© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Vol. 10 Nº 5 págs. 641-649. 2012
www.pasosonline.org
Hospitalidade e inovação do “Natal Luz” de Gramado (rs), pioneiro
e único evento do gênero no Brasil
Edegar Luis Tomazzoni i
Universidade de São Paulo(Brasil)
i Doctor em Ciências da Comunicação/Linha de Pesquisa Turismo. Universidade de São Paulo, Escola de Artes, Ciências e Humanida-des.
Brasil. E-mail: eltomazzoni@usp.br
Resumo: A hospitalidade é um fenômeno social, que está presente em diversos contextos de interações dos seres humanos. Aproxima
as pessoas e proporciona o intercâmbio de experiências, conhecimentos e criação de laços afetivos e culturais entre elas. Desse modo,
é fundamental para o desenvolvimento do turismo como fenômeno de vivências e de relações entre as pessoas. O objetivo do presente
artigo é discutir a hospitalidade e a inovação como estratégias de atração dos turistas ao “Natal Luz” de Gramado (RS), considerando os
aspectos culturais e as tradições da comunidade local. Para a realização da pesquisa de natureza descritiva e exploratória, foram realiza-das
revisões bibliográfi cas e documentais e investigações de campo por meio de observação direta e observação participante. Tendo em
vista que o “Natal Luz” é um dos maiores eventos do mundo, além de ser pioneiro e único no Brasil, realizado há 25 anos em Gramado,
salienta-se a relevância do estudo. Desta forma, constata-se a importância do acolhimento e das relações entre anfi triões e visitantes em
todo o contexto das atrações do “Natal Luz”, uma vez que são as relações de hospitalidade as principais motivações da ida dos visitantes
à cidade de Gramado (RS) na época do evento.
Palavras-chave: Hospitalidade; Turismo; Inovação; Evento “Natal Luz” (Gramado, RS).
Title: Hospitality and innovation of “Natal Luz” in Gramado (rs), a pioneer and an unique christmas event in Brazil.
Abstract: Hospitality is a social phenomenon present in all contexts and interactions of human beings. It brings people together and
provides the exchange of experiences, knowledge and affection. Thereby, hospitality presents itself as a key factor for tourism, since
this is a phenomenon of experiences and relationships between people. The objective of this paper is to discuss hospitality and inno-vation
as strategies for attracting tourists to the Christmas event “Natal Luz” in Gramado City (RS, Brazil) considering the cultural
aspects and traditions of the local community. The realization of this work was based on bibliographic and documental research, as
well as on the technique of participant observation. Considering that “Natal Luz” is a pioneer and unique event in Brazil and that it
has been accomplished for 25 years in Gramado, becoming one of the largest in the world, this research points out the relevance of
the study, through the analysis of hospitality as strategy of innovation. In this perspective, the conclusion shows the importance of the
relationship between hosts and visitors in the context of the attractions of “Natal Luz”, since these relations of hospitality are one of
the main motivations of visitors who go to the city of Gramado (RS, Brazil).
Keywords: Hospitality; Tourism; Innovation; “Natal Luz” Event (Gramado – RS, Brazil).
Notas de investigación
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Introdução
Este artigo fundamenta-se no conceito de hospitalida-de
como dimensão fundamental da humanização do tu-rismo.
Além das dimensões econômicas e mais pragmáti-cas
do fenômeno, pretende-se salientar a importância da
dimensão humana e das relações entre os sujeitos, como
essência de todo o processo turístico de eventos. Esse seg-mento
contribui para o desenvolvimento de empresas li-gadas
ao setor, gerando novos empregos, melhorando a
qualidade de vida das cidades. Uma festa, por exemplo,
entendida como um produto, ou mesmo como atrativo do
turismo cultural de determinada localidade, é importante
por apresentar novas possibilidades turísticas de geração
de retornos e benefícios.
Quando realizados em períodos conhecidos como baixa
temporada, para tentar suprir a pouca visitação do desti-no,
os eventos têm a função de suavizar as conseqüências
da sazonalidade. Podem também representar a capacida-de
de atração constante, em qualquer época do ano, o que
os diferenciam do “turismo tradicional”, cuja atividade é
própria para os períodos de férias e feriados prolongados.
Em algumas regiões, destacam-se a cultura, a histó-ria,
os costumes e as tradições peculiares, que são divul-gados
por meio da realização de eventos festivos, lançando
ou fi rmando novo produto turístico distinto no mercado.
O público é instigado a conhecer a nova ou diferente pro-gramação
cultural, veiculada na mídia pela promoção de
eventos, com o apelo de visitar determinada cidade, região
e até mesmo país e vivenciar a hospitalidade da comuni-dade
local.
As localidades em que as comunidades sejam empre-endedoras
e inovadoras podem se benefi ciar desses nichos,
propondo a excelência no que se refere à hospitalidade e
priorizando nova dinâmica social com refl exos econômicos
e comerciais. A implicação transparece no fato de poder
afi rmar que eventos culturais constituem segmentos de
mercado que mais expressam o conhecimento de um de-terminado
local ou região, pois é a mistura de elementos
que atraem diferentes grupos de pessoas, movimentando
amplo mercado e trazendo benefícios econômicos, sociais
e culturais para a localidade.
Neste sentido, aborda-se o estudo da hospitalidade,
que vem sendo pesquisada com base em uma perspectiva
mais ampla, que abrange o conjunto de valores, modelos
e ações presentes em todas as circunstâncias do fazer hu-mano
relacionado ao ato de acolher pessoas.
Sob essa perspectiva, e tendo em vista a relevância
desse tema, este artigo tem por objetivo discutir e refl etir
acerca da relação de hospitalidade e inovação presentes
no “Natal Luz”, com vistas a entender como essa relação
possibilita o crescimento do número de visitantes e turis-tas
que vão anualmente ao evento.
Para a realização do trabalho, os pesquisadores par-ticiparam
do evento, vivenciaram as atrações do “Natal
Luz” e revisaram documentos e bibliografi a relativos ao
tema da pesquisa. Além disso, como parte do objeto de
estudo – “Natal Luz” – analisaram-se as pesquisas com
turistas, realizadas pelos organizadores do evento por
meio de uma empresa terceirizada. Assim, com base no
conceito de turismo e hospitalidade, a proposta tem como
característica principal enfatizar a importância da dimen-são
humana na realização de eventos turístico-culturais.
Para isso, buscou-se compreender as infl uências e impli-cações
das inovações das atrações do evento em estudo.
Turismo e eventos
Dentro da perspectiva da pesquisa, apresenta-se re-ferencial
teórico, tendo em conta o objetivo supramencio-nado
de balizar o estudo no caráter humano do fenômeno
turístico. Nessa direção, Panosso (2005) aborda fenome-nologicamente
o turismo. Destaca o ser humano como su-jeito
do turismo, abarcando em si toda sua história de vida
e suas experiências de antes, durante e depois da viagem.
Podemos dizer que turista, assim, não é somente um
objeto, mas sim um sujeito em construção, em contí-nua
formação. Assim, o turismo pode ser visto tam-bém
como a busca da experiência humana, a busca
da construção do “ser” interno do homem, fora do seu
local de experiência cotidiana, não importando se ele
está de viagem ou se já retornou, pois esse ser con-tinua
a experienciar, a recordar e a reviver o passa-do,
independentemente do tempo cronológico. Pela
experiência passada, presente e pela que virá a ser é
que se constrói o ser turista e se confi gura o fenôme-no
turístico, numa complexa e imbricada relação de
intercâmbio de bens e serviços e de desejos objetivos
e anseios subjetivos construídos por esse ser-turista-humano
para si e de si mesmo (Panosso, 2005, p.30).
Em consonância com Panosso, Moesch (2002) ressalta
a importância de se ver o humano como valor essencial,
fundante do turismo e das políticas, planos e empreen-dimentos
públicos e privados que o fomentem e o viabili-zem.
Enfatiza a relevância de se ver o humano como va-lor
essencial para o desenvolvimento do próprio turismo
e para o desenvolvimento social que poderá contribuir a
promover. Desse modo, passam a ser necessários novos
olhares, novos horizontes. Para Moesch (2002), o maior
protagonista do fenômeno turístico é o sujeito. A autora
sublinha o entendimento de que “na realidade, no turis-mo,
o epicentro do fenômeno é de caráter humano, pois
são os homens que se deslocam, e não as mercadorias, o
que impõe complexidades ao esforço de uma argumen-tação
sistemática dessa realidade” (Moesch, 2002, p.13).
Defi nindo turismo como fenômeno social, a organi-zação
de eventos, segundo Brito e Fontes (2002), passa
a ser um segmento do turismo que abrange várias ativi-dades,
focalizadas em um universo amplo e diversifi cado.
Manifesta-se do esforço mercadológico das diversas áreas,
como a saúde, a cultural, a econômica, a jurídica, a artís-tica,
a esportiva e a comercial. Eventos têm o propósito
de proporcionar, aos grupos humanos que se reúnem em
torno dele, a troca de informações, a atualização, a tecno-
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logia, o debate de novas proposições. Esses movimentos
contribuem para a geração e o fortalecimento das relações
sociais, industriais, culturais e comerciais, ao mesmo tem-po
em que são propulsores dos fl uxos de deslocamento e
visitação a locais históricos e de lazer, intencionais e moti-vados
pelas políticas públicas de uma determinada região.
Ao se deslocarem para participar de um evento, as pes-soas
demonstram interesse em participar de atividades
focadas no enriquecimento técnico, científi co, profi ssional
e cultural, incluindo, também, o consumo. Ressalte-se o
entendimento de que, nos dias atuais, os eventos podem
ser promovidos por autoridades de certos locais e por gru-pos
ou particulares, por empresas ou associações, como
forma de ampliar e aprofundar seu relacionamento com
público específi co, a fi m de criarem experiências relacio-nadas
com as satisfações que oferecem (Kotler; Keller,
2006).
Com base nesta ilação, deduz-se que organizações
públicas e privadas apostam cada vez mais em eventos,
como forma de transportar suas mensagens mercadológi-cas
por meio do entretenimento e do lazer alicerçadas em
momentos prazerosos nos quais as pessoas vivenciam ex-periências
únicas e são sensibilizadas de forma atraente
e inusitada. Situar eventos, na ótica de Britto e Fontes
(2002), implica constituir estratégicas de marketing.
Ainda não há produção bibliográfi ca que trate “com
profundidade dos eventos e de sua organização na área do
mix promocional de marketing”. (Giacaglia, 2003, p. 14).
Identifi cam-se procedimentos de marketing moderno nos
eventos, pela “existência de um ciclo de feedback” (Mcken-na,
1995, p. 32), isto é, os diálogos entre os participantes e
organizadores dos eventos têm o poder de preencher lacu-nas
do monólogo característico das propagandas da mídia.
Na percepção de que eventos se fi rmam como ferra-mentas
de marketing, Brito e Fontes (2002, p. 54) salien-tam
a “linha diferencial” estabelecida entre as expressões
“eventos de turismo” e “turismo de eventos”. Para elas,
De maneira diferente do turismo de eventos, o evento em
turismo é todo e qualquer evento realizado nessa área.
Para se cumprir o objetivo de promoção e divulgação
de um bem ou serviço – produto turístico – utilizam-se
as ferramentas e técnicas de promoção em marketing
que respondam à expectativa de satisfação das moti-vações
turísticas e proporcionem retorno que eviden-ciem
novas condições e exigências do próprio mercado.
A tendência é categorizar eventos como representan-tes
de um percentual signifi cativo do mercado turístico.
Os eventos constituem parte signifi cativa na composição
do produto turístico, atendendo intrinsecamente às exi-gências
de mercado em matéria de entretenimento, lazer,
conhecimento, descanso e tantas outras motivações. (An-drade,
2002, p. 31).
Na conceituação de Canton (2009, p. 97), evento pas-sa
a ser classifi cado como segmento do turismo, em uma
atividade que mobiliza os agentes econômicos de uma de-terminada
área, cidade ou região, incluindo hotéis, agên-cias
receptivas, restaurantes, bares e comércios, além de
vários outros prestadores de serviços. Esse setor contribui
para o crescimento da economia e para o desenvolvimento
de determinada área geográfi ca, gerando empregos, opor-tunidades
de novos negócios e aumento da receita fi scal.
Em se tratando do fl uxo turístico mundial, Zanella (2006)
aponta que 45% dos deslocamentos humanos correspon-dem
a participações em eventos, constituindo-se em uma
das atividades que mais crescem nesse segmento.
Classifi cados como estratégias de marketing, com base
na categorização de Lohmann e Panosso Neto (2008, p.
98) classifi cam eventos como:
Celebrações culturais (festivais, carnavais, para-das),
artísticas e de entretenimento (concertos e
outras performances, exibições, cerimônias de pre-miação),
de negócios e comerciais (feiras, exposições,
reuniões e conferências), de competições esportivas
(profi ssionais e amadoras), educacionais e científi -
cas (seminários, workshops, congressos), políticas
e comemorativas do Estado (inaugurações, inves-tiduras,
visitas de personalidades importantes).
Eventos sazonais e sistemáticos podem infl uenciar,
inclusive, o turismo internacional, benefi ciando o destino
em que se realizam, sob vários aspectos, no sentido de que
[...] A promoção de eventos, em termos econômicos,
como conseqüência do desenvolvimento turístico, traz
consigo melhorias na infra-estrutura, no incremento
da receita global do local sede do evento, na geração
de empregos diretos e indiretos, além da melhoria
na imagem da cidade sede ao ter o participante como
um elemento divulgador. (Canton, 2009, p. 200).
Considerado potencializador para a economia dos des-tinos
turísticos, o segmento de eventos faz parte do meio
cultural, de forma a ser incluído no dia-a-dia das pessoas,
em sua vida social ou pública. De acordo com Ignarra
(1999, p. 81), “esses segmentos não esgotam as possibi-lidades
[em si mesmos]. Cada um desses segmentos pode
se subdividir em outros subsegmentos e, também, os cri-térios
de segmentação podem se cruzar, criando partes
menores de segmentos”. Por consequência, os eventos
passam a fazer parte do produto divulgado, atendendo ao
mercado de entretenimento, lazer, conhecimento, descan-so
e outros.
Knight e Robertson (2006, p. 5) dizem que “eventos
culturais estão, atualmente, concorrendo [...] no que diz
respeito aos impactos econômicos e socioculturais que ge-ram”.
Sociedades rurais ou urbanas, simples ou comple-xas,
possuem determinada cultura. Cada cultura e cada
sociedade têm sua própria integridade, seu sistema pró-prio
de valores e seus costumes. Isso é colocado como atra-tivo
para o chamamento de público aos eventos culturais
promovidos em cada região.
Assim, o evento cultural, afi rma Barretto (2002, p.
21), está estabelecido como um dos principais segmentos
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da área turística. De modo geral, pode aproveitar-se da
infl uência de núcleos receptores existentes como recur-sos
naturais ou hereditários, que oferecem como produ-to
essencial, o legado histórico do homem em distintas
épocas, representado a partir do patrimônio e do acervo
cultural, encontrado em ruínas, monumentos, museus e
em obras de arte.
Desse modo, eventos culturais são segmentações do
mercado turístico que incorporam uma variedade de
formas culturais, incluindo museus, galerias, festivais,
festas, arquitetura, sítios históricos, performances ar-tísticas
e gastronômicas, que identifi cadas com uma cul-tura
em particular, integram um todo que caracteriza
uma comunidade e que atrai os visitantes em busca de
características singulares de outros povos. De acordo
com Canton (2009, p. 211), a realização de eventos cul-turais
revela-se importante como nicho de mercado para
diversos municípios, em se tratando do solo brasileiro,
em que a miscigenação cultural se mostra diversifi cada.
Segundo Derrett (2006, p. 37), “os eventos entretêm
a população local, propiciando uma atividade recreativa
[...]”. A comunidade receptora possui vantagens quanto
à realização de eventos, mesmo sendo de pequeno porte,
pois, ao atrair pessoas de outras cidades ou regiões, es-timulam
a economia e enriquecem a sua vida cultural,
transformando sua própria vida, por meio da troca de
conhecimentos que pode oferecer e receber.
Os eventos geram também, conforme Allen et al
(2003), impacto sociocultural direto em seus participan-tes
e também na comunidade local, muitas vezes, forta-lecendo
a autoestima, como é o caso de alguns eventos
comunitários e celebrações de feriados. Vários eventos
propiciam um legado de maior conscientização e parti-cipação
em atividades esportivas e culturais específi cas,
enquanto que outros ampliam os horizontes culturais
do povo.
Para fi ns deste estudo, o Natal Luz é considerado
evento cultural. Inclui-se a concepção de que os eventos
que evocam temáticas religiosas podem ser inseridos na
categorização de cultura social, uma vez que as práticas
culturais se manifestam inclusive pelo aspecto religioso,
que constitui um dos elementos formadores da cultura
de um povo.
Hospitalidade
Tendo em conta estas considerações acerca do turis-mo
e dos eventos, percebe-se a importância da experiên-cia
vivida para o sujeito turístico, assim, a hospitalidade
apresenta-se como o fenômeno social que proporciona
o acolhimento entre os sujeitos. Estes se deslocam em
busca de conhecer o outro lugar, o novo, mas é por meio
da hospitalidade, pelo processo de interação social, pe-las
trocas realizadas entre anfi trião e hóspede, que a
prática turística se efetiva e se potencializa.
O estudo da hospitalidade vem se aprofundando e
expandindo, mesmo que aos poucos, nos diversos países
do mundo e, ultimamente, não se restringindo somen-te
aos aspectos das relações comerciais e de consumo. No
Brasil, a hospitalidade vem sendo abordada, sobretudo,
pela dimensão humana, por autores como Luiz Camargo
(2005, 2007), Ada Dencker (2004), Celia Dias (2002) e Lu-cio
Grinover (2002).
Dessa forma, a hospitalidade é vista, segundo Camar-go
(2003), como uma forma de encontro entre alguém que
recebe e alguém que é recebido – entendimento próximo
ao de Gidra e Dias (2004), que a defi nem como um evento
marcado pela relação especializada entre dois protagonis-tas.
O autor acredita que as relações estabelecidas funda-mentam-
se por meio de dádivas, as quais, em princípio,
se instituem quando alguém oferece algo a outra pessoa,
e esta aceita e retribui. “O sistema do comércio prevê o
fi nal do processo após a consumação da troca. Na hospi-talidade,
dar-receber-retribuir é um processo sem fi m, já
que a retribuição é uma nova dádiva” (Camargo, 2005, p.
717). E acrescenta que “mais que o dom, na dádiva, o que
importa é o vínculo social (a ser) criado”.
Dencker (2004, p.189), nessa mesma direção, acres-centa:
A hospitalidade manifesta-se nas relações que envol-vem
as ações de convidar, receber e retribuir visitas ou
presentes entre indivíduos que constituem uma socie-dade,
bem como formas de visitar, receber e conviver
com indivíduos que pertencem a outras sociedades e
culturas; desse modo, pode ser considerada com a dinâ-mica
do dom [dádiva]. Todas as sociedades têm normas
que regulam essas relações de troca entre as pessoas, o
que parece demonstrar que, de alguma maneira, elas
atendem a uma ou mais necessidades humanas básicas.
Nessa perspectiva, vale ressaltar que tanto a troca
pela dádiva quanto aquela realizada pelo comércio podem
permitir relações de hospitalidade. Conforme salienta Ca-margo
(2007, p. 17):
A hospitalidade, repita-se, é um assunto entre pessoas
e deve estar presente também no momento em que se
passa do distanciamento da etiqueta para a intimidade
do calor humano, no qual residem as experiências mais
gratifi cantes que resultam na amizade e (por que não?)
mesmo no encontro amoroso tomado em sua acepção a
mais ampla possível. O chamado transbordamento do
negócio, quando a dádiva é solicitada pode ocorrer a
qualquer momento, em qualquer situação não prevista
pela encenação, sobretudo, quando o hóspede enfren-ta
qualquer difi culdade face a imprevistos variados.
Também voltada para o estudo da hospitalidade com
foco na dimensão humana, Isabel Baptista (2002) acre-dita
em uma hospitalidade que aproxima as pessoas, de
modo que suas práticas sejam vivenciadas em todas as
situações da vida. Destaca que a hospitalidade “é um
modo privilegiado de encontro interpessoal marcado pela
atitude de acolhimento em relação ao outro” (2002, p.157-
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Atualmente, a cidade oferece 110 restaurantes, bares e
cafés, que têm capacidade para atender, simultaneamen-te,
9.560 clientes.
Além da infraestrutura receptiva, o município pro-porciona
qualidade de vida aos seus moradores e aos vi-sitantes
por meio do funcionamento do Hospital Arcanjo
São Miguel, que tem serviço de urgência e emergência
24 horas e Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). O
Centro Municipal, com seis unidades básicas de saúde,
oferece atendimento gratuito e de um serviço pioneiro de
pronto atendimento com heliporto. Com baixos índices
de criminalidade, Gramado é hoje uma das cidades mais
tranquilas para se viver em todo o Brasil. Além de duas
delegacias da Polícia Civil, Brigada Militar, é sede do 1º
Batalhão de Policiamento de Área Turística do Rio Gran-de
do Sul. A cidade também tem em sua área central dez
câmeras eletrônicas de vigilância monitoradas.
Além do turismo familiar e de grupos, Gramado tem se
fi rmado como ponto de referência no turismo de negócios.
Em virtude deste novo segmento, a cidade construiu uma
ampla estrutura para abrigar todos os tipos de atividade.
O Centro de Eventos Serra Park, da iniciativa privada, e
a Expo Gramado, da iniciativa pública, são espaços que
juntos somam uma área que ultrapassa 60.000 m² e in-fraestrutura
sufi ciente para sediar grandes feiras. Hotéis
como o Serra Azul e o Serrano oferecem centros de con-venção
com equipamentos adequados para a realização de
painéis e debates. Além desses, o Palácio dos Festivais
também pode servir de auditório, e a Universidade Fede-ral
do Rio Grande do Sul construiu seu próprio Centro de
Eventos e Treinamentos no município.
Em Gramado, foram criados e desenvolvidos alguns
dos principais eventos culturais do país. Um deles é o
Festival de Cinema, que projetou o nome da cidade para
todo o Brasil e América Latina. Em 2006 foi considerado
patrimônio histórico e cultural do estado do Rio Grande do
Sul. A tradicional Festa das Hortênsias foi precursora dos
grandes eventos de Gramado: a Festa da Colônia, Festi-val
de Cinema e Natal Luz que eram parte integrante da
programação.
O “Natal Luz” é um evento natalino pioneiro e único
no Brasil, além de um dos maiores do mundo, apresentan-do
ao longo de 60 dias mais de 50 espetáculos, alguns dos
quais inéditos e de nível internacional, como o Show Nati-vitaten.
O evento Natal Luz, surgiu na Festa das Hortên-sias,
em 1986, com o objetivo de fomentar o fl uxo turístico
numa época de baixa temporada e do desejo de resgatar
o espírito natalino. Nasceu de um sonho e da coragem de
pessoas que mesmo defrontando-se com adversidades e
problemas acreditaram na sua realização. O envolvimen-to
da comunidade, desde a sua concepção, foi decisivo para
o sucesso alcançado ao longo dos anos. Foram muitos vo-luntários
que iluminaram também suas casas e lojas, des-envolvendo
o sentimento de solidariedade.
O “Natal Luz” apresenta aumento do fl uxo turístico a
cada ano, foram 850 mil visitantes em 2009 e mais de 950
mil em 2010. A inovação das atrações, decoração e apara-to
tecnológico são razões do seu sucesso. Os espetáculos
8). E para ela, faz-se presente nas relações do fenômeno
uma dimensão ética, o que a autora busca mostrar nestas
considerações:
Na relação de hospitalidade, a consciência recebe o
que vem de fora com a deferência e a cortesia que são
devidas a um hóspede, oferecendo-lhe o seu melhor,
sem, no entanto, desrespeitar sua condição de outro.
Pelo contrário, essa condição é valorizada ao ponto
de nos sentirmos cúmplices do destino do outro. Ra-dicada
nesses pressupostos antropológicos, a hospita-lidade
surge como um acontecimento ético, por exce-lência,
devendo dizer respeito a todas as práticas de
acolhimento e de civilidade que permitem tornar a
cidade um lugar mais humano (Baptista, 2002, p.159).
A autora não aposta numa hospitalidade artifi cial, re-duzida
a um ritual de comércio, de gestos e cortesia falsa,
mas numa hospitalidade mais humana baseada no acolhi-mento,
na solidariedade, na sensibilidade que só o outro
pode dar. Desse modo, ressalta que “pelas razões de or-dem
ética enunciadas anteriormente, é necessário alargar
a atitude de acolhimento e de cortesia a todo o próximo,
seja ele o vizinho, o colega de trabalho ou qualquer outro
que no dia-a-dia cruza o nosso caminho” (Baptista, 2002,
p.162).
Vê-se então que a hospitalidade aproxima as pessoas,
que o acolhimento de um visitante ou turista pode trazer
novas experiências, sociais e culturais para quem recebe e
para quem é recebido, pois “a troca de determinados valo-res
entre visitado e visitante proporciona uma enorme ri-queza
de conhecimentos, modifi cando sua visão de mundo
e acrescentando valores inconfundíveis ao relacionamento
humano” (Grinover, 2002, p. 28).
Diante do que foi exposto, entende-se que a hospitali-dade
deve fazer parte do convívio humano, pois concorre
para a humanização e a socialização dos indivíduos. Nesse
sentido, ela emerge como um amplo e dinâmico fenômeno
social que, aliado ao turismo, pode proporcionar práticas
turísticas hospitaleiras, o que tornaria os destinos mais
humanos e faria com que os visitantes e/ou turistas os vi-sitassem
com frequencia.
Gramado (Rs) e o evento “Natal Luz”
O município de Gramado, localizado na Serra Gaú-cha,
com pouco mais de 31 mil habitantes, é hoje o prin-cipal
destino turístico do Estado do Rio Grande do Sul e
o terceiro destino turístico mais desejado do Brasil, com
52% de preferência dos entrevistados, conforme diagnós-tico
encomendado e divulgado pelo Ministério do Turismo
(Brasil, 2008).
Com uma economia voltada ao turismo, a cidade de
pouco mais de 30 mil habitantes, recebe anualmente mais
de 2 milhões de turistas, oferecendo para isso a maior
infraestrutura receptiva do estado: são cerca de 136 hotéis
pousadas com mais de 10.000 leitos. Na área gastronômi-ca,
Gramado tem se destacado pelo requinte e variedade.
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mostram a criatividade da comunidade local, cujo objetivo
é encantar, tendo o tema natalino como motivação para
o trabalho. Atualmente o “casting” do evento é composto
por cerca de duas mil pessoas, que transformam garrafas
pet em decoração natalina, empurram alegorias, organi-zam,
esculpem, soldam, martelam e também aplaudem. O
evento gera em torno de 7.600 empregos indiretos no RS
movimentando a economia de toda a região.
Além dessas características citadas, será apresentado
no próximo tópico como o evento busca na inovação e no
empreendedorismo meios para que as atrações realizadas
continuem a ser procuradas pelos visitantes e turistas.
Inovação no evento “Natal Luz”
O evento “Natal Luz” surgiu, de acordo com Evange-lista
(2008, p. 11), em razão da vontade de criar algo novo,
algo que encantasse o povo da cidade e que pudesse atrair
visitantes a Gramado na baixa temporada do turismo. Em
1986, por iniciativa do prefeito na época, inspirado pelo
espírito natalino, nascia o “Natal Luz”, que hoje é o even-to
que proporciona a maior movimentação turística para
Gramado (SECTUR, 2010). Apresentações artísticas, con-sertos,
danças, música, teatro, religiosidade integram a
programação do espetáculo.
Para atestar que a inovação faz parte de suas ativi-dades,
constata que o planejamento e a organização do
evento envolvem os organizadores todos os meses do ano.
Os espetáculos, criados com o auxílio dos habitantes, são
apresentados durante os 30 dias que antecedem o Natal
e 30 dias após a data. Antes do “Natal Luz”, a prefeitura
municipal de Gramado realizava a Festa das Hortênsias,
inspirada na Festa da Uva de Caxias do Sul. Das ino-vações
da tradicional Festa das Hortênsias originou-se,
além de vários outros eventos, o “Natal Luz”, que incluiu
idéias trazidas dos Parques Disney, de Orlando, na Flóri-da
(EUA).
Como o município não tinha orçamento, a comissão
organizadora, ou os festeiros, reuniram-se e prepararam
o material. Uma residência foi decorada como modelo de
sugestão à população. A partir disso, a comissão visitou
as casas e ofereceu a iluminação aos responsáveis. Pos-teriormente,
a comunidade aderiu à idéia de que, além
da iluminação, deveria haver sonorização, convencendo os
comerciantes localizados na Avenida Borges de Medeiros
a adquirir alto-falantes. Pinheiros natalinos também fo-ram
plantados ao longo da avenida e enfeitados pelos fes-teiros.
Aos poucos, porém, habitantes residentes próximos
do local foram se responsabilizando pelo cuidado e ma-nutenção
dos pinheiros natalinos enfeitados sendo que,
assim, a decoração foi se tornando algo concreto.
Todas essas inovações aconteceram ano a ano, com
idéias e auxílio da própria população. Várias outras ino-vações
foram se somando à atração principal que trata do
Nascimento de Jesus. A Orquestra Sinfônica de Porto Ale-gre
(Ospa) apresentou-se pela primeira vez ao ar livre na
cidade de Gramado, por ocasião do “Natal Luz”, em 1986,
que acompanhou um coral com cerca de 600 vozes, com-posto
por 30 corais do estado (Evangelista, 2008, pg. 43).
Entre 1986 a 1996, as atrações foram ampliadas, no-vas
surgiram, e outras foram remodeladas. A Tannem-baumfest,
ou a Festa dos Pinheiros, promoveu o enfeite de
cerca de 100 árvores de forma criativa. Por decorrência,
em 1993, foi criado a Tannembaum Concert, que promo-veu
um concerto de encerramento na Praça da Matriz,
após o término da Tannembaumfest.
Em 1996, o considerado verdadeiro Papai Noel da La-pônia,
da cidade de Rovaniemi, na Finlândia, chegou a
Gramado. Nesse dia, a recepção organizada contou com
um milhão de mini lâmpadas que iluminaram a Aveni-da
Borges de Medeiros, por onde passou um desfi le com
30 carros alegóricos. O Presépio Vivo, agora extinto, nas
primeiras edições do evento acontecia no Largo da Igreja
São Pedro.
A partir da 3ª edição, a tradicional “Feira de Natal”,
ou Chriskindlesmarket, comercializa produtos natalinos
como artesanato e culinária típica. Atualmente, é con-hecida
como “Vila de Natal”. Em 1996, foi introduzida à
programação a inovação que se denominou de “Abertura
das Janelas do Advento”. A “Árvore Cantante” estreou no
evento em 1993, com o nome de “Coral da Árvore”.
De 1997 a 2000, o “Natal Luz” se fortaleceu com a
manutenção da estrutura consolidada, implantando da
descentralização das atrações e inovando em outras, ten-tando
harmonizar novas tecnologias à tradição do evento.
A cidade pode perceber, nesse período, o incremento na
atividade econômica gerada pela movimentação turística
durante o “Natal Luz”.
A partir de 2001 o evento iniciou uma nova fase de
reestruturação, crescimento e inovação. A “Vila de Natal”
resgatou a tradição do verdadeiro artesanato gramaden-se,
recebendo a “Casa do Colono” com a produção de pães,
biscoitos e panetones, além de outros produtos locais. Na
Vila acontece o teatro de marionetes com a encenação do
“Auto de Natal do Abelardo”, uma apresentação cultural e
lúdica que agrada a todas as idades.
“A Árvore Cantante” absorveu novas tecnologias: sua
estrutura passou a girar e os cantores vão aparecendo aos
poucos conforme inicia a música, oportunizando expecta-tiva
a quem assiste. Ainda no ano de 2001, foram criadas
duas novas atrações: o “Grande Desfi le de Natal”, infl uen-ciado
pelas paradas da Disney - e o “Nativitaten”, inspi-rado
nos espetáculos de Epcot Center. Foi convidado o
especialista em desfi les Joãosinho Trinta para inserir um
moderno conceito à concepção do desfi le do “Natal Luz”.
Ressalte-se que as inovações também se manifestam na
reciclagem e reaproveitamento dos materiais usados de
um ano para outro. Por exemplo, as esculturas e alego-rias,
que antes eram feitas de isopor, fi bra e madeira, ago-ra
são de espuma, mais leve e rápida de se trabalhar.
Já o Nativitaten, é composto por um show piromusi-cal,
que apresenta a origem do mundo e narra a criação,
o paraíso, o pecado e as trevas, a súplica pela salvação, o
nascimento de Jesus Cristo, a epifania - que são cantados
por tenores, barítonos e sopranos em balsas fl utuantes em
meio a um ballet de águas dançantes, labaredas de fogo,
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raios laser e fogos de artifício, apresentado no Lago Joa-quina
Rita Bier. A tradição religiosa se mostra conectada
aos efeitos tecnológicos inovadores.
Em 2006, foi lançado um musical chamado “A Fantás-tica
Fábrica de Natal”, que conta com um elenco de 45
bailarinos e 10 atores unindo dança, teatro, música, acro-bacias
circenses e efeitos especiais. O espetáculo ocorre
no Parque Carriére, um anfi teatro cercado por hortênsias
(Evangelista, 2008).
Durante a 22ª edição do Natal Luz, em 2007, foi cria-da
a Exposição das Renas, inspirada no Cow Parade, um
dos principais eventos de arte pública mundial. Empre-sários
da Rua Pedro Benetti, de Gramado/RS, produzem
as peças que são decoradas por um artista plástico convi-dado.
As renas, personagens do Natal, são transformadas
em obras de arte, motivo de diversão para todos.
E no ano de 2008, foram inseridos à programação geral
do “Natal Luz”, passeios pelos bastidores, nos barracões e
locais do evento onde é produzido, organizado e elaborado
o “Natal Luz”. Neste mesmo ano, houve a estréia de um
teatro de bonecos que ocorreu no Palácio dos Festivais: “A
magia do Natal Luz de Gramado [...] é a realização de um
sonho que une corações e irmana o espírito de fraternida-de”
(Bertolucci apud Evangelista, 2008, p.15).
É importante ressaltar também o acolhimento e as re-lações
entre anfi triões e visitantes em todo o contexto das
atrações do “Natal Luz”, uma vez que são essas relações,
assim como a busca pelo Outro algumas das razões moti-vadoras
da ida desses visitantes e turistas para a cidade
de Gramado.
Hospitalidade no evento “Natal Luz”
Como já referido, a Vila de Natal é um espaço em que
os visitantes, além de usufruírem da feira de artesanato,
podem distrair-se com o teatro de marionetes, as ofi cinas
de artesanato, o trem a vapor, entre outras atividades
presentes. Porém, são os personagens do “Povo da Vila”
que se apresentam como cerne da experienciação de hos-pitalidade
no evento Natal Luz.
O “Povo da Vila” é a mais recente inovação da Vila de
Natal e tem a atuação de seis atores para uma mediação
teatral. De acordo com o site ofi cial do evento, estes são,
[...] moradores do nosso imaginário infantil, eles nas-cem
do desejo de fazermos do mundo um lugar melhor.
Seis carismáticos seres encantados que são os guar-diões
do espírito do natal. [...] Vovó Natalícia e sua neta
Flora nos encantarão com deliciosas receitas cheias de
sabor e magia, enquanto o bondoso Prefeito Bonifácio
e sua apaixonada Primeira Dama Aurora nos recebem
calorosamente como antigos amigos (Natal Luz, 2010).
Esses personagens apresentam-se na Vila de Natal e
contam para os turistas e visitantes como cuidam de todos
os preparativos, durante o ano, para a chegada do Natal.
Interagem com todo público presente, das mais variadas
faixas etárias, por meio de diálogos voltados, principal-mente,
para o espírito de natal. Perguntam se as pessoas
acreditam nesse espírito e no Papai Noel, e, na maioria
das vezes, são as crianças que respondem primeiro. Elas
são as primeiras a interagirem, e participarem de toda
dinâmica, são as “pontes”, pois a partir daí, os pais pas-sam
a se envolver, tiram fotos, se emocionam com as res-postas
dos seus fi lhos e se relacionam.
Como destaca o site ofi cial do “Natal Luz”, ao salientar
que as pessoas ao ouvirem as histórias dos personagens,
se emocionam e revivem momentos de suas infâncias, e,
principalmente, se sentem acolhidas nesse encontro com
o Outro.
Flora, Natalícia, Bonifácio, Aurora, Benjamim e Lú-cius
recebem turistas e gramadenses com belas e
emocionantes histórias natalinas. “As pessoas cho-ram
ouvindo as histórias e nos parabenizam muito
pelo trabalho. Isso é um grande retorno”, assegura
Dida Ortiz, produtora executiva da atração. O Povo
da Vila é uma das grandes novidades da progra-mação
este ano e é mais uma criação da Companhia
Caixa do Elefante, um dos grupos de maior desta-que
no cenário cultural brasileiro (Natal Luz, 2010).
Percebe-se que a construção dessa nova atração para
a Vila de Natal está relacionada com o conceito de hospi-talidade,
já explicitado, de uma hospitalidade que aproxi-ma
as pessoas, marcada por encontros acolhedores entre
estas.
Seguindo o lema do Natal Luz de Gramado, de en-cantar
pessoas, o grupo [da Companhia Caixa do
Elefante] criou uma nova Vila [...]. As personagens
do “Povo da Vila de Natal” vão invadir Gramado,
recebendo os visitantes e interagindo com o público.
[...] Eles serão os responsáveis por resgatar o espíri-to
natalino através de marcantes representações e
contribuir ainda mais com o clima de encantamento
que tomará conta da Cidade. Segundo Rafael Ros-sa,
membro da Companhia e um dos idealizadores
do Projeto, são essas personagens que guardam e
multiplicam o espírito natalino (Gramado, 2010).
Nesse sentido, pode-se afi rmar que essa experiência
vivenciada na Vila por um visitante é um dos principais
fatores de retorno à cidade, uma vez que diversos turis-tas
citaram, na pesquisa contratada pelos organizadores,
como fatores motivadores, o espírito natalino, o acolhi-mento,
o sentir-se em casa, a união do Natal, entre outros
pontos, como fundamentais pelo seu retorno a Gramado.
De acordo com a pesquisa efetuada pela empresa con-tratada
pela organização do evento, Rodhe e Carvalho,
em 2009, sobre a visão dos visitantes em relação aos vá-rios
aspectos que compõem o evento “Natal Luz”, 98,7%
salientaram que a cidade é bem preparada para receber
bem os turistas. O “bem receber” está ligado diretamente
à preparação do destino turístico para o recebimento do
turista. O “bem receber” se relaciona intimamente com a
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Hospitalidade e inovação do “natal luz” de Gramado (rs), ...
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a hospitalidade e a inovação são relevantes como estraté-gias
de construção de espaços humanos, de acolhimento e
de convivência.
Essencial para a comprovação do tema foi a consta-tação
de que mais da metade dos turistas entrevistados
admitiu não ser a primeira vez que participava do “Natal
Luz” (53,8%). Isto quer dizer que praticamente a metade
do público do evento é constituída de visitantes que retor-nam
ao local do evento, nas edições seguintes. No intuito
de reforçar a constatação de que o retorno dos turistas em
Gramado (RS) é comum, ressalta-se o percentual de 83,8%
dos entrevistados que se encontravam pela primeira vez
na cidade de Gramado (RS), conforme a pesquisa Rohde
e Carvalho (2007/2009), e mencionaram pretender voltar
nas próximas edições. Entre os que repetiram a experiên-cia
quatro vezes, 97,5% emitiram a mesma resposta.
O que move esses visitantes a retornarem a Grama-do/
RS, no período da realização do “Natal Luz”? O evento
exerce uma atração notória entre os participantes, sejam
eles residentes ou visitantes de Gramado (RS), conforme
se idêntica nas próprias manifestações. A hospitalidade
é, portanto, determinante para o retorno dos turistas ao
evento “Natal Luz”. O sucesso de evento está ligado à for-ma
como os visitantes são tratados pelos habitantes do lu-gar,
pelos organizadores e colaboradores do evento, pelas
entidades públicas e privadas. A estrutura e a qualidade
dos bens e serviços disponíveis se agregam à hospitali-dade.
O acolher e prestar bons serviços são reconhecidos
pelo turista como fatores que caracterizam um contexto
turístico satisfatório, ao qual voltaria sempre que possí-vel.
A efetivação do retorno é potencializada pelo aspecto
do convívio humano prazeroso.
Os resultados aqui apresentados podem servir de fun-damentos
aos organizadores do evento e entidades gover-namentais
a criar valores e satisfações novas e diferentes
aos visitantes o que, além de fortalecer a hospitalidade,
converte recursos em novas e produtivas maneiras de
atrair o consumidor. Constata-se, assim, que não ape-nas
a possibilidade em si, mas a realidade evidenciada
na hospitalidade da comunidade, nas músicas entoadas
nas solenidades, na decoração da cidade, na inovação das
atrações, se agregam à manifestação do espírito natalino,
que encanta e surpreende o visitante, despertando nele o
desejo de retornar em próxima oportunidade. A experiên-cia
do “Natal Luz” em Gramado (RS), constitui momento
especial na vida dos turistas e visitantes, de acordo com
suas manifestações e avaliações.
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consequentemente, com a hospitalidade.
Outro dado relevante da pesquisa de Rodhe e Carval-ho
(2009) refere-se à percepção dos participantes do even-to
“Natal Luz” com relação ao que exerceu maior poder
de atração individual a cada um dos turistas e visitantes.
Do total de respondentes, mais da metade, ou seja, 58,1%
emitiram sua opinião em torno de posições que incluem a
hospitalidade como: “tudo, todos, a cidade”, “educação das
pessoas”, “pontualidade”, “participação de todos”, “clima
de Natal”, “harmonia de tudo, de todos”, “movimento con-junto
das pessoas”, “alegria”, “espírito de Natal”.
O envolvimento e a participação da comunidade de
Gramado (RS) no “Natal Luz” também foi destacado pela
pesquisa da Rodhe e Carvalho (2009), que detectou que
o índice de aprovação da cidade, no item “atendimento
geral”, foi de 93,9%, o que pode indicar mais um dos as-pectos
da hospitalidade inserida nos diversos contextos
do evento. Mais da metade dos turistas entrevistados ad-mitiu
não ser a primeira vez que participava do “Natal
Luz” (53,8%). Metade do público do evento é constituída
de visitantes que retornam ao local do evento, nas edições
seguintes, e 83,8% dos entrevistados que se encontravam
pela primeira vez na cidade de Gramado (RS), conforme
a pesquisa Rohde e Carvalho (2007/2009) mencionaram
pretender voltar nas próximas edições. Entre os que re-petiram
a experiência quatro vezes, 97,5% emitiram a
mesma resposta.
Assim, pode-se concluir que, como referido anterior-mente,
os espaços de hospitalidade precisam ser inova-dos,
em razão da a procura das pessoas por acolhimento,
interação, pela busca de novas vivências e experiências.
Portanto, é imprescindível que os organizadores do even-to
“Natal Luz” continuem a utilizar diversas ferramentas
para a inovação com vistas de promover locais mais hu-manos,
lugares de comunicação, de contato e de proximi-dade,
com o foco nas e para as pessoas.
Conclusão
Entre as razões do sucesso do evento “Natal Luz” es-tão
especialmente a hospitalidade e a inovação. Sua reali-zação
transcende a aceitação e a cooperação dos morado-res
da região, demonstrando o fundamental envolvimento
e a satisfação com a atividade turística que escolheram
exercer. Dessa forma, o evento é um meio efi ciente de a
comunidade local criar espaços de hospitalidade, demons-trando
o acolhimento entre eles e dos turistas. Isso ocorre,
de maneira geral e de forma natural, por meio do plane-jamento
e das parcerias que envolvem os setores público
e privado e a comunidade local, uma vez que os órgãos
públicos e a própria população vêem suas idéias e projetos
realizados no “Natal Luz”.
Assim, reiteram-se os benefícios das relações de hos-pitalidade,
uma vez que quem acolhe e quem é acolhido
troca conhecimentos e potencializa seus ganhos, já que
estes não fi cam resumidos somente às questões econômi-cas,
mas também humanas e culturais. Nesse contexto,
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 10(5). 2012
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Acesso em 12 de março de 2010.
Recibido: 18/11/2011
Reenviado: 17/05/2012
Aceptado: 08/07/2012
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