© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121
Vol. 15 N.o 3. Págs. 731-740. 2017
www .pasosonline.org
Resumo: O incremento do mercado ecoturístico resulta de uma mudança de paradigma, com importantes
transformações do perfil do turista, que seleciona o seu destino de férias com base em critérios e motivações am‑bientais
e sociais. Face a esta crescente procura, são várias as empresas que têm visto este segmento turístico
como uma oportunidade de negócio. Partindo desse pressuposto e da análise exploratória aos agentes de ani‑mação
turística em Portugal (Cordeiro, Alves e Carvalho, 2015), pretendemos, neste artigo, aprofundar o con‑hecimento
sobre o mercado da oferta do ecoturismo, através de um inquérito online aos referidos agentes. Além
de outros dados relevantes, do universo das 28 empresas identificadas, 17 participaram no inquérito, sendo que
destas 94,1% afirmam comercializar o segmento do ecoturismo, o que, não só valida o estudo supramencionado,
como sugere, também, em fase posterior, uma análise à procura dos ecoturistas em Portugal.
Palavras-chave: Ecoturismo; Mercado mundial de ecoturismo; Agentes de animação turística; Oferta; Portugal.
Ecotourism in Portugal: offer characterization focused on the Tourist Entertainment Agents
Abstract: The growing ecotourism market, result of a paradigm shift, with important changes of the tourist
profile, who selects their holiday destination based on criteria and environmental and social motivations.
Faced with this growing demand, there are several companies that have seen this tourist segment as a busi‑ness
opportunity. Based on this assumption and exploratory analysis of tourist animation agents in Portugal
(Cordeiro, Alves and Carvalho, 2015), in this article we intend to deepen the knowledge about the market of
ecotourism offer, through an online survey for these agents. In addition to other relevant data, in the uni‑verse
of 28 companies identified, 17 participated in the survey, and of these 94.1% claim to sell ecotourism
segment, what, not only validates the study referred above, as suggests, also, in later stage, an analysis in
search of ecotourists in Portugal.
Keywords: Ecotourism; Global market for ecotourism; Tourist animation agents; Offer; Portugal.
O Ecoturismo em Portugal: caraterização da oferta
centrada nos Agentes de Animação Turística
Bruna Filipa Miranda Cordeiro*, Luiz Rodolfo Simões Alves**
Paulo Manuel Carvalho Tomás***
Universidade de Coimbra (Portugal)
Bruna Cordeiro, Luiz Alves, Paulo Tomás
* Licenciada em Ecoturismo pela Escola Superior Agrária de Coimbra; E‑mail:
brunafilipacordeiro@gmail.com
** Licenciado em Geografia, Mestre em Geografia Humana, Ordenamento do Território e Desenvolvimento e Doutorando
em Geografia pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra; E‑mail:
luizalves90@hotmail.com
*** Licenciado, Mestre e Doutor em Geografia. É docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra; E‑mail:
paulo.carvalho@fl.uc.pt
1. Introdução. Ecoturismo, uma abordagem conceptual
O termo turismo ecológico surge nos anos 80, do século XX, por Hector Ceballos‑Lascurain.
Este
conceito, entretanto, acabou por sofrer a alteração para Ecoturismo. De facto, como fazem notar Wearing
& Neil (2009:5), “este termo foi reduzido para ecoturismo em 1983 e a palavra foi usada por Ceballos‑Lascurain
em discussões como Presidente da PRONATURA, uma organização não‑governamental
(ONG) de conservação e Diretor Geral da SUEDE, o Ministério Mexicano de Desenvolvimento Urbano
e Ecologia”.
Porém, a primeira aparição da palavra escrita dá‑se
apenas em março – abril de 1984 na edição de
“American Birds” (Wearing & Neil, 2009). A sua definição, na literatura, surge em 1987 “num jornal
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 15 N° 3. Junio 2017 ISSN 1695-7121
732 O Ecoturismo em Portugal: caraterização da oferta centrada nos Agentes de Animação Turística
intitulado “O futuro do Ecoturismo” que foi reproduzida no Jornal Mexicano a 27 de Janeiro de 1988”
(Ceballos‑Lascurain,
s.d:2, citado por Wearing & Neil, 2009:5).
Ceballos‑Lascurain
definiu o Ecoturismo como uma forma de viajar em que o primeiro foco é o ambiente
natural (Wearing & Neil, 2009) e “sem distúrbios ou contaminação, com o objetivo específico de estudar,
admirar e desfrutar o panorama junto à fauna e à flora silvestres, assim como qualquer manifestação
cultural passada ou presente que aí se encontre” (Rodrigues, 2004, citado por Antunes, 2012:38).
Ecoturismo é, essencialmente, um segmento de turismo que sempre foi praticado, antes mesmo de ser
definido ou regulamentado. Com efeito, “embora o termo “ecoturismo” seja recente, visitar os ambientes
naturais ou simplesmente diversos é prática que remonta a muitos séculos e vai além do explorador e do
naturalista. Como o interesse em atingir os grandes picos dos Alpes desde o século XV ou as viagens de
erudição que os europeus abastados realizavam desde o séc. XVIII. Nos Estados Unidos da América, na
segunda metade do século XIX, milhares de turistas já visitavam os Parques Nacionais de “Yellowstone”
(criado em 1872) e “Yosemite” (criado em 1890) ” (Oliveira et al, 2010:18). É igualmente um segmento
que precede outros, pois com a sua definição, outros segmentos foram concebidos, de forma a “repartir”
vários conceitos diferentes, nomeadamente turismo de natureza, turismo ativo, turismo cultural (Figura
1). Nessa mesma ótica Antunes (2012:39), menciona que “o ecoturismo precede o turismo de natureza,
na medida em que antecede a existência de qualquer regulamentação ou legislação e, imposição à
liberdade de movimento do Homem. Desde o início dos tempos, que as pessoas praticam o ecoturismo,
mesmo quando o termo era ainda desconhecido, visitando áreas naturais protegidas e não classificadas
com o intuito de as descobrir, estudar e contemplar, não só a sua envolvente mas, também, os seus
recursos naturais e culturais”.
Figura 1: Turismo Alternativo
Mieczkowski, 1995:459, in Wearing & Neil, 2009:4
Após o surgimento do conceito Ecoturismo, nos anos 90 (do século XX), verificou‑se
um crescimento
exponencial no debate em seu torno e, sobretudo, sobre como transformar este segmento numa solução
para os espaços naturais, culturais e respetivas populações. Assim, “a ideia de que turismo baseado na
natureza pode contribuir com benefícios sociais e ambientais, irrompeu na consciência pública no final
dos anos 80 e passou a ser um fenómeno nos anos 90. Em muitos países, começou a ser tema principal
de debate, gerando inúmeras conferências, novos cursos e desafios no desenvolvimento de políticas a
todos níveis, nos governos, na indústria turística e no movimento ambiental” (Wearing & Neil, 1999:7).
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Bruna Cordeiro, Luiz Alves, Paulo Tomás 733
Esta consciencialização pública no que concerne a questões sobre sustentabilidade ambiental surgiu
após a publicação do Relatório Brundtland (“Our Commom Future”), em 1987 pela Comissão das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que procurou integrar o desenvolvimento sustentável
na agenda política mundial. No documento mencionava‑se
que “a Humanidade tem a capacidade de
criar um desenvolvimento sustentável para assegurar as necessidades do presente sem comprometer
a capacidade das gerações futuras de assegurar as suas necessidades. O conceito de desenvolvimento
sustentável impõe limites, não absolutamente limites mas limitações impostas pelo estado presente
da organização tecnológica e social nos recursos ambientais e pela capacidade da biosfera absorver os
efeitos da atividade humana” (Relatório Brundtland, 1987:24).
O Ecoturismo despontou como solução de desenvolvimento sustentável para os países, regiões e
comunidades, para a conservação do património natural e cultural, como forma de gestão das áreas
protegidas, de dinamização de locais com baixo efetivo de população, uma solução assente sobretudo
no desenvolvimento sustentável, de locais ainda inexplorados (Wearing & Neil, 1999).
Uma das mais importantes confirmações do seu crescimento e da sua importância para o desen‑volvimento
sustentável foi a eleição do ano de 2002 como o “Ano Internacional do Ecoturismo”. Em
Québec (Canadá), entre 19 e 22 de maio, foi realizada a “Cimeira Mundial de Ecoturismo”, como parte
da comemoração deste ano internacional, sob a égide do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente e da Organização Mundial do Turismo. As conclusões foram redigidas na “Declaração de
Ecoturismo de Québec” com várias recomendações, tais como “o processo de certificação voluntária,
o desenvolvimento de práticas de mínimo impacto e a implantação de estratégias que aumentem os
benefícios nas localidades receptoras” (Oliveira et al, 2010:20).
Como meio de análise aos resultados após a conceção da “Declaração de Ecoturismo de Québec” e para
definir os novos desafios no Ecoturismo, desde 2002, foi realizada na Noruega, a “Global Ecotourism
Conference 007” (GEC07), organizada pela Sociedade Internacional de Ecoturismo (The International
Ecotourism Society ‑
TIES), Noruega Ecoturismo (Ecotourism Norway) e pelo Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (United Nations Environment Programme ‑
UNEP) de onde resultou o documento
“Oslo Statement Ecotourism” (TIES, 2015), que “apresenta quatro recomendações centradas nos temas
analisados nesta conferência: reconhecer o papel do ecoturismo no desenvolvimento sustentável local;
maximizar o potencial do ecoturismo bem gerido como um meio de conservação dos recursos naturais
e culturais, tangíveis e intangíveis; apoiar a viabilidade e o desenvolvimento de empresas e atividades
de ecoturismo, por meio de ações de marketing, educação e capacitação e, finalmente, tratar as questões
críticas do ecoturismo para o fortalecimento de sua sustentabilidade.” (Oliveira et al, 2010:20).
Como impulsionador do desenvolvimento do Ecoturismo em todo o mundo, foi fundada em 1990 a
Sociedade Internacional de Ecoturismo que se dedica a: “criar uma rede internacional de indivíduos,
instituições e da indústria do turismo, educar turistas e influenciar a indústria do turismo, instituições
públicas, profissionais do turismo e voluntários para integrar os princípios do ecoturismo nas suas
operações e políticas” (TIES, 2015). Como exemplos do seu trabalho atual, é de salientar a promoção
de conferências, como a Ecotourism and Sustainable Tourism Conference, realizada anualmente em
diferentes países, investigação, emprego, workshops, entre outras atividades e programas disponíveis
em todo o mundo. Além de todo este trabalho à volta do tema Ecoturismo é possível, através do seu
site (http://www.ecotourism.org/), consultar a definição mais atualizada, empregue por muitos autores
(Drumm e Moore, 2003; Fennel, 2008; Wearing e Neil, 2009; Antunes, 2012) e considerada como uma
das mais válidas. Na sua versão mais recente, a Sociedade Internacional de Ecoturismo, considera
que o ecoturismo é definido como “viagem responsável para áreas naturais que preserva o ambiente,
sustenta o bem‑estar
da população local e envolve interpretação e educação. A educação deve incluir os
funcionários e os hóspedes” (TIES, 2015, citado por Cordeiro; Alves; Carvalho, 2015:4).
O Ecoturismo, através da Sociedade Internacional de Ecoturismo e de outras organizações, instituições
e demais entidades (públicas e privadas) tem vindo a aumentar exponencialmente a sua importância
no desenvolvimento sustentável e na consciência das populações, assim como do volume de ecoturistas
por todo o mundo, que atualmente se fazem notar nos dados estatísticos no turismo mundial.
2. O Ecoturismo no mercado mundial
Um pouco por todo o mundo, o ecoturismo tem registado um crescimento considerável, resultado
da aceção do desenvolvimento sustentável como solução para o presente e futuro da Humanidade,
tal como da consciencialização do Homem para as questões ambientais e culturais. É nesta ótica
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 15 N° 3. Junio 2017 ISSN 1695-7121
734 O Ecoturismo em Portugal: caraterização da oferta centrada nos Agentes de Animação Turística
que vários dados estatísticos demonstram o aumento da sua importância ao longo destas últimas
duas décadas. Já Lascurain reportava em 1993, que o turismo natural originava 7% de todas as
viagens internacionais (Lindberg, 1997 citado por TIES, 2000). O Instituto Mundial do Recursos
(1990) expôs que enquanto o turismo, no geral, cresceu a uma taxa anual de 4%, o turismo natural
cresceu anualmente entre 10% e 30% (Reingold, 1993, citado por TIES, 2000). Também a Organi‑zação
Mundial do Turismo (OMT) destacou que, em comparação com todos os formatos do turismo
natural, aproximadamente 20% das viagens internacionais seria para realizar ecoturismo (OMT,
1998, citado por TIES, 2000).
Os dados estatísticos mais recentes (para o turismo no geral), segundo os resultados do último Baró‑metro
OMT do Turismo Mundial (janeiro de 2016), estimam que as chegadas de turistas internacionais
(visitantes que pernoitam) alcançaram 1.184 milhões em 2015, consubstanciando um crescimento de
50 milhões em relação a 2014, com um aumento de 4,4% (OMT, 2016). O ano de 2015 marcou, assim,
o sexto ano consecutivo com um crescimento acima da média, desde a crise económica de 2009. Em
2014, as viagens e o turismo empregaram, ainda, diretamente, indiretamente ou de forma induzida,
cerca de 277 milhões de pessoas e estima‑se
que em 2025, o número cresça para 356 milhões e que a
contribuição para a economia global, alcance os 11 triliões de dólares americanos (OMT, 2015 e WTTC,
2015, citado por CREST, 2015).
A OMT prevê que o ecoturismo, turismo de natureza, património, cultural e de “aventura soft” irão
crescer rapidamente nas próximas duas décadas e o gasto global neste segmento, presume‑se
que cresça
a um valor mais elevado que a indústria do turismo no global (OMT, 2012, citado por CREST, 2015).
Em relação às áreas protegidas, estima‑se
que estas contribuam em grande parte para este cres‑cimento
do ecoturismo. De facto, “o mundo das áreas protegidas terrestres recebe à volta de 8 mil
milhões de visitas por ano dos quais 80% são na Europa e América do Norte (...). Estas visitas geram
aproximadamente 600 mil milhões de dólares americanos por ano em despesas diretas no país e 250
mil milhões de dólares americanos por ano no excedente do consumidor” (Balmford et al, 2015, citado
por CREST, 2015).
É de salientar, igualmente, que de acordo com TIES, o ecoturismo pode crescer 25% no mercado
global de viagens no prazo de seis anos, o que correspondem a 470 mil milhões de dólares americanos
por ano em receitas (Hoshaw, 2010, citado por CREST, 2015).
Como exemplos desta evolução crescente, por todo o mundo, podemos salientar, os seguintes casos:
––Em Dominica durante a noite, os turistas ao arrendar pequenas casas, com base na natureza,
gastam 18 vezes mais que passageiros de um cruzeiro a visitar as ilhas (TIES 2011, citado por
UNEP, 2013).
––Na Costa Rica, é estimado que mais de 53% das receitas do turismo podem estar associadas ao
ecoturismo e a atividades relacionadas (ICT, 2009, citado por Bien, 2010, e por UNEP, 2013).
––A Costa Rica é muitas vezes vista como um exemplo de como um país em desenvolvimento pode,
estrategicamente, desenvolver a oferta de ecoturismo, apresentar um crescimento “verde” real e
colher os benefícios de um aumento das receitas de turismo (UNEP, 2013).
––As áreas protegidas na Costa Rica recebiam mais de um milhão de visitas, por ano, nos cinco anos
anteriores a 2006, tendo gerado como receitas de entrada mais de 5 milhões de dólares americanos
em 2005, e empregado diretamente aproximadamente 500 pessoas (Robalino et al. 2010, citado
por UNEP, 2013).
––As áreas protegidas no México registam 14 milhões de visitantes, por ano e criaram 25 mil postos
de trabalho (Robalino et al. 2010, citado por UNEP, 2013).
––No Nepal, na “explosão” do ecoturismo assistiu‑se
a um aumento de 255% de trekkers de 1980
a 1991 (TIES, 2011, citado por USDA, APHIS, VS, CEAH, Center for Emerging Issues, 2001).
É neste sentido que a aposta no segmento de ecoturismo é justificada e uma mais‑valia
para diversas
entidades, pois assume no seu todo o desenvolvimento sustentável necessário, atualmente, para a
conservação de recursos naturais e culturais. Todavia só será benéfico quando o seu planeamento e
prática são realizados da forma correta e adaptados ao local onde se desenvolvem.
No ano de 2015, a análise aos agentes de animação turística existentes em Portugal, permitiu
perceber quais e quantos agentes promovem e desenvolvem atividades de Ecoturismo (Cordeiro, Alves
e Carvalho, 2015). De acordo com os resultados obtidos nessa investigação, realizou‑se
um inquérito aos
agentes de animação turística que operam neste segmento, de forma a aferir qual a sua importância e
se as suas práticas se inserem no Ecoturismo.
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3. A oferta de ecoturismo em Portugal, com base nos Agentes de Animação Turística.
Metodologia e análise dos dados
O estudo precedente desenvolvido por Cordeiro, Alves e Carvalho (2015), apresentou os resultados de
uma análise exploratória aos agentes de animação turística e a sua particular relação com o ecobusiness,
através da análise do universo de 1567 empresas que, à data da investigação, faziam parte do Registo
Nacional de Turismo. Desse enfoque resultou a identificação de 28 possíveis empresas de ecoturismo
(25 empresas de animação turística e 3 operadores marítimo‑turísticos),
correspondendo a 1,8% do
total de empresas acreditadas no Registo Nacional do Turismo em Portugal Continental, revelando a
distribuição geográfica, à escala regional (NUTS II), que 35,7% (10) dos Agentes de Animação Turística
estão localizados na Região Norte; 32,1% (9) no Algarve; 17,9% (5) no Centro; 10,7% (3) em Lisboa e
Vale do Tejo; e, por fim, 3,6% (1) no Alentejo.
Partindo dessa primeira abordagem, foi preparado e distribuído um inquérito online (desenvolvido
através do Google Forms) pelas 28 empresas de ecoturismo, entre fevereiro e dezembro de 2015, com
um total de 18 questões. A taxa de resposta ao inquérito alcançou os 60,71%, ou seja, com resposta de
17 das 28 empresas de ecoturismo selecionadas.
Numa primeira questão, com o intuito de validar a análise exploratória desenvolvida na investigação
anterior e a consequente identificação dos Agentes de Animação Turística como empresas de ecoturismo,
inquirimos se a empresa vendia este segmento. Os resultados das respostas obtidas confirmam de forma
inequívoca a nossa apreciação, visto que 94,1% dos inquiridos (16 empresas) responderam de modo
afirmativo. Ainda assim, a única empresa que afirma não vender este segmento de turismo, continua
a responder ao inquérito, revelando que até 10% do seu volume de negócios é resultado de ecoturismo.
Por esta considerar que não vende o segmento ecoturismo, apenas consideraremos as restantes 16
empresas, no que concerne à análise dos dados obtidos mediante a aplicação do inquérito, a saber:
Desafio das Letras, Lda; Descubra Minho, Lda; Dourovou – Turismo Fluvial e Houseboat Charter, Lda;
DouroWake – Actividades Náuticas e Ecourismo, Lda; Formosamar, Lda; GERESMONT – Desporto,
Aventura, Lda; Montes de Encanto, Lda; Nature4 – Sociedade de Projectos Turísticos, SA; Pena Aventura
Park – Organização de Actividades Desportivas, Lda; Portugal Green Walks, Lda; PROACTIVETUR,
Lda; Rio‑a‑dentro
– Natureza, Experiência e Aventura, Lda; Riverwatch – Experiências da Natureza,
Lda; Sabor Douro e Aventura – Entretenimento e lazer, Lda; Silencetour – Animação Turística, Lda;
Vertigem Azul – Turismo de Natureza, Lda; Waypoint – Animação Turística e Eventos, Lda.
Figura 2 – Peso (em %) do segmento ecoturismo no volume total de negócios das empresas
No que corresponde ao ano em que estas empresas começaram a comercializar o segmento ecoturismo,
com exceção da Pena Aventura Park (que obteve alvará em 2008 e começou a comercializar o segmento
em análise apenas em 2012), praticamente todas iniciaram a venda deste produto no ano de atribuição
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736 O Ecoturismo em Portugal: caraterização da oferta centrada nos Agentes de Animação Turística
do alvará ou no ano seguinte, o que evidencia, de certa forma, a importância do ecoturismo para a sua
constituição, em auxílio de uma das questões que não foi colocada (se a venda do segmento ecoturismo
foi o principal motivo para a criação da empresa).
Por outro lado, analisando o peso do segmento ecoturismo no volume total de negócios das empresas,
é possível verificar que em 56,3% (9) das empresas), este representa 50% ou mais do total. Por sua
vez, em apenas 1 dos casos este segmento representa até 10% do volume total de negócios da empresa.
Em 2 casos o ecoturismo corresponde entre 11 e 24% do volume total de negócios, o mesmo número
de empresas para as quais este segmento representa entre 50 e 74%. Para 3 empresas, o ecoturismo
corresponde a mais de 90% do volume de negócios. Em 4 casos este segmento representa entre 25 a
49% e, em outras 4 empresas entre 75 a 89% do volume total de negócios (Figura 2).
Em relação às motivações dos empresários para investir neste segmento, 93,8% (15 empresas)
apontam as condições (naturais e culturais) oferecidas pela região onde desenvolvem a sua atividade,
sendo que para 8 empresas essa foi a única motivação assinalada. Em simultâneo com a motivação
anterior, 4 empresas consideram um dos seguintes elementos motivacional: diferenciação, interesse
pessoal, interesse por atividades “eco”, experiência da equipa da empresa. A par da primeira resposta,
duas empresas apontaram o aumento da procura como fator motivacional para apostar neste segmento.
Uma outra empresa considerou mais dois elementos, para além das condições (naturais e culturais)
oferecidas pela região: fraca concorrência neste segmento e sinergias com atividades de consultoria.
Para uma das empresas, o único fator motivacional que justificou a aposta no segmento do ecoturismo
foi a fraca concorrência neste segmento.
No que diz respeito às principais atividades desenvolvidas pelas empresas, em contexto de ecoturismo,
6 delas apenas referem um tipo de atividade (3 mencionam percursos pedestres; 1 assinala birdwatching;
1 indica passeios de segway). Ao invés, 5 empresas realizam, pelo menos, dois tipos de atividades no
contexto deste segmento: 1 refere birdwatching e dolphinwatching; 1 menciona birdwatching e passeio
de barco; 1 indica percursos pedestres e ações de formação/workshops/ateliers; 1 aponta percursos
pedestres e canoagem e, por fim, 1 indica percursos pedestres e kayak. Na mesma análise, 5 empresas
assinalam que desenvolvem 3 tipos de atividade: 3 referem percursos pedestres, birdwatching e ações
de formação/workshops/ateliers; 1 considera percursos pedestres, ações de formação/workshops/ateliers
e observação de flora; 1 indica percursos pedestres, canoagem e Stand Up Paddle Board. Por fim, uma
empresa menciona 6 atividades distintas, desenvolvidas em contexto de ecoturismo: percursos pedestres,
birdwatching, observação de cetáceos, passeios de barco; passeios de kayak, passeios de bicicleta, sendo
que, este último exemplo corresponde a uma das empresas em que o ecoturismo representa mais de
90% do seu volume total de negócios.
Quanto à questão “quais as práticas sustentáveis da sua empresa”, 9 dos 16 inquiridos (56,3%) não
responderam à pergunta, razão pelo qual consideramos que estas não adotam qualquer tipo de prática
sustentável em especial no decurso da sua atuação ou que não valorizam a questão como pertinente.
As 7 respostas positivas a esta pergunta revelam as seguintes iniciativas (não individualizando), entre
as mais relevantes: uso de veículos equipados com GPL; consumo de produtos locais; apoio a projetos
de conservação; atividades disponíveis para pessoas com necessidades especiais; recurso preferencial
à comunicação electrónica; ações de reflorestação; trabalhos com a comunidade local; uso de motores
eléctricos; recolhas de lixo; promoção da conservação de fauna e flora.
Por outro lado, com vista a saber se as empresas desenvolvem atividades de ecoturismo em áreas
protegidas, 81,3% (13 empresas) respondem de forma positiva a esta questão (Figura 3). Procurámos,
de igual modo, compreender algumas práticas das empresas, em especial no que concerne às relações
com o território onde desenvolvem as suas atividades. Assim, ao questionar se promovem a compra de
produtos endógenos junto dos seus clientes, 81,3% das 16 empresas inquiridas (13) afirma fazer esse
incentivo.
De igual modo, a grande maioria, 75% (12 empresas), afirma recorrer a guias locais nas atividades
de ecoturismo.
Analisando a dimensão média dos grupos que participam em cada atividade de ecoturismo promovida
(Figura 4),podemos afirmar que em mais de 68,8% (11), a dimensão média do grupo varia entre 6 a
10 participantes. Por sua vez, em 2 empresas (12,5%) a composição média dos grupos atinge até 5
elementos, sendo este o mesmo número (2) aquelas em que o rácio de participantes nas atividades se
situa entre 11 a 20 participantes. Por fim, apenas em 1 empresa (6,3%) a dimensão média dos grupos
de participantes em atividades de ecoturismo ultrapassa 20 clientes.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 15 N° 3. Junio 2017 ISSN 1695-7121
Bruna Cordeiro, Luiz Alves, Paulo Tomás 737
Figura 3 –
Empresas de ecoturismo que realizam este
segmento numa Área Protegida (em %).
Figura 4 –
Número médio de clientes por
atividade de ecoturismo, por classes.
Relativamente aos recursos humanos que integram os quadros das empresas inquiridas, estes
apresentam várias áreas de formação (qualificação) de nível superior. Assim, neste domínio, 15 empresas
têm, pelo menos um técnico de nível superior sendo que, dentro destes, predominam os licenciados em
turismo (8 empresas). Entre outras áreas que foram identificadas destacam‑se:
biologia, ambiente,
educação física, marketing e comunicação. Salientamos, de igual modo, que em apenas uma empresa
existe um técnico com formação superior em ecoturismo.
A leitura dos dados conducentes aos meios utilizados para publicitar as empresas revela que estas
utilizam, de forma predominante, estratégias multiplataforma, sendo que apenas uma delas indica
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 15 N° 3. Junio 2017 ISSN 1695-7121
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utilizar apenas um meio de divulgação (internet). Este último meio de divulgação é utilizado por todas
as empresas. Em simultâneo predominam meios de comunicação vários, como sejam: imprensa escrita,
feiras e eventos, agências de viagens, panfletos/brochuras, outdoors. Uma das empresas indica, de
igual modo, que a par da internet o processo de divulgação “mouth to mouth” é muito relevante para
a sua empresa.
No que concerne à análise do perfil dos clientes das 16 empresas de ecoturismo inquiridas, existem
também alguns dados interessantes. Assim, no global, quanto à proveniência dos seus clientes existe
um equilíbrio, sendo que 50% (8) afirma que estes são portugueses, o mesmo valor das que apresentam
o público oriundo de outros países como os que mais procuram as suas empresas, 50% (8).
Por sua vez, no que diz respeito à média de idades dos clientes das empresas, para 56% têm entre
31 e 45 anos de idade (9 empresas). Em 5 empresas (31%) os clientes apresentam uma média de idades
superior a 46 anos. Por fim, em 13% das empresas (2), os clientes têm idades compreendidas entre 18
e 30 anos de idade.
Por último, quanto à análise do perfil dos clientes que procuram as empresas de ecoturismo, 87,5%
das empresas (14) menciona que os seus clientes têm o ensino superior completo. Com menor peso,
uma empresa identifica que os seus clientes têm o ensino básico e secundário completo (6,25%). Uma
das empresas inquiridas afirma não saber qual a escolaridade média dos seus clientes.
4. Conclusões
O ecoturismo é um dos nichos de turismo que mais tem crescido ao longo das últimas décadas, um
pouco por todo o mundo. Este segmento turístico, considerado como solução viável para espaços naturais,
culturais e populações, conquistou uma maior visibilidade e um aumento da sua prática, tendo como
resultado o surgimento de entidades que procuram valorizar e promover o ecoturismo, como a Sociedade
Internacional de Ecoturismo.
De acordo com diversos dados estatísticos de nível mundial, o turismo encontra‑se
em crescimento,
especialmente nos segmentos turísticos relacionados com o ambiente natural, resultado da conscien‑cialização
do Homem para as questões ambientais. Esse crescimento mundial atual e a sua previsão
de continuação ao longo das próximas décadas é em grande parte concretizado nas áreas protegidas,
impulsionadoras deste segmento, devido às condições que oferecem para a sua prática.
É, assim, indispensável compreender a nível mundial o seu impacto, no geral, em cada país e/ou
região, em particular, para conhecer a sua verdadeira dimensão. Por isso é justificada a necessidade
de compreender o que se faz em Portugal, a sua importância real, a que ritmo evolui e irá evoluir e se
segue a tendência mundial de crescimento, quer no que corresponde à oferta, quer em relação à procura.
Neste sentido, e com base na análise exploratória de Cordeiro, Alves e Carvalho (2015), realizou‑se
um inquérito aos agentes de animação turística que se identificam como empresas que desenvolvem
este segmento, para entender a realidade nacional.
De acordo com os dados obtidos é possível retirar algumas conclusões no que diz respeito à situação
do ecoturismo em Portugal. O número de empresas analisadas (16 em 28, pois as restantes não
responderam ao inquérito) ainda é reduzido comparativamente com outros segmentos. Contudo, os
agentes de animação turística que desenvolvem ecoturismo têm vindo a aumentar ao longo do tempo.
Por outro lado, este estudo apresenta resultados relevantes, visto que 94,1% das empresas inquiridas
afirma vender o segmento ecoturismo.
Ganha relevo a expressividade que o segmento ecoturismo representa no volume de negócios das
empresas inquiridas, sendo que em 56,3% das empresas este representa 50% ou mais do total. De igual
modo, para 3 empresas, o ecoturismo corresponde a mais de 90% do volume de negócios.
Quanto ao posicionamento e motivação para a constituição da empresa, aliado à região onde se
inserem, tal como as condições que esta oferece, os empresários apontam o crescimento da procura
deste segmento e a falta de concorrência como elementos relevantes.
As atividades realizadas são fundamentalmente em ambiente natural, destacando‑se
os percursos
pedestres, e assistindo‑se,
de igual modo, a um cuidado no número de participantes por grupo. Porém,
no geral, são referidas poucas práticas sustentáveis, contrapondo com a utilização, na sua maioria,
do ambiente natural para a prática destas atividades. Ao mesmo tempo, é de notar que a tendência
mundial também se enquadra a nível nacional, com a maioria das empresas a desenvolverem atividade
em áreas protegidas, dinamizando igualmente a economia local, através da promoção e valorização dos
produtos endógenos e da utilização de guias locais nas suas atividades.
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 15 N° 3. Junio 2017 ISSN 1695-7121
Bruna Cordeiro, Luiz Alves, Paulo Tomás 739
Desta forma, foi possível, também concluir que o perfil dos seus participantes possui, na sua maioria,
um nível de escolaridade superior, o que corresponde ao perfil dos ecoturistas, um público mais infor‑mado,
nomeadamente nas questões ambientais e com um nível de escolaridade superior. De salientar
que no mercado português de ecoturismo, este segmento é procurado tanto por portugueses como por
estrangeiros, em percentagens de igual valor.
Esta primeira análise à oferta de ecoturismo em Portugal e à caracterização geral dos agentes de
animação turística que a constituem, revela dados pertinentes que merecem um maior aprofundamento
no seu estudo, para uma melhor compreensão e caracterização da oferta deste segmento no nosso país.
Por outro lado, esta análise abre também caminho para um inevitável estudo da procura deste nicho de
turismo em Portugal, com escala territorial e amostra significativas, cujos resultados poderão contribuir
para o conhecimento global do ecoturismo no mercado interno, e a sua importância no desenvolvimento
das áreas naturais e protegidas.
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Recibido: 04/04/2016
Reenviado: 08/03/2017
Aceptado: 21/03/2017
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