o CORSO FRANCES E O COMÉRCIO
ENTRE PORTUGAL E AS CANÁRIAS
NO SÉCULO XVI (1521 - 1537)
ANA M.a PEREIRA FERREIRA
© Del documento, de los autores. Digitalización realizada por ULPGC. Biblioteca universitaria, 2009
Durante o século xv as Canárias representaram para Portugal
a plataforma desejada para o avan~o na costa africana. Protagonizou
o perfil desse interesse geo-estratégico o Infante D. Henrique,
que num primeiro tempo conseguiu a aquiscencia de Eugénio IV.
Mas o papel da Santa Sé, como poder árbrito na recém-criada e por
isso imatura política interestatal esteve sujeito a flutuayoes, foi permeável
as conjunturas, e Castela conseguiu fazer valer os seus direitos
·. Na verdade, se por volta de 1448-1453 a tensao aumentou2, o
prenúncio de ruptura apresentava-se arriscado para os dois soberanos.
Assim a bula «Romanus Pontifex» expedida em 1454, estabeleceu
a partilha que o Tratado de Alcá~ovas irá tao só consagrar: as
Canárias para Castela, as navega~óes africanas a partir do cabo
Bojador para PortugaP. Alicer~ava-se, é certo, para o pequeno país
que éramos, um 'monopólio invejável. Mas amputava-se urna parte
que teria dado outra coerencia ao projecto.
A coerencia das lig'a~óes athinticas transferiu-se, naturalmente,
da esfera da soberania para o ámbito dos particulares. Serao estes
l. A respeito das pretens6es do Infante ti posse das Canárias, que levou ti bula
de 1443-1444, de Eugénio IV, feita ti medida dos desejos do príncipe mas depois
reformulada a favor de Castela, vejam-se, entre outros, Perez Embid, Los descubrimientos
en el Atlántico y la rivalidad Castellano-Portuguesa hasta el Tratado de
Tordevilhas, Sevilha, 1948, pp. 138 a 149 e E. Serra Rafols, Los Portugueses en
Canarias, La Laguna, 1941, pp. 25 e ss.
2, Cf. A. Rumeu de Armas, España en el Africa Atlántica, T.I., Madrid,
1959, p. 96.
3. Ibidem, pp. 97-98 e Silva Marques, Descobrimentos Portugueses Vol. 1,
Lisboa, 1944, pp. 503 e ss.
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80 Ana M.a Pereira Ferreira
que em quinhentos assumirao a dinamica do comércio que foi e é
ainda a dinámica das complementaridades.
Apesar de alguns excelentes estudos já efectuados no que concerne
as relal1óes mercantis entr~~ as Canárias e Portugal4 , o tema
ainda nao atingiu a fase de síntese. As razóes parecem-nos evidentes:
em primeiro lugar, o século XVI é demasiado rico e inovador em
intercambios -olha-se, sem dúvida, com redobrada atenl1ao para os
espal10s que permitam a mais valia económica da Península Ibérica.
Depois, individualizar uma regiao específica exige um longo
caminho- o das pesquizas paralelas que cotejando fontes dispersas
permitam engendrar a tecitura de múltiplos interesses. Esta segunda
razo explica o teor da nossa proposta: facultar os dados que fomos
recolhendo, nao propriamente para a análise do vértice PortugalCanárias,
mas no contexto de um trabalho sobre o incremento do
corso e da pirataria luso-francés na primeira metade da centúria
quinhentista.
Com efeito, as depradal1óes afiguram-se a um tempo como um
mundo aliciante e como um território de hipóteses. Um mundo aliciante
porque sempre a ocasiao fez o ladraos. Ocasiao em sentido
restrito, e eis-nos no campo do roubo fortuito, ocasiao em sentido
lato que intui o conhecimiento das rotas e zonas estratégicas e o aval
do poder. Em ambos os casos surge um universo de perspectivas que
abarcam as áreas da economia" da política da própria mentalidade.
Mas é, também, um território de areias movedil1as, dado que o
furto marítimo representa -mesmo quando tem a desculpa da guerra
ou da carta de marca- uma escassa e intermitente linha. Ainda
que consideremos que a amostragem é suficiente para desenhar a
trama mais simples da realidade comercial, paira a incerteza se o
4. Destacamos. entre outros. os estudos de Margarita Martín Socas e Manuel
Lobo Cabrera, «Emigración y Comercio entre Madeira y Canarias en el siglo XV!».
in Os Ar;ores e o Atlántico (séculos XVI - XVI/). Angra do Heroísmo. 1984. pp. 678
- 700 e de Manuel Lobo Cabrera eM.a Elisa Torres Santana, «Aproximación a las
relaciones entre Canarias y Azores en los siglos XVI e XVII,>, Ibidem. pp. 352375.
5. cr. Michel Mollat du Jordin, «Course et Piraterie a la fin du Moyen Agc:
aspccts économiques et sociaux. Positions de problémes», in HansischeGeschichtb!
titter, vol. 90, 1972 e Ana M.a Pereira F~:rreira,O essencial sobre o Corso e a Pirataria,
Lisboa, 1985, pp. 4-7.
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o corso frances e o comércio entre Portugal e as Canárias... 81
acaso que acompanhava as espolia<;óes, as próprias vicissitudes
sofridas pt}la documenta<;ao, nao nos acabam por fornecer urna imagen
distorcida.
As dúvidas, no entanto, atenuam-se perante a escassez das fontes.
Na verdade, num país que é pobre, para este período, em séries
alfandegárias e em livros notarias6, qualquer tentativa de reconstru<;
ao dos complexos mercantis tem de aproveitar todos os indícios
existentes. Ora os depradadores ao privilegiarem, como parasitários
que eram, o tráfego marítimo, permitiram que um rol de vítimas apelasse
as autoridades, informando quando, como e o que lhes tinha
sido retirado. E neste conjunto de queixas as Canárias surgem, un
pouco surpreendentemente, como um grande polo de atrac<;ao para
os portugueses. Em desasseis anos -entre 1521 e 1537- sao roubados
no caminho que aí deembocava ou que daí partia, setenta e
urna pessoas e vinte e tres navios7•
Estes números inseridos num conjunto que engloba para os
caminhos que ligavam Portugal a todo o mundo conhecido quatrocentos
e treze embarca<;óes apresadas e cerca de novecentas vítimas,
nao parecem ser em termos percentuais -respectivamente 5,5
e 7,9%- dispiciendos8 • Mas a linguagem numérica, se se pretende
o rigor, necessita de ser integrada em quadros comparativos. Na
impossibilidade prática de apresentar a totalidade dos elementos,
supomos que recorrer á Madeira e aos A<;ores, participantes de urna
identica realidade espacial, é optar pelos que melhor servem no papel
de aferidores.
Nesta óptica, os dados disponíveis indicam que nas rotas a<;oreanas
forma apresadas trinta e quatro embarca<;óes e se queixaram
cinquenta e nove vítimas9, enquanto no caso madeirense a factura
6. Os Iivros de notários só aparecem na segunda metade do século XVI. Quanto
aos registos alfandegáricos. conservados no Núcleo Antigo existente na Torre do
Tombo. apresentam lacunas consideráveis.
7. Ver os Quadros 1 e 11 em apéndice.
8. Os dados globais seriio indicados no Trabalho que preparamos sobre os
Problemas Marítimos entre Portugal e a Fram:;a na primeira metade do
século XVI.
9. No que respeita aos A«ores os elementos poderiio ser consultados no artigo
«Notas sobre o Comércio A«oreano no Século XVI (1521-1537»), a publicar.
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atingiu trinta e nove navios e trinta e seis indivíduos1o • Fazendo o
balan~o, nao nos parece que seja for~ar a conjuntura apontar para a
simetria dos módulos, embora a Madeira apare~a em primeiro lugar
no sector dos barcos, aquele que consideramos mais credível em termos
comparativos. Porém, nada é ,compreensível se a aridez da estatística
nao forem adicionados outros contributos.
O principal reside na mecanica do próprío roubo. E o que os
séculos filtraram quanto a uma tao velha profissao é a sua semelhan~
a com as regras do mercado: escolhem-se, se possível, as trajectórias
que veículam os produltos mais valiosos, age-se, de
preferencia, nas encruzilhadas que menos distantes ficam da base de
partida. Deste modo, o relevo que o arquipélago madeirense assume
representa o pre~o da sua fortuna a~ucareira11, pre~o que na lógica
do que foi dito nao onerou as suas águas limítrofes12. Supomos,
assim, que no que respeita as circunstancias que levaram aos apresamentos,
logo as percentagens lllpresentadas, as duas realidades
comparáveis sao os A~ores e as Canárias. Com efeito, apesar das
ilhas castelhanas apresentarem urna maior diversidade de produtos
exportáveis l3 , o que os portugueses levam ou procuram, nao se integra
-como veremos- no contexto das cargas valiosas, tal como
acontecia quanto ao conjunto a~oreanoI4.
Mas essa menor valía nao os distanciou demasiado da Madeira
e correspondeu, em ambos os casos, a uma grande vulnerabilidade
lO. Cf. Ana M.a Pereira Ferreira, «A Madeira, o Comércio e o Corso Francés
na Primeira Metade do Século XVI (1513-1538)>>, comunica<;ao apresentada ao I
Congreso Internacional de História da Madeira, Funchal, 1986.
11. Cf. o gráfico em apéndice.
12. Nas águas madeirenses apenas ternos notícia de cinco roubos. Cf.ob. cit. na
nota lO.
13. Para comprovar este facto basta confrontar as obras indicadas na nota 4 e o
áfico 1 em apéndice.
14. Caleiro do Reino, as cargas oriundas do arquipélago a<;oreano sao constituídas,
na sua grande maioria, por cereais. A este respeito é abundande a bibliografia.
Para além das obras de autores consagrados -caso de Vitorino de Magalhaes
Godinho, A. H. de Oliveira Marques, loel Serrao, M.a Olímpia da Rocha GiIpermitimo-
nos destacar o artígo de Alberto Vieira «O comércio de cereaís dos A<;ores
para a Madeira no século XVII» in Os Aqores e o Atlántico... , pp. 651-676, pela
Iiga9ao que estabelece entre desenvolvimento económico das ilhas atlanticas e o
«dirigismo económico europeu».
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o corso francés e o comércio entre Portugal e as Canárias... 83
dos perímetros costeiros15 • Como se os corsários franceses ignorando
as regras de ouro da sua profissao resolvessem pairar em
zonas distantes e de recursos banais. A perplexidade aumentaria
com a especifica<;ao dos protagonistas: na grande maioria normandos
-a elite na hierarquia corsária- destacando-se a figura de Jean
Ango, visconde de Dieppe, armador célebre e rico que desferiu com
a sua poderosa frota golpes decisivos aos súbditos de D. Joao III e
de Carlos V16
•
Ora, no corso, como em todas as actividades que aspiram ao
lucro, o ilogismo nao entra no esquema dos seus agentes. A explica<;
ao insere-se na especificidade político-económica de quinhentos e
mais propriamente quando os franceses perceberam a vantajem de
discutir -e ousaram faze-Io- o monopólio que os dois reinos
peninsulares tinham talhado em Tordesilhas. A discussao yassou
por duas directrizes: por um lado, o avan<;o pelas costas de Africa e
da Américal7 ; por outro, o cerco aos perímetros insulares que tendo
outrora servido de bases de apoio para o procestnlnsito para os
navios que transportavam as preciosidades americanas, asiáticas
ou africanas.
Este raciocínio e subsequente processo trouxe desvantagens
significativas atranquilidade dos A<;ores e das Canárias. A importancia
estratégica dos A<;ores é bem conhecida: nenhum outro ponto
fixo no oceano se lhe comparava como encruzilhada das múltiplas
15. Cf. Ana M.a Pereira Ferreira, «Os A«ores e o Corso frances na primeira
metade do século XVI: a importancia estratégica do Arquipélago (1521-1537)>> in Os
Aqores e o Atlántico... , pp. 284-285 e pp. 292-294.
16. No que diz respeito aJean Ango e il sua ac«ao corsária contra portugueses e
espanhóis, continua a ser de leitura obrigatória o livro de E. Guénin, Ango et ses pilotes,
Paris, 1901.
17. Entre as numerosas obras que se tem escrito sobre as viagens francesas no
século XVI veja-se, a título de exemplo, Campagne du navire <<1.- 'Espoin> de Honfleur,
1503-1505. Relation authentique du voyage du capitaine de Gouneville is
nouvelles terres des Indes, pub\. por M. D. Avezac, Paris, 1869; Michel Mollat du
Jourdin, «As primeiras rela«óes entre a Fran«a e o Brasil dos Verrazani a Villegaignon
», in Revista de História, n.O 70, vo\. XXXIV, 1967, pp. 343-358; ch.- A. Julien,
Les voyages de Découverte et les Premiers Etablissements (xv"-xvf' siécles), ed.
P.U.F., Paris, 1948; Ana M.a Pereira Ferreira, «Mare Clausum, Mare Liberum.
Dimensóes Doutrinais de um foco de tensóes politicas», in Revista Cultura - História
e Filosojia, vol. I1I, Lisboa, 1984, pp. 315-357.
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rotas que ligavam as costas recém--descoberts a Península Ibérica 18.
Quanto as Canárias, bastará referir o já citado papel que lhe estava
destinado nos projectos henriquinos e o que Marguerita Martín e
Manuel Lobo adiantaram como causas da irnigra<;ao portuguesa
para aí: a situa<;ao privilegiada no caminho para as Indias Ocidentais
e Orientais, a oportunidade que oferecia no comércio com
o Brasil19
•
Percebe-se, deste modo, o apetite franco pelas para gens de
Santa Cruz de Tenerife e de Palma, portos que parecern ser, aliás
como o Funchal, mal defendidos20• Os portugueses, irmanados com
os espanhóis na categoria de presas obrigatórias e favoritas, também
aí nao foram poupados. E compensaria, talvez, o lucro relativo, o
facto de as cargas serem constituídlas, em boa parte, por productos
alimentares. No mínimo permitiam aos depradadores arranjarem os
mantimentos indispensáveis a urna maior autonomia de ac<;a021 •
Mas as causas que levaram aos dramas individuais, as preocupa<;
óes régias, servem apenas para introduzir o cerne do nosso
objectivo: tentar ver quem e porque se interessou em Portugal pelos
caminhos que cruzavam as Canárias.
Nenhum caminho se estabelece sem o atractivo das mercadorias.
Rotas e mercadorias constituiram, através dos tempos, um
binómio indissolúvel. Supomos que a análise do binómio no contexto
luso-canariano é facilitada se através das rnesmas fontes sintetizarmos
o que acontecia com os A<;ores e a Madeira.
Simplificando um pouco, podemos afirmar que a primeira
no<;ao que emerge define a imagem de um motor ou centro -o
Continente- que fornece a periferia -as ilhas- as infraestruturas,
rnateriais e humanas. Depois, come<;am a desenhar-se os contornos
18. Cf. Ana M.a Pereira Ferreira, «Os A90res e o Corso Francés ... », pp. 285286.
19. Ob. cit., p. 679.
20. E significativo que em vinte e trés assaltos conhecidos, trés tenham sido
efectuados no Porto de Tenerife, dois no de Palma e um no do Funchal (cf. Quadro
1). No que respeita ao Funchal, parece também curiosa a carta que a Camara da
Cidade escreve ao rei a 12 de Mar90 de 1528, pedindo-lhe que mande construir urna
fortaleza e corrobrando o apelo com a noticia de que a 11 de Mare;o chegara ai, vindo
das Canárias, um navio de Biscaia e tomara duas caravelas que se encontravam ancoradas
(A.N.T.T. C.C.I, m.O 39, d. 75).
21. Veja-se, p.ex., o Quadro 11 onde a par das mercadorias aparece o roubo
tanto de roupa como de mantimentos.
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e com eles as hierarquias. A perifiria do a9ucar sendo a mais aliciante
alonga os transportes e suscita interesesses importantes. O
trajecto que leva, por exemplo, a Flandres, éa rota do grande mercador22•
A periferia a90reana move-se numa escala diferente.
Embora o reino nao desdenhe o esfor90 de colocar o pastel na Inglaterra,
tinha-Ihe atribuído, em benefício próprio, o papel de unidade
cerealífera23 • As rotas e os intermediários nao podiam, evidentemente,
ser semelhantes24 •
A semelhan9a situa-se em algumas carencias, em parte coincidentes
com a matriz continental. Faltavam os texteis, faltavam as
pequenas manufacturas -as chamadas miúdezas- e matérias primas
que variavam ao sabor das contigencias do ano25 ou das peculiaridades
geográficas. O caminho que levava ao centro faz o natural
retorno. Daí saiem os excedentes produzidos ou as sobras voluntárias-
da importa9ao europeia.
Se nao era de esperar que os parametros que levaram ao interesse
de Portugal pelas Canárias fossem, no seu todo, miméticos do
que acabámos de resumir, fambém seriam improváveis fracturas
profundas: lidamos com periferias próximas dependentes de centros
vizinhos. Mas há urna realidade própria.
Essa realidade come9a a definir-se no que respeita as rotas e a
quem lhes fomece os meios. O Algarve é aqui o núcleo preponde-
22. Cf. Ana M.a Pereira Ferreira, «A Madeira, o Comércio e'o Corso Francés
...» e o gráfico em apéndice,
23. Em 1528, um navio da cidade do Porto transporta pastel para a Inglaterra
(A.N.T.T. e.e. n, m.O 220, d. 56), Quanto ao papel dos A<;:ores no abastecimento
cerealifiro basta recordar o que já foi dito e acrescentar o que A. H, de Oliveira Marques
escreveu: «um celeiro (..,) para o Reino, pra<;:as de Africa, vizinho arquipélago
do Madeira e demais conquistas ultramarinas, que a fertilidade do solo ainda por
cima favorecia». (Introdur;tio aHistón'a da Agricultura em Portugal, Lisboa, 1968,
p. 251.)
24. A compara<;:iio dos dados fomecidos nos trabalhos «Notas sobre o Comércio
A<;:oreano na Primeira Metade do Século XVI (1521-1537») e «A Madeira, o
Comércio e o Corso Francés na Primeira Metade do Século XVI (1513-1538»),
apontam, inequivocamente, para esse facto. Numa aproxima<;:iio mais imediata vejase,
ainda, o gráfico em apéndice, onde os valores dos prejuizos e as rotas em causa
traduzem, em parte, o que é afirmado.
25. Cf. os trabalhos indicados na nota anterior. Quanto as contigéncias sazonais,
lembre-se, por exemplo, a exporta<;:iio de cereal das Canárias para os A<;:ores,
em 1511, devido ao «azote de pestiléncia sofrido por aquel archipiélago» (cf. Manuel
Lobo Cabrera eM.a Elisa Torres Santana,ob. cit. pp. 364-365).
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rante e por dois motivos: porque canaliza, com relevo, para Tavira
74% do movimento -simbolizado nas presas- e porque lhe pertenecem
os trajectos mais diversifkaos, tanto os que o tem como
meta, como aqueles que ligam as Canárias a Cádiz, a Sevilha, a
Madeira, ao Levante ou mesmo as Antilhas26 • A restante percentagem
distribui-se por Zurara, Vila do Conde, Matosinhos, Aveiro e
Setúbal que asseguram intercambios lineares21 • Nao fora isto o que
se passara quanto aos arquipélagos portugueses: além de um maior
equilibrio entre as regióes Norte, Centro e Sul na partilha do tráfego,
representaram os portos do Douro Litoral as pec;as essenciais na
manutenc;ao do movimento com a Europa do Norte28 •
Mas o que melhor individu¡;Uiza as relac;óes com Palma, Tenerife
ou JJomeira, sao os objectivos que servem de base ao binómio
rotas-mercadorias. Com~feito, tirando partido das suas virtualidades
geo-e~vnómicas, os portugueses puderam jogar, em simultaneo,
com as necessidades de vários mercados, o que sempre permitiu
multiplicar os lucro~.
Do Continente levam o que já era habitual nos rumos insulares:
vinho, texteis ingleses e flamengos, pequenos artefactos29 • Nas Ilhas
e porque existem possibilidades de escolha, faz-se a triagem consoante
o ulterior destino: cereais, breu, queijo e mel se se dirigem
para a Madeira; cereais e queijo se voltam para o Reino; queijo e
ac;ucar se optam pelo Levante; breu, queijo e o vinho que preferem
nao descarregar, se pretendem atingir as Antilhas 3U.
Em certo sentido, os interesses lusitanos parecem testemunhar
que as Canárias tinham conseguido fazer a médida entre as potencialidades
dos Ac;ores e da Madeira: potencialidades de mercado
escoador, com mais valia segura para os texteis europeus; potencialidade
de mercado abastecedor em matérias primas deficitárias no
26. Cf. o Quadro I em apéndice.
27. Idem.
28. Cf. os trabalhos indicados na nOlla 24.
29. Cf. o Quadro em apéndice. A título de exemplo repare-se no caso de Nicolau
Pires que levava as seguintes mercadorias para Tenerife: Panos da Irlanda e de
Tenby; pano de Iinho e4e estopa; panos da Covilha; beatilhas; Iinhas; burel; feltro;
mantas; sombreiros; espadas e alforges (in Alfredo Pimenta, Livro dos roubos que os
francesesjizeram aos moradores desta Vila de Guimardes e seu termo, Guimaraes,
1940, pp. 9-10.
30. Cf. o Quadro 11 em apéndice.
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o corso frances e o comércio entre Portugal e as Canárias... 87
conjunto das possessoes portuguesas; potencialidade no campo
da reexporta~ao.
Falta-nos agora saber a origem e a fortuna dos intervenientes.
Como atrás referimos, o conhecimento dos roubos provém das
queixas que os lesados apresentavam as autoridades. Mas o que até
nós chegou sobre as vítimas nao pode ser considerado muito representativo,
já que a maioria das Inquiri~oes -inventários das presas
que em cada povoa~ao do Reino o soberano mandou efectuardesapareceram,
salvando-se, para o estudo em caus, a de Guimaraes,
que cobre o período entre 1508 e 153231 • Assim, grande parte
da documenta~ao existente resume-se a queixa isolada que, se é
suficiente para fornecer a origem e o trajecto do navio, peca por só
nos facultar, em geral, um nome e um prejuízo32 •
Neste contexto, falar dos intervenientes no comércio é pisar um
terreno perigoso -estamos perante urna ínfima amostragem da própria
amostragem-. Com um outro inconveniente: ao adicionarmos
aInquiri~ao, que constitui um todo, os diplomas dispersos, veículamos,
sem dúvida, urna imagem distorcida da realidade.
Resolvemos, portanto, para obviar aos maiores inconvenientes,
isolar os elementos de Guimaraes, remetendo os outros para o papel
de meros complementos.
A cidade vimaranense, embora nao emparceire, no século XVI,
com os grandes burgos, patenteia urna apreciável actividade comercial.
Na verdade, integrada num «hinterland» assaz produtivo e tradicionalmente
virado para os escambos de largo fólego, reúne, em
quinhentos, um grupo de habitantes fazendo da mercancia o seu
modo de vida e com especial preferencia pelos tresarquipélagos que
ternos vindo a mencionar.
31. Publ. por Alfredo Pimenta, ob. cit.
32. Nao é pois de estranhar que pensemos ter localizado cerca de 70% das
deprada9óes no que diz respeito aos navios e menos de 10% quanto a vítimas. A primeira
percentagem baseia-se na carta que D. Joao III escreveu a D. António de
Ataíde, ~mbaixador em Fran9a (John Ford, Letters ofJohn III King of Portugal,
Cambridge - Massachusetts, 1931, p. 8). Nela indica-se que em alguns anos tinham
sido roubados mais de trezentos navios. Se tomarmos este número como referente ao
principio do século a percentagem ultnipassa os 75%. Se o rei se refere, apenas, ao
início do seu reinado esta desce para cerca de 65%. Quanto iI segunda, lembramos
que o Dr. Jorge Nunes afirmou no tribunal de Bayonne serem cerca de dez mil as vitimas
Portuguesas (A.N.T.T., e. e. ).
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88 Ana M.a Pereira Ferreira
Nem todos possuíam, como é evidente, os mesmos meios de
fortuna. E será esta que vai, em boa parte, decidir as escolhas dos
mercados. O comerciante e o fidalgo com posses, parecem terse
especializado no a~ucar madeirense e na rota que levava até a Flandres,
perdendo, em média, 160.000 reais «per capita» 33. Os mercadores
de menores recursos, aos quais se juntam artesaos e
lavradores, escolhem os A~ores e a Madeira em percursos simples
-ida e volta- sem veleiddes intemacionais34 •
Quanto as Canárias, mais urna vez sintetizam as duas op~óes
estabelecendo o meio termo: o caminho interessa ao fidalgo, ao mercador,
a gente de baixa sorteo O protagonista nobre é o cavaleiro
António de Almeida que em 1522, partindo da ilha Gomeira, se preparava
para atingir o Levante. E nao pertence a categoria do fidalgo
arruínado: perde entre investimento, roupa luxuosa, hipotético lucro
cerca de 1.700.000 reais, somo avultada, mesmo descontando o
provável exager03S •
Lote mais diversificado é o que embarca em Vila do Conde
para Tenerife ou Palma. Embora domine o mercador -nove em
quinze vítimas- tentam também a sorte tres sapateiros, um ourives,
um lavrador e um oficial do Cabido. A heterogeneidade apenas
valoriza o significado da rota que consegue, ern valores absolutos,
colocar-se imediatamente a seguir ao percurso Madeira-Flandres
onde o grupo de agentes é mais homogéneo 3Ó
• Nao é, portanto, de
estranhar que individualizados os comerciantes, surjam escalóes de
fortuna variados: o que empata quantias avultadas caso de Nicolau
Pires que também frequentava a rota do a~ucar os de médios e
pequenos recursos, com parametros entre os dezóito e os oitenta mil
reais, ao nível do que acontecia no trajecto a~oreano.
Feito o negócio, supomos que o sector mercantil, aproveitando
a proximidade, seguisse para o Funchal. E nao é a ausencia da via
Canárias - Vila do Conde que cimenta a possibilidade, dado o
33. cr. o gráfico em apéndice e Ana M.a Pereira Ferreira, «A Madeira, o
Comercio e o Corso Francés... ».
34. A título de exemplo veja-se o Quadro III do artigo indicado na nota
anterior.
35. Especificamente, avalia o roubo em 1.683.000 reais, sendo 150.000 relativos
a roupa e as jóias que levava para uso pessoal.
36. Compare-se o Quadro 11 em apéndice com o Quadro III de «A Madeira, o
Comercio e o Corso Francés... ».
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o corso francés e o comércio entre Portugal e as Canán·as... 89
carácter restrito da documenta<;ao utilizada. Mas dois factores: em
primeiro lugar porque os vemos, amiúde, seguir esse caminho;
depois, porque o percurso Continente-Madeira, de fraca expressao,
indicia a preferencia pelo périplo triangular37 •
Preferir nao é sinónimo de poder. Os recursos e os ganhos de
artesaos e lavradores deveriam tomar supérfluo o alongamento da
viagem. Assim, neste percurso, estamos apenas, acompanhados
pelo comerciante médio que perde, números redondos, entre vinte a
sessenta mil reais. Fecha-se, deste modo, o círculo, confirmando a
lógica do dinheiro na escolha da diáspora.
As ela<;óes que o exemplo de Guimaraes nos fomece se rao,
provavelmente, comuns a todas as povoa<;óes que se interessaram
pelas Canarias. Mas os casos isolados valem só por si. Com seguran<;
a apenas podemos adiantar a origem dos mercadores ou
mercadores/donos do navio -Vila do Conde, Matosinhos, Aveiro,
Lisboa, Setúbal, Portimao, Lagos, Faro, Tavira- e o montante de
alguns prejuízos que apontam para um facto importante: a existencia,
além dos pequenos e médios recursos, de intervenientes com
largos cabedais. E nao só nas rotas longas, como a que aponta até as
Antilhas, protagonizada por um mareante de Lagos e um mercador
de Lisboa. Também para Cádiz, também para Setúbal e Faro, as
quantias ultrapassam o que foi patenteado pela Inquiri<;ao
vimaranense38 •
Que concluir? Em primeiro Jugar, que () nosso estudo baseado num
núcleo documental restrito, nao pretendeu -nem podia- abarcar o
conjunto dos intereses, se.quer das roías que, em quinhentos, ligaram
Portugal as Canárias. Mesmo·abstraíndo-nos do contributo indispensável
das fontes espanholas, basta olhar, por exemplo, o registo
alfandegário do Funchal, de 1523, para encontrarmos um outro trajecto
-Madeira-Canárias- poupado, pelos vistos, dos ataques
franceses39 • No entanto, alguns tra<;os gerais parecem emergir dos
37. Nesse percurso o prejuízo, «per cápita», tica-se nos 12 600 reais.
38. Veja-se o Quadro III em apéndice.
39. AN.T.T., Núcleo Antigo, n.O 541.
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90 Ana M.a Pereira Ferreira
fragmentos: a importancia da frota algarvia, a diversidade de provoa~
es interessadas nesse comércio e a ambivalencia da oferta e da
procura entre o arquipélago, o contiinente e as ilhas portuguesas. O
que nos permite voltar ao discurso inicial -no século XVI a coerencia
das liga9óes atlanticas, aqui eXl~mplificada, foi assumida pelos
particulares que na dinamica das c:omplementaridades talharam o
seu caminho.
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QUADRO 1 - Navíos assaltados de e para as Canárías
Tipos de
mercadorias Local de N.o e origem
Data Origem Rota roubadas assaIto dos assaltantes Cotas
Agosto 1521 Tavira Canárias coiro; queijo; mel; Porto do 1-Franceses Inquiri9ao de Guimaraes
(Palma)/ cera; roupa Funchal nj.
1522 Tavira Tavira/ enxárceas; ancoras; Porto de 7-Normandos AN.T.T. Gavetas XV,
Canárias amarras; pipas Tenerife (Ango) m.o 24, n.O 3, d. 8
(Tenerife) vazias
Junho 1522 Tavira Tavira/ vinho; óleo; o navio Porto de Santa 7-Normandos Ibidem
Canárias (incendiado) Cruz de (Ango e
(Tenerife) Tenerife Jacques de
Civille)
Junho 1522 Tavira Tavira/ cereais; roupa; carta Porto de Santa 7-Normandos Ibidem
Canárias de navega9ao; o Cruz de (Ango)
(Tenerife) navio (lan9ado a Tenerife
costa)
Outubro/ Portimao Canárias (lIha a9ucar; queijo; Entre I-Normandos Inquiri9ao de Guimaraes;
1522 Gomeira)/ vestuário de luxo; o Lan9arote e (Rouen) AN.T.T. CC.I m.O50, d. 51
Cádiz/Levante navio Forte Ventura
1523 Matosinhos Canárias queijo; breu; mel IIha da I-Franceses AN.T.T. e.e.m m.o 8
(Palma/ Madeira, C. nj. idem, e.e. 11 m.o 220, d. 13
Madeira) de Cunara de
Lobos
Julho 1523 Matosinhos -/Canárias vinho;roupa C. das 5-Franceses Ibidem
Canárias n.Í.
Mar90 1524 Portimao (?) Sevilha/ retrós em tio; Entre -Normandos AN.T.T. Gavetas XV,
Canárias roupas; Gibraltar e (Ango) m.O 24, n.O 3, d. 8
mantimentos Cádiz
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Tipos de
mercadorias Local de N.o e origem
Data Origem Rota roubadas assalto dos assaltantes Cotas
Maio 1524 Vila do Vila do Panos; burel; Canárias 2-Normandos Inquiri9ao de Guimaraes;
Conde Conde/ leteiro; beatilhas; (entre Tenerife (Ango) A.N.T.T. Gavetas XV,
Canárias roupa e Palma) m.O 24, n.O 3, d. 9
(Tenerife e
e Palma)
Junho 1524 Tavira Cádiz/ vinho; o navio Entre Cádiz e l-Normandos A.N.T.T. C.C. 11, m.O 219,
Canárias Tavira (Ango) d. 64; idem, Gavetas XV,
m.O 24, n.O 3, d. 6
Abril 1525 Zurara Vila do panos de Irlanda; C. das l-Normandos Inquiri9ao de Guimaraes;
Conde/ linho; estopa; Berlengas (Ango) A.N.T.T. Gavetas XV,
Canárias espadas; m.O 24, n.O 3, d. 9 idem
(Tenerife) especiarias; e.e. 11, m.O 219, d. 94
dinheiro; etc.
Maio 1526 Tavira Canáriasl apetrechos de Entre S. Luca ~Normandos A.I'-·l.T.T. G-avetüs XV,
Cádiz navio; roupa; e Cádiz (Ango) m.O 24, n.O 3, d. 8
mantimentos
Julho 1527 A1garve Canárias trigo; queijo; C. das l-Franceses Inquiri9ao de Guimaraes
(Castro (Tenerife)/ dinheiro; roupa Canárias nj.
Marim?) Madeira
1530 Tavira Canárias/ batel; ancoras; Areias Gordas 2-Franceses A.N.T.T. e.e. 11 m.O 219,-
Tavira (?) dinheiro; roupa; nj. d.69
a9ucar*,
Julho 1536 Aveiro Canárias cevada; queijo; 100 léguas do l-Normandos A.N.T.T. Gavetas XX,
(Palma)/ mel; dinheiro; o Cabo da Roca m.O 5, d. 13
Aveiro navio
Abril 1537 Lagos Canárias vinho; preu; queijo; Porto de 2-Bretóes A.N.T.T. e.C. 11, m.O 220
(Palma)/ dinheiro; (S. Maló) d. 36 e 50; ibidem, m.O 228
Antilhas mantimentos; navio d. 117; ibidem, m.O 221,
d. 175
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Tipos de
mercadorias Local de N.o e origem
Data Origem Rota roubadas assalto dos assaltantes Cotas
Anterior Tavira Canárias (I1ha trigo; dinheiro; - l-Normandos A.N.T.T. e.e. 11 m.O 219,
a 1538 Gomeira)/ roupa (Rouen) d.64
Madeira
Anterior Tavira Canárias/ cevada C. da Madeira l-Normandos Ibidem, d. 71
a 1538 Madeira (Dieppe)
Anterior Setúbal Canárias/ cevda; panos; C. de Sines -Bretóes Ibidem, d. 48
a 1538 Setúbal dinheiro (S. Maló)
Anterior Tavira Tavira/ apetrechos do navio Porto de -Franceses AN.T.T. Cartas Missivas,
a 1538 Canárias Palma nj. m.O 1, d. 305
Anterior Faro Canárias breu; queijo; - l-Bretóes AN.T.T. Gavetas XV,
a 1538 (Tenerife)/ ar;:úcar; roupa (Croisic) m.O 15, d. 3
Faro
Anterior Faro Castela/ panos de luxo; C. de Tavira 2-Franceses Ibidem
a 1538 ·Canárias dinheiro; o navio nj.
Anterior Faro Cádiz/ - Entre Cádiz e l-Normandos AN.T.T., e.C. 11, m.O 225
a 1538 Canárias Tavira d. II
• O a~ucar pertenecia a castelhanos.
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QUADRO 11 - Vítimas dos Roubos
N.o de Principais mercadorias
Cota Data Nome da vitima Localidade Prot1ssio Rota roubadas Valor em dinheiro
1521 Afonso Dias Tavira Mestre/Dono do navio Canárias/
Madeira
2 .. Joao Afonso Guimaraes Mercador " Peles; queijo; mel 60000 rs
Castelhano
3 .. Gont¡:alo Dias Madeira
4 .. Luís Femandes
5 .. Gont¡:alo Días Guimaraes
6 .. Gont¡:alo Femandes Vila do Conde Mercador
7 1522 Joao Anes Tavira Mestre/Dono do navio Taviral
Canárias
8 .. Diogo Femandes " Condómino do navio
Palmela
9 .. Gomes i~unes " " " o naVlO 375 ducados
lO .. Afonso Vasques
II .. Vasco Martins
12 .. " " Mestre/Dono do navio " aparelhos do navio 20 ducados
13 .. Rodrigo Álvaro Portímao " Canárias/Cádiz at¡:ucar; o navio 150000 rs
14 .. António de Almeida Guimaraes Fidalgo " at¡:ucar; vestuário; etc. I 638 000 rs
15 .. Lant¡:arote Álvares Portimao Marinheiro
16 .. Joao Roino
17 .. Marcos Domingues
18 .. Joao Rodrigues
19 1523 Pedro Anes Matosinhos Mestre/Dono do navio Canárias/ queijo; breu; mel 30000 rs
Madeira
20 1523 Pedro Anes Matosinhos Mestre/Dono do navio Canárias vinho; roupa 35 000 rs
21 1524 Vicente Femandes Portimao " Sevilha/
Canárias
22 .. Pedro Frutuoso " - " retrós; roupa 15 ducados
23 .. Pantiliao Alvares Vila do Conde Mestre/Dono do navio Vila do Conde
Landino Canárias
24 .. Joao Alvares
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N.o de Princlpals mereadorias
Cota Data Nome da vítlma Localidade ProOssiio Rota rouhadas Valor em dlnhelró
25 .. Afonso Dias Zurara
26 .. Pantalilio Brás
27 .. António Femandes Guirnarlies Mercador " panos; ferramentas 125 000 rs
28 .. Fernando Dias " " " panos 312 ducados
29 .. 1080 Gomes Tavira' MestrelDono do navio Cádiz/Canárias vinho; o navio 400 ducados
30 1525 Rento Lús Zurara· " Vila do Conde
Canárias
31 .. Nicolau Pires Guimar8es Mercador " panos; espadas; etc. 129 000 rs
32 .. Manuel Vaz " Ourives " especiarias; espadas 38 000 rs
33 .. 1080 Femandes " Mercador " panos; espadas; etc. 57 300 rs
34 .. Francisco Anes .. " " panos; vestuário; etc. 80 500 rs
35 .. 10lio Afonso " " " panos; vestuário; etc. 70 700 rs
36 .. António Afonso " " "
37 .. 10lio Afonso " Prebendeiro do Cabido " panos 85 000 rs
38 .. Marco Pires " Mercador " panos; espadas; etc. 75 000 rs
39 1525 Estevlio Luís Guimar8es - Vila do Conde panos; espadas; etc. 70000 rs
/Canárias
40 .. 1080 Afonso " Mercador " panos; etc. 29 000 rs
Castelhano
41 " <;1on9a1o Afonso " Lavrador " a sua roupa 3 000 rs
42 " Alvaro Gon9alves " Sapateiro " a sua roupa 3 000 rs
43 " Francisco Rodrigues " " " cal9ado; panos 20000 rs
44 " Sebastilio Pires " " " panos; couros 16 000 rs
45 " Garcia de Araújo Vila do Conde
46 " Pedro de Araújo
47 " 10lio Pires
48 1526 Francisco Luís Tavira Mestre/Dono do navio Canárias/Cádiz apetrechos do navio; 120 ducados
etc.
49 1527 Mem Rodrigues Castro Marim " Canárias/
Madeira
50 " 1080 Femandes Guimarlies Mercador " trigo; queijo; etc. 45 000 rs
51 " Gon9alo Rodrigues " " " dinheiro 20000 rs
52 " Gon9alo Vieira " Escudeiro " dinheio 20000 rs
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N.o de Principais mercadorias
Cota Data Nome da vitima Localidade Profissao Rota roubadas Valor em dinheiro
53 " Bartolomeu de Matos ,. Mercador " trigo; dinheiro; etc. 65 000 rs
54 " Fernando Afonso
54 " Fernando Afonso
55 " Baltazar Pires
56 " Joao de Palácios Castro Marim
57 1530 Joao de Olive'ira Tavira Mestre/Dono do navio Canárias/ apetrechos do navio 120 cruzados
Tavira (?)
58 1536 António Gon~alves Aveiro " Canárias/ cevada; queíjo; mel;
Aveiro o navio
59 1536 Joao Pires da Preta Aveiro Condómino do navio Canárias/ cevada; queijo; mel;
Aveiro
60 1537 Martim Fernandes Lagos Mestre/Dono do navio Canárias/ queijo; vinho; pez; 3 200 ducados
Antilhas o navio; etc.
61 " Joao Luis Lisboa Mercador "
62 A. 1538 Rodrigo Afonso Tavira Mestre/Dono do navio Canárias/ trigo; dinheiro 160 cruzados
Madeira
63 " Vicente Días O Beirao Lagos Mestre do navio
64 " Miguel de Maia Tavira Mercador " cevada 25 cruzados
65 " Afonso Gomes Setúbal Mestre/Dono do navio Canárias/
Setúbal
66 " Joao Manuel
,.
Mercador " cevada; panos; etc. 342 500 rs
67 " Joao Dias Tavira Dono do navio Tavira/ apetrechos do navio
Canarias
68 " Joao Nunes Faro' Mestre/Dono do navío Canárias/Faro queijo; breu; a~ucar 600 cruzados
69 " Cristóvao Rodrigues " " Castela/ panos; navio; etc. 200 cruzados
Canárias
70 " Cristóvao Rodrigues " Mestre do navio Cádiz/Canárias
71 " Joao Gomes Tavira Dono do navio (?) " vetuário; frete; etc. 400 ducados
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28 - A.N.T.T. Gavetas XV, m.O 24, n.O 3, d. 11.
29 -Idem, e.e. 11, m.O219, d. 64; Gavetas XV, m.O 24, n.O 3,
o corso frances e o comércio entre Portugal e as Canárias... 97
QUADRO 11 - Correspondencia de cotas
N.O 1 a 6 Inquiri9iio de Guimariies (Alfredo Pimenta,
ob. cit., pp. 32-33).
N.o 7 a 12 - A.N.T.T. Gavetas XV, m.O 24, n.O 3, d. 8.
N.o 13 -Idem. C.e. 1, m.O 50, d. 51.
N.o 14 a 18 - Inquiri9iio de Guimariies (Alfredo Pimenta,ob. cit., pp. 24-
25.
N.O 19 - A.N.T.T. C.C. 111, m.O 8, d. 59.
N.o 20 -Ibidem, d. 57.
N.o 21 e 22 -Idem. avetas XV, m.O 24, n.O 3, d. 8.
N.O 23 a 27 - Inquiri9Ro de Guimaraes (Alfredo Pimenta,ob. cit., pp. 16-17 e
30-31 ).
N.o
N.o
d.6.
N.o 30 a 47 - Inquiri9iio de Guimariies (Alfredo Pimenta,ob. cit., pp. 9-10; 1416;
18-19; 25-30; 33-35; 37).
N.o 48 - A.N.T.T. Gavetas XV, m.O 24, n.O 3, d. 8.
N.o 49 a 56 - Inquiri9iio de Guimariies (Alfredo Pimenta,ob. cit., pp. 15-16; 35-
36; 51-52; 59-60).
N.o 57 - A.N.T.T. C.C. 11, m.O 219, d. 69.
N.o 59 e 59 - Idem. Gavetas XX, m.O 5, d. 13.
N.o 60 e 61 -Idem. C.C. 11, m.o 228, d. 117; Ibídem, m.O 220, d. 36 e
50.
N.o 62 -Ibídem. m.O 219, d. 64.
N.o 63 e 64 -Ibídem, d. 71.
N.o 65 e 66 - Ibldem, d. 48.
N.O 67 -Idem. Cartas Missivas, m.O 1, n.O 305.
N.o 68 e 69 - Idem. Gavetas XV, m.O 15, d. 3.
N.o 70 e 71 -Idem, C.C. 11, m.O 225, d. 11.
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. , Flandres -----"---------r,--------------------------
"1 ' 'l Continente·libas dos Ao;o<es
Continente-Cami.rias
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Continente-eanárias
Continente (Vila do Conde)-lIha da Madeira
Continente-lIha da Madeira
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AlfOres-COntinente
Canárias-l1ha da Madeira
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