mdC
|
pequeño (250x250 max)
mediano (500x500 max)
grande
Extra Large
grande ( > 500x500)
Alta resolución
|
|
Vol. 7 Nº3 págs. 461-473. 2009 www.pasosonline.org © PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121 Turismo e indústria criativa artesanal têxtil: expansão comercial e perda de identidade cultural no Brasil no final do século xx Gustavo Melo Silva i Universidade Federal de Viçosa (Brasil) Jorge Alexandre Barbosa Neves ii Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil) Resumo: Este trabalho partir de dados secundários e de observações participantes descreve e analisa o desenvolvimento socioeconômico da indústria criativa artesanal têxtil de um município do estado brasi-leiro de Minas Gerais. A formação histórica de sua cadeia de produção é marcada por organizações que lidaram com relações de trabalho escravo até unidades semi-autônomas de produção. A organização desta indústria criativa possui uma estrutura produtiva que é dividida e especializada. O comerciante coordena e inova os negócios integrados em uma rede de relacionamento de unidades comerciais e pro-dutivas. O processo de desenvolvimento organizacional, a partir da divisão do trabalho, e da expansão comercial tem gerado como conseqüência não intencional a perda de conhecimento local sobre as técni-cas artesanais bicentenárias. Palavras-Chave: Turismo, Indústrias triativas; Artesanato têxtil; Divisão do trabalho; Resende Costa. Abstract: This work to leave of secondary data and participant comments describes and analyzes the social and economic development of the creative industry artisan of a city of the Brazilian state of Minas Gerais. The historical formation of its chain of production is marked by organizations that production half-autonomous worker deal with relations of enslaved work until units. The organization of this crea-tive industry processes a productive structure that is divided and specialized. The trader co-ordinates and innovates the businesses integrated in a net of relationship of commercial and productive units. The process of organizational development, from the division of the work, and the commercial expansion has generated as not intentional consequence the loss of local knowledge on the bicentennial artisan tech-niques. Keywords: Tourism, Creative industries; Textile of artisan; Division of the work; Resende Costa. i Gustavo Melo Silva é doutorando em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Professor da área de Administração, Estudos Organizacionais e Desenvolvimento Local na Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail: gustavomelo@ufv.br ii Jorge Alexandre Barbosa Neves é doutor em Sociologia pela University of Wisconsin (Madison/EUA) e Professor da área de Sociologia do Desenvolvimento, Estudos Organizacionais, Gestão Pública e Métodos Quantitativos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail: jorgeaneves@gmail.com 462 Turismo e indústria criativa artesanal textil:… PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 Introdução O Campo das Vertentes, mesorregião do estado brasileiro de Minas Gerais tem hoje uma série de atividades econômicas turísti-cas que são viabilizadas pelo contexto his-tórico, políticas públicas e o interesse da iniciativa privada, que conforme Oliveira e Januário (2007) estão presentes no entorno das cidades de São João del-Rei e Tiraden-tes. Estas duas cidades vêm ganhando in-vestimentos com programas de governo como, por exemplo, o “Programa de Incenti-vo ao Desenvolvimento do Potencial Turís-tico da Estrada Real” e a formação do “Cir-cuito Turístico Trilha dos Inconfidentes”, que são políticas de Estado em prol do de-senvolvimento do setor turístico nesta regi-ão. O cenário regional socioeconômico a partir da década de 1980 do século XX é caracterizado pelo potencial turístico, prin-cipalmente pelo turismo relacionado com o patrimônio histórico e cultural regional, que está relacionado com a exploração do ouro no século XVIII e que atualmente tem como maior desafio a sustentabilidade da atividade econômica na região (Álvares e Carsalade, 2005). Pesquisas realizadas nesta região como as de Álvares e Carsala-de (2005), Silveira (2006), Vieira Filho et al. (2006) e Oliveira e Januário (2007) apon-tam problemas que ocorrem em momentos de pico de demanda como, por exemplo, na festa popular brasileira do carnaval, que conforme Silveira (2006) são causados pela capacidade de infra-estrutura urbana e dos pontos receptivos, além do volume da polui-ção ambiental e dos impactos nos bens cul-turais imateriais. Mas a mesma atividade turística que, por um lado, em momentos de grande mo-vimentação de pessoas gera problemas para a comunidade local, por outro lado, possibi-litou para Tiradentes, por exemplo, a reto-mada de atividades produtivas artesanais em prata. A atividade turística também incentivou a produção artesanal em outras cidades vizinhas. O turismo em São João Del-Rei e Tiradentes beneficiou, por exem-plo, o município de São João del-Rei, com a produção de peças de estanho, Resende Costa com o tear manual e Prados com es-culturas de madeira. O aumento da de-manda pela produção artesanal local, con-forme Vieira Filho et al. (2006) vêm trazen-do questionamentos sobre os impactos na cultura material como, por exemplo, o arte-sanato e imaterial como, por exemplo, as danças típicas, manifestações religiosas, músicas e outras que podem desaparecer ou ter seu significado e formas alteradas pela comercialização. O turismo representa para realidade de alguns municípios brasileiros um conjunto de atividades econômicas importantes para sua dinâmica socioeconômica. Este artigo analisa a atividade turística associada ao patrimônio arquitetônico e cultural regio-nal, que no município de Resende Costa propiciou um sistema produtivo artesanal têxtil que fornece produtos para cadeia produtiva turística local. O desenvolvimen-to socioeconômico deste município pode ser analisado a partir das mudanças nas orga-nizações e no trabalho da rede de pequenas indústrias criativas artesanais de produção de utensílios domésticos e peças decorati-vas têxteis. A gestão integrada das peças e processos desta indústria criativa está in-corporada às necessidades de desenvolvi-mento socioeconômico local e apontam esta economia criativa como uma alternativa de geração de trabalho, renda e uma possibili-dade concreta de desenvolvimento local. O gerenciamento é exercido por artesãos com baixa formação escolar, característica esta que é incapaz de inibir uma organização informal que conjuga talento artístico, con-tratações, aquisição de matérias-primas, produção e lucro por meio de uma produção artesanal, que propicia melhoria da quali-dade dos produtos e de vida dos grupos sociais envolvidos. A gestão destes negócios utiliza atualmente práticas como a divisão das tarefas e a especialização do trabalho, controle rígido da produção e salário basea-do em produtividade. As atividades econômicas relacionadas com a cultura atualmente são consideradas como atividades da economia criativa. As indústrias criativas, conforme Oakley (2004) e Uricchio (2004) incluem as seguin-tes atividades econômicas: antiguidades, arquitetura, arte, artesanato, artes per-formáticas, design, design de moda, edito-ras, filme e vídeo, jogos de computador, música, publicidade, serviços de software e computadores, TV e rádio. Conforme Caves (2002) a criatividade é um insumo funda- Gustavo Melo Silva y Jorge Alexandre Barbosa Neves 463 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 mental do processo de produção destas indústrias, que para Potts et.al. (2008) tem sua organização estruturada em redes so-ciais entre seus atores. Mesmo ganhando atenção em países como Inglaterra e Austrália os estudos das indústrias criati-vas demandam novas perspectivas de aná-lise como, por exemplo, as que descrevam, mapeiem, quantifiquem e identifiquem o setor (Hartley, 2005). As indústrias criati-vas, conforme Shorthose (2004) vem abor-dando a cultura a partir de uma lógica econômico-comercial, que revela novas tramas em que estão relacionados consu-midores, atividades industriais ou semi-manufaturas das artes criativas numa perspectiva do capitalismo contemporâneo. As questões que são postas na relação entre os campos da cultura e da economia, devem considerar a escala e amplitude do mercado global de bens e serviços simbólico-culturais, sua preservação e os possíveis ganhos econômicos e de desenvolvimento local de comunidades envolvidas em seus processos. Este trabalho analisa dados secundários coletados por Santos et al. (1997) e de ob-servações participantes realizados entre os anos de 2004 e 2009 em 10 domicílios pro-dutores, na Associação de Artesãos de Re-sende Costa (ASARC) e com 03 dos comer-ciantes com estabelecimentos em funcio-namento a aproximadamente 20 anos. O artigo descreve e analisa o desenvolvimento socioeconômico do município de Resende Costa a partir da sua rede organizacional de indústrias criativas. As organizações de fundo de quintal vivenciam os benefícios e os problemas das fronteiras entre as di-mensões comerciais e artísticas na conduç-ão dos negócios em sua economia criativa. Iremos nos dedicar especificamente neste trabalho a indústria criativa artesanal têxtil, que tem como seu output um produ-to, uma mercadoria artesanal e como input, por um lado, linhas, equipamentos, infor-mações, mas por outro lado, insumos es-pecíficos artesanais da comunidade local como, os teares de madeira e seu conheci-mento que pode ser compreendido como um serviço produtivo artesanal. Indústria Criativa Artesanal Têxtil de Re-sende Costa Os sistemas produtivos sejam da indús-tria automobilística, de alimentos ou até mesmo da indústria criativa vêm passando por uma desagregação de estágios de pro-dução e consumo por meio de limites nacio-nais subordinados a densas estruturas or-ganizacionais de redes de firmas, que atuam em cadeias de produção. A operacio-nalização de uma nova divisão global do trabalho mais flexível demanda a redução do custo do trabalho via a subcontratação de serviços produtivos em cadeias produti-vas. A análise dos sistemas produtivos e organizacionais a partir de commoditys chains são uma alternativa para limitações da integração vertical de empreendimentos. Estes modelos de organização social, econômica e produtiva são responsáveis pela coordenação de sistemas de produção, que podem inclusive ter configurações ge-ográficas transnacionais, mas que também são sinônimos de uma hierarquia corpora-tiva que pode ser definida, conforme Gereffi e Korzeniewicz (1994), a partir de duas tipologias: producer–driver e buyer-driver. As cadeias gerenciadas pelos producer-driver são caracterizadas pela coordenação de um produtor e as gerenciadas pelos bu-yer- driver por um comprador (Gereffi e Korzeniewicz, 1994; Hassler, 2003). A cadeia de produção é uma rede orga-nizacional e de trabalho. As características de localização dos elos ocorrem a partir de definições geográficas, de números de dife-rentes mercadorias, das relações existentes entre a propriedade e a unidade de produç-ão, dos modelos de controle do trabalho e das ligações e integrações verticais existen-tes (Hopkins e Wallerstein, 1994; Kiely, 1998; Jackson, 2002). A economia global não abrange e inclue todos os processos econômicos, territórios e atividades das pessoas, mas afeta indiretamente a vida e a estrutura social de toda a humanidade. As revoluções nos sistemas de produção indus-trial difundiram-se por todo o sistema econômico e permearam todo o tecido social (Castells, 1994). Mas pode-se perceber que as influências das mudanças ocorridas no setor industrial ocorreram também na 464 Turismo e indústria criativa artesanal textil:… PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 indústria criativa artesanal têxtil local analisada neste artigo, por meio de inovaç-ões tecnológicas nos insumos, mas também em aspectos organizacionais e de gerencia-mento, que vem permeando o tecido social regional daqueles que sobrevivem desta rede organizacional local, que também pode ser denominada, conforme Abreu (2002), como um aglomerado de produção artesanal composto por vários empreendimentos de base artesanal, que compõe o setor turístico regional. Estes aglomerados de produção ou clus-ters são concentrações de empresas e insti-tuições inter-relacionadas de um determi-nado setor. Pode ser considerada uma tipo-logia de rede organizacional de concentraç-ão setorial e geográfica, caracterizada pelo ganho de eficiência coletiva. Pode-se incluir aí, não somente as diretamente ligadas ao produto, mas todo o conjunto de atores que lida e interage de alguma forma com o clus-ter ou seu produto em foco. A concentração geográfica permite que os componentes do cluster possuam vantagens competitivas de várias formas, como aumento da produtivi-dade, direção e facilidade para inovação, estímulo para formação de novos negócios, dentre outros (Porter, 1998). Os aspectos mais relevantes que justifi-cam a estruturação em redes organizacio-nais ou via arranjos produtivos locais, con-forme Suzigan et al. (2002) são os seguin-tes: economias externas locais, forma de organização, coordenação e condicionantes históricos, institucionais, sociais e cultu-rais. As redes organizacionais se configu-ram como relações de cooperação entre pe-quenas e médias empresas com o intuito estratégico de aprimoramento tecnológico e gerencial, para melhoria de posicionamento competitivo, mas seu estabelecimento não ocorre de forma natural e espontânea, de-pendendo de políticas e diretrizes definidas por atores de fomento regional (Souza e Souza: 2004). A formação das redes organi-zacionais da indústria criativa artesanal têxtil local não ocorreu via um ator de fo-mento regional. Inclusive, a falta de um ator responsável pelo fomento e gerencia-mento regional da rede organizacional vem gerando problemas como serão tratados neste artigo. A análise da cadeia de produção da indústria criativa artesanal têxtil do mu-nicípio de Resende Costa é caracterizada por pontos que estão estruturados nas va-riáveis históricas, sociais e culturais e no envolvimento produtivo de grande parte de sua população que, conforme Santos et al. (1998) envolvem diretamente 38% dos mo-radores da sede do município. Além de es-tar aproximadamente há 20 anos enraizada nesta comunidade como uma atividade econômica e social de importância para a geração de trabalho e renda regional (San-tos e Silva, 1997). Os colonizadores de meados do século XVIII da região do município analisado ao introduzirem o conhecimento e a técnica artesanal possibilitaram o desenvolvimento de produtos para abastecer a propriedade rural. Neste sentido, o perfil do trabalhador e para quem os produtos eram destinados está ligado a um ciclo de negócios específico deste período, onde a subsistência da pro-priedade rural era a razão para sua produ-ção. As variáveis históricas deste município têm sua origem em 1749, quando foi ergui-da uma capela no lugar denominado “La-ge”. A origem atual do nome do município está no fato de dois de seus primeiros mo-radores terem ligado seus nomes à história de Minas Gerais e do país com o envolvi-mento na Inconfidência Mineira. Estas variáveis históricas são decorrentes da he-rança da colonização portuguesa e da ex-ploração do ouro que trouxeram escravos, senhores de engenho e também seus teares para Resende Costa (Santos e Silva, 1997). Os colonizadores trouxeram para este município, o conhecimento da tecelagem artesanal, que atualmente movimenta sua economia, mas tanto o processo como os produtos vêm passando por modificações (Abreu, 2002). Sistemas produtivos que inicialmente eram desenvolvidos para auto-subsistência da propriedade rural, mas que hoje são sofisticados no sentido de sua or-ganização e das relações de trabalho exis-tentes. A organização do trabalho era ca-racterizada por um artesão que dominava todo o processo de produção, mas atual-mente é divida e especializada por funções e produtos. No município de Resende Costa, conforme Santos et al. (1998) existem tra-balhadores especializados na tecelagem, na picação de retalhos da indústria têxtil, no processo de fiação e até mesmo divisões e especializações do trabalho conforme o tipo Gustavo Melo Silva y Jorge Alexandre Barbosa Neves 465 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 de produto como, por exemplo, tecelões es-pecializados em tapetes e colchas de diver-sas dimensões, caminhos de mesa, etc. O desenvolvimento socioeconômico da rede organizacional da indústria criativa artesanal pode ser compreendida a partir dos empreendimentos que se materializa-ram em novas combinações desenvolvidas pelos comerciantes locais, que atuam com sua racionalidade empreendedora. Como por exemplo, no caso de Resende Costa onde a proximidade geográfica de pólos produtivos da indústria têxtil mineira de meados do século XX como São João del- Rei, Divinópolis e Juiz de Fora possibilitou o aproveitamento do refugo das malharias como matéria-prima para sua produção artesanal (Santos e Silva, 1997). Esta nova combinação da ferramenta tear de madeira com o refugo da indústria têxtil é fruto de tomadas de decisões, que foram realizadas por comerciantes artesãos com o intuito de viabilizar a produção em massa. Atualmente ocorrem novas combinações dos fatores de produção e de novas formas de organização do trabalho executadas pe-los comerciantes locais, o homo economicus imerso neste território municipal. Nas últimas décadas o sistema de produção artesanal deste município vem sofrendo modificações em sua cadeia de produção. Não só em relação à matéria-prima como, por exemplo, o algodão que antes era culti-vado na região e que hoje não é mais, como também no perfil da mão-de-obra e nas características dos processos. O processo de divisão e especialização do trabalho que vem ocorrendo nas últimas duas décadas na economia criativa em Resende Costa foi gerado pela busca de uma produção em grande escala ou em massa. Atualmente, a rede organizacional da indústria criativa artesanal têxtil local movimenta, conforme Santos et al. (1998) aproximadamente 495 teares com uma produção mensal, por exemplo, de 34.558 tapetinhos lisos, 2.206 passadeiras, 4.045 tapetinhos de bico, 1.390 colchas lisas, que são os mais seguinificati-vos itens entre os 20 produtos identificados no seu portfólio produção. A flexibilidade e especialização da estrutura social do tra-balho local é explicitada em redes organiza-cionais de produção artesanal especializa-das, que estão se difundindo e expandindo. A divisão e especialização é um fato im-portante para compreender a realidade das mudanças que estão ocorrendo e viabili-zando ganhos de produtividade via escala e diversificação de produtos nas organizações da indústria criativa artesanal têxtil local. Além de ser uma contradição que se coloca ao sistema de produção artesanal, já que o artesão clássico vem sendo substituído por classes de trabalhadores especializados em determinadas atividades do processo de produção ou até mesmo por produtos. Em pesquisa realizada por Santos et al. (1998) foram identificadas as seguintes funções na rede organizacional de produção artesanal de Resende Costa: picadores, tecelões, ven-dedores de artesanato e fornecedores de matérias-primas. A distribuição dos traba-lhadores pelas funções identificadas por estes autores é a seguinte: 41,5% de picado-res, 39,6% de tecelões, 1,3 % de vendedores, 0,9% de fornecedores e 16,7% de trabalha-dores que exercem mais de uma função. Estes dados mostram que já no final do século XX o artesão havia sido substituído por classes de trabalhadores de base arte-sanal. As ações no processo de divisão e especi-alização ocorreram nas atividades tecnoló-gicas da organização, que viabilizaram a criação e padronização de rotinas de traba-lho. Estas ações foram possíveis com a ra-cionalização das entradas e com a expansão das saídas viabilizadas pelo desenvolvi-mento do pólo turístico nas cidades de São João del-Rei e Tiradentes (MG). Esta rea-lidade operacional foi impulsionada por aspectos logísticos regionais como, por e-xemplo, o desenvolvimento da malha de transporte terrestre em meados da década de 1980, a expansão dos serviços dos correi-os e de transportadoras. As organizações produtoras e vendedo-ras da indústria criativa municipal possu-em vínculos informais com os trabalhadores artesanais, que na realidade podem ser compreendidos como pequenas indústrias informais que estão diluídas em suas resi-dências micro-regulamentadas pelas uni-dades organizacionais comerciais. Confor-me Santos et al. (1998) dos 37 estabeleci-mentos comerciais pesquisados 65% eram produtores e vendedores de artesanato, 11% somente vendedores de artesanato e 24% eram fornecedores de matéria-prima, tanto do fio de algodão industrializado co- 466 Turismo e indústria criativa artesanal textil:… PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 mo de retalhos da indústria têxtil. Este processo, fazendo-se uso da abordagem de Perrow (1972) gerou regras, regulamentos e especialistas, ou seja, uma organização burocrática e sua motivação compreende-ram a necessidade de economias de especia-lização, de controle de características pro-fissionais e não profissionais do pessoal e a necessidade de adaptação às mudanças no seu ambiente organizacional. A compreensão dos problemas que de-mandaram alternativas de soluções e suas conseqüentes decisões pode ser feita a par-tir da análise do processo de transformação não só do sistema de produção artesanal como uma organização que busca a eficiên-cia econômica, mas da comunidade local desde sua ocupação em meados do século XVIII. A localidade que atualmente é o município de Resende Costa já teve várias atividades produtivas que fomentaram organizações para atender não só a deman-da de um mercado temporal, mas princi-palmente as necessidades da comunidade, não só por mercadorias, ou seja, para o con-sumo, mas para atender as demandas so-ciais da comunidade de geração de trabalho e renda, que viabilizou a subsistência dos trabalhadores locais. Por exemplo, no sécu-lo XVIII as organizações locais eram elos verticais do sistema de exploração de ouro, abastecendo de produtos agropecuários Tiradentes e São João del-Rei. No século XX eram elos verticais da indústria têxtil mineira, principalmente a partir da proxi-midade com o município de São João del- Rei, que possibilitou o reaproveitamento do refugo de malharia de seu parque fabril obsoleto (Santos e Silva, 1997). Esta locali-dade vivenciou em seu processo histórico organizações que lidaram com relações de trabalho escravo até as atuais unidades semi-autônomas da indústria criativa arte-sanal têxtil. O que se observa nas relações de tra-balho e produtivas na rede organizacional analisada é que a uma conciliação, mesmo que assimétrica, do interesse individual do emprrendedor comerciante pela busca da maximização de seus lucros, a partir de uma base comum de conhecimento produti-vo que viabiliza a remuneração da força de trabalho local que é a detentora do saber artesanal. Tanto o trabalhador do sistema de produção como os empreendedores co-merciantes são afetados em suas ações e atitudes por relações sociais, por exemplo, no recrutamento de trabalhadores ou na subcontratação de subunidades de certas famílias ou de indivíduos de certas locali-dades da zona rural do município que tem reconhecimento local de background arte-sanal. A base familiar e dos demais grupos sociais gera também um aumento da con-fiança entre os atores das comunidades que compõe esta rede organizacional. A hierarquia que foi formalizada em uma rede de produção localizada gerou conseqüências sociais, principalmente no aspecto das ocupações existentes e do perfil dos trabalhadores. Os artesãos que foram uma conseqüência histórica da produção para a subsistência da propriedade rural do século XVIII, assumem no final do século XX um comportamento de um operário da manufatura, já que são trabalhadores espe-cializados do sistema de produção que se dividiu e se especializou para viabilizar a produção em massa de mercadorias de baixo custo unitário. As transações entre as subunidades especializadas foram identifi-cadas pelo artesão clássico que atualmente é o empreendedor comerciante que coorde-na uma organização informal, mas que é hierarquizada entre o proprietário das in-formações e dos canais de comercialização e o produtor especialista, ou seja, o elo entre a demanda e a oferta do mercado ou o elo entre a economia e a comunidade local pro-dutora. A estruturação ou reestruturação da indústria criativa artesanal têxtil local em uma rede semi-autônoma hierarquizada de atores sociais, com papéis definidos no sis-tema produtivo ocorreu com a divisão e especialização do trabalho, que é um acervo comum do conhecimento produtivo comu-nitário deste município. Esta transformaç-ão de uma produção caseira e de subsistên-cia para a principal atividade econômica do município e sua institucionalização é deco-rrente de fatos históricos como, por exem-plo, a decadência da exploração do ouro. A busca pela sobrevivência de indivíduos em sua terra natal tornou natural o processo de transformação da produção artesanal em uma genuína manufatura têxtil, que gera conflitos de poder e econômicos entre seus atores e que por sua vez demandam organi-zações que tem sua base estrutural na so- Gustavo Melo Silva y Jorge Alexandre Barbosa Neves 467 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 ciedade local. A racionalização da estrutura produtiva artesanal local, mesmo que informal, por um lado, ocorre em uma manufatura de produção em massa que é conseqüência da busca da sociedade local pela eficiência econômica organizacional, que ocorre com a operacionalização da produção de baixo custo unitário, como sendo este o diferen-cial competitivo que viabiliza seu sucesso e sobrevivência organizacional. Por outro lado, esta racionalização econômica pode culminar na perda do conhecimento comu-nitário artesanal que é um resultado histó-rico, cultural e social local. A transformação em andamento nesta indústria criativa a descaracteriza e a direciona para um campo do mercado onde o sucesso e a sobrevivên-cia perante os concorrentes da manufatura estão gerando novos problemas para a rede organizacional local. A busca pela redução dos conflitos e por uma eficiência econômica gera e fomenta a continuidade da divisão e especialização do trabalho no sistema de produção artesanal de Resende Costa. A separação das subunidades e sua configu-ração semi-autônoma são controladas a partir de medidas de produtividade que, por um lado, geram o adoecimento dos tra-balhadores e que, por outro lado, geram a perda de conhecimento específico e princi-palmente descaracteriza o processo produ-tivo. A absorção da lógica de padronização da produção, como uma solução ótima do setor produtivo capitalista é contraditória a espe-cificidade deste sistema, que toma esta realidade como verdadeira sem sequer questionar sua aplicabilidade para a reali-dade social em que está imersa, além de desconsiderar sua capacidade de inovação que é comprometida com a transformação em andamento, que busca uma simplificaç-ão e padronização do processo produtivo e decisório desta rede organizacional. A rea-lidade da indústria criativa artesanal têxtil deste município que a cadeia de produção é estruturada em organizações informais que são conseqüências de redes sociais regio-nais que estão impregnadas de conheci-mento produtivo artesanal têxtil e imersas na sociedade local. A necessidade de tra-balho e geração de renda de uma sociedade decadente economicamente foi o estimulo para a resolução deste problema que emer-ge com a concatenação, de um lado, do background existente na sociedade local da produção artesanal têxtil, e por outro lado, pela oferta abundante de refugos da indús-tria têxtil e pelo aumento de demanda por produtos artesanais decorrente da expans-ão das atividades econômicas turísticas no Campo das Vertentes. A expansão do sistema de produção e a formação de redes organizacionais podem ser observadas a partir do comércio. Este setor da indústria criativa artesanal têxtil registrou no período de 1985 a 1995, ou seja, em uma década um crescimento de 2.500%. No setor de cadastros da Prefeitura Municipal de Resende Costa em 1985 esta-va registrado apenas um estabelecimento oficial de artesanato aberto. Uma década depois a relação de contribuintes que exer-cem a atividade de artesãos de portas aber-tas chega a vinte e cinco estabelecimentos oficiais (Santos e Silva, 1997). Organização e trabalho na indústria criati-va artesanal textil O ponto de convergência que viabilizou a aglomeração de indústrias criativas artesa-nais têxteis no município analisado são aspectos históricos, culturais e sociais imersos em contextos organizacionais, que propiciaram o estabelecimento desta rede. Atualmente pode-se perceber a predo-minância absoluta de uma racionalidade econômica e instrumentalista que é deter-minada por expectativas de resultados, ou seja, fins que podem ser calculados. Esta predominância ocorre em detrimento de uma racionalidade substantiva de valor, que seria determinada de forma indepen-dente das expectativas de resultados obje-tivamente mensurados. A racionalidade instrumentalista, conforme Ramos (1981) se torna precária quando considera o ser humano delimitado pela capacidade de realizar cálculos utilitários das conseqüên-cias de suas ações, em que o mercado é o modelo com o qual a vida associada deveria se organizar. O que se constata nas redes organizacionais da indústria criativa arte-sanal têxtil é a opção por um modelo de produção flexível e descentralizado que organiza seus negócios com a possibilidade de aumento e de especialização da produç-ão. 468 Turismo e indústria criativa artesanal textil:… PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 Os sistemas produtivos locais têm como mercadorias bens e serviços artesanais, que possuem diferencial competitivo definido a partir da imersão de variáveis históricas, sociais e culturais regionais, que são forma-tadas por empreendedores locais. O valor destas mercadorias é definido a partir da singularidade do trabalho abstrato que é expresso em bens e serviços regionais. A potencialidade econômica destas mercado-rias é uma conseqüência do desenvolvimen-to do sistema de produção em redes organi-zacionais de indústrias criativas artesa-nais, que são operacionalizadas para aten-der demandas dos mercados e são coorde-nadas localmente pelos empreendedores comerciantes. Atualmente ocorrem novas combinações dos fatores de produção e de novas formas de organização do trabalho executadas pe-los comerciantes locais que transformam atividades tecnológicas, de consumidores e dos produtos que, conforme Thompson (1976) são atividades de saída destas orga-nizações. As modificações e inovações que ocorreram neste sistema de produção viabi-lizaram ganhos competitivos a partir do aumento do fornecimento de matéria-prima, que eram fabricados na própria re-sidência dos artesãos. De um lado, esta inovação gera ganhos econômicos e possibi-lidades de aumento da capacidade de pro-dução e de redução do custo unitário dos produtos. Por outro lado, esta estratégia descaracteriza os sistemas de produção artesanal. As decisões tomadas pelos em-preendedores locais podem ser configura-das, conforme Selznick (1971), como deci-sões rotineiras, ou seja, ações para resolu-ção de problemas diários, de comunicação e comando, de simplificação do trabalho e seleção de pessoal. Estas decisões têm como ênfase o processo de ordenação no funcio-namento regular desta organização, ou seja, uma adaptação estática. Mas atual-mente, a necessidade desta organização é por decisões rotineiras ou também por deci-sões críticas necessárias as suas adaptações dinâmicas? As adaptações atuais necessárias para as organizações artesanais, conforme Selz-nick (1971) podem ser caracterizadas como dinâmicas, ou seja, possuem dimensões administrativas e políticas, que devem moldar os novos processos organizacionais e que demanda de experiência crítica, que é à base da liderança institucional, que ocor-re no domínio da política. Líder que deve lidar com problemas atuais, não por si mesmos, mas de acordo com suas implica-ções em longo prazo para o papel e signifi-cado do grupo. A organização da indústria criativa artesanal têxtil é condicionada pela reação de pessoas e grupos, que com o tem-po tornaram-se padronizadas e criaram uma estrutura social em uma rede organi-zacional, que são infundidas de valor para a comunidade municipal. Pode-se afirmar então que a organização artesanal é uma instituição que é marcada pelo seu com-promisso com valores, ou seja, escolhas de idéias de políticos, quanto à natureza do empreendimento, que até o momento é re-presentada pelo empreendedor comercian-te. O que se coloca para as organizações da indústria criativa artesanal têxtil local no momento são as dificuldades de resgate do conhecimento tácito da produção, que e-mergem com a revalorização do poder do artesão, que a partir de observações atuais enfatizam um processo de resgate das téc-nicas e croquis de peças que estavam aban-donadas nos porões e gavetas dos resende-costenses. Conforme Thompson (1976), como as coalizões dominantes não são fixas e estáticas, será que está em andamento uma nova coalizão dominante ou os empre-endedores comerciantes irão se ajustar novamente ao sistema aberto em que estas organizações se encontram? Parece existir uma incapacidade na coalizão dominante existente entre comerciantes e trabalhado-res especialistas artesanais nas crenças de causa-e-efeito a serem usadas na decisão de retorno a procedimentos e rotinas artesa-nais, já que existem informações incomple-tas sobre a realidade desta demanda dos consumidores. O atendimento das necessi-dades dos consumidores está sendo resolvi-dos com a importação de produtos semima-nufaturados de outras regiões do país, que, por sua vez, geram uma ameaça ao grupo dominante, os comerciantes, por promove-rem um descontentamento dos demais gru-pos da rede organizacional da indústria criativa artesanal têxtil, com a expansão comercial desvinculada da produção local. A estruturação e burocratização atual desta rede organizacional foram construídas com Gustavo Melo Silva y Jorge Alexandre Barbosa Neves 469 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 a tendência da criação de rotinas. Conforme Perrow (1972), a tecnologia pode utilizar de rotina devido a um conhecimento suficiente sobre projetos, produção e distribuição de mercadorias, além da existência de um mercado suficiente para absorver grande volume de produção. Mas o que ocorre atu-almente é a necessidade de organizações que demandarão tipos de trabalhos execu-tados diferenciados e que consequentemen-te modificarão a estrutura organizacional. A organização da indústria criativa ar-tesanal deste município possui uma estru-tura produtiva que é dividida nas funções de comerciantes, fornecedores, tecelões e picadores. Os trabalhadores são especialis-tas nas atividades produtivas de tecer e picar retalhos e são atualmente capacitados tecnicamente. Estas especificidades, con-forme Weber (2002) caracteriza o funcio-namento da burocracia moderna. A especia-lização que ocorre via o saber técnico de todo o processo produtivo alimenta a auto-ridade hierárquica, que neste caso reside na função do empreendedor comerciante, ou seja, o antigo artesão conhecedor de todo o processo de produção, que nas últimas duas décadas do século XX, a partir de aspectos do ambiente organizacional empreendeu a estruturação de redes organizacionais de produção artesanal, para a efetivação da indústria criativa municipal. O desenvolvimento da rede organizacio-nal de indústrias criativas artesanais têx-teis pode ser compreendido, fazendo-se uso da abordagem de Crozier (1981), por meio do estudo das tomadas de decisão, incluin-do o cálculo racional, mas também as limi-tações e constrangimentos de ordem afetiva definidas por aspectos históricos, culturais e peculiaridades enraizadas em contextos organizacionais e concretizadas em suas mercadorias. O empreendedor comerciante vem enfrentando ao mesmo tempo em todos os níveis, as exigências de uma racionali-dade utilitária e a resistência dos meios humanos, que conforme Crozier (1981) con-figuram um problema de poder. O comerciante tem tido como função co-ordenar e liderar os negócios integrados em uma rede de relacionamento das unidades organizacionais e produtivas, ocupando um papel central nesta rede organizacional da indústria criativa artesanal têxtil. Papel que tem como principal meio de ação, con-forme Crozier (1981), a manipulação das informações ou regulamentação do acesso a estas, que é referente à fonte de insumos e potencias de mercado. Informações que lhe dão possibilidades de predição, que resul-tam em possibilidades de controle e poder, que conforme Crozier (1981) pode ser um poder hierárquico funcional ou de perito. Ou seja, um poder hierárquico funcional, já que além de possuir uma posição hierárqui-ca superior na estrutura organizacional, proporcionada em algumas relações pela propriedade dos meios de produção e pelas informações estratégicas do mercado. Mas também um poder de perito, já que com o processo de divisão e especialização do tra-balho o comerciante é atualmente o conhe-cedor de toda a técnica de produção, já que no processo de desenvolvimento organiza-cional o artesão foi desapropriado deste conhecimento. Poder adquirido pelo especi-alista comerciante em função das dificulda-des que as organizações artesanais tiveram com os fenômenos econômicos decorrentes da passagem de uma atividade produtiva de auto-subsistência para uma atividade produtiva em massa. A organização atual e a expansão co-mercial do sistema de produção desta in-dústria criativa, fazendo-se uso da aborda-gem de Merton (1967) expõe as disfunções da burocracia, principalmente, na proteção de elites técnicas, que neste caso aplicado as elites comerciantes, que se escondem na impessoalidade do tratamento de tarefas e procedimentos, mas que os interessados, ou seja, os clientes podem fazer um protesto eficaz, transferindo seu negócio à outra organização dentro do sistema competitivo, que é viabilizado pelo próprio comerciante que aumenta seu portfólio com produtos de origem de outros municípios. O processo de burocratização, fazendo-se uso da abordagem de Prates (2000) pode ser visto como um processo de dominação e disciplina da força de trabalho, por um la-do, como uma tentativa de reestruturação da base de autoridade no interior organiza-cional, por outro lado, uma tentativa de ocupar um espaço mais central na socieda-de política para legitimar sua autoridade na sociedade global. A busca pela burocra-tização das organizações da indústria cria-tiva artesanal têxtil local pode ser compre-endida da mesma forma, ou seja, pode ter 470 Turismo e indústria criativa artesanal textil:… PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 sido motivada pela absorção da lógica, de forma comparativa, por parte do comer-ciante de que dividido e especializado o trabalho vivo poderia ser controlado, além de ser dominado pela falta de conhecimento de todo o processo produtivo. A utilização da racionalidade técnica ou a opção por esta escolha então não seria justificada sim-plesmente pela eficiência econômica, mas também pela relação de poder existente os atores sociais envolvidos no sistema de produção artesanal têxtil. A ação racional destes atores está rela-cionada com o contexto social regional desta indústria criativa artesanal têxtil, que mos-tra uma correlação da ação organizacional com a realidade da sociedade. Para com-preender a realidade das transformações organizacionais ocorridas no caso analisado devem ser identificadas as relações existen-tes entre a sociedade e os fenômenos econômicos que se materializaram no dia-a-dia, nos procedimentos das organizações, por meio das ações dos tomadores de decis-ão desta organização, que expressão com-portamentos que são influenciados por in-divíduos e grupos. O comportamento coope-rativo nas organizações, conforme Barnard (1971) ocorre a partir da necessidade do individuo atingir propósitos para os quais ele próprio é biologicamente inapto. A or-ganização de negócios, motivos, interesses e processos não-econômicos, tanto quanto econômicos, são todos fundamentais no procedimento das organizações (Barnard, 1971). A organização reflete a sociedade e ab-sorve os fatores externos ao seu ambiente interno. Estas incorporam elementos so-cialmente legitimados e racionalizados em suas estruturas formais maximizando sua legitimidade e aumentando seus recursos e capacidade de sobrevivência. A sobrevivên-cia está vinculada à elaboração de mitos institucionais racionalizados que geram a conformidade organizacional com os mitos institucionais e com a eficiência organiza-cional, que proporciona legitimidade, recur-sos e conseqüentemente a sobrevivência. Mas a institucionalização das organizações gera inconsistências já que há geração de conflitos onde a eficiência, a coordenação e o controle são rigorosos. Os esforços para coordenar e controlar as atividades nas organizações institucionais gera conflitos e perda de legitimidade. Quanto mais a es-trutura de uma organização deriva de mi-tos institucionalizados, mais se mantém a ostentação de confiança, satisfação e boa fé, internas e externas. As organizações insti-tucionalizadas para minimizar os efeitos dos conflitos procuram reduzir ao mínimo a inspeção e a avaliação tanto por parte dos gerentes internos como dos componentes externos (Meyer e Rowan, 1991). A busca por uma redução dos conflitos e por uma eficiência econômica são objetivos coletivos da indústria criativa artesanal têxtil local, que gera e fomenta a continui-dade da divisão e especialização do trabalho analisada. A separação das subunidades e sua configuração semi-autônoma controla-da a partir de medidas de produtividade geram o adoecimento dos trabalhadores, perda de conhecimento específico e princi-palmente descaracterização do processo produtivo. Conforme Oliveira e Echter-nacht (2005), a atual organização do tra-balho, dividido e especializado, e a remune-ração por produtividade interferem opera-cionalmente no processo produtivo imerso nesta indústria criativa artesanal têxtil. A interferência essencial está na intensificaç-ão e aumento dos ritmos de trabalho, que tem possivelmente como conseqüência o aparecimento de sintomas de dores muscu-loesqueléticas. A definição da estratégia, que orienta o processo de tomada de decisão, da rede organizacional da indústria criativa arte-sanal têxtil local deveria levar em conside-ração as visões sobre as capacidades e fina-lidades humanas, que conforme Whitting-ton (2002) tem como questões fundamentais posições filosóficas. Para este autor os pro-cessos racionais e analíticos, que deveriam predominar sobre os processos de negocia-ção do desenvolvimento organizacional de-pendem, para que sejam viáveis, da condi-ção de existência de objetivos operacionais comuns de todos os atores envolvidos. As decisões estratégicas integrariam a partir dos dados operacionais que definem um processo analítico e de sua falta, as partes constitutivas do processo de negociação. Negociação que, atualmente, na rede orga-nizacional da indústria criativa artesanal têxtil se fundamenta, pelo lado, da classe dos trabalhadores com objetivos de subsis-tência e de satisfação de suas necessidades Gustavo Melo Silva y Jorge Alexandre Barbosa Neves 471 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 fisiológicas. E, pelo lado, dos empreendedo-res comerciantes com objetivos de maximi-zação e acumulação de lucros de suas uni-dades comerciais, com o abandono de prin-cípios objetivos de continuidade e sustenta-bilidade das atividades artesanais locais como uma instituição municipal. Considerações O estado brasileiro de Minas Gerais, on-de está localizado o município de Resende Costa, conforme dados da Fundação João Pinheiro (FJP, 2000) tem em 1991 um Índi-ce de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,697 e em 2000 um índice de 0,773. Re-sende Costa em 1991 tem um IDH de 0,573 e em 2000 um índice de 0,619 (FJP, 2000). Estes dados sinalizam que o município tem uma média inferior a do Estado, mas que houve melhoria no índice na década anali-sada. Outro dado importante para a carac-terização socioeconômica do município e para evidenciar seu desenvolvimento so-cioeconômico local é que em 1991 os pobres representavam 54,51% da população e em 2000 representavam 40,69% (FJP, 2000). Em Resende Costa, as atividades econômi-cas produtivas decorrentes da herança do artesanato têxtil compõem um elo da cadeia de suprimentos das atividades turísticas regionais que possibilitam a geração de trabalho e renda no município. As decisões tomadas pelo empreendedor comerciante desta indústria criativa arte-sanal têxtil não podem ser compreendidas somente como decisões unitárias de merca-do que buscam a eficiência econômica. Este ator social desta rede tem subjetivamente informações que emergiram de uma reali-dade histórica, cultural e social comum a todos os moradores deste município. A par-tir do momento que este se posiciona no mercado não como um artesão ou um tra-balhador especializado, mas como um co-merciante responsável pelo processo decisó-rio desta rede social, este passa a represen-tar não só seus interesses pessoais, mas também os interesses do grupo de trabal-hadores e cidadãos locais. A rede social e organizacional de indús-trias criativas artesanais deste município, por um lado, viabilizou o atendimento das demandas do mercado regional turístico por mercadorias artesanais e, por outro lado, proporcionou aos indivíduos e a sociedade maior local a subsistência de trabalhadores e de suas famílias que não possuíam alter-nativas de ocupação e geração de renda. Esta organização foi possível a partir da inovação coordenada pelo empreendedor comerciante de correlacionar o background, ou seja, o conhecimento produtivo comu-nitário com a demanda turística regional por mercadorias artesanais. As organizaç-ões existentes na rede analisada são elos entre a micro-esfera econômica e a socieda-de local, que durante seu processo de de-senvolvimento tiveram por meio de seus tomadores de decisão que resolver proble-mas, que foram estímulos de programas de ação organizacionais que foram influencia-das por valores e normas sociais. Existem conseqüências não intencionais na organização do sistema de produção artesanal local, que são expressas nas difi-culdades de resgate do conhecimento tácito da produção, que emergem com a revalori-zação do poder do artesão, que a partir de observações atuais enfatizam um processo de resgate das técnicas e croquis de peças que estavam abandonadas nos porões e gavetas dos moradores locais. A necessida-de de legitimação do conhecimento específi-co artesanal local é importante, já que as objetivações da ordem institucional, no caso desta indústria criativa têm um sentido histórico e devem ser transmitidos a novas gerações para que os processos produtivos tenham continuidade. A realização do potencial existente do mercado de bens simbólico-culturais de-manda uma parceria efetiva entre o Esta-do, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada. O mercado no atual estágio de desenvolvimento das forças produtivas do setor, não dá conta, isoladamente, dos desa-fios existentes, que mostram a cultura como um setor estratégico para o desenvolvimen-to sustentável por apresentar externalida-des para outras dimensões da vida de co-munidades como, por exemplo, na econo-mia, política, saúde, educação, desempenho profissional, ou seja, em várias dimensões da vida humana. Referências Abreu, Joao 2002 Estratégia e oportunidades locais: um 472 Turismo e indústria criativa artesanal textil:… PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 estudo sobre rede dinâmica em aglome-rados de empreendedores de base arte-sanal. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção). Rio de Janeiro: COP-PE/ UFRJ. Álvares, Lucia Capanema. e Carsalarde, Flavio de Lemos. 2005 “Planejamento e Gestão de Políticas Públicas para o Turismo Sustentável: O Caso do Programa Estrada Real”. Puc Minas – Revista de Turismo, V. 1, n. 1. Barnard, Chester 1971 “Considerações Preliminares sobre os Sistemas Cooperativos” em Barnard, Chester As Funções do Executivo (13- 76). São Paulo: Atlas, 1971. Castells, Manuel 1999 “A sociedade em rede” em A era da informação: economia, sociedade e cultu-ra; v.1. São Paulo: Paz e Terra. Crozier, Michel 1981 O Fenômeno Burocrático. Brasília: Universidade de Brasília. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. 2000 Atlas do Desenvolvimento Humano. Belo Horizonte: FJP/IPEA/PNUD. Gereffi, G., korzeniewicz, M. e korzenie-wicz, R. P. 1994 “Introduction: Global Commodity Chains” em Gereffi, Gary e korzenie-wicz, Miguel (eds.). Commodity Chains and Global Capitalism. London: Praeger Publishing. Grannovetter, Mark 2002 “Economic Action and Social Struc-ture: The Problem of Embeddedness” em Biggart, Nicole (Ed.). Readings in Eco-nomic Sociology (154-167). Malden-MA: Blakwell Publishers. Hartley, John 2005 Creative industries. Londres: Black-well. Hassler, Markus 2003 “The Global Clothing Production Sys-tem: Commodity Chains and Business Networks”. Global Networks, v.3, n.4: 513-531. Hopkins, Terence e wallerstein, Immanuel 1994 “Commodity Chains in the Capitalism World-Economy Prior to 1800” em Ge-reffi, Gary e korzeniewicz, Miguel (eds.). Commodity Chains and Global Capital-ism (17-50). London: Praeger Publisher. Jackson, Peter 2002 “Commercial Cultures: Transcending the cultural and the economic”. Progress in Human Geography, v. 26, n.1: 3-18. Kiely, Ray 1998 “Globalization, post-fordism and the Contemporary Context of Development”. International Sociology, v. 13, n. 1: 95- 115. Merton, Robert 1967 “Estrutura Burocrática e Personali-dade” em Etzioni, A, (Ed.). Organizações Complexas (271-283). São Paulo: Atlas. Meyer, John e Rowan, Brian. 1991 “Institucionalized Organizations: Formal Estructure as Myth and Cere-mony” em Meyer, John e Rowan, Brian. The New Institucionalism in Organiza-tional Analysis (41-62). Chicago: Uni-versity of Chicago Press. Oliveira, Alessandra Barbosa de e Echter-nacht, Eliza Helena de Oliveira 2005 “A organização do trabalho de um aglomerado produtivo de base artesanal como determinante na produção das DORT”. 2ª Jornada de Ergonomia da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Oliveira, Silvana Toledo de e Januário, Marcus Vinicius da Costa 2007 “O Turismo em São João Del Rei – Minas Gerais: Uma análise preliminar”. Cultur Universidade Estadual de Santa Cruz, BA, Ano 1, n. 1. Disponibilidade e acesso: < http://www.uesc.br/revistas/culturaeturi smo/edicao1/artigo1.pdf> Acesso em: 16/01/2008. Porter, Michael 1998 “Clusters e a Nova Competição Eco-nômica”. Harvard Business Review, Nov./Dez: 77-92 Prates, Antonio Augusto Pereira 2000 “Organização e Instituição no Velho e Novo Institucionalismo” em Rodrigues, Susana e Cunha, Miguel (eds.). Novas Perspectivas na Administração de Em-presas (90-105). São Paulo: Iglu. Ramos, Alberto 1981 A Nova Ciência das Organizações: Uma Reconceitualização da Riqueza das Nações. Rio de Janeiro: Fundação Getú-lio Vargas. Santos, Carlos Lopes e Silva, Gustavo Melo 1997 Tear: Artesanato de Resende Costa. São João del-Rei: Funrei. Gustavo Melo Silva y Jorge Alexandre Barbosa Neves 473 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 Santos, Carlos Lopes; Silva, Gustavo Melo e moretti, Alba Regina 1998 Artesanato: Contando Teares. São João del-Rei: Ed. Funrei. Selzinick, Philip 1971 A Liderança na Administração: Uma Interpretação Sociológica. Rio de Janei-ro: FGV. Shorthose, Jim 2004 “More critical view of the creative industries: production, consumption and resistance”. Capital & Class, 84: 1-9. Silveira, Teixeira 2006 “Da. Impactos do Turismo no Carna-val de Tiradentes: A Visão da Comuni-dade” em IV Seminário de Turismo do Mercosul. Disponibilidade e acesso: < http://www.ucs.br/ucs/tplSemMenus/pos gradua-cao/ strictosensu/turismo/seminarios/sem inario_4/arquivos_4_seminario/GT04- 5.pdf > Acesso em: 16/01/2008. Souza, Yeda Swirski de e Souza, Keila de 2004 “Relações Cooperativas entre Peque-nas e Médias Empresas: um estudo de caso no arranjo coureiro calçadista do Vale dos Sinos (RS-BRASIL)” em do 3º Encontro de Estudos Organizacionais (ENEO), Anais... São Paulo, SP: ENEO. Suzigan, Wilson; Garcia, Renato; Furtado, Joao 2002 Clusters ou Sistemas Locais de Pro-dução e Inovação: Identificação, Carac-terização e Medidas de Apoio. Disponível em http://geein.fclar.unesp.br/atividades/pes quisaclus-ter/ IEDI_20030516_clusters.pdf. Thompson, James 1976 Dinâmica Organizacional: Fundamen-tos Sociológicos da Teoria Administrati-va. São Paulo: McGraw-Hill. Vieira Filho, Nelson Antonio; Duarte, Ga-briela e Souza, Talita Rezende 2006 “Os Impactos Turísticos sobre a Arte e Artesanato em Tiradentes, Minas Ge-rais” em IV Seminário de Turismo do Mercosul, Anais...Caxias do Sul, RS, Brasil, Disponibilidade e acesso: < http://www.ucs.br/ucs/tplSemMenus/pos gradua-cao/ strictosensu/turismo/seminarios/sem inario_4/arquivos_4_seminario/GT04- 10.pdf > Acesso em: 16/01/2008 e 8 de Julho de 2006; Weber, Max 2002 Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: LTC Editora. Whittington, Richard 2002 O que é estratégia? São Paulo: Pionei-ra Thompson Learning. Recibido: Reenviado: 01/06/2009 18/09/2009 Aceptado: 25/09/2009 Sometido a evaluación por pares anónimos
Click tabs to swap between content that is broken into logical sections.
Calificación | |
Título y subtítulo | Turismo e indústria criativa artesanal têxtil: expansão comercial e perda de identidade cultural no Brasil no final do século xx |
Autor principal | Melo Silva, Gustavo ; Barbosa Neves, Jorge Alexandre |
Publicación fuente | Pasos. Revista de turismo y patrimonio cultural |
Numeración | Volumen 07. Número 3 |
Sección | Artículos |
Tipo de documento | Artículo |
Lugar de publicación | El Sauzal, Tenerife |
Editorial | Universidad de La Laguna |
Fecha | 2009-10 |
Páginas | pp. 461-473 |
Materias | Turismo ; Patrimonio cultural ; Publicaciones periódicas |
Enlaces relacionados | Página web: http://todopatrimonio.com/revistas/101-pasos-revista-de-turismo-y-patrimonio-cultural |
Copyright | http://biblioteca.ulpgc.es/avisomdc |
Formato digital | |
Tamaño de archivo | 147921 Bytes |
Texto | Vol. 7 Nº3 págs. 461-473. 2009 www.pasosonline.org © PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121 Turismo e indústria criativa artesanal têxtil: expansão comercial e perda de identidade cultural no Brasil no final do século xx Gustavo Melo Silva i Universidade Federal de Viçosa (Brasil) Jorge Alexandre Barbosa Neves ii Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil) Resumo: Este trabalho partir de dados secundários e de observações participantes descreve e analisa o desenvolvimento socioeconômico da indústria criativa artesanal têxtil de um município do estado brasi-leiro de Minas Gerais. A formação histórica de sua cadeia de produção é marcada por organizações que lidaram com relações de trabalho escravo até unidades semi-autônomas de produção. A organização desta indústria criativa possui uma estrutura produtiva que é dividida e especializada. O comerciante coordena e inova os negócios integrados em uma rede de relacionamento de unidades comerciais e pro-dutivas. O processo de desenvolvimento organizacional, a partir da divisão do trabalho, e da expansão comercial tem gerado como conseqüência não intencional a perda de conhecimento local sobre as técni-cas artesanais bicentenárias. Palavras-Chave: Turismo, Indústrias triativas; Artesanato têxtil; Divisão do trabalho; Resende Costa. Abstract: This work to leave of secondary data and participant comments describes and analyzes the social and economic development of the creative industry artisan of a city of the Brazilian state of Minas Gerais. The historical formation of its chain of production is marked by organizations that production half-autonomous worker deal with relations of enslaved work until units. The organization of this crea-tive industry processes a productive structure that is divided and specialized. The trader co-ordinates and innovates the businesses integrated in a net of relationship of commercial and productive units. The process of organizational development, from the division of the work, and the commercial expansion has generated as not intentional consequence the loss of local knowledge on the bicentennial artisan tech-niques. Keywords: Tourism, Creative industries; Textile of artisan; Division of the work; Resende Costa. i Gustavo Melo Silva é doutorando em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Professor da área de Administração, Estudos Organizacionais e Desenvolvimento Local na Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail: gustavomelo@ufv.br ii Jorge Alexandre Barbosa Neves é doutor em Sociologia pela University of Wisconsin (Madison/EUA) e Professor da área de Sociologia do Desenvolvimento, Estudos Organizacionais, Gestão Pública e Métodos Quantitativos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail: jorgeaneves@gmail.com 462 Turismo e indústria criativa artesanal textil:… PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 Introdução O Campo das Vertentes, mesorregião do estado brasileiro de Minas Gerais tem hoje uma série de atividades econômicas turísti-cas que são viabilizadas pelo contexto his-tórico, políticas públicas e o interesse da iniciativa privada, que conforme Oliveira e Januário (2007) estão presentes no entorno das cidades de São João del-Rei e Tiraden-tes. Estas duas cidades vêm ganhando in-vestimentos com programas de governo como, por exemplo, o “Programa de Incenti-vo ao Desenvolvimento do Potencial Turís-tico da Estrada Real” e a formação do “Cir-cuito Turístico Trilha dos Inconfidentes”, que são políticas de Estado em prol do de-senvolvimento do setor turístico nesta regi-ão. O cenário regional socioeconômico a partir da década de 1980 do século XX é caracterizado pelo potencial turístico, prin-cipalmente pelo turismo relacionado com o patrimônio histórico e cultural regional, que está relacionado com a exploração do ouro no século XVIII e que atualmente tem como maior desafio a sustentabilidade da atividade econômica na região (Álvares e Carsalade, 2005). Pesquisas realizadas nesta região como as de Álvares e Carsala-de (2005), Silveira (2006), Vieira Filho et al. (2006) e Oliveira e Januário (2007) apon-tam problemas que ocorrem em momentos de pico de demanda como, por exemplo, na festa popular brasileira do carnaval, que conforme Silveira (2006) são causados pela capacidade de infra-estrutura urbana e dos pontos receptivos, além do volume da polui-ção ambiental e dos impactos nos bens cul-turais imateriais. Mas a mesma atividade turística que, por um lado, em momentos de grande mo-vimentação de pessoas gera problemas para a comunidade local, por outro lado, possibi-litou para Tiradentes, por exemplo, a reto-mada de atividades produtivas artesanais em prata. A atividade turística também incentivou a produção artesanal em outras cidades vizinhas. O turismo em São João Del-Rei e Tiradentes beneficiou, por exem-plo, o município de São João del-Rei, com a produção de peças de estanho, Resende Costa com o tear manual e Prados com es-culturas de madeira. O aumento da de-manda pela produção artesanal local, con-forme Vieira Filho et al. (2006) vêm trazen-do questionamentos sobre os impactos na cultura material como, por exemplo, o arte-sanato e imaterial como, por exemplo, as danças típicas, manifestações religiosas, músicas e outras que podem desaparecer ou ter seu significado e formas alteradas pela comercialização. O turismo representa para realidade de alguns municípios brasileiros um conjunto de atividades econômicas importantes para sua dinâmica socioeconômica. Este artigo analisa a atividade turística associada ao patrimônio arquitetônico e cultural regio-nal, que no município de Resende Costa propiciou um sistema produtivo artesanal têxtil que fornece produtos para cadeia produtiva turística local. O desenvolvimen-to socioeconômico deste município pode ser analisado a partir das mudanças nas orga-nizações e no trabalho da rede de pequenas indústrias criativas artesanais de produção de utensílios domésticos e peças decorati-vas têxteis. A gestão integrada das peças e processos desta indústria criativa está in-corporada às necessidades de desenvolvi-mento socioeconômico local e apontam esta economia criativa como uma alternativa de geração de trabalho, renda e uma possibili-dade concreta de desenvolvimento local. O gerenciamento é exercido por artesãos com baixa formação escolar, característica esta que é incapaz de inibir uma organização informal que conjuga talento artístico, con-tratações, aquisição de matérias-primas, produção e lucro por meio de uma produção artesanal, que propicia melhoria da quali-dade dos produtos e de vida dos grupos sociais envolvidos. A gestão destes negócios utiliza atualmente práticas como a divisão das tarefas e a especialização do trabalho, controle rígido da produção e salário basea-do em produtividade. As atividades econômicas relacionadas com a cultura atualmente são consideradas como atividades da economia criativa. As indústrias criativas, conforme Oakley (2004) e Uricchio (2004) incluem as seguin-tes atividades econômicas: antiguidades, arquitetura, arte, artesanato, artes per-formáticas, design, design de moda, edito-ras, filme e vídeo, jogos de computador, música, publicidade, serviços de software e computadores, TV e rádio. Conforme Caves (2002) a criatividade é um insumo funda- Gustavo Melo Silva y Jorge Alexandre Barbosa Neves 463 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 mental do processo de produção destas indústrias, que para Potts et.al. (2008) tem sua organização estruturada em redes so-ciais entre seus atores. Mesmo ganhando atenção em países como Inglaterra e Austrália os estudos das indústrias criati-vas demandam novas perspectivas de aná-lise como, por exemplo, as que descrevam, mapeiem, quantifiquem e identifiquem o setor (Hartley, 2005). As indústrias criati-vas, conforme Shorthose (2004) vem abor-dando a cultura a partir de uma lógica econômico-comercial, que revela novas tramas em que estão relacionados consu-midores, atividades industriais ou semi-manufaturas das artes criativas numa perspectiva do capitalismo contemporâneo. As questões que são postas na relação entre os campos da cultura e da economia, devem considerar a escala e amplitude do mercado global de bens e serviços simbólico-culturais, sua preservação e os possíveis ganhos econômicos e de desenvolvimento local de comunidades envolvidas em seus processos. Este trabalho analisa dados secundários coletados por Santos et al. (1997) e de ob-servações participantes realizados entre os anos de 2004 e 2009 em 10 domicílios pro-dutores, na Associação de Artesãos de Re-sende Costa (ASARC) e com 03 dos comer-ciantes com estabelecimentos em funcio-namento a aproximadamente 20 anos. O artigo descreve e analisa o desenvolvimento socioeconômico do município de Resende Costa a partir da sua rede organizacional de indústrias criativas. As organizações de fundo de quintal vivenciam os benefícios e os problemas das fronteiras entre as di-mensões comerciais e artísticas na conduç-ão dos negócios em sua economia criativa. Iremos nos dedicar especificamente neste trabalho a indústria criativa artesanal têxtil, que tem como seu output um produ-to, uma mercadoria artesanal e como input, por um lado, linhas, equipamentos, infor-mações, mas por outro lado, insumos es-pecíficos artesanais da comunidade local como, os teares de madeira e seu conheci-mento que pode ser compreendido como um serviço produtivo artesanal. Indústria Criativa Artesanal Têxtil de Re-sende Costa Os sistemas produtivos sejam da indús-tria automobilística, de alimentos ou até mesmo da indústria criativa vêm passando por uma desagregação de estágios de pro-dução e consumo por meio de limites nacio-nais subordinados a densas estruturas or-ganizacionais de redes de firmas, que atuam em cadeias de produção. A operacio-nalização de uma nova divisão global do trabalho mais flexível demanda a redução do custo do trabalho via a subcontratação de serviços produtivos em cadeias produti-vas. A análise dos sistemas produtivos e organizacionais a partir de commoditys chains são uma alternativa para limitações da integração vertical de empreendimentos. Estes modelos de organização social, econômica e produtiva são responsáveis pela coordenação de sistemas de produção, que podem inclusive ter configurações ge-ográficas transnacionais, mas que também são sinônimos de uma hierarquia corpora-tiva que pode ser definida, conforme Gereffi e Korzeniewicz (1994), a partir de duas tipologias: producer–driver e buyer-driver. As cadeias gerenciadas pelos producer-driver são caracterizadas pela coordenação de um produtor e as gerenciadas pelos bu-yer- driver por um comprador (Gereffi e Korzeniewicz, 1994; Hassler, 2003). A cadeia de produção é uma rede orga-nizacional e de trabalho. As características de localização dos elos ocorrem a partir de definições geográficas, de números de dife-rentes mercadorias, das relações existentes entre a propriedade e a unidade de produç-ão, dos modelos de controle do trabalho e das ligações e integrações verticais existen-tes (Hopkins e Wallerstein, 1994; Kiely, 1998; Jackson, 2002). A economia global não abrange e inclue todos os processos econômicos, territórios e atividades das pessoas, mas afeta indiretamente a vida e a estrutura social de toda a humanidade. As revoluções nos sistemas de produção indus-trial difundiram-se por todo o sistema econômico e permearam todo o tecido social (Castells, 1994). Mas pode-se perceber que as influências das mudanças ocorridas no setor industrial ocorreram também na 464 Turismo e indústria criativa artesanal textil:… PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 indústria criativa artesanal têxtil local analisada neste artigo, por meio de inovaç-ões tecnológicas nos insumos, mas também em aspectos organizacionais e de gerencia-mento, que vem permeando o tecido social regional daqueles que sobrevivem desta rede organizacional local, que também pode ser denominada, conforme Abreu (2002), como um aglomerado de produção artesanal composto por vários empreendimentos de base artesanal, que compõe o setor turístico regional. Estes aglomerados de produção ou clus-ters são concentrações de empresas e insti-tuições inter-relacionadas de um determi-nado setor. Pode ser considerada uma tipo-logia de rede organizacional de concentraç-ão setorial e geográfica, caracterizada pelo ganho de eficiência coletiva. Pode-se incluir aí, não somente as diretamente ligadas ao produto, mas todo o conjunto de atores que lida e interage de alguma forma com o clus-ter ou seu produto em foco. A concentração geográfica permite que os componentes do cluster possuam vantagens competitivas de várias formas, como aumento da produtivi-dade, direção e facilidade para inovação, estímulo para formação de novos negócios, dentre outros (Porter, 1998). Os aspectos mais relevantes que justifi-cam a estruturação em redes organizacio-nais ou via arranjos produtivos locais, con-forme Suzigan et al. (2002) são os seguin-tes: economias externas locais, forma de organização, coordenação e condicionantes históricos, institucionais, sociais e cultu-rais. As redes organizacionais se configu-ram como relações de cooperação entre pe-quenas e médias empresas com o intuito estratégico de aprimoramento tecnológico e gerencial, para melhoria de posicionamento competitivo, mas seu estabelecimento não ocorre de forma natural e espontânea, de-pendendo de políticas e diretrizes definidas por atores de fomento regional (Souza e Souza: 2004). A formação das redes organi-zacionais da indústria criativa artesanal têxtil local não ocorreu via um ator de fo-mento regional. Inclusive, a falta de um ator responsável pelo fomento e gerencia-mento regional da rede organizacional vem gerando problemas como serão tratados neste artigo. A análise da cadeia de produção da indústria criativa artesanal têxtil do mu-nicípio de Resende Costa é caracterizada por pontos que estão estruturados nas va-riáveis históricas, sociais e culturais e no envolvimento produtivo de grande parte de sua população que, conforme Santos et al. (1998) envolvem diretamente 38% dos mo-radores da sede do município. Além de es-tar aproximadamente há 20 anos enraizada nesta comunidade como uma atividade econômica e social de importância para a geração de trabalho e renda regional (San-tos e Silva, 1997). Os colonizadores de meados do século XVIII da região do município analisado ao introduzirem o conhecimento e a técnica artesanal possibilitaram o desenvolvimento de produtos para abastecer a propriedade rural. Neste sentido, o perfil do trabalhador e para quem os produtos eram destinados está ligado a um ciclo de negócios específico deste período, onde a subsistência da pro-priedade rural era a razão para sua produ-ção. As variáveis históricas deste município têm sua origem em 1749, quando foi ergui-da uma capela no lugar denominado “La-ge”. A origem atual do nome do município está no fato de dois de seus primeiros mo-radores terem ligado seus nomes à história de Minas Gerais e do país com o envolvi-mento na Inconfidência Mineira. Estas variáveis históricas são decorrentes da he-rança da colonização portuguesa e da ex-ploração do ouro que trouxeram escravos, senhores de engenho e também seus teares para Resende Costa (Santos e Silva, 1997). Os colonizadores trouxeram para este município, o conhecimento da tecelagem artesanal, que atualmente movimenta sua economia, mas tanto o processo como os produtos vêm passando por modificações (Abreu, 2002). Sistemas produtivos que inicialmente eram desenvolvidos para auto-subsistência da propriedade rural, mas que hoje são sofisticados no sentido de sua or-ganização e das relações de trabalho exis-tentes. A organização do trabalho era ca-racterizada por um artesão que dominava todo o processo de produção, mas atual-mente é divida e especializada por funções e produtos. No município de Resende Costa, conforme Santos et al. (1998) existem tra-balhadores especializados na tecelagem, na picação de retalhos da indústria têxtil, no processo de fiação e até mesmo divisões e especializações do trabalho conforme o tipo Gustavo Melo Silva y Jorge Alexandre Barbosa Neves 465 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 de produto como, por exemplo, tecelões es-pecializados em tapetes e colchas de diver-sas dimensões, caminhos de mesa, etc. O desenvolvimento socioeconômico da rede organizacional da indústria criativa artesanal pode ser compreendida a partir dos empreendimentos que se materializa-ram em novas combinações desenvolvidas pelos comerciantes locais, que atuam com sua racionalidade empreendedora. Como por exemplo, no caso de Resende Costa onde a proximidade geográfica de pólos produtivos da indústria têxtil mineira de meados do século XX como São João del- Rei, Divinópolis e Juiz de Fora possibilitou o aproveitamento do refugo das malharias como matéria-prima para sua produção artesanal (Santos e Silva, 1997). Esta nova combinação da ferramenta tear de madeira com o refugo da indústria têxtil é fruto de tomadas de decisões, que foram realizadas por comerciantes artesãos com o intuito de viabilizar a produção em massa. Atualmente ocorrem novas combinações dos fatores de produção e de novas formas de organização do trabalho executadas pe-los comerciantes locais, o homo economicus imerso neste território municipal. Nas últimas décadas o sistema de produção artesanal deste município vem sofrendo modificações em sua cadeia de produção. Não só em relação à matéria-prima como, por exemplo, o algodão que antes era culti-vado na região e que hoje não é mais, como também no perfil da mão-de-obra e nas características dos processos. O processo de divisão e especialização do trabalho que vem ocorrendo nas últimas duas décadas na economia criativa em Resende Costa foi gerado pela busca de uma produção em grande escala ou em massa. Atualmente, a rede organizacional da indústria criativa artesanal têxtil local movimenta, conforme Santos et al. (1998) aproximadamente 495 teares com uma produção mensal, por exemplo, de 34.558 tapetinhos lisos, 2.206 passadeiras, 4.045 tapetinhos de bico, 1.390 colchas lisas, que são os mais seguinificati-vos itens entre os 20 produtos identificados no seu portfólio produção. A flexibilidade e especialização da estrutura social do tra-balho local é explicitada em redes organiza-cionais de produção artesanal especializa-das, que estão se difundindo e expandindo. A divisão e especialização é um fato im-portante para compreender a realidade das mudanças que estão ocorrendo e viabili-zando ganhos de produtividade via escala e diversificação de produtos nas organizações da indústria criativa artesanal têxtil local. Além de ser uma contradição que se coloca ao sistema de produção artesanal, já que o artesão clássico vem sendo substituído por classes de trabalhadores especializados em determinadas atividades do processo de produção ou até mesmo por produtos. Em pesquisa realizada por Santos et al. (1998) foram identificadas as seguintes funções na rede organizacional de produção artesanal de Resende Costa: picadores, tecelões, ven-dedores de artesanato e fornecedores de matérias-primas. A distribuição dos traba-lhadores pelas funções identificadas por estes autores é a seguinte: 41,5% de picado-res, 39,6% de tecelões, 1,3 % de vendedores, 0,9% de fornecedores e 16,7% de trabalha-dores que exercem mais de uma função. Estes dados mostram que já no final do século XX o artesão havia sido substituído por classes de trabalhadores de base arte-sanal. As ações no processo de divisão e especi-alização ocorreram nas atividades tecnoló-gicas da organização, que viabilizaram a criação e padronização de rotinas de traba-lho. Estas ações foram possíveis com a ra-cionalização das entradas e com a expansão das saídas viabilizadas pelo desenvolvi-mento do pólo turístico nas cidades de São João del-Rei e Tiradentes (MG). Esta rea-lidade operacional foi impulsionada por aspectos logísticos regionais como, por e-xemplo, o desenvolvimento da malha de transporte terrestre em meados da década de 1980, a expansão dos serviços dos correi-os e de transportadoras. As organizações produtoras e vendedo-ras da indústria criativa municipal possu-em vínculos informais com os trabalhadores artesanais, que na realidade podem ser compreendidos como pequenas indústrias informais que estão diluídas em suas resi-dências micro-regulamentadas pelas uni-dades organizacionais comerciais. Confor-me Santos et al. (1998) dos 37 estabeleci-mentos comerciais pesquisados 65% eram produtores e vendedores de artesanato, 11% somente vendedores de artesanato e 24% eram fornecedores de matéria-prima, tanto do fio de algodão industrializado co- 466 Turismo e indústria criativa artesanal textil:… PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 mo de retalhos da indústria têxtil. Este processo, fazendo-se uso da abordagem de Perrow (1972) gerou regras, regulamentos e especialistas, ou seja, uma organização burocrática e sua motivação compreende-ram a necessidade de economias de especia-lização, de controle de características pro-fissionais e não profissionais do pessoal e a necessidade de adaptação às mudanças no seu ambiente organizacional. A compreensão dos problemas que de-mandaram alternativas de soluções e suas conseqüentes decisões pode ser feita a par-tir da análise do processo de transformação não só do sistema de produção artesanal como uma organização que busca a eficiên-cia econômica, mas da comunidade local desde sua ocupação em meados do século XVIII. A localidade que atualmente é o município de Resende Costa já teve várias atividades produtivas que fomentaram organizações para atender não só a deman-da de um mercado temporal, mas princi-palmente as necessidades da comunidade, não só por mercadorias, ou seja, para o con-sumo, mas para atender as demandas so-ciais da comunidade de geração de trabalho e renda, que viabilizou a subsistência dos trabalhadores locais. Por exemplo, no sécu-lo XVIII as organizações locais eram elos verticais do sistema de exploração de ouro, abastecendo de produtos agropecuários Tiradentes e São João del-Rei. No século XX eram elos verticais da indústria têxtil mineira, principalmente a partir da proxi-midade com o município de São João del- Rei, que possibilitou o reaproveitamento do refugo de malharia de seu parque fabril obsoleto (Santos e Silva, 1997). Esta locali-dade vivenciou em seu processo histórico organizações que lidaram com relações de trabalho escravo até as atuais unidades semi-autônomas da indústria criativa arte-sanal têxtil. O que se observa nas relações de tra-balho e produtivas na rede organizacional analisada é que a uma conciliação, mesmo que assimétrica, do interesse individual do emprrendedor comerciante pela busca da maximização de seus lucros, a partir de uma base comum de conhecimento produti-vo que viabiliza a remuneração da força de trabalho local que é a detentora do saber artesanal. Tanto o trabalhador do sistema de produção como os empreendedores co-merciantes são afetados em suas ações e atitudes por relações sociais, por exemplo, no recrutamento de trabalhadores ou na subcontratação de subunidades de certas famílias ou de indivíduos de certas locali-dades da zona rural do município que tem reconhecimento local de background arte-sanal. A base familiar e dos demais grupos sociais gera também um aumento da con-fiança entre os atores das comunidades que compõe esta rede organizacional. A hierarquia que foi formalizada em uma rede de produção localizada gerou conseqüências sociais, principalmente no aspecto das ocupações existentes e do perfil dos trabalhadores. Os artesãos que foram uma conseqüência histórica da produção para a subsistência da propriedade rural do século XVIII, assumem no final do século XX um comportamento de um operário da manufatura, já que são trabalhadores espe-cializados do sistema de produção que se dividiu e se especializou para viabilizar a produção em massa de mercadorias de baixo custo unitário. As transações entre as subunidades especializadas foram identifi-cadas pelo artesão clássico que atualmente é o empreendedor comerciante que coorde-na uma organização informal, mas que é hierarquizada entre o proprietário das in-formações e dos canais de comercialização e o produtor especialista, ou seja, o elo entre a demanda e a oferta do mercado ou o elo entre a economia e a comunidade local pro-dutora. A estruturação ou reestruturação da indústria criativa artesanal têxtil local em uma rede semi-autônoma hierarquizada de atores sociais, com papéis definidos no sis-tema produtivo ocorreu com a divisão e especialização do trabalho, que é um acervo comum do conhecimento produtivo comu-nitário deste município. Esta transformaç-ão de uma produção caseira e de subsistên-cia para a principal atividade econômica do município e sua institucionalização é deco-rrente de fatos históricos como, por exem-plo, a decadência da exploração do ouro. A busca pela sobrevivência de indivíduos em sua terra natal tornou natural o processo de transformação da produção artesanal em uma genuína manufatura têxtil, que gera conflitos de poder e econômicos entre seus atores e que por sua vez demandam organi-zações que tem sua base estrutural na so- Gustavo Melo Silva y Jorge Alexandre Barbosa Neves 467 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 ciedade local. A racionalização da estrutura produtiva artesanal local, mesmo que informal, por um lado, ocorre em uma manufatura de produção em massa que é conseqüência da busca da sociedade local pela eficiência econômica organizacional, que ocorre com a operacionalização da produção de baixo custo unitário, como sendo este o diferen-cial competitivo que viabiliza seu sucesso e sobrevivência organizacional. Por outro lado, esta racionalização econômica pode culminar na perda do conhecimento comu-nitário artesanal que é um resultado histó-rico, cultural e social local. A transformação em andamento nesta indústria criativa a descaracteriza e a direciona para um campo do mercado onde o sucesso e a sobrevivên-cia perante os concorrentes da manufatura estão gerando novos problemas para a rede organizacional local. A busca pela redução dos conflitos e por uma eficiência econômica gera e fomenta a continuidade da divisão e especialização do trabalho no sistema de produção artesanal de Resende Costa. A separação das subunidades e sua configu-ração semi-autônoma são controladas a partir de medidas de produtividade que, por um lado, geram o adoecimento dos tra-balhadores e que, por outro lado, geram a perda de conhecimento específico e princi-palmente descaracteriza o processo produ-tivo. A absorção da lógica de padronização da produção, como uma solução ótima do setor produtivo capitalista é contraditória a espe-cificidade deste sistema, que toma esta realidade como verdadeira sem sequer questionar sua aplicabilidade para a reali-dade social em que está imersa, além de desconsiderar sua capacidade de inovação que é comprometida com a transformação em andamento, que busca uma simplificaç-ão e padronização do processo produtivo e decisório desta rede organizacional. A rea-lidade da indústria criativa artesanal têxtil deste município que a cadeia de produção é estruturada em organizações informais que são conseqüências de redes sociais regio-nais que estão impregnadas de conheci-mento produtivo artesanal têxtil e imersas na sociedade local. A necessidade de tra-balho e geração de renda de uma sociedade decadente economicamente foi o estimulo para a resolução deste problema que emer-ge com a concatenação, de um lado, do background existente na sociedade local da produção artesanal têxtil, e por outro lado, pela oferta abundante de refugos da indús-tria têxtil e pelo aumento de demanda por produtos artesanais decorrente da expans-ão das atividades econômicas turísticas no Campo das Vertentes. A expansão do sistema de produção e a formação de redes organizacionais podem ser observadas a partir do comércio. Este setor da indústria criativa artesanal têxtil registrou no período de 1985 a 1995, ou seja, em uma década um crescimento de 2.500%. No setor de cadastros da Prefeitura Municipal de Resende Costa em 1985 esta-va registrado apenas um estabelecimento oficial de artesanato aberto. Uma década depois a relação de contribuintes que exer-cem a atividade de artesãos de portas aber-tas chega a vinte e cinco estabelecimentos oficiais (Santos e Silva, 1997). Organização e trabalho na indústria criati-va artesanal textil O ponto de convergência que viabilizou a aglomeração de indústrias criativas artesa-nais têxteis no município analisado são aspectos históricos, culturais e sociais imersos em contextos organizacionais, que propiciaram o estabelecimento desta rede. Atualmente pode-se perceber a predo-minância absoluta de uma racionalidade econômica e instrumentalista que é deter-minada por expectativas de resultados, ou seja, fins que podem ser calculados. Esta predominância ocorre em detrimento de uma racionalidade substantiva de valor, que seria determinada de forma indepen-dente das expectativas de resultados obje-tivamente mensurados. A racionalidade instrumentalista, conforme Ramos (1981) se torna precária quando considera o ser humano delimitado pela capacidade de realizar cálculos utilitários das conseqüên-cias de suas ações, em que o mercado é o modelo com o qual a vida associada deveria se organizar. O que se constata nas redes organizacionais da indústria criativa arte-sanal têxtil é a opção por um modelo de produção flexível e descentralizado que organiza seus negócios com a possibilidade de aumento e de especialização da produç-ão. 468 Turismo e indústria criativa artesanal textil:… PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 Os sistemas produtivos locais têm como mercadorias bens e serviços artesanais, que possuem diferencial competitivo definido a partir da imersão de variáveis históricas, sociais e culturais regionais, que são forma-tadas por empreendedores locais. O valor destas mercadorias é definido a partir da singularidade do trabalho abstrato que é expresso em bens e serviços regionais. A potencialidade econômica destas mercado-rias é uma conseqüência do desenvolvimen-to do sistema de produção em redes organi-zacionais de indústrias criativas artesa-nais, que são operacionalizadas para aten-der demandas dos mercados e são coorde-nadas localmente pelos empreendedores comerciantes. Atualmente ocorrem novas combinações dos fatores de produção e de novas formas de organização do trabalho executadas pe-los comerciantes locais que transformam atividades tecnológicas, de consumidores e dos produtos que, conforme Thompson (1976) são atividades de saída destas orga-nizações. As modificações e inovações que ocorreram neste sistema de produção viabi-lizaram ganhos competitivos a partir do aumento do fornecimento de matéria-prima, que eram fabricados na própria re-sidência dos artesãos. De um lado, esta inovação gera ganhos econômicos e possibi-lidades de aumento da capacidade de pro-dução e de redução do custo unitário dos produtos. Por outro lado, esta estratégia descaracteriza os sistemas de produção artesanal. As decisões tomadas pelos em-preendedores locais podem ser configura-das, conforme Selznick (1971), como deci-sões rotineiras, ou seja, ações para resolu-ção de problemas diários, de comunicação e comando, de simplificação do trabalho e seleção de pessoal. Estas decisões têm como ênfase o processo de ordenação no funcio-namento regular desta organização, ou seja, uma adaptação estática. Mas atual-mente, a necessidade desta organização é por decisões rotineiras ou também por deci-sões críticas necessárias as suas adaptações dinâmicas? As adaptações atuais necessárias para as organizações artesanais, conforme Selz-nick (1971) podem ser caracterizadas como dinâmicas, ou seja, possuem dimensões administrativas e políticas, que devem moldar os novos processos organizacionais e que demanda de experiência crítica, que é à base da liderança institucional, que ocor-re no domínio da política. Líder que deve lidar com problemas atuais, não por si mesmos, mas de acordo com suas implica-ções em longo prazo para o papel e signifi-cado do grupo. A organização da indústria criativa artesanal têxtil é condicionada pela reação de pessoas e grupos, que com o tem-po tornaram-se padronizadas e criaram uma estrutura social em uma rede organi-zacional, que são infundidas de valor para a comunidade municipal. Pode-se afirmar então que a organização artesanal é uma instituição que é marcada pelo seu com-promisso com valores, ou seja, escolhas de idéias de políticos, quanto à natureza do empreendimento, que até o momento é re-presentada pelo empreendedor comercian-te. O que se coloca para as organizações da indústria criativa artesanal têxtil local no momento são as dificuldades de resgate do conhecimento tácito da produção, que e-mergem com a revalorização do poder do artesão, que a partir de observações atuais enfatizam um processo de resgate das téc-nicas e croquis de peças que estavam aban-donadas nos porões e gavetas dos resende-costenses. Conforme Thompson (1976), como as coalizões dominantes não são fixas e estáticas, será que está em andamento uma nova coalizão dominante ou os empre-endedores comerciantes irão se ajustar novamente ao sistema aberto em que estas organizações se encontram? Parece existir uma incapacidade na coalizão dominante existente entre comerciantes e trabalhado-res especialistas artesanais nas crenças de causa-e-efeito a serem usadas na decisão de retorno a procedimentos e rotinas artesa-nais, já que existem informações incomple-tas sobre a realidade desta demanda dos consumidores. O atendimento das necessi-dades dos consumidores está sendo resolvi-dos com a importação de produtos semima-nufaturados de outras regiões do país, que, por sua vez, geram uma ameaça ao grupo dominante, os comerciantes, por promove-rem um descontentamento dos demais gru-pos da rede organizacional da indústria criativa artesanal têxtil, com a expansão comercial desvinculada da produção local. A estruturação e burocratização atual desta rede organizacional foram construídas com Gustavo Melo Silva y Jorge Alexandre Barbosa Neves 469 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 a tendência da criação de rotinas. Conforme Perrow (1972), a tecnologia pode utilizar de rotina devido a um conhecimento suficiente sobre projetos, produção e distribuição de mercadorias, além da existência de um mercado suficiente para absorver grande volume de produção. Mas o que ocorre atu-almente é a necessidade de organizações que demandarão tipos de trabalhos execu-tados diferenciados e que consequentemen-te modificarão a estrutura organizacional. A organização da indústria criativa ar-tesanal deste município possui uma estru-tura produtiva que é dividida nas funções de comerciantes, fornecedores, tecelões e picadores. Os trabalhadores são especialis-tas nas atividades produtivas de tecer e picar retalhos e são atualmente capacitados tecnicamente. Estas especificidades, con-forme Weber (2002) caracteriza o funcio-namento da burocracia moderna. A especia-lização que ocorre via o saber técnico de todo o processo produtivo alimenta a auto-ridade hierárquica, que neste caso reside na função do empreendedor comerciante, ou seja, o antigo artesão conhecedor de todo o processo de produção, que nas últimas duas décadas do século XX, a partir de aspectos do ambiente organizacional empreendeu a estruturação de redes organizacionais de produção artesanal, para a efetivação da indústria criativa municipal. O desenvolvimento da rede organizacio-nal de indústrias criativas artesanais têx-teis pode ser compreendido, fazendo-se uso da abordagem de Crozier (1981), por meio do estudo das tomadas de decisão, incluin-do o cálculo racional, mas também as limi-tações e constrangimentos de ordem afetiva definidas por aspectos históricos, culturais e peculiaridades enraizadas em contextos organizacionais e concretizadas em suas mercadorias. O empreendedor comerciante vem enfrentando ao mesmo tempo em todos os níveis, as exigências de uma racionali-dade utilitária e a resistência dos meios humanos, que conforme Crozier (1981) con-figuram um problema de poder. O comerciante tem tido como função co-ordenar e liderar os negócios integrados em uma rede de relacionamento das unidades organizacionais e produtivas, ocupando um papel central nesta rede organizacional da indústria criativa artesanal têxtil. Papel que tem como principal meio de ação, con-forme Crozier (1981), a manipulação das informações ou regulamentação do acesso a estas, que é referente à fonte de insumos e potencias de mercado. Informações que lhe dão possibilidades de predição, que resul-tam em possibilidades de controle e poder, que conforme Crozier (1981) pode ser um poder hierárquico funcional ou de perito. Ou seja, um poder hierárquico funcional, já que além de possuir uma posição hierárqui-ca superior na estrutura organizacional, proporcionada em algumas relações pela propriedade dos meios de produção e pelas informações estratégicas do mercado. Mas também um poder de perito, já que com o processo de divisão e especialização do tra-balho o comerciante é atualmente o conhe-cedor de toda a técnica de produção, já que no processo de desenvolvimento organiza-cional o artesão foi desapropriado deste conhecimento. Poder adquirido pelo especi-alista comerciante em função das dificulda-des que as organizações artesanais tiveram com os fenômenos econômicos decorrentes da passagem de uma atividade produtiva de auto-subsistência para uma atividade produtiva em massa. A organização atual e a expansão co-mercial do sistema de produção desta in-dústria criativa, fazendo-se uso da aborda-gem de Merton (1967) expõe as disfunções da burocracia, principalmente, na proteção de elites técnicas, que neste caso aplicado as elites comerciantes, que se escondem na impessoalidade do tratamento de tarefas e procedimentos, mas que os interessados, ou seja, os clientes podem fazer um protesto eficaz, transferindo seu negócio à outra organização dentro do sistema competitivo, que é viabilizado pelo próprio comerciante que aumenta seu portfólio com produtos de origem de outros municípios. O processo de burocratização, fazendo-se uso da abordagem de Prates (2000) pode ser visto como um processo de dominação e disciplina da força de trabalho, por um la-do, como uma tentativa de reestruturação da base de autoridade no interior organiza-cional, por outro lado, uma tentativa de ocupar um espaço mais central na socieda-de política para legitimar sua autoridade na sociedade global. A busca pela burocra-tização das organizações da indústria cria-tiva artesanal têxtil local pode ser compre-endida da mesma forma, ou seja, pode ter 470 Turismo e indústria criativa artesanal textil:… PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 sido motivada pela absorção da lógica, de forma comparativa, por parte do comer-ciante de que dividido e especializado o trabalho vivo poderia ser controlado, além de ser dominado pela falta de conhecimento de todo o processo produtivo. A utilização da racionalidade técnica ou a opção por esta escolha então não seria justificada sim-plesmente pela eficiência econômica, mas também pela relação de poder existente os atores sociais envolvidos no sistema de produção artesanal têxtil. A ação racional destes atores está rela-cionada com o contexto social regional desta indústria criativa artesanal têxtil, que mos-tra uma correlação da ação organizacional com a realidade da sociedade. Para com-preender a realidade das transformações organizacionais ocorridas no caso analisado devem ser identificadas as relações existen-tes entre a sociedade e os fenômenos econômicos que se materializaram no dia-a-dia, nos procedimentos das organizações, por meio das ações dos tomadores de decis-ão desta organização, que expressão com-portamentos que são influenciados por in-divíduos e grupos. O comportamento coope-rativo nas organizações, conforme Barnard (1971) ocorre a partir da necessidade do individuo atingir propósitos para os quais ele próprio é biologicamente inapto. A or-ganização de negócios, motivos, interesses e processos não-econômicos, tanto quanto econômicos, são todos fundamentais no procedimento das organizações (Barnard, 1971). A organização reflete a sociedade e ab-sorve os fatores externos ao seu ambiente interno. Estas incorporam elementos so-cialmente legitimados e racionalizados em suas estruturas formais maximizando sua legitimidade e aumentando seus recursos e capacidade de sobrevivência. A sobrevivên-cia está vinculada à elaboração de mitos institucionais racionalizados que geram a conformidade organizacional com os mitos institucionais e com a eficiência organiza-cional, que proporciona legitimidade, recur-sos e conseqüentemente a sobrevivência. Mas a institucionalização das organizações gera inconsistências já que há geração de conflitos onde a eficiência, a coordenação e o controle são rigorosos. Os esforços para coordenar e controlar as atividades nas organizações institucionais gera conflitos e perda de legitimidade. Quanto mais a es-trutura de uma organização deriva de mi-tos institucionalizados, mais se mantém a ostentação de confiança, satisfação e boa fé, internas e externas. As organizações insti-tucionalizadas para minimizar os efeitos dos conflitos procuram reduzir ao mínimo a inspeção e a avaliação tanto por parte dos gerentes internos como dos componentes externos (Meyer e Rowan, 1991). A busca por uma redução dos conflitos e por uma eficiência econômica são objetivos coletivos da indústria criativa artesanal têxtil local, que gera e fomenta a continui-dade da divisão e especialização do trabalho analisada. A separação das subunidades e sua configuração semi-autônoma controla-da a partir de medidas de produtividade geram o adoecimento dos trabalhadores, perda de conhecimento específico e princi-palmente descaracterização do processo produtivo. Conforme Oliveira e Echter-nacht (2005), a atual organização do tra-balho, dividido e especializado, e a remune-ração por produtividade interferem opera-cionalmente no processo produtivo imerso nesta indústria criativa artesanal têxtil. A interferência essencial está na intensificaç-ão e aumento dos ritmos de trabalho, que tem possivelmente como conseqüência o aparecimento de sintomas de dores muscu-loesqueléticas. A definição da estratégia, que orienta o processo de tomada de decisão, da rede organizacional da indústria criativa arte-sanal têxtil local deveria levar em conside-ração as visões sobre as capacidades e fina-lidades humanas, que conforme Whitting-ton (2002) tem como questões fundamentais posições filosóficas. Para este autor os pro-cessos racionais e analíticos, que deveriam predominar sobre os processos de negocia-ção do desenvolvimento organizacional de-pendem, para que sejam viáveis, da condi-ção de existência de objetivos operacionais comuns de todos os atores envolvidos. As decisões estratégicas integrariam a partir dos dados operacionais que definem um processo analítico e de sua falta, as partes constitutivas do processo de negociação. Negociação que, atualmente, na rede orga-nizacional da indústria criativa artesanal têxtil se fundamenta, pelo lado, da classe dos trabalhadores com objetivos de subsis-tência e de satisfação de suas necessidades Gustavo Melo Silva y Jorge Alexandre Barbosa Neves 471 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 fisiológicas. E, pelo lado, dos empreendedo-res comerciantes com objetivos de maximi-zação e acumulação de lucros de suas uni-dades comerciais, com o abandono de prin-cípios objetivos de continuidade e sustenta-bilidade das atividades artesanais locais como uma instituição municipal. Considerações O estado brasileiro de Minas Gerais, on-de está localizado o município de Resende Costa, conforme dados da Fundação João Pinheiro (FJP, 2000) tem em 1991 um Índi-ce de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,697 e em 2000 um índice de 0,773. Re-sende Costa em 1991 tem um IDH de 0,573 e em 2000 um índice de 0,619 (FJP, 2000). Estes dados sinalizam que o município tem uma média inferior a do Estado, mas que houve melhoria no índice na década anali-sada. Outro dado importante para a carac-terização socioeconômica do município e para evidenciar seu desenvolvimento so-cioeconômico local é que em 1991 os pobres representavam 54,51% da população e em 2000 representavam 40,69% (FJP, 2000). Em Resende Costa, as atividades econômi-cas produtivas decorrentes da herança do artesanato têxtil compõem um elo da cadeia de suprimentos das atividades turísticas regionais que possibilitam a geração de trabalho e renda no município. As decisões tomadas pelo empreendedor comerciante desta indústria criativa arte-sanal têxtil não podem ser compreendidas somente como decisões unitárias de merca-do que buscam a eficiência econômica. Este ator social desta rede tem subjetivamente informações que emergiram de uma reali-dade histórica, cultural e social comum a todos os moradores deste município. A par-tir do momento que este se posiciona no mercado não como um artesão ou um tra-balhador especializado, mas como um co-merciante responsável pelo processo decisó-rio desta rede social, este passa a represen-tar não só seus interesses pessoais, mas também os interesses do grupo de trabal-hadores e cidadãos locais. A rede social e organizacional de indús-trias criativas artesanais deste município, por um lado, viabilizou o atendimento das demandas do mercado regional turístico por mercadorias artesanais e, por outro lado, proporcionou aos indivíduos e a sociedade maior local a subsistência de trabalhadores e de suas famílias que não possuíam alter-nativas de ocupação e geração de renda. Esta organização foi possível a partir da inovação coordenada pelo empreendedor comerciante de correlacionar o background, ou seja, o conhecimento produtivo comu-nitário com a demanda turística regional por mercadorias artesanais. As organizaç-ões existentes na rede analisada são elos entre a micro-esfera econômica e a socieda-de local, que durante seu processo de de-senvolvimento tiveram por meio de seus tomadores de decisão que resolver proble-mas, que foram estímulos de programas de ação organizacionais que foram influencia-das por valores e normas sociais. Existem conseqüências não intencionais na organização do sistema de produção artesanal local, que são expressas nas difi-culdades de resgate do conhecimento tácito da produção, que emergem com a revalori-zação do poder do artesão, que a partir de observações atuais enfatizam um processo de resgate das técnicas e croquis de peças que estavam abandonadas nos porões e gavetas dos moradores locais. A necessida-de de legitimação do conhecimento específi-co artesanal local é importante, já que as objetivações da ordem institucional, no caso desta indústria criativa têm um sentido histórico e devem ser transmitidos a novas gerações para que os processos produtivos tenham continuidade. A realização do potencial existente do mercado de bens simbólico-culturais de-manda uma parceria efetiva entre o Esta-do, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada. O mercado no atual estágio de desenvolvimento das forças produtivas do setor, não dá conta, isoladamente, dos desa-fios existentes, que mostram a cultura como um setor estratégico para o desenvolvimen-to sustentável por apresentar externalida-des para outras dimensões da vida de co-munidades como, por exemplo, na econo-mia, política, saúde, educação, desempenho profissional, ou seja, em várias dimensões da vida humana. Referências Abreu, Joao 2002 Estratégia e oportunidades locais: um 472 Turismo e indústria criativa artesanal textil:… PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 estudo sobre rede dinâmica em aglome-rados de empreendedores de base arte-sanal. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção). Rio de Janeiro: COP-PE/ UFRJ. Álvares, Lucia Capanema. e Carsalarde, Flavio de Lemos. 2005 “Planejamento e Gestão de Políticas Públicas para o Turismo Sustentável: O Caso do Programa Estrada Real”. Puc Minas – Revista de Turismo, V. 1, n. 1. Barnard, Chester 1971 “Considerações Preliminares sobre os Sistemas Cooperativos” em Barnard, Chester As Funções do Executivo (13- 76). São Paulo: Atlas, 1971. Castells, Manuel 1999 “A sociedade em rede” em A era da informação: economia, sociedade e cultu-ra; v.1. São Paulo: Paz e Terra. Crozier, Michel 1981 O Fenômeno Burocrático. Brasília: Universidade de Brasília. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. 2000 Atlas do Desenvolvimento Humano. Belo Horizonte: FJP/IPEA/PNUD. Gereffi, G., korzeniewicz, M. e korzenie-wicz, R. P. 1994 “Introduction: Global Commodity Chains” em Gereffi, Gary e korzenie-wicz, Miguel (eds.). Commodity Chains and Global Capitalism. London: Praeger Publishing. Grannovetter, Mark 2002 “Economic Action and Social Struc-ture: The Problem of Embeddedness” em Biggart, Nicole (Ed.). Readings in Eco-nomic Sociology (154-167). Malden-MA: Blakwell Publishers. Hartley, John 2005 Creative industries. Londres: Black-well. Hassler, Markus 2003 “The Global Clothing Production Sys-tem: Commodity Chains and Business Networks”. Global Networks, v.3, n.4: 513-531. Hopkins, Terence e wallerstein, Immanuel 1994 “Commodity Chains in the Capitalism World-Economy Prior to 1800” em Ge-reffi, Gary e korzeniewicz, Miguel (eds.). Commodity Chains and Global Capital-ism (17-50). London: Praeger Publisher. Jackson, Peter 2002 “Commercial Cultures: Transcending the cultural and the economic”. Progress in Human Geography, v. 26, n.1: 3-18. Kiely, Ray 1998 “Globalization, post-fordism and the Contemporary Context of Development”. International Sociology, v. 13, n. 1: 95- 115. Merton, Robert 1967 “Estrutura Burocrática e Personali-dade” em Etzioni, A, (Ed.). Organizações Complexas (271-283). São Paulo: Atlas. Meyer, John e Rowan, Brian. 1991 “Institucionalized Organizations: Formal Estructure as Myth and Cere-mony” em Meyer, John e Rowan, Brian. The New Institucionalism in Organiza-tional Analysis (41-62). Chicago: Uni-versity of Chicago Press. Oliveira, Alessandra Barbosa de e Echter-nacht, Eliza Helena de Oliveira 2005 “A organização do trabalho de um aglomerado produtivo de base artesanal como determinante na produção das DORT”. 2ª Jornada de Ergonomia da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Oliveira, Silvana Toledo de e Januário, Marcus Vinicius da Costa 2007 “O Turismo em São João Del Rei – Minas Gerais: Uma análise preliminar”. Cultur Universidade Estadual de Santa Cruz, BA, Ano 1, n. 1. Disponibilidade e acesso: < http://www.uesc.br/revistas/culturaeturi smo/edicao1/artigo1.pdf> Acesso em: 16/01/2008. Porter, Michael 1998 “Clusters e a Nova Competição Eco-nômica”. Harvard Business Review, Nov./Dez: 77-92 Prates, Antonio Augusto Pereira 2000 “Organização e Instituição no Velho e Novo Institucionalismo” em Rodrigues, Susana e Cunha, Miguel (eds.). Novas Perspectivas na Administração de Em-presas (90-105). São Paulo: Iglu. Ramos, Alberto 1981 A Nova Ciência das Organizações: Uma Reconceitualização da Riqueza das Nações. Rio de Janeiro: Fundação Getú-lio Vargas. Santos, Carlos Lopes e Silva, Gustavo Melo 1997 Tear: Artesanato de Resende Costa. São João del-Rei: Funrei. Gustavo Melo Silva y Jorge Alexandre Barbosa Neves 473 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(3). 2009 ISSN 1695-7121 Santos, Carlos Lopes; Silva, Gustavo Melo e moretti, Alba Regina 1998 Artesanato: Contando Teares. São João del-Rei: Ed. Funrei. Selzinick, Philip 1971 A Liderança na Administração: Uma Interpretação Sociológica. Rio de Janei-ro: FGV. Shorthose, Jim 2004 “More critical view of the creative industries: production, consumption and resistance”. Capital & Class, 84: 1-9. Silveira, Teixeira 2006 “Da. Impactos do Turismo no Carna-val de Tiradentes: A Visão da Comuni-dade” em IV Seminário de Turismo do Mercosul. Disponibilidade e acesso: < http://www.ucs.br/ucs/tplSemMenus/pos gradua-cao/ strictosensu/turismo/seminarios/sem inario_4/arquivos_4_seminario/GT04- 5.pdf > Acesso em: 16/01/2008. Souza, Yeda Swirski de e Souza, Keila de 2004 “Relações Cooperativas entre Peque-nas e Médias Empresas: um estudo de caso no arranjo coureiro calçadista do Vale dos Sinos (RS-BRASIL)” em do 3º Encontro de Estudos Organizacionais (ENEO), Anais... São Paulo, SP: ENEO. Suzigan, Wilson; Garcia, Renato; Furtado, Joao 2002 Clusters ou Sistemas Locais de Pro-dução e Inovação: Identificação, Carac-terização e Medidas de Apoio. Disponível em http://geein.fclar.unesp.br/atividades/pes quisaclus-ter/ IEDI_20030516_clusters.pdf. Thompson, James 1976 Dinâmica Organizacional: Fundamen-tos Sociológicos da Teoria Administrati-va. São Paulo: McGraw-Hill. Vieira Filho, Nelson Antonio; Duarte, Ga-briela e Souza, Talita Rezende 2006 “Os Impactos Turísticos sobre a Arte e Artesanato em Tiradentes, Minas Ge-rais” em IV Seminário de Turismo do Mercosul, Anais...Caxias do Sul, RS, Brasil, Disponibilidade e acesso: < http://www.ucs.br/ucs/tplSemMenus/pos gradua-cao/ strictosensu/turismo/seminarios/sem inario_4/arquivos_4_seminario/GT04- 10.pdf > Acesso em: 16/01/2008 e 8 de Julho de 2006; Weber, Max 2002 Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: LTC Editora. Whittington, Richard 2002 O que é estratégia? São Paulo: Pionei-ra Thompson Learning. Recibido: Reenviado: 01/06/2009 18/09/2009 Aceptado: 25/09/2009 Sometido a evaluación por pares anónimos |
|
|
|
1 |
|
A |
|
B |
|
C |
|
E |
|
F |
|
M |
|
N |
|
P |
|
R |
|
T |
|
V |
|
X |
|
|
|