A ESPANHA REPUBLICANA E O BRASIL.
ESTUDO SOBRE A EMIGRACAO ESPANHOLA
PENINSULAR E DAS ILHAS CANARIAS
PARA O ESTADO DE sAo PAULO. 1931-1936
MANOEL LELO BELLOTTO
© Del documento, de los autores. Digitalización realizada por ULPGC. Biblioteca universitaria, 2009
«Escreverá a própria história do Brasil, quem escrever a história
da emigrayiio desse país.»
Eduardo Prado (1889).
A produ9iio de estudos sobre a emigrayiio espanhola para a
América tem sido incrementada nos anos recentes, em decorrencia
do interesse intrínseco do tema, da sistemática realiza<;ao de Congressos
internacionais, como os Colóquios e Simpósios sobre as
rela9Óes canário-americanas, promovidos por institui9Óes governamentais
e culturais das lihas Canarias, e, finalmente, como resultado
da proximidade das comemora<;oes referentes ao 5.0
Centenário da integra<;ao da América a civiliza<;ao ocidental, por
obra e a<;ao da Espanha.
Trabalhos como os de J. Hernández García, D. Ramos Pérez,
N. Sánchez-Albornoz, J. Nadal, Fe. Iglesias, B. Sánchez-Alonso,
A. Vázquez, H. A. Silva e P. Tornero Tinajero, entre outros, referenciados
na Bibliografia sumária deste estudo, discorrem, com
competencía, sobre a emigra<;ao espanhola para o continente americano,
sobre legisla<;ao e políticas emigratórias, sobre marcos conjunturais
da emigra<;ao, sobre países fornecedores, conceituando a
dimensao teórica do processo e dando-Ihe o indispensável
suporte quantitativo.
Em relal;:ao aemigra<;ao espanhola para o Brasil, seja particularizada
ou nao a regiao emissora, como Canárias, Andaluzia ou
Galícia, por exemplo, ou a receptora, como o Estado de Sao Paulo,
recentes estudos tem permitido delinear com dgor o perfil do processo
migratório e suas facetas sociais, económicas e demográficas,
e da análise das conjunturas. Cabe mencionar, neste conte?,to, os
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trabalhos de E. E. González Martínez, H. S. Klein e os de autoria
de quem subscreve o presente estudo, igualmente referenciados ao
seu final, na Bibliografia sumária. Men'1ao especial deve ser feita,
por fun, amonografia de T. Isenburg, sobre as fontes para o exame
da imigra'1ao em Sao Paulo.
o estudo que ora se desenvolve tem por objetivos fundamentais,
de um lado, verificar a atua'1ao e o desempenho da emigra'1ao
espanhola para o Estado de Sao Paulo no período correspondente a
Espanha Republicana, isto é, do ano de 1931 ao de 1936, e, de
outro lado, fixar número, procedencia e outros dados dos imigrantes
espanhóis, com destaque para a imigra'1ao canária, entrados neste
Estado, no referido período. Cumpre esclarecer que praticamente a
totalidade dos imigrantes entrados em Sao Paulo, na década de
1930, o faziam por via marítima e pelo porto de Santos, se for considerada
a inexistencia do transporte aéreo para tal fim e a carencia e
absoluta precariedade da rede rodoviária.
O est~do restringe-se a Sao Paulo, pelas du-as razoes seguintes:
1) a importancia social, política, económica e cultural deste
Estado, que lhe outorgava entao, como lhe outorga ainda hoje, ostatus
de Estado proeminente na Federa'1ao brasileira;
2) pelas dificuldades em desenvolver um projeto de pesquisa
desta natureza, de cunho mais ambicioso e abr,angente, em um país
como o Brasil, cuja dimensao geográfica confere-Ihe o caráter
de continente.
Para o levantamento dos dados que informam a presente comunica'
1ao, servimo-nos da documenta'1ao existente no Arquivo da
Hospedaria dos Imigrantes, que integra, juntamente com o Museu, o
Centro Histórico do Imigrante, subordinado aSecretaria de Estado
da Promo'1ao Social, localizado na Cidade de Sao Paulo.
Das quatro grandes séries agrupadas na Se'1ao Imigra'1ao, quais
-sejam, os Livros de Registro de lmigrantes, as Fichas de Encaminha-mento
do Imigrante a Emprego ou de sua colocac;ao, os Memo-·
rtals de Lote e as Listas de Bordo e Listas de Desembarque,
valemo-nos desta última para a fase da pe~qllisa documental.
Foram consultadas, grosso modo, 8.050 Listas de Bordo,
número que corresponde ao de navios entrados no porto de Santos,
procedentes do Exterior ou de outros portos brasileiros, no p~j(}do
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A Espanha republicana e o Brasil. Estudo sobre a emigrac;do... 773
compreendido entre os dias 1.0 dejaneiro de 1931 e 31 de dezembro
de 1936.
Estas listas caracterizam-se por conterem, com detalhes, informa~
es sobre o navio, como designa9ao, tonelagem, bandeira e propriedade,
nomes do capitao e do médico, tripula9ao, o número total
de passageiros e sua discrimina9ao classe a classe, e, de cada passageiro,
nome, idade, estado civil, profissao, sexo, religiao, instru9ao,
porto de embarque e residencia declarada.
A década de 1930 assistiu, em meio a brutal recessao económica
decorrente da crise do capitalismo nos anos de 1929 a 1933,
ao desencadeamento do processo que lan9ava mundos em rota de
colisao e ao devastador confronto político e ideológico que marcou
de forma sombria e indelével o período.
A conjuntura internacional distinguiu-se, também, por tensoes
sociais e militares. A invasao da Mandchúria pelo Japao ocorria em
1931. No ano seguinte, na Península Ibérica, refor9ava-se o corporativismo
nas vizinhan9as da Espanha, com a designa9ao de Oliveira
Salazar para o cargo de primeiro-ministro em Portugal.
O ano de 1933 foi decisivo para os rumos que a década hav,ria
de tomar. Na Alemanha esboroava-se a República de Weimar e
ocorria a ascensao de Hitler ao poder. Na América, o presidente
Roosevelt consagrava a política do New Deal, com o objetivo de
arrancar os Estados Unidos do fosso da depressao a que fora lan9ado
em 1929. Na China, em 1934, Mao Tse Tung encetava a
Longa Marcha. Nesse mesmo ano, na Europa, a recusa da proposta
de anexa9ao da Áustria aAlemanha, resultou na morte do primeiroministro
austríaco. Em 1935, as primeiras leis discriminatórias dos
judeus eram promulgadas pelo Tribunal de Nuremberg. Nesse
mesmo ano, Mussolini determinava a invasao da Etiópia. Finalmente,
em 1936, Roma, Tóquio e Berlim decidiam constituir o
Eixo; nesse ínterim, Hitler ordenava a ocupa9ao da Renania. E no
leste europeu ocorriam aqueles que seriam os primeiros expurgos
stalinistas.
Na Espanha, a década de 1930 caracterizou-se, também, pela
fermenta9ao de crises -institucionais, políticas, ideológicas,
sociais, económicas- que assolavam o restante do mundo. As elei~
es municipais de 1931 redundaram na forma<;ao de urna maioria
de representantes republicanos e soCialistas. O desdobramento institucional
acabou por consagrar, em um país tradicionalmente monárquico,
o estabelecimento da 2.a República, em abril de 1931, por
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a<;ao de Alcalá Zamora, e a promulga<;ao de urna Constitui<;ao repu··
blicana, de perfil liberal-socialista, em dezembro desse mesmo
ano. Em 1933, José Antonio Primo de Rivera, tendo buscado possível
inspira<;ao na Milícia de Mussolini, idealiza e cria a Falange
Espanhola. As elei<;óes de 1936 consagraram os socialistas, que
unidos a sindicalistas, anarquistas, republicanos e comunistas, constituem
a Frente Popular. A oposi<;ao ao governo republicano estava
mesclada pela uniao de monarquistas, representantes do alto clero,
oficiais militares identificados com a direita e organiza<;óes antirepublicanas.
Neste conturbado e complexo quadro institucional, o
assassinato de Calvo Sotelo, que exercia a lideran<;a da fac<;ao
monarquista, deu o protexto para que irrompesse, emjulho de 1936,
no Marrocos e na Península, o movimento revolucionário, que tinha
nos Generais Franco, Mola e Queipo de JLlano seus chefes. Em
outubro de 1936, o General Franco era guindado a condi<;ao de
Chefe do Estado Espanhol.
A América Latina também viu-se envolvida na atmosfera sombria
e pessimista que caracterizou o início da década de 1930, tendo
sido visceralmente afetada pela crise económica e seus graves desdobramentos
no campo político e social. A demanda externa dos
produtos primários, que era o carro-chefe da economia latinoamericana
e o principal item da pauta de exporta<;ao, sobre forte
recessao, a par de urna degrada<;ao dos pre9Qs no mercado externo.
Nao há, assim, a possibilidade de se formar lastro monetário e, consequentemente,
o aumento de liquidez, que ensejaria o enfrentamento
da dívida externa, contraída para subsidiar o crescimento
operado em décadas anteriores. Os investimentos retraem-se para
um patamar ao rés-do-chao. O abastecimento interno sucumbe. Os
créditos inexistem. O desemprego, as agita<;óes sociais e a fome sao
o corolário desta situa<;ao.
A regiao platina nao destoou deste quadro. Os anos 30 na
Argentina receberam o epíteto de «a década infame». A a<;ao dos
.governos conservadores nesta década, que ascenderam ao poder em
1930, desartkulando o radicalismo por for<;a de um golpe militar,
foi a responsável pela cunhagem da expressao. Pretendiam os detentores
do poder promover a recupera<;ao económica da Argentina por
meios políticos tortuosos, que acabaram por criar profundo ceticismo
na sociedade. As fraudes eleitorais no período, comuns e
eivadas de violencia, visavam evitar a volta do radicalismo adire<;ao
do país. No campo económico, o pacto Roca-Runciman, de +933,
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A Espanha republicana e o Brasil. Estudo sobre a emigraqdo... 775
submetia O comércio exterior da carne argentina ao alvitre britanico.
E possível que esta situa'1ao de crise social, de desarranjo económico,
de desalento e frustra'1ao populares, explique e nos permita
entender o grande fluxo emigratório de espanhóis que viviam na
Argentina, para o Brasil, nos anos 30, como mostram os quadros
apensos a este trabalho.
E possível entender o Uruguai da década de 1930, ressalvadas
as suas especificidades pol!ticas, sob o prisma da análise económica
e social acima formulada. E de se destacar o golpe institucionalliderado
pelo presidente Gabriel Terra, em 1933, com o apoio das grandes
companhias petrolíferas internacionais, o que dá a dimensao da
dependencia do capital externo, aexemplo da Argentina, ayao que
contou ainda COnl o respaldo da rica burguesia rural e industrial do
país, em detrimento das camadas populares. O conservadorismo
político, a reduyao de salários, o favoritismo da «nomenclatura», a
oposiyao de um operariado organizado e a violenta repressao, foram
as marcas visíveis do país, nos anos 30.
O Brasil, por sua vez, conhecera a desarticulayao total do setor
cafeeiro -produyao e comercializayao-, pedra angular da sua economia
exterior, resultado da crise de 1929-33. A Revoluyao de
1930, liderada por Getúlio Vargas, sepultou a República Velha,
inaugurada em 1889 com a queda do Império. Estabeleceu-se, entao,
um governo discricionário, minado por confrontos e conflitos políticos
e institucionais, como a Revolu'1ao de 1932, desencadeada em
Sao Paulo, até a reconstitucionalizcao do País, em 1934. Tal situa'
1ao haveria de perdurar, com desencontros, embates, colis6es e perplexidades,
até novembro de 1937, quando se estabelece o ditatorial
Estado Novo.
A pesquisa levada a efeito no Arquivo da Hospedaria dos Imigrantes
teve por resultado o levantamento de dados que, após a sua
ordenayao, tabulayao e análise, foram dispostos nos Quadros A a F,
que ilustram e fundamentam o presente trabalho. No entanto, antes
de tecer os comentários e as observa<;6es que o conteúdo de tais
quadros enseja, faz-se necessário esclarecer a sua estrutura.
Os Quadros e, que integram o Apendice anexo a este texto,
tratam dos imigrantes estrangeiros -espanhóis, em particular, e
demais etnías- entrados no Estado de Sao Paulo pelo porto de Santos,
no período compreendido entre os meses dejaneiro de 1931 e
dezembro de 1936. É dado particular destaque do imigrante espanhol,
como já foi dito. Especifica-se a sua procedencia, isto é, se veio
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776 Manoel Lelo Bellotto
da Europa, de um país americano, ou de um outro estado do Brasil;
dá-se o número global desses imigrantes espanhóis; o nome dos portos
em que embarcaram e o número dos que o fizeram; a residencia
declarada, isto é, o nome do povoado, da cidade, província ou regiao
em que residiam e respectivos números. Cumpre mencionar que
aqueles que omitiram este último dado no registro foram agrupados
na rubrica residencia mio declarada. É especificado, a seguir, o
número dos demais imigrantes estrangeiros desembarcados no porto
de Santos, no mesmo período, sem a discrimina~ao, no entanto, de
sua etnía e procedencia. Segue-se, finalmente, o dado referente a
participa~ao percentual do imigrante espanhol no total dos imigrantes
estrangeiros.
O cuidado em abrir um espa~o nos Quadros C para registrar os
portos de embarque dos imigrantes espanhóis com destino a Sao
Paulo, seu número e a residencia por eles declarada, procedessem
da Espanha, de outros países europeus, da Argentina, do Uruguai,
dos Estados Unidos ou de outros estados brasileiros, resultou da
preocupa~ao em mostrar, de um lado, os portos «vocacionados»
para o exercício da fun~ao de corredores emigratórios e, de outro, o
mapeamento geográfico e urbano original dos imígrantes espanhóis
em Sao Paulo, particularmente daqueles provindos da Espanha.
O que distingue, os Quadros C dos demais é o seu caráter mensal,
pois o registro dos dados fez-se mes a mes. Estao abrangidos os
meses de- janeiro de 1931 a dezembro de 1936, com números e
dados que se traduzem em subtotais mensais.
Cabe ainda dizer que estes quadros abrigam tres tipos de
observa~es:
1.o quando o imigrante espanhol procede da Europa e fez-se
embarcar em um dos portos das llhas Canárias -invariavelmente o
de Las Palmas de Gran Canaria- e declarado ser residente em urna
das ilhas, na observa~ao vem especificado o nome do imigrante, a
idade, o estado civil, a profissao, a religiao que professa, o grau de
instru~ao -consagrado simplesmente nas expressoes alfabetizado
ou analfabeto- a residencia, a cidade de destino no Estado de Sao
Paulo, o nome do navio que o transportou e a data -dia, mes e
ano- da entrada do barco no porto de Santos. A preocupa~ao que
originou este detalhamento foi a de individualizar, ao nomeá-Ios, os
canários vindos para o Estado de Sao Paulo, na condi~ao de imigrantes,
no lapso de tempo estudado; o
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A Espanha republicana e o Brasil. Estudo sobre a emigrar;do... 777
2.° tipo de observa<;ao foi o de dar destaque aos religiosos
espanhóis -padres e freiras- na massa global dos imigrantes desta
etnia: é possível que o momento histórico vivido pela Espanha justifique
esta discrimina<rao; finalmente, o
3.° tipo de observa<;ao especifica o nao espanhol residente em
urna das Ilhas Canárias, que emigrou para o Estado de Sao Paulo:
no caso, dá-se a nacionalidade do emigrante, o nome do navio e a
data da chegada a Santos, o porto de embarque no arquipélago e a
residencia declarada. Este tipo de observa<;ao procura mostrar que
muitos dos navios pesquisados escalaram em portos da Ilhas Canárias,
embarcando emigrantes estrangeiros ali residentes, mas nao
recolhendo emigrantes espanhóis.
Os Quadros A e B sao urna consolida<rao, sintetizada, dos
detalhados Quadros C: os Quadros A agrupam os analíticos dados
ano a ano; o Quadro B dá urna visao de conjunto dos 6 anos
em estudo. .
Os Quadros D, E e F tratam da rela<;ao entre emigrantes
espanhóis e pOrtos de embarque: é dado o nome do porto, o número
de emigrantes espanhóis aí embarcados com destino a Sao Paulo e a
participa<rao percentual do movimento do porto na totalidade dos
demais portos. O Quadro D refere-se aos imigrantes espanhóis procedentes
da Europa, com especifica<;ao dos vários países e portos
envolvidos no fluxo migratório; o Quadro E destina-se a fixar o
número dos imigrantes espanhóis entrados em Sao Paulo, procedentes
de outros estados do Brasil; finalmente, o Quadro F trata dos
imigrantes espanhóis procedentes de outros países americanos, contendo,
ainda, um quadro síntese dos tres quadros principais.
O estudo e a análise dos dados constantes dos quadros acima
descritos, ensejam constata<;óes que sao merecedoras de comentários.
Em caráter preliminar, no entanto, faz-se necessário registrar
algumas questóes básicas, para o entendimento pleno dos
comentários. .
Os nomes de pessoas, navios e lugares foram gráfados da
maneira como estavam formulados nos documentos pesquisados,
isto é, nas listas de bordo. Foram cotejados, com aqueles transcritos
em Atlas oficiais, apenas os nomes das localidades; os que nao
puderam ser esclarecidos, trazem a expressao (sic) em seguida
ao nome.
Para efeito de registro, foram considerados emigrante/
imigrantes somente os passageiros .que viajavam de 3.a classe. Nao
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QUADRO A
Imigrantes Estrangeiros -Espanhóis e Outros- Entrados no Estado de Sao Paulo
pelo Porto de Santos
Ano: 1931
Imigrantes Espanhóis Demais Percentual
Mes Procedencia Total Imigrantes Imigrantes
Europa América Brasil Estrangeiros Espanhóis
Janeiro 24 . 20 15 59 846 6,52%
Fevereiro 24 18 19 61 459 11,73%
Mar(fo 32 35 11 78 522 13,00%
Abril 28 21 4 53 500 9,58%
Maio 12 6 14 32 504 5,97%
Junho 48 12 10 70 461 13,18%
Julho 37 29 12 78 461 14,47%
Agosto 43 12 11 66 479 12,11%
Setembro 22 14 7 43 516 7,69%
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Imigrantes Espanhóis Demais Percentual
Mé's Procedé'ncia Total Imigrantes Imigrantes
Europa América Brasil Estrangeiros Espanhóis
Outubro 56 19 10 85 746 10,23%
Novembro 41 11 6 58 590 8,95%
Dezembro 40 18 10 68 627 9,78%
Total 4071 215 129 751 6.711 10,06%
1. Deste total, 5 eram canários, embarcados em Las Palmas. (Ver detalhamento no Quadro e, em Apéndice, correspondente aos
meses de maio, julho e outubro do ano de 1931).
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QUADRO A
Imigrantes Estrangeiros -Espanhóis e Outros- Entrados no Estado de Sao Paulo
pelo Porto de Santos
Ano: 1932
Imigrantes Espanhóis Demais Percentual
Mes Procedencia Total Imigrantes Imigrantes
Europa América Brasil Estrangeiros Espanhóis
Janeiro 10 25 5 40 495 7,48%
Fevereiro 31 19 12 62 458 11,92%
Mar<;o 19 23 18 60 530 10,17%
Abril 11 19 7 37 645 5,43%
Maio 24 16 17 57 445 11,35%
Junho 19 29 17 65 626 9,41%
Ju1ho 17 3 Nihil 20 197 9,22%
Agosto Nihil 2 20 22 351 5,90%
Setembro1
© Del documento, de los autores. Digitalización realizada por ULPGC. Biblioteca universitaria, 2009
Imigrantes Espanhóis Demais Percentual
Mes Procedencia Total Imigrantes Imigrantes
Europa América Brasil Estrangeiros Espanhóis
Outubro 3 Nihil 23 26 349 6,93%
Novembro 44 9 16 69 509 11,94%
Dezembro 47 14 14 75 605 11,03%
Total 2252 159 149 533 5.210 9,28%
1. Nao há registro de entrada de imigrantes no Porto de Santos neste mes.
2. Deste total, 5 eram canários, embarcados em Las Palmas, e 10 eram nao espanhóis, que se declararam residentes nas Ilhas
Canarias,5 deles embarcados em Santa Cruz de Tenerife e os outros 5 em Las Palmas. (Ver detalhamento no Quadro C, em Apendice,
correspondente aos meses de febereiro, abril, novembro e dezembro do ano de 1932.)
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QUADRO A
Imigrantes Estrangeiros -Espanhóis e Outros- Entrados no Estado de Sao Paulo
pelo Porto de Santos
Ano: 1933
Imigrantes Espanhóis Demais Percentual
Mes Procedencia Total Imigrantes Imigrantes
Europa América Brasil Estrangeiros Espanhóis
Janeiro 35 10 3 48 515 8,53%
Fevereiro 39 10 12 61 633 8,79%
Mar'1o 52 9 12 73 560 11,53%
Abril 47 Nihil 14 61 654 8,54%
Maio 36 13 12 61 519 10,52%
Junho 44 10 2 56 635 8,10%
Julho 19 20 7 46 689 6,26%
Agosto 33 6 28 67 611 9,88%
Setembro 57 27 11 95 687 12,15%
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Imigrantes Espanhóis Demais Percentual
Mis Proc:edéncia Total Imigrantes Imigrantes
Europa América Brasil Estrangeiros Espanhóis
Outubro 51 14 8 73 828 8,10%
Novembro 50 3 9 62 906 6,40%
Dezembro 55 10 18 83 994 7,71%
Total 518' 132 136 786 8.231 8,72%
1. Deste total, 4 eram canários, embarcados em Las Palmas, e 6 eram nao espanhóis, que se declararam residentes nas I1has
Canarias, embarcados igualmente em Las Palmas. (Ver detalhamento no Quadro C, em Apendice, correspondente aos meses de
mar~, abril junho, novembro e dezembro do ano de 1933.)
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QUADRO A
Imigrantes Estrangeiros -Espanhóis e Outros - Entrados no Estado de Sao Paulo
pelo Porto de Santos
Ano: 1934
Imigrantes Espanhóis Demais Percentual
Mes Procedencia Total Imigrantes Imigrantes
Europa América Brasil Estrangeiros Espanhóis
Janeiro 52 22 14 88 637 12,14%
Fevereiro 62 4 12 78 559 12,24%
Marc;o 37 12 32 81 756 9,68%
Abril 41 15 14 70 573 10,89%
Maio 41 5 7 53 781 6,35%
Junho 30 18 16 64 726 8,10%
Julho 28 13 9 50 589 7,82%
Agosto 55 2 7 64 925 6,47%
Setembro 37 2 6 45 595 7,03%
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Imigrantes Espanhóis Demais Percentual
Mes Procedencia Total Imigrantes Imigrantes
Europa América Brasil Estrapgeiros Espanhóis
Outubro 23 27 5 55 814 6,34%
Novembro 29 20 18 67 840 7,39%
Dezembro 34 5 18 57 619 8,43%
Total 469' 145 158 772 8.414 8,40%
1. Deste total, 5 eram canár.ios, embarcados em Las Palmas, e 8 eram nao espanhóis, que se declararam residentes nas Ilhas
Canarias, embarcados igualmente em Las Palmas. (Ver detalhamento no Quadro C, em Apéndice, correspondente aos meses de maio,
janeiro, fevereiro, marl1O, abril, agosto, outubro, novembro e dezembro do ano de 1934.)
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QUADRO A
Imigrantes Estrangeiros -Espanhóis e Outros- Entrados no Estado de Sao Paulo
pelo Porto de Santos
Ano: 1935
Imigrantes Espanhóis Demais Percentual
Mes Procedencia Total Imigrantes Imigrantes
Europa América Brasil Estrangeiros Espanhóis
Janeiro 30 10 22 62 718 7,95%
Fevereiro 43 10 3 56 734 7,09%
Man;o 15 15 7 37 783 4,51%
Abril 54 11 8 73 844 7,96%
Maio 40 25 1 ,66 527 11,13%
Junho 36 10 2 48 821 5,52%
Julho 16 9 11 36 1.217 2,87%
Agosto 49 3 7 59 1.001 5,57%
Setembro 29 2 7 38 931 3,92%
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Imigrantes Espanhóis Demais Pereentual
Mes Procedencia Total Imigrantes Imigrantes
Europa América Brasil Estrangeiros Espanhóis
Outubro 46 7 5 58 1.110 4,97%
Novembro 43 7 9 59 1.045 5,34%
Dezembro 44 1 Nihil 45 742 5,72%
Total 4451 110 82 637 10.473 5,73%
I. Deste total, 2 eram canários, embarcados em Las Palmas, e 7 eram nao espanhóis, que se declararam residentes nas Ilhas
Canarias, embarcados igualmente em Las Palmas. (Ver detalhamento no Quadro e, em Apéndice, correspondente aos meses de
janeiro, mar<;o, abril e dezembro do ano de 1935).
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QUADRO A
Imigrantes Estrangeiros -Espanhóis e Outros- Entrados no Estado de Sao Paulo
pelo Porto de Santos
Ano: 1936
Imigrantes Espanhóis Demais Percentual
Mes Procedencia Total Imigrantes Imigrantes
Europa América Brasil Estrangeiros Espanhóis
Janeiro 19 46 8 73 598 10,88%
Fevereiro 40 3 3 46 777 5,59%
Mar~o 5 2 23 30 592 4,82%
Abril 27 7 10 44 640 6,43%
Maio 20 2 10 32 781 3,94%
Junho 30 62 15 107 612 14,88%
Julho 51 29 29 109 859 11,26%
Agosto 4 1 15 20 656 2,96%
Setembro 14 18 Nihil 32 844 3,65%
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Imigrantes Espanhóis Demais Percentual
Mes Procedencia Total Imigrantes Imigrantes
Europa América Brasil Estrangeiros Espanhóis
Outubro 1 2 9 12 897 1,32%
Novembro 5 32 15 52 683 7,07%
Dezembro 6 13 6 25 771 3,14%
Total 2221 217 143 582 8.710 6,26%
I. Deste total, 2 eram canários, embarcados em Las Palmas, e 4 eram nao espanhóis, que se declararam residentes nas lIbas
Canarias, embarcados igualmente em Las Palmas. (Ver detalhamento no Quadro C, em Apendice, correspondente aos meses de abril,
agosto e dezembro do ano de 1936.)
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QUADRO B
Imigrantes Estrangeiros -Espanhóis e Outros - Entrados no Estado de Sao Paulo
pelo Porto de Santos
Anos: 1931 a 1936
Imigrantes Espanhóis Demais Percentual
Anos Procedéncia Total Imigrantes Imigrantes
Europa América Brasil Estrangeiros Espanhóis
1931 407 215 129 751 6.711 10,06%
1932 225 159 149 533 5.210 9,28%
1933 518 132 136 786 8.231 8,72%
1934 469 145 158 772 8.414 8,40%
1935 445 110 82 637 10.473 5,73%
1936 222 217 143 582 8.710 6,26%
Total 2.2861 978 797 4.061 47.749 7,84%
1. Deste total, 23 eram canários e 35 nao espanhóis, embarcados nos portos de Las Palmas e Santa Cruz de Tenerife. (Ver detalharnento
nos Quadro A.)
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A Espanha republicana e o Brasil. Estudo sobre a emigraqtio... 791
QUADRO D
Embarque de Emigrantes Espanhóis para o Estado
de Sao Paulo, procedentes da Europa Janeiro de 1931
a dezembro de 1936
Procedencia Porto N.o Porcentual
Almería 45 2,09%
Barcelona 367 17,02%
Cádiz 254 11,78%
Gibraltar 9 0,42%
La Coruña 65 3,01%
Espanha Las Palmas 23 1,07%
Málaga 190 8,81%
Valencia 47 2,18%
Vigo 1.129 52,37%
Villagarcía
de Arosa 27 1,25%
Sub-total 2.156 100,00%
Alemanha Hamburgo 2 1,56%
Fran~a 1Havre 4 3,13%
Marselha 2 1,56%
Inglaterra Southampton 1 0,78%
Itália Genova 7 5,47%
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792 Manael Lela Bellatta
QUADRO D
Embarque de Emigrantes Espanhóis para o Estado
de Sdo Paulo, procedentes da Europa Janeiro de 1931
a dezembro de 1936 (Cont.)
Procedencia Porto N.o Porcentual ¡FunchoJ 2 1,56%
Portugal Leix6es 20 15,63%
Lisboa 90 70,31%
SUB-TOTAL 128 100,00%
Nao declarados 2
TOTAL 2.286
QUADRO E
Embarque de Imigrantes Espanhóis para o Estado
de Sdo Paulo, procedentes do Brasil.
Janeiro de 1931 a dezembro de 1936
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A Espanha republicana e o Brasil. Estudo sobre a emigraqdo ... 793
Procedéncia Porto N.o Percentual
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 210 26,35%
¡Antonina 21 2,63%
Paraná
Paranaguá 80 10,04%
O
O<t: Florianópolis 17 2,13% ¡....
r/)
w Imbituba 2 0,25% . Santa
Catarina Itajaí 4 0,50%
Sao Francisco
do Sul 14 1,76%
TOTAL 797 100,00%
QUADRO F
Embarque de Imigrantes Espanhóis para o Estado
de Sao Paulo, procedentes da América.
Janeiro de 1931 a dezembro de 1936
Procedéncia Porto N.o Percentual
¡ Buenos Aires 617 63,09%
Argentina
La Plata 231 23,62%
r/)
' .....
<t: Uruguai Montevideo 119 12,17%
J:l..<
USA New York 11 1,12%
TOTAL 978 100,00%
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794
Procedencia
Europa
América
Brasil
TOTAL
Manoel Lelo Bellotto
Sintese
N.O
2.286
978
797
4.061
Percentual
56,29%
24,08%
19,63%
100,00%
estao computados, assim, aqueles registrados em l.a e 2.a classe:
esses viajantes nao eram vistos como imigrantes pelas autoridades
brasileiras; ao contrário, recebiam a chancela de turistas.
O presente trabalho, por outro lado, privilegia a imigra'1ao
espanhola originada na Europa, ou dela procedente. Ao contingente
desses imigrantes espanhóis europeus, foram acrescidos aqueles
espanhóis que imigraram de outros páses americanos -nomeadamente
da Argentina, do Uruguai e dos Estados Unidos da·
América. Poderíamos considerar esse fluxo como urna segunda
etapa do processo imigratório, pois a primeira, para esse tipo de imigrante,
terá ocorrido quando do seu deslocamento da Espanha para
um desses países. Sornamos ainda aquele total de imigrantes espanhóis
vindos da Europa, um outro contingente. Referimo-nos aos
espanhóis procedentes de outros estados brasileirOs. Para fins didáticos,
consideramos estes grupos como os integrantes de urna terceira
etapa do processo. Pretendeu-se, com a fixa'1ao metodológica
destas tres etapas, verificar onúmero e a procedencia dos espanhóis
entrados no Estado de Sao Paulo, pelo porto de Santos, no período
de janeiro de 1931 a dezembro de 1936, com o caráter de
imigrantes.
Como já foi referido, os quadros tratam também do número de
imigrantes estrangeiros, a eXCe'1aO dos espanhóis, entrados no
Estado de Sao Paulo, sempre pelo porto de Santos, no período em
estudo, fossem eles procedentes da Europa, da Argentina, do Uruguai,
dos Estados Unidos da América ou dos demais estados do
Brasil. No entanto, nesse número nao estao computados aqueles
contingentes embarcados em portos do extremo-oriente, constituídos
por japoneses, chineses, russos e por outras eventuais etnias. Os
© Del documento, de los autores. Digitalización realizada por ULPGC. Biblioteca universitaria, 2009
A Espanha republicana e o Brasil. Estudo sobre a emigrac;ao... 795
imigrantes japoneses e chineses relacionados neste trabalho, eram
procedentes ou da regiao platina ou de outros portos do Brasil.
Cumpre insistir, finalmente, na proposi<;ao de que a história da
emigra<;ao/imigra<;ao nao se faz apenas com cifras espetaculares: os
elementos que resultaram da presente pesquisa, consubstanciados
nos quadros que informam esta comunica<;ao, refletem rigorosamente
a realidade social caracterizada pelo fluxo migratório para
este Estado da Federa<;ao brasileira.
Consideradas, portanto, estas questóes básicas, é oportuno
fazer-se alguns comentários, embora sucintos, sobre os dados constantes
dos quadros.
Os imigrantes espanhóis entrados no Estado de Sao Paulo, no
período em estudo, constituiu-se de um universo de 4.061 indivíduos,
entre homens, mulheres e crian<;as. Deste total, como se ve no
Quadro Síntese, 2.286, correspondendo a 56,29%, procediam da
Europa; 978, ou 24,08%, da Argentina, do Uruguai e dos Estados
Unidos da América; 797, ou 19,63%, de outros estados do Brasil.
Constata-se, assim, que a predominancia absoluta do fluxo migratório
cabe El Europa.
Do total de 2.286, apenas 23 eram canários que se declararam
residentes nas Ilhas, todos embarcados em Las Palmas de Gran
Canaria; 14 pertenciam ao sexo masculino e 9 ao feminino (nome,
idade, estado civil, profissao, religiao, grau de instru9ao, residencia
e destino de cada um, como já se disse, encontram-se nos Quadros
C, em Apendice).
Dos imigrantes espanhóis procedentes da América, a Argentina
deteve a supremacia, tendo de lá emigrado um contingente de 848
indivíduos, que correspondem a 86,71% do total; 119 vieram do
Uruguai, ou 12,17%, ell dos Estados Unidos da América, ou
1,12% (ver Quadro F).
O Quadro E trata dos imigrantes espanhóis proceq.entes de
outros estados brasileiros. Neste particular, a regiao Sul do País,
, com os grupamentos provenientes dos Estados do Rio Grande do
Sul, Santa Catarina e Paraná, foi responsável pelo fluxo de maior
significado: 506 indivíduos, que correspondem a 63,49% do total. O
Rio de Janeiro contribuiu com um contingente de 210, ou 26,35%;
dos demais estados -Bahía, Espirito Santo, Pará e Pernambucoprocederam
81 espanhóis, ou 10,16% do total.
É possível, e muito provável, aliás, que urna parcela, de resto
indefmível, dos 1.775 espanhóis, correspondentes a 43,71% do
© Del documento, de los autores. Digitalización realizada por ULPGC. Biblioteca universitaria, 2009
796 Manoe! Lelo Bellotto
total, que entraram em Sao Paulo, procedentes da Argentina, do
Uruguai, dos Estados Unidos da América e dos demais estados do
Brasil, era constituída por canários. O registro desses imigrantes, no
entanto, nos documentos portuários, especificava apenas e genericamente
a sua nacionalidade. No caso em estudo, registrava-se o imigrante
simplesmente como espanhol.
A abertura de espa<;os nos quadros para registrar os portos de
embarque e a residencia declarada, tinha por objetivo, como já sc~
disse, verificar, respectivamente, os portos «vocacionados» para ()
transito da corrente migratória, seja pelo número de emigrantes
embarcados, seja pela freqüencia mensal com que eram visitados
por navios destinados a esse tipo de transporte, e a origem geográfica
e urbana da emigra<;ao espanhola.
Em rela<;ao aprimeira questao, como se pode verificar no Quadro
D, os portos galegos de La Coruña, Vigo e Villagarcía de Arosa
foram responsáveis pelo embarque de 1.221 emigrantes espanhóis,
que correspondem a 56,63% do total dos embarcados em portos
~spanhóis. Dos tres portos, Vigo deteve a inquestionávellideran<;a.
E de se destacar, ainda, a participa<;ao do porto de Barcelona nessa
proje<;ao: 367 emigrantes, ou 17,02%, aí embarcaram. No porto de
Las Palmas de Gran Canaria, como já referimos, houve o embarque
de 23 emigrantes, o que corresponde a 1,07% do total. É de se registrar
a ausencia total dos portos das regióes cantábrica e biscaina
nesse processo migratório. Fora da Espanha, mas ainda na Península
Ibérica, cabe urna referencia ao papel desempenhado pelos portos
portugueses de Lisboa e de Leixóes: 110 espanhóis alí embarcaram,
o que corresponde a 85,94% dos emigrantes espanhóis
embarcados em portos europeus, a exce<;ao dos de Espanha, com
predominancia absoluta para Lisboa. Desse total de 110, apenas 60
declaram-se residentes em Portugal. Será lícito aventar a hipótesc
de que esses portos portugueses, na oportunidade em estudo, servi··
ram como válvulas de esc_ape, ou de saída, para espanhóis nao resi··
dentes em Portugal? E possível que sim. Na América, a predominancia
foi do porto de Buenos Aires, como se pode verificar
no Quadro F, secundado pelo de La Plata, também na Argentina,
cujo movimento de emigrantes foi superior ao registrado em Montevideo,
no Uruguai. Dos portos brasileiros, o de Porto Alegre assumiu
a dianteira, seguido do de Río de Janeiro (vide Quadro E).
Referencia especial deve ser feita ao porto de Río Grande, no
extremo sudeste do País: 140 espanhóis alí embarcaram, ou 17,57%
© Del documento, de los autores. Digitalización realizada por ULPGC. Biblioteca universitaria, 2009
A Espanha republicana e o Brasil. Estudo sobre a emigraqdo... 797
do total dos portos brasileiros. Aplicar-se-a a este porto a mesma
indagac;ao há pouco formulada em relac;ao aos portos portugueses,
isto é, de que teria sido um corredor de transito para espanhóis nao
residentes no Brasil?
En relac;ao a segunda questao, qual seja, a da fixac;ao da origem
geográfica e urbana da emigrac;ao espanhola, o resultado da pesquisa
compromete qualquer análise mais rigorosa pela incidencia de
um alto índice de residencia nao declarada do imigrante, na
Espanha. Este fato pode ser atribuído a um registro inadequado da
parte da autoridade portuária ou do comandante do navio: no espac;o
destinado ao preenchimento do nome da localidade em que residia o
imigrante em seu país de origem, era registrada, com freqüencia,
somente a sua nacionalidade. Esta situac;ao passou a ser corrigida
apenas a partir de meados do ano de 1934. No entanto, apesar desta
restric;ao, é possível constatar, pelo .estudo dos dados dos Quadros
e, que toda a Espanha, tanto a continental quanto a insular, fez-se
representar em Sao Paulo na figura dos seus emigrantes. Em Apendice
11 registra-se, apenas para efeito de ilustrac;ao, a relac;ao das
localidades -povoados, cidades, povíncias, regUles e paísesdeclaradas
pelos imigrantes como as de sua residencia, e respectivos
números de declarantes.
A análise dos dados dos quadros A e do quadro B levam a
constata'1ao de que a imigra'1ao espanhola procedente da Europa, no
período em estudo, guarda urna certa «coerencia» e manifesta um
razoavel equilíbrio em termos de fluxo, se forem consideradas as
médias anuais e dos 6 anos em conjunto. Destes, dois anos parecem
atípicos: o de 1932 e o de 1936. E foi neste último ano -1936-que
ocorreu o mais baixo índice de contingente migratório espanhol, originado
na Europa: 222 indivíduos. Em nenhum outro mes dos
demais anos, a excec;ao de agosto a outubro de 1932, o número de
emigrantes espanhóis da Europa entrados em Santos ficara aquém
de 10 indivíduos, como ocorreu nos meses de marc;o, agosto, outubro,
novembro e dezembro de 1936, com respectivamente, 5,4,1,5
e 6 pessoas. O momento histórico que a Espanha entao vivia, como
já foi relatado, explica tal situac;ao. Deve-se acrescentar, ainda, que
os emigrantes espanhóis que vieram para Sao Paulo nos meses de
outubro (1), novémbro (5) e dezembro (6) nao embarcaramem portos de
Espanha: estes 12 emigrantes serviram-se dos portos de Gibraltar,
Genova, Leixóes e Lisboa para alcanc;ar o Brasil. A atipicidade de
1932 é explicada pela conjuntura histórica vivida pelo Brasil, de um
© Del documento, de los autores. Digitalización realizada por ULPGC. Biblioteca universitaria, 2009
798 Manoel Lelo Bellotto
modo geral, e por Sao Paulo, em particular. O isolamento deste
Estado, resultado do «bloqueio» imposto pelo governo federal, em
decorrencia da Revolw;ao Constitucionalista desencadeada em Sao
Paulo em julho de 1932, permite compreender a ausencia de imigrantes
espanhóis procedentes da Europa, no mes de agosto, a falta
de registro de qualquer imigrante, no de setembro, e a cifra de apenas
3 imigrantes espanhóis, 2 embarcados em Vigo e 1 em Lisboa.
Cabe, finalmente, urna referencia aos demais imigrantes estrangeiros
entrados no porto de Santos, no período em tela, procedentes
de portos europeus e americanos, tendo em vista que nos quadros A,
B e C foram abertos espaltos para seu registro. Apenas para efeito de
ilustra<;ao, é oportuno referir que estes grandes contingentes migratórios
eram liderados, numericamente, por poloneses, romenos,
lituanos, estonianos, letónios, russos, checoslovacos, alemaes, austríacos
e, ainda, portugueses e italianos. A ascen<;ao de Hitler ao
poder, em 1933, e as leis discriminando os judeus, promulgadas pelo
Tribunal de Nuremberg em 1935, explicam, de um lado, o grande
número de imigrantes das etnias supra relacionadas, il exce<;ao de
portugueses e italianos, e, de outro, as cifras espelhadas no Quadro
B, em ascen<;iio a partir de 1933, alcan<;ando o ápice no ano de
1935. No entanto, e apenas com fins didáticos e a bem da verdade,
tais cifras contém imigrantes de outras etnias, como armenios, argelinos,
albaneses, belgas, búlgaros, dinamarqueses, egípcios, finlandeses,
franceses, gregos, hungaros, holandeses, iugoslavos, ingleses,
iranianos, indianos, chineses e japoneses (com exce<;ao dos embarcados
em portos do extremo-oriente), libaneses, luxemburgueses,
noruegueses, palestinos, persas (sic), suécos, sírios, sui<;os, turcos e
ucranianos. A vertente americana foi responsável pelo registro, em
Sao Paulo,'de argentinos, bolivianos, chilenos, cubanos, costarriquenhos,
colombianos, canadenses, equatorianos, guatemaltecos,
mexicanos, norte-americanos, nicaraguenses, peruanos, paraguaios,
.panamenhos, venezuelanos e uruguaios. Enfun, o mundo em Sao Paulo!
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A Espanha republicana e o Brasil. Estudo sobre a emigraqdo... 799
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