seguintes objetivos: avaliar as competências docentes a partir da percepção dos alunos de graduação, com foco específico em cursos de Turismo; e analisar a importância relativa de cada competência quando avaliadas em conjunto.
O artigo foi dividido em quatro partes, além desta introdução: na parte seguinte, tem-se a revisão teórica, na qual se apresenta o embasamento de cada uma das dimensões do estudo; em seguida, têm-se os procedimentos metodológicos desenvolvidos no trabalho de campo; depois de exposto o método, têm-se os resultados e as análises dos dados coletados em campo; ao final, são apresentadas as considerações finais da pesquisa, com as limitações e recomendações para futuros estudos.
Revisão teórica
No Brasil, as análises sobre as alterações da educação superior têm enfatizado a importância de uma revisão e uma atualização do papel e da ação dos diversos agentes envolvidos no processo educativo. Especificamente na área de Turismo, necessita-se que as grades curriculares dos cursos de graduação sejam moldadas de acordo com um modelo didático-pedagógico atualizado e que se adéqüe às constantes transformações que ocorrem na área, sendo também demandado dos professores um esforço de atualização e ajuste às especificidades de formação da área.
Na revisão de literatura deste trabalho, foi possível observar que as opiniões de diversos autores convergem quanto a necessidade de que docentes especialistas na área e com um perfil condizente com estes desafios consolidem práticas atuais nas instituições em que atuam de modo a promover uma educação de alto nível (Avena, 2007; Gomes; Marins, 2004; Masetto, 2003; Paquay et al., 2001).
Alguns autores, dentre eles Masetto (2003), Paquay et al. (2001) e Gomes e Marins (2004), relatam a importância de que haja transformações no cenário do ensino, incluindo mudanças no perfil do docente. Estas mudanças podem ser iniciadas, conforme Masetto (2003), através da geração de um cenário propício a aprendizagem, no qual o professor e o aluno se tornam parceiros e co-participantes de um mesmo processo. Conforme Paquay et al. (2001), o professor pode facilitar este processo de aprendizagem realizando uma ligação entre a cotidiano do aluno e o que é transmitido em sala de aula, como também através de reflexões que inovem a prática rotineira e que venham a agregar continuamente novos conhecimentos. O entendimento é de que alguns aspectos da docência precisam ser redefinidos, e algumas práticas adaptadas, no sentido
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Uma análise das competências do professor de Turismo...de que os professores possam dar uma contribuição mais segura na transmissão eficiente do conhecimento sobre a teoria e a prática do Turismo.
Em conjunto com o compromisso com os gestores de cursos, está o compromisso do docente com seus alunos (Zabalza, 2004). Paquay et al. (2001) reafirmam este entendimento, defendendo que o professor deve fortalecer este compromisso ao ser facilitador do processo de aprendizagem, realizando uma ligação entre o cotidiano do aluno e o que é transmitido em sala de aula, e também através de reflexões que inovem a prática rotineira e que agreguem continuamente novos conhecimentos.
Debates acadêmicos que analisam o perfil docente são comumente encontrados. Como exemplo, cita-se aqui o trabalho de Gaeta (2001) que ressaltou que o caráter do professor (de Turismo) deve ser multi-dimensional, o que demanda um desenvolvimento pedagógico, cognitivo teórico, profissional e dinâmico da carreira. Karawejczyk e Estivalete (2003) seguem neste entendimento, destacando algumas das competências necessárias para um professor de nível universitário, enfatizandoa necessidade de o docente: saber se comunicar, a fim de facilitar a aprendizagem dos alunos; saber aprender, com o propósito de estar sempre renovando os seus conhecimentos na área e de forma interdisciplinar; saber se comprometer, para com isso poder estar mais próximo das dificuldades enfrentadas pelos alunos; e, saber assumir responsabilidades.
De uma forma complementar, destaca-se também a avaliação de Paquay et al. (2001), que acreditam que o professor deve possuir como competências: a capacidade de analisar situações complexas; saber decidir de forma reflexiva pelas melhores estratégias; saber escolher entre uma variedade imensa de conhecimentos e técnicas; saber analisar criticamente suas ações e resultados; e, por fim, saber aprender de uma forma contínua em toda sua carreira. Estas competências são construídas com o tempo, em um movimento dialético do docente sobre sua prática e que aprimora sua carreira profissional (Cerqueira; Santos, 2001).
Como é possível depreender, as proposições de Karawejczyk e Estivalete (2003) e de Paquay et al. (2001) tratam de habilidades bem específicas. Tomadas em conjunto, e avaliando outras possibilidades, é possível visualizar as competências docentes em níveis mais genéricos. Assim, tomando por base indicações teóricas, especialmente de Costa, Moreira e Ethur (2006), discussões entre os autores, e avaliações exploratórias junto a outros pesquisadores e professores, foi possível definir cinco competências centrais no professor de cursos de graduação da área de negócios: didática, relacionamento, exigência, conhecimento teórico e experiência de mercado (para efeito de análise e aderência à terminologia da ferramenta de análise aplicada no estudo empírico, as palavras competências e atributos têm, neste estudo, o mesmo sentido). Estas dimensões direcionaram o estudo, e estão detalhadas a seguir.
Didática
O conceito básico de didática associa-se ao conjunto de atividades ligadas à transmissão do conhecimento do agente educador ao educando. Segundo Masetto (2003), a didática chega a ser vista como uma arte, e reflete a busca do desenvolvimento do ensino e da aprendizagem dos alunos, além do aperfeiçoamento do conhecimento. A didática envolve os aspectos de postura e dinâmica docente na execução de seu trabalho e no manuseio do conteúdo a ser transmitido, e das técnicas associadas a este processo.
A didática foi classicamente centrada no professor, mas tem passado por uma reversão na medida em que vem incorporando um conceito de orientação para a aprendizagem, em vez de uma orientação para o ensino. Como reflexo deste entendimento especificamente em Turismo, Ruschmann (2002) defende a necessidade de uma transmissão de conhecimentos cada vez mais eficaz, o que coloca aos professores da área o desafio de manter uma dinâmica de aprendizagem com a presença ativa do aluno, este que é o sujeito que efetivamente está no processo para aprender (de acordo com estudos, quando são utilizadas atividades práticas ou simulações que envolvem os alunos, tem-se 90% de chance de assimilação dos conhecimentos por parte do aluno) (Souza; Jannuzzi; Sugahara, 2006).
Ao tratar do papel do professor no processo didático, Masetto (2003) aponta a necessidade de que este possua algumas habilidades centrais, tais como: fazer uso da instrumentalização técnica; ter a capacidade de apresentar a disciplina com clareza; ressaltar aos alunos a importância da disciplina na formação e como ela está interligada às demais da grade curricular; planejar as aulas e expor o conteúdo com exemplos; relacionar-se bem com a turma e estimulá-los. Em adição, Catramby e Costa (2005) ressaltam as noções de filosofia e de psicologia educacional como aliadas aos princípios didáticos no dia-a-dia do professor.
Pelo exposto, não há dúvidas da importância do domínio das habilidades didáti495
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cas pelo professor de ensino superior. É conveniente saber, para o ensino de Turismo, quão importante é a didática na visão do aluno, e sua importância relativa quando comparada a outros aspectos que caracterizam o bom professor. No estudo de Costa, Moreira e Ethur (2006) com estudantes de pós-graduação em negócios, gerou-se uma evidência de que a didática está entre os dois fatores de maior importância no perfil do bom professor em um nível de pós-graduação. Resta saber da condição específica de cursos de graduação.
Conhecimento teórico
De acordo com Davenport e Prusak (1998, p. 6), o “conhecimento é uma mistura fluida de experiência condensada, valores e informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para avaliação e incorporação de novas experiências e informações”. O conhecimento dito teórico deve ser entendido como aquele que se gera no processo de formação convencional, e baseado em professores e materiais didáticos diversos.
Lima e Silva (2007) relatam que, para o curso de Turismo, o conhecimento teórico está associado a temas específicos e é transmitido nas cadeiras gerais de formação básica que compõem o curso. A transmissão deste conhecimento é uma das tarefas centrais do docente da área, o que faz do conhecimento teórico uma das competências requeridas dos professores.
O domínio do professor sobre o assunto estudado propicia a este iniciar reflexões mais profundas sobre temas teóricos, incentivando a produção de textos e possibilitando que o aluno tenha uma visão mais crítica. Brusadin (2007) afirma que, para o ensino em Turismo, a dimensão teórica do conhecimento deve ser trabalhada para fornecer ao aluno, inclusive, o embasamento humano, social, cultural e ambiental.
Costa e Barreto (2007) defendem que o professor deve ter um domínio amplo de conhecimento e não somente aquele específico que está programado para ser dado em sala de aula. Adicionalmente, o conhecimento do professor torna-se ainda mais enriquecido quando é integrado com o conhecimento de outras áreas de estudo, de uma maneira interdisciplinar. Para Moesch (2000), a interdisciplinaridade é necessária e fundamental para uma análise comunicacional, social, cultural, econômica e subjetiva do Turismo, e a academia deve ser a encarregada por buscar novas abordagens a partir desta diversidade de conhecimentos.
Seja em nível restrito, interdisciplinar ou de orientação prática, o conhecimento docente constitui uma de suas competências centrais, o que inclusive justifica o esforço de formação de docentes em nível superior em modelos sólidos de formação e de elevado nível de concentração, como é o caso dos cursos de mestrado (especialmente da modalidade acadêmica) e doutorado. Por outro lado, a relevância do conhecimento é modalizada por necessidade das demais competências docentes, pressupondo-se que conhecimento não é o suficiente para um bom professor.
Experiência de mercado
As habilidades adquiridas em anos de trabalho e estudo, por meio do relacionamento entre a prática e o conhecimento, consolidam a experiência de mercado de um professor. Ressalta-se que a referência deste estudo são cursos da área de Turismo, nos quais é recorrente a expressão “experiência de mercado”. Para cursos nesta área, há certa unanimidade quanto à necessidade do professor possuir experiência real externa à academia. Ansarah (2002) e Teixeira (2001) evidenciam que, nos cursos de Turismo, é indispensável ao docente o conhecimento teórico e o prático, principalmente no que diz respeito às tendências de mercado.
De acordo com Portela (2006), o saber da experiência deve se constituir em duas dimensões: na dimensão do exercício de sua atividade profissional, pela necessidade de saber fazer; e na dimensão do exercício da atividade docente, pela necessidade do saber ser professor. O docente deve vivenciar, portanto, duas dimensões de prática profissional. Gomes e Marins (2004) defendem a relevância de unir o conhecimento docente em nível teórico e prático, o que viabiliza a transformação de idéias em ações, e ressaltam ainda que é função do professor aproximar os conhecimentos teóricos da realidade que os alunos irão vivenciar em suas vidas pessoal e profissional (cf. Cardoso; Demuner; Batista, 2006; Portela, 2006; Sousa; Jannuzzi; Ssugahara, 2006). O processo de aprendizado passa, assim, pelo alinhamento do conhecimento com a experiência, que é o componente mais valorizado neste processo dinâmico que é a formação profissional (Berndt; Igari, 2004).
Pelo exposto, é possível enunciar a experiência de mercado do docente da área de Turismo como mais uma competência central do bom professor, que se junta com as demais relatadas neste item (2). O desafio é saber, também para esta competência, qual sua importância relativa.
Relacionamento
O relacionamento refere-se ao convívio e à interação de um sujeito com o grupo do qual faz parte. Pragmaticamente, o relacionamento desencadeia-se a partir da disponibilidade e da acessibilidade do professor para com o aluno, o que, espera-
Uma análise das competências do professor de Turismo...se que incentive uma aproximação e possibilite que esta ocorra continuamente.
No processo de aprendizagem, a relação entre professor e aluno deve ser pensada com uma parceria, uma vez que o professor é o agente de formação do profissional, que colabora com o aluno, o incentiva no interesse pela disciplina e nesta relação são trocados conhecimentos e experiências acumuladas (Masetto, 2003).
Nestes termos, o relacionamento entre professor e aluno foi identificado como um dos aspectos centrais da qualidade do trabalho docente. Lacerda, Reis, Santos (2007) e Stefano et al. (2007) indicam que características como possuir um contato próximo com o aluno, proporcionar abertura para a discussão e a reflexão do tema abordado, e demonstrar disponibilidade e interesse em ajudar o aluno em sua formação, costumam estar associadas aos bons professores, além de serem importantes para o relacionamento entre esses dois agentes.
Nestes termos, as habilidades associadas ao relacionamento devem ser consideradas como parte das competências centrais para o bom profissional docente, ao lado das demais acima citadas. É relevante saber, por outro lado, até que ponto este esforço do professor é considerado importante pelos alunos, além de identificar quão importante o relacionamento se mostra em relação às demais competências.
Exigência
A exigência de um professor está relacionada ao rigor dos métodos e instrumentos utilizados pelo docente para acompanhar as atividades e avaliar o aprendizado do aluno. São exemplos de exigências pedagógicas: a cobrança de horários e prazos; as avaliações para medir a apreensão do conteúdo ensinado; o rigor nos trabalhos; entre outros (Masetto, 2003). Acker (2008) evidencia que, para algumas pessoas, o professor que é exigente é considerado o melhor docente. Como quer que seja, Masetto (2003) defende que esta deve ser moderada pela possibilidade de propiciar melhorias na aprendizagem.
O tema é controverso, especialmente quando se trata de exigência em termos de avaliação. Depresbiteris (1997), por exemplo, acredita que, com um nível de exigência muito elevado, a nota não reflete necessariamente a aprendizagem ocorrida, mas, muitas vezes, se torna simplesmente um instrumento de poder na relação professor-aluno. Neste mesmo sentido, Masetto (2003) questiona se a exigência do professor em um processo de avaliação está sendo fundamentada no sentido de propiciar uma melhoria na aprendizagem dos seus alunos ou apenas com o intuito de identificar os resultados que estes obtêm através de suas notas.
Gronlund (1979), por sua vez, afirma que é função do professor melhorar os meios de avaliação, visando o aprimoramento da aprendizagem do aluno. Teixeira (1999) tratou dos riscos da exigência em avaliação, relatando que esta última deve ser uma maneira de estimular o aperfeiçoamento de uma atividade, possibilitando corrigir, se necessário, o rumo da disciplina, não sendo, portanto, um mero instrumento de punição. Em complemento, Silva (2001) acredita que o processo avaliativo deve propiciar com que o aluno perceba e supere suas dificuldades com mais facilidade, e o professor analise se a metodologia que está sendo utilizada é a mais adequada e se as suas metas foram alcançadas através destas avaliações.
Por outro lado, um nível menor de exigência pode resultar em um sentido de licenciosidade do professor ou da instituição, o que pode conduzir facilmente o aluno à desmotivação e à redução da credibilidade do trabalho docente e institucional. Não sem razão, há vários exemplos de instituições de ensino (como as confessionais e as militares), de cursos (área de ciências exatas) e de professores, que são muito exigentes e que mantêm uma boa reputação, inclusive na avaliação dos estudantes (KANITZ, 2008). Por outro lado, é necessário analisar o quanto esta competência docente é relevante, comparativamente a outras competências.
Metodologia
Os objetivos da pesquisa conduziram a um desenvolvimento em duas etapas centrais: a fase exploratória, e a fase empírica. Na primeira fase, foram desenvolvidos procedimentos diversos, como a discussão entre os autores com a finalidade de definir as competências relevantes de um docente no nível do ensino superior para a área de negócios, discussão da literatura a ser revisada, e diálogos diversos com outros pesquisadores. Como conseqüência desta etapa, ficou definido que seriam estudadas cinco competências centrais, comentadas anteriormente (didática, experiência de mercado, conhecimento teórico, relacionamento e exigência).
A literatura especializada indicou algumas opções de técnicas para atender a objetivos como o deste estudo, tendo-se optado por duas: análise descritiva da importância atribuída às competências definidas, em separado; e análise conjunta (conjoint
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analysis), a partir da qual um conjunto de competências (normalmente chamados de atributos) é analisado juntamente com os outros atributos que compõem diferentes perfis possíveis (Hair et al., 2005).
A análise descritiva possibilita algumas descobertas iniciais, a partir da avaliação das médias e dos desvios padrões dos escores de um conjunto de respondentes. Este procedimento tem a limitação de somente viabilizar uma análise isolada de cada competência. Já a análise conjunta pondera conjuntos de atributos, objetos ou conceitos, e faz combinações de níveis do atributo para que o respondente proceda a sua avaliação da compensação feita pela presença ou ausência de um dado atributo (Hair et al., 2005; Green; Krieger, 1999). Esta ferramenta tem, por outro lado, a limitação na dificuldade de acesso às respostas, e de avaliação por parte do respondente. O uso das duas alternativas de análise pareceu mais consistente, de modo que os resultados podem se complementar e consolidar conclusões mais consistentes.
Para coleta de dados de campo, decidiu-se pelo uso do questionário estruturado. Na construção deste instrumento, as decisões foram as seguintes: para a primeira forma de análise (descritiva), foram geradas duas variáveis indicativas de cada uma das competências (extraídas da revisão da literatura), que foram dispostas no instrumento para que o estudante apontasse a importância percebida em uma escala de 1 (sem importância) a 10 (muito importante). Já para a segunda verificação (análise conjunta) foram definidas duas categorias para cada uma das competências, de modo a evidenciar a presença ou a ausência do atributo no professor: didática – boa ou ruim; relacionamento – próximo ou distante; exigência – muita ou pouca; conhecimento – amplo ou restrito; experiência de mercado – muita ou pouca.
Estas alternativas geram um total de 32 possibilidades de perfis. Com o suporte do software SPSS (versão 15), foi adotado um desenho fatorial fracionado balanceado, com um total de 12 perfis (ver Tabela 2). Para cada um dos perfis, o respondente era convidado a dar uma nota de 1 (muito ruim) a 10 (muito bom).
Além das questões de verificação das competências, foram acrescentadas questões sócio-demográficas e questões associadas à condição do aluno no curso. Depois de analisado e consolidado, o instrumento foi aplicado.
O universo da pesquisa foi constituído por alunos de cursos de bacharelado em Turismo da cidade de Fortaleza, e foi coletada uma amostra, por conveniência e acessibilidade, diretamente nas salas de aula de quatro diferentes instituições, todas privadas, sempre com o apoio dos professores e coordenadores. A coleta de dados aconteceu durante o mês de novembro de 2008 e março de 2009, e ao todo foram 140 questionários aplicados. Procedimentos preliminares indicaram a necessidade de exclusão de duas entradas de dados (por problemas de resposta e dados perdidos), restando válidas 138. Em seguida, seguiu-se para a extração de medidas de referência, descrição e análise de resultados. O detalhamento está exposto no item a seguir.
Resultados
Os resultados desta pesquisa estão expostos em quatro partes: inicialmente, apresenta-se a descrição da amostra do estudo (4.1); em seguida, apresentam-se os resultados em dois momentos, primeiramente com as estatísticas descritivas (4.2), e depois com os resultados da analise conjunta (4.3). O esforço de análise dos resultados descritivos é feito somente ao final (4.4).
Descrição da amostra
A amostra final totalizou 138 estudantes do curso de bacharelado em Turismo. Deste total, 43,4% se encontravam na primeira metade do curso e 56,6%, na segunda metade deste. Todos foram provenientes de instituições privadas de ensino, uma vez que em Fortaleza não havia na época da pesquisa instituições públicas que ofertavam cursos de bacharelado na área.
Quanto ao gênero dos respondentes, 28,3% foram do sexo masculino e 71,7% do sexo feminino. Em relação à idade, verificou-se que 26,1% dos estudantes pesquisados tinham até 21 anos de idade, 43,5% entre 21 e 24 anos, 30,4% estão na faixa etária acima de 24 anos. Sobre o estado civil, a grande maioria dos respondentes (92,1%) declarou estar solteiro e 7,9% indicaram casado e ‘outros’ como resposta. Em relação à renda familiar, os dados encontrados revelaram que 18,1% possuíam renda familiar até R$ 1.000,00; 43,5% de R$ 1.000,00 a R$ 2.000,00; 14,5% acima de R$ 2.000,00 até R$ 3.000,00; e, 23,9% disseram ter renda acima de R$ 3.000,00. Estes dados, embora indiquem assimetria entre as diferentes categorias das variáveis, aproximam-se da realidade exploratoriamente verificada no universo da pesquisa.
Os estudantes foram ainda questionados a respeito de suas ocupações atuais,
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e pouco mais da metade dos respondentes (54,4%) informou não estar trabalhando no momento da pesquisa, 27,5% informaram trabalhar em tempo integral, e 18,1% informaram trabalhar em meio turno. Em relação à pretensão de estudos futuros, quase a metade dos estudantes pesquisados (60,9%) informou almejar fazer um curso de especialização, 12,3% informaram querer fazer um mestrado, 13,8% desejavam cursar outra graduação (13% informaram ‘outros’ como resposta). O destaque aqui é para a forte predisposição dos estudantes em seguir para estudos de pós-graduação, o que indica uma disposição para dar continuidade aos estudos.
Análise descritiva
Para responder ao primeiro objetivo do estudo, que foi o de analisar como os estudantes avaliam as competências docentes, na primeira parte da pesquisa estes foram convidados a apontar a nota de importância (em uma escala de 1 a 10) para cada atributo docente. Na verificação, cada atributo foi examinado com duas variáveis, que foram então agregadas (pela média dos escores de cada par de variáveis, por respondente), gerando uma média geral de cada atributo como uma nova variável. De posse dos resultados, foram extraídas as médias e desvios padrão, que estão mostrados na tabela 1.
Os dados da tabela permitem perceber que os estudantes de Turismo atribuíram uma maior importância para o atributo didática do professor (média 9,34), vindo em seguida o conhecimento teórico (média 9,20), e, posteriormente o relacionamento (média 8,90). As menores notas foram atribuídas a experiência de mercado e exigênAinda
em torno do primeiro objetivo foi extraída a média de cada um dos 12 perfis docentes desenvolvidos, conforme expõe a tabela 2. Verifica-se que a nota do perfil 11 (professor com uma boa didática, um relacionamento próximo com os alunos, muita experiência de mercado, muita exigência e amplo conhecimento teórico) apresentou a maior média (8,40). Em segundo lugar veio o perfil 2, que se diferenciava do perfil 11 somente em relação à exigência (caracterizada como pouca), obtendo este a segunda maior média (8,26). Os perfis 5, 1, 7, 9, e 12 tiveram médias de 5,41, 5,93, 5,36, 6,03 e 6,04, respectivamente, e foram os perfis que possuiam em comum a presença ou de uma didática boa ou de um conhecimento teórico amplo. Os demais perfis, 4, 6, 10, 3, 8, que possuem características diversificadas, apresentam médias inferiores a 5,16.
As informações das características dos perfil permitiu uma exploração adicional, que foi feita a partir da agregação em dois blocos (por atributo), o primeiro bloco com os perfis com a presença do atributo e o seCompetênciaMédiaDesvioDidática9,340,96Conhecimento
teórico9,200,90Relacionamento8,901,21Experiência de mercado8,871,28Exigência8,241,43
Tabela 1. Médias e desvios padrões.
Fonte: Dados da pesquisa.
PerfisDidáticaRelacion.Exp. de mercadoExigênciaConhe. teóricoMédiaDesvioPerfil 1BoaDistanteMuitaPoucaRestrito5,932,25Perfil 2BoaPróximoMuitaPoucaAmplo8,261,51Perfil 3RuimPróximoPoucaMuitaAmplo4,982,22Perfil 4RuimPróximoPoucaPoucaRestrito3,792,39Perfil 5BoaDistantePoucaMuitaRestrito5,412,35Perfil 6RuimDistantePoucaPoucaAmplo4,462,27Perfil 7RuimDistanteMuitaMuitaAmplo5,362,38Perfil 8RuimPróximoMuitaPoucaRestrito5,162,37Perfil 9BoaPróximoPoucaMuitaRestrito6,032,23Perfil 10RuimDistanteMuitaMuitaRestrito4,972,32Perfil 11BoaPróximoMuitaMuitaAmplo8,401,86Perfil 12BoaDistantePoucaPoucaAmplo6,042,04
Tabela 2. Medidas dos perfis. Fonte: Dados da pesquisa.
cia do professor, com médias de 8,87 e 8,24, respectivamente.
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gundo bloco com os perfis com a ausência deste. Conforme a tabela 3, os perfis com a presença dos atributos (boa didática, amplo conhecimento teórico, muita experiência de mercado, bom relacionamento, muita exigência) apresentaram médias comparativamente superiores às médias dos perfis com a ausência dos atributos.
A tabela 3 permite ainda verificar que a maior variação de notas ocorre entre os perfis com e sem uma boa didática, e a segunda maior variação ocorre com os perfis com muita e com pouca experiência de mercado, seguindo próximo do obtido anteriormente para os demais atributos. Merece destaque ainda a diferencia dos perfis com a presença de exigência, que em ambos os casos foram baixos (em torno de cinco), e ainda com médias muito próximas (com diferença de 0,24)
Análise conjunta geral e comparativa
Com o propósito de responder de maneira mais consistente ao segundo objetivo do estudo, que foi o de analisar a importância relativa de cada competência quando avaliadas em conjunto, foi realizada a análise conjunta com os atributos selecionados para análise (didática, conhecimento teórico, experiência de mercado, relacionamento professor com o aluno e exigência). Assim, a partir da
Uma análise das competências do professor de Turismo...
Perfis com a presença do atributoMédio do perfilDiferença de médiaPresençaAusênciaDidática6,684,791,89Experiência de mercado6,355,121,23Conhecimento teórico6,255,221,03Relacionamento6,105,360,74Exigência5,855,610,24
Tabela 3. Medidas dos perfis agregados. Fonte: Dados da pesquisa.
análise dos 12 perfis utilizados (ver tabela 2), o procedimento estatístico adotado (conjoint analysis) viabilizou a extração da importância relativa de cada atributo, e um valor de utilidade para cada categoria do atributo. Para a análise do total das entradas da amostra, os resultados puderam ser verificados com boa consistência (correlação de Pearson de 0,988, e Tau de Kendall de 0,879) e estão expostos na Tabela 4.
Pôde-se verificar que o atributo de maior importância relativa na percepção dos estudantes de bacharelado em Turismo foi a didática (36,72%), vindo em seguida, com pesos próximos, a experiência de mercado (23,89%), e o conhecimento teórico (20,08%). Com uma importância relativa já bem menor, surgiu o atributo relacionamento (14,39%), e por fim, a exigência ficou indicada como o atributo de menor importância, com peso relativo bastante reduzido (4,92%). Estes valores sugerem que estes dois últimos atributos possuem uma importância secundária quando analisados em conjunto com os três primeiramente mencionados.
Depois de uma extração com todas as entradas de dados, decidiu-se avaliar poAtributoImportânciaCategoriasUtilidadeDidática36,72%
Boa0,952Ruim-0,952Experiência de mercado23,89%Muita0,620Pouca-0,620Conhecimento teórico20,08%Amplo0,521Restrito-0,521Relacionamento14,39%Próximo0,373Distante-0,373Exigência4,92%Muita0,127Pouca-0,127
Tabela 4. Resultados da análise conjunta. Fonte: Dados da pesquisa.
O resultado do atributo didática reforça o que se evidenciou na análise isolada por competência (tabela 1), tendo-se mantido a ordem de importância deste atributo pelos estudantes. Por outro lado, há uma alteração da importância dos atributos experiência de mercado, que, naquela verificação ficou em quarto lugar em importância, mas aqui ficou evidenciado que a diferença entre a presença e a ausência deste atributo provoca a segunda maior diferença de nota.
tenciais diferenças nos resultados quando estes são examinados através de uma análise comparativa com as categorias de algumas variáveis qualitativas da amostra. Foram selecionados os resultados das variáveis: metade do curso, sexo, e condição de trabalho. A tabela 5 expõe os resultados.
A partir desta tabela, é possível observar que, em todas as verificações, os resultados continuam demonstrando que a didática é o atributo que apresenta a maior importância para um perfil do pro501
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fessor. Outros destaques estão apresentados a seguir:
- Quanto à variável sobre a metade do curso, verificou-se que o peso relativo da didática diminui discretamente com o decorrer do curso, mas se mantém como o mais importante. Outro detalhe que vale ser salientado é em relação ao atributo conhecimento teórico, no qual se verificou que os alunos da segunda metade do curso atribuem uma importância um pouco maior a este atributo do que os que estão cursando a primeira metade, ao passo que com o atributo relacionamento verificou-se o inverso, ou seja, os alunos da primeira metade conferem uma importância um pouco maior do que os que estão na segunda metade do curso. A importância dos atributos experiência de mercado e exigência não mostrou alterações nas duas verificações;
- Em relação ao sexo, os resultados da pesquisa não apontaram diferenças significativas nas duas categorias analisadas. Verificou-se, contudo, que os alunos do sexo feminino dão uma importância ligeiramente à didática e à exigência do que os alunos do sexo masculino; estes últimos dão uma importância um pouco maior ao relacionamento do que os alunos do sexo feminino. Outros cruzamentos indicaram que os respondentes do sexo feminino que declararam na pesquisa ter idade acima de 30 anos foram os estudantes que avaliaram a didática como atributo bem mais importante (62,89%) quando comparados aos respondentes de outras faixas etárias e do sexo masculino, ou seja, para estudantes do sexo feminino com idade acima de 30 anos atribuem um peso todo especial para a didática dos professores;
- Por fim, quanto à condição de trabalho do respondente, visualizou-se um resultado bem mais oscilante, observando-se que quanto maior o tempo diário de trabalho, maior a importância dada à didática e a experiência de mercado. Contrariamente, a importância dada ao conhecimento teórico e a exigência apresentam uma queda considerável na medida em que se eleva a dedicação ao trabalho do estudante. Outras verificações realizadas indicaram que os respondentes que declaram na pesquisa estar desempregados e possuir renda familiar acima de R$ 3.000,00 até R$ 4.000,00 são os que consideram ao atributo exigência a maior importância (33,33%) quando comparados a respondentes de outras faixas de renda e ocupação.
Análise dos resultados
Os dados desta pesquisa foram avaliados por duas formas de análise (análise descritiva, e análise conjunta), tendo-se destacado uma forte coerência quanto aos resultados apresentados. A primeira parte da análise deixou evidente que, na opinião dos estudantes, todos os atributos são relevantes na prática docente (já que a menor média foi 8,24, que é uma boa média em uma escala de 1 a 10). A restrição desta primeira forma de análise está na impossibilidade de uma análise de compensação entre os atributos.
Esta dificuldade foi superada na análise comparativa, que permitiu uma visão do conjunto dos resultados. Nesta análise, confirmou-se que a didática é o atributo considerado mais importante na composição do perfil do professor, na percepção dos alunos de Turismo pesquisados, fato verificado tanto em geral quanto nas comparações de variáveis testadas. Seguido da didática, a experiência de mercado e posteriormente o conhecimento teórico apareceram como mais relevantes. Os atributos relacionamento e exigência são considerados os menos importantes na composição do perfil do professor quando vistos sob a ótica conjunta e comparativa. A seguir são comentados os resultados do estudo por atributo:
- Didática. Sobre o atributo didática, os resultados indicaram que esta característica tem um grande valor na construção do perfil de um bom docente de cursos de Turismo, uma vez que a didática foi percebida pelos estudantes, em todas as verificações, como sendo a característica mais importante para um professor.
Este resultado pode ser reunido à evidência gerada no estudo de Costa, Moreira e Ethur (2006), que identificaram a didática como um fator de grande importância para o professor de nível de pós-graduação em Administração, sugerindo que em um nível mais genérico
VariávelAtributoDidáticaExperiênciaConhecimentoRelacion.ExigênciaMetade do cursoPrimeira42,16%25,49%14,37%13,92%4,06%Segunda39,85%26,80%17,48%11,97%3,90%SexoMasculino34,40%23,94%19,88%17,75%4,03%Feminino36,75%23,81%19,96%14,23%5,25%Condição de trabalhoDesempregado33,92%21,49%23,67%12,77%8,15%Meio turno36,75%23,81%19,96%14,23%5,25%Tempo integral43,52%24,28%16,92%13,14%2,15%
Tabela 5. Medidas comparativas. Fonte: Dados da pesquisa.
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docente na área de Turismo (COSTA; Barreto, 2007; Masetto, 2003).
Salienta-se ainda que, quanto às análises comparativas, as categorias das variáveis ‘metade do curso’ e ‘condição de trabalho’ foram as que apresentaram as maiores variações em relação a este atributo, com os alunos da segunda metade do curso e os que estão desempregados atribuindo uma importância maior que os respondentes dos outros grupos destas categorias.
A indicação do resultado é bem clara: boa didática, boa experiência, e bom conhecimento teórico, são fatores determinantes no perfil de um bom professor de Turismo (os três juntos representam cerca de 80% do peso total). Também fica evidente que não se pode dispensar uma formação docente avançada para a área de Turismo, o que indica a necessidade de que os professores sigam para cursos de mestrado e doutorado, como forma de dotar a área de um padrão docente superior ao padrão brasileiro do final da década de 2000, no qual quando se verificavam poucas iniciativas de formação avançada, especialmente em nível de doutorado.
- Relacionamento. Quanto à característica relacionamento, verificou na análise isolada que este atributo apresentou a terceira média em importância na visão dos alunos pesquisados (cf. tabela 1) ficando atrás somente da didática e do conhecimento teórico, o que sinalizou uma importância moderada. No entanto, na realização da análise do relacionamento em conjunto com os outros quatro estudados o relacionamento foi apontado como o quarto fator de importância, inclusive já bem abaixo dos demais que ficaram acima.
A partir disso, têm-se indícios de que o relacionamento, apesar de isoladamente ser considerado muito importante pelos estudantes, em uma análise de compensação com outros atributos este passa a ser visto como uma característica que possui menos importância que didática, experiência profissional e conhecimento teórico. A análise comparativa contrapõe parcialmente o entendimento de Masetto (2003), Lacerda, Reis e Santos (2007) e Stefano et al. (2007), que defendem que o relacionamento professor-aluno deve ser considerado como um dos aspectos de maior importância na percepção dos estudantes quanto à qualidade do docente.
Com efeito, a pesquisa indicou que a importância desta competência é dida
formação em negócios, a didática se destaca como o atributo mais importante do bom professor.
Em outras palavras, é possível entender que os estudantes da área de negócios valorizam bastante a capacidade de o professor saber ensinar, de uso de práticas consistentes e variadas para a transmissão de conhecimento, e de utilização de recursos inovadores e diversificados. Tem-se, assim, a sinalização para professores, gestores de cursos e autores de materiais didáticos associados ao ensino nesta área (negócios), de que o foco em técnicas, métodos de ensino, e práticas inovadoras, é algo necessário para atender ao paradigma de uma educação centrada no estudante e na aprendizagem.
- Experiência de mercado. Seguido da didática, o atributo experiência de mercado foi apontado, na análise conjunta, como o segundo atributo mais importante de um bom professor, embora na análise isolada este atributo tenha sido apontado apenas como o quarto mais importante. Estes resultados convergiram com alguns estudos, como o de Portela (2006) e o de Sousa, Jannuzzi e Sugahara (2006), que revelaram a necessidade de unir a experiência prática com o conhecimento teórico no esforço de formação de um professor.
As análises comparativas por categorias de variáveis sugeriram variações na intensidade de importância. Como observado, os respondentes que estão na segunda metade do curso dão uma importância ligeiramente maior a este atributo. Já em relação à condição de trabalho, destacou-se o fato de que a importância percebida é maior para qual está mais envolvido no trabalho. Em boa medida, este resultado se explica pela valorização que profissionais em atuação dão àqueles professores que conseguem remeter suas aulas ao universo profissional com maior segurança.
Em geral, é possível depreender dos resultados que, para a área de Turismo, os professores necessitam não apenas dominar técnicas de ensino, mas é fundamental que possuam experiência de mercado, e que tragam sua experiência para o ambiente da sala de aula (cf. Costa; Mota, 2008).
- Conhecimento teórico. Quanto ao atributo conhecimento teórico do professor, este foi considerado pelos alunos como de importância moderada, vindo em terceiro lugar, depois da didática e experiência. O resultado reafirma o valor de um amplo domínio do conhecimento
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minuta, quando comparada à didática, à experiência e ao conhecimento, ou seja, o estudante valoriza o relacionamento, mas não se incomoda em ter um relacionamento restrito para ter o benefício de outros atributos tidos como mais relevantes. Isto não invalida, por outro lado, o valor de um esforço de relacionamento consistente e de benefício tanto para o estudante quanto para o professor, reconhecido um elemento motivador tanto para estudantes quanto para professores.
- Exigência. Por fim, no que diz respeito à característica de exigência do professor, constatou-se, a partir da amostra pesquisada, que dos cinco atributos estudados, este é, comparativamente, o menos importante para o estudante. Isto demonstra que os alunos estão mais interessados na forma como o professor transmite o conhecimento, na sua experiência prática, no conhecimento que este detém e na forma como ele se relaciona com os alunos, do que, especificamente, com o rigor que ele apresenta na avaliação do aluno e em relação ao cumprimento e cobrança de prazos e horários.
Este resultado foi sinalizado inclusive na análise descritiva, conforme a Tabela 3, em que a exigência docente foi a competência que apresentou a diferença menos significativa quando comparada às médias dos perfis com a presença e ausência deste atributo. Isto revela que, em uma análise isolada, a variação deste construto é praticamente indiferente na percepção do aluno quanto ao professor. Por outro lado, na realização de uma análise comparativa (a partir de uma análise conjunta), observaram-se variações relevantes quanto à importância que é dada a exigência, como por exemplo, na indicação de que alunos de algumas faixas de renda e ocupação dão um maior valor a este atributo do que os de outras categorias.
É possível compreender, pelos resultados, que os estudantes apreciam e consideram importante que um professor seja exigente, afinal isto os obriga a estudar e por conseqüência aprender mais. No entanto, na compensação com outros atributos, este é quase irrelevante. A indicação foi de que os estudantes consideram moderadamente importante o rigor do professor, porém a indicação é clara: não é o rigor que faz de um docente um bom professor.
Considerações finais
Este estudo teve a finalidade de analisar os atributos relacionados ao perfil do professor de cursos de graduação em Turismo, partindo do pressuposto de que uma verdadeira orientação para a aprendizagem deve considerar as preferências dos estudantes quanto ao perfil dos professores.
Neste sentido, é possível acreditar que este estudo traz uma real contribuição para os estudos de educação em negócios em geral, e em Turismo em particular, com os resultados servindo de base para a construção e para o aperfeiçoamento da formação, e também para auxiliar as instituições de ensino em seus processo seletivos e planejamento de atividades.
Os resultados mostrados na análise empírica indicaram que os objetivos da pesquisa foram alcançados. Em síntese, observou-se que todas as cinco competências analisadas são relevantes para os estudantes, mas que, comparativamente, a didática do professor é o atributo considerado mais importante para compor o perfil de um bom professor, fato ressaltado em todas as verificações procedidas. Adicionalmente, foi identificado que a experiência de mercado pode também ser considerada como de grande importância para um docente, ao passo que os aspectos de exigência e relacionamento mostram-se com importância relativa menor.
Como implicações dos resultados, acredita-se que esta pesquisa tem o potencial de servir como referencial para programas de formação docente, inclusive cursos de mestrado e doutorado na área de Turismo, uma vez que fica bem evidenciado que há variações na formação do perfil do docente.
As informações contidas neste estudo também podem servir de subsídio para coordenadores de cursos de graduação em Turismo, a fim de que estes, através de uma melhor compreensão das características dos professores que são mais valorizadas pelos alunos, possam ter melhores condições de aprimorar o processo seletivo de novos professores, ou a alocação do corpo docente nas diversas disciplinas.
Também para coordenadores de cursos ou autores de livros de metodologia de ensino, é possível uma melhor seleção e distribuição dos conteúdos selecionados para as atividades de capacitação docente, e um melhor direcionamento dos esforços de planejamento da formação de habilidades dos professores.
Deve-se ressaltar, por outro lado, a existência de limitações nestes resultados, uma vez que a amostra restringiu-se somente a cidade de Fortaleza, sugerindo-se, portanto, que futuras pesquisas possam ser feitas em outras cidades e regiões. Além disso, outros cursos de graduação podem ser pesquisados, possibilitando análises comparativas que evidenciem as possíveis divergências entre a percepção dos alunos de
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diferentes cursos. Acredita-se que outros resultados também úteis seriam avaliações das posições de professores e coordenadores de cursos.
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Recibido: 20/04/10
Reenviado: 01/07/09
Aceptado: 29/05/10
Sometido a evaluación por pares anónimos
Francisco José da Costa, Francisca Flávia Plutarco e Renata Furtado Gradvohl