Vol. 4 Nº 2 págs. 143-152. 2006
www.pasosonline.org
© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Considerações preliminares sobre produto turístico étnico
Poliana Fabíula Cardozo †
Instituto de Ensino Superior do Amapá (Brasil)
Resumo: O conceito de etnicidade pode remeter à idéia de fluxo e (re)construções de cultura autóctone
ou transplantada. Os produtos advindos das (re)construções culturais das comunidades étnicas têm cha-mado
a atenção do turismo, e sinalizando novas possibilidades através da formatação dos chamados
produtos turísticos étnicos. Para tal, faz-se necessária a compreensão do que é etnicidade, turismo étnico,
produto turístico, bem como as suas particularidades. O objetivo desse artigo é levar a reflexões prelimi-nares
sobre esses assuntos, em consoante com as tendências da atividade, incitando assim a discussão
sobre os mesmos.
Palavras-chave: Etnicidade; Turismo; Produto turístico; Turismo étnico.
Abstract: The concept of ethnicity can refer to the idea of the flow and (re)construction of authoctonal
or transmigreted culture. The resulting outputs of ethnical communities cultural (re)constructions have
drown special attention of tourism, and have also emerged new possibilities through the form of the so
called ethnical touristic products. Therefore, it`s necessary a comprehension of concept of ethnicity,
ethnical tourism, tourist product, as well as their peculiarities. The aim of this essay is to lead to prelimi-nary
considerations about these issues according to the tendencies of the tourism industry, encouraging a
follow-up discussion.
Keywords: Ethnicity; Tourism; Tourist product; Ethnic tourism.
† • Poliana Fabíula Cardozo es Mestre em Turismo (Universidade de Caxias do Sul); Bacharel em Turismo (Univer-sidade
Estadual do Oeste do Paraná); Especialista em Administração Estratégica (Universidade Paranaense). Coorde-nadora
do Curso de Bacharelado em Turismo do IESAP – Macapá/Amapá/Brasil. Docente da disciplina Antropologia
Cultural. E-mail: polianacardozo@yahoo.com.br
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PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 4(2). 2006 ISSN 1695-7121
Introdução
O conceito de etnicidade está relaciona-do
não apenas como a distinção de um povo,
mas vai além: supera as fronteiras nacio-nais,
podendo ser encarada não apenas
como as características culturais de uma
gente em seu país de origem, mas também
aos que imigraram, ou receberam influên-cia
de cultura estrangeira por meio de in-vasões
e possessões, e que, de alguma ma-neira,
sobrevivem à supremacia de uma
cultura nacional diferente da expressa
(grupos de minoria).
As reflexões sobre etnicidade que extra-polam
o autoctonismo, encaminham a outro
delineamento, não menos profundo: o fluxo
de pessoas. Compreender que pessoas via-jam
constantemente pelos mais diversos
lugares, com diferentes motivações (tra-balho;
lazer; e imigração, apenas para citar
como exemplo), e especialmente que essas
pessoas não viajam sozinhas, mas levam
consigo sua bagagem cultural inerente pode
direcionar a compreensão ou a contextuali-zação
inicial da contemporaneidade, espe-cialmente
no sentido da sua dinamicidade.
Desta forma a etnicidade permite enca-minhar
teorizações sobre a prática diária,
além de questionar o próprio conceito de
étnico. Em razão de o conceito estar ligado
à preservação de características, manifes-tações
e produtos culturais próprios de um
povo ou de uma comunidade, percebidos em
situações sociais que diferem das suas pró-prias
(contextos de diferença). Acirra-se o
debate para além da etnicidade em si, to-cando
às possibilidades de sua possível
apropriação pelo Turismo.
No contexto da globalização, se dá espe-cial
destaque aos movimentos migratórios,
pois, em paralelo aos deslocamentos do
capital, reside o incentivo ao deslocamento
dos fluxos de mão-de-obra. Sem embargo,
não apenas os movimentos migratórios
chamam a atenção, como também àqueles
de cunho turístico, pelo seu relevante trân-sito
econômico e aspectos cutlurais que esse
deslocamento atinge. Não somente pelo seu
relevante trânsito econômico, mas inclusive
pelos aspectos culturais que esse desloca-mento
atinge. O sentido de deslocamento
cultural, aqui deve ser entendido, como
aquela possível absorção de fragmentos
culturais que possa ocorrer no sentido tu-rista/
anfitrião e anfitrião/turista. Esse des-locamento
cultural provocado pelo turismo
é apenas uma forma de exemplificar como a
cultura também seria construída por bases
flutuantes e cambiantes, entretanto, esse
não será o foco da discussão aqui presente.
A maneira com que os imigrantes for-mam
suas comunidades e organizam seus
modos de vida agregando aos conhecimen-tos
do lugar de origem os adquiridos na
nova sociedade, constituem-se em novas
formas de etnicidade. Bem como, é de rele-vância
notar a maneira com que passam às
novas gerações os costumes trazidos e como
essas os (se)? (re)constroem permeadas
pelos costumes locais. Esse trânsito da cul-tura
vale salientar, não é provocado apenas
pela imigração propriamente dita, mas
também, e especialmente, como as novas
gerações já nascidas na nova sociedade:
vêm; absorvem; permutam; e reconfiguram
a cultura dos seus antepassados. Essas
novas gerações podem olhar de forma sin-gular
a cultura étnica por estarem permea-dos
por uma cultura local não étnica, em
tese, e dessa forma, gerar novos comporta-mentos
dentro e fora do ambiente étnico.
De todas as maneiras, para sobreviver, a
cultura étnica deve construir produtos cul-turais
étnicos com significado para sua
comunidade, ou deixa de existir sendo subs-tituída
por novas simbologias e significa-ções
que podem não ter necessariamente o
cunho étnico.
Os produtos culturais étnicos podem ser
variados: obras arquitetônicas; festivida-des;
idiomas e/ou expressões; trajes típicos;
grupos artísticos de música e dança; gas-tronomia;
tradições orais; religiosidade;
literatura e tantos outros que facultam
exprimir significância cultural para aquele
povo e/ou demarcar suas fronteiras (étni-cas/
culturais) demonstrando sua presença.
Esses produtos têm despertado interesse no
Turismo pela atração que pode exercer na
demanda interessada em cultura, mas que
quer atrativos que trabalhem além dos
grandes ícones culturais/turísticos já conso-lidados
pelo mercado.
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Etnicidade e Turismo
As (re)construções étnicas têm atentado
o interesse do Turismo, por possibilitar
mostrar ao visitante aspectos culturais
distintos do seu cotidiano próprio, sem ne-cessariamente
recorrer a longos desloca-mentos.
A presença de nuances étnicas na
localidade receptora pode lhe conferir ca-racterísticas
únicas, aumentando seu poder
de atração em relação à demanda. Sendo
capazes de levar o visitante para além do
óbvio dos produtos turísticos culturais, os
grandes ícones, possibilitando uma experi-ência
turística única, ou diferenciada.
Lima (1999) coloca que, ao longo da his-tória,
o Turismo esteve em busca de legiti-midade
e, nesse contexto, colocaria a cultu-ra
como uma de suas ferramentas de vali-dação.
Nos dias de hoje, a cultura funciona-ria
ainda como uma alternativa em face da
perspectiva mais consumista de relação a
outras motivações de viagens. Partindo do
princípio de que toda viagem satisfaria a
necessidade de algum tipo de conhecimen-to,
o autor conclui que todas as viagens
teriam cunho cultural. A questão seria a de
especializar e segmentar o mercado de via-gens,
a fim de atender às pessoas com ex-pectativas
que extrapolam o consumismo
de massas.
O Turismo étnico pode ser encarado co-mo
uma segmentação do Turismo cultural
com definição que relaciona as idéias de
etnicidade (autóctone ou transplantada)
como motivadora da visita. A Organização
Mundial do Turismo (OMT, 2003) entende
que Turismo étnico seria aquele voltado “a
tradições e estilo de vida de um grupo e
utilizado principalmente para destacar o
turismo nas comunidades ou enclaves espe-cíficos,
em processo de desenvolvimento”
(2003: 168). Ainda no mesmo texto, a OMT
comenta que o turista que busca a etnici-dade
como motivação para viagens, pode
fazê-lo como forma de comparação e/ou de
compreensão social, mediante a observação
de outros modos de vida.
Chambers (2000) explica, em relação ao
Turismo étnico, que “o termo tem sido usa-do
para referir as atividades que envolvem
turistas na experiência de eventos culturais
e situações que são distintas das suas pró-prias.
(2000: 100)”. E ainda, que o Turismo,
como atividade, tem auxiliado grupos de
minorias a construir suas representações
culturais não compatíveis com a ideologia
nacional: “existem ocasiões em que as mi-norias
étnicas têm manejado o uso do Tu-rismo
para afirmar sua identidade própria
e diferenciar-se da imagem nacional”.
(2000: 100).
Grünewald (2003), falando sobre as ati-vidades
e os grupos étnicos, explica que
essas podem ter seu valor para o posicio-namento
desses no mundo globalizado, pois
as comunidades étnicas poderiam fazer uso
do turismo para falar de si para o mundo.
Considerando esses diferentes olhares e
definições sobre o Turismo étnico e a etni-cidade
no Turismo, seria possível, concei-tuar
o Turismo étnico como: “aquele rela-cionado
às experiências turísticas cujo atra-tivo
seja a cultura de uma comunidade que
se construiu e se representa fora das cultu-ras
centrais ocidental, independentemente
de essa comunidade ser autóctone, ou
transplantada”. (Cardozo, 2005: 53)
Os produtos culturais dos grupos étnicos
que exerceriam poder de atração de turistas
seriam aquelas que mais fortemente ex-pressariam
identidades: arquitetura, arte-sanato,
festividades, gastronomia, vesti-menta,
dança e música e outras manifes-tações
relacionadas ao dia-a-dia do grupo e
que possam servir para delimitar sua fron-teira
étnica, passível de fruição turística.
Todavia, no que tange às preferências de
turistas, vale ressaltar a importância de
conhecer o perfil deste e as possibilidades
da comunidade étnica em permitir, ou não,
a experiência turística.
Etnicidade e Produto Turístico
Boullón (1990) colocando o sujeito à
frente da atividade turística aponta para as
expectativas do mesmo com relação ao pro-duto
turístico, e explica que em razão da
perecibilidade do produto turístico e à não-fidelidade
do turista a esse, seria gerada
uma oferta quase inesgotável de produtos e
atrativos ao redor do mundo, para atender
às mais variadas demandas. Dentro desse
entendimento e da reflexão que o mesmo
autor faz quanto à receptividade do turista
em relação ao novo em suas viagens, o Tu-rismo
étnico figuraria como uma tendência
com um forte apelo de atração.
A organização da oferta turística, bem
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como a sua complementação mediante no-vos
produtos requer a compreensão dos
conceitos e, reflexão das atividades que
esses podem abarcar. O inventário turístico
tem se apresentado como uma importante
ferramenta na ordenação da oferta, bem
como, se bem aproveitado, direcionar a no-vas
oportunidades de composição de produ-tos
turísticos, através dos elementos natu-rais
e culturais que este pode apresentar.
Sem embargo, os potenciais produtos turís-ticos
devem ter suporte de outros compo-nentes
da oferta para sustentarem-se e
desenvolverem-se com sucesso. É o caso,
por exemplo, de hospedagem, alimentação e
transporte.
Beni (1998) divide a oferta turística em:
oferta original, relacionada com a matéria-prima
turística; e oferta derivada, que está
relacionada com a prestação de serviços das
empresas de turismo. Essas divisões se
relacionam diretamente na qualidade da
atividade turística que pode ser oferecida,
ou seja: atrativos turísticos, e prestação de
serviços e amenidades ao visitante em sin-tonia
com a categoria da experiência turís-tica
vivida.
A oferta turística derivada, segundo Be-ni,
seria composta pelos transportes, hos-pedagem,
lazer e recreação; pelos organiza-dores
de viagens; e pelas agências de via-gens.
Para que a oferta turística derivada
atenda plenamente à demanda, é necessá-rio
que haja uma combinação entre a oferta
turística original e a derivada, ou seja, a
oferta tangível e a intangível, cujo consu-mo,
segundo ele, se dá em momentos dife-rentes,
mas interligados uns aos outros.
Podem-se citar, de acordo com o mesmo
autor, como sendo parte da oferta turística
derivada os seguintes equipamentos e ser-viços
turísticos: meios de hospedagem; ser-viços
de alimentação; equipamentos de re-creação
e entretenimento; agências de via-gens
e turismo; transportadoras turísticas;
centros de informações turísticas e de aten-dimento
ao turista; locadoras de veículos;
comércio turístico; centros de convenções e
eventos; entre outros.
Beni (1998) coloca que os elementos
constitutivos da oferta, trabalhados como
forma de matéria-prima turística, é que
irão conferir característica própria a uma
localidade e, também, permitirão que um
país se diferencie dos demais, auxiliando,
inclusive, na criação de uma identidade
turística própria a cada um, porque essa
matéria prima provém da História, do coti-diano
e da Natureza de cada país, e se são
colocados como oferta turística, é porque os
turistas estariam dispostos a chegar a eles.
Quando uma agência de viagens vende um
pacote para Curitiba/PR (Brasil), segura-mente,
está vendendo mais do que bilhete
aéreo e hospedagem, está vendendo os Par-ques,
a História, o Imaginário, a Multicul-turalidade,
e outros predicados da cidade,
ou seja, está vendendo também “serviços
imateriais pelos quais ninguém paga, [...]
(com exceção das taxas de entrada...)”. (Be-ni,
1998:156).
É dizer portando, que o turista está dis-posto
a pagar um determinado valor no
qual estejam incluídos não apenas os pro-dutos
tangíveis, como também os intangí-veis,
que têm uma relação direta com a
satisfação de suas expectativas em relação
à destinação. Beni (1998) ainda coloca que,
deste modo é “primordial salvaguardar
esses elementos se os governos quiserem
que o produto turístico tenha uma conti-nuidade
no tempo e não seja apenas um
capricho da moda, nocivo ao interesse na-cional”
(1998: 157).
Para Bahl (2004) os atrativos turísticos
são a base da oferta turística, figurando
como estímulo para que o turista se deslo-que
e permaneça na localidade de destino.
Igualmente, o autor chama a atenção para
a diversidade de atrativos potenciais que
uma localidade pode possuir contribuindo
para a variação de sua oferta turística, po-dendo
compor produtos diferenciados.
Tratando de legado étnico, Bahl (2004)
coloca que a existência desse em si não con-figuraria,
ao menos preliminarmente, um
atrativo turístico, mas que deve ser tratado
como marcas de etnicidade com significação
para a comunidade receptora, e indicados
como potencial atrativo. Para tratá-lo como
um atrativo, propriamente dito, outras
condições devem ser também atendidas:
acesso, e facilidade. O autor vê a diversida-de
étnica, advinda das imigrações, no Bra-sil,
como potencialidade turística, pois se-gundo
ele, no processo de integração que
cada grupo teve ao chegar ao País, trouxe
consigo contribuições que, com o passar do
tempo, fizeram parte da vida brasileira
“deixando marcas indeléveis” na cultura
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brasileira (Bahl 2004: 54).
Contudo, acerca da possibilidade de am-pliação
da oferta de produtos turísticos por
meio dessas etnicidades, Bahl (2004) atenta
para o fato de que se deve ter em conta o
tipo de turista que pode ser atraído e se os
atrativos que comporiam o produto seriam
representativos, ou não, para a etnicidade
em questão.
Os atrativos turísticos podem ser classi-ficados,
de acordo com Beni (1998) em: na-turais;
histórico-culturais; manifestações e
usos tradicionais e populares; realizações
técnicas e científicas contemporâneas e
acontecimentos programados. E ainda,
quanto à propriedade e à administração,
elas podem ser de domínio público, privado,
ou de associações voluntárias. Parece opor-tuno
salientar que a gestão e o planejamen-to
não podem desconsiderar esse aspecto, e
cada forma de administração e de proprie-dade
acaba sendo muito próprio, por ter
interesses distintos com relação à visitação
do atrativo.
Tratando dos atrativos culturais,
Bahl (2004: 37) comenta que entre outras
características, esses atrativos “são recur-sos
que podem ser utilizados como elemento
diferenciador, que vai desde a amostragem
de materiais característicos que se salien-tam
nas edificações, o artesanato e as di-versas
manifestações artísticas até o modo
de vida da população”. É dizer, que os atra-tivos
culturais compõem a cor local e dife-renciam
a localidade de outros destinos
turísticos. O autor define atrativo turístico
como sendo “todos os elementos que possam
despertar a curiosidade dos turistas” (Bahl
2004:44). Ele também atenta para o fato de
que os atrativos por si sós não se sustenta-riam:
seria necessário agregar a eles outros
atrativos comuns e combiná-los com facili-dades
que permitiriam a permanência e o
acesso, que possibilitariam o deslocamento
do visitante. Citando Acerenza, Bahl
(2004), chama de produto turístico a com-pósita:
atrativo/facilidade/acesso, e entende
que essas características permitirão sua
venda e operacionalização pelo mercado.
A existência de atrativos, no caso, recur-sos
turísticos para a composição de um pro-duto
turístico, terá que contar com o supor-te
para o desenvolvimento da atividade,
visando o atendimento dos viajantes, isto é:
transporte, alimentação e hospedagem, que
fazem parte do entorno do atrativo, asso-ciados
a outros elementos urbanos que o
núcleo deverá possuir. (Bahl, 2004: 26).
Isso posto, os potencias atrativos turísti-cos
não atenderiam à demanda turística
por si sós: eles necessitariam, para que
houvesse a composição de um produto tu-rístico,
de estrutura de recepção e de aten-dimento
a visitantes.
As destinações turísticas, bem como sua
oferta, evoluem no tempo, seja em termos
de suas instalações e serviços, seja em re-lação
à matéria-prima turística, trabalhan-do
para que um recurso turístico passe a
ser um atrativo turístico. É bem verdade
que este não é um processo simples, e di-versos
fatores podem concorrer para que
isso aconteça. Cooper et al (2002) cita al-guns
deles: taxa de desenvolvimento da
destinação turística; vias de acesso; diretri-zes
governamentais; destinações concorren-tes;
e tendências de mercado.
Produto turístico – é uma das razões de
ser do mercado turístico, compõe a oferta e
atende à demanda. Pode-se, a partir disso,
definir o produto turístico como os os bens e
serviços prestados e passíveis de comercia-lização
e fruição, englobando as atrações
turísticas, os serviços de hospedagem, a
alimentação, o transporte, os guias e outras
amenidades e serviços encontrados nas
localidades turísticas.
Ruschmann (1991: 11) explica que o
produto turístico é composto de um conjun-to
de bens e serviços unidos por relações de
interação e interdependência que o torna
extremamente complexo. Suas singularida-des
o distinguem dos bens industrializados
e do comércio, como também dos demais
tipos de serviços.
Lage e Milone (1991) consideram as
atrações turísticas como sendo os elementos
do produto turístico que determinam a de-cisão
do turista em visitar este ou aquele
lugar. E colocam ainda que as facilidades
por si sós não gerariam fluxo, mas que sua
ausência barraria a demanda. Embora al-guns
hotéis e meios de transporte sejam
atrações por si próprias, a colocação dos
autores torna-se pertinente, e toca ao pla-nejamento
turístico de uma localidade, no
sentido de direcionar seus produtos e de
dar condições de fruição a eles pelos turis-tas.
Essas condições podem ser traduzidas
em meios de transporte de e para localida-
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de, serviços de hospedagem e gastronomia e
outros que completem a experiência turísti-ca.
Andrade (2002: 100) explica que o pro-duto
turístico seria composto de atividades
e serviços relacionados a empreendimentos
de: “hospedagem [...], aos bens de alimen-tação
[...], aos transportes [...], aos produtos
típicos locais [...], além de visitas a locais
diversos e utilização de equipamento de
lazer e de divertimento, tanto naturais co-mo
artificiais”. O mesmo autor salienta
ainda a importância de a destinação turís-tica
“reciclar-se e redimensionar-se, de mo-do
constante, para manter ou melhorar
suas possibilidades nas funções de receber,
ocupar, distrair e prestar assistência efi-ciente
a todos quanto a eles se dirigirem”.
(2002:21).
Boullón (1990:164) comenta que o pro-duto
turístico “é um termo que se usa para
qualificar a classe de serviços que formam a
oferta turística”. O autor divide o produto
turístico em duas partes:
a) “o componente primário: é aquele que
está integrado pelos atrativos turísticos (os
quais vêm a ser algo como a matéria-prima
do turismo) e pelas atividades turísticas”.
(1990:164);
b) “o componente derivado: refere-se aos
serviços de alojamento, alimentação e
transporte, e mais outros complementares,
como: informação de câmbio de moedas,
etc.” (1990:164).
Tratando ainda de componentes de pro-dutos
turísticos, Lima (1999:67) salienta
que técnica e acolhimento constituem as
componentes essenciais de qualquer produ-to
turístico, o que coloca o fator humano em
posição privilegiada para constituir a dife-rença,
ou seja, para materializar uma van-tagem
competitiva, que identifique um des-tino
e que lhe permita estabelecer um ciclo
de vida estável e com aptidões para uma
progressiva renovação e utilização.
É o mesmo que dizer que, para esse au-tor,
o fator humano seria o grande diferen-cial
de um produto turístico, colocando-o, ou
não, na preferência da demanda.
O atrativo turístico como produto, se-gundo
Boullón (1990) ditaria as condições
ao desenvolvimento da atividade turística
na localidade, porque tudo o que se pode
fazer em qualquer lugar, o qual se deseja
constituir turisticamente, dependeria da
categoria e da hierarquia do atrativo, ou
dos atrativos de base. Depois estariam as
atividades que justificam o desenvolvimen-to,
porque seria por meio delas que se tor-naria
concreto o uso de um atrativo.
Bahl (1994: 40) explica que o produto
turístico pode ser “um destino turístico
específico, ou um agregado de destinos tu-rísticos,
apresentados sob forma de roteiros
ou pacotes turísticos”, da mesma forma que
a “oferta turística não pode ser apresentada
de forma isolada ou dissociada dos seus
componentes, o produto turístico também
se apresenta como um agregado de bens,
serviços e atrativos”.
Quanto às características gerais dos
produtos turísticos estão baseadas
no fator tempo; é irrecuperável se não
for usado; não pode ser acumulado; não
pode ser transportado nem transferido; sua
matéria-prima não se agrupa; é extrema-mente
dinâmico e instável, pelos gostos,
preferências, modas; opcional na escala de
necessidades do consumidor. (Beni
1998:164).
Produto turístico, portanto, se desta-ca
dos demais produtos pela sua perecibili-dade
e intangibilidade, pois se não for con-sumido,
não pode ser estocado e depois de
seu consumo, o turista ficará apenas com
sua lembrança. Entretanto, outras caracte-rísticas
de produto turístico podem ser sa-lientadas,
tais como: atratividade, facilida-des
que o cercam, e acessibilidade. Essas
características podem compor um produto
turístico, permitindo, sobretudo, a fruição
satisfatória por parte do turismo e a sua
comercialização no mercado.
Sérgio Molina (2003) explica que o tu-rismo
seria caracterizado, atualmente, pela
conduta de consumo dos turistas, porque
tal consumo tenderia a se fragmentar cada
vez mais, tornando-se menos homogêneo,
para atender a demandas cada vez menos
homogêneas. Molina (2003: 89) cita dois
tipos de produto que têm mostrado êxito
contemporaneamente: “produtos de alta
tecnologia como parques temáticos” e “os
produtos que exploram os recursos ou si-tuações
culturais e sociais”. Os produtos
citados pelo autor podem ser justificados,
dentro da heterogeneização da demanda,
por suas variadas atrações que cada um
pode oferecer, atendendo a uma diversifica-da
gama de turistas com suas preferências.
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Sobre o viajante contemporâneo, Avighi
(2000:102) explica que em relação ao turis-ta
de outrora residem algumas diferenças:
Sai de cena o consumista da zona franca,
o turista ostentatório, os roteiros clássicos.
O viajante de vanguarda busca a realização
interior e dá ênfase ao meio ambiente e à
compreensão da cultura e da história de
outros lugares, quer conhecer povos e se
enriquecer culturalmente. Percorre roteiros
não visitados e elabora seus próprios itine-rários.
O autor afirma que sempre haverá o tu-rista
de compras, e que esse seria sempre
bem-vindo nas localidades pelo incentivo
que dá ao comércio local, mas que pouco a
pouco o turista deixaria as massas para não
mais apenas contemplar, mas também con-viver,
vislumbrar o novo, o diferente. Justi-fica
o dito colocando que “a articulação me-diatizada
entre o global e o local gera uma
representação sobre lugares e povos e incita
a vivenciá-los” (p. 103), pois com meios de
comunicação tão eficientes e presentes, as
informações sobre todas as partes do mun-do
podem rapidamente ser propagadas no
âmbito global, gerando para o turismo, o
que Avighi (2000:102 grifo do autor) chama
de “a volta do turista “viajante””, este turis-ta
teria a necessidade de sanar curiosida-des
sobre o mundo, buscaria produtos turís-ticos
que provocassem a sua imaginação,
pois haveria “um imaginário local que se
põem no imaginário global por meio da
mídia”. (2000: 105).
Quanto à formatação de produtos turís-ticos,
Gastal (1999) explica que a cultura
deixou de ser uma motivação de viagem
para ser um insumo específico em si.
Azambuja (1999) elenca, além e dentro da
cultura, como mote de produto turístico, a
gastronomia típica das localidades, ou que
pelo menos essa viria a reforçar produtos
turísticos daquelas, trazendo experiência a
um produto diferenciado que estaria muito
além do souvenir. Porém, não apenas
Azambuja coloca a gastronomia como
tendência, mas também Schlüter (2003: 70)
o faz:
A gastronomia como patrimônio local es-tá
sendo incorporada aos novos produtos
turísticos orientados a determinados nichos
de mercado, permitindo incorporar os ato-res
da própria comunidade na elaboração
desses produtos, assistindo ao desenvolvi-mento
sustentável da atividade. A gastro-nomia
faz parte da nova demanda por parte
dos turistas de elementos culturais.
Colocar a gastronomia em evidência em
experiências turísticas, especialmente com
as de com cunho cultural, seria também
preencher essa vivência com sabor e aroma
que tornariam o produto turístico único,
permeando as lembranças do visitante so-bre
tão peculiar ponto de cultura de locali-dades
visitadas.
Bahl (1994) aponta também, como inse-rida
na cultura, a importância dos produtos
turísticos advindos dos legados culturais
deixados e/ou construídos pelas levas de
imigrantes, com especial destaque para a
sua arquitetura, cujas marcas estão presen-tes
em boa parte do território nacional.
Essa observação de Bahl pode ser encarada
como uma tendência, dentro do apontado
por Molina (2003), por Avighi (2000) e por
Gastal (1999), que coloca a etnicidade cons-truída
pelas imigrações, por se inserirem
em contextos culturais e sociais, porém
diferenciadas da cultura central nacional
de uma localidade, conferindo a ela (etnici-dade)
nuances de diferenciação. Sem em-bargo,
essa etnicidade também atenderia à
tendência que Azambuja (1999) aponta: o
prazer gastronômico, pois não raro esse
vem acompanhado de legado culinário.
Gastal (2002: 128) vê a cultura como
“um processo de síntese de saberes de uma
determinada comunidade que, num deter-minado
momento, gera produtos específi-cos,
com uma profunda carga simbólica”.
Contudo, Gastal (2002) percebe que o tu-rismo
de massa apropria-se da cultura com
restrições, ao priorizar as manifestações
arquitetônicas e folclóricas, não raro este-reotipadas,
ou os grandes ícones culturais,
deixando o contexto que a gerou em segun-do
plano. A mesma autora ainda observa
que a valorização da cultura, como produto
de turismo, dar-se-ia quando o entendimen-to
relativo a ela passasse a ser relacionado
a “um processo vivo de um fazer de uma
determinada comunidade” (2002: 127). É
dizer, olhar para além dos grandes ícones
culturais que já estariam sob o uso e a ex-ploração
do turismo de massas, e vislum-brar
a contextualização, o detalhamento
intrínseco daquela comunidade visitada,
como esta traçou sua trajetória, como pro-cessa
o passado e constrói o presente. Seria,
150 Considerações preliminares sobre produto turístico étnico
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 4(2). 2006 ISSN 1695-7121
então, ansiar para um Turismo para além
das massas, para além dos consumismos, e
trabalhar para a atração de visitantes dis-postos
a viver novas experiências.
Também Lima (1999) colabora com a re-flexão
comentando que, na atualidade, a
alta cultura já não teria um valor maior do
que a cultura popular e que o Turismo cul-tural
uniria essas duas culturas. Além do
que integraria a cultura enquanto processo
e enquanto produto. Enquanto processo,
pelo qual um povo se identifica consigo pró-prio
e sua forma de vida: a autenticidade.
Enquanto produto, pela operacionalização
de um conjunto de recursos, infra-estruturas,
serviços e criações culturais,
oferecidos de forma organizada e regular
num determinado tempo e lugar. (1999: 62)
As observações de Gastal e Lima indu-zem
à reflexão da cultura como produto da
vanguarda turística, e levam à compreens-ão
de que não apenas os grandes ícones
culturais teriam espaço nas configurações
de produtos turísticos culturais, mas tam-bém
a cultura viva das comunidades, os
seus cotidianos, os fazeres e as mais sim-ples
manifestações dessas tornar-se-iam
produtos turísticos passíveis de fruição do
turista atento e curioso apregoado por
Avighi (2000). Da mesma forma que esse
autor comenta que sempre haverá espaço
para os turistas de compras, é possível que
sempre haja roteiros turísticos baseados
nos grandes ícones culturais, mas o que se
presta a salientar, neste momento, é a im-portância
da valorização da cultura como
um todo, para atender às demandas de um
novo turista.
O destaque da etnicidade no momento
contemporâneo, com especial relevância à
sua forma dinâmica de organização e a
maneira com que as comunidades étnicas
protegem e preservam manifestações cultu-rais
e os produtos e significados simbólicos
delas provenientes, têm se apresentado
como uma possível especificidade do turis-mo
no sentido de despertar o interesse de
público.
Nesse sentido, a etnicidade poderia figu-rar
como um potencial turístico relevante
no País, se considerar o legado étnico pro-veniente
das levas migratórias. Para tal, a
formatação de produtos turísticos étnicos
seria baseada nas marcas fortes dessas
comunidades, tais como: arquitetura, gas-tronomia,
festividades, grupos artísticos,
artesanato e tantas outras aliadas às facili-dades
e acessos permissíveis aos visitantes.
Um olhar inicial sobre comunidades ét-nicas,
analisando suas especificidades como
etnia, e, com vistas na oferta turística na
cidade em que se organizaram, poderia
levar à aquiescência imediata do potencial
turístico que a esta é capaz de oferecer em
termos de formatação de produtos. Não
obstante, o estudo aprofundado de uma
etnicidade e sua migração, bem como as
formas como a partir daí se (re)organizam
podem levar a outras conclusões menos
imediatas, sobretudo na crítica da acessibi-lidade
dos seus bens por visitantes.
Reflexões Finais
O produto turístico é caracterizado no
corpo desse trabalho como os bens e servi-ços
prestados e passíveis de comercialização
e fruição. Preliminarmente, para apontar
as potencialidades da etnicidade como in-sumo
da fruição turística a partir de pro-postas
de produtos turísticos, algumas
premissas devem ser observadas. Para tal,
serão observadas aqui as mesmas aponta-das
por Bahl (2004): atratividade, acessibi-lidade
e facilidade.
• Ser atrativa sob ponto de vista das
tendências para a atividade, buscando um
contato maior com a comunidade visitada e
com seu modo de vida, podendo ser visuali-zado
pelas suas relações familiares, cons-truções
arquitetônicas, idiomas ou express-ões,
vestimentas, gastronomia, festas, gru-pos
artísticos, religiosidade, artesanato e
outros. Também uma comunidade étnica
pode ser considerada atrativa em razão do
contato que possa oferecer aos turistas,
proporcionando uma experiência de conví-vio,
e não apenas a contemplação. Isso pode
ser percebido, especialmente com gastro-nomia
e festividades;
• Ser acessível: desde o ponto de vista
da acessibilidade física aos locais de inte-resse
do Turismo, como no sentido da ad-missão
como ponto de acessibilidade. Neste
momento, a reflexão deve ser aprofundada
sobre o que a comunidade deseja de fato e
está preparada para abrir aos visitantes,
bem como a explicitação dos benefícios e
malefícios que o Turismo como atividade
possa vir a trazer.
Poliana Fabíula Cardozo 151
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 4(2). 2006 ISSN 1695-7121
Explicar como isso se daria no âmbito
prático, é dizer que haveria de fato interes-se
e disponibilidade em receber turistas
e/ou membros de comunidades não-étnicas
e que não fossem convidados especiais? A
reflexão toca a todos os recursos que a co-munidade
possa oferecer em termos de tu-rismo.
Faz-se necessária uma consulta
aprofundada aos organizadores e dirigen-tes/
líderes dessas comunidades para con-cluir,
de forma definitiva, se estariam, ou
não, aptos a receber visitantes sistemati-camente.
• Do entendimento que as facilidades
são o que fazem com que o turista perma-neça
no local visitado, podem ser encaradas
como facilidades: atendimento em portu-guês;
banheiros e água potável, comunica-bilidade,
acesso a partir de diferentes meios
de transportes, reservas, e outras. Sem
embargo vale ressaltar que essa comunida-de
étnica, regularmente, não encontra-se
isolada, e sim fazendo parte de uma comu-nidade
maior, como sendo uma cidade, que
pode conta rcom facilidades em termos de
saúde, transporte, segurança, alimentação,
comércio variado e comunicação.
Ao se constatar que a comunidade étnica
tem sua presença marcante e que imprime
no tecido urbano da cidade as suas caracte-rísticas,
sob múltiplos aspectos: o idioma
falado, escrito e impresso nos letreiros de
estabelecimentos comerciais, e inclusive os
nomes para esses estabelecimentos; seus
trajes tradicionais; a exposição de produtos
comercializáveis, inundando as ruas com
seus aromas, texturas, imagens, sons e
sabores; e tantos outros que seria possível
afirmar que para quem transita pelo região
da cidade, em que há a presença da etnia,
parece impossível não perceber essa pre-sença.
Vale discutir nesses termos, em relação
ao turista, se esse se questiona sobre essa
marca étnica na cidade em que visita, no
sentido de: o que mais pode mostrar? de
onde vem? que outros edifícios construí-ram?
E outras dúvidas que podem desper-tar
curiosidade sobre eles. Bem como, aos
turistas que não a percebe, poderiam ques-tionar-
se sobre que diferenciais culturais
que esta cidade pode oferecer.
O conceito de culturas centrais de
Teixeira Coelho (2004), que trata das cultu-ras
predominantes no cenário internacio-nal,
apresenta-se como um conceito-chave
para essas orientações, no sentido de con-textualizar
a cultura étnica. Cultura essa
que estaria fora dos parâmetros das cultu-ras
centrais. Tal etnicidade não deve ser
encarada apenas com vistas ao autoctonis-mo,
mas também sob o aspecto dos fluxos
de imigrantes, isto é, os povos transplanta-dos.
Essa ressalva se mostra pertinente sob
o seguinte aspecto: o inegável trânsito das
pessoas em busca de novas oportunidades
em outros países, levando além de mão-de-obra,
também seus saberes e fazeres, bem
como das possibilidades que esses podem
ter se apropriado a partir do turismo, o que
não raro acontece.
Especialmente na América do Sul – des-tino
de levas de imigrantes, principalmente
europeus e asiáticos, maciçamente a partir
do século XIX – os imigrantes construíram
suas marcas culturais, e, parece inevitável,
portanto considerar essa seção étnica nas
reflexões teóricas.
Um olhar atento das cidades da América
do Sul revela que não apenas as grandes
cidades receberam imigrantes, mas tam-bém
cidades menores, e essas contam com
patrimônio construído através dos
(re)enraizamentos dessas comunidades.
Comparando as grandes e pequenas cida-des,
pode-se observar que muitas vezes as
primeiras contam com bairros étnicos (te-matizados
ou não, como é o caso da Liber-dade
na cidade de São Paulo), ou espaços
territoriais demarcados culturalmente,
onde não raro podem-se gerar guetos. Esses
espaços traçam uma linha tênue entre a
valorização e a segregação. Ao passo que
nas cidades menores, as comunidades étni-cas,
e suas marcas estariam diluídas na
malha urbana. O que determina no proces-so
de (re)enraizamento de uma comunidade
de imigrantes a sua diluição ou concentraç-ão
territorial? Essa reflexão pode acrescen-tar
para as pesquisas sobre etnicidade e
turismo muitos aspectos da comunidade
estuda e a sua relação de abertura, inserç-ão,
e socialização com os que dela não fa-zem
parte.
O aprofundamento conceitual da ativi-dade
turística apresenta-se como uma fe-rramenta
importante para a compreensão
da mesma, de modo que se a etnicidade é
colocada como uma tendência para o Tu-rismo,
o Turismo étnico não pode deixar de
152 Considerações preliminares sobre produto turístico étnico
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 4(2). 2006 ISSN 1695-7121
ser compreendido em sua totalidade, e em
sentido, a formatação de produtos turísticos
étnicos deve estar em consoante com os
interesses e particularidades da comunida-de
exposta. Para tal, faz-se necessário o
profundo conhecimento, não apenas dos
interesses do turista, mas também, da co-munidade
étnica como um todo, para defi-nir
onde há possibilidade e onde há limi-tação
para a mesma no turismo.
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Recibido: 24 de septiembre de 2005
Aceptado: 20 de febrero de 2006
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