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© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Entre trapiches, trilhas e vilas: organização comunitária e
práticas sustentáveis no Distrito de Mosqueiro, PA, Brasil.
Daniel dos Santos Fernandesi
Jorge Alex A. Souzaii
Faculdades Integradas Ipiranga (Pará/Brasil)
Resumo: O projeto “Entre trapiches, trilhas e vilas: organização comunitária e práticas sustentáveis
no Distrito de Mosqueiro, PA” objetiva alcançar interação dos saberes acadêmico e tradicional, a fim
de estudar e analisar a organização social no Distrito de Mosqueiro, nas comunidades de Caruaru
e Castanhal do Mari-mari, com a finalidade de contribuir para o aprimoramento das práticas de
subsistência, de forma a permitir a compreensão de suas próprias ações e dos processos políticos e
culturais que estão envolvidas. Diante deste contexto, discutiremos ações visando à interação entre
o saber sistematizado e o saber tradicional interagindo e planejando, conjuntamente com as famílias
locais e parceiros, ações voltadas à sustentabilidade dos recursos naturais e na oferta e ampliação de
alternativas econômicas que propiciem o emprego, a renda, a inclusão social e práticas ambientais
não destrutivas. Uma destas possibilidades é o turismo de base comunitária.
Palavras-chave: Saberes; Cultura; Sustentabilidade; Base Comunitária; Alternativas
Econômicas;Turismo
Title: Amidst docks, tracks and villages: community organization and sustainable practices at
Mosqueiro District , PA
Abstract: The Project “Amidst docks, tracks and villages: Community organization and Sustainable
practices at Mosqueiro District , PA” aims to achieve interaction of academic and traditional
knowledge, in order to study and analyze social organization at Mosqueiro District -specifically
the communities of Caruaru and Castanhal of Mari-mari-, to contribute to the improvement of
livelihood practices so as to enable them understanding their own actions as well as the political
and cultural processes involved. In this context, we will discuss actions attempting a dialog between
systematized and traditional knowledge, interacting and planning, altogether with local families
and partners, actions favoring sustainability of natural resources and supply as well as the widening
of economic alternatives that provide employment, income, social inclusion and non-destructive
environmental practices. One of these possibilities is community-based tourism.
Keywords: Knowledge; Culture; Sustainability; Community basis; Economic alternatives; Tourism
i Professor das Faculdades Integradas Ipiranga; Doutor em Antropologia. Email: dasafer@ibest.com.br
i i Professor das Faculdades Integradas Ipiranga; Coordenador do Curso de Turismo; Mestre em Geografia
Email: jsouza.alex@yahoo.com.br
Notas de investigación
Vol. 9(3) Special Issue págs. 83-94. 2011
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(3). Special Issue. 2011 ISSN 1695-7121
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Apresentação
O projeto de pesquisa está sendo de-senvolvido
numa área descrita pelos ge-ógrafos
e estudiosos da Amazônia, como
um espaço que se mostra portentoso e in-teressante
sob o ponto de vista hidrográfi-co.
A água figura aí como peça fisiográfica
e como elemento cênico, como moldura e
como agente modelador. Pode-se dizer que
é um privilégio uma cidade possuir em seu
território tantas ilhas, baias, rios, igara-pés
e praias. E é certamente o arquipéla-go
de Mosqueiro, que expressa o caráter
de uma cidade constantemente penetrada
e fecundada pelas águas amazônicas. E é
neste distrito que o projeto desenvolveu
suas primeiras ações exploratórias em
duas comunidades ribeirinhas, Caruaru
(Figura 01) e Castanhal do Mari-mari.
Localizado no golfo Guajarino, inte-grante
de um maior, denominado golfão
marajoara, o arquipélago de Mosqueiro
(Figura 02) é composto por trinta e cinco
ilhas. Seu território possui uma área que
corresponde à região continental de Belém
do Pará, cerca de 220km², o equivalente a
27 mil campos de futebol. Sua população
residente gira em torno de 45.000 habi-tantes.
Por se tratar de um importante
balneário, em período de férias escolares
sua população chega a alcançar 400.000
pessoas.
A história de Mosqueiro se confunde
com a da colonização da Amazônia, par-ticularmente
do Estado do Pará e de sua
capital. É este arquipélago singular, na
fantástica foz do rio Amazonas que vem
encantando os viajantes durante séculos.
Sendo assim, no século XVII os primeiros
navegadores Europeus que aqui chega-ram,
apontaram para dois aspectos inte-ressantes
do ponto de vista histórico da
ilha. O primeiro é a denominação da ilha
de Santo Antônio e o segundo é o fato da
região ser conhecida como a província dos
povos indígenas Tupinambá. Habitantes
do estuário amazônico, os Tupinambá es-tavam
na região há cerca de 12.000 anos
e constituíam uma civilização e uma cul-tura
intimamente ligadas à natureza.
Assim, observamos ainda hoje uma re-lação
íntima do morador da ilha com o seu
entorno natural evidenciado por muitas
comunidades ribeirinhas tais como as do
Castanhal do Mari-mari e a de Caruaru,
comunidades estas que são referencias
deste estudo, onde alternativas sustentá-veis,
desenvolvidas com os princípios das
atividades de base comunitária, podem
ajudar no desenvolvimento sustentável
das mesmas, uma vez que a economia ex-trativista
de produtos locais é praticada
em seu cotidiano e onde o social se traduz
na cultura tradicional de um povo de raiz
tupinambá.
Diante deste contexto, o curso de Ba-charelado
em Turismo das Faculdades
Integradas Ipiranga apresenta ações vi-sando
à interação entre o saber sistemati-zado
e o saber tradicional na tentativa de
superar barreiras físicas, teóricas e práti-cas
no processo de ensino-aprendizagem.
Isto possibilita também a elaboração e
proposição técnicas para aperfeiçoamento
e criação de alternativas econômicas sus-tentáveis
para as comunidades localiza-das
no distrito de Mosqueiro, em Belém.
As ações executadas e a serem desen-volvidas
têm como proposta interagir e
planejar, conjuntamente com as famílias
locais, parceiros e demais cursos univer-sitários,
ações voltadas à sustentabilidade
dos recursos naturais e à oferta e amplia-ção
de alternativas econômicas que propi-ciem
o emprego, a renda, a inclusão social
e boas práticas ambientais.
Figura 01. Trapiche da Comunidade de Caruaru
(Foto: Márcia Lopes, 2011)
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Figura 02. Ilha de Mosqueiro. (Fonte: Prefeitura Municipal de Belém; Mapa da Região Metropolitana de
Belém [RMB], 2001)
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Novos cenários, novos contextos
amazônicos: as práticas sustentáveis
e o turismo
As políticas públicas para Amazônia1,
nos últimos anos, têm priorizado agentes
exógenos, deixando de envolver pequenos
agricultores e povos da floresta que há
anos estão à margem da ação governa-mental,
seja nos investimentos, no siste-ma
de crédito ou nos meios de circulação
de mercadorias (Becker, 1997, 2004).
Nos séculos XIX e início do XX com a
substituição do extrativismo das drogas
do sertão, a extração e produção da bor-racha
atraiu um enorme contingente de
trabalhadores à região, vindos dos Esta-dos
do Maranhão, Piauí, Rio Grande do
Norte, Ceará, Pernambuco e Bahia, os
quais permaneciam num sistema que os
condicionava a um ciclo de dívidas, garan-tindo
a manutenção das elites econômicas
e o lucro gerado pela força de trabalho dos
imigrantes nordestinos e caboclos ama-zônicos.
Com a abertura dos eixos rodo-viários,
a Amazônia passou a receber di-versas
territorialidades que introduziram
técnicas relacionadas à pecuária, às ser-rarias,
às plantações cultivadas na mata
de terra firme, à mineração e, por último,
à tecnologia industrial que estimularam
a desestruturação da lógica de reprodução
social da região vista na ligação realizada
entre os ecossistemas de várzea, igapós e
terra firme pelos caboclos.
Os ingleses, no século XX, investiram
em várias cidades amazônicas devido ao
desenvolvimento do capitalismo indus-trial,
onde a matéria-prima extraída da
borracha tinha valor imprescindível no
mercado automobilístico. Os investimen-tos
destinavam-se para o setor de energia,
portos, transportes, telefonia, telegrafia,
rede de esgoto e construção civil, em Capi-tais
como Belém e Manaus. Nas décadas
de 1960 a 1980, a região amazônica so-fre
intervenções gigantescas, através das
políticas elaboradas pelo governo federal,
cuja intenção era a exploração dos recur-sos
naturais para atender interesses do
capital internacional.
O Estado iniciou uma política de de-senvolvimento
que tinha na industrializa-ção
e no capital internacional seus pilares
e cujo objetivo era o crescimento econômi-co
do País (Becker, 1997). As estratégias
do Estado, primeiramente, eram voltadas
à implantação dos projetos agro-pecuários
que causaram degradação ambiental na
região. Em seguida, na mesma área do
projeto anterior, o Governo Federal im-planta
os megaprojetos agrominerais na
região, onde se percebe a estratégia do
governo militar em controlar o território
amazônico, por meio da federalização de
rodovias destituindo e/ou enfraquecendo
o poder de Governos Estaduais sob seu
território político-administrativo. Estas,
entre outras ações, estavam inseridas nos
Programas de Integração Nacional.
Neste período, se intensificam mudan-ças
de organização espacial na Amazônia,
principalmente no modo de vida de popu-lações
que tinham nos ciclos da nature-za
e da influência dos rios sua dinâmica
cultural, econômica e social. Este modelo
de organização espacial deu lugar (ou coe-xiste)
a ritmos da industrialização, pauta-dos
na extração dos recursos naturais, na
utilização de novas tecnologias, em novas
formas de relações de trabalho, o que in-terfere
nos modos de produção e de vida
de populações que dependem diretamen-te
dos recursos naturais (Becker, 2004;
Gonçalves, 2001; Simonian, 2000; Maués,
1994).
Assim, em muitas pequenas e médias
cidades amazônicas, é notória a diminui-ção
da dinâmica econômica, a reprodu-ção
dos padrões de pobreza e problemas
sociais, sobretudo os conflitos fundiários,
com amplo grau de degradação ambiental.
São as marcas das políticas públicas que
modificaram a realidade socioambiental
da região. O artesão, o pescador, o agri-cultor,
o caboclo, estão de fora da lógica ou
da dinâmica do planejamento econômico
destinado à região (Gonçalves, 2001; Ben-chimol,
1995).
A sustentabilidade, como tema central
é de fundamental importância, no papel
socioeconômico e cultural da comunidade
local, representa um conjunto de ações
necessárias para o planejamento e ges-
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tão participativa. Logo se percebe que a
sustentabilidade local exige uma visão a
longo prazo da atividade econômica e das
necessidades locais. São muito freqüen-tes
os empreendimentos não sustentáveis
que ignoram não só o meio ambiente, mas
principalmente a cultura tradicional das
comunidades. Apropriam-se indevida-mente
dos espaços e provocam conflitos
sociais de convivência entre residentes e
visitantes.
Nesse panorama é necessário que as
comunidades envolvidas em projetos pos-sam
propor modalidades viáveis aos seus
padrões de desenvolvimento, em seus es-paços
que respeitem suas culturas tra-dicionais.
O que reforçaria, no caso da
Amazônia, a fala de Becker (2004) de
que a fronteira socioambiental induziria
o modelo de desenvolvimento endógeno,
voltado para uma visão interna da região
e para os habitantes locais, estimulando
uma nova e fundamental potencialidade
para a Amazônia.
É com intuito de promover mudanças
socioambientais, numa ação pautada no
futuro, que a sociedade civil organizada
tem revelado papel fundamental no que
se refere à organização e apoio das popu-lações
segregadas dentro de seu próprio
espaço. Nesse sentido, o projeto “Entre
trapiches, vilas e trilhas: organização
comunitária e práticas sustentáveis no
distrito de Mosqueiro, PA” inicia o diálo-go
entre os diversos saberes, entre as di-versas
realidades que compõem a região
estudada.
Faz-se necessário construir uma nova
prática e saberes diversos, tendo em vista
as experiências culturais daqueles sujei-tos
que mantêm laços afetivos e repre-sentações
sociais para com seu território,
seu ambiente, no qual as relações sociais
não são mediadas necessariamente pelo
comércio, pelo dinheiro, mas sim, através
dos valores cotidiano, cultural, simbólico
e de sobrevivência.
A proposta visa compreender o cotidia-no
da comunidade, a fim de identificar os
saberes ligados à prática social e ambien-tal,
incorporando o saber acadêmico como
mecanismo de ampliação de conhecimento
e de mudanças de atitude. Tem como pro-pósito,
ainda, conciliar os saberes diver-sos
e transformá-los em atitudes legítimas
e de cunho político no sentido de organiza-ção
e representação da comunidade, tendo
em vista o enfretamento de possíveis pro-blemas
diários.
É válido ressaltar que a ação interdis-ciplinar
baseia-se na interação dialógica
entre os diversos saberes (não privilegian-do
apenas o saber sistematizado), e tem
como premissa a transformação social seu
resultado final, cuja dimensão alcança
mudanças econômicas, políticas e sociais
na comunidade, principalmente, no aspec-to
da sustentabilidade dos recursos natu-rais,
que são imprescindíveis para repro-dução
social.
A inclusão dos diversos saberes, o reco-nhecimento
dos grupos sociais como sujei-tos
e produtores de conhecimento, a incor-poração
de processos educativos no campo
ambiental, a contribuição de diferentes
áreas do conhecimento científico, funda-mentam
a necessidade de se desenvolver
este projeto interdisciplinar que une téc-nicas
e habilidades de investigação, de
instrumentalização e de socialização do
conhecimento.
Almeja-se alcançar interação dos sabe-res
acadêmico e tradicional com a finali-dade
de contribuir para o aprimoramento
das práticas de subsistência, de forma a
permitir a compreensão de suas próprias
ações e dos processos políticos e culturais
que ela está envolvida
Assim, para orientar o planejamento
e as atividades de pesquisa fazem-se al-guns
questionamentos quanto à interven-ção
das Faculdades Integradas Ipiranga
no Distrito de Mosqueiro: qual o perfil da
comunidade? O que a comunidade tem de
potencial socioeconômico? Quais os possí-veis
segmentos econômicos viáveis que a
localidade apresenta?
Desta forma, o objetivo geral da pes-quisa
é criar mecanismos de sustenta-bilidade,
a partir do desenvolvimento do
Turismo de Base Comunitária na ilha de
Mosqueiro, em Castanhal do Mari-mari e
Caruaru; levando em consideração os sa-beres
locais e a possibilidade da criação de
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alternativas sustentáveis em ecoturismo.
Para isso, traçaram-se os objetivos es-pecíficos:
elaborar o diagnóstico do perfil
dos grupos sociais; construir o inventário
socioambiental local; realizar ações de
educação ambiental; analisar as evidên-cias
de possibilidade concreta do turismo
sustentável nesses espaços ribeirinhos,
quais as tendências de sustentabilidade
destes grupos sociais; planejar produtos
e serviços junto aos grupos sociais; e su-gerir
propostas viáveis de planejamento
e gestão participativa do turismo de base
comunitária e sua aplicação na realidade
das comunidades com a participação de
iniciativas de incentivos do poder público
em parceria com a iniciativa privada.
As metas estabelecidas foram: entre-vistar
famílias da comunidade e lideran-ça
comunitária; elaborar um relatório
do Perfil socioeconômico da comunidade;
planejar produtos/serviços sustentáveis;
produzir cartilha digital sobre turismo
de base comunitária; e produzir cartilha
digital sobre educação ambiental.
Procedimentos Metodológicos
Professores, pesquisadores, bolsistas e
voluntários atuam em Grupos de Traba-lho
(GT) em três Eixos de Ação (EA), a sa-ber:
Perfil socioeconômico da comunidade;
Sensibilização Patrimonial e Ambiental
e Diagnóstico e Formatação de Produtos/
Serviços Sustentáveis e Turísticos. Cada
Grupo de trabalho poderá trabalhar um
ou mais Eixos de Ação e os docentes po-derão
direcionar suas aulas para o EA
definido para agregar apoio dos voluntá-rios,
assim como, suas atividades práticas
planejadas. Isto tem o objetivo de dina-mizar
e organizar a pesquisa, diminuindo
custos. Para tanto, as ações de pesquisa e
análise dos dados coletados está seguindo
as fases descritas a seguir:
Fase I: 1) Seleção dos participantes
(alunos e professores) - realizada pelo Nú-cleo
de Pesquisa (Figura 03); 2)Reflexão
sobre os diversos olhares em campo – re-alizada
pela equipe ;Instrumentalização
teórica, levando em consideração a alte-ridade
e o objetivo do projeto – realizada
pela equipe; 3) Remontagem dos instru-mentos
de coleta de dados - realizada pela
equipe .
Roteiro para as Entrevistas
Diretrizes gerais para a construção de
roteiros. a) Para evitar que as perguntas
sejam lidas (e, conseqüentemente, soem
artificiais para os entrevistados), os ro-teiros
devem constar apenas de itens a
partir dos quais serão geradas as pergun-tas
durante as próprias entrevistas; b)
Para que o entrevistador possa conhecer
o ponto de vista do entrevistado, os itens
devem gerar perguntas abertas que com-portem
qualquer tipo de resposta (como,
por exemplo: “o que você acha de x?”, “o
que y gera em você?). Perguntas de escla-recimento
e/ ou aprofundamento (como
“por quê?”, “como?”, “dá para explicar me-lhor?”,
etc.) também devem ser previstas
(mas podem ser introduzidas a qualquer
momento em que sejam consideradas
necessárias); c) Para preservar a natu-ralidade
de uma conversa informal (que
nunca é composta somente de perguntas
abertas), alguns itens deverão gerar per-guntas
fechadas (cujas respostas são sim
ou não, como, por exemplo, “você gosta de
z?”), seguidas de perguntas de esclareci-mento
e/ ou aprofundamento; d) Itens que
geram perguntas mais abstratas – que
solicitam opiniões, reflexões, posturas,
sentimentos, avaliações, etc. do entrevis-tado
– a respeito de determinados tópicos
Figura 03. Grupo de Pesquisa. (Foto: Claudionor
Wanzeller, 2011)
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Daniel dos Santos Fernandes; Jorge Alex A. Souza
devem poder ser confrontados com itens
que geram informações objetivas a respei-to
dos mesmos tópicos.
Um bom exemplo do resultado deste
confronto é o contraste entre a opinião que
um jovem recém-casado revela ter sobre
a divisão conjugal do trabalho doméstico
(a de que tudo é feito de maneira equâ-nime
por ambos os membros do casal) e
as informações concretas que ele próprio
fornece sobre quem faz o que na relação:
quem dirige, quem leva o carro para o
conserto, quem cozinha, quem arruma a
casa, quem vai ao supermercado, etc. (in-formações
que podem revelar a existência
de uma divisão de trabalho convencional).
O raciocínio por trás deste procedimento
é o de que o contraste entre informações
concretas e afirmações abstratas (muitas
vezes “politicamente corretas”) tem o po-tencial
de revelar as contradições existen-tes
nos discursos dos entrevistados. Essas
contradições, por sua vez, são importan-tes
vias de acesso ao discurso subjacente
(no caso citado, poderiam, por exemplo,
revelar que, embora o discurso “explícito”
do entrevistado seja o da igualdade de di-reitos,
o que jaz por trás dele é a crença de
que a divisão tradicional de papéis entre
os membros do casal é “natural”).
Portanto, a construção de um roteiro
tem início em conversas informais, sem
qualquer tipo de estrutura previamente
delineado, sobre a temática a ser inves-tigada.
Para garantir que o roteiro seja
adequado à população alvo, é importante
que essas conversas iniciais ocorram com
pessoas que apresentem um perfil análo-go
àquele delineado para os participantes
da pesquisa.
Um primeiro rascunho de roteiro deve-rá
ser elaborado a partir dessas conversas.
Esse rascunho, por sua vez, deverá ser
testado em outras conversas, que, por já
terem uma estrutura provisória, são cha-madas
de entrevistas-piloto. Muito pro-vavelmente,
a partir dessas entrevistas,
o roteiro sofrerá sucessivas modificações
e será submetido a novos testes. Quando
tudo fluir bem (este é o melhor critério),
o roteiro estará pronto e passa-se à etapa
seguinte: Visita a campo e coleta de da-dos,
a ser realizada pela equipe.
Considerações sobre as Entrevistas
Aspectos gerais: Cada participante
é entrevistado individualmente por um
único entrevistador. Em todos os casos,
as entrevistas acontecem em horários
negociados entre entrevistadores e entre-vistados.
Como todas as entrevistas têm
como modelo uma conversa informal, elas
são sempre conduzidas em lugares com os
quais os participantes se acham familia-rizadas
e nos quais se sentem à vontade.
Os entrevistados são, inclusive, solicita-dos
a indicar os locais de sua preferência
(restrições sendo colocadas somente aos
locais muito ruidosos). Também em todos
os casos estudados, antes da entrevista,
os participantes devem assinar um termo
de livre consentimento do qual constam
informações sobre os objetivos da pesqui-sa,
sobre os eventuais riscos que ela pode
representar para aqueles que dela parti-cipam
e sobre o uso que pode ser feito do
material coletado.
No que diz respeito ao número de en-trevistas
a serem realizadas com cada
participante, na maioria das vezes, é feita
uma única entrevista com cada um deles.
A duração das entrevistas também varia
muito. As mais freqüentes são as entre-vistas
que duram entre uma e duas horas.
Em todos os casos, as entrevistas são gra-vadas
na íntegra (em áudio) com o consen-timento
dos entrevistados.
Realização das entrevistas
Evitar utilizar roteiros estruturados
e padronizados porque estes impedem o
aprofundamento desejado, na medida em
que supostamente geram perguntas feitas
exatamente na ordem prevista sem que
haja a possibilidade de qualquer interven-ção
espontânea por parte do entrevista-dor.
Adotar guias ou roteiros pouco estru-turados
e não padronizados nos quais os
entrevistadores têm liberdade para intro-duzir
novas perguntas a cada entrevista.
Esse procedimento tem, porém, uma séria
conseqüência prática: inviabiliza análises
comparativas, pois diferentes questões
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podem ser colocadas para diferentes en-trevistados
Pode-se estipular que o entrevistador
deverá ter em mãos um roteiro estrutura-do
que deverá ser aplicado de forma flexí-vel
para respeitar o fluxo de associações
do entrevistado. Isso significa dizer que
a ordem dos itens pode ser alterada; que,
dependendo dos pronunciamentos dos en-trevistados,
alguns itens talvez sequer
necessitem ser transformados em per-guntas
porque foram por eles abordados
espontaneamente; e que, apesar de todas
essas alterações, o entrevistador deve es-tar
atento para que nenhum dos itens do
roteiro deixe de ser abordado.
Incentiva-se a introdução espontânea
somente de perguntas de aprofundamento
ou esclarecimento. Esta aplicação flexível
de um roteiro estruturado tem os seguin-tes
resultados práticos: a) do ponto de
vista do pesquisador, ela gera entrevistas
semi-estruturadas comparáveis na medi-da
em que, independentemente da ordem
em que aparecem, os itens abordados são
os mesmos para todos os participantes; b)
do ponto de vista dos participantes, essas
entrevistas, se bem conduzidas, têm uma
estrutura invisível porque se assemelham
a uma conversa na qual podem se pronun-ciar
sem restrições – e sem que o fluxo de
suas associações seja interrompido, dos
tópicos que lhes são apresentados; c) do
ponto de vista do entrevistador, a estru-tura
do roteiro transmite segurança, en-quanto
a flexibilidade de sua aplicação, as
aberturas de seus itens bem como a pos-sibilidade
de introdução de perguntas de
esclarecimento lhe dão a possibilidade de
aprofundar ou investigar melhor aquilo
que achar necessário.
A etapa subseqüente é a da organi-zação
dos dados, a qual começa com a
transcrição dos depoimentos. Transcrição
esta que é tratada de forma genérica pela
maioria dos métodos. Leva-se em consi-deração
o nível de detalhamento necessá-rio
para os objetivos da pesquisa (muitos
detalhes podem atrapalhar, mas certos
detalhes – como hesitações e longas pau-sas
em entrevistas que lidam com confli-tos
psicológicos, por exemplo – podem ser
imprescindíveis). Embora as entrevistas
geralmente sejam transcritas na íntegra,
existe a possibilidade de uma transcrição
somente dos trechos a serem citados. No
entanto, as falas dos entrevistados não
devem ser alteradas ou editadas. Erros
gramaticais, palavrões, expressões chulas
e congêneres devem ser transcritos, pois,
quando presentes, fazem parte do discur-so
dos participantes.
Discussão e Análise dos dados compre-endem
a etapa seguinte. A interpretação
pode ser realizada de dois modos diferen-tes:
a) a partir de categorias que emergem
das falas dos entrevistados, o que caracte-riza
a abordagem êmica; e b) a partir de
categorias prévias oriundas das teorias
que servem de base à pesquisa, o que ca-racteriza
a abordagem ética.
As propostas em discussão, po-rém,
divergem bastante quanto ao início
da análise do material coletado. Na maior
parte delas, a análise tem início com a
primeira entrevista e continua ao longo
do processo de coleta de dados, podendo
começar a analisar os depoimentos cole-tados
depois de realizadas todas as entre-vistas.
Outras diferenças, relativas aos tipos
de análise levados a cabo, agrupam os
métodos sob consideração de outra forma.
O tipo de análise a ser realizado decorre
dos pressupostos adotados e das decisões
tomadas ao longo da pesquisa. Compara-ções
sistemáticas entre as falas dos parti-cipantes,
portanto, não podem ser feitas
pelos métodos que não usam guias padro-nizados
(a maioria dos que estão em dis-cussão).
Já o material coletado a partir de
amostras heterogêneas deve receber tra-tamento
especial porque parte da análise
consiste em delinear os diferentes perfis
dos respondentes.
Apesar dessas diferenças, as análises
realizadas por todos os métodos selecio-nados
têm em comum o fato de procurar
identificar regularidades, padrões e ou-tros
aspectos recorrentes nos depoimentos
que analisam (tanto é que, na maior parte
das vezes, a coleta de dados é considera-da
suficiente quando atinge o já discutido
“ponto de saturação”).
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Daniel dos Santos Fernandes; Jorge Alex A. Souza
A análise propriamente dita
Em praticamente todos os métodos
que vimos discutindo, as entrevistas não
recebem tratamento individualizado. Em
geral, a análise do material é levada a
cabo tendo por base comparações e ou-tros
procedimentos (como, por exemplo, o
levantamento da incidência de um deter-minado
conceito) realizados a partir dos
depoimentos coletados pelas entrevistas
como um todo. Dado que as entrevistas
não podem ser comparadas item por item,
são comparados conceitos e temas que ne-las
aparecem. São também combinados
eventos separados para formular uma
descrição integrada de um determinado
fenômeno ou conjunto de fenômenos.
Pode-se levar em consideração, para
o escrutínio, duas etapas: a) a da análi-se
das respostas dadas pelo grupo como
um todo, chamada de análise inter-parti-cipantes;
b) a análise detalhada de cada
uma das entrevistas individuais, chama-da
de análise intra-participantes. Mesmo
considerando somente a primeira, ou seja,
a análise inter-participantes.
Nestas etapas, os participantes têm
um perfil homogêneo e se pronunciam
sobre todos os itens do roteiro. Permite
que, diferentemente do que acontece em
outros métodos, suas repostas sejam sis-tematicamente
comparadas em busca de
recorrências. Dessas recorrências, por
sua vez, emergem categorias – sempre
êmicas – que dão visibilidade aos valores
do grupo social ao quais os entrevistados
pertencem. A análise inter- participantes
tem também o importante papel de forne-cer
ao pesquisador uma visão geral dos
resultados obtidos, visão essa que será
aprofundada na análise das entrevistas
individuais.
Seguem-se as etapas relativas ao Rela-tório
da análise e a Socialização do rela-tório
final.
A Fase 2 está composta de quatro eta-pas:
1) Identificar a partir do relatório fi-nal,
que necessidades existem no campo;
2) Planejamento e execução de Propostas
Sustentáveis; 3) Realização de cursos e
oficinas; 4) Montagem de dossiê com re-sultados
da pesquisa.
A abordagem qualitativa na condução
do trabalho pressupõe o entendimento
de que os fenômenos sociais e a realida-de
são dinâmicos e incomensuráveis para
uma análise que se pretenda enquadrá-
-las numa mensuração estatística. Isto
porque, esta abordagem, como requisito
teórico, aponta para uma direção sempre
ao futuro, ao possível e às mudanças es-truturais
da história social.
Diante do exposto, a pesquisa com-preende
momentos diferentes e relevan-tes
com relação à finalidade do trabalho.
Nestes termos, antes do trabalho in loco,
tornam-se essenciais o levantamento e
revisão bibliográfica referente ao estudo
em questão. O registro das obras selecio-nadas,
através de fichamentos e resumos
são instrumentos de seleção, organização
e sistematização dos conceitos, teses e ar-gumentações.
Isto possibilita que a cada
leitura sejam encontrados novos olhares,
opiniões e relativizações sobre a realidade
estudada. A esta conduta, somam-se, ain-da,
o levantamento e análise documental
relativos aos assuntos e temas pertinen-tes
ao trabalho e seus principais agentes
sociais envolvidos, com, por exemplo, po-pulações
locais, gestores públicos, inicia-tiva
privadas e sociedade civil organizada.
Ainda nesta etapa, a pesquisa foca-liza
imprensa escrita (jornais, revistas
especializadas); recursos audiovisuais
(programas televisivos, documentários
e filmes). A sistematização e análise dos
conteúdos pressupõem anotações em fi-chas
bibliográficas, requerendo princípios
básicos de registro das obras consultadas,
tais como: identificação, localização, com-pilação
e fichamento. A importância desta
etapa está na atualização dos assuntos
relativos à problemática de estudo, posto
que as pesquisas bibliográficas e docu-mentais
oferecem condições para definir
e apontar sugestões não somente aos pro-blemas
conhecidos, como também, possi-bilita
explorar sob um olhar diferenciado
um tema novo com intuito de alcançar
análises e conclusões inovadoras (Marco-ni
& Lakatos, 2004).
A pesquisa documental, por outro lado,
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(3). Special Issue. 2011 ISSN 1695-7121
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possibilita a identificação de ações ligadas
aos processos de implementação do desen-volvimento.
Isto através de análises de re-latórios,
mensagens oficiais, planos e pro-gramas
e registro jornalístico que tenham
relação com a intensificação da atividade
turística nos Municípios e suas espaciali-dades.
Para o trabalho in loco no que diz res-peito
às observações, às entrevistas e aos
diálogos serão seguidos os procedimentos
de Malinowski (1977) -“a etnografia do
diário”- complementados pelos ensina-mentos
de Oliveira (1996) que preconiza
na pesquisa de campo o olhar, o ouvir e o
escrever, pois
O olhar e o ouvir podem ser considera-dos
como os atos cognitivos mais pre-liminares
no trabalho de campo [...] é
seguramente no escrever, portanto na
Figura 04. Reunião com representantes dos
segmentos escolar e comunitário. (Fonte: Gerlei
Menezes, 2011)
configuração final do produto desse
trabalho, que a questão do conheci-mento
se torna tanto ou mais crítica
[...] Devemos entender por escrever o
ato exercido por excelência no gabinete,
cujas características o singularizam
de forma marcante, sobretudo quan-do
comparamos com que se escreve no
campo, seja ao fazermos nosso diário,
seja nas anotações que rabiscamos em
nossas cadernetas” (Oliveira, 1996, p.
22).
A observação, neste estudo, irá apre-ender
os fenômenos socioambientais, com
intuito de desenvolver a criatividade no
terceiro momento do ato cognitivo, ao
interpretar a realidade e construir um
pensamento fecundo a respeito do objeto
de estudo. A partir dessas premissas, a
conduta na coleta de informações priori-zará
os relatos, as conversas, as relações
sociais no ambiente de trabalho, nas ati-vidades
lúdicas, nas práticas de lazer e
turismo.
Outro procedimento de coleta de in-formações
que assume importância neste
trabalho, diz respeito à importância da
história oral, pois este recurso consiste
em oportunizar ao pesquisador o ingresso
na vida de outras pessoas, ter um conta-to
mais humano, informal, e assim, mais
profundo das experiências e vivências co-munitárias
(Thompson, 1992). Oferece
condições ao pesquisador de vislumbrar
atitudes e ações cotidianas em ambientes
diversos e momentos relevantes, e, desta
feita, elucidar a dimensão do cotidiano.
O trabalho de campo pressupõe pe-ríodos
diferentes. Primeiro, a pesquisa
exploratória aparece como primeira ex-periência
do pesquisador com o objeto de
estudo. Consiste na preparação do pes-quisador
frente às peculiaridades da área
de estudo, com objetivo de obtenção de
maiores informações e de constatação de
algumas hipóteses e teorias trabalhadas.
Contempla a verificação de possíveis fe-nômenos
sociais relevantes anotados em
caderno de campo e, também, a realização
de entrevistas com os gestores públicos,
agências e operadoras de turismo e popu-lação
local (Triviños, 1985).
Figura 05. Reunião com o presidente da Associação
de Moradores do Caruaru. Foto: Gerlei Menezes,
2011)
Entre trapiches, trilhas e vilas: organização comunitária e práticas...
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PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(3). Special Issue. 2011 ISSN 1695-7121
Daniel dos Santos Fernandes; Jorge Alex A. Souza
Na segunda etapa, a observação siste-mática,
soma-se aos demais procedimen-tos,
no intuito de oferecer e confirmar
dados e observações acerca da dinâmica
social dos atores. É um instrumento que
descreve os eventos e as circunstâncias,
os conflitos, os comportamentos e as rela-ções
interpessoais dos atores numa dada
realidade (Chizzotti, 2005).
Após a caracterização da área e do pro-blema
de estudo, desenvolvidos na fase an-terior,
assume importância as entrevistas
semi-estruturadas, elaboradas de acordo
com os objetivos elencados no projeto de
pesquisa e direcionadas às categorias de-finidas
na fase anterior da metodologia.
Esta técnica leva ao pesquisador realizar
suas indagações de acordo com o anda-mento
do diálogo, da disposição do entre-vistado
ou grupos de sujeitos, deixando-o
(os) livre (s) para expor (em) suas opiniões,
expressões e desejos, contribuindo para a
pesquisa. (Triviños, 1985).
Resultados Preliminares
Inicialmente devemos salientar que a
falta de um Conselho de Pós-Graduação
e Pesquisa (C.P.P.) e de um Núcleo de
Pesquisas (N.U.P.), na IES às quais se
vinculam os pesquisadores, no inicio das
investigações, que pudessem lhes dar su-porte,
aliada a uma não-tradição de pes-quisa
interdisciplinar, dificultou muito o
trabalho dos pesquisadores. Tal problema
foi minimizado no ano corrente, 2011, com
a implantação do C.P.P e do N.U.P.
A seleção dos participantes deu-se com
professores e alunos. Quanto aos últimos
foi realizada seleção a partir do perfil de
alunos que tiveram rendimentos satisfa-tórios
nas disciplinas Antropologia Cul-tural,
Cultura Brasileira e Geografia do
Turismo. Quanto aos professores foi aber-ta
a participação a partir da análise dos
objetivos do projeto nas disciplinas que
pudessem mediar ações, o que resultou no
interesse apenas dos professores de An-tropologia
Cultural, de Cultura Brasileira
e de Geografia do Turismo. A partir daí,
estão sendo realizadas sessões de estudos
a partir de vários intelectuais, particu-larmente
das Ciências Sociais, que podem
subsidiar a experiência de trabalho de
campo, em sua totalidade.
Os pesquisadores tiveram acesso a
alguns problemas de campo a partir dos
diálogos travados com representações das
comunidades locais e as diversas possibi-lidades
no campo do turismo de base co-munitária.
Ao chegarmos ao distrito de
Mosqueiro, antes de irmos ao Porto Pelé
– onde embarcaríamos para a comunidade
de Caruaru, fizemos uma pequena reunião
para reafirmar algumas posturas, mesmo
dentro do barco, que seriam necessárias
para observação desde a saída, como con-versar
com o barqueiro e observar o ecos-sistema
local. Ao chegarmos na comuni-dade
de Caruaru fomos à casa de uma das
representantes comunitárias e à Unidade
Escolar local. Logo após, foram divididas
as duplas de discentes para aplicação do
questionário sócio-econômico. Os coorde-nadores
seguiram para uma entrevista
não estruturada com uma representante
da comunidade, uma representante da
comunidade escolar, e um mediador-guia
que juntou-se ao grupo desde a sede de
Mosqueiro, antes de embarcarmos (Figu-ra
04). Vale salientar que esse mediador-
-guia foi de grande valia para o trabalho
de campo, pois tem um excelente conheci-mento
local, tanto em nível espacial como
interacional na comunidade.
Antes de nossa volta, logo após o al-moço
com as representações locais, o pre-sidente
da Associação de Moradores que
se encontrava na sede do Distrito de Mos-queiro
veio ao encontro do grupo de pes-quisa
e começamos uma reunião na qual
o presidente expôs algumas situações da
comunidade e ouviu a intenção de traba-lho
do grupo. (Figura 05)
Os trabalhos estão tendo continuidade,
agora orientados pelas demandas aponta-das
pelas representações da comunidade,
o que reforçará a idéia de um turismo de
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 9(3). Special Issue. 2011 ISSN 1695-7121
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base comunitária com as comunidades
envolvidas, procurando criticamente os
meios desejáveis e avaliando os resulta-dos.
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NOTAS
1 A Amazônia Legal compreende nove entes federativos,
são eles Acre, Amazonas, Pará, Amapá, Roraima, Rondô-nia,
parte dos Estados do Maranhão, Mato Grosso e To-cantins
Recibido:
Reenviado:
Aceptado:
Sometido a evaluación por pares anónimos
31/08/2010
08/11/2010
28/12/2010
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