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Vol. 8 Nº2 págs. 305-318. 2010 www.pasosonline.org © PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121 Necessidades educacionais complementares do bacharel em turismo: aplicação do método da análise do papel ocupacional Rosana Hoffman-Câmaraii Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Brasil) Gardênia da Silva Abbadiii Universidade de Brasília (Brasil) Pedro Paulo Murce Menesesiv Universidade de Brasília (Brasil) Rodrigo R. Ferreirav Universidade de Brasília (Brasil) Resumo: este estudo analisa as necessidades de desenvolvimento de competências de formandos de cursos de Turismo ofertados por instituições do Distrito Federal. Foi utilizado um instrumento de pesqui-sa elaborado a partir dos conhecimentos, habilidades e atitudes do Bacharel em Turismo, definidos nas Diretrizes curriculares do curso de graduação do Ministério da Educação e Cultura. Participaram da pesquisa 165 estudantes de Turismo de nove instituições. Foram realizadas análises estatísticas descriti-vas para analisar os dados. Os resultados demonstram que os estudantes pesquisados demonstraram dominar habilidades de acesso ou básicas exigidas dos profissionais de Turismo, mas não aquelas real-mente associadas ao exercício da profissão em questão. São fornecidas bases para repensar a formação dos profissionais brasileiros de Turismo, bem como sugestões de pesquisas futuras. Palavras-chave: Treinamento; Desenvolvimento e educação; Avaliação de necessidades de treinamento; Análise do papel ocupacional; Formação superior em Turismo; Necessidades educacionais em Turismo. Abstract: this study examines the needs for developing skills of trainees in courses offered by institu-tions of Tourism of the Distrito Federal. It was used a research tool developed from the knowledge, skills and attitudes of the Tourism professional defined by the Ministry of Education and Culture. A hundred and sixty five students of Tourism in nine institutions participated in the study. Descriptive statistics were performed to analyze the data. The results show that students sampled demonstrated mastery of basic skills required of professionals in Tourism, but not those actually associated with the exercise of the profession in question. Bases are provided to rethink the skills of Brazilian professionals of Tourism and for future studies. Keywords: Training, development and education; Training needs evaluation; Occupational role analysis method; Tourism superior course; Educational needs in tourism. ii Mestre em Gestão Social e do Trabalho. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária/ Departamento de Gestão de Pessoas. E-mail: rosana.camara@embrapa.br. iii Doutora em Psicologia do Trabalho e Organizacional. Universidade de Brasília/ Departamento de Psicologia Social e do Trabalho (professora adjunto). E-mail: gardenia.abbad@gmail.com. iv Doutor em Psicologia do Trabalho e Organizacional. Universidade de Brasília/ Departamento de Administração (professor adjunto). E-mail: pemeneses@yahoo.com.br. v Mestrando em Psicologia do Trabalho e Organizacional. Universidade de Brasília/ Departamento de Psicologia Social e do Trabalho (aluno do curso de mestrado). E-mail: rodrigoferreira@unb.br 306 Necessidades educacionais complementares do bacharel em turismo:... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 Introdução O turismo tem sido citado na literatura desde meados do século XIX, mas foi so-mente a partir da Segunda Guerra mun-dial, ante os recorrentes deslocamentos de grande número de pessoas para os mesmos lugares nas mesmas épocas do ano, que a atividade começou a atrair a atenção de estudiosos e pesquisadores (Ruschmann, 1999). Conforme caracteriza a Organização Mundial de Turismo (OMS, 2001: 3), o tu-rismo abarca atividades pessoais de lazer, negócios, dentre outras, efetuadas durante viagens e estadas de duração inferior a um ano. Já para o Instituto Brasileiro de Tu-rismo (1992), o turismo é constituído por uma série de transações, de compra e venda de serviços, efetuadas entre os agentes pertinentes. Trata-se, portan-to, de atividade econômica desenvolvida mediante a oferta de serviços alinhados às necessidades das atividades de via-gens e lazer dos clientes, independen-temente das origens motivacionais des-se público. Deve, não obstante, agregar ao mercado uma completa infra-estrutura de atendimento, onde se alo-cam os serviços de transporte, hospe-dagem, agenciamento, alimentação, en-tretenimento e outras manifestações de produção que atendem às necessidades do turista. Associado meramente a viagens e esta-das ou compreendido, antes, como atividade econômica, é fato que o mercado de turismo abarca uma série de opções, entre as quais se destacam o turismo: de aventura (desa-fios e expedições acidentadas); de bem-estar (aperfeiçoamento das condições físicas ou espirituais de um indivíduo ou grupo de pessoas); cultural (direcionado a partici-pantes interessados em conhecer costumes de determinado povo ou região); ecoturismo (atividade que utiliza, de forma sustentá-vel, o patrimônio natural e cultural, incen-tiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista); espeleotu-rismo (visita ou exploração de cavernas); esportivo (promoção da prática de esportes por amadores ou profissionais) e de estudo (voltado para aprendizado, treinamento ou ampliação de conhecimentos in situ), entre outras. Ante a relevância econômica da ativida-de, principalmente em um País como o Bra-sil, onde as diversas opções de turismo lis-tadas encontram facilmente espaço em re-giões e grupos específicos, observa-se, nas últimas décadas, uma expansão considerá-vel das oportunidades de formação de agen-tes especializados. Ainda que os primeiros cursos datem de 1971, foi apenas em mea-dos da década de 1990 que a área passou por uma fase de grande expansão. Somente no Distrito Federal, locus da presente pes-quisa, existiam em 2005, 12 instituições particulares que ofertavam cursos de gra-duação em Turismo. De um lado, tem-se a perspectiva de crescimento do setor, com um fluxo turísti-co cada vez mais acirrado no País, aliada à expansão econômica, social, cultural e am-biental. Do outro, colocam-se os centros de formação de profissionais, com atuação ainda recente no Brasil, pautados em crité-rios de qualificação definidos pelo Ministé-rio da Educação (MEC). Resta saber, na ausência de estudos sistemáticos sobre o assunto, se tais centros realmente têm se mostrado capazes de contribuir para a for-mação de um perfil profissional cada vez mais abrangente e multifacetado. É justamente este o cerne do presente artigo: analisar a percepção de formandos de cursos de Turismo ofertados no Distrito Federal acerca da importância (para o de-sempenho da função) e do domínio de com-petências definidas pelas Diretrizes Curri-culares para o curso de graduação em Tu-rismo, emanadas pelo MEC e desenvolvidas por suas instituições de ensino superior de origem. Trata-se de uma pesquisa de cam-po, de caráter exploratório, operacionaliza-da com base em um método de Avaliação de Necessidades de Treinamento (ANT), extra-ído de referenciais da Psicologia Organiza-cional, em especial da área de Treinamento, denominado análise do papel ocupacional e proposto por Borges-Andrade e Lima em 1983. Tal método foi selecionado tendo em vista a capacidade, conforme descrito em seguida, de identificar necessidades de de-senvolvimento de competências que, no caso desta pesquisa, talvez não tenham sido amparadas pelos critérios definidos pelo MEC nos currículos das próprias Institui- Rosana Hoffman-Câmara, Gardênia da Silva Abbad, Pedro Paulo Murce Meneses y Rodrigo R. Ferreira 307 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 ções de Ensino. Referencial teórico Este artigo enquadra-se em uma catego-ria de investigação cujo cerne teórico-conceitual e metodológico é da Psicologia Organizacional e do Trabalho. Uma vez que se pretende discutir as necessidades de qualificação de formandos dos cursos de Turismo do DF, recorre-se ao aparato cien-tífico relativo à temática de Avaliação de Necessidades de Treinamento, Desenvolvi-mento e Educação (TD&E) de pessoas, cujo propósito consiste na identificação de dis-crepâncias, motivadas por alterações nos padrões de conhecimentos, habilidades e atitudes, entre condições de desempenho reais manifestadas pelos indivíduos e dese-jadas por suas respectivas organizações (Morrison, 1977). Dessa forma, trata-se de um quadro teó-rico- metodológico mais comumente utiliza-do na projeção de soluções em TD&E para contextos organizacionais, mas que, com alguns ajustes, facilmente pode ser direcio-nada, conforme assevera Brown (2002), para a formação e o desenvolvimento de carreiras profissionais. Como observado anteriormente, avaliar necessidades de desenvolvimento de competências exige a confrontação entre padrões de desempe-nhos demonstrados por indivíduos e de-mandados por suas organizações. No caso da aplicação desta premissa no delinea-mento de carreiras profissionais, apenas se substitui a demanda organizacional pelas exigências do contexto sócio-econômico-político (leis, saúde, segurança, educação, economia, política, sociedade, tecnologia, meio-ambiente, entre outros). Ressaltada a necessidade de se efetuar este pequeno ajuste no que se entende por necessidade organizacional de TD&E, faz-se necessário discorrer sobre os principais modelos teóricos de Avaliação de Necessi-dades de Treinamento (ANT) disponibiliza-dos na literatura científica de treinamento de pessoas. O primeiro deles, proposto por McGehee e Thayer (1961), é constituído por três níveis de análise: organizacional, de tarefas e de pessoas. No nível da organiza-ção, deve-se analisar os objetivos, as de-mandas e as taxas de eficiência organiza-cionais, a fim de se determinar onde o trei-namento é necessário. A análise de tarefas requer que sejam estabelecidos padrões de desempenho e, por conseguinte, os conhe-cimentos, as habilidades e as atitudes ne-cessários para se atingir o padrão de de-sempenho estabelecido; neste nível de aná-lise, deve-se determinar o que (qual conte-údo) deve ser treinado. Por fim, na análise individual é identificado quem na organiza-ção precisa receber o treinamento. Já o modelo multinível proposto por Os-troff e Ford (1989), inter-relaciona três grandes componentes da ANT: de conteúdo, de nível e de aplicação. O primeiro compo-nente (de conteúdo) é constituído por aspec-tos organizacionais, de tarefas e pessoal, e contém os principais tipos de informação que podem ser obtidas quando realizada uma ANT. O segundo componente (de ní-vel) expande a abordagem, segmentando as áreas de conteúdo em três níveis de neces-sidade de treinamento: organizacional, de subunidade e individual. Essa segmentação deixa claro que a necessidade de treina-mento deve ser vista de acordo com o nível em que se encontra. O terceiro componente do modelo (de aplicação) adiciona a dimen-são de profundidade, incorporando as ne-cessidades de conceituação, operacionaliza-ção e interpretação dos outros dois compo-nentes. Colocados de outra maneira, enquanto o primeiro modelo procura identificar onde, o que e quem treinar, o segundo exige, além de respostas a esses questionamentos, o dimensionamento do nível de entrega do treinamento: indivíduos, grupos e equipes ou organização. No caso do presente estudo, dada a ciência sobre o nível de entrega das soluções educacionais, opta-se pelo primeiro modelo de avaliação de necessidades (Mc- Gehee; Thayer, 1961). Como grande parte dos cursos superiores, o de Turismo tam-bém é entregue para indivíduos que, poste-riormente, desenvolverão suas atividades independentemente dos desempenhos dos colegas de turma ou de curso, ainda que porventura venham a trabalhar juntos em determinada empresa. Outros autores também adotaram o en-foque de ANT voltado para a qualificação e a formação profissionais. Hicks e Henessy (1997) identificaram necessidades de trei-namento de enfermeiras por meio de um instrumento psicometricamente válido. 308 Necessidades educacionais complementares do bacharel em turismo:... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 Segundo as autoras, mudanças nos contra-tos públicos que regem a atuação das en-fermeiras na Inglaterra aumentaram signi-ficativamente os padrões de qualidade do serviço médico e o fluxo de trabalho desta classe de profissionais. O papel e a função das enfermeiras naquele país ainda eram pouco definidos (tanto no setor público quanto no privado), o que gerava contradi-ção entre profissionais e pesquisadores acerca do conteúdo de ações educacionais direcionadas aos profissionais de enferma-gem. As autoras utilizaram um questionário validado por Hicks et al (1996) composto por 31 tarefas ocupacionais organizadas em cinco categorias: pesquisa/auditoria, admi-nistrativa/ técnica, comunicação/trabalho em equipe, gestão/supervisão e atividades clinicas. Foram utilizadas cinco escalas ordinais de 7 pontos do tipo Likert que mensuravam: a importância da tarefa para performance no cargo atual, o nível de per-formance atual do respondente na tarefa, a importância da tarefa para performance do indivíduo na ocupação (enfermagem), o grau em que mudanças nas práticas da enfermagem afetaria cada tarefa e o grau em que ações de treinamento poderiam melhorar a prática de cada tarefa. Ainda no campo da saúde, Gould, Kelly, White e Chidgey (2003) revisaram a litera-tura sobre ANT e suas aplicações para o desenvolvimento profissional de enfermei-ras e para explorar o planejamento e a im-plementação de cursos. Para estas autoras, algumas características da ANT realizada atualmente pelas organizações se parecem mais com auditorias internas do que com pesquisa sobre necessidades de treinamen-to. Para Gould et al (2003), a diferença é que a pesquisa busca entender, estabelecer e disseminar o conhecimento acerca da maneira correta de se fazer as coisas, en-quanto uma auditoria busca saber se as coisas consideradas corretas estão sendo feitas. Na busca, as autoras utilizaram a palavra-chave training needs analysis e identificaram 226 artigos que foram anali-sados segundo os seguintes critérios: públi-co- alvo da ANT, objetivos da ANT, stake-holders participantes do processo, compe-tências estudadas, método de pesquisa, principais resultados e planejamento ins-trucional. Outro estudo sobre necessidades de qua-lificação e formação profissionais foi reali-zado por Fan e Cheng (2006). Os autores visaram identificar necessidades contínuas de desenvolvimento profissional de repre-sentantes de venda de seguro de vida. No contexto da pesquisa, as organizações-matrizes norte-americanas de companhia de seguro, com filiais em Taiwan, imple-mentaram ações educacionais construídas pelas Associação de Seguro de Vida dos Estados Unidos. Porém, segundo os auto-res, tais ações de TD&E não resultaram em aumento de desempenho dos profissionais nas filiais chinesas. Nesse cenário, Fan e Cheng (2006) hipotetizaram sobre a neces-sidade de se desenhar ações educacionais sob medida para cada contexto de formação profissional que levasse em consideração, também, o perfil dos profissionais e a reali-dade de cada país. Os autores coletaram os dados por meio de Técnica Delphi, o que possibilitou a construção de um painel am-plo sobre as necessidades de desenvolvi-mento profissional dos representantes de venda de seguro de vida de Taiwan. Há de se considerar também a base me-todológica empregada na condução do pre-sente estudo, qual seja a análise do papel ocupacional, desenvolvida por Borges- Andrade e Lima (1983) para facilitar, origi-nalmente, a realização das análises de tare-fas e individual integrantes do modelo de McGehee e Thayer (1961). Baseada no mé-todo da razão da validade do conteúdo (Content Validity Ratio) proposto por Ford e Wroten (1982), a análise do papel ocupa-cional é feita com base em questionamentos sobre a importância de determinados co-nhecimentos, habilidades e atitudes em relação a metas de desempenho previamen-te definidas pela organização. Tecnicamente, após terem sido estabele-cidas certas metas de desempenho vislum-bradas pela organização, ou pela sociedade, no caso deste estudo, passa-se à identifica-ção dos processos de trabalho, das ativida-des ou das tarefas necessárias ao cumpri-mento de tais metas e, posteriormente, à descrição dos conhecimentos, habilidades e atitudes pertinentes. Em seguida, tais componentes são avaliados em termos de sua relevância para o cumprimento das metas estabelecidas (importância), e tam-bém em função do nível de domínio desses Rosana Hoffman-Câmara, Gardênia da Silva Abbad, Pedro Paulo Murce Meneses y Rodrigo R. Ferreira 309 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 recursos por indivíduos ou grupos previa-mente amostrados. Uma necessidade de treinamento, então, resultaria da discre-pância entre o nível de importância atribu-ída a uma competência e o nível de domínio da competência pelos indivíduos. Transposta para a realidade do presente estudo, deduz-se facilmente que as deman-das da sociedade (análise organizacional) convergem para a emergência em expan-são, como discutido anteriormente, de uma série de atividades direta e indiretamente associadas ao setor de turismo no Brasil. A fim de atender a este novo quadro de servi-ços, e com base em diretrizes governamen-tais sobre o perfil do profissional de Turis-mo necessário (análise de tarefas), mensu-ra- se uma série de necessidades de forma-ção e qualificação profissional (análise indi-vidual). Resta saber se tais necessidades de desenvolvimento realmente condizem com as realidades de mercado percebidas pelo público-alvo de tais ações de formação e qualificação. Objeto de pesquisa Conforme estipula o Ministério da Edu-cação e da Cultura (2003), o Bacharel em Turismo deverá estar apto a atuar em mer-cados em constante transformação, cujas opções possuem um impacto profundo na vida social, econômica e no meio ambiente, exigindo uma formação ao mesmo tempo generalista, que contemple componentes das ciências humanas, sociais, políticas e econômicas, como também de uma forma-ção especializada, integrada por conheci-mentos relacionados às áreas culturais, históricas, ambientais, antropológicas, de Inventário do Patrimônio Histórico e Cul-tural, bem como ao agenciamento, à organi-zação e ao gerenciamento de eventos e a administração do fluxo turístico. Reconhecendo que tal direcionamento é consideravelmente abrangente, a ponto de impossibilitar uma definição mais precisa das competências exigidas de um profissio-nal de turismo, o referido Ministério, por meio do parecer 288, aprovado em 6 de novembro de 2003, determinou que os cur-sos de graduação em Turismo devem possi-bilitar a formação profissional que revele, pelo menos, as seguintes competências e habilidades: Compreensão das políticas nacionais e regionais sobre turismo Utilização de metodologia adequada para o planejamento das ações turísti-cas, abrangendo projetos, planos e pro-gramas, com os eventos locais, regionais, nacionais e internacionais Positiva contribuição na elaboração dos planos municipais e estaduais de turis-mo Domínio das técnicas indispensáveis ao planejamento e à operacionalização do Inventário Turístico, detectando áreas de novos negócios e de novos campos tu-rísticos e de permutas culturais Domínio e técnicas de planejamento e operacionalização de estudos de viabili-dade econômico-financeira para os em-preendimentos e projetos turísticos; Adequada aplicação da legislação perti-nente Planejamento e execução de projetos e programas estratégicos relacionados com empreendimentos turísticos e seu gerenciamento Intervenção positiva no mercado turísti-co com sua inserção em espaços novos, emergentes ou inventariados Classificação, sobre critérios prévios e adequados, de estabelecimentos presta-dores de serviços turísticos, incluindo meios de hospedagens, transportadoras, agências de turismo, empresas promoto-ras de eventos e outras áreas, postas com segurança à disposição do mercado turístico e de sua expansão Domínio de técnicas relacionadas com a seleção e avaliação de informações geo-gráficas, históricas, artísticas, esporti-vas, recreativas e de entretenimento, folclóricas, artesanais, gastronômicas, religiosas, políticas e outros traços cul-turais, como diversas formas de mani-festação da comunidade humana Domínio de métodos e técnicas indispen-sáveis ao estudo dos diferentes mercados turísticos, identificando os prioritários, inclusive para efeito de oferta adequada a cada perfil do turista Comunicação interpessoal, intercultural e expressão correta e precisa sobre as-pectos técnicos específicos e da interpre-tação da realidade das organizações e dos traços culturais de cada comunidade ou segmento social 310 Necessidades educacionais complementares do bacharel em turismo:... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 Utilização de recursos turísticos como forma de educar, orientar, assessorar, planejar e administrar a satisfação das necessidades dos turistas e das empre-sas, instituições públicas ou privadas, e dos demais segmentos populacionais Domínio de diferentes idiomas que ense-jem a satisfação do turista em sua inter-venção nos traços culturais de uma co-munidade ainda não conhecida Habilidade no manejo com a informática e com outros recursos tecnológicos Integração nas ações de equipes inter-disciplinares e multidisciplinares, inte-ragindo criativamente face aos diferen-tes contextos organizacionais e sociais Compreensão da complexidade do mun-do globalizado e das sociedades pós-industriais, onde os setores de turismo e entretenimento encontram ambientes propícios para se desenvolverem Profunda vivência e conhecimento das relações humanas, de relações públicas, das articulações interpessoais, com pos-turas estratégicas do êxito de qualquer evento turístico Conhecimentos específicos e adequado desempenho técnico-profissional, com humanismo, simplicidade, segurança, empatia e ética A partir desse conjunto de competências, esta pesquisa buscou, então, avaliar dois principais aspectos inerentes ao processo de formação de agentes de turismo: i. o domí-nio dessas competências por alunos em processo de conclusão de curso, de forma a investigar o cumprimento das diretrizes determinadas pelo Ministério da Educação; e ii. a importância real dessas competências para esses mesmos profissionais, a fim de validar a proposta de formação desenvolvi-da pelo Ministério e operacionalizada, sob a forma de currículos, por uma série de Insti-tuições de Ensino Superior localizadas na cidade de Brasília. Método, procedimentos e técnicas de pes-quisa Essa pesquisa caracteriza-se, quanto aos fins, como exploratória, visto não haver iniciativa registrada na literatura nacional de aplicação de métodos científicos para a prospecção e validação de ações de qualifi-cação de profissionais de nível superior. Quanto aos meios, utilizou-se a pesquisa de campo mediante aplicação de questionários, a fim de que dados primários sobre a vali-dade das competências definidas nos currí-culos de formação de profissionais de tu-rismo de nível superior pudesse ser efeti-vamente testada. Adiante são apresentadas informações mais detalhadas sobre as insti-tuições de ensino e alunos participantes, o instrumento de pesquisa e os procedimen-tos de coleta e de análise de dados. Instituições de Ensino e Alunos Participan-tes Para a realização desta pesquisa, foram pré-selecionadas 12 faculdades que oferta-vam, em 2005, o curso superior de turismo na região do Distrito Federal. Em um se-gundo momento, haja vista o objetivo de investigar também o domínio das compe-tências exigidas do profissional de turismo relacionadas pelo Ministério da Educação, optou-se apenas pelos cursos que contavam com turmas em período final de formação. Assim, para composição da amostra previ-amente definida de participantes, foram apenas selecionados os alunos que à época cursavam o 6º, 7º ou 8º período de curso. Tal variação se deu em função de que algumas faculdades possuem grades curriculares distribuídas em três anos e meio ou em quatro anos de formação (Tabela 1). Como observado na Tabela 1, em 2005 a estimativa era de que fossem lançados no mercado de trabalho do Distrito Federal, por meio das 12 faculdades que à época ofertavam cursos de nível superior, 415 profissionais de turismo. Deste total, 165 (aproximadamente 40%) responderam ao questionário de pesquisa apresentado em seção particular e, portanto, integraram a amostra do presente estudo. A amostra é caracterizada por uma maioria de mulheres (58,8%), com idades entre 20 e 24 anos (43,6%) e que cursavam o 8º semestre de curso (68,8%). Os demais 250 estudantes não foram incluídos no estudo ou pelo fato de suas respectivas instituições de ensino não terem autorizado a execução dos proce-dimentos de coleta de dados ou devido ao semestre em que se encontravam (apenas os formandos foram consultados). Rosana Hoffman-Câmara, Gardênia da Silva Abbad, Pedro Paulo Murce Meneses y Rodrigo R. Ferreira 311 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 Instituição de Ensino Superi-or Estimativa de Formados em 2005 Número de Questionários Respondidos Observação 1 20 15 --- 2 15 10 --- 3 77 72 Grade antiga com 8 semestres e atual com 7 4 100 27 --- 5 40 36 --- 6 40 5 --- 7 0 0 Turmas somente até o 4º semestre 8 0 0 Turmas somente até o 2º semestre 9 0 0 Turmas somente até o 2º semestre 10 40 0 Não autorizou a coleta de dados 11 16 0 Não autorizou a coleta de dados 12 67 0 Não autorizou a coleta de dados Total 415/ 100% 165/ 39,76% Tabela 1: População e Amostra Instrumento de Pesquisa Esta pesquisa foi operacionalizada a partir da aplicação de um questionário que visava investigar a importância e o domí-nio, por parte dos formandos de cursos de turismo ofertados por Instituições de Ensi-no Superior localizadas no Distrito Federal, de uma série de competências definidas pelo Ministério da Educação. Portanto, a primeira etapa para elaboração dos itens do instrumento de pesquisa consistiu na aná-lise de tais competências estipuladas por meio do parecer 0288/2003, deste mesmo Ministério, conforme elucidado na seção referente ao objeto desta pesquisa. As competências estipuladas foram, em seguida, ajustadas, de forma que represen-tassem descrições precisas e observáveis dos conhecimentos, habilidades e atitudes (CHA) exigidos dos profissionais de turis-mo. Ante o fato de que as competências listadas pelo Ministério da Educação, em alguns momentos, integravam dois ou mais CHAs em uma única descrição (o que, psi-cometricamente, diminui a objetividade e a precisão do item a ser respondido pelos sujeitos), decidiu-se pelo desdobramento, nesses casos, em mais de um item. Proces-sados esses ajustes, as 19 competências definidas previamente foram transforma-das em 23 itens, agora associados a duas escalas de julgamento do tipo Likert de 4 pontos cada: i. importância do CHA, na qual o valor 0 correspondia ao julgamento sem importância e o valor 3, a totalmente importante; e ii. domínio do CHA, cujos valores variavam também de 0 (nenhum domínio) a 3 (domínio total). Logo após a apresentação dos 23 itens, havia ainda duas questões abertas que instruíam os respondentes a sugerir cursos de extensão (carga horária de até 359 ho-ras/ aula) e também cursos de especializa-ção Lato Sensu (carga horária igual ou su-perior a 360 horas/aula) que julgassem necessários à complementação da formação do profissional de turismo de nível superi-or. A idéia destes campos era poder con-trastar as sugestões, em termos quantitati-vos e qualitativos (natureza e complexidade das soluções educacionais sugeridas), com as respostas de domínio e importância das 312 Necessidades educacionais complementares do bacharel em turismo:... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 competências exigidas desses profissionais. Esperava-se, portanto, que quanto maior a lacuna de competência (maior a importân-cia e menor o domínio), tanto maior seria o número de sugestões de natureza diversas e de complexidade elevada. O instrumento de pesquisa foi ainda submetido a um processo de validação se-mântica, a fim de ajustar a linguagem em-pregada na redação das orientações e dos itens aos perfis dos futuros respondentes. O questionário foi aplicado, então, em uma amostra de 30 alunos do 8º semestre de cursos de turismo, os quais, posteriormen-te, não foram incluídos na amostra utiliza-da para cálculo das estatísticas derradei-ras. Após tal etapa, alguns poucos ajustes foram efetivados a fim de tornar as instru-ções e os itens mais claros e representativos das atividades desenvolvidas pelos profis-sionais de Turismo. Procedimentos de Coleta e de Análise de Dados Os questionários foram aplicados presencialmente pela equipe de pesquisa-dores. Em um primeiro momento, foram feitos contatos com os coordenadores dos cursos de turismo das 12 Instituições de Ensino Superior localizadas no Distrito Federal. Destes, três coordenadores não autorizaram a realização de pesquisa. Ou-tras três instituições foram descartadas à medida que os coordenadores relatavam que os alunos ainda se encontravam em estágio inicial de formação (1º até 4º semes-tre). Assim, apenas alunos de seis faculda-des puderam ser consultados. Autorizada a realização da pesquisa em tais instituições, o próximo passo con-sistiu, por intermédio dos coordenadores anteriormente consultados, em contatar alguns professores que lecionavam discipli-nas nos semestres finais de curso. Este contato com os professores era feito a fim de possibilitar a criação de um esquema de aplicação coletiva do questionário. De fato, esses professores consultados cederam in-tervalos de 15 a 20 minutos de suas aulas realização da coleta de dados. Combinado então o esquema de a-plicação com coordenadores e professores, os pesquisadores procuraram seguir um roteiro padronizado de coleta de dados, de forma que as seguintes atividades foram cumpridas por todos eles: i. apresentação da pesquisa (relevância, impacto e objeti-vos); ii. orientação para resposta aos itens, com especial atenção para o fato de que cada item deveria ser avaliado com base em duas escalas de julgamento (importância e domínio das competências exigidas dos profissionais de turismo); aplicação propri-amente dita dos questionários; e iv. reco-lhimento dos questionários devidamente respondidos e agradecimento aos alunos e professores pela colaboração. Coletados os dados, procedeu-se então à tabulação dos mesmos em um arquivo do programa Statistical Program for Social Sciences. Em seguida, foram calculadas estatísticas descritivas básicas a fim de se investigar possíveis erros da entrada dos dados no arquivo constituído. Posterior-mente, foram calculadas estatísticas descri-tivas, tais como média, desvio-padrão, valo-res mínimos e máximos, a fim de que fos-sem sintetizadas as respostas dos alunos às duas escalas de avaliação. Ao final, a fim de se observar as lacunas de competências presentes na formação dos alunos de cursos superiores de turismo, as respostas às duas escalas de julgamento foram cruzadas, conforme diretrizes inte-grantes do método de análise do papel ocu-pacional proposto por Borges-Andrade e Lima (1983). Segundo esses autores, uma lacuna de competência refere-se a um de-terminado CHA cujos avaliadores conside-rem muito importante e pouco dominado. Dito de outra forma, a partir do cruzamento das respostas de domínio e de importância dos participantes desta pesquisa, foi possí-vel constatar a amplitude das lacunas de competências (Índices de Prioridade) emer-gidas durante o processo de formação dos profissionais de turismo do Distrito Fede-ral. A Figura 1 ilustra a fórmula emprega-da no cálculo desses índices de prioridade de formação. A fórmula apresentada reflete o cálculo da média do produto das respostas de todos os participantes sobre a importância e o domínio das competências relacionadas pelo Ministério da Educação e desenvolvi-das no âmbito das Instituições de Ensino Superior. Mas uma ressalva precisa ser feita, de forma que os resultados apresen-tados em seguida possam ser mais bem compreendidos. Antes de proceder ao cálcu-lo do produto das respostas de importância e de domínio, é preciso, como aponta a Fi-gura 1, inverter as respostas de domínio (3 – D) de cada um dos respondentes. Rosana Hoffman-Câmara, Gardênia da Silva Abbad, Pedro Paulo Murce Meneses y Rodrigo R. Ferreira 313 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 Tal procedimento se faz necessário à medida que se pretende concluir sobre ne-cessidades educacionais, essas representa-das por competências muito importantes e pouco dominadas pelos participantes. Em outras palavras, é preciso identificar CHA que receberam escores altos de importância (entre 2 e 3) e baixos em domínio (entre 0 e 1). O problema é que a escala de domínio, para facilitar a tarefa dos respondentes durante o preenchimento dos questionários, é apresentada de forma contrária à lógica do cálculo da necessidade. Caso seja calcu-lado o produto dos escores de importância e de domínio a partir das respostas originais dos participantes, não é possível obter um ordenamento linear das necessidades. Por exemplo, o produto de uma compe-tência muito importante (escore = 3) e nada dominada (escore = 0), que deveria ser a maior necessidade de complementação da formação do profissional de turismo, é igual a 0 (3 x 0 = 0). Da mesma forma, o produto de uma competência sem importância (es-core = 0) e muito dominada (escore = 3) também é igual a 0, de forma que se mistu-ram necessidades que deveriam ser priori-zadas com competências que sequer deveri-am ser enfocadas. Já se as respostas de domínio forem invertidas, então se conse-gue uma ordenação mais efetiva: o produto de uma competência muito importante (es-core = 3) e nada dominado (escore invertido = 3) é igual a 9; ao passo que o produto de um CHA sem importância (escore = 0) e muito dominada (escore invertido = 0) é igual a 0. Essa lógica é desenvolvida na apresentação dos resultados. Resultados e discussão Como pode ser observado na Tabela 2, de forma geral, é possível afirmar que os 165 alunos formandos dos cursos superiores de Turismo do Distrito Federal julgam co-mo importantes praticamente todas as competências determinadas pelo Ministério da Educação e desenvolvidas por suas res-pectivas Instituições de Ensino (Média Glo-bal = 2,52). Já em relação ao domínio des-sas competências, as opiniões indicam que, mesmo estando os alunos em período final de formação, uma série de lacunas de per-sistem (Média Global = 1,54). Apesar dis-so, ao ser calculado os Índices de Prioridade de Necessidade de Complementação da Formação, é possível constatar que, em amplos termos, os alunos não apresentam tantas lacunas de CHA relevantes para o exercício da profissão de turismo (Média Global = 3,08). Entretanto, algumas obser-vações pontuais merecem destaque à medi-da que representam discrepâncias médias para cada uma das competências analisa-das, como discutido em seguida. Assim, mais detalhadamente, é possível observar que algumas competências mere-cem atenção especial à medida que alcança-ram índices razoáveis de necessidades de complementação de formação. Entre essas competências, merecem destaque as se-guintes: Item 6. Analisar a viabilidade eco-nômico- financeira de empreendimentos e projetos turísticos (IP = 4.44); Item 16. Do-minar o idioma inglês ou espanhol (IP = 4.27); Item 2. Analisar as políticas nacio-nais e regionais sobre turismo (IP = 4.15); Item 7. Aplicar a legislação pertinente à profissão (IP = 4.07); Item 8. Executar pro-jetos e programas estratégicos de empreen-dimentos turísticos e seu gerenciamento (IP = 4.04); Item 9. Intervir no mercado turísti-co com inserção em espaços novos, emer-gentes ou inventariados (IP = 4.04) Figura 1: Fórmula para determinação da amplitude das lacunas de competências. 314 Necessidades educacionais complementares do bacharel em turismo:... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 Em contrapartida, alguns itens mere-cem atenção devido aos baixos índices de prioridade de complementação da formação obtidos: Item 17. Utilizar informática e outros recursos tecnológicos (IP = 3.15); Item 11. Selecionar e avaliar informações profissionais relevantes à área (IP = 3.22); Item 21. Realizar as atividades profissio-nais de acordo com normas éticas (IP = 3.25); Item 10. Classificar estabelecimentos prestadores de serviços turísticos (IP = 3.42). Esses destaques, selecionados em função da amplitude do desvio dos índices de prio-ridade em relação à média global obtida para todas as competências elencadas pelo Ministério da Educação, evidenciam clara-mente importantes lacunas no processo de formação dos profissionais de turismo de nível superior. Antes de comentá-las, cha-ma atenção o fato de que as competências que menos necessitam ser refinadas dizem Competência I D IP - Avaliar o impacto social, econômico e ambiental do turismo 2,65 1,61 3,61 - Analisar as políticas nacionais e regionais sobre turismo 2,53 1,30 4,15 - Participar na elaboração dos projetos de eventos turísticos 2,67 1,53 3,87 - Analisar o planejamento das ações turísticas 2,57 1,41 3,99 - Planejar e operacionalizar Inventários Turísticos 1,47 1,47 3,98 - Analisar a viabilidade econômico-financeira de empreendimentos e projetos turísticos 2,56 1,26 4,44 - Aplicar a legislação pertinente à profissão 1,42 1,42 4,07 - Executar projetos e programas estratégicos de empreendimentos turísticos e seu gerenciamento 2,67 1,47 4,04 - Intervir no mercado turístico com inserção em espaços novos, emergentes ou inventariados 2,41 1,26 4,04 - Classificar estabelecimentos prestadores de serviços turísticos 2,61 1,61 3,42 - Selecionar e avaliar informações profissionais relevantes à área 2,65 1,70 3,22 - Identificar mercados turísticos prioritários para efeito de oferta adequada a cada perfil do turista 2,72 1,63 3,67 - Comunicar-se (verbal e escrita) correta e precisamente 2,67 1,59 3,68 - Interpretar a cultura e a realidade das organizações e de cada comunidade ou segmento social 2,70 1,56 3,87 - Utilizar recursos turísticos para educar, orientar, assessorar, planejar e administrar a satisfação das necessidades dos turistas e das empresas 2,77 1,60 3,78 - Dominar o idioma inglês ou o espanhol 2,79 1,46 4,27 - Utilizar informática e outros recursos tecnológicos 2,75 1,84 3,15 - Interagir criativamente com outros profissionais em equipes interdisciplinares e multidisciplinares 2,81 1,77 3,40 - Analisar a complexidade do mundo globalizado e das sociedades pós-industriais 2,70 1,41 4,25 - Estabelecer relações humanas diversas e fazer articulações inter-pessoais 2,77 1,66 3,65 - Realizar as atividades profissionais de acordo com normas éticas 2,76 1,80 3,25 - Agenciar, organizar e gerenciar eventos e a administração do fluxo turístico 1,58 1,58 3,78 - Identificar Inventário do Patrimônio Histórico e Cultural 2,68 1,46 3,92 Médias Globais 2,52 1,54 3,08 Tabela 2: Índices de prioridade de complementação da formação do profissional de turismo. Rosana Hoffman-Câmara, Gardênia da Silva Abbad, Pedro Paulo Murce Meneses y Rodrigo R. Ferreira 315 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 respeito a capacidades de baixa complexi-dade cognitiva (Item 10. Classificação de estabelecimentos e 11. Seleção de informa-ções relevantes), capacidades comporta-mentais que dificilmente são tratadas ade-quadamente em processos de treinamento e educação (Item 21. Atuação ética) e, por fim, a habilidades atualmente compreendi-das como pré-requisito para atuação em qualquer área de formação (Item 17. Recur-sos de informática e tecnológicos). No caso das competências de seleção de informações relevantes e de classificação de estabelecimentos prestadores de serviços turísticos, tratam-se de habilidades perten-centes ao resultado de aprendizagem, refe-rente ao domínio cognitivo, denominado de conhecimento. Conforme sistema de classi-ficação de resultados de aprendizagem pro-posto por Bloom, Krathwohl e Masia (1972), a capacidade de conhecimento de determinado objeto ou fenômeno requer do aprendiz apenas a evocação, por recon-hecimento ou memória, de idéias, infor-mações, objetos, materiais ou fenômenos. Envolve a evocação de informações específi-cas, terminologias, fatos, convenções, tendências e sequências, classificações, categorias e critérios. Constituem, assim, na escala de complexidade dos resultados de aprendizagem previstos para programas educacionais direcionados para habilidades intelectuais, capacidades de pequena com-plexidade – o nível de conhecimento é o primeiro na taxonomia proposta pelos auto-res supramencionados, desenvolvida em pequenos intervalos temporais, por meio de aulas expositivas dialogadas ou leituras de materiais especializados. Em relação à atuação ética, comporta-mento que os participantes da pesquisa julgam importante e parte de seus repertó-rios de competências, trata-se de uma ex-pressão de um conjunto de atitudes cujo desenvolvimento depende da internalização de uma série de padrões sociais de referên-cia absorvidos ao longo da vida do sujeito. Portanto, extrapolam consideravelmente o ambiente de formação superior, de forma que não se pode creditar completamente às Instituições de Ensino o desenvolvimento de tal competência. Conforme George et al (1997), o processo de socialização depende sim de fatores grupais, como a estrutura familiar ou outras instituições (inclusive educacionais). Mas tais fatores não são os únicos determinantes dos resultados de tal processo, justamente por apenas represen-tarem o elo entre o plano cultural e o indi-vidual. No que se refere ao domínio de habilida-des de informática e outros recursos tec-nológicos, como mencionado, têm-se um pré-requisito de acesso ao mundo do tra-balho atual, tipicamente categorizado a partir da perspectiva da Sociedade da In-formação, conforme destaca Takahashi (2000). Não se refere, assim, a uma com-petência desenvolvida apenas no âmbito de cursos superiores de turismo, mas uma habilidade de acesso a este e a outros tan-tos processos de formação. Esses resultados indicam que as neces-sidades menos intensas de complementação da formação dos profissionais de turismo de nível superior referem-se ou a habilidades de pequena complexidade, facilmente tra-tadas em salas de aula ou desenvolvidas fora dela como forma de permitir acesso a tais ambientes de aprendizagem, ou a pos-turas cujo desenvolvimento extrapola con-sideravelmente a capacidade das próprias Instituições de Ensino. Por outro lado, ob-servadas as competências julgadas como mais importantes e menos dominadas pelos formandos pesquisados, constata-se a per-sistência de lacunas de alta complexidade na formação de tais profissionais, como destacado em seguida. Conforme taxonomia desenvolvida por Bloom, Krathwohl e Masia (1972), as capa-cidades de analisar a viabilidade econômi-co- financeira de empreendimentos e proje-tos turísticos, de analisar as políticas na-cionais e regionais sobre turismo e de apli-car a legislação pertinente à profissão, de executar projetos e programas estratégicos de empreendimentos turísticos e seu geren-ciamento e de intervir no mercado turístico com inserção em espaços novos, emergentes ou inventariados referem-se a resultados complexos de processos de aprendizagem de habilidades intelectuais. Concernem a habilidades de solução de problemas de trabalho que exigem dos pro-fissionais a combinação de informações e conhecimentos previamente armazenados e o seu uso em situações novas, diferentes daquelas projetadas pelas Instituições de Ensino Superior para permitir seu suposto 316 Necessidades educacionais complementares do bacharel em turismo:... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 desenvolvimento. Diferentemente de habi-lidades menos complexas, essas exigem que as estratégias, os meios e os recursos ins-trucionais simulem, com a maior fidedigni-dade possível, as situações de trabalho que os futuros profissionais enfrentarão. Quan-to maior a distância entre a situação de ensino-aprendizagem da situação de práti-ca profissional, tanto mais será dificultada a aquisição desses tipos de competência de alta complexidade. Este, portanto, parece ser o caso das instituições pesquisadas. O mesmo raciocínio se aplica ao domínio de línguas estrangeiras, embora neste caso tal competência possa ser desenvolvida em ambiente externo à determinada instituição educacional superior. Em suma, constata-se que os 165 estu-dantes amostrados demonstram dominar habilidades de acesso ou básicas exigidas dos profissionais de turismo, mas não aque-las realmente associadas ao exercício da profissão em questão. Julgam dominar in-formática e se sentem capazes de selecionar informações pertinentes, classificar estabe-lecimentos e atuar de forma ética. Entre-tanto, não se sentem seguros para colocar em prática habilidades de ordem complexa, como analisar a viabilidade projetos (e exe-cuta- los) e de políticas de turismo, intervir em seu próprio mercado de trabalho e co-municar- se em outros idiomas. É provável que tais resultados decorram justamente dos currículos em desenvolvi-mento nos cursos superiores de turismo. Como destaca Trigo (1993), o curso de Tu-rismo, formatado a partir das bases da ad-ministração de empresas, contém em seu bojo uma multidisciplinaridade que incor-pora práticas e conteúdos das mais diversas disciplinas. Tal aspecto parece contribuir para a formação de profissionais generalis-tas, como menciona o Ministério da Edu-cação (2003), com conhecimento geral sobre tópicos das ciências humanas, sociais, polí-ticas e econômicas, em detrimento do de-senvolvimento de competências especiali-zadas em áreas de conhecimento mais afei-tas às atividades profissionais, principal-mente aquelas relativas ao agenciamento, organização e gerenciamento de eventos e a administração do fluxo turístico. De fato, analisadas as matrizes curricu-lares das seis instituições pesquisadas, cujos nomes não podem ser aqui informa-dos, constata-se que a maioria contempla uma série de disciplinas inerentes a outros campos do conhecimento científico. As ma-térias mais relacionadas às atividades exi-gidas de um profissional de turismo costu-mam receber tratamento menos aprofun-dado, quantitativamente pelo menos. As-sim, enfoca-se com maior frequência, por exemplo, disciplinas de Psicologia, Sociolo-gia, Economia, Contabilidade, entre outras, em detrimento de outras direcionadas para o planejamento, a organização e a gestão de atividades turísticas. Talvez esse tratamento diferenciado es-teja relacionado com a quantidade de se-mestres, que varia entre seis e oito, que integram o processo de formação de profis-sionais de turismo. Ainda que não repre-sente uma relação de alta magnitude, cons-tatou- se que quanto menor o número de semestres previstos na estrutura curricular das Instituições amostradas, maiores as lacunas nos processo de formação dos alu-nos (r = -0.23, p < 0.001, 2-tailed). Dito de outra forma, para que os profissionais se-jam capazes de satisfazer as necessidades dos clientes e as da própria indústria turís-tica, faz-se necessário um redirecionamento das estruturas curriculares às quais são submetidos os futuros turismólogos, no caso desta pesquisa específica, caracterizados como generalistas com deficiências especia-lizadas de formação. Considerações finais Pesquisas indicam que a formação pro-fissional em nível de graduação no Brasil ainda está aquém do desejável. Os cursos de Turismo não estão excluídos desse con-texto. A maioria dos cursos apresenta lacu-nas no processo ensino-aprendizagem, o que gera dificuldades no desenvolvimento de múltilas e complexas competências exi-gidas pela sociedade contemporânea e, con-sequentemente, compromete a inserção de profissionais no mercado de trabalho. Nesse contexto, torna-se necessária a capacitação contínua para que os Bacharéis em Turis-mo possam, além de conseguir espaço de atuação profissional, influenciar as políti-cas de Turismo, discutir o fenômeno turísti-co e vislumbrar as perspectivas da área de modo ágil, afim de que, frente ao mundo globalizado e dinâmico, possam alavancar o Rosana Hoffman-Câmara, Gardênia da Silva Abbad, Pedro Paulo Murce Meneses y Rodrigo R. Ferreira 317 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 segmento. Uma revisão do papel da educação no campo turístico é iminente. Para tanto, as faculdades que formam o Bacharel em Tu-rismo devem avançar no processo educati-vo, detectando de modo rigoroso as necessi-dades e as exigências do contexto turístico, bem como aprimorando as oportunidades de aprendizagem dos alunos durante os cursos de graduação. A natureza complexa das competências exigidas do profissional de turismo requer ações sistemáticas de modificação nas oportunidades de aprendi-zagem por meio da articulação entre ensino de graduação, pesquisa e extensão. Tendo por base resultados empíricos de outras pesquisas, percebe-se que cursos de formação profissional no Brasil muitas ve-zes não integram atividades de pesquisa ao ensino de graduação e, por conseguinte, tem resultados inferiores no Enade. Tal indicador sugere que os processos de ensi-no- aprendizagem não são efetivos a ponto de desenvolver competências requeridas pelas diretrizes curriculares emanadas pelo MEC. O método de ANT utilizado na pre-sente pesquisa é similar ao utilizado por autores como Hicks e Henessy (1997), Hicks et al (1996) e Fan e Cheng (2006) nos seguintes aspectos: foco na necessidade de qualificação e requalificação de profissio-nais egressos de instituições de ensino su-perior, aplicação de questionários, utiliza-ção de escalas de mensuração de necessida-des de treinamento. A principal contribuição do estudo é propor um instrumento válido de auto-avaliação de competências do egresso de cursos de Turismo, aplicável na identifica-ção de necessidade de qualificação e requa-lificação dos profissionais dessa área no Brasil. Sugere-se ainda a ampliação da pesquisa em outras amostras de profissio-nais de turismo, o que possibilitaria a defi-nição de linhas de ação para apoiar a a-prendizagem e o desenvolvimento contínuo de competências e ampliar as chances de melhor inserção desses profissionais no mercado de trabalho. Como principais limitações da pesquisa, podem ser citadas as ausências de avalia-ção preliminar do grau de motivação e ex-pectativas dos estudantes ingressos nos cursos de Turismo; ausência de avaliação das competências didáticas dos professores dos referidos cursos; a existência de algu-mas diferenças nas grades de disciplinas ministradas entre as faculdades pesquisa-das, ou seja, nem todas as faculdades pos-suem as mesmas disciplinas e algumas não estruturaram os cursos de acordo com as competências necessárias ao profissional de Turismo, em consonância com os critérios definidos pelo MEC; a ausência de verifica-ção da percepção do papel ocupacional pelos egressos dos cursos e, finalmente, o número de respondentes obtidos, que não foram suficientes para a validação estatística do instrumento e generalização dos resultados. Para agenda de futuras pesquisas no tema, sugere-se que sejam melhor explora-das as limitações citadas, principalmente as que se referem às motivações e expecta-tivas dos ingressos e à coleta da percepção dos egressos quanto a necessidade real das habilidades critério definidas, para uma efetiva atuação no mercado de trabalho. Referências Bloom, B.S., Krathwohl, D.R. e Masia, B.B. 1972. Taxonomia de objetivos educacionais: compendio primeiro: Domínio cognitivo. Porto Alegre: Globo. Borges-Andrade, J.E. e Lima, S.M.V. 1983. “Avaliação de necessidades de trei-namento: um método de análise de papel ocupacional”. Tecnologia Educacional, v.12, n.54, p.5-14. Brown, J. 2002. “Training needs assessment: A must for developing an effective training pro-gram”. Public Personnel Management, 2002, 31(4), 569-578. Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). 1992. Glossário do turismo. Disponível em: http://institucional.turismo.gov.br/. A-cesso em: 14/12/2005. Fan, C. 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Título y subtítulo | Necessidades educacionais complementares do bacharel em turismo: aplicação do método da análise do papel ocupacional |
Autor principal | Hoffman-Câmara, Rosana ; da Silva Abbad, Gardênia ; R. Ferreira, Rodrigo ; Paulo Murce Meneses, Pedro |
Publicación fuente | Pasos. Revista de turismo y patrimonio cultural |
Numeración | Volumen 08. Número 2 |
Sección | Artículos |
Tipo de documento | Artículo |
Lugar de publicación | El Sauzal, Tenerife |
Editorial | Universidad de La Laguna |
Fecha | 2010-04 |
Páginas | pp. 305-318 |
Materias | Turismo ; Patrimonio cultural ; Publicaciones periódicas |
Enlaces relacionados | Página web: http://todopatrimonio.com/revistas/101-pasos-revista-de-turismo-y-patrimonio-cultural |
Copyright | http://biblioteca.ulpgc.es/avisomdc |
Formato digital | |
Tamaño de archivo | 162487 Bytes |
Texto | Vol. 8 Nº2 págs. 305-318. 2010 www.pasosonline.org © PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121 Necessidades educacionais complementares do bacharel em turismo: aplicação do método da análise do papel ocupacional Rosana Hoffman-Câmaraii Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Brasil) Gardênia da Silva Abbadiii Universidade de Brasília (Brasil) Pedro Paulo Murce Menesesiv Universidade de Brasília (Brasil) Rodrigo R. Ferreirav Universidade de Brasília (Brasil) Resumo: este estudo analisa as necessidades de desenvolvimento de competências de formandos de cursos de Turismo ofertados por instituições do Distrito Federal. Foi utilizado um instrumento de pesqui-sa elaborado a partir dos conhecimentos, habilidades e atitudes do Bacharel em Turismo, definidos nas Diretrizes curriculares do curso de graduação do Ministério da Educação e Cultura. Participaram da pesquisa 165 estudantes de Turismo de nove instituições. Foram realizadas análises estatísticas descriti-vas para analisar os dados. Os resultados demonstram que os estudantes pesquisados demonstraram dominar habilidades de acesso ou básicas exigidas dos profissionais de Turismo, mas não aquelas real-mente associadas ao exercício da profissão em questão. São fornecidas bases para repensar a formação dos profissionais brasileiros de Turismo, bem como sugestões de pesquisas futuras. Palavras-chave: Treinamento; Desenvolvimento e educação; Avaliação de necessidades de treinamento; Análise do papel ocupacional; Formação superior em Turismo; Necessidades educacionais em Turismo. Abstract: this study examines the needs for developing skills of trainees in courses offered by institu-tions of Tourism of the Distrito Federal. It was used a research tool developed from the knowledge, skills and attitudes of the Tourism professional defined by the Ministry of Education and Culture. A hundred and sixty five students of Tourism in nine institutions participated in the study. Descriptive statistics were performed to analyze the data. The results show that students sampled demonstrated mastery of basic skills required of professionals in Tourism, but not those actually associated with the exercise of the profession in question. Bases are provided to rethink the skills of Brazilian professionals of Tourism and for future studies. Keywords: Training, development and education; Training needs evaluation; Occupational role analysis method; Tourism superior course; Educational needs in tourism. ii Mestre em Gestão Social e do Trabalho. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária/ Departamento de Gestão de Pessoas. E-mail: rosana.camara@embrapa.br. iii Doutora em Psicologia do Trabalho e Organizacional. Universidade de Brasília/ Departamento de Psicologia Social e do Trabalho (professora adjunto). E-mail: gardenia.abbad@gmail.com. iv Doutor em Psicologia do Trabalho e Organizacional. Universidade de Brasília/ Departamento de Administração (professor adjunto). E-mail: pemeneses@yahoo.com.br. v Mestrando em Psicologia do Trabalho e Organizacional. Universidade de Brasília/ Departamento de Psicologia Social e do Trabalho (aluno do curso de mestrado). E-mail: rodrigoferreira@unb.br 306 Necessidades educacionais complementares do bacharel em turismo:... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 Introdução O turismo tem sido citado na literatura desde meados do século XIX, mas foi so-mente a partir da Segunda Guerra mun-dial, ante os recorrentes deslocamentos de grande número de pessoas para os mesmos lugares nas mesmas épocas do ano, que a atividade começou a atrair a atenção de estudiosos e pesquisadores (Ruschmann, 1999). Conforme caracteriza a Organização Mundial de Turismo (OMS, 2001: 3), o tu-rismo abarca atividades pessoais de lazer, negócios, dentre outras, efetuadas durante viagens e estadas de duração inferior a um ano. Já para o Instituto Brasileiro de Tu-rismo (1992), o turismo é constituído por uma série de transações, de compra e venda de serviços, efetuadas entre os agentes pertinentes. Trata-se, portan-to, de atividade econômica desenvolvida mediante a oferta de serviços alinhados às necessidades das atividades de via-gens e lazer dos clientes, independen-temente das origens motivacionais des-se público. Deve, não obstante, agregar ao mercado uma completa infra-estrutura de atendimento, onde se alo-cam os serviços de transporte, hospe-dagem, agenciamento, alimentação, en-tretenimento e outras manifestações de produção que atendem às necessidades do turista. Associado meramente a viagens e esta-das ou compreendido, antes, como atividade econômica, é fato que o mercado de turismo abarca uma série de opções, entre as quais se destacam o turismo: de aventura (desa-fios e expedições acidentadas); de bem-estar (aperfeiçoamento das condições físicas ou espirituais de um indivíduo ou grupo de pessoas); cultural (direcionado a partici-pantes interessados em conhecer costumes de determinado povo ou região); ecoturismo (atividade que utiliza, de forma sustentá-vel, o patrimônio natural e cultural, incen-tiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista); espeleotu-rismo (visita ou exploração de cavernas); esportivo (promoção da prática de esportes por amadores ou profissionais) e de estudo (voltado para aprendizado, treinamento ou ampliação de conhecimentos in situ), entre outras. Ante a relevância econômica da ativida-de, principalmente em um País como o Bra-sil, onde as diversas opções de turismo lis-tadas encontram facilmente espaço em re-giões e grupos específicos, observa-se, nas últimas décadas, uma expansão considerá-vel das oportunidades de formação de agen-tes especializados. Ainda que os primeiros cursos datem de 1971, foi apenas em mea-dos da década de 1990 que a área passou por uma fase de grande expansão. Somente no Distrito Federal, locus da presente pes-quisa, existiam em 2005, 12 instituições particulares que ofertavam cursos de gra-duação em Turismo. De um lado, tem-se a perspectiva de crescimento do setor, com um fluxo turísti-co cada vez mais acirrado no País, aliada à expansão econômica, social, cultural e am-biental. Do outro, colocam-se os centros de formação de profissionais, com atuação ainda recente no Brasil, pautados em crité-rios de qualificação definidos pelo Ministé-rio da Educação (MEC). Resta saber, na ausência de estudos sistemáticos sobre o assunto, se tais centros realmente têm se mostrado capazes de contribuir para a for-mação de um perfil profissional cada vez mais abrangente e multifacetado. É justamente este o cerne do presente artigo: analisar a percepção de formandos de cursos de Turismo ofertados no Distrito Federal acerca da importância (para o de-sempenho da função) e do domínio de com-petências definidas pelas Diretrizes Curri-culares para o curso de graduação em Tu-rismo, emanadas pelo MEC e desenvolvidas por suas instituições de ensino superior de origem. Trata-se de uma pesquisa de cam-po, de caráter exploratório, operacionaliza-da com base em um método de Avaliação de Necessidades de Treinamento (ANT), extra-ído de referenciais da Psicologia Organiza-cional, em especial da área de Treinamento, denominado análise do papel ocupacional e proposto por Borges-Andrade e Lima em 1983. Tal método foi selecionado tendo em vista a capacidade, conforme descrito em seguida, de identificar necessidades de de-senvolvimento de competências que, no caso desta pesquisa, talvez não tenham sido amparadas pelos critérios definidos pelo MEC nos currículos das próprias Institui- Rosana Hoffman-Câmara, Gardênia da Silva Abbad, Pedro Paulo Murce Meneses y Rodrigo R. Ferreira 307 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 ções de Ensino. Referencial teórico Este artigo enquadra-se em uma catego-ria de investigação cujo cerne teórico-conceitual e metodológico é da Psicologia Organizacional e do Trabalho. Uma vez que se pretende discutir as necessidades de qualificação de formandos dos cursos de Turismo do DF, recorre-se ao aparato cien-tífico relativo à temática de Avaliação de Necessidades de Treinamento, Desenvolvi-mento e Educação (TD&E) de pessoas, cujo propósito consiste na identificação de dis-crepâncias, motivadas por alterações nos padrões de conhecimentos, habilidades e atitudes, entre condições de desempenho reais manifestadas pelos indivíduos e dese-jadas por suas respectivas organizações (Morrison, 1977). Dessa forma, trata-se de um quadro teó-rico- metodológico mais comumente utiliza-do na projeção de soluções em TD&E para contextos organizacionais, mas que, com alguns ajustes, facilmente pode ser direcio-nada, conforme assevera Brown (2002), para a formação e o desenvolvimento de carreiras profissionais. Como observado anteriormente, avaliar necessidades de desenvolvimento de competências exige a confrontação entre padrões de desempe-nhos demonstrados por indivíduos e de-mandados por suas organizações. No caso da aplicação desta premissa no delinea-mento de carreiras profissionais, apenas se substitui a demanda organizacional pelas exigências do contexto sócio-econômico-político (leis, saúde, segurança, educação, economia, política, sociedade, tecnologia, meio-ambiente, entre outros). Ressaltada a necessidade de se efetuar este pequeno ajuste no que se entende por necessidade organizacional de TD&E, faz-se necessário discorrer sobre os principais modelos teóricos de Avaliação de Necessi-dades de Treinamento (ANT) disponibiliza-dos na literatura científica de treinamento de pessoas. O primeiro deles, proposto por McGehee e Thayer (1961), é constituído por três níveis de análise: organizacional, de tarefas e de pessoas. No nível da organiza-ção, deve-se analisar os objetivos, as de-mandas e as taxas de eficiência organiza-cionais, a fim de se determinar onde o trei-namento é necessário. A análise de tarefas requer que sejam estabelecidos padrões de desempenho e, por conseguinte, os conhe-cimentos, as habilidades e as atitudes ne-cessários para se atingir o padrão de de-sempenho estabelecido; neste nível de aná-lise, deve-se determinar o que (qual conte-údo) deve ser treinado. Por fim, na análise individual é identificado quem na organiza-ção precisa receber o treinamento. Já o modelo multinível proposto por Os-troff e Ford (1989), inter-relaciona três grandes componentes da ANT: de conteúdo, de nível e de aplicação. O primeiro compo-nente (de conteúdo) é constituído por aspec-tos organizacionais, de tarefas e pessoal, e contém os principais tipos de informação que podem ser obtidas quando realizada uma ANT. O segundo componente (de ní-vel) expande a abordagem, segmentando as áreas de conteúdo em três níveis de neces-sidade de treinamento: organizacional, de subunidade e individual. Essa segmentação deixa claro que a necessidade de treina-mento deve ser vista de acordo com o nível em que se encontra. O terceiro componente do modelo (de aplicação) adiciona a dimen-são de profundidade, incorporando as ne-cessidades de conceituação, operacionaliza-ção e interpretação dos outros dois compo-nentes. Colocados de outra maneira, enquanto o primeiro modelo procura identificar onde, o que e quem treinar, o segundo exige, além de respostas a esses questionamentos, o dimensionamento do nível de entrega do treinamento: indivíduos, grupos e equipes ou organização. No caso do presente estudo, dada a ciência sobre o nível de entrega das soluções educacionais, opta-se pelo primeiro modelo de avaliação de necessidades (Mc- Gehee; Thayer, 1961). Como grande parte dos cursos superiores, o de Turismo tam-bém é entregue para indivíduos que, poste-riormente, desenvolverão suas atividades independentemente dos desempenhos dos colegas de turma ou de curso, ainda que porventura venham a trabalhar juntos em determinada empresa. Outros autores também adotaram o en-foque de ANT voltado para a qualificação e a formação profissionais. Hicks e Henessy (1997) identificaram necessidades de trei-namento de enfermeiras por meio de um instrumento psicometricamente válido. 308 Necessidades educacionais complementares do bacharel em turismo:... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 Segundo as autoras, mudanças nos contra-tos públicos que regem a atuação das en-fermeiras na Inglaterra aumentaram signi-ficativamente os padrões de qualidade do serviço médico e o fluxo de trabalho desta classe de profissionais. O papel e a função das enfermeiras naquele país ainda eram pouco definidos (tanto no setor público quanto no privado), o que gerava contradi-ção entre profissionais e pesquisadores acerca do conteúdo de ações educacionais direcionadas aos profissionais de enferma-gem. As autoras utilizaram um questionário validado por Hicks et al (1996) composto por 31 tarefas ocupacionais organizadas em cinco categorias: pesquisa/auditoria, admi-nistrativa/ técnica, comunicação/trabalho em equipe, gestão/supervisão e atividades clinicas. Foram utilizadas cinco escalas ordinais de 7 pontos do tipo Likert que mensuravam: a importância da tarefa para performance no cargo atual, o nível de per-formance atual do respondente na tarefa, a importância da tarefa para performance do indivíduo na ocupação (enfermagem), o grau em que mudanças nas práticas da enfermagem afetaria cada tarefa e o grau em que ações de treinamento poderiam melhorar a prática de cada tarefa. Ainda no campo da saúde, Gould, Kelly, White e Chidgey (2003) revisaram a litera-tura sobre ANT e suas aplicações para o desenvolvimento profissional de enfermei-ras e para explorar o planejamento e a im-plementação de cursos. Para estas autoras, algumas características da ANT realizada atualmente pelas organizações se parecem mais com auditorias internas do que com pesquisa sobre necessidades de treinamen-to. Para Gould et al (2003), a diferença é que a pesquisa busca entender, estabelecer e disseminar o conhecimento acerca da maneira correta de se fazer as coisas, en-quanto uma auditoria busca saber se as coisas consideradas corretas estão sendo feitas. Na busca, as autoras utilizaram a palavra-chave training needs analysis e identificaram 226 artigos que foram anali-sados segundo os seguintes critérios: públi-co- alvo da ANT, objetivos da ANT, stake-holders participantes do processo, compe-tências estudadas, método de pesquisa, principais resultados e planejamento ins-trucional. Outro estudo sobre necessidades de qua-lificação e formação profissionais foi reali-zado por Fan e Cheng (2006). Os autores visaram identificar necessidades contínuas de desenvolvimento profissional de repre-sentantes de venda de seguro de vida. No contexto da pesquisa, as organizações-matrizes norte-americanas de companhia de seguro, com filiais em Taiwan, imple-mentaram ações educacionais construídas pelas Associação de Seguro de Vida dos Estados Unidos. Porém, segundo os auto-res, tais ações de TD&E não resultaram em aumento de desempenho dos profissionais nas filiais chinesas. Nesse cenário, Fan e Cheng (2006) hipotetizaram sobre a neces-sidade de se desenhar ações educacionais sob medida para cada contexto de formação profissional que levasse em consideração, também, o perfil dos profissionais e a reali-dade de cada país. Os autores coletaram os dados por meio de Técnica Delphi, o que possibilitou a construção de um painel am-plo sobre as necessidades de desenvolvi-mento profissional dos representantes de venda de seguro de vida de Taiwan. Há de se considerar também a base me-todológica empregada na condução do pre-sente estudo, qual seja a análise do papel ocupacional, desenvolvida por Borges- Andrade e Lima (1983) para facilitar, origi-nalmente, a realização das análises de tare-fas e individual integrantes do modelo de McGehee e Thayer (1961). Baseada no mé-todo da razão da validade do conteúdo (Content Validity Ratio) proposto por Ford e Wroten (1982), a análise do papel ocupa-cional é feita com base em questionamentos sobre a importância de determinados co-nhecimentos, habilidades e atitudes em relação a metas de desempenho previamen-te definidas pela organização. Tecnicamente, após terem sido estabele-cidas certas metas de desempenho vislum-bradas pela organização, ou pela sociedade, no caso deste estudo, passa-se à identifica-ção dos processos de trabalho, das ativida-des ou das tarefas necessárias ao cumpri-mento de tais metas e, posteriormente, à descrição dos conhecimentos, habilidades e atitudes pertinentes. Em seguida, tais componentes são avaliados em termos de sua relevância para o cumprimento das metas estabelecidas (importância), e tam-bém em função do nível de domínio desses Rosana Hoffman-Câmara, Gardênia da Silva Abbad, Pedro Paulo Murce Meneses y Rodrigo R. Ferreira 309 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 recursos por indivíduos ou grupos previa-mente amostrados. Uma necessidade de treinamento, então, resultaria da discre-pância entre o nível de importância atribu-ída a uma competência e o nível de domínio da competência pelos indivíduos. Transposta para a realidade do presente estudo, deduz-se facilmente que as deman-das da sociedade (análise organizacional) convergem para a emergência em expan-são, como discutido anteriormente, de uma série de atividades direta e indiretamente associadas ao setor de turismo no Brasil. A fim de atender a este novo quadro de servi-ços, e com base em diretrizes governamen-tais sobre o perfil do profissional de Turis-mo necessário (análise de tarefas), mensu-ra- se uma série de necessidades de forma-ção e qualificação profissional (análise indi-vidual). Resta saber se tais necessidades de desenvolvimento realmente condizem com as realidades de mercado percebidas pelo público-alvo de tais ações de formação e qualificação. Objeto de pesquisa Conforme estipula o Ministério da Edu-cação e da Cultura (2003), o Bacharel em Turismo deverá estar apto a atuar em mer-cados em constante transformação, cujas opções possuem um impacto profundo na vida social, econômica e no meio ambiente, exigindo uma formação ao mesmo tempo generalista, que contemple componentes das ciências humanas, sociais, políticas e econômicas, como também de uma forma-ção especializada, integrada por conheci-mentos relacionados às áreas culturais, históricas, ambientais, antropológicas, de Inventário do Patrimônio Histórico e Cul-tural, bem como ao agenciamento, à organi-zação e ao gerenciamento de eventos e a administração do fluxo turístico. Reconhecendo que tal direcionamento é consideravelmente abrangente, a ponto de impossibilitar uma definição mais precisa das competências exigidas de um profissio-nal de turismo, o referido Ministério, por meio do parecer 288, aprovado em 6 de novembro de 2003, determinou que os cur-sos de graduação em Turismo devem possi-bilitar a formação profissional que revele, pelo menos, as seguintes competências e habilidades: Compreensão das políticas nacionais e regionais sobre turismo Utilização de metodologia adequada para o planejamento das ações turísti-cas, abrangendo projetos, planos e pro-gramas, com os eventos locais, regionais, nacionais e internacionais Positiva contribuição na elaboração dos planos municipais e estaduais de turis-mo Domínio das técnicas indispensáveis ao planejamento e à operacionalização do Inventário Turístico, detectando áreas de novos negócios e de novos campos tu-rísticos e de permutas culturais Domínio e técnicas de planejamento e operacionalização de estudos de viabili-dade econômico-financeira para os em-preendimentos e projetos turísticos; Adequada aplicação da legislação perti-nente Planejamento e execução de projetos e programas estratégicos relacionados com empreendimentos turísticos e seu gerenciamento Intervenção positiva no mercado turísti-co com sua inserção em espaços novos, emergentes ou inventariados Classificação, sobre critérios prévios e adequados, de estabelecimentos presta-dores de serviços turísticos, incluindo meios de hospedagens, transportadoras, agências de turismo, empresas promoto-ras de eventos e outras áreas, postas com segurança à disposição do mercado turístico e de sua expansão Domínio de técnicas relacionadas com a seleção e avaliação de informações geo-gráficas, históricas, artísticas, esporti-vas, recreativas e de entretenimento, folclóricas, artesanais, gastronômicas, religiosas, políticas e outros traços cul-turais, como diversas formas de mani-festação da comunidade humana Domínio de métodos e técnicas indispen-sáveis ao estudo dos diferentes mercados turísticos, identificando os prioritários, inclusive para efeito de oferta adequada a cada perfil do turista Comunicação interpessoal, intercultural e expressão correta e precisa sobre as-pectos técnicos específicos e da interpre-tação da realidade das organizações e dos traços culturais de cada comunidade ou segmento social 310 Necessidades educacionais complementares do bacharel em turismo:... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 Utilização de recursos turísticos como forma de educar, orientar, assessorar, planejar e administrar a satisfação das necessidades dos turistas e das empre-sas, instituições públicas ou privadas, e dos demais segmentos populacionais Domínio de diferentes idiomas que ense-jem a satisfação do turista em sua inter-venção nos traços culturais de uma co-munidade ainda não conhecida Habilidade no manejo com a informática e com outros recursos tecnológicos Integração nas ações de equipes inter-disciplinares e multidisciplinares, inte-ragindo criativamente face aos diferen-tes contextos organizacionais e sociais Compreensão da complexidade do mun-do globalizado e das sociedades pós-industriais, onde os setores de turismo e entretenimento encontram ambientes propícios para se desenvolverem Profunda vivência e conhecimento das relações humanas, de relações públicas, das articulações interpessoais, com pos-turas estratégicas do êxito de qualquer evento turístico Conhecimentos específicos e adequado desempenho técnico-profissional, com humanismo, simplicidade, segurança, empatia e ética A partir desse conjunto de competências, esta pesquisa buscou, então, avaliar dois principais aspectos inerentes ao processo de formação de agentes de turismo: i. o domí-nio dessas competências por alunos em processo de conclusão de curso, de forma a investigar o cumprimento das diretrizes determinadas pelo Ministério da Educação; e ii. a importância real dessas competências para esses mesmos profissionais, a fim de validar a proposta de formação desenvolvi-da pelo Ministério e operacionalizada, sob a forma de currículos, por uma série de Insti-tuições de Ensino Superior localizadas na cidade de Brasília. Método, procedimentos e técnicas de pes-quisa Essa pesquisa caracteriza-se, quanto aos fins, como exploratória, visto não haver iniciativa registrada na literatura nacional de aplicação de métodos científicos para a prospecção e validação de ações de qualifi-cação de profissionais de nível superior. Quanto aos meios, utilizou-se a pesquisa de campo mediante aplicação de questionários, a fim de que dados primários sobre a vali-dade das competências definidas nos currí-culos de formação de profissionais de tu-rismo de nível superior pudesse ser efeti-vamente testada. Adiante são apresentadas informações mais detalhadas sobre as insti-tuições de ensino e alunos participantes, o instrumento de pesquisa e os procedimen-tos de coleta e de análise de dados. Instituições de Ensino e Alunos Participan-tes Para a realização desta pesquisa, foram pré-selecionadas 12 faculdades que oferta-vam, em 2005, o curso superior de turismo na região do Distrito Federal. Em um se-gundo momento, haja vista o objetivo de investigar também o domínio das compe-tências exigidas do profissional de turismo relacionadas pelo Ministério da Educação, optou-se apenas pelos cursos que contavam com turmas em período final de formação. Assim, para composição da amostra previ-amente definida de participantes, foram apenas selecionados os alunos que à época cursavam o 6º, 7º ou 8º período de curso. Tal variação se deu em função de que algumas faculdades possuem grades curriculares distribuídas em três anos e meio ou em quatro anos de formação (Tabela 1). Como observado na Tabela 1, em 2005 a estimativa era de que fossem lançados no mercado de trabalho do Distrito Federal, por meio das 12 faculdades que à época ofertavam cursos de nível superior, 415 profissionais de turismo. Deste total, 165 (aproximadamente 40%) responderam ao questionário de pesquisa apresentado em seção particular e, portanto, integraram a amostra do presente estudo. A amostra é caracterizada por uma maioria de mulheres (58,8%), com idades entre 20 e 24 anos (43,6%) e que cursavam o 8º semestre de curso (68,8%). Os demais 250 estudantes não foram incluídos no estudo ou pelo fato de suas respectivas instituições de ensino não terem autorizado a execução dos proce-dimentos de coleta de dados ou devido ao semestre em que se encontravam (apenas os formandos foram consultados). Rosana Hoffman-Câmara, Gardênia da Silva Abbad, Pedro Paulo Murce Meneses y Rodrigo R. Ferreira 311 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 Instituição de Ensino Superi-or Estimativa de Formados em 2005 Número de Questionários Respondidos Observação 1 20 15 --- 2 15 10 --- 3 77 72 Grade antiga com 8 semestres e atual com 7 4 100 27 --- 5 40 36 --- 6 40 5 --- 7 0 0 Turmas somente até o 4º semestre 8 0 0 Turmas somente até o 2º semestre 9 0 0 Turmas somente até o 2º semestre 10 40 0 Não autorizou a coleta de dados 11 16 0 Não autorizou a coleta de dados 12 67 0 Não autorizou a coleta de dados Total 415/ 100% 165/ 39,76% Tabela 1: População e Amostra Instrumento de Pesquisa Esta pesquisa foi operacionalizada a partir da aplicação de um questionário que visava investigar a importância e o domí-nio, por parte dos formandos de cursos de turismo ofertados por Instituições de Ensi-no Superior localizadas no Distrito Federal, de uma série de competências definidas pelo Ministério da Educação. Portanto, a primeira etapa para elaboração dos itens do instrumento de pesquisa consistiu na aná-lise de tais competências estipuladas por meio do parecer 0288/2003, deste mesmo Ministério, conforme elucidado na seção referente ao objeto desta pesquisa. As competências estipuladas foram, em seguida, ajustadas, de forma que represen-tassem descrições precisas e observáveis dos conhecimentos, habilidades e atitudes (CHA) exigidos dos profissionais de turis-mo. Ante o fato de que as competências listadas pelo Ministério da Educação, em alguns momentos, integravam dois ou mais CHAs em uma única descrição (o que, psi-cometricamente, diminui a objetividade e a precisão do item a ser respondido pelos sujeitos), decidiu-se pelo desdobramento, nesses casos, em mais de um item. Proces-sados esses ajustes, as 19 competências definidas previamente foram transforma-das em 23 itens, agora associados a duas escalas de julgamento do tipo Likert de 4 pontos cada: i. importância do CHA, na qual o valor 0 correspondia ao julgamento sem importância e o valor 3, a totalmente importante; e ii. domínio do CHA, cujos valores variavam também de 0 (nenhum domínio) a 3 (domínio total). Logo após a apresentação dos 23 itens, havia ainda duas questões abertas que instruíam os respondentes a sugerir cursos de extensão (carga horária de até 359 ho-ras/ aula) e também cursos de especializa-ção Lato Sensu (carga horária igual ou su-perior a 360 horas/aula) que julgassem necessários à complementação da formação do profissional de turismo de nível superi-or. A idéia destes campos era poder con-trastar as sugestões, em termos quantitati-vos e qualitativos (natureza e complexidade das soluções educacionais sugeridas), com as respostas de domínio e importância das 312 Necessidades educacionais complementares do bacharel em turismo:... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 competências exigidas desses profissionais. Esperava-se, portanto, que quanto maior a lacuna de competência (maior a importân-cia e menor o domínio), tanto maior seria o número de sugestões de natureza diversas e de complexidade elevada. O instrumento de pesquisa foi ainda submetido a um processo de validação se-mântica, a fim de ajustar a linguagem em-pregada na redação das orientações e dos itens aos perfis dos futuros respondentes. O questionário foi aplicado, então, em uma amostra de 30 alunos do 8º semestre de cursos de turismo, os quais, posteriormen-te, não foram incluídos na amostra utiliza-da para cálculo das estatísticas derradei-ras. Após tal etapa, alguns poucos ajustes foram efetivados a fim de tornar as instru-ções e os itens mais claros e representativos das atividades desenvolvidas pelos profis-sionais de Turismo. Procedimentos de Coleta e de Análise de Dados Os questionários foram aplicados presencialmente pela equipe de pesquisa-dores. Em um primeiro momento, foram feitos contatos com os coordenadores dos cursos de turismo das 12 Instituições de Ensino Superior localizadas no Distrito Federal. Destes, três coordenadores não autorizaram a realização de pesquisa. Ou-tras três instituições foram descartadas à medida que os coordenadores relatavam que os alunos ainda se encontravam em estágio inicial de formação (1º até 4º semes-tre). Assim, apenas alunos de seis faculda-des puderam ser consultados. Autorizada a realização da pesquisa em tais instituições, o próximo passo con-sistiu, por intermédio dos coordenadores anteriormente consultados, em contatar alguns professores que lecionavam discipli-nas nos semestres finais de curso. Este contato com os professores era feito a fim de possibilitar a criação de um esquema de aplicação coletiva do questionário. De fato, esses professores consultados cederam in-tervalos de 15 a 20 minutos de suas aulas realização da coleta de dados. Combinado então o esquema de a-plicação com coordenadores e professores, os pesquisadores procuraram seguir um roteiro padronizado de coleta de dados, de forma que as seguintes atividades foram cumpridas por todos eles: i. apresentação da pesquisa (relevância, impacto e objeti-vos); ii. orientação para resposta aos itens, com especial atenção para o fato de que cada item deveria ser avaliado com base em duas escalas de julgamento (importância e domínio das competências exigidas dos profissionais de turismo); aplicação propri-amente dita dos questionários; e iv. reco-lhimento dos questionários devidamente respondidos e agradecimento aos alunos e professores pela colaboração. Coletados os dados, procedeu-se então à tabulação dos mesmos em um arquivo do programa Statistical Program for Social Sciences. Em seguida, foram calculadas estatísticas descritivas básicas a fim de se investigar possíveis erros da entrada dos dados no arquivo constituído. Posterior-mente, foram calculadas estatísticas descri-tivas, tais como média, desvio-padrão, valo-res mínimos e máximos, a fim de que fos-sem sintetizadas as respostas dos alunos às duas escalas de avaliação. Ao final, a fim de se observar as lacunas de competências presentes na formação dos alunos de cursos superiores de turismo, as respostas às duas escalas de julgamento foram cruzadas, conforme diretrizes inte-grantes do método de análise do papel ocu-pacional proposto por Borges-Andrade e Lima (1983). Segundo esses autores, uma lacuna de competência refere-se a um de-terminado CHA cujos avaliadores conside-rem muito importante e pouco dominado. Dito de outra forma, a partir do cruzamento das respostas de domínio e de importância dos participantes desta pesquisa, foi possí-vel constatar a amplitude das lacunas de competências (Índices de Prioridade) emer-gidas durante o processo de formação dos profissionais de turismo do Distrito Fede-ral. A Figura 1 ilustra a fórmula emprega-da no cálculo desses índices de prioridade de formação. A fórmula apresentada reflete o cálculo da média do produto das respostas de todos os participantes sobre a importância e o domínio das competências relacionadas pelo Ministério da Educação e desenvolvi-das no âmbito das Instituições de Ensino Superior. Mas uma ressalva precisa ser feita, de forma que os resultados apresen-tados em seguida possam ser mais bem compreendidos. Antes de proceder ao cálcu-lo do produto das respostas de importância e de domínio, é preciso, como aponta a Fi-gura 1, inverter as respostas de domínio (3 – D) de cada um dos respondentes. Rosana Hoffman-Câmara, Gardênia da Silva Abbad, Pedro Paulo Murce Meneses y Rodrigo R. Ferreira 313 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 Tal procedimento se faz necessário à medida que se pretende concluir sobre ne-cessidades educacionais, essas representa-das por competências muito importantes e pouco dominadas pelos participantes. Em outras palavras, é preciso identificar CHA que receberam escores altos de importância (entre 2 e 3) e baixos em domínio (entre 0 e 1). O problema é que a escala de domínio, para facilitar a tarefa dos respondentes durante o preenchimento dos questionários, é apresentada de forma contrária à lógica do cálculo da necessidade. Caso seja calcu-lado o produto dos escores de importância e de domínio a partir das respostas originais dos participantes, não é possível obter um ordenamento linear das necessidades. Por exemplo, o produto de uma compe-tência muito importante (escore = 3) e nada dominada (escore = 0), que deveria ser a maior necessidade de complementação da formação do profissional de turismo, é igual a 0 (3 x 0 = 0). Da mesma forma, o produto de uma competência sem importância (es-core = 0) e muito dominada (escore = 3) também é igual a 0, de forma que se mistu-ram necessidades que deveriam ser priori-zadas com competências que sequer deveri-am ser enfocadas. Já se as respostas de domínio forem invertidas, então se conse-gue uma ordenação mais efetiva: o produto de uma competência muito importante (es-core = 3) e nada dominado (escore invertido = 3) é igual a 9; ao passo que o produto de um CHA sem importância (escore = 0) e muito dominada (escore invertido = 0) é igual a 0. Essa lógica é desenvolvida na apresentação dos resultados. Resultados e discussão Como pode ser observado na Tabela 2, de forma geral, é possível afirmar que os 165 alunos formandos dos cursos superiores de Turismo do Distrito Federal julgam co-mo importantes praticamente todas as competências determinadas pelo Ministério da Educação e desenvolvidas por suas res-pectivas Instituições de Ensino (Média Glo-bal = 2,52). Já em relação ao domínio des-sas competências, as opiniões indicam que, mesmo estando os alunos em período final de formação, uma série de lacunas de per-sistem (Média Global = 1,54). Apesar dis-so, ao ser calculado os Índices de Prioridade de Necessidade de Complementação da Formação, é possível constatar que, em amplos termos, os alunos não apresentam tantas lacunas de CHA relevantes para o exercício da profissão de turismo (Média Global = 3,08). Entretanto, algumas obser-vações pontuais merecem destaque à medi-da que representam discrepâncias médias para cada uma das competências analisa-das, como discutido em seguida. Assim, mais detalhadamente, é possível observar que algumas competências mere-cem atenção especial à medida que alcança-ram índices razoáveis de necessidades de complementação de formação. Entre essas competências, merecem destaque as se-guintes: Item 6. Analisar a viabilidade eco-nômico- financeira de empreendimentos e projetos turísticos (IP = 4.44); Item 16. Do-minar o idioma inglês ou espanhol (IP = 4.27); Item 2. Analisar as políticas nacio-nais e regionais sobre turismo (IP = 4.15); Item 7. Aplicar a legislação pertinente à profissão (IP = 4.07); Item 8. Executar pro-jetos e programas estratégicos de empreen-dimentos turísticos e seu gerenciamento (IP = 4.04); Item 9. Intervir no mercado turísti-co com inserção em espaços novos, emer-gentes ou inventariados (IP = 4.04) Figura 1: Fórmula para determinação da amplitude das lacunas de competências. 314 Necessidades educacionais complementares do bacharel em turismo:... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 Em contrapartida, alguns itens mere-cem atenção devido aos baixos índices de prioridade de complementação da formação obtidos: Item 17. Utilizar informática e outros recursos tecnológicos (IP = 3.15); Item 11. Selecionar e avaliar informações profissionais relevantes à área (IP = 3.22); Item 21. Realizar as atividades profissio-nais de acordo com normas éticas (IP = 3.25); Item 10. Classificar estabelecimentos prestadores de serviços turísticos (IP = 3.42). Esses destaques, selecionados em função da amplitude do desvio dos índices de prio-ridade em relação à média global obtida para todas as competências elencadas pelo Ministério da Educação, evidenciam clara-mente importantes lacunas no processo de formação dos profissionais de turismo de nível superior. Antes de comentá-las, cha-ma atenção o fato de que as competências que menos necessitam ser refinadas dizem Competência I D IP - Avaliar o impacto social, econômico e ambiental do turismo 2,65 1,61 3,61 - Analisar as políticas nacionais e regionais sobre turismo 2,53 1,30 4,15 - Participar na elaboração dos projetos de eventos turísticos 2,67 1,53 3,87 - Analisar o planejamento das ações turísticas 2,57 1,41 3,99 - Planejar e operacionalizar Inventários Turísticos 1,47 1,47 3,98 - Analisar a viabilidade econômico-financeira de empreendimentos e projetos turísticos 2,56 1,26 4,44 - Aplicar a legislação pertinente à profissão 1,42 1,42 4,07 - Executar projetos e programas estratégicos de empreendimentos turísticos e seu gerenciamento 2,67 1,47 4,04 - Intervir no mercado turístico com inserção em espaços novos, emergentes ou inventariados 2,41 1,26 4,04 - Classificar estabelecimentos prestadores de serviços turísticos 2,61 1,61 3,42 - Selecionar e avaliar informações profissionais relevantes à área 2,65 1,70 3,22 - Identificar mercados turísticos prioritários para efeito de oferta adequada a cada perfil do turista 2,72 1,63 3,67 - Comunicar-se (verbal e escrita) correta e precisamente 2,67 1,59 3,68 - Interpretar a cultura e a realidade das organizações e de cada comunidade ou segmento social 2,70 1,56 3,87 - Utilizar recursos turísticos para educar, orientar, assessorar, planejar e administrar a satisfação das necessidades dos turistas e das empresas 2,77 1,60 3,78 - Dominar o idioma inglês ou o espanhol 2,79 1,46 4,27 - Utilizar informática e outros recursos tecnológicos 2,75 1,84 3,15 - Interagir criativamente com outros profissionais em equipes interdisciplinares e multidisciplinares 2,81 1,77 3,40 - Analisar a complexidade do mundo globalizado e das sociedades pós-industriais 2,70 1,41 4,25 - Estabelecer relações humanas diversas e fazer articulações inter-pessoais 2,77 1,66 3,65 - Realizar as atividades profissionais de acordo com normas éticas 2,76 1,80 3,25 - Agenciar, organizar e gerenciar eventos e a administração do fluxo turístico 1,58 1,58 3,78 - Identificar Inventário do Patrimônio Histórico e Cultural 2,68 1,46 3,92 Médias Globais 2,52 1,54 3,08 Tabela 2: Índices de prioridade de complementação da formação do profissional de turismo. Rosana Hoffman-Câmara, Gardênia da Silva Abbad, Pedro Paulo Murce Meneses y Rodrigo R. Ferreira 315 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 respeito a capacidades de baixa complexi-dade cognitiva (Item 10. Classificação de estabelecimentos e 11. Seleção de informa-ções relevantes), capacidades comporta-mentais que dificilmente são tratadas ade-quadamente em processos de treinamento e educação (Item 21. Atuação ética) e, por fim, a habilidades atualmente compreendi-das como pré-requisito para atuação em qualquer área de formação (Item 17. Recur-sos de informática e tecnológicos). No caso das competências de seleção de informações relevantes e de classificação de estabelecimentos prestadores de serviços turísticos, tratam-se de habilidades perten-centes ao resultado de aprendizagem, refe-rente ao domínio cognitivo, denominado de conhecimento. Conforme sistema de classi-ficação de resultados de aprendizagem pro-posto por Bloom, Krathwohl e Masia (1972), a capacidade de conhecimento de determinado objeto ou fenômeno requer do aprendiz apenas a evocação, por recon-hecimento ou memória, de idéias, infor-mações, objetos, materiais ou fenômenos. Envolve a evocação de informações específi-cas, terminologias, fatos, convenções, tendências e sequências, classificações, categorias e critérios. Constituem, assim, na escala de complexidade dos resultados de aprendizagem previstos para programas educacionais direcionados para habilidades intelectuais, capacidades de pequena com-plexidade – o nível de conhecimento é o primeiro na taxonomia proposta pelos auto-res supramencionados, desenvolvida em pequenos intervalos temporais, por meio de aulas expositivas dialogadas ou leituras de materiais especializados. Em relação à atuação ética, comporta-mento que os participantes da pesquisa julgam importante e parte de seus repertó-rios de competências, trata-se de uma ex-pressão de um conjunto de atitudes cujo desenvolvimento depende da internalização de uma série de padrões sociais de referên-cia absorvidos ao longo da vida do sujeito. Portanto, extrapolam consideravelmente o ambiente de formação superior, de forma que não se pode creditar completamente às Instituições de Ensino o desenvolvimento de tal competência. Conforme George et al (1997), o processo de socialização depende sim de fatores grupais, como a estrutura familiar ou outras instituições (inclusive educacionais). Mas tais fatores não são os únicos determinantes dos resultados de tal processo, justamente por apenas represen-tarem o elo entre o plano cultural e o indi-vidual. No que se refere ao domínio de habilida-des de informática e outros recursos tec-nológicos, como mencionado, têm-se um pré-requisito de acesso ao mundo do tra-balho atual, tipicamente categorizado a partir da perspectiva da Sociedade da In-formação, conforme destaca Takahashi (2000). Não se refere, assim, a uma com-petência desenvolvida apenas no âmbito de cursos superiores de turismo, mas uma habilidade de acesso a este e a outros tan-tos processos de formação. Esses resultados indicam que as neces-sidades menos intensas de complementação da formação dos profissionais de turismo de nível superior referem-se ou a habilidades de pequena complexidade, facilmente tra-tadas em salas de aula ou desenvolvidas fora dela como forma de permitir acesso a tais ambientes de aprendizagem, ou a pos-turas cujo desenvolvimento extrapola con-sideravelmente a capacidade das próprias Instituições de Ensino. Por outro lado, ob-servadas as competências julgadas como mais importantes e menos dominadas pelos formandos pesquisados, constata-se a per-sistência de lacunas de alta complexidade na formação de tais profissionais, como destacado em seguida. Conforme taxonomia desenvolvida por Bloom, Krathwohl e Masia (1972), as capa-cidades de analisar a viabilidade econômi-co- financeira de empreendimentos e proje-tos turísticos, de analisar as políticas na-cionais e regionais sobre turismo e de apli-car a legislação pertinente à profissão, de executar projetos e programas estratégicos de empreendimentos turísticos e seu geren-ciamento e de intervir no mercado turístico com inserção em espaços novos, emergentes ou inventariados referem-se a resultados complexos de processos de aprendizagem de habilidades intelectuais. Concernem a habilidades de solução de problemas de trabalho que exigem dos pro-fissionais a combinação de informações e conhecimentos previamente armazenados e o seu uso em situações novas, diferentes daquelas projetadas pelas Instituições de Ensino Superior para permitir seu suposto 316 Necessidades educacionais complementares do bacharel em turismo:... PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 desenvolvimento. Diferentemente de habi-lidades menos complexas, essas exigem que as estratégias, os meios e os recursos ins-trucionais simulem, com a maior fidedigni-dade possível, as situações de trabalho que os futuros profissionais enfrentarão. Quan-to maior a distância entre a situação de ensino-aprendizagem da situação de práti-ca profissional, tanto mais será dificultada a aquisição desses tipos de competência de alta complexidade. Este, portanto, parece ser o caso das instituições pesquisadas. O mesmo raciocínio se aplica ao domínio de línguas estrangeiras, embora neste caso tal competência possa ser desenvolvida em ambiente externo à determinada instituição educacional superior. Em suma, constata-se que os 165 estu-dantes amostrados demonstram dominar habilidades de acesso ou básicas exigidas dos profissionais de turismo, mas não aque-las realmente associadas ao exercício da profissão em questão. Julgam dominar in-formática e se sentem capazes de selecionar informações pertinentes, classificar estabe-lecimentos e atuar de forma ética. Entre-tanto, não se sentem seguros para colocar em prática habilidades de ordem complexa, como analisar a viabilidade projetos (e exe-cuta- los) e de políticas de turismo, intervir em seu próprio mercado de trabalho e co-municar- se em outros idiomas. É provável que tais resultados decorram justamente dos currículos em desenvolvi-mento nos cursos superiores de turismo. Como destaca Trigo (1993), o curso de Tu-rismo, formatado a partir das bases da ad-ministração de empresas, contém em seu bojo uma multidisciplinaridade que incor-pora práticas e conteúdos das mais diversas disciplinas. Tal aspecto parece contribuir para a formação de profissionais generalis-tas, como menciona o Ministério da Edu-cação (2003), com conhecimento geral sobre tópicos das ciências humanas, sociais, polí-ticas e econômicas, em detrimento do de-senvolvimento de competências especiali-zadas em áreas de conhecimento mais afei-tas às atividades profissionais, principal-mente aquelas relativas ao agenciamento, organização e gerenciamento de eventos e a administração do fluxo turístico. De fato, analisadas as matrizes curricu-lares das seis instituições pesquisadas, cujos nomes não podem ser aqui informa-dos, constata-se que a maioria contempla uma série de disciplinas inerentes a outros campos do conhecimento científico. As ma-térias mais relacionadas às atividades exi-gidas de um profissional de turismo costu-mam receber tratamento menos aprofun-dado, quantitativamente pelo menos. As-sim, enfoca-se com maior frequência, por exemplo, disciplinas de Psicologia, Sociolo-gia, Economia, Contabilidade, entre outras, em detrimento de outras direcionadas para o planejamento, a organização e a gestão de atividades turísticas. Talvez esse tratamento diferenciado es-teja relacionado com a quantidade de se-mestres, que varia entre seis e oito, que integram o processo de formação de profis-sionais de turismo. Ainda que não repre-sente uma relação de alta magnitude, cons-tatou- se que quanto menor o número de semestres previstos na estrutura curricular das Instituições amostradas, maiores as lacunas nos processo de formação dos alu-nos (r = -0.23, p < 0.001, 2-tailed). Dito de outra forma, para que os profissionais se-jam capazes de satisfazer as necessidades dos clientes e as da própria indústria turís-tica, faz-se necessário um redirecionamento das estruturas curriculares às quais são submetidos os futuros turismólogos, no caso desta pesquisa específica, caracterizados como generalistas com deficiências especia-lizadas de formação. Considerações finais Pesquisas indicam que a formação pro-fissional em nível de graduação no Brasil ainda está aquém do desejável. Os cursos de Turismo não estão excluídos desse con-texto. A maioria dos cursos apresenta lacu-nas no processo ensino-aprendizagem, o que gera dificuldades no desenvolvimento de múltilas e complexas competências exi-gidas pela sociedade contemporânea e, con-sequentemente, compromete a inserção de profissionais no mercado de trabalho. Nesse contexto, torna-se necessária a capacitação contínua para que os Bacharéis em Turis-mo possam, além de conseguir espaço de atuação profissional, influenciar as políti-cas de Turismo, discutir o fenômeno turísti-co e vislumbrar as perspectivas da área de modo ágil, afim de que, frente ao mundo globalizado e dinâmico, possam alavancar o Rosana Hoffman-Câmara, Gardênia da Silva Abbad, Pedro Paulo Murce Meneses y Rodrigo R. Ferreira 317 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 8(2). 2010 ISSN 1695-7121 segmento. Uma revisão do papel da educação no campo turístico é iminente. Para tanto, as faculdades que formam o Bacharel em Tu-rismo devem avançar no processo educati-vo, detectando de modo rigoroso as necessi-dades e as exigências do contexto turístico, bem como aprimorando as oportunidades de aprendizagem dos alunos durante os cursos de graduação. A natureza complexa das competências exigidas do profissional de turismo requer ações sistemáticas de modificação nas oportunidades de aprendi-zagem por meio da articulação entre ensino de graduação, pesquisa e extensão. Tendo por base resultados empíricos de outras pesquisas, percebe-se que cursos de formação profissional no Brasil muitas ve-zes não integram atividades de pesquisa ao ensino de graduação e, por conseguinte, tem resultados inferiores no Enade. Tal indicador sugere que os processos de ensi-no- aprendizagem não são efetivos a ponto de desenvolver competências requeridas pelas diretrizes curriculares emanadas pelo MEC. O método de ANT utilizado na pre-sente pesquisa é similar ao utilizado por autores como Hicks e Henessy (1997), Hicks et al (1996) e Fan e Cheng (2006) nos seguintes aspectos: foco na necessidade de qualificação e requalificação de profissio-nais egressos de instituições de ensino su-perior, aplicação de questionários, utiliza-ção de escalas de mensuração de necessida-des de treinamento. A principal contribuição do estudo é propor um instrumento válido de auto-avaliação de competências do egresso de cursos de Turismo, aplicável na identifica-ção de necessidade de qualificação e requa-lificação dos profissionais dessa área no Brasil. Sugere-se ainda a ampliação da pesquisa em outras amostras de profissio-nais de turismo, o que possibilitaria a defi-nição de linhas de ação para apoiar a a-prendizagem e o desenvolvimento contínuo de competências e ampliar as chances de melhor inserção desses profissionais no mercado de trabalho. Como principais limitações da pesquisa, podem ser citadas as ausências de avalia-ção preliminar do grau de motivação e ex-pectativas dos estudantes ingressos nos cursos de Turismo; ausência de avaliação das competências didáticas dos professores dos referidos cursos; a existência de algu-mas diferenças nas grades de disciplinas ministradas entre as faculdades pesquisa-das, ou seja, nem todas as faculdades pos-suem as mesmas disciplinas e algumas não estruturaram os cursos de acordo com as competências necessárias ao profissional de Turismo, em consonância com os critérios definidos pelo MEC; a ausência de verifica-ção da percepção do papel ocupacional pelos egressos dos cursos e, finalmente, o número de respondentes obtidos, que não foram suficientes para a validação estatística do instrumento e generalização dos resultados. Para agenda de futuras pesquisas no tema, sugere-se que sejam melhor explora-das as limitações citadas, principalmente as que se referem às motivações e expecta-tivas dos ingressos e à coleta da percepção dos egressos quanto a necessidade real das habilidades critério definidas, para uma efetiva atuação no mercado de trabalho. Referências Bloom, B.S., Krathwohl, D.R. e Masia, B.B. 1972. Taxonomia de objetivos educacionais: compendio primeiro: Domínio cognitivo. Porto Alegre: Globo. Borges-Andrade, J.E. e Lima, S.M.V. 1983. “Avaliação de necessidades de trei-namento: um método de análise de papel ocupacional”. Tecnologia Educacional, v.12, n.54, p.5-14. Brown, J. 2002. “Training needs assessment: A must for developing an effective training pro-gram”. Public Personnel Management, 2002, 31(4), 569-578. Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). 1992. Glossário do turismo. Disponível em: http://institucional.turismo.gov.br/. A-cesso em: 14/12/2005. Fan, C. 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