© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Vol. 18 N.o 3. Págs. 513-516. Julio-Septiembre 2020
https://doi.org/10.25145/j.pasos.2020.18.036
www .pasosonline.org
* Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal); E‑mail:
pedrodosrc@gmail.com
O turismo mochileiro nos últimos anos tem registado um cres‑cimento
exponencial, sendo interpretado como uma subcultura
inserida no fenómeno global. Vários autores têm se dedicado ao
estudo deste tema pois existe uma ausência de estudos sobre a
temática do turismo mochileiro devido ao acentuado destaque
atribuído ao turismo convencional em detrimento deste subtipo
de turismo. Portanto, o estudo inserido no livro permite colmatar
esta lacuna. Os autores são Antonio Martín–Cabello, José Luis
Anta Félez, Almudena García–Manso e Rubén José Pérez
Redondo. A estrutura do livro é composta por seis capítulos
e o seu conteúdo permite compreender a evolução e as várias
abordagens do turismo mochileiro.
O primeiro capítulo salienta de forma geral a presença do
turismo no quotidiano da sociedade, onde o turismo mochileiro
surge ao mesmo tempo que o turismo de massas e acaba por
constituir um fenómeno no mundo globalizado, sendo pioneiro no
turismo individualizado. São igualmente explicitados os aspetos
metodológicos, onde é elucidada a necessidade de recorrer a dados
quantitativos e qualitativos de carácter etnográfico para fazer
face à dificuldade em estudar os movimentos transnacionais.
No segundo capítulo os autores realizam uma abrangente contextualização histórica, demonstrado que o
viajante mochileiro tem origens remotas e que integra um universo amplo, inserindo‑o
no rito de passagem
ou num ritual de trânsito, remetendo neste ponto para as peregrinações. Neste sentido, é fornecida a visão
de vários autores, onde é demonstrado que o turismo mochileiro teve origem nas viagens dos séculos XVII
e XVIII, principalmente no Grand Tour, que consistia em viagens realizadas por jovens da alta burguesia
aristocrática e que se consolidaram ao longo dos séculos XIX e XX. Assim, o conceito de turismo mochileiro
encontra‑se
reforçado na década de 50 do século XX por Erik Cohen, ao integrar os jovens oriundos da
classe média e que estavam vinculados a movimentos de protesto estudantil nesta conceção. Neste sentido,
é demonstrada a progressiva transição da imagem que o mochileiro adquiriu ao longo da década de 80,
Pedro Azevedo
Reseña de Publicaciones
Antonio Martín Caballero; José Luis Anta Félez;
Almudena Garcia Manso; Rubén J. Pérez Redondo
(2017). Turismo mochilero: una aproximación
desde la sociología y la antropología a una
subcultura global. Oviedo: Septem Ediciones.
ISBN 978‑8416053889
Pedro Azevedo1*
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal)
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 18 N° 3. Julio-Septiembre 2020 ISSN 1695-7121
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passando a transmitir uma imagem respeitável, contrariando assim a imagem de vagabundo adquirida nos
anos 60. A sua imagem passa assim a estar revestida por determinados valores como o desprendimento de
um lugar, afastamento do materialismo, busca de autenticidade e sentimento de liberdade e independência.
Em suma, a sua imagem passa a ser socialmente aceite e integrada nos “cânones” turísticos.
São ainda mencionadas as razões desta mudança e da popularização do turismo mochileiro: surgimento
de um novo mercado de trabalho; adoção de valores pós‑materiais
pela sociedade; a aviação comercial
passa a constituir o principal meio de transporte; o aparecimento da internet; e a valorização da expe‑riência
adquirida durantes as viagens (currículo individual e ano sabático). Neste contexto, surge uma
indústria turística direcionada aos mochileiros, nomeadamente nas áreas do vestuário e equipamentos.
As caraterísticas do perfil dos mochileiros, os tipos de viagens realizadas e as tipologias de mochileiros
são evidenciadas no terceiro capítulo. A sua principal caraterística assenta na realização de viagens de
longa duração, organizando viagens planificadas e autónomas, destacando o caráter auto‑organizado
destas
viagens. De certo modo, permite evidenciar que o turismo mochileiro distancia‑se
do turismo convencional.
Também é demonstrada a amplitude do termo mochileiro (backpacker) que recebe outras designações, tais
como: viageiros, vagabundos, trota mundos, nómadas, nómadas digitais, entre outras. É salientado o facto dos
mochileiros querem ser intitulados por viageiros e viajantes para se diferenciarem dos turistas convencionais.
Apesar da ausência de estudos, os autores traçam e sustentam o perfil do mochileiro: são maioritaria‑mente
jovens, com idades compreendidas entre os 18 e os 33 anos; a sua procedência é essencialmente
de países ocidentais; possuem elevadas qualificações, sobretudo a nível universitário; e são oriundos da
classe média‑alta.
A duração das viagens não possui uma duração regular. É evidente que o momento
para iniciarem a viagem encontra‑se
intimamente marcado por uma etapa de transição de vida, onde
procuram principalmente adquirir novas experiências durante um determinado período da sua vida para
depois regressarem à vida habitual. Neste aspeto, o quotidiano é diminuído para um segundo plano.
Outros aspetos fornecidos no estudo prendem‑se
com as despesas e a forma como os mochileiros se
deslocam. Apesar de continuarem a procurar minimizar os custos de viagem, é afastada a ideia que o
mochileiro se desloca somente a pé. Recorrem a todos os meios de transporte, utilizando o avião para
se deslocarem para os países e utilizam todos os transportes públicos quando alcançam o destino como
autocarros, comboios e ferries, bem como a bicicletas e motas. Recorrem de igual modo a táxis e à
partilha de transporte para se deslocarem a zonas remotas. Relativamente às despesas é referido que o
mochileiro pode realizar mais gastos que o turista convencional, sendo frisado o facto de os mochileiros
realizarem a maioria dos seus gastos junto das comunidades locais.
Analogamente à tipologia do turista mochileiro, são adotadas as definições de dois autores. Jean‑Christophe
Demers entende que há quatro tipos de mochileiro: peregrino, rito de passagem, em
conversão e busca de conquista, enquanto Greg Richards estabelece três tipos de mochileiros: mochileiros;
flashpacker, entendidos como mochileiros relâmpago e que constitui uma variação no perfil mochileiro;
e nómada global, termo já referido na obra “The Global Nomad: Backpacker Travel in Theory and
Practice” (Richards e Wilson, 2004). Perante isto, é enaltecido que a viagem do mochileiro opera como
um verdadeiro rito de passagem, isto é, um conjunto de práticas e atividades que simbolizam a passagem
de uma etapa da vida a outra, que se encontra presente em muitas culturas. Acima de tudo, é entendido
como um meio de crescimento pessoal.
Outras evidências fornecidas relacionam‑se
com a identificação dos cinco principais destinos: Sudeste
Asiático, nomeadamente Tailândia e Vietname; Austrália; Sudáfrica e Europa. Estes destinos contrastam
com a ausência de países como os EUA e o Canadá como destinos privilegiados, devido ao facto de os
mochileiros ocidentais elegerem países com reduzidos níveis de desenvolvimento e principalmente
procurarem a autenticidade e o exotismo, bem como os baixos preços do alojamento e da estadia.
Contudo, os mochileiros não ocidentais, como os israelitas e de outros países asiáticos, têm registado
um exponencial crescimento. Diferenciam‑se
pela distinção de valores dos mochileiros ocidentais.
Além do mais são referidos outros aspetos tais como: que a perceção do perigo e do risco são uma
parte integrante da viagem bem como é destacado o facto de procurarem um conhecimento geral de
cada país que visitam, conhecendo em maior profundidade o país que pretendem mesmo conhecer.
O capítulo 4 incide sobre a subcultura mochileira. Trata essencialmente das contradições entre os ideais
do viajante mochileiro e as suas práticas reais, estabelece uma comparação entre as práticas de viagem
do mochileiro e do imaginário global e demonstra que os mochileiros desenvolveram uma subcultura
específica e simbólica. De forma geral, a imagem do mochileiro é marcada pelas viagens que realiza como
sentido de liberdade, autenticidade e fuga à rotina. É uma forma de conhecer de forma pura o mundo.
Acima de tudo, proporcionam e definiram uma imagem com caraterísticas reconhecíveis e possuem o
status de viajante. Criaram verdadeiros enclaves da cultura mochileira: não possuem relações profundas
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com as comunidades locais, privilegiando o contacto com outros mochileiros que encontram no percurso;
e por vezes criam as suas próprias rotas. De igual modo, surge uma cultura material e uma indústria
destinada aos mochileiros, como vestuário e equipamentos.
O capítulo 5 enquadra o turismo mochileiro no turismo global. A intensificação dos fluxos turísticos
aumentou o turismo jovem, onde os mochileiros se inserem, logo inseridos no fenómeno de globalização.
É explicado que as universidades e as empresas fomentam a realização das viagens para permitir a
aquisição de competências através da experiência. Isto permite a estudantes e trabalhadores diferenciar‑se
dos de mais turistas e valorizarem o seu currículo. Esta situação salienta o status simbólico.
Neste capítulo é igualmente explicado o conceito de expatriado corporativo, sustentado noutros
estudos (Martín‑Cabello
e García‑Manso,
2015), entendido como trabalhadores que se encontram
deslocados, logo possuem uma subcultura com semelhanças à subcultura dos mochileiros. Ambos são
coletivos inseridos num mundo global.
Por último, o sexto capítulo centra‑se
na análise do turismo mochileiro com enfoque em Espanha,
realizando uma profunda contextualização histórica da sua evolução, destacando os principais destinos
e rotas seguidas e por fim, são mostrados os resultados obtidos.
O surgimento do turismo mochileiro em Espanha encontra‑se
relacionado com o boom turístico que
ocorreu neste país. Além do mais, constitui um dos principais destinos turísticos mundiais e eleito
como o primeiro país do mundo para se viajar sozinho. O turismo mochileiro em Espanha teve um
desenvolvimento tardio devido essencialmente a condicionantes de natureza sociopolítica. Somente
nos anos 60 surgem os primeiros viajantes para passar a haver uma consolidação a partir dos anos 80.
O livro ainda refere que muitos mochileiros têm conhecimento por referências dadas através de amigos
e conhecidos que vivenciaram uma determinada experiência anteriormente. Os mochileiros recorrem a
sites e blogues populares dentro do turismo mochileiro para trocarem informações importantes entre si.
O estudo recorre à consulta destes sites, onde é possível verificar os locais mais visitados e preferidos pelos
turistas mochileiros. Barcelona e Madrid, entre outras cidades europeias, destacam‑se
como as cidades mais
visitadas pelos mochileiros. De igual modo, os sites sugerem rotas clássicas como rotas menos habituais.
Em Espanha, o Caminho de Santiago assume uma posição importante para o turismo mochileiro,
não obstante ser percorrido com várias motivações, possui realmente uma dimensão mochileira, como
é reforçado igualmente por Joan Prat (2011). As Vías ou Rotas Verdes, itinerários inseridos em meios
rurais, e os arquipélagos, constituem outros locais transitados pelos mochileiros em território espanhol,
segundo uma pesquisa realizada juntos dos viajantes2.
Na pesquisa também é estabelecido dois tipos de mochileiro distintos: o que “mochila” no próprio
país e o que “mochila” num país diferente, mais longínquo, onde este último modifica o plano de viagem
em termos de objetivo, tempo, rota e transporte.
Esta obra permite compreender de forma crítica que existe um distanciamento da imagem tradicional
e enraizada do mochileiro, afastando‑se
da imagem de hippie e de vagabundo dos anos 60. Refere ainda
que existem determinadas evidências tais como uma homogeneidade do perfil do turista mochileiro,
apesar de apresentar certas caraterísticas próprias, e principalmente que existe uma vinculação do
turismo global com o turismo mochileiro, onde ambos se encontram interconectados.
A formação dos autores vinculada às áreas da Antropologia e da Sociologia permite construir um
perfil do viajante mochileiro assente numa perspetiva multidisciplinar e definir as suas principais
motivações para realizarem a viagem (Moller e Hjalager, 2019): aprender e adquirir conhecimentos de
outras culturas; um desafio pessoal; e socializar.
Partindo de uma perspetiva antropológica e sociológica e através estudo de um estudo rigoroso, que
possui a inclusão de diversos indicadores e testemunhos, enquadra o turismo mochileiro dentro dos
processos de mudança social em plena era da globalização.
Fundamentalmente, é salientado o poder transformador do turismo mochileiro e evidencia a sua
capacidade libertadora e emancipadora de determinadas convenções sociais.
Bibliografia
Martín‑Cabello,
A. e García‑Manso,
A. 2015. Una aproximacíón a las relaciones entre el turismo mochilero
y la cultura corporativa global. Revista de Antropologia Experimental, (15): 55‑72.
Moller Jensen, J. e Hjalager, A.‑M.
2019. Travel motivations of first‑time,
repeat, and serial backpackers.
Tourism and Hospitality Research, 19(4): 465‑477.
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516 Turismo mochilero: una aproximación desde la sociología y la antropología a una subcultura global
Prat, J. 2011. Por qué caminan? Una mirada antropológica sobre el Camino de Santiago, em Nogués,
A. M. e Checa, F. (coords.) La cultura sentida. Homenaje al profesor Salvador Rodríguez Becerra:
495‑529.
Sevilha: Signatura Demos.
Richards, G. e Wilson, J. (Eds.). 2004. The Global Nomad: Backpacker Travel in Theory and Practice.
Clevedon: Channel View Publications.
Notas
1 Este trabalho é realizado no âmbito da bolsa de investigação atribuída pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT)
com a referência SFRH/BD/136459/2018.
2 Durante os anos 60 do século XX, o turismo mochileiro manifestou‑se
principalmente em Ibiza, através do surgimento
de pequenos grupos de viajantes estrangeiros, nomeadamente os hippies.
Recibido: 03/02/2020
Reenviado: 04/03/2020
Aceptado: 04/03/2020
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