Vol. 2 Nº 1 págs. 47-56. 2004
www.pasosonline.org
© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Festas populares e turismo cultural - inserir e valorizar ou es-quecer?
O caso dos Moçambiques de Osório, Rio Grande do Sul
Marcelo Ribeiro†
Universidad de La Laguna (Islas Canarias, España)
Resumo: O presente artigo aprofunda a relação entre as festas populares de caráter religioso e o turismo
cultural, a partir da análise da estrutura do grupo de afro-brasileiros dos Moçambiques no Litoral Norte
do Rio Grande do Sul e seu potencial como oferta de patrimônio intangível para este tipo de turismo.
Também a elaboração de políticas públicas onde a cultura seja aproximada ao turismo, como forma de
preservação e de conhecimento.
Palavras chave: Festas populares; Turismo cultural; Moçambiques; Afro-descendentes; Políticas
públicas
Abstract: This article analise the relations between popular culture, whith religious theme and cultural
tourism. The structure of Moçambiques afrobrasilian group, in the Rio Grande do Sul State, southern
Brazil and his celebration like a cultural tourism resource. The formulation of cultural policies nearest to
touristic policies and one shape of a new preservation and knowledge.
Keywords: Popular culture; Cultural tourism; Moçambiques; Afrodescendents; Public policies
† Doctor en Turismo y Desarrollo Sostenible y Profesor de la Universidad de Santa Cruz do Sul, UNISC (Brasil).
E-mail: ribeiroweb@yahoo.es
48 Festas populares e turismo cultural …
Introdução
As manifestações populares, sejam de
cunho religioso ou não, possuem um caráter
ideológico uma vez que comemorar é, antes
de mais nada, conservar algo que ficou na
memória coletiva (Paiva Moura, 2001).
Para o turismo, como um sistema aberto
(Beni, 1997), que se move pela oferta varia-da
em determinados destinos, tais manifes-tações
culturais podem formar parte de um
produto, desde que sejam conectados de
forma direta ou complementaria aos servi-ços
turísticos.
Antes de conceituar manifestações popu-lares
é importante lembrar que o turismo
existe e transforma lugares e grupos
humanos no momento em que seja permiti-da
a “expansão”, onde os atores sociais con-sintam
ou mesmo de maneira inconsciente
estejam inseridos neste círculo que está
constituído por operadores/ agentes de via-gens,
setor público, prestadores de serviços
locais, comunidade local, os usuarios deste
sistema, os turistas e o território onde oco-rrem
as ações.
O turismo a partir de sua implantação
pode “redefinir realidades sociais” (Hall,
1994), criando expectativas a partir de
imagens projetadas e adaptando as locali-dades
a estas expectativas. O que pode ser
uma descoberta como novo destino ou nova
atração, ou mesmo uma reciclagem de um
antigo destino.
Neste contexto, as manifestações cultu-rais
correm o risco de sofrer mudanças
quando tratadas de forma massiva, repeti-tiva
e acatando o gosto do visitante, neste
caso operadores turísticos e turistas. Em
muitos casos, com apoio de poderes locais,
as manifestações turísticas perdem sua
função original para atender a demanda de
novos participantes.
A questão de aceitar tais mudanças se
encontra no processo de negociação e nos
mecanismos que se empregam na preser-vação
e na manutenção das manifestações e
quais interesses estão em jogo para permi-tir
e facilitar que se mudem desde as datas
festivas aos rituais destas manifestações a
partir dos atores sociais envolvidos no pro-cesso.
Para tanto, a auto-reflexão sobre
representações culturais é um elemento
básico no desenho de um projeto de preser-vação
cultural (Ascanio, 2001: 3).
O interesse de exploração turística de
determinada manifestação cultural se deve
a fatores como o potencial, a originalidade
do evento e de uma divulgação consistente
da mesma através da imagem que se queira
projetar. No caso das festas religiosas a sua
concepção está centrada nos devotos e nos
grupos de atores sociais que permeiam o
universo sacro e ao mesmo tempo profano
de tais manifestações.
Para que seja considerado como um pro-duto
turísitico, a festa será analisada como
um evento apto a atrair não somente devo-tos,
como outros segmentos. A partir deste
processo a estrutura física começa a sofrer
modificações como um possível redimensio-namento
do espaço e dos serviços. No mo-mento
em que a festa interessa a agentes
privados que formalizam sua comerciali-zação,
ela passa a compor junto com outros
eventos populares um produto cultural
turístico tendo como uma das consequen-cias
a perda de autenticidade ou mesmo a
divulgação massiva.
Contribui para isso a imagem da festa e
o potencial de atrair determinados públicos
que possuam afinidades com o evento ou
mesmo se movam pela motivação da sim-ples
curiosidade. Estas motivações se con-cretizam
por experiências vivenciadas, pela
nostalgia ou por necessidade de sair do
cotidiano. A simples atração pela festa gera
uma demanda para o local, seja um núcleo
urbano ou rural, que também será conheci-do
e lembrado pelo evento.
É importante fazer a devida distinção
entre o evento/espetáculo e a festa popular,
feita para celebrar um acontecimento, agrí-cola
ou religioso que faz parte do cotidiano,
possui sua organização no seio da comuni-dade,
a partir da arrecadação de recursos e
da ajuda do poder municipal. Esta concepç-ão
está mais de acordo com os símbolos do
lugar, compondo a identidade do grupo
social que promove.
O que associamos com a “especificidade
das culturas populares” (Canclini, 1983)
onde para populações indígenas ou campo-nesas,
as festas são acontecimentos coleti-vos
enraizados na sua vida produtiva, cele-brações
fixadas de acordo com o ritmo do
ciclo agrícola ou do calendário religioso,
Marcelo Ribeiro 49
onde a unidade doméstica de vida e de tra-balho
se reproduz através da participação
coletiva da família.
Patrimônio intangível, festas populares e o
turismo
O conceito de patrimônio começa a mu-dar
na última década do século XX, quando
a visão tradicional considerava somente os
bens artísticos e monumentais herdados do
passado, como as obras de arte esculpida e
pictóricas ou ainda as grandes obras arqui-tetônicas.
Hoje em dia já existe uma cons-ciência
sobre a abrangência do patrimônio
que pode abarcar manifestações culturais
intangíveis, como as tradições orais, a mú-sica,
idiomas e festas.
De acordo com Prats (1997) o patrimônio
como recurso turístico pode ser apresentado
em tres formas: a) O patrimônio pode se
constituir em um produto turístico per se,
capaz de integrar junto a oferta hoteleira,
um motivo de compra autônoma.b) O pa-trimônio
pode ser apresentado como “asso-ciado”
a um produto turístico integrado
(pacote de viagem), sendo parte integrante
do produto e c) O patrimônio pode se consti-tuir
em um valor agregado para destinos
turísticos que não possuem no patrimônio
atrativo principal ou o motivo de compra
básica.
Desta forma, o patrimônio passa a ser
algo passível de atrair espectadores desde
que seja de interesse a determinados seg-mentos
turísticos capazes de transformá-lo.
Não se pode esquecer que o setor turístico é
um setor empresarial como qualquer outro
e obedece a lógica de maximizar benefícios
e minimizar riscos. Assim, como cita Prats
(1997: 43) “la empresa turística puede apro-vecharse
de los recursos patrimoniales para
vender sus servicios, pero dificilmente
activará recursos patrimoniales para con-vertirlos
en productos turísticos.”
As ações privadas em relação ao pa-trimônio
nem sempre podem ser vistas co-mo
uma simples agressão ao patrimônio,
uma vez que alguns grupos apreciam o
valor simbólico que incrementa o valor
econômico (Canclini, 1993). Como em casos
de imobiliárias que defendem a preservação
bairros históricos para aumentar o custo
das residências, empresas turísticas que
conservam o sentido cenográfico de edifícios
históricos,ainda que introduzam mudanças
arquitetônicas e funcionais com fins lucra-tivos
etc.
A conexão entre os promotores locais e
os meios de distribuição ou de comerciali-zação
de festas é diferente no caso do pa-trimônio
intangível, baseado em algo mó-vel,
que é re-criado e está baseado na re-presentação
da festa e dos valores como a
fé, a devoção e o respeito. Diferente do pa-trimônio
tangível, onde se apresentam
atrativos imóveis como edificações ou obje-tos,
e não necessariamente existe contato
do visitante com os visitados.
As festas populares expressam as for-mas
identitárias de grupos locais, onde o
motivo de encontro, de fé ou simplesmente
de celebrar atrai e identifica a devotos e
indivíduos de mesma identidade. Neste
caso, o turismo pode causar estranhamento
nos locais, uma vez que não seja negociada
a participação e pior ainda se não forem
negociados os papéis de cada grupo envol-vido.
Um dos exemplos mais conhecidos da
expropriação ou mercantilização da cultura
local é o estudo de Grenwood (1989) sobre o
Alarde no povoado de Fuenterrabia, Es-panha,
em que existe a transformação de
uma festa comunitária a um evento para
turistas. Segundo Grenwood, quando uma
atividade cultural é feita como um evento
público e que esta passa a pertencer ou a
ser promovida para um mercado turístico
contínuo e em aumento tende a perder seu
caráter de ritual, onde ocorre uma violação
e posterior destruição de sua identidade e a
perda do poder de participação por parte do
povo.
No caso específico das festas populares,
sua realização forma a expressão simbólica
mais fiel da vida social de uma comunida-de.
De acordo com Alcalde e González
(1989: 114), podemos distinguir quatro di-mensões
que são específicas das festas e,
em geral, de todo fenômeno festivo: simbóli-ca,
socio-política, econômica e estética, sen-do
que segundo estes autores a mais impor-tante
e específica das dimensões da festa é
a simbólica. Está presente em todo fenôme-no
festivo, definindo e reproduzindo simbó-licamente
a identidade de uma coletividade
ou grupo social.
Quanto a sua característica, as festas
populares no Brasil de acordo com seus
50 Festas populares e turismo cultural …
componentes estruturais podem ser, de
acordo com Paiva Moura (2001: 38):
• Religiosos: ministrados por sacerdotes
ou por pessoas autorizadas pela igreja,
como missa, procissão, benção, novena e
reza;
• Profano-religiosos, ministrados por
leigos com a aprovação do sacerdote
homenageando as figuras sacras, de
modo alegre e festivo: levantamento de
mastro, bailados como congados, folia
de reis, Império do Divino, Reinado do
Rosário, Pastorinhas etc.
• Festas profanas, com caráter de divers-ão.
Com o propósito de segurar os visi-tantes
o maior tempo posssível nas fes-tas
com leilões, danças, comidas, barra-quinhas
e folguedos como malhação de
Judas.
O caso dos Moçambiques de Osório, Rio
Grande do Sul
No Brasil, como herança do período da
escravidão negra, a religião era uma estra-tégia
de sobrevivencia, muitas vezes atra-vés
de uma organização que desempenhava
um papel político como eram as confrarias e
irmandades religiosas.
No caso específico da Festa de Nossa
Senhora do Rosário, comemorada na região
do Litoral Norte do Rio Grande do Sul, na
cidade de Osório pelo grupo de afro-descendentes
conhecidos como Moçambi-ques,
sabe-se que os antigos escravos ne-gros
elegeram Nossa Senhora do Rosário
por ser sua protetora. De acordo com auto-res
como (Dos Santos, 2000), desde 1505 em
Lisboa, na capela de São Domingos de Lis-boa,
onde existia um altar de Nossa Sen-hora
do Rosário, que a comunidade negra
daquela cidade começou a realizar a teatral
solenidade da coroação de reis do Congo.
Elegemos tal manifestação pela inciden-cia
de material de divulgação de Osório e
da região litoranea onde aparecem a ima-gem
dos reis Congos e de alguns componen-tes.
Esta imagem deixou a dúvida de que
forma este grupo está inserido em alguma
proposta turística.
A investigação realizada junto ao grupo
dos Moçambiques durante os meses de no-vembro
de 2001 a março de 2002, tendo
antes deste período travado contato com
alguns elementos do grupo, buscou além de
conhecer a festa de Nossa Senhora do Rosá-rio,
analisar de que maneira o grupo e suas
manifestações podem ser inseridos em um
contexto de oferta turística cultural.
Também foram realizadas entrevistas
com turistas e veranistas que circulam nos
meses de verão na região. Se buscou saber
se conheciam tal manifestação e se tinham
interesse em participar ou conhecer. No
caso dos turistas e veranistas entrevista-dos,
em um total de 41 entrevistados, so-mente
seis entrevistados afirmaram con-hecer
a festa e destes seis, quatro já
haviam participado da festa. Em geral, dos
41 entrevistados, 16 não quiseram respon-der,
13 disseram que tinham vontade de
conhecer ou participar da festa e 12 disse-ram
que não tinham interesse em partici-par
da festa.
Sua origem no Brasil, situa-se do Século
XIX, onde quase todas as confrarias que
reuniam os africanos e seus descendentes
tinham como padroeira Nossa Senhora do
Rosário, por vezes designada como Nossa
Senhora do Rosário dos Pretos Lupi (1988:
82). Este mesmo autor comenta que os Mo-çambiques
são cortejos, constituídos por
guías, pajens, capitães, coronel e porta-estandarte
(Carneiro, 1965 em Lupi, 1988:
84) e ainda um rei, às vezes uma rainha,
príncipes, princesas, um mestre, u contra-mestre,
dois capitães (...), um general, va-riando
de companhia para companhia e
para o número e designação de componen-tes.
Com respeito ao perfil do grupo dos Mo-çambiques,
todos possuem laços de paren-tesco,
avós, tios, primos, irmãos e pais e sua
tradição é oral, passada de geração a geraç-ão
de novos dançantes. Os personagens
femininos do grupo são a Rainha Ginga e
sua dama de companhia. O que é interes-sante
no momento em que a grande maioria
são homens que compõe o grupo, as demais
mulheres ajudam a carregar o mastro com
o estandarte, acompanham nas apresentaç-ões
e na preparação de comidas da Festa de
Nossa Senhora do Rosario.
A Festa ocorre próximo ao dia 8 de ou-tubro,
data em que se celebra Nossa Sen-hora
do Rosário. Ocorre desde a rua até o
centro paroquial e dali em um segundo
momento até a igreja, onde os reis Congos
são coroados. Este ritual possui um signifi-cado
a todos os envolvidos: o integrantes do
Marcelo Ribeiro 51
grupo de afro-descendentes, conhecidos
como Moçambiques e os devotos que aco-rrem
a assistir e prestigiar a festa.
No Brasil existem festas similares como
a dos Moçambiques de Osório, conhecidas
como coroação de Reis Congos, nos Estados
de Minas Gerais, São Paulo e Goiás. Na
cidade de Osório, a Festa de Moçambique o
Maçambique, como os participantes do gru-po
se auto-denominam é uma “forma de
dança ou cortejo, cujo motivo principal é a
representação de um combate simbólico,
tendo a figura da Rainha Ginga como per-sonagem
principal” (Veiga Moura, 1997:
143).
A Rainha Ginga, segundo autores como
Glasgow (1982: 42) foi um personagem his-torico
em Angola, no século XVI, lutando
contra seu irmão, Ngola Mbandi, destituín-do-
o do trono. Depois se converte ao catoli-cismo
para vir a expulsar aos portugueses,
negando mais tarde a fé cristã.
No trabalho de campo, quando questio-nados
pela presença de pessoas “estranhas”
a festa, no caso de turistas, os membros
mais antigos do grupo como a Rainha Gin-ga,
comentaram que antes era comum que
outras pessoas viessem presenciar e depois
ficassem para a festa, coisa que hoje em dia
não acontece mais (Ribeiro, 2003).
Segundo Parente (2000: 15) “a festa nos
últimos anos conta com cada vez menos
afluencia de público, por um lado, pela pou-ca
divulgação que recebe, e por outro, pelo
escasso apoio material e financeiro que
recebe dos órgãos oficiais. Outros fatores
que contribuiram para a decadência da
festa são as brigas internas que se produ-zem
entre os integrantes do grupo, que
terminam muitas vezes com a saída de al-guns
de seus membros.”
Dito isso, a questão levantada é se o
grupo e suas manifestações culturais deve
ser incluído em um contexto de turismo
cultural, como forma de manter a tradição e
de criar e fortalecer novos vínculos de con-hecer
e se expôr ou simplesmente decair. O
turismo cultural funcionaria como forma de
estímulo de identificação positiva da comu-nidade,
sendo também uma fonte de auto-estima.
Não podemos considerar somente o po-tencial
do grupo e suas manifestações para
compor um produto de turismo cultural.
Existe também a possibilidade de criar ou
recriar outros produtos como o museu da
navegação lacustre, lembrando o auge
econômico da região nos anos 20 a 60 e que
hoje já não depende mais de barcos de
transporte nos lagos. Outra possibilidade é
a de revitalizar o museu municipal, onde os
Moçambiques ocupam um lugar de desta-que
e que necessita de melhores condições
tanto de exposição do acervo como dinâmica
de visitação. Estas ainda são idéias e pro-postas
que até o momento não sairam do
papel e que nada mais são que o reflexo da
falta de políticas de cutura e turismo e da
valorização do patrimônio histórico-cultural
existente.
Quando nos referimos aos poderes públi-cos
municipais, tanto legislativo como exe-cutivos,
é importante dizer que estes pos-suem
relações de manutenção para com o
grupo. Isso ocorre através de uma lei de
incentivo que é revertida em ajudas na
manutanção das vestimentas e na estrutu-ra
(combustível para transportes e alimen-tações)
para as apresentações realizadas
fora do município. Uma das necessidades
do grupo não correspondidas todavia é a
construção de um espaço cultural próprio
para o grupo, atualmente inexistente, onde
possam ser feitas apresentações e sirva
também como oficina de criação de instru-mentos
e um ponto de venda de produtos
relacionados com o grupo (discos e camise-tas).
No caso de leis de apoio, segundo Beltr-ão
(2002) o poder público municipal oscila a
cada mudança política possuindo poucas
condições de assumir o papel regulador do
patrimônio cultural. O que se complica
quando não destina a devida atenção aos
movimentos culturais populares.
Segundo Buys e Evangelista (2002: 28)
que investigaram festas parecidas a dos
Moçambiques no interior de Goiás e de São
Paulo, comentam que para o senso comum,
as manifestações populares são como “foto-grafias”
do passado, com uma visão estática
da cultura, ignorando seu dinamismo, sua
capacidade de se transformar ao longo do
tempo, incorporando influencias diversas.
Desta forma, como citam estes autores, a
abertura de festas populares a turistas tem
gerado uma re-valorização e um descobri-mento
de algo único e identitário em regi-ões
de Goiás e Minas Gerais.
52 Festas populares e turismo cultural …
Turismo cultural – quem procura o que?
Se pode definir aquele turista que busca
a cultura próxima da autêntica daquele que
busca o espetáculo, cuidando de observar o
perfil de cada grupo ou indivíduo e qual é
sua intenção de busca. Na tipología dos
tipos de turista, temos a definição do turis-ta
cultural como “busca o pitoresco ou ves-tígios
do estilo de vida locais tradicionais,
que talvez possa coincidir com o passado da
cultura propria; Inclua-se a isso costumes e
idiomas diferentes. Este turista trata de
informar-se o melhor possível sobre estes
“outros”, o turista participa em sessões de
comidas típicas, festas rústicas, no folclore
e inclusive algumas vezes em esportes po-pulares
onde sempre está presente a cama-ra
fotográfica.” ( Smith, 1989)
Para McKercher (2002) existem cinco ti-pos
de turismo cultural que se baseiam na
centralidade do motivo da viagem e na pro-fundidade
da experiência:
1) Turismo Cultural Proposital: os tu-ristas
aprendem sobre outras culturas ou
patrimônio e este é o maior motivo para
visitar um determinado destino. Este tipo
de turista busca aprofundar suas experien-cias
culturais;
2) Visitante de Pontos de Interesse em
uma cidade: busca informações sobre ou-tras
culturas e sobre o patrimônio, sendo
que sua visita é motivada por este fim. Este
tipo de turista é mais bem superficial ou
frívolo, sendo que sua viagem está mais
orientada ao lazer;
3) Turismo cultural casual: este tipo
de turista busca no patrimônio e na cultura
um limitado espaço dentro de sua escolha
do destino, tornando por fim uma visita
superficial.
4) Turismo Cultural Incidental: A de-cisão
de escolha do destino cultural e suas
atrações não possuem muita profundidade
ou peso. Entretanto, durante o tempo de
permanencia o turista participará de ativi-dades
turísticas culturais (festas, exposiç-ões,
procissões, mostras de arte, festival de
música ou teatro etc) tendo assim uma ex-periencia
superficial.
5) Turismo Cultural Serendipista: A
escolha do local pela cultura ou patrimônio
possui pouca ou quase nenhuma importan-cia
na decisão da visita ao destino, porém
estando alí o turista faz agradáveis desco-bertas
e acaba tendo uma profunda expe-riência
no lugar visitado.
Para este “novo turista” a principal ati-vidade
de sua viagem está determinada
pela possibilidade em participar de novas e
profundas experiencias culturais, tanto no
plano estético como no intelectual, emocio-nal
e psicológico (Stebbins, 1996: 948) as-sim
experimentar a cultura no sentido de
uma forma diferente de sua vida (Hughes,
1996: 707).
No que se referem às práticas cotidia-nas,
o turista cultural é curioso por nature-za
(Santana, 2003) e tenha ou não no desti-no
turístico o exotismo, ele necessita tanto
como o turista de massa de algo conhecido
que lhe dê confiança e inspire segurança.
Assim que o turismo de cultura ainda que
comporte na maior parte das vezes um me-nor
número de componentes possui relações
com seu homônimo de massas.
O que difere o turismo cultural do de
massas é que o produto final é organizado e
pensado de tal forma onde se padronizam
fatores sociais, financeiros e geográficos
para tornar acessível a um grande número
de pessoas, a preços competitivos, impor-tando
a quantidade e a homogeinização,
baseando-se no volume e não na forma.
A valorização de tais manifestações cul-turais
passa também por um processo de
escolha de diversos setores, além do grupo
envolvido, da comunidade local e dos seto-res
públicos, temos também o contexto
econômico e o contexto científicos-profissional
(Universidades e instituições
de pesquisa) no que diz respeito a sua ori-ginalidade
e sua importancia como pa-trimônio
intangível.
A importancia da cidade ou do núcleo
urbano onde são desenvolvidas tais mani-festações
contam como valor agregado (pai-sagem
natural e antrópica, patrimônio edi-ficado,
recursos cênicos e serviços), e tam-bém
como elementos de permanencia de
turistas e de visitantes que acorram ao
local da festa.
Os recursos culturais citados antes, se
caracterizam por tres segmentos: o equi-pamento
dos espaços culturais como mu-seus,
teatros, auditórios, bibliotecas. As
iniciativas ou manifestações culturais que
dotam de conteúdo a dito equipamento (re-presentações
teatrais, exposições temporais
etc); e os operadores que impulsam e
Marcelo Ribeiro 53
apoiam a oferta cultural de cada localidade
(administrações públicas e fundações). O
grau de dinamismo de uma cidade resulta
da interação destas tres dimensões, que por
sua vez derivam da potencia econômica
urbana e da tradição cultural da comuni-dade
local, especialmente de sua elite do-minante
(Calle Vaquero, 2003: 64).
Estes recursos culturais geram imagens
de interesse, tanto aos agentes locais como
de fora. A criação da imagem para posterior
divulgação destas manifestações para de-terminados
segmentos, depende do grau de
atração que desperte e da rede de serviços
que possa ser oferecida. Esta avaliação
inicial dependerá de contatos pré-estabelecidos
pelos atores sociais envolvi-dos
no processo.
No caso específico do turismo cultural,
baseado em que as necessidades dos turis-tas
mudam de acordo com o produto ofere-cido
e seu preço, tido como de menor impac-to
(Stebbins, 1997), onde se busca um dife-rencial
do lugar visitado a partir de deter-minados
gostos (arte, comidas, musica ou
arquitetura), aquisição de certo tipo de
conhecimento (língua estrangeira, história
da região ou do país), ou de desenvolver um
particular senso social ( como falar com as
pessoas do lugar, estar de acordo e respei-tar
as normas locais) a festa pode compor
taisl necessidades.
Ao diferenciar a “adaptação” de deter-minados
cultos para sua possível turistifi-cação,
temos o que Goldberg (1983: 483)
que investigou os cultos de vudú no Haiti,
diferencía das festas religiosas tradicionais
e o espetáculo turístico. O público que as-siste
ao espetáculo turístico está formado
por turistas e ou convidados. O espaço onde
ocorre também é turístico e destinado a
esse fim. Com relação às festas tradicio-nais,
neste caso um ritual, elas ocorrem em
lugares específicos, onde o público está
formado por iniciados, especialistas, ins-trumentistas
(aqui no caso, um ritual de
vudú).
Esta “turistificação” do ritual demonstra
que o tipo de público e o espaço são criados
e mantidos com a finalidade de mostrar de
maneira repetitiva e comercial. Por outro
lado, a festa tradicional também pode ser
vista por turistas porém sem os mecanis-mos
de um espetáculo, mais bem como par-te
do universo ritualístico que permeia tal
manifestação, que não possui finalidade
turística.
Políticas públicas e privadas para um tu-rismo
cultural
A formulação de políticas públicas onde
se valorize e se aproveite os recursos cultu-rais
como forma de valorizar e perpetuar a
imagem da festa, respeitando suas mudan-ças,
são desafios aos setores responsáveis,
sejam públicos e privados. Ocorre que para
a valorização de tais manifestações cultu-rais
dependem dos interesses de meios ofi-ciais
de apoio e de setores com uma ampla
visão cultural para tal proposta.
A própria manutenção da manifestação
implica em que seus integrantes se deem
conta de que não é maquilando as apresen-tações,
mudando as roupas dos integrantes
e as músicas que o grupo irá se destacar,
outrosim tendo uma consciencia de enten-der
de que a graça está em manter o que
existe sem cair no discurso de que “temos
que mudar senão acabamos.”
Como se trata de uma festa popular, or-ganizada
por uma minoria, no caso dos
Moçambiques, é pertinente lembrar Can-clini
(1983) que diz que não haverá política
realmente popular se os produtores das
manifestações (se referindo ao artesanato)
não tiverem papel protagonista, e este pa-pel
não se realizará senão como consequen-cia
de uma democratização radical da so-ciedade
civil.
Até onde o turismo possa se relacionar
com as festas populares, entendemos que os
atores do grupo Moçambique, neste caso,
devem não somente definir estratégias de
que sejam promovidas suas manifestações e
discutir as possibilidades de quais seriam
as consequencias positivas ou negativas do
grupo vir a compor um “produto de turismo
cultural”.
O problema de como manter viva a festa
e também de preservar possui dois vieses:
Um, incluir o grupo Moçambique de Osório
na nova lei de preservação de patrimônios
intangíveis, amparada pelo Ministério de
Cultura nacional como forma de “preser-vação”.
Tal ação pode ocasionar uma inter-venção
técnica e imobilizar o grupo para
qualquer mudança que se queira realizar
(como cultura se recria, se transforma e é
dinâmica).
54 Festas populares e turismo cultural …
Dois, como cita Arantes (2002:83) “em
alguns casos a utilização de mecanismos
como implementar programas de educação
patrimonial tem contribuído para fortalecer
a auto-estima da população, o sentimento
de pertencer a coletividade e o reconheci-mento
destes grupos como sujeito de dire-ito.
O que nem sempre tais ações tem con-tribuído
para a consolidação da democracia
pois não é tarefa simples neutralizar a ten-dencia
de criar exclusão social e política
que é praticamente inerente a valorização
das tradições.”
As políticas culturais são na maior parte
das vezes resultado de imposições de elites
que valorizam o que se entende por “alta
cultura” ou cultura elitista, esquecendo em
muitos casos das minorias. No Brasil, exis-te
todo um histórico de influências paterna-listas
do Estado Novo (1937-1945), onde o
Estado assumia qualquer responsabilidade
e negava a participação da sociedade civil
(Beltrão, 2002). A inclusão social de mino-rias
e ou de grupos marginalizados é reflexo
de pressões e de movimentos sociais e da
organização através da identidade a defen-der.
Dito isso, podemos antever que a relaç-ão
dos Moçambiques com o turismo pode
desembocar na espetacularização (com mu-danças
na estrutura da festa) pura e sim-plesmente
ou na manutenção e na conti-nuidade
das manifestações culturais com a
possibilidade de ampliar seu espaço a par-tir
da captação de recursos específicos às
necessidades do grupo e de manter seu
espaço de representação em Osório e na
região.
A elaboração de leis específicas de pro-teção
ao patrimônio intangível pode signifi-car
muitas vezes o não cumprimento e a
posterior marginalização. Entendemos que
políticas públicas de valorização de tais
manifestações onde os próprios atores so-ciais
sejam chamados a participar, ser in-cluídos
como elementos participativos e
discutir suas necessidades é parte do ca-minho
que se possa seguir. Como cita Ba-rreto
(2000: 15) “conservar significa man-ter,
guardar para que haja uma permanên-cia
no tempo. Desde que guardar é diferen-te
de resguardar, preservar o patrimônio
implica mante-lo estático e intocado, ao
passo que conservar implica integrá-lo no
dinamismo do processo cultural.”
O turismo como forma de divulgação do
patrimônio pode ser útil ao processo de
manter e revigorar determinadas manifes-tações.
Nogueira (2001) cita que em Portu-gal
o turismo funciona sem qualquer dúvi-da
como forma de preservação do patrimô-nio
como nos casos das olarias, da tapeçaria
e dos doçaria que foram resgatados por
atividades turísticas.
A forma de conter tais mudanças, se-gundo
Nogueira (2001) é que se empreguem
adequados e cuidados planos de intervenç-ão
cultural, ajustados às realidades regio-nais,
guardando suas peculiaridades e es-pecificidades,
podem funcionar como antí-doto
contra a descaracterização identitaria
de comunidades locais e regionais.
Conclusões
Ao analisar a relação de festas tradicio-nais
com turismo, dentro de uma proposta
de turismo cultural, é necessário fazer con-siderações
sobre os mecanismos de proteção
e de participação dos atores sociais locais
na negociação de quando, como e onde se
apresentam e quais finalidade das apre-sentações
no momento de sua relação com o
turismo.
A pressão exercida pelo setor turístico
para incluir tal oferta em um circuito deve
ser levada em conta uma vez que a base de
tal aliança está baseada muitas vezes no
lucro e na participação do setor públi-co/
administrativo local. Levando em conta
que o discurso empregado é de que tal fes-ta
entre no rol das atrações turísticas de
determinadas regiões sob pena de desapa-recer.
De outra parte, a não inserção de
festas também pode demonstrar um esva-ziamento
e a constante perda de indivíduos
em sua manifestação.
É importante a valorização das referen-cias,
como chama Arantes (2002: 89) à di-mensão
do bem cultural que faz menção aos
sentidos enraizados e subjacentes em uma
ação social. Esta dimensão agrega os signi-ficados
que vão estruturar a memória cole-tiva.
Por tanto, como exemplo, temos a fes-ta
popular onde os saberes e os valores são
levados a sério pelos membros, o sistema de
posições sociais é prescrito, os critérios para
a distribuição dos papéis é tradicional, as-sim
como o lugar onde tal festa é celebrada.
Marcelo Ribeiro 55
Se a festa é considerada um bem patri-monial,
uma tradição, ela pode ser inventa-da
ou reinventada (Hobsbawn, 1998 e
Arantes, 2002), perdida e novamente en-contrada,
compondo um complexa trama
social de produção assim como são as ino-vações
e novas informações trazidas ao
grupo. Segundo Arantes (2002: 90) “os bens
culurais incluem flexibilidade de sentidos,
características cuja comprensão é funda-mental
para entender o modo como tais
bens participam da política de identidade e
dos jogos do mercado.”
O turismo, como forma de atrair novos
atores sociais para observar, participar e
mesmo interagir em muitos casos pode
romper tal circuito de referencias, fazendo
com que a festa possua outros sentidos co-mo
em casos de artesanato e comidas que
foram mudadas de acordo com os gostos de
uma nova demanda: o turismo e os turistas.
Não se pode ser tão alarmista ou pessi-mista
ao pensar nas mudanças possíveis de
ocorrer sendo catastróficas, e por outro
lado, nem otimista em imaginar que uma
cultura pode se manter intacta e impoluta.
O que ocorre é que a cultura é mutável,
passível de ser transmitida através de tra-dições
reformuladas em função de um con-texto
histórico. Cabe lugar a questionar a
partir do próprio grupo e da auto-reflexão
de saber quais caminhos são possíveis.
O Turismo cultural e as festas populares
não são incompativeis desde que existam
mecanismos de proteção e distanciamento
entre ambas as partes. Na verdade é possí-vel
que sejam criadas sinergias positivas,
uma vez que existam políticas públicas de
preservar, promover, respeitar e proporcio-nar
exercícios de cidadania e participação
dos atores sociais locais envolvidos no pro-cesso.
No caso específico dos Moçambiques se
observou por parte dos elementos do grupo
uma preocupação com a manutenção da
festa, sendo que o período de transição que
o grupo atravessa é acompanhado pelos
membros mais velhos e por membros de
meia-idade que se esforçam em passar o
conhecimento e os valores do grupo e dos
significados dos símbolos que o acompan-ham.
O que também se observou é que o
grupo discute qual caminho seguir, en-quanto
passam seu conhecimento de geraç-ão
a geração, celebrando.
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Recibido: 22 de septiembre de 2003
Aceptado: 1 de diciembre de 2003