Vol. 7 Nº2 págs. 297-305. 2009
www.pasosonline.org
© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Análise discursiva da relação entre atividade turística,
apropriação do território e patrimônio: contribuições para o
planejamento sustentável do turismo na Bahia-Brasil
Natanael Reis Bomfimii
Universidade Estadual de Santa Cruz (Brasil)
Djaneide Silva Argôloiii
Universidade Estadual de Santa Cruz (Brasil)
Resumo: Este artigo busca, a través de uma reflexão teórica, analisar a relação entre a apropriação do
território pela atividade turística e seus impactos na cultura e no ambiente, chamando à atenção para a
necessidade do planejamento sustentável no estado da Bahia-Brasil. Para tal, recorremos à análise con-ceitual
e análise do conteúdo do discurso de diversos autores que tratam de forma interdisciplinar, a
temática do Planejamento do turismo sustentável e sua relação com o desenvolvimento Regional (Bom-fim,
2008, 2006; Coriolano, 2005; Dias, 2003 Becker, 2002 Yazigi, 2002, 2003, Carlos, 2002; Petrocchi,
2001; Santos, 1994; 1997; Soja, 1993; Chadefaud, 1987; Assim, tal proposta evidencia a necessidade de
valorizar comunidades colocadas à margem do sistema econômico.
Palavras-chave: Turismo; Cultura; Território; Patrimônio; Planejamento Sustentável.
Abstract: This article aims, through a theoretical reflection, examining the relationship between the
ownership of the territory by the tourist activity and its impacts on culture and the environment, calling
attention to the need for sustainable planning in the Bahia-Brazil. To this end, we shall analyze the
speech of several authors who deal with interdisciplinary way, the theme of Planning sustainable tourism
and its relationship with the regional development (Bomfim, 2008, 2006; Coriolano, 2005; Days, 2003
Becker, 2002 Yazigi, 2002, 2003, Carlos, 2002; Petrocchi, 2001; Santos, 1994, 1997; Soja, 1993; Chade-faud,
1987; Thus, this proposal highlights the need to enhance communities placed outside the economic
system.
Keywords: Tourism; Cultural; Territory; Heritage; Planning Sustainable.
ii • Doutor em Didática em Geografia pela Universidade do Quebec em Montreal. Professor Adjunto da Universida-de
Estadual de Santa Cruz, Ilhéus-Bahia, no Programa de Mestrado de Cultura e Turismo e no Curso de Licenciatura
em Geografia. Endereço Postal, Campus Soanes Nazaréde Andrade, Km 16-Rodovia Ilhéus –Itabuna, Salobrionho,
CEP: 45662.000 – Ilhéus-Bahia. E-mail: natanaelreis@uol.com.br.
iii • Mestranda em Cultura e Turismo pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Professora da Universidade Estadual
de santa Cruz, Ilhéus-Bahia, no Curso de História. Endereço Postal, Campus Soanes Nazaréde Andrade, Km 16-
Rodovia Ilhéus –Itabuna, Salobrionho, CEP: 45662.000 – Ilhéus-Bahia. E-mail: djaneideargolo@hotmail.com.
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Introdução
Em uma economia globalizada, a
tendência é dar ênfase às produções de
cultura que ocupem uma dimensão que vai
além das fronteiras territoriais. Entretanto,
comunidades locais respondem com repre-sentações
simbólicas peculiares como alter-nativa
à uniformidade apregoada pelo neo-liberalismo.
Assim, o patrimônio surge co-mo
uma construção da modernidade, um
artifício criado no sentido do fortalecimento
de uma pertença a um mesmo espaço
simbólico, atribuindo uma transcendência a
determinados símbolos culturais que ates-tam
o caráter singular de uma determinada
comunidade (Bomfim, 2006).
Neste cenário, os debates e pesquisas
sobre as questões relacionadas às identida-des
individuais e coletivas, às classes, ao
gênero, à etnia, às diversas representações
simbólicas e à preservação, recuperação e
difusão dos acervos do patrimônio cultural
material e imaterial estão ao seio das aca-demias
e fazem parte das preocupações da
sociedade brasileira como um fermento ao
Planejamento e Políticas Públicas. Por sua
vez, o turismo como uma atividade produti-va
mundial que interfere na organização
desigual dos territórios, absorvidos pelos
modos de produção e culturas, requer um
controle do governo e da própria sociedade,
exigindo, por um lado, a aplicação de políti-cas
públicas e privadas e, por outro lado,
uma melhor compreensão de conceitos in-terdisciplinares,
uma vez que as ações en-gendradas
em função da exploração da ati-vidade
turística trazem seus resultados
socializados (Coriolano, 2005, Dencker,
2004, Bomfim, 2000, Yázigi, 1998).
Em nível regional, particularmente, na
Bahia, as pesquisas interdisciplinares em
Cultura e Turismo têm buscado compreen-der,
de forma comparativa, a dimensão
nacional e regional das etnias, das identi-dades
e cultura (Silva, 2005); identificar a
figura da mulher baiana presente nas obras
amadianas visando uma desautomatização
de um esquema conceitual, posto sobre o
Brasil, baseado em estereótipos presos,
ainda ao desfrutável e exótico (Sacramento,
2006) e investigar as representações simbó-licas
construídas pelos sujeitos a fim de
compreender a evolução dos modos destas
representações, segundo as dimensões co-rrelatas
do significante espacial e do signi-ficado
sócio-cultural (Bomfim, 2008).
Nessa perspectiva, a conjugação desses
atores permite sustentar que há, pelo me-nos
teoricamente, uma tendência à descen-tralização
econômica, impondo novos papéis
às regiões e cidades, “espaços fragmenta-dos”
pelas políticas públicas que delinea-ram
planos Nacionais e Setoriais centrados
nas realidades do território (Santos, 1997,
p.39). Essas regionalizações, decorrentes da
dinâmica de produção, são produzidas em
processos de inclusão/exclusão, continuida-de/
descontinuidade, dando origem a econo-mias
desiguais e combinadas, produzindo
desenvolvimento e subdesenvolvimento,
como movimentos mutuamente determi-nantes
do movimento desigual e conjunto
do capital (Soja, 1993).
Esses efeitos da globalização, das ino-vações
técnicas e da terceira revolução in-dustrial,
propiciam uma sociedade de eco-nomia
flexível cujos sócios passam a pos-suir
maior disponibilidade às condições
básicas de lazer, oferecendo esta estrutura,
condição de emergência do turismo como
atividade de grande significação principal-mente
nos países em desenvolvimento. As-sim,
o turismo absorve um caráter cultural,
mas por formar um par perfeito com o capi-talismo,
passa a ter função puramente co-mercial,
e na era da globalização a prática
da atividade turística tende a direcionar-se
para pequenos lugares ou comunidades,
uma vez que as localidades são os termos
do destino, remetendo à teoria de globali-zação/
fragmentação, pois à medida que
globaliza, a atividade turística abre espaço
ao local, por que o lugar com sua singulari-dade
é o espaço onde o global se realiza,
cada lugar é à sua maneira o mundo (San-tos,
1994).
Esse contexto nos leva a refletir sobre as
diversas produções científicas que abordam
a relação entre a atividade turística e terri-torialidade.
Assim, numa tentativa de aná-lise
do discurso dos autores sobre a temáti-ca,
buscamos aqui questionar, qual a relaç-ão
entre a apropriação do território pela
atividade turística e seus impactos na cul-tura
e no ambiente? A partir desses resul-tados
e considerando o aspecto do desenvol-vimento
regional, quais necessidades que
Natanael Reis Bomfim y Djaneide Silva Argôlo 299
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dimensionaria um planejamento sustentá-vel
no estado da Bahia-Brasil?
Aspectos teóricos da investigação
A utopia do Turismo Sustentável
Discutir sobre a atividade turística e de-senvolvimento,
implica em refletir sobre os
termos sustentabilidade e planejamento. O
primeiro, segundo Oliveira (2003), tem sido
usado para expressar a relação entre as
ações antrópicas e a capacidade da nature-za
em suportá-las, sem prejuízo para a
mesma. Isto implica na elaboração do se-gundo,
o planejamento, que deve nortear a
não exceder a capacidade do ambiente, para
não esgotá-lo ou destruí-lo. Assim posto, em
dois movimentos a atividade turística pode
contribuir com o desenvolvimento regio-nal/
local. Por um lado, respeitando a sus-tentabilidade
da sociedade, da natureza e
das culturas e, por outro lado, através da
materialização capitalista no espaço, perce-be-
se apropriação de um território político e
ideológico (Bomfim, 2006). Aí o turismo
pressupõe uma ruptura espaço-temporal
não apenas com o mundo do trabalho, mas
com os lugares e as culturas. Nessa dialéti-ca,
vale ressaltar que em um determinado
momento é aventada a hipótese de um tu-rismo
sustentável, contribuindo com o de-senvolvimento
regional/local, respeitando a
natureza e preservando as culturas, e em
outro, os resultados do processo de explo-ração
da atividade turística têm fornecido
dados que permitem afirmar a ocorrência
acentuada de desigualdades sociais e de-gradação
ambiental (Coriolano, 2005; Yazi-gi,
2003,2002; Becker, 2002; Carlos, 2002;
Chadefaud, 1987)
Para Becker (2002), há um momento de
valorização seletiva de territórios, há a
inserção da atividade turística na natureza
sem deformá-la ou depredá-la excessiva-mente,
referindo-se ao ecoturismo, o que
complementa Coriolano (2005) ao sinalizar
turismo rural, turismo da natureza, turis-mo
em áreas indígenas, turismo em favelas
ou em áreas sertanejas, acentuando que
desse modo pequenos lugares ou empreen-dimentos
encontram uma forma para inte-grar
a cadeia produtiva do turismo, quando
os territórios são valorizados pela sua aces-sibilidade
e natureza, especialmente nas
zonas costeiras de países tropicais ou medi-terrâneos,
por serem produtos de venda
fácil, mercadorias valorizadas para popu-lações
de países temperados ou frios, po-dendo
a atividade do turismo criar uma
multiplicação de serviços, de empregos di-retos
e indiretos e de circulação de dinheiro,
embora traga também efeitos perversos,
principalmente no âmbito social, a exemplo
da prostituição ligada à atividade turística.
Métodos e técnicas da investigação
Após apresentação da temática, faz-se
necessários apresentar um desenho meto-dológico
da investigação. Considerando os
objetivos expostos na introdução deste tra-balho,
lembramos que este estudo visa ana-lisar
a relação entre a apropriação do te-rritório
pela atividade turística e seus im-pactos
na cultura e no ambiente, chamando
à atenção para a necessidade do planeja-mento
sustentável no estado da Bahia-
Brasil. Para tal, selecionamos os diversos
artigos que tratam da atividade turística e
sua relação com o desenvolvimento local e
regional, da conceitualização sobre a di-mensão
do espaço geográfico. Em seguida,
utilizando a técnica da análise conceitual
precisa, tentando aqui buscar a origem da
classificação dos conceitos e sua finalidade
a fim de compreender melhor o objeto de
estudo: a apropriação do território pela
atividade turística. Para Bomfim (2005) a
origem da classificação dos conceitos parte
da estrutura e, nessa perspectiva, a ativi-dade
turística que se pratica num dado
território, implica em fatores impactantes
que podem estruturar e/ou desestruturar o
território, como uma dimensão do espaço
geográfico. Em seguida, esses conceitos
foram associados e classificados numa rede
de categoria semântica a fim de serem
submetidos a análise do conteúdo (BAR-DIN,
1998) que nos permitiu satisfatoria-mente
descrever e interpretar o conjunto de
dados.
Resultados e discussão
Patrimônio, Atividade turística e Planeja-mento
Na articulação, entre a realidade da
prática social do turismo, a produção do
conhecimento sobre esta prática e o seu
planejamento, faz-se necessária uma breve
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abordagem do conceito de patrimônio. Inse-rido
entre vários debates, o II Seminário
Nacional de Gestão do Patrimônio Cultural
(2004), realizado em Goiânia e organizado
pela comissão de professores, como Márcia
Bezerra, Manuel Fereira Lima Filho, Roque
de Barros Laraia e Eliane Lopes e Heliane
Prudente Luçany Bueno. Este aponta para
a importância de conhecer e de preservar o
patrimônio cultural de uma localidade a
partir de estudos Interdisciplinares (Marra
y Barretos, 2004), afinados com as definiç-ões
da Constituição Federal de 1998 e de
Barreto (1996).
Esses afirmam que Patrimônio Cultural
não deve ser constituído apenas por edifi-cações
arquitetônicas e seus elementos,
mas também como o conjunto de todos os
utensílios, hábitos, usos e costumes, cren-ças
e formas da vida cotidiana que fazem
referência à identidade, à ação, à memória
dos diferentes grupos que formam a socie-dade
brasileira. Nesta perspectiva, o con-ceito
de patrimônio traz uma carga afetiva
e simbólica. Assim, ele é também uma
questão de paternidade, de herança, de
transmissão de signos e significados,
através do tempo, destes que deveriam
constituir um valor e um laço sócio-natural,
à imagem de um laço de família, um ves-tuário,
uma comida, um prédio, ou mesmo
com uma árvore de um determinado lugar.
O patrimônio é, portanto, uma construç-ão
social (Prats, 1997), um processo simbó-lico
de legitimação social e cultural, basea-do
na seleção e ativação de determinados
referentes que permitem representar uma
determinada identidade.
Falar de patrimônio pressupõe, por isso,
falar de identidades, na medida em que
pode ser definido como uma síntese simbó-lica
de valores identitários (Santana, 1998),
que contribuem para um sentimento de
pertença e de identificação de um coletivo
social. Com efeito, esta capacidade de re-presentação
simbólica das identidades
constitui um elemento central na atual
definição do conceito de patrimônio. Enfim,
este conceito não se resume apenas à cultu-ra,
traduzido como patrimônio cultural,
inscrito na memória dos indivíduos, trans-mitido
e regenerado pelas formas oral e
escrita e identificado socialmente. Ele re-toma
a idéia de solidariedade entre as ge-rações
e, com um olhar abrangendo o nosso
passado, ultrapassa os limites da objetivi-dade
humana e faz intervir no tempo, na
história, na paisagem, no lugar, no espaço.
Percebemos, então, que, através das
concepções teóricas sobre patrimônio e ati-vidade
turística, existe um esforço de vários
autores em estabelecer uma relação com a
cultura e a identidade de um grupo social.
Entretanto, o discurso é desprovido do con-texto
sócio-espacial que talvez nos permi-tisse
melhor compreender a relação entre
as práticas sociais na atividade turística e o
planejamento dessa atividade.
Logo, faz-se necessário apreender as re-presentações
sociais, simbólicas e culturais,
construídas pelos sujeitos, a fim de inter-pretar
e compreender os diversos lugares
turísticos; regular as relações entre grupos
sociais e a atividade turística, bem como
julgar e avaliar as práticas sociais através
de atitudes e valores atribuídos ao seu es-paço
vivido.
Nesta perspectiva, os debates e pesqui-sas
fazem relação ao patrimônio como uma
tradução das diversas representações
simbólicas, sua preservação, recuperação e
difusão, servindo como fermento ao Plane-jamento
do Turismo. Segundo Petrocchi
(2001), o planejamento turístico identifica
os segmentos específicos que poderão ser
trabalhados com a oferta de produtos es-pecíficos
que atendam às necessidades e
desejos da demanda localizada, mas, para
tanto, há a necessidade do envolvimento da
população residente nesse processo, pois, o
principal vendedor deste produto é quem
mais o consome, neste caso, o seu residente.
O Turismo depende da população, em
todos os aspectos, tanto em relação à im-prescindível
hospitalidade quanto aos in-vestimentos
necessários. Logo, o planeja-mento
do turismo deve passar por um pro-grama
de conscientização da população
relativamente à importância dessa ativida-de:
os empresários devem se engajar nas
questões políticas do seu município e os
estudantes devem ser esclarecidos sobre o
Turismo e o mercado de trabalho. Uma
mudança cultural é necessária, a população
deve enxergar e exigir providências concre-tas
e corretas em prol do turismo.
Assim, todo o planejamento é uma fe-rramenta
de poder significativo. Quando se
escolhe uma das alternativas de diversos
cenários futuros, a decisão é sobre aquela
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PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(2). 2009 ISSN 1695-7121
que mais interessa e beneficia o planejador,
ou o grupo social ao qual pertence. Pode-se
dizer que poder e planejamento são concei-tos
indissociáveis, pois toda elaboração de
um plano envolve o sucessivo método de
tomada de decisões que comprometerão em
maior ou menor grau um grupo de pessoas.
A atividade turística realizada sem pla-nejamento
tem grandes possibilidades de
produzir mais impactos negativos do que
positivos. O fundamental é a intenção de
planejar, buscando a sustentabilidade em
modelos de gestões de políticas públicas
coordenadas e integradas, aumentando a
capacidade socioeconômica, ambiental e
cultural da atividade. O planejamento da
atividade turística envolve a escolha de um
cenário futuro que atenda aos interesses da
maioria da população de um município,
estabelecendo limites e regras e impondo
condições que contribuem para o seu suces-so.
É na elaboração do planejamento que o
Poder do Estado se manifesta com maior
clareza, pois se trata de modificar uma
tendência por outra previamente escolhida.
Sobre o Planejamento e Políticas Públi-cas,
destacamos, aqui, o Plano Nacional de
Turismo (PNT), articulado com o Ministério
do Turismo que, através de suas diretrizes,
metas e programas do setor, visam desen-volver
o produto turístico brasileiro com
qualidade, contemplando as diversidades
regionais, culturais e naturais; além de
estimular e facilitar o consumo desse pro-duto
nos mercados nacional e internacional.
Salientamos, ainda, o Programa de Re-gionalização
do Turismo (PRT) que visa, em
parceria com o SENAC, SESC e SEBRAE,
estruturar atrativos e infra-estrutura a fim
de oferecer produtos turísticos diferencia-dos,
bem como implantar vários roteiros
turísticos em diferentes estados. Neste sen-tido,
as orientações básicas dadas pelo Mi-nistério
do Turismo (2006) ao Turismo Cul-tural
apontam para o desenvolvimento e a
oferta de produtos do Turismo Cultural
agregados à promoção da diversidade cul-tural
brasileira, da participação e do bem-estar
das comunidades.
Mas, por um lado, para alcançar
resultados significativos, entendemos a
necessidade de esforços da comunidade
local, o poder público e os institutos de
pesquisa, adotando ações estratégicas, tais
como: capacitação de recursos humanos,
abertura de linhas de financiamento de
projetos ligados ao turismo, ampliação de
infra-estrutura turística, estabelecimento
de programas de cooperação empresarial,
revitalização de áreas de patrimônio
histórico-cultural, entre outras.
Por outro lado, faz-se necessário uma
reflexão sobre conceitos, teorias e métodos
de investigação em turismo, entendendo
que a pesquisa é um elemento estratégico
indispensável para a liderança dos merca-dos
e a determinação de futuros alternati-vos
dentro da vocação específica de cada
região. Entende-se aqui o espaço turístico
entrecortado, onde não se pode recorrer a
técnicas de regionalização para proceder a
sua delimitação porque, seria preciso
abranger toda a superfície do país ou da
região em estudo, grandes superfícies que
não são turísticas figurariam como turísti-cas,
cometendo-se um erro. Isso significa
que regiões turísticas não existem. É preci-samente
para substituir a idéia de região
turística que desenvolvemos a idéia de es-paço
turístico ou Zona Turística
(BOULLÓN, 2002) a fim de analisar os
lugares e suas impregnações e, por vezes,
suas diversas realidades e identidades.
Assim, patrimônio, turismo e planejamen-to,
são realidades que convergem no coti-diano
de vários atores responsáveis pela
elaboração e veiculação de discursos rela-cionados
com uma pretensa necessidade de
preservação dos bens naturais e culturais.
Necessidades que apontam para um plane-jamento
da Atividade Turística no Sul da
Bahia
Na Bahia, o critério de Zoneamento por
agrupamento dos atrativos turísticos nos
remete a cinco zonas: Zona da Costa do
Cacau; Zona da Costa do Dendê; Zona da
Costa do Coqueiros; Zona da Costa do Des-cobrimento
e Zona da Costa da Baleia.
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PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(2). 2009 ISSN 1695-7121
Zoneamento Turístico na região do Sul da Bahia
Fonte: IBGE 2009
Em particular nas Costas do Dendê e do
Cacau alguns estudos têm apontado im-pactos
mais acentuados, seja para as co-munidades
locais, como no ambiente. Por
exemplo, Argôlo (2005) afirma que pescado-res
de mariscos e peixes, cabaneiros e fei-rantes
do entorno da Baía de Camamu
(Costa do Dendê), mudaram suas ativida-des
como formas de resistir ao processo de
exclusão trazido pela atividade turística,
onde para sobreviver pescadores foram
transformados em barqueiros para o exercí-cio
da atividade turística, outros que deixa-ram
de pescar e se transformaram em do-nos
de pequenos sítios, sobrevivendo de
exploração de culturas de curta duração
(feijão, milho, urucum) no aguardo das
espécies nativas e suas épocas ou culturas
que requeiram maior tempo para produzir,
a exemplo de cravo da índia, dendê, gua-raná,
seringa, piaçava, pimenta do reino,
etc. Outros começaram a produzir alguns
tipos de artesanato, com fibras e cipós para
o fabrico de cestos, fruteiras, peças de or-namento.
Além dos que se estabeleceram
como donos de pequenas vendas e outros.
Já o estudo de Bomfim (2007), no município
de Itacaré (Costa do Cacau), revela comu-nidades
isoladas às margens do Rio de Con-tas,
que são excluídas do processo turístico
local ou resistem, tentando preservar suas
tradições culturais.
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PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(2). 2009 ISSN 1695-7121
Constata-se, aqui, que a exploração do
turismo, como atividade lucrativa e organi-zada
com maior aporte de recursos, ocorre
em parte pela decadência da atividade ca-caueira,
que se encontrava na condição de
maior suporte econômico do estado da Ba-hia
e também pelo crescente interesse da
exploração da atividade turística em áreas
do litoral brasileiro, que se constitui espaço
muito privilegiado em relação às belezas
naturais, e, extremamente adequado à
prática desta atividade. Por outro lado, a
inserção dessa atividade tem sido objeto de
programas e projetos, objetivando a conser-vação
ambiental dotando a natureza não só
da condição de produto ou mercadoria para
o planejamento sustentável do turismo,
pressupondo-se, como afirma Oliveira
(2003) que os recursos naturais, assim co-mo
os construídos pelo homem, têm um
limite para absorver visitantes.
Considerações finais
Antes das considerações finais, salien-tamos
que geograficamente, o espaço baia-no
está dividido em sete messorregiões co-mo
Extremo Oeste Baiano, Vale do São
Francisco, Centro Norte Baiano, Nordeste
Baiano, Metropolitana de Salvador, Centro
Sul Baiano e Sul Baiano. Este conceito de
região, oficialmente criado pelo IBGE
(1988), é utilizado para fins de recensea-mento
e de planejamento territorial.
Neste cenário, uma aplicação de con-hecimentos
teóricos que abordem o Pa-trimônio
cultural numa perspectiva de
identidade cultural e sua relação com a
atratividade turística se justifica, na medi-da
em que os significados atribuídos aos
bens materiais e imateriais, pelos atores
sociais das comunidades locais, nos permi-tam
conhecer o conteúdo dos produtos
turísticos em três dimensões a saber: a
científica, que busca defini-lo como um pa-trimônio
que ultrapassa aquela visão cris-talizada
do passado ou do estético; o sócio-cultural,
na medida em que os produtos
possam servir como um atrativo turístico
que revele a identidade das comunidades e
estreite os laços entre os povos. E, final-mente,
o econômico, cuja identidade dos
produtos possa maximizar ganhos para as
comunidades locais, contribuindo, assim,
para um desenvolvimento regional na
abrangência do Turismo Cultural.
Entendemos aqui que, em longo prazo,
será possível efetivar uma atividade turís-tica
sustentável, associado à necessidade de
desenvolvimento sustentável para as co-munidades
locais, através do Turismo Cul-tural,
a partir da economia globalizada,
amparada no terceiro setor, através de:
publicidade, comunicação, pesquisa, empre-sas
de comércio, finanças, saúde, educação,
lazer entre outros.
Para tal intento ser alcançado, alguns
objetivos de ordem política são sugeridos:
levantar junto aos órgãos competentes, os
municípios envolvidos no Programa de Cer-tificação
em Turismo Sustentável (PCTS),
Empreendedorismo Rural e Programa Se-torial
de Artesanato; identificar os produtos
turísticos preservados e valorizados pela
comunidade local, tendo como base o grau
de preservação e valorização que os atores
sociais lhes atribuem; classificar e formatar
os produtos turísticos nas dimensões de
patrimônio (forma arquitetura, monumen-to,
trabalhos de arte, atividades, alimentos,
língua, modo de vida, paisagem), respei-tando
as características identitárias dos
sujeitos e das localidades; classificar as
informações recolhidas a partir das per-cepções
dos sujeitos e (re) construir (am-pliar)
o conceito de patrimônio nas suas
diversas dimensões; integrar essas comuni-dades
ao PCTS; estabelecer parceria com
instituições públicas e privadas, para des-envolver
ações de sensibilização, de comu-nicação
e de divulgação dos produtos turís-ticos.
Por outro lado, outros passos podem
identificar, preservar e valorizar os diver-sos
tipos de patrimônio enquanto legado
cultural, tais como: 1) refletir sobre as pos-sibilidades
de transformar o patrimônio
num produto turístico de qualidade e
autêntico, que sirva não só aos visitantes,
mas que se promova benefícios para a co-munidade
local e 2) envolvimento da popu-lação
- seguimento do poder público e em-presários
– para avaliar os impactos da
atividade turística sobre o ambiente em que
vive. É com a ajuda da comunidade que os
planejadores podem obter informações
históricas e depoimentos de vida de mora-dores
mais antigos e sensibilizar a comuni-dade
a respeito do valor cultural, histórico e
ambiental do seu local. Assim, é possível
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PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(2). 2009 ISSN 1695-7121
valorizar e preservar o ambiente e a cultu-ra,
pois a comunidade passa a conhecer o
caminho que sua sociedade trilhou para
chegar ao ponto em que se encontra no
momento, permitindo também que as ge-rações
futuras conheçam a sua história.
Em resumo, o que interessa ao fenômeno
do turismo são os aspectos mais peculiares
de cada lugar, é o caráter mais autêntico de
sua gente e seu cotidiano mais original,
representado por toda sua gama simbólica,
ainda que possa parecer estranho à estética
da globalização. No entanto é preciso limi-tar
a ação do turismo para que os lugares e
suas culturas mantenham-se íntegros e
assim somos remetidos ao conceito de tu-rismo
sustentável.
Nesta perspectiva, ambientes de geração
de empregos podem ser criados, reduzindo
as desigualdades regionais e promovendo a
inclusão social, com a utilização sustentável
do patrimônio material e imaterial dos mu-nicípios
identificados e mapeados, oportu-nizando,
assim, empreendimentos gerado-res
de emprego e renda.
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Recibido: 17 de julio de 2008
Reenviado: 28 de febrero de 2009
Aceptado: 13 de marzo de 2009
Sometido a evaluación por pares anónimos