AS RELAGOES MERCANTIS ENTRE O FUNCHAL
E AS CANARIAS NA SEGUNDA METADE
DO SÉCULO XVIii, NUMA PANORAMICA NOTARIAL
MADEIRENSE
O espólio dos registos notariais madeirenses, apesar de poste-rior
ao existente nas Canárias, constitui um dos mais ricos.núcleos
documentais para o estudo da História local e também para as suas
relaqoes co'm o exterior. Os mais recuados que chegaram aos nossos
dias sao os instrumentos lavrados, em 1553, pelo notário Luis Alva-res
Riscado, da freguesia da Ribeira Brava, mas o seu expoente
máximo foi Joao de Tavira, nos finais do século XVi, caracterizado
pela sua caligrafía. Os registos notariais do século XVII continuam a
ser escassos porque a maior parte perdeu-se. No entanto, a docu-mentaqao
do século xviii, é abundante revelando-se fundamental
para uma panorhica muito aproximada do quotidiano madeirense.
Apesar de terem desaparecido vários livros desta época, cerca de
duas centenas deles, fazem parte da documentaqao do Arquivo
Regional da Madeira destacando-se em primeiro lugar, os notarios
do Funchal, logo seguidos dos do concelho de S. Vicente e da ilha
do Porto Santo.
O objectivo deste trabalho é uma reconstituicao das relaqóes
inter-insulares baseada nos registos notariais que por si só esclare-cem
vários problemas com grande pormenor, constituindo no fundo
o segredo de muitos negócios ou as relaqoes familiares nessa época.
Hoje, postos ao dispor do público, muitos problemas esclarecem-se
e o aprofundarnento da sua leitura mostra-nos situaqóes das mais
simples a outras inconcebiveis, nos mais variados aspectos de um
quotidiano da sociedade madeirense.
Um traba!he met&!ire neste ncc!eo, uix!u peiire ccfihecids
entre os utentes do A.R.M., foi a tareta que me ocupou no último
700 Joüo Adriano Ribeiro
ano. As conclusoes advindas desse trabalho apresentam muitas
novidades, conforme os capitulos que se pretendam abordar, num
carácter científíco da Historia. O comercio, essa troca entre as pes-soas,
considerado outrora pecaminoso, é um factor continuo nestes
documentos. O seu desenrolar acarreta dissabores para uns e apaná-gio
para outros. Outras questoes familiares revelam os problemas de
uma sociedade em modificaqáo. Numa multiplicidade de situaqóes,
as pessoas recorriam aos tabeliiies para autenticarem no papel,
aquilo que as palavras poderiam nao confirmar.
Uma tradiqao manteve mais ou menos viva as relaqoes entre
Madeira e Canárias. De facto, muitos portugueses participaram na
conquista espanhola das ilhas e, por outro lado, a administraqao
portuguesa esteve, como sabemos sob o dominio de Espanha
durante sessenta anos, desde 1580 a 1640. A partir dai, o comércio
fez-se com maior ou menor vigor consoante o tempo de paz ou de
guerra. Nas permutas comerciais travavam-se conhecimentos que,
por vezes, terminavam em casamentos. Em várias ocasióes, fugiti-vos
a justiqa passaram-se as ilhas Canárias. Um registo de óbito de
freguesia de S. Vicente refere que Vicente Gomes Brazao, falecera
em Lanzarotel. Uma diversidade no relacionamento entre os dois
arquipélagos depara-se-nos nas procuraqóes, como poderemos
observar no quadro abaixo, montado a partir de uma recolha efec-tuada
nos citados registos.
O reverendo Manuel da Costa Espinosa, constituiu em 1776,
na ilha de Forteventura procurador a Carlos da Costa Espinosa,
para cobrar patrimonio que tem na capela da igreja de Nossa Sen-hora
da Conceiqáo nessa Ilha2. Em 1784, o mesmo reverendo con-cede
a sua sobrinha, Madalena Espinosa Martel, viúva, estante no
Funchal, o usufruto que tem nessa Ilha3. António Rodrigues da
Silua coíisfiUiU p-jzUrfiaa i&!ha jrde LaEzzrGtee rest~qtes
ilhas Canarias a António de Corvelos, para receber o que tem
direito como neto do morgado que administrou Adriao Cabra14. Em
1794, D. Maria Joaquina de Brito Betencourt, nomeia seus procura-dores
na ilha de Lanzarote a D. José Luis Betencourt Ayela e Brito,
capitao de granadeiros do regimento das milicias, vizinho do lugar
de Vergaia, em segundo iugar ao cadete E. Luis Bttieiicoüit Ayela e
As relaqóes mercantis entre o Funchal e as Canarias na segunda ... 701
em terceiro lugar a D. Pedro Betencourt Ayela do lugar de Coteira-tas
para haverem a seu poder as legítimas que lhes competem de
seus pais5.
Outros assuntos sáo tratados nestas procuraqóes. A lei pomba-lina
que proibe a transacqiio de escravos das possessóes ultramari-nas
para a metropole, de modo a incentivar a colonizaqiio do Brasil,
leva muitos proprietários dos mesmos a usarem da astúcia, para
continuarem beneficiando com a escravatura. No ano de 1782, Lou-renqo
José Baiiio da ordens a seu irmiio Manuel José da Cruz, para
em Forteventura fazer cobranqa de pessoa que é obrigada ao pro-duto
de uma escrava6. Em 1789, o capitao Antonio Teixeira Vas-concelos,
da poderes a seu sobrinho, Domingos Martins e D.
Antonio Faria Barreto, na ilha de Tenerife para cobrar o salário de
dois escravos que iam para Cabo Verde7.
Algumas procuraqóes sao gerais nao especificando o asunto.
Neste caso esta uma de Gaspar Marcial, franqes, a Pedro Jose Rus-se1
& Ca. para a ilha de Tenerife e Canarias, em 17538. No ano de
1788, sucedeu uma outra de Francisco Jose Coelho Machado a
Joao Pedro de Sousa Drumond para Tenerife9. Manuel Jesus de
Oliveira constitui procuradores a sociedade D. Diogo Falcon Sar-mento
& Machany, na ilha de Tenerife, em 1789, que nos faz ante-ver
objectivos comerciaislO. Joao de Freitas em 1779, fez seus
procuradores a Domingos Teles de Menezes e Francisco Brum Lois
nas ilhas de Tenerife e Lanzarote".
Mas, em parte, era o comercio que orientava esta concessáo de
poderes para comandar os negocios a distancia. Vender os produtos,
por vezes era mais fácil do que arrecadar o produto da sua venda.
Nao ha dúvida que uma boa cobranqa sempre foi o bom sucesso
comercial. Por vezes um atraso nos pagamentos tinha como conse-quencia
imediata evitar que outros negócios vantajosos se concreti-zassem.
Com o objectivo de arrecadar receita de carregaqáo, de seu
filho Joao Pereira Souvaire, defunto, D. Eduarda Joana Betencourt
Camara da poderes a 'Joáo Teles Menezes para efectuar essa
cobranqa12. Com uma perspectiva semelhante, a firma Pedro Jorge
Monteiro & Filho, constitui em 1784, na ilha de Tenerife, como pro-curador
a Casabony & Ca., frances, para ajustar contas amigaveis
ou judiciais com Carlos Romey, de nacionalidade inglesa13. Urna
procuracáo e passada novamente a D. Francisco de Lugo y Vina,
nesse mo com e r?irsrric cV;rcti.d4. 0 mesme censtikinte, em
1788, encarrega Francisco Cavaleiro Sarmento e Manuel José
702 Joüo Adriano Ribeiro
Alvares Pereira, em Tenerife, para receberem o que lhes pertence da
extinta sociedadels. Em 1786, o ajudante Bertoldo Francisco
Gomes, constitui seu procurador, em Tenerife, a José Joaquim
Pimentel, para por ele poder cobrar da máo de Joao Teles Menezes,
78 pesos correntes em Canárias que este recebeu, por ordem de D.
José de Puga, produto de uma vela que ele constituinte havia dei-xado
para vender ao dito D. José e na falta de pagamento recorrer a
justiqalk Tres meses depois, é passada nova procuraqáo a D. José
de Puga com o mesmo objectivo17.
José Pringle, da ordens a Carlos Romey, em 1790, também
ingles, para lhe cobrar dívida a Joao Lazering, de nacionalidade
francesa, morador nas Canarias1" Tomé José Pereira Araújo e
Guilherme Allen, em 1795, constituem seus procuradores ao
mesmo Carlos Romey, em Tenerife, para ajustar contas com D.
Domingos Maloney e D. António Faria Barreto, comercianteslg. No
ano de 1796, o morgado Cristovao Esmeraldo, da os poderes neces-sarios
a Francisco Paula da Silva, capitáo náutico, para na ilha de
Tenerife ou restantes ilhas Canarias, cobrar dívida a Sarmento
Silva, Wardolou & Ca.*O.
Inúmeras procuraqóes eram lavradas por cidadáos de Canárias
para tratar de assuntos na ilha da Madeira. Uma pesquisa efectuada
nos registos notariais das ilhas Canárias daria um estudo mais pre-ciso
das relaqoes inter-insulares. Nesta perspectiva, António Miguel
Ramires, das ilhas Canarias, capitao do bergantim ((Santa Bar-bara
», constitui seu procurador na Madeira e em Lisboa, ao mor-gado
Pedro José de Ornelas Valdevesso Magalhiies, nao espe-cificando
o assunto a tratar21. Por um substabelecimento de pro-curaqáo,
datado de 1797, verificamos que o dr. D. Joáo Pedro Gar-cia,
residente em Santa Cruz de Tenerife, constituira procurador na
Madeira a Joao Pontes Brandáo e este ultimo substabelecia procu-rador
em Lisboa para o dito constituiente ao dr. José Marques Men-d
o n ~ a ~Su~ce. s sivamente um outro documento esclarece que o
mesmo Joáo Pontes Brandao substabelecia para o mesmo consti-tuinte
procuradores na Madeira; aos doutores António de Sousa
Cunha d'Utra Stocher e Joao Pedro Freitas Pereira Dr~rnond~~.
Procurac;oes para Canlárias
Data Constituinte Procurador
175 3 Gaspar Marcial, francés Pedro José Russel & C."
17 76 Manuel Corte Espinosa Martel, rev .O Cados da Costa Espinosa
1779 D. Joaquina Rosa de Canha e filha Co'nstantino Cabra1 Noronha Teixeira
(seiu marido)
1782 Lourenqo José Baiiio Manuel José da Cruz (seu irmiio)
1783 D. Eduarda Joana Betencourt Camara Jo(5o Teles Menezes
1784 Pedro Jorge Monteiro & Filho
1784 Manuel Costa Espinosa Martel, rev.O
1784 Francisco Coelho Machado
1784 Pedro Jorge Monteiro & Filho
1786 Bertoldo Francisco Gomes
1787 Bertoldo Francisco Gomes
Ca~saboney & C .a (franés)
Magdalena Spinosa Martel (viúva,
sobrinha de Forteventura, estante
na Madeira)
Jozio Pedro Sousa Drumond
D. Francisco de Lngo y Viña
José Joaquim Pimentel
D. José de Puga
Localidade
Tenerife e Canarias
Fuerteventura
Lanzarote
Lanzarote
Lanzarote
Tenerife
Fuerteventura
Tenerife
Tenerife
Tenerife
Tenerife
Data Constituinte Procurador Localidade
1788 Pedro Jorge Monteiro & Filho Francisco Cavaleiro Sarmento
Manuel José Alvares Pereira Tenerife
1788 Antonio Roiz da Silva Antonio Corvelos Lanzarote e Canarias
1789 Manuel Jesus Oliveira ID. Diogo Falcon Sarento & Machaney Tenerife
1789 Antonio Teixeira Vasconcelos, capitáo ID. Martins (sobirinho)
ID. Antonio Faria Barreto Tenerife
1790 José Pringle (ingles) Carlos Romey Canarias
1794 D. María Joaquina Brito Bettencourt ID. José Luis Bettencourt e Brito
ID. Caetano Luís Bettencourt Ayala
ID. Pedro Bettencourt Ayala e Brito Lanzarote
1795 Tomé José Pereira Araújo
Guilherme Allen Carlos Romey Tenerife
1796 Cristóváo Esmeraldo, morgado Francisco de Paula da Silva Tenerife e Canarias
(capitáo náutico:)
1799 José Freitas Dr. Teles Menezes, Francisco Brum b i s Tenerife e Lanzarote
As relacóes mercantis entre o Funchal e as Canarias na segunda ... 705
OS FRETAMENTOS
As ilhas Canárias estáo situadas no percurso das relaqoes da
Madeira com Cabo Verde e outras partes do mundo. Com o destino
das ilhas cabo verdianas, muitas embarcaqoes deixavam mercado-rias
nas ilhas Canárias, para em algumas vezes irem carregar milho
ou sal ao dito arquipélago. Os contratos de fretamentos dao-nos uma
ideia clara desse tráfego e os meandros de um comercio activo. No
ano de 1789, o capitáo e propietário Agostinho José da Silva, de
escuna portuguesa Nossa Senhora Madre de Deus e S. José, dá de
fretarnento a sua embarcaqao ao capitáo Joao Ambrósio de Sousa,
do Funchal com as seguintes condiqoes: Seguir viagem para as ilhas
de Lanzarote e Tenerife. Daí partiria para o arquipélago de Cabo
Verde sem estipulaqáo de preqo ou tempo. O primeiro receberia a
bordo da dita embarcaqáo, debaixo da coberta enxuta e bem acondi-cionada,
toda a carga que constar de uma factura, assinada por
ambos para se vender nas citadas ilhas Canarias. Na falta da sua
venda nessas ilhas, continuaria com a dita carga para Cabo Verde e
entregaria na ilha do Fogo as pessoas que ele nomear, e receberia a
carga de milho que estiver pronta, pertecente ao fretador. Dai se
passaria a ilha de Maio e carregaria sal, que em caso de demora
pagaria 4.800 réis por dia. O fretador pagaria o milho chegado a ilha
da Madeira a 4.000 réis cada moio e o sal a 6.500 réis cada
m ~ i o ~ ~ .
Ma outros fretamentos sáo lavrados em documentos para faze-rem
o percurso entre a Madeira e Canarias conforme podemos
observar pelo quadro abaixo. Em 1788, um contrato entre Domin-gos
Teles Menezes e Francisco Paula Vasconcelos, de Lisboa, sen-hor
do bergantim Nossa Senhora da Conceicao, estipula que este
deveria seguir para Lanzarote onde carregaria e descarregaria noutro
destino, dez dias depois, pelo preqo de 180.000 reis. Por cada dia
além do tempo combinado, pagaria 6.400 r é i ~O~u~tro. fretamento
nn A;tn f*ntorlnr .A IovrnAn nn nnn An 17Qn nnm Dn-..n P-nrnnli Aa av UlLV IIYCLIUVI, Y lU.lUUV IIV QLlV u- 1 1 uw, W L 1 1 Lwyub U4L&A,O u=
Araújo, proprietário da escuna portuguesa Santo António e Boa
Viagem, que era capitáo Teotónio Francisco. A viagem da escuna
destinava-se a Santa Cruz de Tenerife, pelo preqo de 300.000 réis
com a condiqalo de permanecer 30 dias nos dois portos. Por cada dia
que ultrapassasse esse tempo, pagaria 5.200 r é i ~ *N~o. a no seguinte,
T - = - T 1- C7:1..- >- T : - l . - - :>-..L. l7 IL-1 A-.. L--L- ~ u a uL N U I ~ I ~u~aO m iva, ue Lisooa, resiuenie no r uncnai, conir aia-se
corn o capitáo da galeraNobre Ana, Abraharn Sehiott, vizinho de
706 Joáo Adriano Ribeiro
Bergen na Noruega, para seguir viagem corn destino a Tenerife,
porto em que ele fretador fazia todos os gastos de entrada e saida
corn 120 pipas de vinho e seguir dai em direitura a Santo Eustácio,
pelo preqo de 500 libras esterlinas pagas a bordo da mesma embar-caqáo2'.
Em 1782, da-se um fretarnento, para levar a Tenerife pri-sioneiros
de guerra, que adiante referirei no capitulo a guerra.
Manuel de Jesus Oliveira, capitiio do iate Divino Espírito
Santo e Nossa Senhora da Alegria, que é proprietario o Frances,
Joáo Batista Dubuisson, contrata-se como fretador, no ano de 1783,
para seguir por sua conta e risco para ilha de Gran Canária, pelo
preqo de 300.000 réis pagos quando tivesse descarregado metade de
carga nessa Ilha. Combinaram o tempo de oito dias para carregar no m
D
Funchal e dez dias para descarregar na dita Ilha, além de que o fre-tante
ponha a bordo a equipagem, azei'te, lenha, venagre, sal e agua O
necesária. O fretador nao poderia meter nenhum passageiro a -n- 0, bordo, sem licenqa do proprietário da emba r~aqáo~A~ .e scuna O
E
S. Rafael que é embandeirada em espanhol, de que e proprietário José SE
Jacinto Vila-Vicencio é fretada pelo capitiio de navios do Funchal, -E
Joaquim José Vieira, pelo tempo de seis meses que S ~ dOe ida e volta
a Gran Canária por 300.000 réis, pagando 210.000 réis na 3
Madeira e os restantes 90.000 réis no destino, em dinheiro portu-
- -
0
m
gues no tempo de dais meses29. O proprietário desta embarcaqáo E
havia casado na dita ilha de Gran Canária com D. Maria do Carmo O
Mendonqa, conforme poderemos observar por uma licenqa conce- :
dida, para o efeito de esponsais, por seu pai, o engenheiro das obras -E
reais na Maeira, Joáo António Vila-Vicencio, datada de 178630. a
2
Destes contactos surgem alguns esclarecimentos acerca do tra- n
fego inter-insular. Em primeiro lugar as ilhas Canarias serviam de n
escala as embarcacoes madeirenses com varios destinos, como é O3
exemplo Cabo Verde ou ainda Santo Eustácio. Neste segundo caso,
wmo em muitos outros, tomou-se muito usual na segunda metade do
século XViii, vender vinho pelo mundo fora, falsificando o local da
sua origem. No Funchal esta prática era comum. Entrando corn o
vinho de outras regioes, apesar das proibiqde~, segiiid5iiie;;te
faziam-no sair como vinho da Madeira, corn boa aceitaqfio no mer-cado
internacional. Todas estas entradas e saídas de vinho nestas
ilhas, sugerem uma maneira muito astuciosa de fazer contrabando.
Voltando aos fretamentos, verificamos que uma grande parte
efectuava-se para fazer um comercio mais ou menos regular entre as
ilhas. Alguns madeirenses capitaes nauticos como Manuei jesus
Data Tipo Origem Proprieiário
1778 Bergantim Lisboa Francisco Paula
Vasconcelos
1780 Escuna
1781 Galera Bergen,
Noruega
1782 Bergantim
1783 Iate
1787 Escuna
1789 Escuna
Roque Garces
Araujo
Joao Baptista
Dubuisson
José Jacinto Vila
Vicencio
Agostinho José
Silva
Capitáo Fretador Destino Prepo
Dr. Teles Menezes Lanzarote 180.000 rs.
Teotonio Francisco Dr. Teles Menezes Tenerife 300.000 rs.
Abraliam Schott José Lourenco Tenerife 500 libras
Sillva e St. Eustácio esterlinas
Bernardo José, da D.. José del Rio, Tenerife 250 pesos
ilha de Santa dnsul geral de fortes
Mariai Espanha
Maiuel Jesus Gran Canaria 300.000 rs.
Oliveira
Joaquim José Joaquim José Gran Canaria 300.000 rs.
Vieira. Vieira
Agostinho José Capitao Agostinho Lanzarote Percentagem
Silva Ambrosio Silva Tenerife na carga
Cabo Verde
708 Jodo Adriano Ribeiro
Oliveira ou Joaquim José Vieira, devido aos contactos comerciais
que tinham na ilha de Gran Canaria, preferiam serem eles os pró-prios
fretadores e por consequencia os condutores das embarcaqóes.
Mas nem sempre estas viagens erarn bem sucedidas. Em 1768, o
bergantim Bom Suceso, fabricado em Alabana, propriedade do dr.
Juliáo Fernandes Silva; encalhou na ilha de Palma. O seu proprietá-rio
vendeu-o, nas condiqóes em que e encontrava, a EstevSio Ignacio
Bottino y Echeverria, vizinho da cidade de La Laguna pelo prep de
3.500 pesos comentes nas ilhas Canárias31. Em 1786, Tomé Joiio
de Castro, natural da Madeira e residente em Corques na Irlanda, vende
um iate denominado Nossa Senhora da Agonia a Joao Ambrósio de
Sousa, também do Funchal que tinha vindo por arribado das ilhas
Canárias, silo de quilha e costado com seus apetrechos por 1.300.000
r é i ~ ~ ~ .
Os contactos entre os dois arquipélagos seguiam os objectivos =E
mais diversificados neste conjunto de registos notariais: as procura- =
qóes e fretamentos queja foram abordados e, além destes, as ven- -
das, os arrendamentos, obrigaqóes de dívida, contratos, papéis -
0m
lanqados em nota de tabeliáo, etc. Na circunstancia de venda, em E
1781, D. Maria Doble e seus filhos, naturais de Garachico, ilha de O
Tenerife, facilitam o pagamento o Joáo Crisóstomo da Costa Silva, n
mercador no Funchal, duas propriedades de raíz: uma de vinhas e -E
baldia onde chamam a Caldeira, freguesia de Camara de Lobos, a
2
avaliada em 72 1.250 réis e outro terreno nas Quebradas, freguesia n
0 de S. Martinho por 125.000 réis". O dr, Joao Pedro Garcia e mul-her,
residentes em Santa Cruz de Tenerife, através do seu procura- 3
O
dor na Madeira, Joáo Pontes Brandáo, vendem a Francisco Vieira,
uma morada de casas de duas sobradadas e loja na rua de Joao de
Tavira, no Funchal, por 1 .O64.OOO réis. Dessa quantia consignan
parte para pagar a testamentaria de D. Guiomar Vilena'J.
Um arrendamento datado de i 783, estabeiece contrato entre
D. Antonio Estanislau de Monte Verde morador na vila de Orotava
em Tenerife, aos herdeiros do casal do reverendo vigário dr. Antó-nio
Pereira Borges, de uma fazenda de vinhas e árvores de fruto
situada na freguesia de Santo António, na ilha da Madeira. pelo
preqo de 125.000 réis que dava 1.500 reales em dinheiro
espanhol" .
As relaqies rnercantis entre o Funchal e as Canarias na segunda ... 709
As obrigaqoes de divida estáo tarnbem patentes nestes docu-mentos.
Num papel lanqado em nota por Gaspar Marcial, de naqao
francesa, em 1753, deparamo-nos corn uma dívida de Joseph de
Herrea, natural de Santa Cruz de Tenerife, da quantia de 2.721 rea-les
de prata, que inclui tudo o que o primeiro supriu a D. Filipe
Nere36. Jeau Learing, de naq5o francesa, estando de partida para as
ilhas Canarias, estabelece contracto de obrigaqáo de dívida corn
José Pringle na quantia de 382.650 réis procedido de dinheiro que
tem recebido para seu trato e de sua casa. Obrigava-se a pagar a dita
quantia nas ditas ilhas a Diogo Bany e Carlos Romey3'.
O comércio entre os arquipélagos era constituido por uma
variedade de géneros. Um papel lancado em nota de tabeliáo,
datado de 1765, por um capitáo náutico, declara ter levado de Joao
Crisóstomo Faria para vender pelo maior preqo em Santa Cruz de
Tenerife: 5 barris de vaca, 6 caixoes de velas, um caixao de copos, 2
barris de manteiga, 2 pecas de riscado corn 112 covados e um cai-xao
de a q ~ c a r ~O~ut.ra s razoes cimentavam as relaqoes inter-insulares.
Em 1787, e lavrada uma escritura de obrigaqáo e
sociedade entre: primeiro outorgante Francisco e os segundos
Manuel Fernandes Teles de Gouveia e Antonio José, todos mestres
de sapateiro. Os segundos achavam-se ajustados para irem na com-panhia
do primeiro para as ilhas Canárias e assentarem tenda de ofí-cio
de sapateiro, trabalhando na sua companhia e dele se nao
separarem enquanto este lhes der cabedal, salvo caso este lhes
fizesse má ~ompanhia~~.
A GUERRA
Em 1778, abriu-se a guerra entre a Franca e a Inglaterra. Por-tugal
devido aos esforqos diplomáticos de Luis Pinto Sousa manteve
a posiqao neutral4'. Nestes conflitos europeus, a Espanha ocupava
sempre urna posic8o ao lado da Franca contra a Inglaterra.
A Inglaterra nesta época, já operava no mercado madeirense
corn grande eficiencia. Possuía uma feitoria corn tres directores e um
tesoureiro, um consulado ingles opulento, que amparavam uma
quantidade de mercadores britbicos que controlavam de certa
forma a economia madeirense, conquistando o mercado corn a intro-
&;q&j de trip, tecid=s =U =~t:=s p=&t=u, entre e!ps u!,ufis & !sxe
e superfulos, comprando o vinho Madeira que distribuiam por todo
710 Joüo Adriano Ribeiro
o mundo. Arbitrando os preqos, introduzindo costumes, controlando
o comércio, a Madeira era para os ingleses uma base de todas as
suas operaqóes mesmo relacionadas corn a guerra.
No ano de 1782, o consul deputado e agente de Sua Magestade
Católica na Madeira, Jose Pereira Passos, em consequencia da gue-rra,
teve de fretar o bergantim portugues Nossa Senhora da Concei-cüo,
Santo António e Almas a Manuel de Araújo Freitas Gui-maráes
para levar prisioneros de guerra espanhóis do Funchal
. para Cadis, pela quantia de 1.300.000 réis que eran 1.625 pesos
em moeda espanhola. Foram feitos prisioneiros em 7 de Janeiro, na
fragata espanhola denominada a Purissima Conceiqao comandada
pelo capitao D. Sebastiao Guerra, 45 leguas a Sudoeste de Cadis m
quando se dirigia para Montevideu e Buenos Aires. O seu aprisio- D
namento foi efectuado pela fragata de guerra inglesa, nomeada Hor-net
de Bristol na Irlanda dirigida pelo capitao Joáo Kimper. Dando O - porto no Funchal a 13 de Janeiro, tomou conta da tripulaqao e pas-
-
m
O
sageiros, o representante espanhol, da máo do consulado ingles Car- E
los Muray, para os suprir, manter e proteger corn todo o preciso 2
E
corn obrigaqáo de manda-los para Espanha o mais breve possivel
-
para evitar grandes despesas, aproveitando para o efeito embarca- =
qao neutra4'. - -
0
Este representante consular refere em nota de tabeliáo em 8 de m
Fevereiro seguinte um total de 90 espanhóis aprisionados sendo 7 O
deles efectuados em Dezembro anterior, na balandra Santíssima
Trindade do capitao D. Jose de Aranda, na altura do Cabo de S. -
-E
Vicente que vinha de Havana para o porto de Cadis, com carga de a
aqúcar. Uma lista pormenorizada da conta dos prisioneiros de gue- -2-
rra bem como dos gastos que se efectuaram com o seu sustento, con- -
forme as ordens do consul geral de Espanha em Portugal, D. José 3
del R ~ o ~ ~ . O
Um outro, aprisionamento é efectuado a 6 de Setembro
seguinte, 40 leguas para Su1 da Madeira, da perca do capitao D.
Francisco Maneiro, por uma fragata inglesa. De novo o represen-tmte
ronsu!ur de Yspmh~é ~hrigrrdoI fretar 0 hargantim portupmies
denominado Espirito Santo e Almas de que era capitao Bernardo
José, para laniar os prisioneiros em Santa Cruz de Tenerife. O
preqo acordado foi de 200.000 réis correspondente a 250 pesos for-tes,
concorrendo corn o biscoito e bacalhau necessário para a ~ i a g e m ~ ~ .
Nos finais do século XVIII, tinha-se consciencia em Lisboa
o T ~ ~de ;~ L~ ~~ia~in~!sa E ~ac,yan,1lni,., rnhao~ lnlv on a braps d8 F~w.$u.
As relaqfes mercantis entre o Funchal e as Canarias na segunda ... 71 1
A politica espanhola de D. Manuel Godoy iria colocar Portugal
numa posiqáo difícil para defender a sua independencia, uma vez
que tinha participado na Campanha do Rossilháo contra a Franca.
Navios portugueses eram aprisionados em Espanha, o mesmo acon-tecendo
aos barcos espanhóis nas costas do Minho e A l g a r ~ e ~ ~ .
Numa escritura, Thomas de Carry, britanico estante na Madeira,
declara que em 10 de Julho de 1797, sendo capitao do corsario
Gibraltar, de Gibraltar que tomou da presa espanhola Virgem da
Graca a favor do capitáo Valerio António Seixas Barreto, natural da
Madeira, cerca de 200 moios de trigo, que lhe consignara para admi-nistrar,
reger, governar e arrecadar o seu produto para se pagar de
toda a despesa. Este carregamento foi enviado para a ilha de Tene-rife
a bordo do bergantim Peggi despachado por Carlos Alder,
ingles, num fretamento que fez por 500 libras esterlinas. O referido
nistrar, reger, governar e arecadar o seu produto para se pagar de
toda a despesa. Este carregamento foi despachado por Carlos Alder,
ingles, num fretamento que fez por 500 libras sterlinas. O referido
capitáo ingles, voltando a Madeira um ano depois do aprisiona-mento,
data em que fez a declaraqáo, para arrecadar o dinheiro da
venda do trigo, veio a encontrar um letígio entre o mencionado capi-táo
Valerio Barreto e Carlos Alder que injustamente se negava a
pagar o produto da dita carregaqio 45.
Náo ha dúvida que a forma como os ingleses operavam na
Madeira, com a aprovaqáo das autoridades locais ou sem ela, colo-cou
Portugal em varias ocasióes através dos tempos em situaqoes
delicadas nas suas relaqóes com as naqóes europeias, apesar da sua
neutralidade. Tomando a Madeira como uma base das suas opera-qóes,
a Inglaterra sempre astuta soube manter a sua supremacia
nos mares.
AS ILHAS SELVAGENS
O manuscrito de Valentim Fernandes, datado de 1506, des-creve
estas ilhas como despovoadas, havendo nelas algumas cabras
bravas, muitas aves de mar e desprovidas de agua. Acrescenta ainda
que nelas havia também, muita urzela, que e uma erva que nasce
entre os rochedos com que tingem panos vermelhos e valia muito na
Inglaterra e Flandres, sendo estipulado, pela licenca da sua apanha,
o pagamento de um quinto ao infante D. Henriq~e~~.
712 Joüo Adriano Ribeiro
A urzela nasce naturalmente, sem cultura nem amanho, nos
pincaros e rochedos da beira mar de muitas ilhas atlanticas e mesmo
mediterranicas. Teve um grande préstimo para a tinturaria porque o
lichen que produz a mais viva cor purpura. Seme nao só a tinturaria,
mas tarnbém para a pintura, para dar cdr aos mármores, vinhos, lico-res,
pastilhas, papéis, etc.
O seu comercio tornou-se crescente no século XViii, passando a
ser conhecida nas possessóes ultramarinas portuguesas, sobretudo
a partir de 1730. Um comerciante de Tenerife trouxera para Lisboa
500 quintais, numa viagem que efectuara a ilha Brava do arquipé-lago
de Cabo Verde. A recolha da urzela prosperou de tal forma
que, em 1820, rendia ao tesouro de Portugal 80 contos de
réis4'.
As ilhas Selvagens, apesar da sua proximidade das ilhas Caná-rias,
pertencem a Portugal, sendo seu proprietário ate 1717, o
cónego da Sé do Funchal, Manuel Henrique Teixeira, que as deixou
em terqa a sua ~ o b r i n h a ~E~m. 1768, o capitáo Brás Cabral
Noronha, possuía esta ilha como bens de vínculo. Nessa data este
faz arrendamento das mesmas por tempo de 3 anos, ao já referido
Joáo Teles Menezes, pelo preqo de 60.000 réis em cada ano49. Era
propriedade do capitiio Constantino Cabral de Noronha Teixeira,
em 1779, pela referencia que faz numa petiqáo, pretendendo que
fosse nomeado um representante para assinar procuraqáo por sua
filha, para arrendar as ditas ilhas novamente em CanariasS0.
Por morte deste as ilhas ficaram sem administraqáo, sendo os
habitantes das Canárias, especialmente de Lanzarote que furtiva-mente
dispunham das ilhas e consequentemente a recolha de quanto
elas produziam: urzela e especialmente as cagarras que eram vendi-das
secas, salgadas ou frescas, aproveitando-se ainda os ovos para
sabáo ou a penugem para almofadas.
Bertoldo Francisco Gomes Menezes, era senhorio de um bote-quim
no caminho da Pontinha que vai para a Penha de Franca, que
pela sua proximidade do porto do Funchal, mantinha um contacto
--c..-:+- "-..:-.l.e.:-..-.. - -n a #.n.;t;ian A"" amhnrnnnñaci rrnrmnna
GJLI GILU bu111 UJ ~ ~ ~ ~ I I I ~ I GGI bI aVpJI L a v a uao wuual bayvbo , p d ulauu-cendo
atentos aos negócios lucrativos que se lhe poderiam oferecer.
Este viajante apostava sobretudo, nos arrendamentos de proprieda-des
para administrá-las5'.
No ano de 1794, em virtude das dificuldades monetárias, a
viuva, D. Teodósia Joaquina Canha, resolveu arrendar ao dito Ber-roído
rvíenezes as irhas um periodo de 6 quañiia de
As reIaq6es mercantis entre o Funchal e as Canarias na segunda ... 713
20.000 réis cada ano. Esta redugáo no valor do arrendamento deve-se
ao facto da ilha se encontrar deprezada. O contrato estabelecia
uma condigáo, que no ano em que o arrendatário levasse embarca-qáo
para recolher urzela lhe pagasse mais 10.000 réis5*. Experimen-tando
este negócio durante dois anos, verificou náo ser lucrativo,
porque organizando uma embarcaqáo corn trabalhadores para col-herem
a urzela, quando 1á chegavam encontravam-na apanhada.
Resolvera o dito arrendatário no ano de 1796, arrendar os quatro
anos que lhe restavam para terminar o contrato a D. José Few de
Armas, da ilha de Lanzarote por 75.000 réis cada ano. O negócio
que náo se mostrara lucrativo nos dois primeiros anos, mostrou-se
próspero corn este contrato que lhe permitiu meter ao bolso 220.000
réis, dando a entender o arrendador no documento que as arrendaria
por mais 5 anos, confiante na forma como manobrava a ~ i ú v aE~m~ .
1798 a mesma D. Teodósia, lavra-lhe novo arrendamento, pela
mesma quantia pelo preqo de 9 anos contados a partir do ano de
1800, e esclarece que este já a favoreceu corn vários adiantamentos
em dinheiro de que tivera necessidade para vestir, tratar e sustentar
a sua filha54. Arrendadas ou náo, estas ilhas pagavam dízimo a El-
Rei. J o b Nunes, em 1786, afirma ter arrematado na sala da Real
Junta a renda das ilhas Desertas, Bugio e Selvagens, e que corn as
primeiras constituia sub-arrendatario a Bertoldo Francisco Gomes55.
Múltiplos factores favoreceram as relaqóes Madeira-Canarias.
O Tratado de Utrecht, em 171 3, iria abrir o mercado da Madeira,
controlado na sua maioria pelos mercadores britinicos, a uma livre
concorrihcia corn mercadores de outros países. O trigo vindo de
Canárias em determinados anos, fez descer o preqo desse produto
no Funchal. Para equilibrar a balanga de pagamentos, outros produ-tos
eram levados da Madeira, n50 scí O vinhq mas tmhém es teri-dos
importados, na medida que muitos comerciantes mantinham o
negócio de grossistas. O vinho da Madeira era considerado no mer-cado
internacional corn qualidade superior ao de Canárias. Na
segunda metade do século XvIIi, apesar da proibiqáo das posturas,
por várias vezes entraram corn vinhos exteriores na Madeira, espe-cidmente
de Cankias. A ~ M c i da ~mser cadixes iíigkses f a z i a a
comprar vinho mais barato nestas últimas ilhas, faze-lo entrar no
714 Joüo Adriano Ribeiro
porto do Funchal e passados tempos reexportá-lo como se fosse
vinho Madeira.
As guerras europeias náo alteraram significativamente o
comércio entre os dois arquipélagos, na medida em que este se
baseava nas necessidades de ambos. Colocar uma necessidade
constante para resolver os problemas pendentes dos espanhóis na
ilha da Madeira; Em 1767, Domingos Barreto, natural de Telde,
Gran-Canária, exercendo interinamente o cargo de consul de na@o
espanhola em virtude do falecimento de D. Luís Agostinho de Cas-tilo,
afirma que dirige e patrociona com todo o amor e zelo o seu
cargo na Madeira. Acrescenta ainda que chegam a esta ilha tanto
ern razáo do comércio, como abrigados por tempestades e de outos
incidentes ocasionados pela guerra com a Franca e Inglaterra,pois
vindo a esta nha aprisionados pelos franceses, uns espanhóis que
vinham em navio castelhano e os ditos franceses acomulando4he
circunstdncia com que protestaram a sua tomadia os deiteram no
porto desta cidade. O dito Domingos Barreto afirma que a sua custa
os mandou transportar para Cádis.'Afirma também que no actual
momento vindo prisioneiros outros vassalos de Sua Magestade
Católica que foram tomados pelos ingleses em razáo do rompi-mento
da guerra que proximamente se fez entre a Espanha e Ingla-terra,
a todos tem atendido e patrocinado sendo certo que tanto
estes prisioneiros como aos outros seria muito mais sensivel a infe-licidade
de se verem nesta terra pobres roubados e desconhecidos
se nela náo achassem consul que os arnpara~se~~.
Em realidade pelo menos seis barcos espanhóis forarn captura-dos
e trazidos para a Madeira. Este facto deve-se a que a Inglaterra
sempre dispusesse desta Ilha, tanto em tempo de paz para efectuar o
seu comércio como em tempo de guerra como base para apoiar a sua
frota. Portugal apesar da sua neutralidade em certos conflitos euro-peus
pagava bem caro as restantes naqdes europeias pelo facto de
amparar os súbditos ingleses.
No entanto as relaqóes entre os dois arquipélagos nunca se alte-
:=U si@f ratii~%er?trp, q c e os mercz&rel & Cznk& p x ~ ~ . i i am
compreender ser um facto consumado a opulencia dos ingleses na
Madeira com os quais n 50 podiam deixar de traficar. Por várias oca-si6es
os ingleses hostilizararn os franceses de forma que estes últi-mos
foram preferindo as ilhas Canárias para a sua fixac5o.
Contact.o s sob os mais variados aspectos foram travados entre , - , . . os dais aiqiiipdag~sí,i ao so f~mi ! i~GeÜs come:c:a:s c ~ mt3m kkm
As relaq5es rnercantis entre o Funchaf e as Canarias na segunda ... 715
judiciais. Na Madeira uma forma de fugir a justiqa local era evadir-se
para Canárias pela proximidade que ficavam estas ilhas. Na
documentaqiio madeirense encontramos dispersas referencias a
vários habitantes que deslocaram para esse arquipélago sem men-cionarem
o motivo. Um exemplo vem referido no testamento de maio
comum de Salvador Gonqalves e mulher, da freguesia de S. Vicente,
no ano de 1768;que um enteado do primeiro por nome Manuel se
encontra ausente em Canarias, a quem deixam 5.800 réis5'.
NOTAS
1. A.RM. (Arquivo Regional da Madeira), Registos Paroquiais, n. 590,
E 61v.
2. A.RM., Registos Notariais, n. 1.004, f. 6.
3. Idem, n. 1.024, f. 44.
4. Idem, n. 2.034, f. 12v.
5. Idem, n. 2.222, f. 1 15v.
6. Idem, n. 1.016, f. 63.
7. Idem, n. 2.045, f. 43v.
8. Idem, n. 1.981, f. 144.
9. Idem, n. 1.024, f. 49.
10. Idem, n. 1 .O43, f. 40v.
11. Idem,n. 2.035,f. 31.
12. Idem, n. 1.019, f. 48.
13. Idem, n. 1.022, f. 63.
14. Idem, n. 1.024, f. 65.
15. Idem, n. 1.040, f. 70.
16. Idem, n. 2.246, f. 298.
17. Ibídem, f. 332.
18. Idem, n. 1.046, f. 81v.
19. Idem, n. 1.061, f. 51.
20. Idem, n. 2.225, f. 62v.
21. Ibídem, f. 56.
22. Idem, n. 1.068, f. 56.
23. Idem, n. 1.069, f. 7v.
24. Idem, n. 1.043, f. 50.
25. Idem, n. 1.008, f. 102v.
26. Idem, n. 1.01 1, f. 2.
27. Idem, n. 1.012, f. 63.
28. Idem, n. 1.019, f. 1.
29. Idem, n. 1.037, f 79:
30. Idem, n. 1.031, f. 44.
716 Joúo Adriano Ribeiro
31. Idem, n. 2.238, f. 130.
32. Idem, n. 1.031, f. 16v.
33. Idem, n. 1.012, f. 80.
34. Idem, n. 1.054, f. 93v.
35. Idem, n. 1.020, f. 79v.
36. Idem,'n. 1.981, f. 145.
37. Idem, n. 1.022, f. 72v.
38. Idem, n. 2.236, f. 53.
39. Idem, n. 2.033, f. 11.
40.. SERRANO, J. Veríssimo; Hist. de Portugal, vol. VI, pág. 304.
A.RM., Registos Notariais, n. 1.014, f. 89.
Idem, n. 1.015, f. 8v.
Idem, n. 1.016, f. 84v.
SERRAO, J. Verissimo; Hist. de Portugal, vol. VI, pág. 322.
A.R.M., Registos Notariais, n. 1.077, f. 10v.
O manuscrito Valentim Fernandes; rev. de A. Baiao, Lx. 1.940.
Archivo Pittoresco, vol. 111, pág. 28, 1860.
A.R.M., Arquivo Governo Civil, n. 984, f. 82.
A.RM., Registos Notariais, n. 2.238, f. 184v.
Idem, n. 2.035, f. 32.
Idem, n. 2.225, f. 104v.
Idem, n. 1.219, f. 122v.
Idem, n. 1.066, f. 55.
Idem, n. 2.071, f. 47.
Idem, n. 2.246, f. 265v.
Idem, n. 2.237, f. 83v.
A.R.M., Juizo dos Residuos e Capelas, cx. 227.