Botánica Macaronésica 21: 95-105 (1995) 95
PATRIMONIO FLORISTICO DO PARQUE NATURAL DO ALVÁO E
ESTRATEGIA DE PROTECpÁO DOS SEUS RECURSOS GENÉTICOS.
JOSÉ ALVES RIBEIRO*, MIGUEL SEQUEIRA" & LUIS TORRES DE CASTRO"
* Dep. Proteccao de Plantas UTAD (Portugal)
* * Dep. Biología UTAD
Recibido: Febrero 1992
Palabras Clave: Parque Natural, protecgao, Alvao, Portugal
Key words: Natural Park, protection, Alváo, Portugal
RESUMO
Neste artigo alinha-se, através de urna revisao bibliográfica complementada com observacoes de
campo, urna resenha monográfica genérica do Parque Natural do Alvao no que respeita ao seu
coberto vegetal, salientando as suas principáis comunidades florísticas conforme as suas diversas
sub-regioes e micro-ecologias. Sao explicitadas as especies vegetáis quanto a nos mais merecedoras
de protecgao, pela sua raridade, beleza e expressáo caracterizadora dos agrupamentos
fitossociológicos em que estao inseridas. Na segunda parte desta resenha tecem-se algumas
sugestoes relativas a contribuicao da Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro para urna mais
estreita articulagao de estrategias no sentido da preservacao deste valioso patrimonio florístico.
RESUMEN
Se trata de una pequeña reseña monográfica genérica del Parque Natural de Alvao en lo que
respecta a su cobertura vegetal, realizada a partir de una revisión bibliográfica complementada con
observaciones de campo. Se señalan sus principales comunidades florísticas conforme a las diversas
subregiones y microclimas. Se especifican aquellas especies más merecedoras de protección
atendiendo a su rareza, belleza y grado de caracterización de las agrupaciones fitosociológicas en las
que se encuentran enmarcadas. En la segunda parte se consideran algunas sugerencias relativas a
la contribución de la Universidad de Trás-os-montes e Alto-Douro en lo que se refiere a una más
estrecha articulación de estrategias para la preservación de este valioso patrimonio floristico.
CARACTERIZApÁO FITOGEOGRAFICA E FLORISTICA
O Parque Natural do Alváo é um pequeño parque com a área de 7200 ha
ISSN 021 1-7150
96 J. A. RIBEIRO, M. SEQUEIRA & L. TORRES DE CASTRO
situado na serra do Alváo, em Trás-os-Montes e Alto-Douro, provincia do Norte
de Portugal, abrangendo 3 freguesias e urna populagáo aproximada de 2000
pessoas, que vivem essencialmente de agricultura e pecuaria.
É, pois, urna paisagem humanizada com pequeñas searas, hortas e prados
(lameiros) recortadas nos carvalhais, soutos, pinhais e matos arbustivos que ora
se esgueiram pelas imponentes escarpas das encostas pedregosas, ( Havendo
mesmo locáis especialmente belos pela sua magnífica paisagística rochosa como
as xistentas escarpas de falha das quedas de agua do trogo medio do rio Olo as
denominadas "Fisgas" de Ermélo ou a majestosa paisagem "lunar" de blocos
graníticos num sub-planalto contiguo ao vale do rio Arnal na vertente leste,
voltada para o vale do Corgo e para Vila Real e conhecida por "Muas" do Alváo),
ora se adensam com mais viposidade e mais pujanga ñas apertadas linhas de
agua ao longo das encostas e nos abertos subplanaltos envolventes do tropo
superior em vale suave do rio Olo, principal curso efe agua deste Parque.
O clima é húmido e sub-atlántico, ou seja com uma razoável distribuigao da
pluviosidade, no ámbito da mediterraneidade (Dez.-Fev. 40%; Mar.-Maio 25%;
Jun.- Ago. 7.5% e Set.- Nov. 27.5% de um total de 1300 a 1800 mm
consoante as zonas), com temperaturas medias entre 12.5°C nos níveis
submontano e montano e 10 °C no altimontano, havendo ainda a assinalar 50
a 60 dias de geada por ano (medias de 30 anos).
A área do Parque estende-se desde a altitude de 345 m na referida área de
Ermélo, numa situacao próxima do submontano, até os 1330 m ñas cumeadas
da serra, numa situacao altimontana. A configuracao geral do Parque e a sua
insergao podem ser observadas no mapa abaixo.
PARQUE NATURAL DO ALVÁO
PATRIMONIO FLORISTICO DO PARQUE NATURAL DO ALVÁO 97
A geologia do Parque é essencialmente granítica, com algumas "almofadas"
residuais de xisto, quer no trogo medio e inferior do rio Olo, ñas referidas
escarpas de falha das quedas de agua, quer tannbém nalgumas manchas
xistentas dos planaltos altimontanos para onde foram arrastadas pela ascengao
herciniana do granito, demonstrando a origem tectónica desta serra como de
outras montanhas graníticas do NW peninsular.
Pela cartografía fitogeográfica de RIVAS-MARTINEZ (1979), está este parque
incluido na provincia fitogeográfica Carpetano-lbero-Leonesa, no limiar de dois
sectores: o Ourensano-Sanabriense um tanto mais atlántico, alias próximo da
regiáo Euro-Siberiana, e o Lusitano-Duriense, um pouco mais continental,
situando-se na ecología do supramediterráneo nos andares submontano
(400-700 m) e montano (700-1000 m) e do oro-mediterráneo no piso
altimontano (1000-1300 m). Pela carta de MANIQUE E ALBURQUERQUE (1982),
está inserido na regiáo por este autor denominada de Terra Fria de Montanha,
de feigáo ecológica sub-atlántica e oro-atlántica, de acordó com os níveis
altimétricos.
No andar submontano, ñas zonas de Ermélo e de Mondim de Basto, ñas
vertentes ocidental e sudocidental da serra, mais quentes pela menor altitude e
pela exposigáo, a mediterraneidade é ai bem patente instalando-se as sub-associagoes
Quercetosum suberís e Viburnetosum-Quercetum roboris, do Ñusco
aculeati-Quercetum roboris com os seus típicos arbustos sub-mediterráneos
como sejam Arbutus unedo, Cistus populifolius, Cistus psilosepalus, Genista
falcata, Phyllirea angustifolia, Daphne gnidium, numa zona de transicao para os
matos arbustivos da Cisto-Lavanduletea . Grande parte desta área está ocupada
por pinhal de Pinus pínaster e parte dele muito depauperado pelos fogos, que
multo tem degradado toda essa parte ocidental do Parque.
Ñas zonas rochosas graníticas instalam-se comunidades rupícolas granitícolas
de Sedion e de Digitalio Thapsi-Dianthetum lusitanicum (surgindo
esporádicamente a variedade albida da Digitalis thapsi) ñas zonas mais
xerofíticas e soalheiras, e úe Asplenium billotü-Cheilanthetum tinaei ñas fissuras
mais umbrosas. Ñas zonas xistentas mais mediterranicas do piso submontano
aparecem comunidades saxícolas do Phagnalo-Rumicetum indurati a colonizar
gretas de rochas, escarpas e taludes. Nos xistos granatíferos das "Fisgas de
Ermélo" instalam-se comunidades rúpicolas, algumas também do Sedion e outras
ainda mais interessantes como a Sueno foetídae-Dianthetum lusitani onde se
integra o Teucrium salviastrum (endemismo lusitanico) e o Thymus caespititius,
tomilho de hábitos reptantes que se estende qual tapete de filigrana verde-rosa
pelos taludes pedregosos das encostas, num primaveril deslumbramento. Ñas
escarpas de escorrimento junto ás beiradas do Olo e do Fervenga, instalamse
vigosos tufos de Saxífraga clusii, também abundante no Gerés, bem como
Linaria triornithopiíora, acompanhadas de frondosos pteridófitos que adiante
nomearemos.
Estas comunidades rupícolas dao lugar a outras comunidades herbáceas mais
complexas mas ainda acidófilas e silicícolas dos Tuberarietea guttatae inserida
em solos esqueléticos xistentos ou graníticos, onde a par do Therocistus
guttatus (L.)Holub (Tuberaria guttata (L.) Fourr.) se podem encontrar algumas
outras especies interessantes como Hispidella hispánica, lllecebrum verticillatunn.
9 8 J. A. RIBEIRO, M. SEOUEIRA & L. TORRES DE CASTRO
Arnoseris minima e Poa bulbosa.
Nos andares montano e altimontano as comunidades arbustivas dos
Cisto-Lavanduletea cedem lugar aos Calluno-UHcetea de mais acentuada
atlanticidade (subalianga do Ericenion umbellatae) com duas associagóes
predominantes: Halimio-Erícetum australis com Halimium alyssoides, Erica
australis, Cal/una vulgaris, Chamaespartium tridentatum. Erica umbellata, Erica
cinérea, Ulex europaeus e Cytisus spp. ñas encestas graníticas ou xistentas mais
secas e pedregosas, e o Genisto anglicae-Ericetum tetralicis com Genista anglica.
Erica tetralix, Genista micrantha, Ulex minor. Callana vulgaris. Erica umbellata,
Polygala vulgaris, Lithodora prostrata, Galium verum, Luzula láctea (endemismo
ibérico de expressáo predominantemente lusitánica), Helianthemum
nunnmularium. Campánula lusitánica e Arenaria montana nos subplanaltos mais
iiúmidos, subturfosos e sujeitos a encharcamentos temporarios, dos horizontes
abertos e aplanados das altitudes superiores.
Nos vales abertos e ñas manchas sub-planálticas com melhores solos,
mantém-se alguns carvalhais, geralmente bosques mistos de Quercus robur e de
Quercus pyrenaica, dada a situagáo de transigao litoral/interior que faz convergir
nesta área a fitogeografia daquelas duas quercíneas caducifólias.
Nos planaltos mais elevados surgem os vidoais de Betula celtibérica e Betula
alba, algo empobrecidos de árvores e ocupados pelo Genisto anglicae-Ericetum
tetralicis e também com alguns pinhais de Pinus sylvestris e Pinus nigra
provenientes de florestagao artificial.
No sub-bosque destes carvalhais encontramos diversas especies de elevado
valor botánico e ecológico, a comegar pelas características das duas associagoes
mais importantes do dominio do carvalho roble, o Ruscus aculeatus ñas fácies
mais secas e mais baixas e o Vaccinium myrtillus ñas zonas mais altas,
avanzando mesmo para o sub-bosque de carvalho-pardo, na sua procura de
humidade e frescura estival em situagoes mais continentais (outras arbóreas e
arbustivas companheiras dos carvalhos sao também de valor inestimável e a elas
nos referiremos na segunda parte deste artigo). Mas algumas outras especies,
como certas herbáceas de grande fragilidade mas de rara beleza, também se
refugiam nestes bosques, como Lilium martagón, Erythronium dens-cani.
Anemone trifolia ssp. albida (endemismo do noroeste peninsular). Aquilegia
dichroa, Pentaglottis sempervirens, Omphalodes nitida, Melittis melissophiyllum
e Prunela grandiflora.
No Cisto-Lavanduletea submontano e no Haiimio Ericetum australis apenas há
a assinalar com especial interesse botánico algumas arbustivas e subarbustivas
aromáticas de ecología xerofítica como Cistus spp., Thymus zygis, T. mas-tichina,
Lavandula pedunculata, L. luisieri (mais rara), Origanum virens,
Calamintha nepeta e certas herbáceas de floragáo témpora como Asphodelus
ramosus (especie pirófila e relativamente abundante), Orchis morio ssp. picta,
Simethis mattiazzii (Vandelli) López & Jarvis [S. planifolia (I.) Gren.) Pulicaria
odora. Iris xiphium, Petrorhagia nanteulii e Cephalantera longifolia.
Já a Genisto anglicae-Ericetum tetralicis, instalada a maiores altitudes e fácies
mais húmidas, é bastante mais rica de especies, com bastantes herbáceas que
ai vegetam protegidas pelos arbustos, algumas relativamente raras como o caso
da Drosera rotundifolia, planta insectívora refugiada ñas esponjosas almofadas
PATRIMONIO FLORISTICO DO PARQUE NATURAL DO ALVÁO 99
de musgos de Sphagnum instaladas ñas fácies mais encharcadicas. Assim como
algumas preciosíssimas bulbosas como Crocus clusii, Merendera pyrenaica,
Gentiana pneumonanthe, Narcissus tríandrus e N. bulbocodium, Romulea
bulbocodium, Hyacinthoides hispánica e Gagea soleiroHi e nao menos preciosos
hemicriptófitos como Bellis perennis, Chamaemelum nobile, Linum spp.,
Phalacrocarpum oppositifolium em fácies também sub-turfosas mas melhor
drenadas, sendo este ultimo um endemismo ibérico altimontano e de
preferencias sub-rúpicolas.
Ñas beiradas dos rios e regatos e nos lameiros e mesmo em baldíos ou
pastagens pobres, ainda com alguns arbustos esparsos do Genisto
anglIcae-Erlcetum tetralicis dominam lógicamente os graminais do
Brachypodietum e do Agrosto-Arrhenateretum a níveis montano e altimontano
e do Nardion stríctae nos altimontano e erminiano. 10 outros graminais importa
referir como os do sub-coberto de pinhal com Agrostis curtisii,
Pseudarrhenatherum longifolium e Avenula marginata subsp. pyrenaica, também
inserido em clareiras de matagais do Calluno-Ulicetea e os graminais ainda
pioneiros e também acidófilos e silicícolas das térras de solos esqueléticos de
xisto ou de granito, de muita pedregosidade, e em espacos abertos, soalheiros
secos e clareiras de matos e em zonas envolventes das cristas rochosas das
cumeadas, graminais esses constituindo pastagens pobres á base de Agrostis
delicatula, IVIolineriella laevis, Poa bulbosa. Festuca ovina. Festuca rubra e
Corynephorus canescens, ou seja integrado na Corynephorion e na Therocistetea
guttatae. Nos lameiros e beiradas de ribeiros onde se instalam graminais mais
ricos, pela maior fertilidade e humidade dos solos, há a assinalar outras
gramíneas de razoável valor forrageiro do géneros Cynosurus, Poa, Bromus,
Dactylis, Anthoxantum, Festuca e Holcus, sendo estas últimas também
especialmente abundantes no sub-coberto de carvalhais (especialmente IH. mollis
característica do Holco molli-Quercetum pyrenalcae).
Nos leitos de chela dos cursos de agua e ñas faixas mais encharcadicas das
beiradas, os tufos característicos de certas gramíneas multo higrófilas (como a
l\/lolinea coerulea e a Deschampsia caespitosa) de juncos e de ciperáceas, destas
predominando os géneros Carex (C. vulpina, C. laevigata e C. divisa), Scirpus (S.
holoschoenus) e Heleocharis (H. palustris).
Nesses espacos, também ricos de especies com interesse, teremos de
assinalar como mais importantes a Caltha palustris, Alisma plantago-aquatica e
Prinnula vulgaris mais circunscritas aos pauís e margens de regueiros e regatos,
um outro grupo de geófitos e hemicriptófitos, também da denominada flora
subalpina, grupo florístico que se instala preferencialmente nos lameiros, como
Dactylorhiza maculata, Serapias lingua, Gladiolus illyricus. Armería
transmontana. Linaria amethystea. Árnica montana, Cardamine pratense,
Eriophorum angustifolium e Paradisea lusitanica especies estas quase todas
felizmente de elevado poder de propagacáo, chegando a dominar a flora dos
lameiros em esplendorosas infestagoes primaveris de cores vistosas, como as
referidas orquidáceas, os gladíolos, linarias e armerías, ou de puríssimas
brancuras como o caso da erva-algodao e da agucena brava.
Ao longo das linhas de agua definem-se as galerías arbóreo-arbustivas
ribeirinhas do Alnetum com Betula celtibérica e B. alba, Alnus glutinosa.
1 0 0 J- A. RIBEIRO, M. SEQUEIRA & L. TORRES DE CASTRO
Fraxinus angustifolia, U/mus sp., Celtis australis, Salix atrocinera e S. salvifolia.
Erica arbórea. Frángula alnus, Lythrum salicaria, Lysimachia vulgaris. Saponaria
officinalis, Myosotis spp., Verónica spp., Viola riviniana e outras especies
higrófilas ou mais exigentes na fertilidade dos solos como o Crataegus
monogyna, a Rosa micrantha e a Genista florida subsp. polygaphylla, a elegante
giesta piorneira típica dos matagais instalados em bons solos ñas zonas
subplanálticas montanas e altimontanas.
Também se instalam ao longo das linhas de agua carvalhos robles e carvaihos
pardos, além de outras folhosas companheiras dos carvalhais, que ai procuram
solos profundos e férteis que tanto escasseiam num territorio marcado pela
pedregosidade. Nessas beiradas húmidas onde os graminais, os juncais e as
ciperáceas dominam, sao importantes de defender certas valiosas especies de
pteridófitos dos géneros Osmunda, Athyrium, Dryopteris, Blechnum, Phyllitis e
outros e aínda algumas aromáticas e medicináis higrófilas como o mentastro
(Mentha suaveolens), o poejo (Mentha pulegium), o tomilho (Thymus pulegioi-des
) , a sete-em-rama ÍPotentilla erecta) e a agrimonia (Agrimonia eupatoria).
SUGESTÓES NO SENTIDO DE UMA ESTRATEGIA DE PROTECCÁO
Dada a riqueza florística desta área protegida e dada a sua proximidade em
relacáo á Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro sediada em Vila Real, a
melhor estrategia, quanto a nos, para dele retirar o melhor partido pedagógico
e conservacionista possível, seria a seguinte:
a) Articular o melhor possível a multifacetada potencialidade pedagógica do
Parque com certos sectores e projectos em curso na I^TAD, particularmente com
o herbario, com o futuro banco de germoplasma e jardim botánico. Usar com
criterio e com os devidos cuidados os diversos hábitats físicos e bióticos para
visitas de estudo especializadas ou multidisciplinares, dado o seu interesse
geológico, botánico, ornitológico, agronómico, zootécnico e floresta!.
b) Apoio as especies mais sensíveis, quer animáis quer vegetáis. Neste
dominio já se estáo a fazer nos viveiros e espatos verdes da UTAD propagagoes
de //ex aquifolium, Sorbus aucuparia, Pyrus bourgaeana, Prunus avium, Prunus
lusitanica, Prunusspinosassp. spinosa, Corylusavellana, Acermonspessulanum,
Viburnum tinus e Crataegus monogyna, companheiras preciosas dos carvalhais
caducifólios, tirando partido dessas especies como ornamentáis e estimulando
o seu cultivo em viveiro para tal fim, em vez da selvagem depredagáo que
infelizmente ainda se faz (principalmente ao azevinho). Dentro desse espirito está
nos nossos planos a recolha de sementes e/ou propágulos de especies ainda
mais raras, como a presumivelmente extinta erva-ursina (Arctostaphylos
uva-ursi), o zimbro e o teixo, e a sua propagapáo em viveiro e posterior
reposigáo nos respectivos hábitats devidamente protegidos, principalmente da
pastoricia e do vandalismo.
PATRIMONIO FLORISTICO DO PARQUE NATURAL DO ALVÁO 101
c) Colaboragao, no ámbito de protocolos já firmados (ou estabelecer), com as
instancias do parque e do Servigo Nacional de Parques e Reservas no sentido de
que seja incluido na área deste parque o magnífico e vulnerável carvalhaí da
Campea, contiguo á sua actual área e riquíssimo em muitas das especies
referenciadas nesta resenha e alias já referido por PINTO da SILVA et al. H 956),
e estudado recentemente num trabalho de estágio da UTAD (CARVALHO & KOE,
1988).
d) Idéntica colaboragao no sentido de que sejam reinstalados sobreirais em
faixas de menor altitude das áreas incendiadas de pinhal da zona sudoeste, onde
existem ainda restos de matas autóctones de sobreiros e medronheiros, e sejam
replantados mais carvalhos, castanheiros e bétulas nos respectivos bosques,
infelizmente bastante depauperados.
e) Constituigao de um Horto Botánico de plantas aromáticas e medicináis, a
integrar no futuro Jardim Botánico da UTAD em cujos espagos se poderá vir a
criar uma razoável diversidade de microhabitats adaptados ás exigencias
ecológicas das especies a proteger. O referido grupo de aromáticas e medicináis
está já a ser recolhido, através de sementes e/ou propágulos vegetativos nos
habitats já referidos, quer no Parque do Alvao, quer noutros locáis da regiao, e
aclimatado em viveiro um conjunto dessas plantas que constituirao o núcleo
inicial do futuro Horto Botánico de Aromáticas e Medicináis.
Será a melhor maneira de tirar partido pedagógico dessas especies difíceis de
encontrar nos seus habitats dispersos, assim como de melhor as estudar nos
seus aspectos fisiológicos (dorméncias de sementes por exemplo) e ecológicos
a fim de se promover o seu cultivo, dado que está a haver uma crescente
procura destas plantas para fins diversos: medicináis, veterinarios,
condimentares e melíferos.
f) Finalmente está nos planos de um outro departamento da UTAD o estudo
dos cogumelos bravios, relativamente abundantes nalguns sub-bosques, ñas
feteiras das depressoes sub-planálticas mais húmidas, em beiradas, bordaduras
e em matagais e que também estáo em riscos de degradagao se nao forem
tomadas medidas que tentem defender mais esta parcela de todo o valioso
patrimonio ecológico deste Parque Natural e de outras áreas protegidas ou a
proteger da nossa regiao.
REFERENCIAS
BRAUN-BLANQUET, J . , A.R. PINTO-da-SILVA, & A. ROZEIRA, 1956.- Resultáis de deux excursions,
géobotaniques á travers le Portugal septentrional et moyen. Agronomía Lusitana vol.18 (3):
167-234, Oelras.
CARVALHO, A. F. & T. DE-KOE, 1988.- Importancia da preservacáo e aproveitamento das formacoes
caducifólias (carvalhais e vidoais). Simposio sobre a floresta e ordenamento do espaco de
montanha. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real.
CASTRO VIEJO et al., 1990.- Flora Ibérica vol.2, Ed. Real Jardín Botánico, Madrid.
1 0 2 J- A. RIBEIRO, M. SEQUEIRA & L. TORRES DE CASTRO
COUTINHO, A. X., 1939.- Flora de Portugal, Ed. Sá da Costa, Lisboa.
FERNANDES, A. C. M., 1988.- Evolucao das formas de ocupagáo do territorio no parque natural do
Alváo 11947-1984), Service Nacional de Parques, Reservas e Conservacáo da Natureza, Lisboa.
FRANCO, J. A., 1971.- Nova flora de Portugal, voLI, Ed. do autor, Lisboa.
FRANCO, J . A., 1981.- Nova flora de Portugal, vol.2, Ed. do autor, Lisboa.
MANIGUE E ALBUGUERGUE, J. P., 1982.- Carta ecológica de Portugal, fito-edafo-climática,
Comissao Nacional do Ambiente, Lisboa.
MENDONípA, F. A. & J. C. VASCONCELOS, 1970/71.- Estudo fitogeográfico da Regiáo Curíense,
vol.7, Anais do Instituto do Vinho do Porto, Porto.
PINTO DA SILVA, A. R., A. ROSEIRA & F. FONTES, 1956.- Os carvalhais da Serra do Gerés-Esbopo
^ fitossociológico. Agronomía Lusitana: vol.l2(3):433-447. Oeiras.
RIBEIRO, J. A., 1988.- Ecología da vegetacáo das nnatas e mortórios da regiáo do Alto Douro,
Congresso Mundial sobre el Bosque y Matorral Mediterráneo. Cáceres.
RIVAS-MARTINEZ, S. 1979.- Brezales e jarales de Europa Ocidental (revisión fitossociológica del
Calluno-Ulicetea e del Cisto-Lavanduletea). Lazaroa 1:5-128, Madrid.
RIVAS-MARTINEZ ET AL., 1990.- Vegetación de la Sierra de Guadarrama. Itinera Geobotánica: vol.
4. Asociación Española de Fitosociología, Univ. León.
RIVAS-MARTINEZ, S., P. CANTÓ, F. FERNANDEZ-GONZÁLEZ, & D. SÁNCHEZ MATA, 1988.-
Ensayo preliminar para una revisión de la clase Quercetea ilicis en España y Portugal, Dept. de
Biología Vegetal, Facultad de Farmacia. Universidad Complutense, Madrid.
RIVAS-MARTINEZ, S., P. CANTÓ, F. FERNADEZ-GONZALEZ & D. SÁNCHEZ MATA, 1989.- Si-nopsis
de la vegetación saxícola del sistema central, Dept. de Biología Vegetal, Facultad de Farmacia.
Universidad Complutense, Madrid.
TELLES, A. N., 1969.- Os lameiros de montanha do Norte de Portugal. Agronomía Lusitana 31
(1-2):5-130. Oeiras.
PATRIMONIO FLORISTICO DO PARQUE NATURAL DO ALVAO
ANEXO
LISTA DE NOMES VULGARES
Acer monspessulanum
Agrimonia eupatoria
Alisma plantago-aquatica
Alnus glutinosa
Anemone trifolia subsp. albida
Aquilegia dichroa
Arbutus unedo
Arctostaphylos uva-ursi
Armería transmontana
Árnica montana
Asphodelus ramosus
Athyrium filix-femina
Bellis perennis
Be tula alba
Betula celtibérica
Calamintha nepeta
Calluna vulgaris
Caltha palustris
Campánula Iusitánica
Cardamine pratense
Celtis australis
Chamaemelum nobile
Chamaespartium tridentatum
Cistus populifolius
Cistus psilosepalus
Corylus avellana
Crataegus monogyna
Crocus clusii
Cytisus ssp.
Dactylorhiza macúlala
Daphne gnidium
Drosera rotundifolia
Dryopteris ssp.
Erica arbórea
Erica australis
Erica cinérea
Erica tetralix
Erica umbellata
Eriophorum angustifolium
Erythronium dens-cani
Frángula alnus
zélha
agrimonia
oreliía-de-muia
amieiro
anémona-dos-bosques
aquilegia
medronheiro; érvedo
uva-ursina; uva-de-urso
erva-divina
cravo-dos-alpes
abrótea
feto-fémea
margarita; bonina
vidoeiro
vidoeiro
neveda
torga - ordinaria
mamequer-dos-brejos
campánula
agriao-dos-lameiros
lodao
camomila
carqueja
estevao
sanganho
aveleira
pilriteiro: catapereiro
acafráo-bravo
giestas
satariao-malhado
trovisco
rorela; orvalhinha
feto-macho
urze-branca
urgueira; chamiga
queiró; queiroga
urze-peluda
queiró; queiroga
erva-algodáo
dente-de-cao
sanguinho-bastardo
104 J. A. RIBEIRO, M. SEQUEIRA & L. TORRES DE CASTRO
Fraxinus angustifolia
Galium verum
Genista anglica
Genista florida
Genista micrantha
Gentiana pneumonanthe
Gladiolus illyricus
Halimium alyssoides
Helianthemum numularium
Hispidella hispánica
llex aquifolium
lllecebrum verticilatum
Iris xiphium
Lavándola pedunculata
Lilium martagón
Linaria amethystea
Lithodora-prostrata
Luzula láctea
Lysimachia vulgaris
L ythrum salicaria
Melittis melssophyllum
Mentha pulegium
Mentha suaveoleus
Merendera pyrenaica
Myosotis spp.
Narcissus bulbocodium
Narcissus triandrus
Omphalodes nítida
Orchis morio subsp. picta
Origanum virens
Osmunda regalis
Paradisea lusitanica
Pentaglotis sempervirens
Petrorhagia nanteullii
Phyllirea angustifolia
Phyllitis scolopendrium
Pinus nigra
Pinus pinaster
Pinus sylvestris
Poa bulbosa
Polygala vulgaris
Potentilla erecta
Prímula vulgaris
Prunella grandiflora
Prunus avium
Prunus lusitanica
Prunus spinosa subsp. spinosa
freixo
galeao; erva-coalheira
tojo-gadanho
giesta-piorneira
giesteira
genciana
espadana-dos-montes
sargado
piloto
hispídela
azeviniío; visqueiro
aranHoes
lírio-amarelo-dos-montes
rosmaninho
martagao
esporas-bravas
erva-das-sete-sangrias
erva-prateada
erva-dos-escudos
salgueirinha
melissa; betónia-bastarda
poejo
mentastro
quitamerendas
miosotis
campaínhas-amarelas
campainhas; cucas
oreiha-de-rato
testiculo-de-cáo; erva-de-salepo
oregáo
feto-real
apucena-brava
olho-de-gato
cravina-brava
lentisco-bastardo
língua-cervina; língua-de-veado
pinheiro-da-Córsega
pinheiro-bravo
pinheiro-silvestre
cabelo-de-cáo
erva-leiteira
tormentila; sete-em-rama
rosas-da-páscoa
erva-férrea
cerejeira-brava; cerdeira
azereiro
abrunheiro-bravo
PATRIMONIO FLORISTICO DO PARQUE NATURAL DO ALVAO 105
Pulicaria o dora
Pyrus bourgeana
Quercus pyrenaica
Quercus robur
Rosa micrantha
Ruscus aculeatus
Salix atrocinera
Salix saivifolia
Saponaria officinalis
Serapias lingua
Sorbus aucuparia
Sphagnum spp.
Thymus caespititius
Thymus mastichina
Thymus pulegioides
Thymus zygis
Ulex europaeus
Ulex minor
Ulmus spp.
Vaccinium myrtillus
Viburnum tinus
Viola riviniana
erva-montá
pereira-brava
carvalho-pardo; carvalho-negral
carvalho-alvarinho;carvalho-rGble
roseira-brava
gilbardeira
salgueiro-preto; borrazeiro-preto
salgueiro-branco; borrazeiro-branco
erva-saboeira
erva-língua
tramazeira; carnogodinho
musgo
tomilho-rasteiro
tomilho-dos-montes
tomil.ho
tómelo
tojo-arnal
tojo-molar
ulmeiro
arando; uva-do-monte
folhado
violeta