Vol. 1 Nº 1 págs. 97-103. 2003
www.pasosonline.org
© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
A cultura material no processo educativo:
museus, objectos e ofícios tradicionais na reconstrução de
identidades e evocação de memórias
Sandra Nogueira †
Resumo: O presente artigo, reflecte essencialmente sobre o papel dos objectos e artefactos no processo
educativo das populações, assim como a sua responsabilidade na reconstrução da identidade cultural das
comunidades. Sendo o Museu, o espaço previligiado para a conservação, estudo e perpetuação da cultura
material, o artigo explica também como podem estas instituições, nomeadamente os museus locais,
estabelecer a ligação entre a instituição e a Comunidade que representa, nomeadamente junto dos mais
jovens. Analisados e demonstrados são também, algumas pequenas mas, grandes iniciativas, levadas a
cabo em Portugal, onde através dos artefactos e dos Ofícios Tradicionais Portugueses se prova que quer
os mais velhos, quer os mais novos, continuam sensíveis e apelativos a esta matéria, quando solicitados e
incentivados para tal.
Palavras chave: Património; Preservação; Identidade Cultural; Memória Social; Multiculturalidade
Abstract: The present article, talks mainly about the objects and artifacts role at the educational process
of the populations, as well as, their responsibility in the reconstruction of the cultural identity of the
communities. Because the Museum is the best place for conservation, study and perpetuation of the
material culture, the article explains how museums, especially the local museums, can make and mantain
the link between the institution itself and the Community, mainly the young people.
Analized and proved are also some small but, at same time big events, occured in Portugal, where
through the artifacts and the Portuguese Trades, I’ve been showing that adult and young people are sen-sitive
and attracted to this subject.
Keywords: Heritage; Preservation; Cultural Identity; Social Memory
† Licenciatura em Antropologia pela Universidade Técnica de Lisboa. 1714 W. Thompson Ave. Enid – Ok. 73703
USA E-mail: sandrix@swbell.net URL: http://www.geocities.com/sandrix65/ Mainpagesandrix.html
98 A cultura material no processo educativo
«O objectivo da uma política de
cultura não deverá (...) resumir-se à
protecção de um património e de um
espaço cultural. Deverá ser o de pôr os
indivíduos e os grupos em condições
de recompor uma personalidade, uma
identidade»
Jean-Marie Domenach
A citação de Jean-Marie Domenach, é
um bom ponto de partida para a reflexão
das políticas culturais desenvolvidas em
Portugal, quer a nível nacional –
governamental -, quer a nível local e
regional – Autarquias - . Ambos os lados –
Governos e Autarcas -, têm previligiado
maioritariamente políticas e planos
culturais que se encontram ao nível da
animação cultural, em detrimento da acção
cultural, sendo que esta última quanto a
mim, se encontra num patamar de maior
profundidade e rigor, ou seja, planos de
acção cultural que preveligiem a formação,
planos que fomentem a aprendizagem
multicultural, planos que reinventem os
patrimónios materiais e não só, e ainda, a
formação ou reafirmação identitária das
populações.
É evidente que desde 1975 – data em
que Portugal conquista a democracia -,
muitas têm sido as experiências e podemos
também registar boas melhorias e
aberturas à mudança. Contudo, na maioria
dos casos o panorama é ainda preocupante,
e as políticas culturais visam
essencialmente o efémero, salvo algumas
excepções.
Particularizando o anteriormente dito, e,
falando da realidade que melhor conheço,
posso dizer que vivendo no concelho do
Cartaxo mais de 20 anos - Concelho situado
no Centro Litoral de Portugal -, as
sucessivas políticas culturais espelham-se
no parágrafo anterior, isto é, como diz o
ditado popular, ″muita parra, pouca uva″.
Ao longo de todos estes anos, nunca
foram criados ou desenvolvidos planos de
intervenção e acção cultural ao nível do
Concelho, por forma a reforçar o
associativismo, as artes e ofícios
tradicionais, a etno-musicologia, a
gastronomia local e até mesmo a
arquitectura tradicional.
Todos os projectos têm-se
consubstanciado no efémero. A única boa
excepção é o Museu Rural e do Vinho, que
mais do que preservar a memória vivencial
de uma população dedicada à actividade
agrícola, com destaque para a
vitivinicultura, foi sem dúvida um projecto
que inicialmente mobilizou a população, no
sentido que cada um dos visitantes podia de
certa maneira reconstruír o seu passado e
em muitos casos a sua história familiar.
Contudo, as mudanças de gestores
autárquicos, imprimiram uma
descontinuidade nas políticas culturais
destinadas ao Concelho. De facto, o Museu
Rural e do Vinho é actualmente não mais
do que um repositório de peças que contam
histórias de um passado para alguns
longínquo e, para outros mais ou menos
presente. O projecto é um Eco-Museu que
pretendia fazer a ligação entre todo o
Município, através da sua extensão em
núcleos, situados em algumas freguesias do
Concelho. Infelizmente a ideia ficou na
gaveta.
O Museu parou a sua actividade
investigativa e expositiva e, por
conseguinte, ″estancou″ a ligação
Museu/Comunidade e Museu/Escola.
Pergunto-me diversas vezes:
O que fazer para a educação patrimonial?
Como fazer a integração Museu/Escola?
Qual o papel do Turismo no binómio
Património/Educação?
Sandra Nogueira 99
Que iniciativas poderão ser levadas a cabo,
por forma a se educar as novas gerações,
para a preservação e reinvencção dos
patrimónios culturais?
Uma equipa multidisciplinar qualificada
é indispensável para actuar nesta vertente.
Linhas de actuação como, a promoção de
programas de divulgação e valorização do
Património, o aprofundar das técnicas de
preservação e de educação, devem ser
passos prioritários na alteração das
políticas museológicas. Porque os museus
são muito mais do que uma colecção. Os
museus são também os seus profissionais,
os públicos e as memórias que estão por
detrás dos objectos.
Os museus são por excelência, espaços
pedagógicos, espaços de divulgação do
discurso, da formalização e consolidação
das identidades. A visão das nossas
próprias raízes culturais definidas e
representadas num espaço museológico, é
importante para o visitante,
principalmente porque, face ao fenómeno
Globalização, cada vez mais se vive sobre a
influência dos particularismos nacionais,
regionais e locais. Esta situação tem sido
também um desafio para a Museologia e
Antropologia, centrando muitas das
atenções no estudo do «Eu», ou seja, do
mundo e/ou meio ambiente que nos rodeia.
Atenta desde muito cedo, ao papel
educativo dos museus no processo de
crescimento e aprendizagem das crianças,
ainda durante o tempo de Faculdade, decidi
em co-autoria, avançar com um projecto de
divulgação do Museu Rural e do Vinho do
Cartaxo, junto das Escolas do 1º Ciclo do
Ensino Básico em todo o Concelho.
Museu Rural e do Vinho
A iniciativa designou-se O Museu Mais
Perto das Crianças e, embora não tivesse
percorrido todos os estabelecimentos de
ensino, ainda estivemos quase 3 meses no
″terreno″, com pequenas palestras cerca de
2 vezes por semana. Nessa altura o Museu
comemorava o seu 9º aniversário e esta
seria uma boa altura para verificar até que
ponto aquele espaço cultural construído
para a Comunidade, fazia parte do seu dia
a dia.
A experiência foi interessante e
gratificante, mas verificámos que na
maioria dos casos a instituição era
totalmente desconhecida pelos mais novos,
nomeadamente por aqueles que residiam
nas freguesias e não na sede de Concelho –
Cartaxo -, onde se encontra sediado o
Museu. Tornou-se deveras importante esta
nossa missão de ″levar″ o Museu Rural e do
Vinho até junto das crianças que
desconheciam a sua existência. Para nós,
ficou claro que um projecto de musealização
do Concelho e para o Concelho, mas que é
desconhecido pela maioria da sua
população, é à partida um projecto
fracassado.
Trabalhar em museologia sem ter em
mente um serviço público e uma visão
educativa é contra a filosofia e o estatuto
social do museu, enquanto instituição
primeiramente pedagógica.
Porque o papel dos Museus é mesmo
este: informar, actualizar, conhecer,
estudar e investigar, mas também
questionar. É importante e saudável que,
as colecções apresentadas suscitem
questões e debates.
Para que a população ″sinta″ e viva o
Museu, este tem primeiro uma caminhada
de aproximação da Comunidade em geral e,
depois dos grupos em particular, sejam
estes escolares, institucionais,
económicos, etc. Este é um trabalho
constante, que exige um contacto
permanente entre a instituição
museal e o público, não só através do
trabalho de campo realizado pelo
cientista social, como também
através de iniciativas diversas
levadas a cabo pelo Museu, e que,
passam por exposições temporárias,
criação de um bom serviço educativo,
estabelecendo desta forma uma
proximidade entre o Museu e a Escola ou
100 A cultura material no processo educativo
pequenas palestras, como foi o caso da que
realizámos em 1994, fazendo desta forma a
ligação Museu/Comunidade local.
Os objectivos da proposta foram
atingidos. Dar a conhecer ao maior número
de crianças possível o Museu que
caracteriza não só as gerações passadas,
como também as vivências actuais duma
população rural, que se revê, cultural,
social e economicamente na produção
vitivinícola.
O desafio assentava precisamente na
divulgação e, de certa forma, numa
iniciação educacional para o património ou
patrimónios do Concelho do Cartaxo. A
educação patrimonial exige uma iniciação,
um tempo para a aprendizagem. O gosto e
a apreciação pelos patrimónios de uma
região, comunidade ou País, educam-se,
aprendem-se e recriam-se. Estar atento e
actualizar-se é a chave para o progresso e a
sobrevivência.
Com isto não pretendo afirmar que o
Museu se deva sobrepor ou substituir à
Escola. O Museu deverá ser o complemento
educacional para os educandos. Hoje, a
situação continua na mesma e muito do
trabalho científico desenvolvido naquele
Museu, já se desgastou no tempo.
Actualmente, o projecto museológico a
que me refiro nada mais é do que um
punhado de objectos parados e
especialmente “mudos”. Porque agregadas
aos objectos permanecem as memórias de
quem os concebeu, fabricou, trabalhou e de
quem os eventualmente os doou à
instituição. Se não se contarem, e
principalmente, se não se relembrarem
essas memórias, as perdas são inevitáveis e
irreparáveis. È importante não esquecer
que os objectos têm um prazo de vida
superior às memórias, que com o tempo se
perdem.
Por isso urge, o registo. A cada peça a
sua memória.
Vanda Machado, antropóloga brasileira,
afirma que “ é preciso manter a inter-relação
entre o pensamento e acção. Isto
significa que a aprendizagem significativa
acontece quando a criança modifica as suas
atitudes e reconhece valores da sua
cultura.” (Machado, artigo disponível
online, extraído em18/10/02). Dê-se então
as ferramentas necessárias à criança, para
que esta cresça conhecendo e identificando-se,
com os valores culturais da sua
sociedade.
Uma Feira de Artes e Ofícios
Tradicionais, baseada num levantamento
antropológico de todos os artesãos a
trabalhar entre 1995/1996, quer em regime
parttime, quer em regime full-time, foi
outro dos projectos educativo-culturais, que
desenvolvi.
Aproveitando a oportunidade de
realização de tão grandioso projecto,
envolvendo todo o Concelho do
Cartaxo, resolvemos estender o
projecto até aos mais novos, fazendo a
ligação Comunidade/Escola. Os
estabelecimentos de ensino que
decidiram aderir à iniciativa,
envolveram os alunos dos 3º e 4º anos
do Ensino Básico, com a divulgação das
suas freguesias, através dos seus
artesãos e das suas actividades
artesanais. Cada turma visitaria um
artesão da sua freguesia e a partir dai
desenvolveria um qualquer registo, que
posteriormente seria exposto durante os
dias de vigência da Feira.
Assim sendo, os principais objectivos da
iniciativa foram:
• Fomentar a acção cultural e educativa no
concelho do Cartaxo;
• Reavivar e despertar memórias
colectivas;
• Relembrar e dar a conhecer sectores de
actividade praticamente esquecidos;
• Dar a conhecer a nova geração de
artesãos do Concelho;
• Dar a conhecer ao exterior que a riqueza
cultural deste Concelho, não se esgotava
na cultura da vinha e do vinho;
• Mostrar que a refuncionalização do
objecto final, poderá ser um estímulo à
sua revitalização e, consequentemente, à
Sandra Nogueira 101
sua sobrevivência.
Apesar da iniciativa não ter tido
continuidade – contrariamente às nossas
expectativas e aos desejos dos artesãos -, a
mesma foi considerada um sucesso, porque
independentemente do aspecto técnico e
lúdico da iniciativa, esteve sempre
subjacente a ideia de que este projecto
podia e deveria ser um projecto
maioritariamente educativo. E isso
aconteceu com a ligação
Comunidade/Escola que foi uma realidade,
através do envolvimento das crianças com
um mundo que para muitos deles era
totalmente desconhecido e, por conseguinte,
novo. De salientar que, em alguns casos as
crianças tinham conhecimento de certas
actividades artesanais, por existir ainda no
seu ambiente social, uma memória familiar
relativamente a determinada actividade
artesanal.
Continuo a defender cada vez com mais
veemência que só se pode amar e respeitar
o que conhecemos. Dar a oportunidade às
pessoas de conviverem com o seu passado,
com as sua história e/ou com as suas raízes,
é dar simultaneamente a oportunidade de
se reavivarem memórias sociais e culturais
e de se aprender ou reaprender a gostar de
determinado património. Mais do que isto,
é tão importante quanto urgente, trabalhar
novas acções de preservação da memória
social.
A Cultura constrói-se e reconstrói-se
todos os dias. Ela é imutável. Os museus
são pois, espaços previligiados de
demonstração e preservação de objectos e
das actividades artesanais que lhes dão
corpo.
As “máximas” são:
• Mostrar para conhecer;
• Conhecer para entender;
• Entender para gostar;
• Gostar para preservar.
Quando muitas das Autarquias
portuguesas entenderem isto, a mudança
acontecerá.
O antropólogo brasileiro Raul Lody diz
que «tem-se que entender e educar
patrimonialmente.» (Lody, artigo disponível
online, extraído em 16/7/02)
Entender os objectos, é entender a sua
função simbólica aceite e incorporada pelas
Comunidades. Entender e ter interesse
pelas Tecnologias Tradicionais é querer
saber como nasce o objecto, quem e como o
concebe, que matérias-primas foram
utilizadas e, que tarefas e hierarquias
sociais estão envolvidas na produção
artesanal de determinado objecto.
Envolver as crianças e os jovens em
programas culturais e dar-lhes a
oportunidade de conhecerem o que os
rodeia é pois o primeiro passo para a
preservação. Dar-lhes posteriormente as
“ferramentas”, para a reinvenção é sem
dúvida “meio caminho andado” para a
continuidade.
Alexandre Fernandes Correia,
antropólogo, na sua tese de Mestrado cita
Mário de Andrade, onde este afirma que «é
preciso abrasileirar os brasileiros.»
(Correia, artigo disponível online, extraído
em 06/7/02). Ironicamente, também penso
que é preciso aportuguesar os portugueses.
Às Autarquias e às suas políticas culturais
cabe esta grande responsabilidade, por
serem os organismos mais próximos das
populações – pelo menos do ponto de vista
físico -. Os museus vivos e dinâmicos podem
pois - como espaços de aprendizagens e de
contadores de histórias -, fazer a mudança.
Políticas acertadas de promoção e
desenvolvimento turístico das regiões,
podem também ser outra das formas de
divulgação, perpetuação e desenvolvimento
das Tecnologias Artesanais. O turismo é
primeiro que tudo, um excelente veículo de
transmissão e divulgação cultural. O
imenso vai-vem de gentes, contribui para o
estreitar de relações entre o tradicional e o
moderno. Adequados planos de intervenção
cultural, ajustados às realidades de cada
região, podem funcionar como fortes
“armas” contra a descracterização
identitária das comunidades. Como
mencionei anteriormente, a Cultura é uma
construção diária e permanente. Assim
sendo, o intercâmbio entre “visitados” e
“visitantes”, o intercâmbio entre o “Eu” e o
“Outro”, é frutuoso porque se vai
complexizando e crescendo diariamente. As
trocas são assíduas e muito positivas, na
medida em que, se dá e se recebe
simultaneamente.
Os Museus são de igual modo excelentes
“ferramentas” para a educação multicul-tural.
No ano de 2000 e 2001, estando a
trabalhar na Câmara Municipal de
102 A cultura material no processo educativo
Azambuja, concebi um projecto para a
Divisão Sócio-Cultural da Autarquia, que
visava a organização de um ciclo expositivo
dedicado aos Ofícios Tradicionais
Portugueses, caracterizadores da vivência
cultural e económica daquele Concelho.
Tendo sempre como base para este trabalho
pesquisas antropológicas, a intenção foi
desde sempre mostrar a toda a comunidade
a riqueza cultural e artesanal do País em
geral e do Concelho de Azambuja em
particular
Outra preocupação, foi seleccionar
temáticas que de forma directa ou indirecta
estivessem ligadas à realidade do concelho
de Azambuja. O ciclo “Tecnologias
Tradicionais Portuguesas” foi oficialmente
inaugurado a 11 Novembro de 2000 - dia de
S. Martinho -, com a exposição A Tanoaria
– o falar das mãos.
A Tanoaria – o falar das mãos
Seguiram-se posteriormente, já no
decorrer do primeiro semestre do ano 2001,
as exposições O Cesto de Vindima – a
mestria da tradição e, por último, a
encerrar o Ciclo expositivo, Matança do
Porco – o sabor da festa.
A abordagem temática deste ciclo foi
heterogénea, não só devido às diversas
actividades artesanais estudadas e
expostas, como também pela abordagem
inter regional e, por conseguinte
multicultural, uma vez que os três
diferentes estudos foram desenvolvidos em
três diferentes Concelhos de Portugal:
Cartaxo, Azambuja e Borba.
O Cesto de vindima – a mestria da tradição
Todas as exposições seguiram uma
mesma linha expositiva, assente
principalmente na fotografia e nos
artefactos que documentavam as
actividades. A presença de uma quantidade
bastante apreciável de objectos em todas as
mostras, visava não só dinamizar o espaço
expositivo, tornando-o por conseguinte mais
atractivo, como visava também estabelecer
um contacto mais estreito com os
visitantes, ou seja, mais importante do que
a mensagem transmitida através da
fotografia – visão -, pretendia-se que essa
mensagem fosse transmitida também
através do toque – daí a presença dos
objectos -.
A matança do Porco – o sabor da festa
Sempre com o objectivo de informar –
para isso foram elaborados catálogos
destinados ao público adulto, contendo
informação escrita qu,e não só guiava o
visitante ao longo da mostra, como
igualmente pormenorizava aspectos não
desenvolvidos no espaço expositivo, devido
Sandra Nogueira 103
à limitação do mesmo – e educar – neste
caso foram elaborados também catálogos
destinados exclusivamente ao público
infantil, onde se propunham
essencialmente actividades lúdicas, sempre
relacionadas com o que tinham visualizado
na exposição -, o ciclo das “Tecnologias
Tradicionais Portuguesas”, no concelho de
Azambuja, foi sem dúvida uma “pedrada no
charco” no marasmo e esquecimento
cultural do Concelho, face a estas
actividades artesanais e aos artesãos.
Um dos objectivos desta iniciativa, foi
sem dúvida avaliar cada uma das
exposições organizadas. Para tal foram
elaborados questionários. Dos visitantes
que corresponderam a esta solicitação,
verificámos que todos eles seriam fortes
potenciais interessados visitante,s de
outras iniciativas que divulguem,
promovam e mostrem as artes e ofícios
tradicionais portugueses.
Tal como era pretendido, a maioria dos
visitantes deste Ciclo expositivo eram
residentes no Concelho de Azambuja,
seguindo-se de imediato os concelhos
limítrofes, como Cartaxo e Vila Franca de
Xira.
Foi também um dos principais objectivos
“chamar” as camadas mais jovens às
exposições. Esta pretensão foi atingida,
porque de forma geral as três exposições
foram visitadas ple classe etária mediana
(36-50 anos), com excepção da mostra
dedicada à matança do porco, onde 50% dos
visitantes se encontravam na faixa etária
até aos 20 anos de idade1.
Ao nível das habilitações literárias a
maior parte dos inquiridos detinha a
escolaridade obrigatória – à excepção da
exposição dedicada ao cesto de vindima,
onde a maioria tinha apenas o 1º Ciclo do
Ensino Básico-. No caso da última
exposição do Ciclo – matança do porco -, a
maioria dos visitantes inquiridos possuía
mesmo um título académico.
Relativamente à actividade profissional,
a heterogeneidade é marcante e como tal a
iniciativa registou visitantes de todos os
sectores sociais. Nas duas primeiras
exposições apurámos que a maioria dos
visitantes eram do sexo masculino, à
excepção da última mostra que registou
mais inquiridos do sexo feminino.
Resumindo, será pois, desta e doutras
formas, com esta e outras iniciativas –
sempre insistentes e continuadas - que as
comunidades vão aprendendo, revivendo e
valorizando o seu património. Está por
conseguinte provado que, sendo os objectos
e artefactos prova da existência e criação
cultural humana, estes devem ser usados
nas suas mais diversas formas para educar
as gerações vindouras e relembrar à
geração existente a sua história, formação e
educação cultural, quer enquanto
indivíduos, quer como cidadãos de uma
nação.
Os artefactos são não só elementos de
preservação de comunidades - mantendo
desta forma a memória social desse mesmo
grupo-, como também elementos de
reconstrução de identidades. E os museus
como espaços vivos, espaços de
interpretação do real, espaços contadores
de histórias do “Eu” e do “Outro”, são por
conseguinte lugares previligiados e
evocativos da diversidade cultural humana.
Bibliografia
Correia, Alexandre Fernandes
2001 “Mudanças no Paradigma
Preservacio-nista Clássico: reflexões
sobre patri-mónio cultural e memória
étnica”, artigo disponível online no
site http://www.antropologia.com.br,
reti-rado em 2002.
Domenache, Jean Marie
1987 “Souveraineté politique et identité
culturelle”. In Pour une politique
européenne de la culture. Paris:
Economica.
Machado, Vanda
S/D “Mitos dos Orixás – Uma perspectiva
para a educação de sujeitos
autônomos e coletivos”, II Congresso
Nacional de Pesquisadores Negros,
Universidade Federal de São Carlos,
São Paulo, artigo disponível online.
Marques, Fernando Pereira
1995 Que Falamos Quando Falamos de
Cultura?. Lisboa: Editorial Presença.
NOTAS
1 Estes dados não podem ser generalizados a todo o
Concelho, na medida em que estes são baseados
somente no público que respondeu aos questionários.
De uma forma geral foram mais os visitantes que não
deixaram ficar registo, do que aqueles que o fizeram.