© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Vol. 10 Nº 1 págs. 159-165. 2012
www.pasosonline.org
O turismo rural como objeto de estudo na pós-graduação em
turismo: o estado da arte
Mabel Simone de A. B. Guardia i
Antônia Micarla Alves ii
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Brasil)
Dermeval Araújo Furtado iii
Universidade Federal de Campina Grande (Brasil)
i Docente UFRN e orientadora de iniciação científica, doutoranda UFCG- Engenharia Agrícola/ mabelsimone@
yahoo.com.br.
ii Discente do curso de Turismo da UFRN e bolsista de iniciação científica / Turismo Rural.
iii Docente UFCG- Engenharia Agrícola e orientador de doutorado.
Resumo: A atividade turística no campo é uma alternativa econômica para o homem do meio rural,
o tema tem sido discutido e estudado por sua possibilidade de incremento na renda das propriedades,
independente de seu tamanho e foco de produção. Existem vários segmentos turísticos na área rural,
possuindo tipologias e nomenclaturas diversas. Esse trabalho busca discutir as diferentes concei-tuações
entre Turismo Rural, Turismo Sertanejo e Agroturismo verificando ainda a relação com o
Agronegócio, sendo objetivo principal levantar e analisar o estado da arte nas pós-graduações em
Turismo existentes no Brasil. Através da pesquisa onde foram analisadas dissertações defendidas
entre os anos 2004 e 2009 identificou-se que o Turismo Rural tem sido objeto de interesse e estudo
nos mestrados.
Palabras-chave: Agroturismo; Turismo Rural; Segmentação; Pós-graduação; Dissertações
Title: Rural tourism as an object of study in post graduate school for tourism: the state of the art Rural
tourism as an object of study in post graduate school for tourism: the state of the art
Abstract: Rural Tourism is an economic option for landowners in rural areas, this subject has been
discussed and studied because of its potential growth opportunities, independent of the size or focus
of production. There are many industries associated with rural tourism with diverse names and clas-sifications.
This essay tries to explore the concepts of Rural Tourism and Agritourism and its relation-ship
with agritainment, with a main objective of analyzing the latest trends and research of the post
graduate colleges of Tourism in Brazil. This research analyzes theses and dissertations presented from
2004 to 2009. Rural Tourism was identified as the main subject of study in the theses.
Keywords: Agritourism; Rural Tourism.Segmentation; Post graduate;Thesis.
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Introdução
Como uma forma de atender as mais diversas deman-das
a atividade turística tem sofrido segmentações. A
busca pelo repouso merecido e a necessidade de contato
com o espaço natural tem, ainda, contribuído para o surgi-mento
de uma diversidade de oferta no meio rural.
A saturação do turismo de massa fez com que cresces-sem
as exigências por produtos e serviços diferenciados,
dessa forma verifica-se que as áreas rurais têm desperta-do
o interesse dos turistas, os quais são atraídos pela ati-vidade
produtiva, pela natureza e pelo modo de vida que
diferem da paisagem e do ritmo urbano. Assim percebe-se
que o espaço rural abriga diversos segmentos, sendo esses
usados como alternativa para valorizar o patrimônio, as
paisagens e a cultura do ambiente.
A motivação das viagens mais difundidas é o desejo de
fuga das realidades cotidianas, ou seja, a quebra das roti-nas,
particularmente as vivenciadas nos espaços urbanos.
Sob a forma de um programa de contrastes em relação ao
mundo industrial, o tempo livre também se tornou uma
indústria. Mas, neste caso, mobilizou a economia do setor
primário e secundário presentes na sociedade industrial
para o terciário, na forma de prestação de serviços. As
especificidades que envolvem a produção e a distribuição
de serviços e produtos de natureza turística remetem os
estudiosos na busca de elementos analíticos da cadeia
produtiva, na medida em que incorpora segmentos dos se-tores
primários, secundários e terciários da economia, de
forma simultânea, afirma Krippendorf (1989)
Este trabalho tem como objetivo estudar a literatura
e as diferentes nomenclaturas e formas de turismo no es-paço
rural, sendo ainda uma proposta para esclarecer e
orientar estudos que se relacionem com a área. A pesquisa
também apresenta um levantamento geral dos estudos no
nível de pós-graduação quanto ao interesse sobre a temá-tica.
Assim, a revisão do estado da arte se justifica, uma
vez que a discussão está ainda fragmentada e o Brasil
tem forte potencial para sua ampliação. Trata-se de uma
investigação onde foram analisadas dissertações defen-didas
entre os anos 2004 e 2009 buscando identificar o
interesse dos pós-graduandos por turismo rural. A fim de
se alcançar o objetivo, analisamos trabalhos (dissertações
e teses) nos programas de pós-graduação em Turismo, no
Brasil.
Dentro de alguns segmentos é possível identificar no-vas
formas da prática do turismo, desenvolvidos nas áreas
rurais possuindo características muito parecidas, porém
com especificidades que as diferenciam. Diante dessa com-plexidade,
o trabalho traz um discurso sobre o Turismo
Rural, Agroturismo, Turismo Sertanejo e suas relações
com o Agronegócio. A relevância principal da pesquisa
se dá por ser fundamental conhecer quais as discussões
principais quanto à temática, uma vez que a exploração
do turismo no campo pode ser uma forma de diversificar
e reativar a economia da sociedade rural, constituindo-se
em fonte de ingressos e criação de empregos alternativos
na agricultura.
A segmentação e o turismo rural
As empresas cada vez mais estão buscando inovar e
personalizar seus produtos, essa inovação acontece atra-vés
da segmentação que é realizada com base em pesqui-sas
para obter informações sobre as motivações, necessi-dades
e desejos dos consumidores.
Moraes (2002) entende que são várias as necessida-des
e desejos humanos, variando de pessoa para pessoa,
podendo ser, evasão, descanso, busca de status, saúde,
contemplar a natureza, aventura, algo novo, ou seja, coi-sas
que não são realizadas no cotidiano entre outras moti-vações.
Isso resulta em uma demanda diversificada, o que
caracteriza o produto turístico como específico e a necessi-dade
de fragmentar e disponibilizar opções para públicos
com expectativas e desejos diferentes.
As diversas atividades turísticas são desenvolvidas a
partir das necessidades dos visitantes, essas necessida-des
podem ser de caráter fisiológico ou psicológico. Des-ta
forma os segmentos de mercado são estimulados para
aumentar a possibilidade de compra, porém atendendo
aos objetivos dos consumidores, como menciona Netto e
Ansarah (2009).
Os segmentos de mercado turístico surgem devido ao
fato de as empresas e os governos desejarem atingir,
de forma mais eficaz e confiável, o turista ou o con-sumidor
em potencial. É praticamente impossível um
destino turístico abarcar todo o público que em algum
momento estaria interessado em consumir seus bens e
produtos, assim a segmentação torna-se o meio mais
preciso de se atingir o público desejado. (NETTO; AN-SARAH,
2009, p.19).
A segmentação procura atender aos desejos específicos
dos grupos que possuem características comuns de inte-resse,
o que permite atingir mais facilmente a satisfação
dos clientes com interesses similares.
Diante das exigências dos consumidores, por algo
mais personalizado e diversificado, surgem novos produ-tos
turísticos, os chamados segmentos, como por exemplo,
turismo GLS, turismo single, turismo cultural, turismo
religioso, ecoturismo, turismo rural entre tantos outros.
Esses segmentos são utilizados como estratégias de mar-keting,
devido à forte concorrência, e também como uma
forma de desenvolver destinos turísticos.
Verifica-se que as áreas rurais têm despertado o inte-resse
dos turistas, os quais são atraídos pelo contato com
a atividade produtiva, pela natureza e modo de vida que
diferem da paisagem e do ritmo urbano. Isso possibilitou o
surgimento de diversos segmentos, transformando assim
o meio rural, o qual deixou de ser considerado essencial-mente
agrícola. Portanto a combinação de atividades agrí-colas
e não-agrícolas representa uma alternativa capaz de
assegurar a permanência de famílias no campo.
Alguns segmentos possuem características muito
parecidas, como é o caso do Turismo Rural, Agroturismo e
Turismo Sertanejo, porém cada um possui especificidades
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que os diferenciam.
O turismo no espaço rural possui um caráter de in-tegração,
que valoriza o meio ambiente, as tradições
da região, as atividades agropecuárias e abranda o
êxodo rural, no entanto existem diferentes formas de
exploração da atividade que acabam por confundir o
visitante e o agricultor que por vezes não sabe qual
delas é mais rentável, menos dispendiosa e que sua
propriedade se encaixa (GUARDIA, 2007, p.18).
Vale salientar que independente da terminologia usa-da
o turismo desenvolvido no espaço rural é uma alterna-tiva
para valorizar o patrimônio, as paisagens e a cultura
desse ambiente.
A atividade turística no espaço rural pode minimizar
as desigualdades uma vez que existe uma valorização a
cultura local, que por sua vez agrega valor aos produtos
artesanais, desta forma tal contribuição com a continui-dade
das atividades agropecuárias permitirá a fixação
das famílias no campo, melhorando assim a qualidade de
vida, contribuindo para o desenvolvimento econômico da
localidade e contenção do êxodo rural.
O Turismo Rural assim como o Agroturismo são seg-mentos
desenvolvidos de forma associada à agropecuária,
tendo características bastante parecidas, porém, a dife-rença
entre ambos está no fato do primeiro ter o turismo
como principal atividade produtiva, quando no segundo é
a produção agropecuária e assim o turismo é apenas uma
atividade complementar.
Quanto ao Turismo Sertanejo, entende-se que é um
segmento que surgiu como proposta para valorizar o Ser-tão
Nordestino do Brasil, região que possui essencialmen-te
duas estações anuais: inverno e verão, essa segunda
quando as chuvas não ocorrem, sua principal característi-ca
é o clima semiárido e o bioma caatinga, formado basi-camente
por arbustos e plantas cactáceas.
A origem do Turismo Sertanejo teve duas vertentes, a
primeira está na necessidade de oferecer oportunidades à
população, utilizando o turismo como alternativa econô-mica,
já a segunda relaciona-se a busca dos turistas por
lugares diferentes e exóticos. O Sertão atende ao requisi-to
exótico, pois o segmento aplica-se as atividades que se
referem a contemplação do semiárido nordestino. Silva
(2009) define o Turismo Sertanejo como uma atividade
que envolve a convivência dos turistas com as pessoas
da região Semiárida, onde ocorre a permuta de serviços
e produtos.
O Agronegócio e sua relação com o Turismo se eviden-cia
nos eventos que o primeiro promove, porém não envol-vendo
apenas os profissionais do turismo, mas também
a comunidade local e o turista em visita a cidade. Sendo
assim, pode-se dizer que as feiras de agronegócio, estão
inseridas no contexto de turismo de negócios e eventos,
pois, movimentam o trade turístico que vai desde os meios
de hospedagem, alimentação até os entretenimentos.
Rodrigues (1999) sugeriu uma sistematização e clas-sificação
para definir turismo rural, sempre consideran-do
alguns pontos essenciais como: processo histórico da
ocupação territorial; estrutura fundiária; características
paisagísticas; estrutura agrária, com destaque para as re-lações
de trabalho desenvolvidas; atividades econômicas
atuais; características da demanda e tipos de empreen-dimentos.
Já para Graziano da Silva et al (1998), Agroturismo
compreende as atividades internas à propriedade, que ge-ram
ocupações complementares às atividades agrícolas,
as quais continuam a fazer parte do cotidiano da proprie-dade
em menor ou maior intensidade. Devem ser enten-didas
como parte de um processo de agregação de serviços
e bens não-materiais existentes nas propriedades rurais
(paisagem, ar puro, etc) a partir do “tempo livre” das famí-lias
agrícolas, com eventuais contratações de mão-de-obra
externa.
O meio rural possui riquezas em patrimônio e cultura,
assim como recursos naturais suscetíveis de atrair pes-soas
que buscam lazer, descanso e recuperação física e
mental.
Como atividade econômica, a categoria de Turismo Ru-ral
ou Agroturismo pode ser uma via natural para o pro-gresso
de zonas rurais marginalizadas, pois permite uma
diversificação das atividades agrícolas, desenvolvimento
de novos serviços e a valorização de suas produções. Além
de rendimentos complementares, o turismo produz mel-horias
na infraestrutura e nos serviços de apoio, benefi-ciando,
sobretudo, a população local (LINDBERG, 1995).
Metodologia
Em sua fase inicial foi feita a pesquisa bibliográfica que
tem como principal vantagem possibilitar a cobertura de
uma gama de acontecimentos. Esta técnica permitiu iden-tificar
fontes primárias e secundárias e materiais cientí-ficos
essenciais para a elaboração do trabalho científico,
como orienta Oliveira (2002).
Em seguida realizamos uma busca no site da Coorde-nação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) para então selecionar os cursos de pós-graduação
em Turismo que são reconhecidos pela instituição. A partir
daí no período entre 02 de abril a 20 de junho de 2010 vi-sitamos
os sites das referidas Instituições de Ensino Supe-rior
(IES) pesquisando os trabalhos defendidos entre 2004
e 2009, observando em seu título, todos, os que de algu-ma
forma tratavam do turismo no campo ou espaço rural.
Os trabalhos uma vez identificados foram selecionados e
agrupados com base em elementos comuns entre os estu-dos,
como por exemplo, tipo de estudo (dissertação ou tese),
temática principal, período da defesa, autor e a instituição
de ensino responsável pela pós-graduação.
Algumas das palavras-chave ou expressões utilizadas
para a localização dos trabalhos foram: “turismo rural”,
“turismo no campo” e “turismo no espaço rural”, buscando
identificar produções relevantes para a pesquisa.
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realizou-se uma pesquisa no banco de teses das universi-dades
que dispõe de cursos de pós-graduação em turismo,
reconhecidos pela CAPES.
Foram identificadas seis instituições que cumprem
com o primeiro requisito, do reconhecimento da CAPES,
sendo estas: Universidade Anhembi Morumbi (UAM-SP),
Centro Universitário (UNA-MG), Universidade de Caxias
do Sul (UCS-RS), Universidade Vale do Itajaí (UNIVALI-SC),
Universidade de Brasília (UNB-DF) e Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN-RN). A Tabela
1, Relação das Universidades Pesquisadas, apresenta uma
lista das universidades consultadas, com seus respectivos
conceitos e o número de estudos por instituição, sendo iden-tificado
um total de 10 trabalhos sobre o turismo no espaço
rural no período compreendido entre o ano de 2004 e 2009.
É importante mencionar que nas duas primeiras ins-tituições
não constam as suas publicações por não ter sido
possível acessar o banco de teses online, já a UNB não
possui publicações sobre o assunto e a UFRN encontra-se
com sua página em manutenção, porém no período
da pesquisa o mestrado da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte encontrava-se nas primeiras defesas
da sua pós-graduação. De certa forma apenas a Univer-sidade
de Caxias do Sul e a Universidade Vale do Itajaí
contribuíram com esta pesquisa. Isso evidencia o fato do
tema, além de encontrar-se pouco disseminado nos cursos
de pós-graduação em Turismo, quando existentes, os mes-mos
estão concentrados na Região Sul do País.
Depois de identificadas as dissertações foram agrupa-das
no Quadro 1, apresentando os trabalhos em ordem
crescente do ano da publicação, o título da dissertação e a
universidade em que foi defendida e publicada.
Discussão dos resultados
Nota-se que quatro autores publicaram sobre o Agro-turismo
em Santa Rosa de Lima, podendo-se destacar,
Freitag, Lima, Oliveira e Slapnicka, porém, cada um de-les
abordou temas diferentes. O trabalho do autor Freitag
consiste em conhecer e analisar a dinâmica do processo
de comunicação da Associação de Agroturismo Acolhida
na Colônia – AAAC, no município de Santa Rosa de Lima/
SC. Deixando claro que a rede de agroturismo constituí-da
na AAAC estabelece suas estratégias para conseguir a
fluidez da comunicação, onde a interação entre seus inte-grantes
faz com que a distância entre o urbano e o rural
diminua.
Lima apresenta em seu trabalho um pouco da trajetó-ria
do agroturismo que foi organizado na região de Santa
Rosa de Lima e municípios vizinhos e os discursos midiá-ticos,
observando se a imagem propagada pelos meios de
comunicação se apresenta uniforme ou com variações so-bre
a mesma, e dessa forma criando várias múltiplas ima-gens
da localidade, bem como de seus moradores. Para o
autor ficou evidenciado que a mídia interfere na atividade
do agroturismo na região de forma positiva, sendo o seu
efeito mais perceptível, no que se refere a divulgação da
atividade e das propostas relacionadas a agricultura or-gânica
e a busca por uma maior interação do homem com
a natureza.
Oliveira identifica em sua pesquisa as produções cien-tíficas
realizadas por instituições e/ou profissionais da
Região Sul que tem como tema central o modelo Agroeco-lógico
e Agroturístico de Santa Rosa de Lima-SC. Para a
autora, ficou evidenciado que o Agroturismo foi também
responsável pela valorização das características locais,
assim como a construção de novos hábitos e/ou adaptação
de hábitos antigos voltados para a saúde ambiental e ali-mentar,
aumentando assim a qualidade de vida da popu-lação
local.
Já Slapnicka (2008) aborda as questões do Agroturis-mo
e das famílias agricultoras integradas à Associação
de Agricultores Ecológicos da Encosta da Serra Geral
(AGRECO) e também a Associação de Agroturismo Acol-hida
na Colônia (AAAC). A pesquisa busca verificar como
é injusta a divisão do trabalho entre homens e mulheres,
identificando a sobrecarga dessas últimas, que por sua
vez atuam nas pousadas e também na agricultura. Porém,
foi verificado que o comportamento masculino vem se mo-dificando,
de modo que estes se empenham em auxiliar e
diminuir a carga de responsabilidade que sobrecarregam
suas mulheres.
Os outros autores abordam lugares e assuntos diferen-tes,
no entanto, relacionados com a temática de turismo
no espaço rural. Sendo eles: Jasper, Michelin, Oliveira,
Orci, Santos e Schulz. Em seu estudo Jasper aborda a im-portância
de definir políticas públicas para o planejamen-to
de rotas turísticas que contemple as questões de sanea-mento
ambiental do espaço rural. Em sua pesquisa para
identificar as situações de planejamento ambiental, a área
selecionada foi a Rota Germânica, a qual engloba 14 em-preendimentos
turísticos localizados no espaço rural. Os
resultados dessa pesquisa possibilitaram identificar que
apesar dessas propriedades rurais terem investido em sa-neamento,
os números não são expressivos. Segundo ela,
para que haja um planejamento e uma gestão do turismo
sustentável adequado, tendo em vista a complexidade da
Tabela 1. Relação das Universidades Pesquisadas. Fonte: Pesquisa
eletrônica, 2010.
Estudos sobre turismo no espaço rural
A necessidade de identificar os estudos existentes
sobre a temática oportuniza conhecer as discussões
atuais assim como a possibilidade de ampliar as pesqui-sas
e inserir novas questões. Desta forma com o intuito
de melhorar a qualidade das informações tanto qualita-tivas
como quantitativa acerca da temática em estudo
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encontrar no turismo fonte de renda para seus pro-prietários
e para a comunidade local.
O estudo de Orcir busca verificar se é possível al-cançar
a sustentabilidade ambiental através do turis-mo
rural na região dos Campos de Cima da Serra do
Rio Grande do Sul. Segundo a autora, por conciliar a
relação entre meio ambiente e desenvolvimento, o tu-rismo
rural se revela uma alternativa para obtenção
do desenvolvimento sustentável, uma vez que, a re-gião
estudada possui uma rica diversidade ambiental.
Santos, analisa as políticas públicas, que norteiam
o desenvolvimento do turismo rural no Brasil, sob a
contextualização do “Novo Rural”, que traz como ca-racterística
o desenvolvimento da atividade como
alternativa econômica. O estudo foi embasado por
documentos oficiais e entrevistas a 26 Secretarias
Estaduais de Turismo. Segundo a autora a segmen-tação
de turismo rural não ocorre de forma homogê-nea
no Brasil, tendo cada Estado suas peculiaridades
e características, o que torna distintas as ações. Para
ela, a compreensão das desigualdades territoriais de
cada Estado é fundamental para que ocorra uma seg-mentação
que atenda as necessidades especificas e se
desenvolva de forma sustentável, contribuindo assim,
com o desenvolvimento do Turismo Rural. Ressalta
ainda, que é evidente a necessidade de ações integra-das,
envolvendo a iniciativa privada, instituições edu-atividade
e do meio onde ocorre, é indispensável todos os
saberes, envolvendo uma equipe multidisciplinar.
Michelin (2008) aborda como o turismo influencia no
processo de reconstrução da etnicidade, verificando como
as influências internas e externas causam flexibilização
na cultura de um grupo. Para a autora, a etnicidade dos
moradores do roteiro encontra-se em constante proces-so
de reconstrução devido às influências que sofre seja
através dos meios de comunicação, do contato com o ou-tro
através do turismo, ou do processo de modernização e
transformação, enfim, nenhuma cultura é estática. Res-salta
ainda, que o turismo foi uma das alternativas para a
reconstrução da etnicidade da população local, já que essa
não reconhecia a importância do seu patrimônio cultural
e tinha vergonha deste. O interesse dos turistas pela cul-tura
local possibilitou que os moradores a valorizassem.
Já o trabalho de Oliveira (2008), analisa os Faxinais
de Taboãozinho e Barra Bonita, localizados no Município
de Prudentópolis, no Estado do Paraná, e procura identifi-car
suas principais características buscando alternativas
para sua manutenção e o seu desenvolvimento através do
Turismo Rural. Para a autora o cenário dos Faxinais po-deria
ser utilizado como alternativa econômica através da
implantação do Turismo Rural, conciliando a preservação
da natureza e os valores culturais com o planejamento,
gestão e organização efetiva para dinamizar o desenvolvi-mento
local, diversificando a economia através da geração
de emprego e renda a comunidade local e promovendo as-sim
o desenvolvimento sustentável do campo. Dessa for-ma,
propriedades estagnadas e marginalizadas poderiam
Quadro 1 - Relação das dissertações analisadas. Fonte: Pesquisa ele-trônica,
2010.
cacionais, Poder Público, associações e comunidades.
Por fim, Schulz (2006) em seu trabalho verifica as ca-racterísticas
do Turismo no Espaço Rural na Região de
Influência de Maringá/PR, com base na oferta e na de-manda.
Apresentando um relato de três estudos de casos
escolhidos por sua importante representatividade na re-gião
pesquisada, com o intuito de identificar os diferen-tes
tipos de turismo que efetivamente se desenvolve no
Espaço Rural, bem como o perfil, a expectativa da deman-da
e o nível de satisfação dos visitantes nos empreendi-mentos
rurais. Naquele momento, a atividade turística
na região estudada encontrava-se num estágio inicial de
desenvolvimento.
Os trabalhos encontrados apresentam em sua maioria
estudos sobre a região Sul do Brasil com recortes bastante
específicos, em formato de cases, apenas uma dissertação
traz uma preocupação geral e ampla quanto à políticas
públicas para o desenvolvimento do turismo rural. É a
pesquisa de Santos, 2008, com o tema: O Turismo Rural
Sob a Perspectiva do “Novo Rural”: uma análise das polí-ticas
públicas para o setor nos estados brasileiros.
Considerações finais
Com o estudo ora apresentado foi possível identificar
que existe diferenças significativas entre as formas de tu-rismo
e sua exploração no campo para lazer e entreteni-mento,
observa-se ainda que existem muitas questões a
serem estudadas e discutidas quanto as nomenclaturas.
Espera-se ter contribuído com alguns conceitos e esclare-cimentos
quanto a essas nomenclaturas.
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Não se pretende aqui esgotar a discussão sobre tão im-portantes
terminologias, ao contrário estimular e buscar
elementos que se fazem essenciais na implantação e in-centivo
da prática do turismo no campo.
Apesar de ter constatado que o Turismo conta com o
interesse e pesquisas sobre seu exercício no campo, nos
deparamos com uma dificuldade que foi o acesso as dis-sertações
defendidas em algumas das IES que possuem
seus cursos reconhecidos, desta forma não obtivemos um
resultado mais relevante.
Pode-se afirmar que as IES que não estão disponibili-zando
esses estudos para ampliação da pesquisa e conhe-cimento
público detém o conhecimento obtido a partir das
produções de sua organização impedindo a disseminação
das discussões. De um total de 6 (seis) instituições de en-sino
superior que oferecem cursos de pós graduação stric-to
sensu em turismo apenas 2 (duas) no período da pesqui-sa
tinham trabalhos desenvolvidos sobre o tema, quanto
a disponibilização dos trabalhos defendidos a UFRN e a
Universidade Anhembi encontram-se com as suas pági-nas
(homepage) em manutenção, já a Una não dispõe de
banco de teses. Com tal cenário apenas 3 (três) IES foram
pesquisadas em sua totalidade.
A atividade turística possui importante influência só-cio-
econômica, pois movimenta a economia local, para a
alternativa de turismo no campo possibilita a manutenção
do homem no campo, porém muitos estudos ainda serão
necessários para medir o impacto social, a capacidade de
carga, as políticas públicas mais adequadas e as condições
ideais das construções rurais para recepção do visitante.
A produção técnica científica em turismo vem crescen-do
e algumas discussões e temáticas devem ter seu debate
contínuo, uma vez que cursos de pós-graduação em nível
Stricto Sensu possuem suas defesas anualmente, além
dos eventos e congressos que buscam intensificar a am-pliação
dos estudos.
É expectativa das instituições de ensino, organizações
e agências de fomento que a pesquisa se amplie e que os
trabalhos e debates de maneira geral não apenas cresçam
quantitativamente, mas acima de tudo qualitativamente.
No caso da temática de turismo rural observa-se que
o espaço está aberto para as diversas discussões, já que
foi possível identificar poucos estudos em um espaço de
tempo razoavelmente longo. Justifica-se aqui o incenti-vo
a essa produção tão importante que por sua vez pode
instigar o contato com o campo, assim como valorizar o
homem rural.
Faz-se necessário ampliar os estudos e facilitar as
pesquisas no meio rural visando à ampliação de investi-gações,
inclusive, porque o turismo rural pode ser funda-mental
para a municipalização da atividade turística no
Brasil.
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Recibido: 01/02/2011
Reenviado: 04/08/2011
Aceptado: 09/09/2011
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